Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ensaios de Sociologia A Sociologia Política de Anthony Giddens Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. João Elias Nery Revisão Textual: Profa. Ms. Fatima Furlan 5 • Introdução • 1. Trajetória: Sociologia e Política • 2. Anthony Giddens: Vida e Obra Nesta unidade da disciplina estudaremos a vida e a obra do sociólogo ANTHONY GIDDENS, que desenvolveu sua obra na Inglaterra, tendo trabalhado também nos EUA. Giddens desenvolveu duas linhas de trabalho relevantes: no campo sociológico, sua sociologia reflexiva inovou em diversos aspectos, retomando o debate com os clássicos da área; no campo da política criou a terceira via, adotada por políticos de relevância na Inglaterra, nos EUA e no Brasil. A radicalização da modernidade é seu principal tema de pesquisa, incluindo, também, a globalização, a tradição e a família como questões essenciais para entendermos a sociedade do final do século 20. Suas ideias alcançaram grande repercussão por seu acesso às mídias audiovisuais e participação na política, obtendo apoios relevantes e críticas também importantes, na medida em que, principalmente no campo da política, suas ideias foram incorporadas às práticas de governantes e suscitaram críticas à direita e à esquerda. · O tema desta unidade é a obra do sociólogo ANTHONY GIDDENS, que tem extensa produção em torno de temas da modernidade e desenvolveu a SOCIOLOGIA REFLEXIVA. · No material didático, você encontrará informações acerca dos temas abordados pelo sociólogo, aspectos das metodologias utilizadas e sua relação com o mundo das ideias no Brasil, incluindo os livros aqui editados. A Sociologia Política de Anthony Giddens 6 Unidade: A Sociologia Política de Anthony Giddens Contextualização Nesta unidade, analisaremos a obra do sociólogo ANTHONY GIDDENS. A apresentação inclui os principais conceitos desenvolvidos, as obras publicadas e a repercussão de seu trabalho, tanto no âmbito propriamente acadêmico no campo da sociologia, quanto na política. O trabalho de Giddens tem como principal foco o que ele definiu como radicalização da modernidade. Abordando temas variados, como globalização, família e tradição, o autor desenvolve análises posicionando-se em relação aos clássicos da sociologia – Marx, Weber e Durkheim – e à sociologia funcionalista desenvolvida ao longo do século 20. No campo da política, de significativa reflexão de Giddens, as análises partem das radicalizações direita-esquerda representados, respectivamente, pelo neoliberalismo e pelo socialismo do século 20 e chegam à proposta da terceira via, incorporada ao discurso e à prática política de inúmeros líderes, entre eles Fernando Henrique Cardoso, presidente do Brasil entre 1995 e 2002. Sociologia e política cruzam-se na obra desse autor, que, além das atividades de pesquisa e docência, assumiu funções como consultor e gestor, ampliando, dessa forma, o alcance de suas ideias, que têm lugar de destaque, tanto para a crítica contrária, quanto para posições de concordância. A Sociologia de Anthony Giddens faz parte do que ele denominou mundo em descontrole, característica do mundo em que vivemos. 7 Introdução Cientistas sociais e demais pensadores que se dedicaram a analisar a vida em sociedade ao longo ou em parte do século 20 enfrentaram diversos desafios, sendo o principal deles identificar os reflexos para a sociedade das mudanças e rupturas resultantes das ações humanas no período contemporâneo, marcado por revoluções sociais e técnicas. Diante dos clássicos do pensamento sociológico, pensadores daquele século passaram a desenvolver novas metodologias para apreender a realidade do seu tempo e apresentar interpretações visando oferecer à sociedade explicações científicas para fenômenos extremos, desde guerras de grande magnitude, até comportamentos previsíveis, como o suicídio. Tais percursos sociológicos ocorrem no que autores de diversas áreas definem como período moderno, caracterizado pelas inovações do modo de produção capitalista, em oposição ao antigo regime, superado por aquele e tendo progressivamente substituídas suas práticas sociais, culturais, políticas e econômicas. A oposição entre tradição e inovação, antigo e novo, será, desde o século 18, uma constante nas análises das sociedades humanas e exigirá dos cientistas grande esforço para compreender os movimentos de sociedades cada vez mais complexas em um mundo habitado por um número cada vez maior de seres humanos. Novas realidades proporcionadas por inovações tecnológicas e mudanças estruturais na sociedade alteraram o cotidiano das pessoas, interferindo diretamente tanto nas questões públicas quanto nas privadas. Na sociedade de consumo na qual as pessoas se orientam pela aquisição de bens e serviços instala-se um frenesi que leva a posicionar o consumo como centro da vida em um mundo definido pelo marketing e pelas marcas. Esse “marcado mundo novo” passou por significativas rupturas e entre os anos 1970 e 1990 as mais significativas faziam parte do universo da política e da economia: a ascensão do neoliberalismo fortaleceu conglomerados econômicos e financeiros, enfraquecendo os estados nacionais; o fim da URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – e do socialismo no leste Europeu abriu caminho para expansão do capitalismo naqueles países; as novas tecnologias da comunicação realizaram a “aldeia global”. Esses acontecimentos, entre outros, modificaram o modo de viver das maiorias e trouxeram novos desafios às ciências da sociedade. Você Sabia ? O fim da segunda guerra mundial marca a ascensão do Estado como organizador da sociedade e da economia, ampliando sua participação no planejamento e execução das atividades a partir da ideia de “Estado de bem estar social” desenvolvida pelo economista J. M. Keynes. A reconstrução da Europa deu-se nesse contexto e diversos outros países adotaram as estratégias preconizadas pelas políticas de Estado keynesianas. Em oposição a essa estratégia o neoliberalismo toma impulso nos anos 1970, atravessa os anos 1980 como força poderosa e torna-se hegemônico nos anos 1990, alterando profundamente o quadro desenhado desde os anos 1940, ou seja, o Estado deixa de ter papel central na política e na economia, revertendo-se a tendência de ampliação de sua participação. O discurso neoliberal reforça o papel do mercado, restringe o Estado ao “mínimo” e lança às sociedades o desafio de desenvolver-se a partir dos interesses dos agentes que atuam nos mercados. 8 Unidade: A Sociologia Política de Anthony Giddens O neoliberalismo alterou profundamente as sociedades nas quais foi implantado e, se obteve apoio das forças hegemônicas, também recebeu críticas e suscitou que surgissem novas ideias como alternativa a ele. A Inglaterra teve, entre os países centrais do capitalismo, a primeira e mais relevante experiência neoliberal, liderada pela primeira ministra Margarete Thatcher (1979-1990). Foi, também, naquele país, que Tony Blair, como primeiro-ministro (1997-2007), defendeu a “terceira via”, ideia do sociólogo Anthony Giddens, como alternativa ao neoliberalismo. A Inglaterra apresenta ao mundo o neoliberalismo de Margaret Thatcher e este é substituído pelo trabalhismo de Blair. Inovando na economia e na política o país desenvolve esforço para manter status de grande potência - não participa da União Europeia buscando via própria no contexto da Grã Bretanha - e alinha-se à política externa dos EUA em questões estratégicas, como a guerra contra o Iraque ou os conflitos no Oriente Médio. No campo das ideias, o sociólogo apresentado neste texto reforça a relevância do país no qual a Revolução Industrial teve início e que, mesmo perdendo a hegemonia política para os EUA, procura situar-se no debate acerca dos rumos da humanidade. O Brasil, no período de ascensão do neoliberalismo, viveu uma ditadura que apostou na organização de um Estado centralizador na política e com forte intervenção na economia, atuando nacontramão do que ocorria em outras partes do mundo. Com o fim da ditadura, em meados dos anos 1980 a sociedade brasileira procurou reorganizar a vida social, política e econômica em novos parâmetros. Até o final da década de 1980, o país trilhou diversos caminhos nessas áreas para, nos anos 1990, embarcar na onda neoliberal, com privatização e reposicionamento do Estado como árbitro para as disputas que ocorrem na sociedade. Isso ocorreu na prática, porém o discurso dos ocupantes do Estado na década de 1990 aproxima-se do que foi denominado por Anthony Giddens como “terceira via”. 1. Trajetória: Sociologia e Política Há razões fortes e objetivas para se acreditar que estamos atravessando um período importante de transição histórica. Além disso, as mudanças que nos afetam não estão confinadas a nenhuma área do globo, estendendo-se quase por toda parte. (GIDDENS, 1999, p. 13). Como os clássicos da área em que atua, Anthony Giddens, pelas ideias que defende, tem grande influência no contexto sócio político europeu, principalmente na Inglaterra, onde suas ideias associam-se ao trabalhismo do primeiro ministro Tony Blair mas não apenas ali. Fora da Europa Bill Clinton, presidente dos EUA (1993 - 1999) participou de discussões acerca da criação de alternativas ao neoliberalismo. No Brasil, sua influência sobre a trajetória do PSDB e, particularmente, sobre Fernando Henrique Cardoso, igualmente sociólogo e presidente do Brasil de 1995 a 2002, é reconhecida. Em visita ao Brasil no ano 2000, os dois jantaram juntos e FHC declarou ser admirador da “terceira via”, tese defendida por Giddens. 9 O livro “Mundo em descontrole – o que a globalização está fazendo de nós”, que reúne ideias apresentadas em palestras realizadas em diversos países no final dos anos 1990, é um exemplo da popularização das ideias de Giddens. A Editora Record, responsável pela publicação do livro no Brasil, apresenta na capa que este é “o novo livro do mais importante pensador britânico contemporâneo”, utilizando uma linguagem próxima àquela de divulgação dos best sellers publicados pela empresa. A influência de Giddens no mundo acadêmico pode ser medida por sua produção, que inclui mais de três dezenas de livros e duas centenas de artigos publicados em revistas, além de atuar como professor convidado ou palestrante em universidades em praticamente todas as regiões do mundo. Seu prestígio acadêmico o levou a ocupar a posição de diretor da London School of Economics e a atuar como docente na Universidade de Cambridge e a receber diversos prêmios acadêmicos. A teoria da reflexividade proposta por Giddens é importante contribuição do autor para a discussão sociológica. Para ele (1991, p.45) “A reflexividade da vida social moderna consiste no fato de que as práticas sociais são constantemente examinadas e reformuladas à luz de informação renovada sobre essas próprias práticas, alterando assim seu caráter”. A principal consequência desse processo é a ausência da tradição, substituída recorrentemente pela novidade, o que determinaria para a sociedade do final do século 20 a submissão ao novo e a recusa ao já estabelecido, levando à ruptura entre as gerações, uma vez que as experiências do passado nada dizem para o presente, de tal forma que a reflexividade é “introduzida na própria base da reprodução do sistema, de forma que o pensamento e a ação estão constantemente refratados entre si.” (GIDDENS, 1991, p. 45). Nossos tempos são de incertezas e riscos manufaturados e a reflexividade insere-se como elemento dessa sociedade que, ao mesmo tempo em que potencialmente poderia produzir maior autonomia do sujeito, introduz riscos à humanidade, presa a crenças de uma racionalidade incapaz de apresentar respostas às questões de uma modernidade radicalizada. Para além do mundo acadêmico, Giddens expandiu as influências de suas ideias para o mundo político, seguindo a trilha de outro sociólogo, Karl Marx, um dos clássicos da área e que construiu ideias e as defendeu na arena política. A ideia de uma terceira via – alternativa ao socialismo e ao neoliberalismo – ganhou espaço na agenda política dos anos 1990 e levou seu autor a participar do debate acerca das questões políticas da última década do século 20. Em sua formulação para uma nova política há críticas à direita e à esquerda e uma tentativa de reformular as questões postas pela social democracia desde o século 19. A construção de tal alternativa parte da avaliação de Giddens sobre a impossibilidade de controle sobre a realidade, ideal, segundo o autor, tentado pela ciência, porém não atingido no que ele define como mundo em descontrole. Para o autor (1999, p. 16), Precisamos democratizar mais as instituições existentes, e fazê-lo de modo a atender às exigências da era global. Nunca seremos capazes de nos tornar os senhores de nossa própria história, mas podemos e devemos encontrar meios de tomar as rédeas do nosso mundo em descontrole. 10 Unidade: A Sociologia Política de Anthony Giddens A partir dessa concepção Giddens procura demonstrar que as ideias tradicionais defendidas, tanto no campo do socialismo, quanto no do capitalismo em suas vertentes liberal e neoliberal, não são capazes de apresentar soluções para a vida em sociedade, na medida em que a modernidade apresenta novas questões, como a ecológica e a crescente desigualdade social entre ricos e pobres em um mundo crescentemente definido pelo consumo, além de aspectos importantes no que tange aos sistemas políticos e à emergência da guerra como padrão de solução para conflitos. A terceira via procura recuperar valores da social democracia e do Estado de Bem Estar Social, porém renova ao identificar questões como a ecológica e a necessidade não apenas de dar garantias às pessoas, como aconteceu, principalmente na Europa da pós-segunda guerra mundial. Trata-se, segundo Giddens, de associar proteção e atitudes ativas das pessoas, dividindo a responsabilidade com o Estado, sem, no entanto, jogar o cidadão nas arenas em que a globalização neoliberal transformou a vida das maiorias e, no plano geral, de conter a ação predatória desse mercado, incapaz de orientar a produção, a circulação e consumo de bens e serviços de maneira equilibrada em relação ao meio ambiente. Vivemos em uma sociedade de risco e a terceira via propõe planejar a vida para evitar que alguns se efetivem e que outros causem menos impacto. Para Giddens(1999, p. 33) é preciso identificar o risco como característica de nossa civilização, pois, As culturas tradicionais não tinham um conceito e risco porque não precisavam disso. Risco não é o mesmo que infortúnio ou perigo. Risco se refere a infortúnios ativamente avaliados em relação a possibilidades futuras. A palavra só passa a ser amplamente utilizada em sociedades orientadas para o futuro – que veem o futuro precisamente como um território a ser conquistado ou colonizado. O conceito de risco pressupõe uma sociedade que tenta ativamente romper com seu passado – de fato, a característica primordial da civilização industrial moderna. Entre o planejamento total vivido nos países nos quais houve o “socialismo real” no século 20 e a ausência total de planejamento do neoliberalismo a sociologia política de Giddens propõe a terceira via como alternativa, tendo o desenvolvimento sustentável e a modernização ecológica como fatores centrais para o enfrentamento às questões da modernidade: os riscos, as incertezas manufaturadas que resultam das ações humanas, das atividades realizadas pelo conjunto das sociedades envolvendo a própria sociedade e a natureza. Guerras nucleares, desequilíbrio ambiental e desigualdades sociais crescentes estão na ordem do dia do pensamento desse autor. Para Giddens (2003, p. 38), O risco manufaturado é resultado da intervenção humana na natureza e nas condições da vida social. As incertezas (e as oportunidades) que ele cria são amplamente novas. Elas não podem ser tratadas como remédios antigos; mastampouco respondem à receita do Iluminismo: mais conhecimento, mais controle. Nesse “mundo em descontrole”, de incertezas e riscos, a globalização é questão central e Giddens participa do debate acerca de sua caracterização iniciando pelo próprio termo. Para ele (1999, p. 18), “até o final da década de 1980 o termo quase não era usado, seja na literatura acadêmica ou na linguagem cotidiana. Surgiu de lugar nenhum para estar em quase toda parte”. Ele divide os analistas da globalização em dois grupos: os céticos, para os quais não há globalização e os radicais, para os quais tudo é globalização. De acordo com Giddens o equívoco de ambos os grupos é pensar a globalização apenas no campo econômico, quando, 11 na verdade, seria (1999, p. 21) “...política, tecnológica e cultural, tanto quanto econômica. Foi influenciada acima de tudo por desenvolvimentos nos sistemas de comunicação que remontam ao final da década de 1960”. Daí a necessidade de pensarmos, seguindo o autor, na globalização tanto naquilo que a define, ou seja, os eventos em escala global, quanto no que se refere à influência dela sobre o cotidiano, pois, ...a globalização influencia a vida cotidiana tanto quanto eventos que ocorrem em escala global. É por isso que este livro inclui uma extensa discussão sobre sexualidade, casamento e a família. Na maior parte do mundo, as mulheres estão reivindicando mais autonomia que no passado e ingressando na força de trabalho em grandes números. Esses aspectos da globalização são pelo menos tão importantes quanto os que têm lugar no mercado global. (1999, p. 15-16). Seguindo sua perspectiva de análise da sociedade, em que critica o que entende serem os problemas do sistema capitalista em sua etapa neoliberal – a incapacidade de planejar e de usar recursos dentro de limites aceitáveis, a tendência à ampliação das desigualdades e o uso da guerra – Giddens procura apreender a globalização como fenômeno múltiplo e complexo, reconhecendo aspectos positivos e negativos no processo, porém, para além disso, busca as determinações e os agentes que conduzem seu desenvolvimento, pois, A globalização está reestruturando o modo como vivemos, e de uma maneira muito profunda. Ela é conduzida pelo Ocidente, carrega a forte marca do poder político e econômico americano e é extremamente desigual em suas consequências. Mas a globalização não é apenas domínio do Ocidente sobre os demais; afeta os Estados Unidos tanto quanto outros países. (1999, p. 15-16). Como cidadão do mundo, Giddens utiliza as tecnologias da informação e da comunicação e as têm como elemento fundamental da configuração da modernidade globalizada. Ampliando sua ação para além do mundo acadêmico, utilizou o rádio e a tevê e, desde os anos 1990, a internet, como suportes para apresentação e discussão de suas ideias, como ocorreu em 1999, quando apresentou palestras sobre temas cruciais de sua obra a públicos de diversos países, com transmissão por sistemas de tevê e disseminação pela internet, com a possibilidade de interação entre o palestrante e internautas, realizando o que Giddens entende como um debate eletrônico global sobre os temas, entre os quais globalização, mas, também, democracia, risco, família, tradição, todos, de alguma forma, conectados, como a audiência que participou dos eventos. Dessa forma, os sistemas de comunicação estão no centro do processo de globalização e interferem fortemente em sua construção, pois conectam pessoas, fatos e ideias em praticamente todos os lugares e, Num mundo globalizante, em que informação e imagens são rotineiramente transmitidas através do mundo, estamos todos regularmente em contato com outros que pensam, e vivem, de maneira diferente de nós. Os cosmopolitas acolhem essa complexidade cultural com satisfação e a abraçam. Os fundamentalistas a veem como perturbadora e perigosa. (GIDDENS,1999, p. 16). A oposição entre tradição e inovação, apresentada pelo autor em termos de “cosmopolitas” e “fundamentalistas” não pode ser mais ignorada, pois os sistemas de comunicação, a despeito 12 Unidade: A Sociologia Política de Anthony Giddens da recusa que possa haver, fazem chegar a todos as mesmas informações e imagens, atuando diretamente sobre a opinião pública e sobre a cultura dos habitantes desse mundo interconectado. A onipresença desses sistemas altera as relações de produção, a política e a vida cotidiana, o que é analisado por Giddens como fator dessa complexa etapa em que vivemos esse “mundo em descontrole” repleto de mudanças em todos os segmentos da vida. Colocando-se no campo do esclarecimento e da cultura ocidental, mais como uma crença que pela análise, Giddens afirma ter esperança na vitória dos valores cosmopolitas sobre os tradicionais. Segundo o autor (1999, p. 16), Podemos legitimamente alimentar a esperança de que uma perspectiva cosmopolita acabará por vencer. Tolerância à diversidade cultural e democracia está estreitamente vinculadas, e a democracia está atualmente se espalhando por todo o mundo. A globalização está por trás da expansão da democracia. Ao mesmo tempo, paradoxalmente, ela expõe os limites das estruturas democráticas mais conhecidas, isto é, as estruturas da democracia parlamentar. 2. Anthony Giddens: Vida e Obra Primeiro estudo realizado por Giddens, nos anos 1960, tinha como tema o suicídio, no qual confronta Durkheim e Hursserl. Já na obra capitalismo e moderna teoria social, revisa os clássicos e defende que Marx, Weber e Durkheim são os fundadores da sociologia. Apresentamos a seguir algumas informações relevantes relativas à vida e à obra de Anthony Giddens: • Nasceu em 1938, em Londres, Inglaterra. É cofundador da Editora Polity Press, estudou na Universidade de Cambridge e na London School of Economics and Political Science. • Formação: Sociologia. • Instituições nas quais atuou: Universidade de Leicester, Universidade da Califórnia, Universidade de Cambridge, London School of Economics and Political Science. • Livros publicados no Brasil: cerca de 30 obras, publicadas por diversas editoras, entre elas Editora da Unesp, Record, Edusp, Zahar, com destaque para: Mundo em descontrole; Modernidade e identidade; A terceira via; As consequências da modernidade; A constituição da sociedade; A transformação da intimidade. • Temas de pesquisa e ideias relevantes: globalização, risco, democracia, reflexividade, terceira via, modernidade tardia. • Atualidade: obra e intervenção no âmbito da política têm grande relevância, tanto acadêmica quanto social. É polêmico e criticado, principalmente pelos sociólogos marxistas. • Polêmicas e curiosidades: conheceu Norbert Elias na Universidade de Leicester. Em 1997, foi eleito reitor da London School of Economics and Political Science - Escola de Economia e Ciência Política de Londres; realiza palestras em universidades e outras instituições em diversos países do mundo; recebeu vários prêmios acadêmicos como reconhecimento por sua obra. 13 Material Complementar Nesta unidade, estudamos a obra do sociólogo ANTHONY GIDDENS. No material desenvolvido para a unidade apresentamos as ideias e obras desse autor e evidenciamos as relações entre seu trabalho de pesquisa acadêmica no campo da sociologia, com o desenvolvimento da SOCIOLOGIA REFLEXIVA e sua intervenção no campo da política, com a criação do que ficou conhecido como TERCEIRA VIA. Em ambos os campos suas ideias têm grande repercussão, inclusive no Brasil. As pesquisas incluem temas como globalização, família e tradição, no campo da sociologia, e têm o neoliberalismo e o socialismo do século 20 como referências para a construção da terceira via. Atualmente a obra de ANTHONY GIDDENS está disponível em livros e em trabalhos acadêmicos sobre ele ou que utilizam seus conceitos como referência. Além do que disponibilizamos no material didático, você pode obter informações sobre a obra de ANTHONY GIDDENS em livros ou artigos disponíveis na internet. Dos livros existentes, sugerimos“Mundo em descontrole”, publicado pela Editora Record e que resume de maneira didática alguns dos temas mais relevantes de sua obra. Disponível na internet, sugerimos a participação de Giddens no programa Roda Viva da TV Cultura no ano 2000. A entrevista está disponível, texto, na íntegra. No vídeo, apenas um trecho: http://www.rodaviva.fapesp.br/ materia/286/entrevistados/anthony_giddens_2000.htm http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/286/entrevistados/anthony_giddens_2000.htm http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/286/entrevistados/anthony_giddens_2000.htm 14 Unidade: A Sociologia Política de Anthony Giddens Referências GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade – sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. São Paulo: Unesp, 2003. GIDDENS, Anthony. Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002. GIDDENS, A. Política da Sociedade de Risco. In: GIDDENS, Anthony & PIERSON, Christopher (eds). Conversas com Anthony Giddens: O Sentido da Modernidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000a. GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. Rio de Janeiro: Record, 2000b. GIDDENS, Anthony. A terceira via. Rio de Janeiro: Record, 1999. GIDDENS, A. Risco, Confiança, Reflexividade. In: BECK, U.; GIDDENS, A. & LASH, S. (eds). Modernização Reflexiva. São Paulo: UNESP, 1997. GIDDENS, Anthony. Novas Regras do Método Sociológico. Lisboa: Gradiva, 1996a. GIDDENS, Anthony. Para Além da esquerda e da direita. São Paulo: UNESP, 1996b. GIDDENS, Anthony. As Consequências da Modernidade. São Paulo: EDUSP, 1991. GIDDENS, Anthony. A Constituição da Sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 1989. 15 Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000 http://www.cruzeirodosulvirtual.com.br
Compartilhar