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Metodologia do Trabalho Acadêmico

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Prévia do material em texto

Autores: Prof. Maurício Felippe Manzalli
 Prof. Adilson Rodrigues Camacho
 Profa. Ivy Judensnaider
Metodologia do 
Trabalho Acadêmico
Professores conteudistas: Maurício Felippe Manzalli / 
Adilson Rodrigues Camacho / Ivy Judensnaider
Maurício Felippe Manzalli
Graduado em Economia pela Universidade Paulista (UNIP) em 1995 e mestre em Economia Política pela Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 2000. Atualmente é professor da UNIP nos cursos de Ciências 
Econômicas e Administração e também coordenador do curso de Ciências Econômicas na mesma universidade.
Adilson Rodrigues Camacho
Graduado em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP) em 1990, mestre em Geografia pela Faculdade 
de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FCT-Unesp) em 1994, e doutor 
em Ciências pelo Programa de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de 
São Paulo (FFLCH-USP) em 2008. Atualmente é professor titular da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) e da 
Universidade Paulista (UNIP).
Ivy Judensnaider
Graduada em Economia pela Faculdade de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) em 1981, 
mestre em História da Ciência pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 2004, e doutoranda 
no Programa de Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atualmente é 
professora da UNIP no curso de Ciências Econômicas.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
M296m Manzalli, Maurício Felippe. 
Metodologia do Trabalho Acadêmico / Maurício Felippe Manzalli 
Adilson Rodrigues Camacho, Ivy Judensnaider. – São Paulo: Editora 
Sol, 2020.
108 p. il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Metodologia. 2. Trabalho acadêmico. 3. Pesquisa. I. Camacho, 
Adilson Rodrigues. II. Judensnaider, Ivy. III. Título.
CDU 001.8
U504.35 – 20
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Ricardo Duarte
 Elaine Pires
Sumário
Metodologia do Trabalho Acadêmico
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 CONHECIMENTO COMUM, CONHECIMENTO TEOLÓGICO E 
CONHECIMENTO FILOSÓFICO ............................................................................................................................9
1.1 Conhecimento comum ...................................................................................................................... 10
1.2 Conhecimento teológico e conhecimento filosófico ............................................................. 13
1.2.1 Conhecimento teológico ..................................................................................................................... 14
1.2.2 Conhecimento filosófico ...................................................................................................................... 16
2 CONHECIMENTO CIENTÍFICO, PESQUISA TEÓRICA E PESQUISA EMPÍRICA.............................. 23
2.1 Algumas relações entre ciência, filosofia e religião ............................................................... 33
3 O PAPEL DA CIÊNCIA NA SOCIEDADE ATUAL ....................................................................................... 38
4 A LINGUAGEM E OS PROCEDIMENTOS DO FAZER CIENTÍFICO 
E ACADÊMICO: A QUESTÃO DA METODOLOGIA DO TRABALHO ACADÊMICO ............................ 45
Unidade II
5 METODOLOGIA: A LINGUAGEM DA PESQUISA .................................................................................... 64
5.1 Algumas questões metodológicas e de procedimentos básicos 
do trabalho acadêmico .............................................................................................................................. 64
5.2 Instrumentos do trabalho acadêmico .......................................................................................... 65
5.2.1 A letra na escrita ..................................................................................................................................... 65
5.2.2 Resumo ....................................................................................................................................................... 67
5.2.3 Fichamento ................................................................................................................................................ 71
5.2.4 Resenha ...................................................................................................................................................... 74
5.2.5 Seminário ................................................................................................................................................... 77
5.2.6 Recursos audiovisuais ........................................................................................................................... 78
6 A INTERTEXTUALIDADE NO TEXTO ACADÊMICO E AS PRINCIPAIS NORMAS DA ABNT ...... 80
6.1 Citações indiretas ................................................................................................................................. 83
6.2 Citações diretas ..................................................................................................................................... 85
7 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................... 88
8 OUTRAS CONSIDERAÇÕES ........................................................................................................................... 91
8.1 Sites de apoio para pesquisa bibliográfica ................................................................................. 91
8.2 A importância das normas de citação e de referência ......................................................... 93
7
APRESENTAÇÃO
Prezado aluno,
Este livro-texto lhe permitirá refletir sobre várias formas de conhecimento: o conhecimento 
comum (também chamado de senso comum ou conhecimento vulgar), o conhecimento filosófico e 
o conhecimento teológico. Investigaremos as características básicas do conhecimento científico e as 
diferenças entre a pesquisa teórica e a pesquisa empírica. Refletiremos sobre o papel da ciência no 
mundo de hoje e discutiremos a importância da linguagem no fazer acadêmico.
Também estudaremos alguns elementos relacionados à iniciação da pesquisa científica. 
Discutiremos os principais aspectos do levantamento bibliográfico, da organização, do funcionamento 
e do uso da biblioteca, da busca nas fontes de informação (primária, secundária e terciária) e da 
estruturaçãodo trabalho acadêmico (incluídas aí as normas da ABNT). Abordaremos o uso da internet 
e do ciberespaço como planos de captação de informação e trataremos das múltiplas fontes de 
informação para o trabalho acadêmico.
Nossa proposta não é tão somente transferir um conjunto predeterminado de saberes. As escolhas 
metodológicas e didáticas a partir das quais o livro-texto foi confeccionado incluem o aperfeiçoamento 
do espírito crítico e o desenvolvimento das capacidades e habilidades de produção e geração de 
conhecimento. Dessa forma, você notará que os conteúdos estão sempre entrelaçados aos contextos 
sócio-históricos que os geraram, bem como aos problemas do cotidiano da vida acadêmica.
Esperamos que você aprecie o texto.
Bons estudos!
INTRODUÇÃO
Provavelmente você, universitário, imagine que a ciência sempre foi parte das universidades, mas 
esse é um fenômeno relativamente recente. A universidade antiga, ou medieval, aquela que surgiu na 
Idade Média e se espalhou rapidamente por toda a Europa e depois pelo mundo, apresentava duas 
funções básicas:
• preparar os jovens, privilegiando áreas como gramática, lógica, geometria, música e astronomia;
• preparar para o exercício de profissões, a exemplo de teologia, medicina e advocacia, até então 
entendidas como nobres, notadamente as últimas.
Valorizando o uso da razão e a competência intelectual, as universidades encontraram grande 
resistência ao seu desenvolvimento devido ao choque com ideais enraizados nos credos religiosos, baseados 
sobretudo na autoridade constituída segundo a tradição e seus dogmas. De certa forma, podemos atribuir 
a proximidade do ambiente acadêmico ao mundo da ciência à Revolução Industrial, que passou a exigir 
das universidades contribuições que permitissem desenvolvimento tecnológico e crescimento econômico.
8
Ainda assim, e mesmo nos dias de hoje, algumas transformações tecnológicas ocorreram fora do 
ambiente acadêmico. Como exemplo, podemos citar a revolução da internet: embora a estrutura teórica 
da ideia de redes tenha sido desenvolvida por instituições militares, a disseminação da tecnologia da 
informação não teria ocorrido sem a participação decisiva de Steve Wozniak e Steve Jobs, que em 
1976 criaram o primeiro computador pessoal (Apple), e de Bill Gates e Paul Allen, que em 1975 criaram 
a Microsoft e passaram a desenvolver softwares que pudessem ser utilizados em computadores com 
preços acessíveis, tanto para uso doméstico quanto para uso empresarial.
No Brasil, a implantação de um sistema educacional complexo ocorreu pela demanda de profissionais 
para os serviços públicos e a administração do país. As áreas pioneiras foram a medicina, a engenharia e 
o direito. Em 1808, com a chegada da Família Real ao Brasil, foram criados os primeiros estabelecimentos 
de ensino médico-cirúrgico de Salvador e do Rio de Janeiro. Criaram-se a Imprensa Régia, a Biblioteca 
Nacional e os primeiros periódicos científicos. Pela necessidade de modernizar a ciência e a tecnologia 
do país, em 1920, no Rio de Janeiro, surgiu a primeira universidade brasileira criada pelo governo federal, 
que aglutinou as escolas Politécnica, de Medicina e de Direito já existentes.
Reunir escolas e/ou faculdades tornou-se uma marca do desenvolvimento do sistema de ensino 
universitário brasileiro. Com base na universidade do Rio de Janeiro, foram criadas universidades 
federais em diversos estados. O regime militar também imprimiu suas marcas via reforma universitária, 
a qual procurava modernizar a universidade para um projeto econômico de crescimento, direcionando 
o ensino universitário ao mercado de trabalho por meio do acesso da classe média ao Ensino Superior. 
Para tanto, foi necessário o desenvolvimento de um sistema de vestibular e o ingresso dos estudantes 
de acordo com uma classificação determinada pelo próprio vestibular, diante do limitado número de 
vagas oferecidas.
A década de 1990 trouxe o surgimento de um grande número de universidades privadas, ou 
particulares, o que ofereceu uma alternativa ao imenso contingente de alunos que buscavam vagas 
no Ensino Superior. Ainda, a associação entre o capital privado e a revolução tecnológica no campo 
da comunicação ensejou o crescimento de cursos realizados a distância, permitindo o acolhimento de 
estudantes de todos os cantos do país e tornando possível a formação de profissionais e pesquisadores 
de todas as áreas do conhecimento, mesmo que em localidades distantes dos centros de pesquisa.
Nos dias de hoje, a vida universitária moderna está totalmente ligada à ciência e ao desenvolvimento 
científico. As universidades atuais são centros de produção e transmissão de conhecimento – portanto, 
de ciência. Em outras palavras, o mundo acadêmico é percebido como o principal polo de produção de 
conhecimento científico. Como em todas as outras atividades humanas, o fazer científico desenvolveu 
uma linguagem própria e uma forma própria de investigar e refletir. Será sobre essa linguagem e essa 
forma que trataremos neste livro-texto, será a respeito da natureza do conhecimento científico que 
refletiremos, e será sobre o fazer acadêmico, em todas as suas variantes, que discutiremos aqui.
9
METODOLOGIA DO TRABALHO ACADÊMICO
Unidade I
1 CONHECIMENTO COMUM, CONHECIMENTO TEOLÓGICO E 
CONHECIMENTO FILOSÓFICO
Primeiramente, tratemos de entender o que vem a ser conhecimento e sua importância. Podemos 
dizer que conhecer é ter noção de algo. Assim, o conhecimento tem início com a informação sobre 
determinado assunto ou situação. Podemos dizer também que o conhecimento se inicia pelo vivenciar, 
pela curiosidade. Ele tem origem, desse modo, na curiosidade, na vontade de ir além do que se sabe, 
do que se está vendo ou daquilo com o que se está tomando contato. Trata-se de desvendar, decifrar, 
decodificar. Segundo Matallo Jr. (2000, p. 13),
a preocupação com o conhecimento não é nova. Praticamente todos os povos da 
Antiguidade desenvolveram formas diversas de saber. Entre os egípcios a 
trigonometria, entre os romanos a hidráulica, entre os gregos a geometria, 
a mecânica, a lógica, a astronomia e a acústica, entre os indianos e 
muçulmanos a matemática e a astronomia, e entre todos se consolidou um 
conhecimento ligado à fabricação de artefatos de guerra. As imposições 
derivadas das necessidades práticas da existência foram sempre a força 
propulsora da busca dessas formas de saber.
O conhecimento começa a ser obtido a partir da leitura, da convivência com amigos, da escola e dos 
grupos sociais dos quais fazemos parte. A observação, os sentidos, o raciocínio, a tradição e, por que não 
dizer, a família também são fontes de conhecimento. Nossas relações sociais são ainda uma excelente 
fonte de informação (por exemplo, o convívio familiar, afetivo, nas relações de trabalho, nos bancos 
escolares, nos bate-papos informais com amigos).
Figura 1 – A leitura é uma das principais fontes de conhecimento. Permite conhecer diversos assuntos 
e ter contato com diferentes linguagens. Livros, revistas, jornais, pôsteres, fôlderes – qualquer tipo de 
mídia impressa e não impressa – possibilitam o acesso a miríades de informações inimagináveis
10
Unidade I
Todas essas opções podem ser consideradas fontes de conhecimento e estão associadas a diferentes formas 
de pensar, agir e explorar ideias e assuntos. No entanto, fica a dúvida: qual a diferença entre a fala de um cientista 
que afirma que a temperatura da Terra vem aumentando de forma sistemática e a fala de um indivíduo que, 
independentemente de ter ou não formação acadêmica, discorda do aquecimento global? Qual a diferença 
entre a busca de respostas para a origem do mundo e a busca de respostas para a finalidade da vida humana? 
Qual a diferença entre atribuir a existência do mundo a um ser superior, criador e onipresente, e entender 
que o mundo se constituiu a partir de uma sucessão de improváveis eventos? Veremos agora, portanto, as 
características do conhecimento comum, do conhecimento filosófico e do conhecimentoteológico.
1.1 Conhecimento comum
De acordo com Santos (1989), o conhecimento comum é elaborado a partir das nossas opiniões e 
daquilo que os nossos sentidos captam, não estando sujeito a qualquer tipo de crítica ou verificação. 
Quando alguém diz: “Acho que vai chover”, não há nesse enunciado qualquer força de verdade, 
qualquer compromisso com a verdade. Quando alguém diz: “Aquela estrada parece perigosa”, 
tampouco há nessa fala qualquer indício de certeza; aliás, o que é perigoso para mim, pode não 
sê-lo para outra pessoa. Em contrapartida, a ciência busca romper com o distanciamento entre o 
que é dito e a realidade à qual o dito se refere. Como afirma Santos (1989, p. 35), “o abandono 
dos conhecimentos do senso comum é um sacrifício difícil. A observação científica é sempre uma 
observação polêmica e, por isso, a teoria [é construída] contra um conhecimento anterior”.
Vejamos: para desconstruir a afirmação “Acho que vai chover”, um cientista pode apresentar o 
histórico de precipitações pluviais nos últimos dias, ou no mesmo período em anos passados; caso 
os dados mostrem uma probabilidade grande de ocorrência de chuva, ele poderá dizer: “Há X% de 
probabilidade de chover no dia de hoje”, ou “Há Y% de probabilidade de não chover no dia de hoje”. 
É possível perceber, portanto, a diferença entre afirmar que vai chover e prever chuva dentro de 
determinados parâmetros de probabilidade: a primeira afirmação é usual no contexto do senso comum; 
a segunda, no contexto do mundo científico.
Podemos realizar o mesmo procedimento em relação ao enunciado sobre o perigo da estrada. Um 
cientista partiria, inicialmente, da definição de perigo: o que representa perigo na estrada? Número de 
acidentes fatais? Número de desabamentos? Em qualquer dos dois casos, bastariam os dados de ocorrência 
de acidentes na estrada para confirmar ou negar a afirmação realizada no âmbito do senso comum. Aliás, 
essa afirmação poderia ser negada se associássemos perigo a outra variável: teríamos então uma situação 
em que, caso perigo fosse representado por número de acidentes fatais, seria possível afirmarmos ser a 
estrada perigosa; caso perigo significasse número de curvas acentuadas, poderíamos negar ser a estrada 
perigosa. Marconi e Lakatos (2003, p. 76) confirmam essa abordagem com outro exemplo:
Saber que determinada planta necessita de uma quantidade X de água e 
que, se não a receber de forma “natural”, deverá ser irrigada pode ser um 
conhecimento verdadeiro e comprovável, mas nem por isso científico. Para 
que isso ocorra, é necessário ir mais além: conhecer a natureza dos vegetais, 
sua composição, seu ciclo de desenvolvimento e as particularidades que 
distinguem uma espécie de outra.
11
METODOLOGIA DO TRABALHO ACADÊMICO
Figura 2 – O senso comum não é universal. Ele depende das condições sociais e históricas de cada grupo social
Segundo Santos (2008), o senso comum é, essencialmente, um saber prático, que é gerado no fazer 
e que necessita ser pragmático. Ele serve para que possamos dar sentido às situações que nos são 
apresentadas a todo momento e agir diante delas. Assim, ele resulta das experiências da comunidade – 
ou dos grupos sociais –, que lhe dão corpo e significado. Europeus e brasileiros têm opiniões diferentes 
a respeito da educação dos filhos. No Brasil, os hábitos e costumes diferem de estado para estado, de 
cidade para cidade. Em consequência, o senso comum não é universal, e depende das condições sociais 
e históricas de cada grupo social.
O senso comum é superficial. É a consciência diante dos objetos da natureza que faz com que ele 
seja constituído. O senso comum não se preocupa em teorizar ou apresentar provas que o ratifiquem. 
Agimos no dia a dia sem qualquer compromisso com a teoria, apenas guiados pelos nossos instintos e 
por esse saber prático que nos diz o que fazer e como fazer. Assim, o senso comum não é resultado de 
qualquer procedimento sistemático ou metódico. Santos (2008, p. 90) afirma:
O senso comum é indisciplinar e imetódico; não resulta de uma 
prática especificamente orientada para o produzir; reproduz-se 
espontaneamente no suceder quotidiano da vida. O senso comum aceita 
o que existe tal como existe; privilegia a ação que não produza rupturas 
significativas no real.
Ao afirmar que o senso comum é produzido e reproduzido espontaneamente, Santos está dizendo 
que esse é um saber que não é produzido de modo intencional. Quando receitamos determinado chá para 
alguém que está resfriado, de forma alguma o fazemos com base em evidências empíricas, tampouco 
por termos a intenção de testar se esse chá tem algum efeito curativo. Sugerimos o chá por acreditarmos 
que essa é uma atitude correta, não nos interessando, de maneira nenhuma, excluir algum tratamento 
medicamentoso. Não temos qualquer intenção de convencer alguém a fazer o mesmo em situações 
similares; aliás, nem sequer podemos provar qualquer efeito benéfico do chá. Tampouco pretendemos 
afirmar que a ingestão do chá pode gerar melhores resultados do que a ingestão de um medicamento 
à base de paracetamol. Por causa disso, pode-se dizer que o senso comum não pretende ensinar nada; 
ele apenas quer persuadir.
12
Unidade I
Parece razoável, então, considerarmos o que Marconi e Lakatos (2003, p. 76) propõem com base em 
Mario Bunge (1919), físico argentino:
Se excluímos o conhecimento mítico (raios e trovões como manifestações 
de desagrado da divindade pelos comportamentos individuais ou sociais), 
verificamos que tanto o “bom senso” quanto a ciência almejam ser racionais 
e objetivos: “são críticos e aspiram à coerência (racionalidade) e procuram 
adaptar-se aos fatos em vez de permitir-se especulações sem controle 
(objetividade)”. Entretanto, o ideal de racionalidade, compreendido como 
uma sistematização coerente de enunciados fundamentados e passíveis de 
verificação, é obtido muito mais por intermédio de teorias, que constituem 
o núcleo da ciência, do que pelo conhecimento comum, entendido como 
acumulação de partes ou “peças” de informação frouxamente vinculadas. Por 
sua vez, o ideal de objetividade, isto é, a construção de imagens da realidade, 
verdadeiras e impessoais, não pode ser alcançado se não ultrapassar os 
estreitos limites da vida cotidiana, assim como da experiência particular.
Exemplo de aplicação
Há muita controvérsia, tanto na comunidade científica quanto na civil, a respeito das teorias 
sobre o aquecimento global. Alguns grupos dizem que não há qualquer evidência de aquecimento 
na temperatura do globo; ao contrário, afirmam existir sinais de esfriamento. Os que acreditam na 
elevação da temperatura estão divididos em dois grupos. O primeiro diz que há aquecimento global, 
mas que a atividade humana não tem qualquer participação nesse processo; para estes, o efeito estufa 
seria um fenômeno natural, que independeria da ação humana. O segundo diz que o aquecimento 
global, um fenômeno natural, tem sido potencializado e intensificado pela ação humana; para estes, 
são fundamentais ações que limitem a atividade predatória sobre a natureza e que assegurem a 
sustentabilidade da vida no nosso planeta.
Como há opiniões contrárias e inúmeros interesses políticos em jogo, a mídia, em geral, emite sinais 
confusos a respeito do tema. O artigo “A Terra ‘quente’ na imprensa: confiabilidade de notícias sobre 
aquecimento global”, de Celso Dal Ré Carneiro e João Cláudio Toniolo (2012), analisa esse cenário. Com 
base nele, propomos uma pergunta: quanto da opinião que você tem a respeito do aquecimento global 
pode ser ratificada por explicações científicas?
Partindo do princípio de que há perceptível diferença entre as expressões “eu acho que” e “eu sei que”, 
o conhecimento vulgar – comum ou popular – é aquele que as pessoas adquirem em seu cotidiano, 
por meio de experiências vivenciadas ou da simples observação de fenômenos do dia a dia. Por não ter 
preocupação com explicações científicas, ou ditas corretas, o senso comum é, na maioria das situações, 
limitado, incoerentee impreciso (MARTINS; THEÓPHILO, 2009), e está no nível da opinião, pois esta pode 
ser emitida por qualquer sujeito a partir de informações previamente armazenadas, tomadas de modo 
corriqueiro ou simplesmente pelo hábito de emitir opiniões sem que haja argumentação passível de 
comprovação (MATALLO JR., 2000). Assim,
13
METODOLOGIA DO TRABALHO ACADÊMICO
o senso comum é um conjunto de informações não sistematizadas que 
aprendemos por processos formais, informais e, às vezes, inconscientes, e 
que inclui um conjunto de valorações. São informações fragmentárias 
e podem incluir fatos históricos verdadeiros, doutrinas religiosas, lendas 
ou partes delas, princípios ideológicos às vezes conflitantes, informações 
científicas popularizadas pelos meios de comunicação de massa, bem como 
a experiência pessoal acumulada (MATALLO JR., 2000, p. 18).
Caso não seja colocado a dialogar com o conhecimento científico, o senso comum torna-se 
conservador. Se na ciência moderna o grande salto qualitativo do saber se dá por meio da passagem 
do senso comum para o conhecimento científico, na ciência pós-moderna o salto é outro: trata-se de 
transformar o conhecimento científico em senso comum. “O conhecimento científico pós-moderno 
só se realiza enquanto tal na medida em que se converte em senso comum.” Em outras palavras, a 
ciência pós-moderna, “ao sensocomunizar-se, não despreza o conhecimento que produz tecnologia, 
mas entende que, tal como o conhecimento se deve traduzir em autoconhecimento, o desenvolvimento 
tecnológico deve traduzir-se em sabedoria de vida” (SANTOS, 2008, p. 90-91). No quadro a seguir, 
apresentamos as formas de representação a partir das quais o senso comum se manifesta.
Quadro 1 – Principais características do conhecimento 
comum e respectivas formas de representação
Característica Forma de representação
Valorativo e sensitivo Baseado em crenças, valores, emoções e hábitos.
Reflexivo, não conclusivo Não pode ser tomado como verdadeiro nem representa formulações gerais. 
Assistemático Visa à repetição de experiências, mas não à sistematização de ideias no que concerne a validá-las. 
Verificável e qualitativo
Limita-se aos acontecimentos do cotidiano, ao que se percebe no dia a dia, 
codificando objetos como grandes ou pequenos, doces ou azedos, pesados 
ou leves, novos ou velhos, belos ou feios. 
Falível e inexato Conforma-se com a aparência e com o que se ouviu dizer a respeito do objeto. Não permite formular hipóteses. 
Superficial
Conforma-se com a aparência, com aquilo que se pode comprovar 
simplesmente estando junto das coisas (“porque vi”, “porque senti”, “porque 
disseram”, “porque todo mundo diz”).
Fonte: Marconi e Lakatos (2003, p. 77).
1.2 Conhecimento teológico e conhecimento filosófico
O conhecimento humano desenvolveu-se a partir da investigação da natureza por parte do homem, 
desejoso de interpretá-la, entendê-la e, quem sabe, dominá-la. Afinal, o homem
não vive isolado. Vive no concreto, cercado pelas circunstâncias. O ser 
irracional não reage diante da natureza, submete-se. O ser racional 
coloca-se diante da natureza assumindo uma atitude de reação. Por sua 
capacidade intelectual, alia-se ao que o rodeia e cria coisas novas, lapida 
14
Unidade I
sua consciência, domina a natureza. Vivendo dentro de uma realidade que 
o condiciona, o humano se constrói. O que é aparentemente negativo traz 
riquezas. Por interpretar o que o rodeia, o que lhe possibilita o crescimento, 
o humano manipula as circunstâncias, transformando-as, adaptando-as, 
modificando-as em vista do seu crescimento. Assim, de produto do meio ele 
passa a ser o recriador da natureza (BASTOS; KELLER, 2000, p. 54-55).
Com isso, percebe-se claramente certa interdependência entre o homem e a natureza, ou seja, 
a realidade. Para entendê-la de maneira mais racional e objetiva do que o senso comum, o homem 
desenvolveu o pensamento teológico e o pensamento filosófico. O homem os utiliza dependendo 
daquilo que quer conhecer, ou conforme sua percepção da realidade. Vejamos cada um deles.
1.2.1 Conhecimento teológico
A teologia é o estudo da natureza do divino, dos atributos do divino e das relações entre o homem e 
o divino. Em geral, está associada à cristandade, mas pode aplicar-se a qualquer religião. Assim, podemos 
falar de uma teologia cristã da mesma forma que de uma teologia judaica ou uma teologia budista. 
Segundo Stigar, Torres e Ruthes (2014, p. 143),
a teologia problematiza o fenômeno religioso, analisa o caráter histórico 
do tema da construção do humano – dos valores, do sagrado e do discurso 
teológico – a partir de uma fundamentação baseada nos referenciais teóricos 
do dogma e da fé (vínculo do homem com o sagrado ou transcendente).
Nas universidades, e em alguns cursos, a teologia é dada como uma disciplina acadêmica, vinculada 
ou não a outras disciplinas. Ela é parte fundamental dos cursos de Filosofia e Ciências da Religião e, em 
geral, costuma provocar polêmicas,
por causa de seu tema, história, relação com outras disciplinas sobre 
questões religiosas e por causa da natureza das universidades que lhe 
dão suporte. A teologia acadêmica se distingue de teologia em geral, 
principalmente por sua relação com as várias disciplinas da academia. 
Assim, uma definição preliminar para a teologia acadêmica é que ela busca a 
sabedoria e a compreensão de questões como verdade, beleza e prática, que 
são levantadas por, sobre e entre as religiões. Essas questões são levantadas 
por meio da relação com uma gama de disciplinas acadêmicas (STIGAR; 
TORRES; RUTHES, 2014, p. 144).
Do ponto de vista histórico, a teologia já foi chamada de metafísica, o que justifica o fato de 
ela ser considerada também uma área da filosofia. Resultado da fé humana na existência de forças 
sobrenaturais, consideradas criadoras do universo, o conhecimento teológico, ou religioso, surge com 
as revelações do mistério, do oculto, por alguma manifestação divina, sagrada. Essas revelações são 
transmitidas por alguém, por uma tradição ou por escritos também tidos como sagrados (MARTINS; 
THEÓPHILO, 2009), e que portanto devem ser adorados e obedecidos. Conforme Demo (1985, p. 20),
15
METODOLOGIA DO TRABALHO ACADÊMICO
quando na Bíblia se montou uma história da criação do mundo e do 
surgimento do mal, não se pensou em fazer uma alegoria, um conto 
interessante ou qualquer outra coisa, mas certamente em dar uma explicação 
de como começou o mundo, o homem e o mal.
 Observação
A metafísica diz respeito ao que está além da realidade, ou daquilo que 
nossos sentidos podem captar.
Os teólogos partem do pressuposto de que há um ser divino que pode ser estudado por meio das 
manifestações mentais, religiosas ou sociais que suas representações provocam. O mundo, a natureza, 
os homens, o bem e o mal foram criados por esse ser, e estudá-lo significa compreender os textos 
sagrados, representados, no caso do cristianismo, pela Bíblia.
A teologia, embora possa questionar dados ou interpretações comunicadas 
pela tradição, não questiona a tradição em si. Ela admite, como premissa de sua 
reflexão, ser a tradição uma doadora de sentido consistente. Isto é, a tradição 
representa uma fonte com chance de ser verdadeira por remontar a um conjunto 
coerente de testemunhas referenciais, por sua vez conectadas a uma origem 
ontológica presumida (STIGAR; TORRES; RUTHES, 2014, p. 142).
 Observação
A ontologia é um ramo da filosofia que estuda o ser, a existência do ser 
e a existência da realidade.
Figura 3 – A teologia não pretende ser uma ciência objetiva. Apresenta-se como um saber existencial
16
Unidade I
De forma genérica, os teólogos estudam as manifestações religiosas a partir da própria fé, ou seja, considerando 
a sua própria religião como parâmetro para entender as outras. Ainda, o teólogo busca distanciar-se de toda 
e qualquer descrença pessoal que tenha em relação à existência do divino ou à espiritualidade. Ao estudar 
a religião à qual pertence ou ao estudar outras religiões, ele deve,portanto, assumir-se como crente e como 
alguém que tem fé na criação do mundo por um ser superior, ser esse que possui atributos divinos. Por isso, em 
muitas ocasiões, a teologia é associada ao pensamento religioso ou à filosofia religiosa.
No entanto, há que diferenciar teologia e religião. Em outras palavras, distinguir o pensamento 
teológico do religioso, e distinguir a teologia da ciência da religião. O pensamento religioso diz respeito 
a uma religião específica. Em contrapartida, a ciência da religião procura estudar a religião a partir do 
ponto de vista da ciência. Assim, para empreender um estudo científico sobre a religião, não é requisito 
acreditar na existência de um ser divino. Estudam-se quais motivos levam as pessoas a entender o 
mundo a partir de determinados pressupostos religiosos.
1.2.2 Conhecimento filosófico
Antes do surgimento da filosofia, o ser humano, já em busca de explicações a respeito do mundo 
que o cercava, interpretava a realidade a partir de elaborações míticas, ou seja, elaborações mágicas que 
tinham força de verdade pela sistematicidade com que eram utilizadas e pela autoridade das vozes que as 
declaravam. A repetição e a memória estabeleciam os critérios de verdade, independentemente do quanto 
essa narrativa aderia à realidade. O historiador e antropólogo francês Jean-Pierre Vernant (1914-2007), no 
livro O universo, os deuses, os homens, resgata parte da tradição mítica que buscou compreender o mundo 
com base nas forças divinas e nas relações entre essas forças. Como costumava fazer ao contar essas 
histórias aos seus netos, ele nos traz uma interpretação da origem do mundo extremamente interessante 
a partir das narrativas mitológicas gregas.
O universo, os deuses, os homens
O que havia quando ainda não havia coisa alguma, quando não havia nada? A essa 
pergunta os gregos responderam com histórias e mitos.
No início de tudo, o que primeiro existiu foi o Abismo: os gregos dizem Kháos. O que é o 
Caos? É um vazio, um vazio escuro onde não se distingue nada. Espaço de queda, vertigem 
e confusão, sem fim, sem fundo. Somos apanhados por esse Abismo como por uma boca 
imensa e aberta que tudo tragasse numa mesma noite indistinta. Portanto, na origem há 
apenas esse Caos, abismo cego, noturno, ilimitado. 
Depois apareceu Terra. Os gregos dizem Gaîa, Gaia. Foi no próprio seio do Caos que surgiu 
a Terra. Portanto, nasceu depois de Caos e representa, em certos aspectos, seu contrário. 
A Terra não é mais esse espaço de queda escuro, ilimitado, indefinido. A Terra possui uma 
forma distinta, separada, precisa. À confusão e à tenebrosa indistinção de Caos opõem-se a 
nitidez, a firmeza e a estabilidade de Gaia. Na Terra tudo é desenhado, tudo é visível e sólido. 
É possível definir Gaia como o lugar onde os deuses, os homens e os bichos podem andar 
com segurança. Ela é o chão do mundo. […]
17
METODOLOGIA DO TRABALHO ACADÊMICO
Nascido do vasto Abismo, o mundo agora tem um chão. De um lado, esse chão se eleva 
bem alto, na forma de montanhas; de outro, desce bem baixo, na forma de subterrâneo. 
Essa subterra se prolonga infinitamente, e assim, de certa forma, o que existe na base de 
Gaia, sob o solo firme e sólido, é sempre o Abismo, o Caos. A Terra, que surgiu do Abismo, 
liga-se a ele em suas profundezas. Esse Caos evoca para os gregos uma espécie de névoa 
opaca onde todas as fronteiras perdem nitidez. No mais profundo da Terra encontra-se esse 
aspecto caótico original. 
Embora a Terra seja bem visível, tenha uma forma recortada, e tudo o que dela 
nascer também terá limites e fronteiras distintas, nem por isso ela deixa de ser, em suas 
profundezas, semelhante ao Abismo. Ela é a Terra negra. Os adjetivos que a definem nos 
relatos são similares aos que se referem ao Abismo. A Terra negra se estende entre o baixo 
e o alto; entre, de um lado, a escuridão e o enraizamento no Abismo, representado em 
suas profundezas, e, de outro, as montanhas encimadas de neve que ela projeta para o 
céu, montanhas luminosas cujos picos mais altos atingem a zona celeste continuamente 
inundada de luz.
A Terra constitui a base dessa morada que é o cosmo, mas não tem só essa função. 
Ela engendra e alimenta todas as coisas, salvo certas entidades […] [saídas do Caos]. Gaia 
é a mãe universal. Florestas, montanhas, grutas subterrâneas, ondas do mar, vasto céu, é 
sempre de Gaia, a Mãe-Terra, que eles nascem. Portanto, primeiro houve o Caos, imensa 
boca em forma de abismo escuro, sem limites, mas que num segundo tempo abriu-se para 
um chão sólido: a Terra. Esta se lança para o alto e desce às profundezas.
[Por meio de Éros primordial a] Terra engendra um personagem muito importante, 
Ouranós, Céu, e até mesmo Céu estrelado. Depois traz ao mundo Póntos, isto é, a água, 
todas as águas, e mais exatamente a Onda do Mar, palavra que em grego é masculina. Terra 
os concebe sem se unir a ninguém. Pela força íntima que tem, Terra desenvolve o que já 
estava dentro de si e que, ao sair dela, torna-se seu duplo e seu contrário. Por quê? Porque 
produz um Céu estrelado igual a si mesma, como uma réplica tão sólida, tão firme quanto 
ela, e do mesmo tamanho. Então, Urano se deita sobre ela. Terra e Céu constituem dois 
planos superpostos do universo, um chão e uma abóbada, um embaixo e um em cima, que 
se cobrem completamente. […] 
Assim, o mundo se constrói a partir de três entidades primordiais: Kháos, Gaîa e Éros, 
e, em seguida, de duas entidades paridas por Terra: Ouranós e Póntos. Elas são ao mesmo 
tempo forças naturais e divindades. Gaia é a terra onde andamos, e ao mesmo tempo 
é uma deusa. Ponto representa as ondas do mar e também constitui uma força divina, 
à qual se pode prestar um culto. A partir daí surgem relatos de outro tipo, histórias 
violentas e dramáticas.
Fonte: Vernant (2000, p. 17-18).
18
Unidade I
Para certa linhagem de historiadores, o nascimento da filosofia “significa descontinuidade ou ruptura 
integral com a religião e os mitos. […] A filosofia nasce quando as velhas explicações míticas e religiosas da 
realidade já não podiam explicar coisa alguma”. Para outros historiadores, no entanto, haveria uma relação 
de continuidade entre mitologia e filosofia. Segundo eles, a explicação para a diferenciação entre esses 
dois contextos estaria não na distinção entre o campo mitológico e o campo filosófico, mas na distinção 
entre teogonia, cosmogonia e cosmologia: a teogonia narraria a geração das coisas do mundo por meio da 
atividade sexual dos deuses; a cosmogonia apresentaria o surgimento do mundo ordenado a partir do caos 
e da genealogia de forças vitais; por fim, a cosmologia trataria de despersonalizar os elementos, atribuindo 
a eles características naturais, embora algumas ainda de natureza divina. A cosmologia, assim, buscaria a 
explicação da ordem do mundo por meio da “determinação de um princípio originário e racional que é a 
origem e a causa das coisas e de sua ordenação”. A ordem poderia ser apreendida por meio da razão e da 
inteligibilidade de um princípio originário; em consequência, a filosofia “continuaria carregando dentro de 
si as construções míticas, mas agora de forma laica ou secularizada” (CHAUI, 2009, p. 30-37).
Independentemente das relações de continuidade ou ruptura com o pensamento anterior, a filosofia 
nascente buscou diferenciar-se dos mitos teogônicos e cosmogônicos que lhe haviam dado origem por 
meio da racionalidade e da busca de respostas, provas e demonstrações. Dessa filosofia nasceu nossa 
ciência, e a versão histórica hegemônica sobre o seu desenvolvimento tratou de manter afastados os 
terrenos da racionalidade religiosa e/ou mística e os da racionalidade da ciência.
 Observação
Há inúmeras relações entre o pensamento científico, o filosófico e o 
teológico. Ao longo da história, inclusive, essas relações aproximaram ou 
afastaram esses diferentes campos do saber, mesclando ou diferenciando 
seus elementos mais básicos.
O conhecimento filosófico tem por origem a capacidade de reflexão do homeme, por instrumento 
exclusivo, o raciocínio (MARTINS; THEÓPHILO, 2009). O estudo filosófico, pelo emprego da lógica, tem 
por objetivo a ampliação dos limites de compreensão da realidade, bem como o estabelecimento de 
uma concepção geral do universo. Especulativo, utiliza-se de experiências, e não de experimentações. 
O olhar e a interpretação da filosofia, predominantemente dedutivos, partem de ideias e relações entre 
conceitos que não são redutíveis à realidade material (MARCONI; LAKATOS, 2003).
A filosofia nasceu no século IV a.C. já com a pretensão de se diferenciar do pensamento vulgar. Platão 
(428/427 a.C.-348/347 a.C.), filósofo e matemático da Grécia antiga, havia proposto essa reflexão. Na obra 
A república, da qual destacamos um fragmento a seguir, Platão encena um diálogo entre Glauco e Sócrates.
A república
Imagina, pois, homens que vivem em uma morada subterrânea em forma de caverna. 
A entrada se abre para a luz em toda a largura da fachada. Os homens estão no interior 
desde a infância, acorrentados pelas pernas e pelo pescoço, de modo que não podem 
19
METODOLOGIA DO TRABALHO ACADÊMICO
mudar de lugar nem voltar a cabeça para ver algo que não esteja diante deles. A luz lhes 
vem de um fogo que queima por trás deles, ao longe, no alto. Entre os prisioneiros e o 
fogo, há um caminho que sobe. Imagina que esse caminho é cortado por um pequeno 
muro, semelhante ao tapume que os exibidores de marionetes dispõem entre eles e o 
público, acima do qual manobram as marionetes e apresentam o espetáculo. […]
Então, ao longo desse pequeno muro, imagina homens que carregam todo tipo de 
objetos fabricados, ultrapassando a altura do muro; estátuas de homens, figuras de animais, 
de pedra, madeira ou qualquer outro material. Provavelmente, entre os carregadores que 
desfilam ao longo do muro, alguns falam, outros se calam. […] Eles são semelhantes a nós. 
Primeiro, pensas que, na situação deles, eles tenham visto algo mais do que as sombras de 
si mesmos e dos vizinhos, que o fogo projeta na parede da caverna à sua frente? […] Então, 
se eles pudessem conversar, não achas que, nomeando as sombras que veem, pensariam 
nomear seres reais? […]
E se, além disso, houvesse um eco vindo da parede diante deles, quando um dos que 
passam ao longo do pequeno muro falasse, não achas que eles tomariam essa voz pela da 
sombra que desfila à sua frente? […] Assim sendo, os homens que estão nessas condições 
não poderiam considerar nada como verdadeiro, a não ser as sombras dos objetos fabricados. 
[…] Vê agora o que aconteceria se eles fossem libertados de suas correntes e curados de sua 
desrazão. Tudo não aconteceria naturalmente como vou dizer? Se um desses homens fosse 
solto, forçado subitamente a levantar-se, a virar a cabeça, a andar, a olhar para o lado da 
luz, todos esses movimentos o fariam sofrer; ele ficaria ofuscado e não poderia distinguir os 
objetos, dos quais via apenas as sombras anteriormente. Na tua opinião, o que ele poderia 
responder se lhe dissessem que, antes, ele só via coisas sem consistência, que agora ele está 
mais perto da realidade, voltado para objetos mais reais, e que está vendo melhor? O que 
ele responderia se lhe designassem cada um dos objetos que desfilam, obrigando-o com 
perguntas a dizer o que são? Não achas que ele ficaria embaraçado e que as sombras que 
ele via antes lhe pareceriam mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora? […]
E se o forçassem a olhar para a própria luz, não achas que os olhos lhe doeriam, 
que ele viraria as costas e voltaria para as coisas que pode olhar e que as consideraria 
verdadeiramente mais nítidas do que as coisas que lhe mostram? […] E se o tirassem de 
lá à força, se o fizessem subir o íngreme caminho montanhoso, se não o largassem até 
arrastá-lo para a luz do sol, ele não sofreria e se irritaria ao ser assim empurrado para fora? 
E, chegando à luz, com os olhos ofuscados pelo brilho, não seria capaz de ver nenhum 
desses objetos, que nós afirmamos agora serem verdadeiros. […]
É preciso que ele se habitue para que possa ver as coisas do alto. Primeiro ele distinguirá 
mais facilmente as sombras, depois as imagens dos homens e dos outros objetos refletidas na 
água, depois os próprios objetos. Em segundo lugar, durante a noite, ele poderá contemplar 
as constelações e o próprio céu, e voltar o olhar para a luz dos astros e da lua mais facilmente 
que durante o dia para o sol e para a luz do sol. […] Finalmente, ele poderá contemplar o sol, 
não o seu reflexo nas águas ou em outra superfície lisa, mas o próprio sol, no lugar do sol, o 
20
Unidade I
sol tal como é. […] Depois disso, poderá raciocinar a respeito do sol, concluir que é ele que 
produz as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível, e que é, de algum modo 
a causa de tudo o que ele e seus companheiros viam na caverna. […]
Nesse momento, se ele se lembrar de sua primeira morada, da ciência que ali se possuía 
e de seus antigos companheiros, não achas que ficaria feliz com a mudança e teria pena 
deles? […] Quanto às honras e louvores que eles se atribuíam mutuamente outrora, quanto às 
recompensas concedidas àquele que fosse dotado de uma visão mais aguda para discernir a 
passagem das sombras na parede e de uma memória mais fiel para se lembrar com exatidão 
daquelas que precedem certas outras ou que lhes sucedem, as que vêm juntas, e que, por 
isso mesmo, era o mais hábil para conjeturar a que viria depois, achas que nosso homem 
teria inveja dele, que as honras e a confiança assim adquiridas entre os companheiros lhe 
dariam inveja? Ele não pensaria antes, como o herói de Homero, que mais vale “viver como 
escravo de um lavrador” e suportar qualquer provação do que voltar à visão ilusória da 
caverna e viver como se vive lá? […]
Reflete ainda nisto: supõe que esse homem volte à caverna e retome o seu antigo lugar. 
Dessa vez, não seria pelas trevas que ele teria os olhos ofuscados, ao vir diretamente do sol? 
[…] E se ele tivesse que emitir de novo um juízo sobre as sombras e entrar em competição 
com os prisioneiros que continuaram acorrentados, enquanto sua vista ainda está confusa, 
seus olhos ainda não se recompuseram, enquanto lhe deram um tempo curto demais para 
acostumar-se com a escuridão, ele não ficaria ridículo? Os prisioneiros não diriam que, 
depois de ter ido até o alto, voltou com a vista perdida, que não vale mesmo a pena subir 
até lá? E se alguém tentasse retirar os seus laços, fazê-los subir, acreditas que, se pudessem 
agarrá-lo e executá-lo, não o matariam? […]
E agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar exatamente essa alegoria ao que dissemos 
anteriormente. Devemos assimilar o mundo que apreendemos pela vista à estada na prisão, a 
luz do fogo que ilumina a caverna à ação do sol. Quanto à subida e à contemplação do que há 
no alto, considera que se trata da ascensão da alma até o lugar inteligível, e não te enganarás 
sobre minha esperança, já que desejas conhecê-la. Deus sabe se há alguma possibilidade de 
que ela seja fundada sobre a verdade. Em todo caso, eis o que me aparece, tal como me 
aparece; nos últimos limites do mundo inteligível, aparece-me a ideia do Bem, que se percebe 
com dificuldade, mas que não se pode ver sem concluir que ela é a causa de tudo o que há 
de reto e de belo. No mundo visível ela gera a luz e o senhor da luz, no mundo inteligível ela 
própria é a soberana que dispensa a verdade e a inteligência. Acrescento que é preciso vê-la se 
se quer comportar-se com sabedoria, seja na vida privada, seja na vida pública.
Fonte: Paviani (2003, p. 60-64).
O que o mito da caverna nos ensina? Platão mostra que as sombras podem nos enganar, que a 
visão parcial ou deturpada da realidade pode nos levar a conclusões equivocadas, que devemos sair da 
caverna para ver o mundo exposto à claridade e que precisamos permitir que a luz nos mostre os objetos 
em todos os seus detalhes.
21
METODOLOGIA DO TRABALHO ACADÊMICO
Figura 4 – O mito da caverna nos ensina que o conhecimento científicose opõe ao 
senso comum, que se coloca contra o senso comum, exigindo que a lógica se associe 
à obtenção de evidência empírica para que determinados enunciados sejam feitos
A filosofia é, portanto, a área do conhecimento que se ocupa em “não aceitar como óbvias e evidentes 
as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores e os comportamentos de nossa existência cotidiana; 
jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido” (CHAUI, 2000, p. 12).
Tratemos de refletir um pouco mais sobre isso. Imagine que, de repente, você encontre um amigo 
que não via há anos. Como se não houvesse transcorrido tempo algum, vocês retomam a conversa do 
ponto em que haviam parado, riem das mesmas piadas de antes, comportam-se como se tivessem se 
visto no dia anterior. Tal situação pode gerar estranheza, em especial se você se questionar a respeito do 
significado do tempo: o que é tempo? É o que se sucede, dia a dia? É o que é marcado pelo relógio ou 
pelo movimento da Terra ao redor do Sol? Há um tempo real e um tempo imaginário?
É provável que você jamais tivesse refletido antes sobre o significado do tempo. No entanto, a 
situação favorece que a pergunta seja formulada. Se, há poucos minutos, você imaginava ter uma 
resposta pronta a essa questão, agora, após uma experiência específica, está refletindo a respeito da 
realidade e do que você imaginava certo a respeito dessa realidade. Para Chaui (2000), inclusive, a 
distância entre o que se crê e o que efetivamente é abre espaço para a crítica e para a descoberta, o que 
se define aqui como atitude filosófica.
Passamos por uma árvore e dizemos que ela é bela; no entanto, jamais paramos para refletir a 
respeito do significado de beleza. Se algo é belo para uns, será belo para todos? O que define a beleza? 
O que significa liberdade? Quais os atributos daquilo que é justo? Beleza, liberdade, justiça: todos esses 
temas, a respeito dos quais, na vida cotidiana, imaginamos ter o conhecimento necessário, podem se 
tornar objeto de reflexão filosófica. É a essa reflexão, a que fazemos sobre fatos ou conceitos sobre os 
quais temos a impressão de tudo saber, que damos o nome de atitude filosófica.
A reflexão filosófica ocorre a partir de dois momentos cruciais. No primeiro, por meio 
da atitude crítica, rejeitamos o conhecimento do senso comum, aquilo que pensamos saber. 
22
Unidade I
Rejeitamos o “eu acho”, “eu penso”, e colocamo-nos na posição de quem nada sabe. No segundo, 
questionamo-nos a respeito do real significado das coisas e dos fenômenos. Colocamo-nos na 
posição de uma criança que descobre a sua própria mão, que vê tudo pela primeira vez e para 
quem o mundo é surpreendentemente novo. Digamos de outra forma: rejeitamos o julgamento 
parcial, as opiniões pessoais que temos em relação aos objetos, afastamo-nos da subjetividade; 
em contrapartida, buscamos a objetividade, a percepção do mundo mais isenta possível.
Nossos sentidos podem nos enganar, nossas opiniões podem ter se formado a partir de erros de observação 
ou erros de apreensão de causalidade – no nosso cotidiano, podemos afirmar que A causou B. É evidente 
que não há percepção totalmente isenta, não há como, na nossa apreensão do mundo, isolarmos a 
influência do que somos, do que pensamos, do que gostamos. Vemos o mundo a partir de lentes que 
podem ampliar, reduzir ou deformar nossa visão da realidade. Assim, a filosofia oferece a possibilidade 
de nos distanciarmos da avaliação subjetiva dos objetos. Permite-nos, em especial, a consciência das 
nossas limitações na percepção e na avaliação do que nos cerca.
Figura 5 – Para pensar sobre o que é o pensamento, temos que utilizar palavras precisas, conceitos e ideias claras
Pensar sobre o pensamento significa não apenas estar disposto a conhecer o mundo, mas também 
a si mesmo. Em outras palavras, a atitude filosófica nos permite compreender melhor como pensamos 
e formulamos opiniões a respeito das coisas, como construímos o conhecimento, como agimos a partir 
desse conhecimento. Tornamo-nos melhores porque nos interrogamos e nos questionamos a respeito 
das formas pelas quais construímos nossa visão de mundo.
Como conquistar esse autoconhecimento por meio do pensar sobre o pensamento? Parece claro 
que o método que usamos para conhecer e agir no nosso cotidiano não serve para a reflexão filosófica. 
Precisamos, inicialmente, utilizar palavras e conceitos claros. Depois, devemos empregar a nossa razão 
para formar um conjunto lógico de princípios e encadeamento de ideias.
O quadro a seguir sistematiza as principais características do conhecimento filosófico, bem como 
suas respectivas formas de representação.
23
METODOLOGIA DO TRABALHO ACADÊMICO
Quadro 2 – Principais características do conhecimento 
filosófico e respectivas formas de representação
Característica Forma de representação
Valorativo O ponto de partida são hipóteses que não podem ser submetidas à observação. O conhecimento emerge da experiência, e não da experimentação. 
Não verificável Os enunciados das hipóteses filosóficas não podem ser confirmados nem refutados, mas são logicamente correlacionados. 
Sistemático Suas hipóteses e enunciados visam à representação coerente da realidade estudada, na tentativa de apreendê-la integralmente.
Infalível e exato
Seus postulados e hipóteses não são submetidos ao teste da experimentação. Há um esforço da 
razão pura, com a finalidade de questionar os problemas humanos e discernir entre o certo e o 
errado. A filosofia emprega o método racional, em que prevalece a coerência lógica.
Fonte: Marconi e Lakatos (2003, p. 78-79).
2 CONHECIMENTO CIENTÍFICO, PESQUISA TEÓRICA E PESQUISA EMPÍRICA
Vimos, anteriormente, o conhecimento comum, o teológico e o filosófico. Falemos, agora, do 
conhecimento científico. Comecemos com o surgimento da ciência.
Muitas das perguntas mais elementares que os seres humanos se propõem podem ter dado origem a estudos 
científicos. Em outras palavras, a ciência desenvolveu-se a partir de perguntas feitas pelos homens em relação ao 
que os cercava. Evidentemente, no início, muitas das respostas às perguntas que os seres humanos se faziam (por 
exemplo: “Por que chove?”, “O que são estrelas?”) tinham fundamentação nas explicações míticas e religiosas. 
Tratava-se, simplesmente, de explicações para alguns fenômenos naturais. Distanciando-se dessa visão, o valor 
da ciência variou bastante ao longo da história, até chegar ao status atual.
Figura 6 – A ciência desenvolveu-se a partir de perguntas feitas pelos homens em relação 
ao que os cercava, cuja natureza e funcionamento eles tinham interesse em entender
O conhecimento científico resulta de investigação metódica e sistemática da realidade. Utilizando-se 
do intelecto, o homem procura respostas para as causas dos fatos; a partir de classificações, comparações 
e análises – enfim, de métodos –, pode chegar a leis gerais que os regem. O processo de investigação, 
descoberta e expansão do conhecimento faz do ser humano sujeito ativo em relação a fatos e objetos 
(MARTINS; THEÓPHILO, 2009).
O conhecimento é uma adequação do sujeito ao objeto. O sujeito tem seus meios de conhecimento, 
e o objeto revela-se a ele conforme tais meios. Segundo Fachin (2003), o sujeito entra em contato com 
24
Unidade I
o objeto por intermédio de uma relação determinada, e esse contato se transforma em conhecimento 
mediante essa mesma relação. Toda compreensão necessita de um contato com o real. É importante 
destacar que o sujeito não conhece tudo de todas as coisas, e que o pesquisador, o cientista,
procura tratar seu objeto dentro de certos rituais reconhecidos como 
importantes. De modo geral, evita a credulidade, assume atitude distanciada, 
cita autores, usa uma linguagem estereotipada, quase um dialeto, busca 
definir os termos da forma mais precisa possível, emprega técnicas complexas 
de quantificação, confia apenas em testes rigorosos, e assim por diante. 
Pratica-se uma forma de treinamento voltada […] a uma visão críticada 
realidade, uma atitude mais objetiva, um domínio de autores e teorias, uma 
produção argumentativa insistente […]. Há um rol de cuidados específicos 
que, uma vez seguidos, parecem produzir o resultado imaginado, a saber, a 
ciência (DEMO, 1985, p. 33-34).
Desse fragmento, pode-se depreender que o desenvolvimento do conhecimento científico passa por 
um ritual, por uma espécie de culto ou práticas consagradas pelo uso de alguma norma. Deve ser guiado 
por uma sequência de atitudes que faz dele, então, um ritual. O pesquisador não crê com facilidade nos 
fatos que analisa, mas toma-os como condicionantes exteriores às suas crenças. É, portanto, não crédulo.
Uma das principais características dos pesquisadores, enquanto disseminadores do conhecimento 
científico, é que sua crença não se confunde com os objetos investigados. Os cientistas não os julgam por 
valores nem os tomam por crença, mas os assumem simplesmente como fatos a serem analisados, explicados 
e, por que não dizer, teorizados. Assim, o conhecimento científico é formado por atitudes distanciadas da 
ocorrência dos fenômenos. O cientista não se aproxima do objeto a ser estudado por paixão, mas sim pelo 
próprio estudo, pela análise, pela compreensão, pela possibilidade de dissecar, explicar a ocorrência dos 
fenômenos. Quanto mais for investigado, maior será o distanciamento entre o conhecimento científico e 
o fenômeno analisado, porém maior será a aproximação da ocorrência do fenômeno.
Isso somente é conseguido depois de muito treino. O conhecimento científico é resultado desse 
treino, que requer abstração, observação, investigação, sistematização de ideias, interpretação, raciocínio 
e explicação. Cada uma dessas atitudes não está dissociada da outra nem ocorre de forma independente, 
mas no mesmo instante. Enquanto se observa e se investiga, há também raciocínio. Enquanto se exerce 
o raciocínio, chega-se a conclusões e, a partir delas, à explicação.
A observação e as investigações não são efetuadas sem critério. Muito pelo contrário: é preciso 
estabelecer certos procedimentos e, entre eles, escolher as melhores alternativas. Nesse aspecto, a 
investigação recorre ao que foi efetuado anteriormente, não obstante a abstração e a observação. 
Lembramos aqui os escritos existentes sobre a ocorrência de fenômenos, bem como as explicações já 
formuladas acerca da realidade. O uso de teorias já consagradas propostas por autores reconhecidos 
é de elevada importância no processo investigativo. Devemos ter em mente que a ciência é algo 
inacabado, que o conhecimento científico está em permanente construção e que um mesmo fenômeno 
ou uma mesma realidade podem ser verificados de formas distintas. Portanto, o uso de autores, teorias e 
conhecimentos desenvolvidos anteriormente muito contribui para o conhecimento presente e o futuro.
25
METODOLOGIA DO TRABALHO ACADÊMICO
Quando se desenvolve o conhecimento científico, o recurso a autores e teorias proporciona a 
possibilidade de crítica. Como vimos, o senso comum não permite críticas, apenas opiniões. Não significa 
que inexista opinião crítica no conhecimento vulgar, porém esta, se existe, na maioria das vezes não está 
fundamentada em estudos, em abordagens teóricas, mas em hábitos, preconceitos, tradições, costumes. 
O conhecimento científico não admite opiniões desse tipo. Ele possibilita argumentos solidamente 
construídos pela crítica. Mesmo assim, não se trata de crítica pela crítica em si, como censura, 
condenação. Entende-se aqui a existência do criticar em sua forma analítica, examinada, julgada a 
partir de determinados parâmetros técnicos, não necessariamente complexos, mas qualificados e, 
se necessário, quantificados. A crítica permitida ao conhecimento científico é a do comentário e da 
apreciação teórica, assumindo o papel de renovação, afirmação ou negação do que se estuda, do que 
se analisa. Assim, o sujeito torna-se ativo no processo. O conhecimento científico não se apresenta 
somente como repetição do já existente. Procura ir além do que existe. Nesse aspecto, o cientista dialoga 
com autores, “briga” com teorias, refuta ou aceita ideias tomadas como certas.
De acordo com Santos (2008, p. 17), o conhecimento científico que temos hoje é herdeiro da Revolução 
Científica dos séculos XVII e XVIII, a qual produziu uma racionalidade que defendeu serem “mais científicas” 
as ciências naturais, comparativamente às sociais e humanas, e que buscou distinguir-se do senso comum. 
Não é uma ciência que se outorgue o direito de revelar grandes verdades. Ao contrário, “estamos de novo 
perplexos, perdemos a confiança epistemológica; instalou-se em nós uma sensação de perda irreparável, 
tanto mais estranha quanto não sabemos ao certo o que estamos em vias de perder”.
 Observação
A epistemologia estuda o conhecimento, as etapas para o alcance dele 
e os limites do conhecimento alcançado. Quando Santos (2008) fala de 
confiança epistemológica, ele faz referência às normas e regras aceitas 
como legítimas para a construção do conhecimento científico.
O conhecimento científico resulta da observação e da experiência empírica, que ocorrem posteriormente 
à seleção de fatos por meio da dedução e do esforço teórico. Tende-se a quantificar, pressupondo-se que 
a mensuração pode ser uma garantia de certeza. O rigor científico exige medições e, portanto, “o que não 
é quantificável é cientificamente irrelevante” (SANTOS, 2008, p. 28). O conhecimento científico, portanto,
é um conhecimento causal que aspira à formulação de leis, à luz de 
regularidades observadas, com vista a prever o comportamento futuro dos 
fenômenos. A descoberta das leis da natureza assenta, por um lado, e como já se 
referiu, no isolamento das condições iniciais relevantes (por exemplo, no caso da 
queda dos corpos, a posição inicial e a velocidade do corpo em queda) e, por outro 
lado, no pressuposto de que o resultado se produzirá independentemente do lugar 
e do tempo em que se realizarem as condições iniciais (SANTOS, 2008, p. 29).
Evidentemente, ser capaz de formular leis significa acreditar que o mundo pode ser compreendido 
por meio delas, quer dizer, que o mundo tem uma ordem natural passível de ser conhecida – que o 
26
Unidade I
mundo funciona como uma máquina, cujos movimentos e funcionamento são previsíveis (ao menos, 
em condições normais). Por isso mesmo, mais do que explicar, o conhecimento científico permite que 
operemos no mundo, que o transformemos, que o dominemos.
Figura 7 – “Esta ideia do mundo-máquina é de tal modo poderosa que se vai transformar 
na grande hipótese universal da época moderna, o mecanicismo” (SANTOS, 2008, p. 31)
Espera-se que o conhecimento científico seja capaz de explicar a realidade. Espera-se que, por meio 
dele, possamos formular leis simples que deem conta de apreender a complexidade que nos cerca, e essa 
também será uma marca das ciências sociais e aplicadas que surgem a partir do século XIX. Como ocorre 
nas ciências naturais, acredita-se que a sociedade possa ser investigada com o objetivo de abstrair leis 
gerais que expliquem os fenômenos sociais, culturais, psicológicos e econômicos.
Pelo exposto, entendemos ser a ciência constituída por conhecimentos sobre um objeto passível 
de estudo e expressa por linguagem própria, precisa. As conclusões a que chega, além de totalmente 
independentes de juízo de valor, devem ser passíveis de verificação para posterior explicação ou 
teorização. Quanto ao cientista, este se utiliza de fatos para produzir conhecimento, cuja elaboração dá 
origem a teorias que deverão ser novamente submetidas à realidade para conferir sua validade.
A ciência se apresenta como uma maneira uniforme de achar alguma 
razão na observação dos fatos. Sua estrutura permite a acumulação do 
conhecimento de forma organizada e fundamentada em sistemas lógicos, 
sempre sob a direção de um elenco de procedimentos da metodologia 
científica. A classificação das diversas ciências é importante porque é uma 
preocupação que, ao longo dotempo, tem se tornado uma problemática 
intelectual do ser humano (FACHIN, 2003, p. 15).
Santos (2008, p. 14) observa:
E de tal modo é assim que é possível dizer que em termos científicos vivemos 
ainda no século XIX e que o século XX ainda não começou, nem talvez 
comece antes de terminar. E se, em vez de no passado, centrarmos o nosso 
27
METODOLOGIA DO TRABALHO ACADÊMICO
olhar no futuro, do mesmo modo duas imagens contraditórias nos ocorrem 
alternadamente. Por um lado, as potencialidades da tradução tecnológica 
dos conhecimentos acumulados fazem-nos crer no limiar de uma sociedade 
de comunicação e interativa libertada das carências e inseguranças que 
ainda hoje compõem os dias de muitos de nós: o século XXI a começar 
antes de começar. Por outro lado, uma reflexão cada vez mais aprofundada 
sobre os limites do rigor científico combinada com os perigos cada vez mais 
verossímeis da catástrofe ecológica ou da guerra nuclear fazem-nos temer 
que o século XXI termine antes de começar.
Por sua vez, Lungarzo (1990, p. 15) afirma:
A ciência é uma parte da cultura dos povos modernos, como a religião, a arte, 
a literatura etc. Mas nem sempre a palavra “ciência” é usada com um único 
significado. Frequentemente, entende-se por ciência a atividade científica 
em geral. Eis alguns exemplos desse uso: sociedade científica, homem de 
ciência, visão científica da vida […]. Outras vezes, “ciência” tem o significado 
mais específico de conhecimento científico. […] Ainda, a ciência é usualmente 
identificada com o conjunto ou sistema organizado de conhecimento 
científico. […] A ciência, considerada como conhecimento, tem forte relação 
com métodos e técnicas de descoberta […]. Considerada como teoria, sua 
relação mais importante é com a estrutura lógica e linguística.
Complementando, Ferrari (1982, p. 2) define: “A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades 
racionais dirigidas ao sistemático conhecimento, com objetivo limitado, capaz de ser submetido à verificação”.
É possível agora sintetizar as características do conhecimento científico, conforme mostra o quadro 
a seguir.
Quadro 3 – Principais características do conhecimento 
científico e respectivas formas de representação
Característica Forma de representação
Real Lida com fatos concretos, com ocorrências.
Contingente Proposições ou hipóteses são validadas ou falseadas pela experiência, e não simplesmente pela razão. 
Sistemático Segue uma ordem precedida por ideias concebidas em teorias.
Verificável Procura, a partir de uma situação-problema, de uma dúvida, trabalhar com hipóteses, as quais poderão se mostrar verdadeiras ou falsas.
Falível É um produto inacabado, não definitivo, absoluto ou final. 
Aproximadamente exato Aceita reformulações interpretativas e teóricas. 
Fonte: Marconi e Lakatos (2003, p. 77).
28
Unidade I
A partir de Fachin (2003), Lungarzo (1990) e Marconi e Lakatos (2003), é possível proceder à 
classificação e à divisão da ciência. É o que vemos na figura a seguir.
Ciências
Formais Factuais
Naturais Humanas
Figura 8 – Divisão da ciência e suas classificações
As ciências formais são aquelas que lidam com dados não concretos, com abstrações cujos teoremas 
e argumentos dispensam experimentos. Trabalham sobre a forma do conhecimento, e não sobre seu 
conteúdo. A exemplo da matemática e da lógica, trabalham com ideias. Já as chamadas factuais 
procuram lidar com situações reais, baseadas em fatos. A existência de seus objetos independe de 
nossa mente, e suas características são geralmente perceptíveis aos sentidos. As ciências factuais, 
que também podem ser designadas como experimentais ou empíricas, são divididas em duas grandes 
áreas, em razão das diferenças entre os objetos de investigação, bem como entre os métodos de 
investigação, análise e conclusão.
As ciências factuais naturais são aquelas relacionadas à astronomia, à biologia, à física, à geologia e 
à química, para listar algumas. Operam com os dados fornecidos pela natureza. Exemplos:
• Astronomia: estudo dos astros, das estrelas.
• Biologia: estudo dos seres vivos, a fim de conhecer o funcionamento dos organismos.
• Física: estudo da natureza em seus aspectos mais gerais.
• Geologia: estudo das ciências da Terra, no que diz respeito à sua composição e estrutura.
• Química: estudo das substâncias da natureza, dos elementos e suas características.
As ciências factuais humanas preocupam-se, em sentido mais amplo, com fenômenos e atividades 
relacionadas com o homem. Assim, a antropologia, o direito, a economia, a história, a política, a psicologia 
social e a sociologia fazem parte dessa divisão. Podem ainda ser designadas como ciências sociais ou, 
simplesmente, humanas. Tratam do homem, de seu comportamento, de sua vida grupal.
29
METODOLOGIA DO TRABALHO ACADÊMICO
As ciências estão divididas exclusivamente para fins didáticos. Lungarzo (1990, p. 38-39) observa:
A divisão entre os dois campos está definida pela natureza que umas e outras 
estudam. Por exemplo, não há nenhuma ciência da natureza dedicada ao 
estudo dos conflitos sociais, dos hábitos de tribos, clãs, grupos familiares 
etc., da direção da história e de outros problemas específicos do homem. 
Essas propriedades específicas das ciências humanas têm algo diferente 
das propriedades relevantes para as ciências naturais. O homem é um 
ser pensante e afetivo: ele tem uma forma “superior” de inteligência, 
tem emoções que influem em suas atividades e tem a capacidade de 
transformar o mundo. O homem não é um objeto “passivo” como as 
forças, a energia, a luz, as células, os planetas ou outras entidades que 
fazem parte das ciências naturais. […] as atividades humanas são bem 
mais difíceis de predizer. Um astrônomo pode predizer com exatidão 
quando terá lugar o próximo eclipse do Sol. Pelo contrário, ninguém 
pode predizer, nem com uma aproximação razoável, quando acontecerá 
uma nova guerra mundial.
Já vimos que o conhecimento científico exige a formulação de hipóteses que sejam verificadas 
e interpretadas. Tal contexto enseja a formulação de algumas perguntas: a pesquisa científica deve 
envolver, necessariamente, procedimentos experimentais? Só pode ser considerado científico o 
conhecimento que é produzido em laboratório? É científico o conhecimento que não gera qualquer 
resultado prático, que apenas produz teorias?
A resposta a esses questionamentos surge da diferenciação entre pesquisa teórica e pesquisa 
empírica. A pesquisa teórica, de forma simplificada, tem a intenção de enriquecer teoricamente a 
ciência; em contrapartida, a pesquisa empírica é aquela que busca um resultado prático. Por isso, as 
pesquisas teóricas são chamadas de puras, e as empíricas, de aplicadas.
 Observação
Segundo Gil (2008, p. 26), “pode-se definir pesquisa como o processo 
formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo 
fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante 
o emprego de procedimentos científicos”. Em outras palavras, a pesquisa 
representa o conjunto de procedimentos científicos levados a cabo para 
resolver determinado problema ou responder a determinada pergunta.
Uma teoria, em ciência, é um conjunto de hipóteses que permite que formulemos explicações gerais. 
Posso supor que alunos que estudem em determinado polo ou campus o fazem por causa da proximidade 
com a residência ou com o trabalho. Evidentemente, essa hipótese foi gerada a partir de muitas observações. 
Logo, caso um aluno afirme estudar no campus/polo X, posso dizer que ele provavelmente fez essa escolha 
30
Unidade I
pela proximidade com a casa ou com o trabalho. A conclusão geral a que cheguei por meio de observações 
me permite explicar casos particulares, mesmo que não os conheça a fundo. As teorias, portanto, têm valor 
explicativo e são utilizadas para explicar fenômenos, ainda que não estudados individualmente. Mais: além 
de explicativas, elas generalizam e sintetizam o conhecimento.
A pesquisa teórica, desse modo, tem o objetivode avançar na formulação teórica, complementando-a 
ou confirmando-a, ou modificar uma teoria já existente. São exemplos de pesquisa teórica: a elaboração 
de um artigo científico a respeito do comportamento social em situações de estresse intenso, o estudo 
sobre a história da física no que respeita à transição entre o geocentrismo e o heliocentrismo, a análise 
dos indicadores de desempenho da economia, a investigação sobre as principais causas de acidente de 
trânsito nas capitais do país etc. Como é possível perceber, em geral, essas são pesquisas documentais ou 
bibliográficas. É importante ressaltar que a pesquisa teórica, embora não tenha esta meta como objetivo 
central, pode gerar aplicações práticas.
Em oposição, a pesquisa empírica preocupa-se em oferecer uma solução prática para determinado 
problema. Por isso, ela é também chamada de aplicada, já que os métodos científicos são postos em 
ação – ou seja, são aplicados – com a intenção de obter um resultado prático. São exemplos de pesquisas 
empíricas: o teste de uma nova vacina, o estudo do fluxo de processos numa fábrica para diminuir o 
tempo de manipulação da matéria-prima na linha de produção, a realização de entrevistas com os 
funcionários de uma empresa para a elaboração de uma nova matriz de promoção salarial, a diminuição 
da luminosidade em uma sala de aula para verificar o aumento do desempenho dos alunos etc. Vale 
uma ressalva: o fato de essas pesquisas terem uma natureza prática não significa que elas dispensem 
a teoria; ao contrário, todas elas devem ter nascido de reflexões teóricas a respeito de medicamentos, 
de logística, de relações organizacionais e de práticas de ensino e educação, por exemplo. No entanto, 
dizemos que elas são empíricas porque: a) elas coletam dados empíricos, quer dizer, dados que resultam 
da experiência; b) elas devem atender a objetivos práticos e pragmáticos. Como é possível perceber, 
grande parte das pesquisas empíricas é realizada em laboratório.
Figura 9 – Não há pesquisa empírica que dispense a base teórica. As perguntas que são feitas, 
e que serão respondidas pelas pesquisas práticas, supõem um referencial teórico que permita a sua formulação
31
METODOLOGIA DO TRABALHO ACADÊMICO
 Lembrete
Toda observação pressupõe uma teoria, a qual é levada em conta no 
momento da seleção dos dados. Há milhões e milhões de dados no mundo. 
Selecionamos aqueles que nos parecem relevantes em função de teorias 
prévias que temos a respeito do funcionamento do mundo e da natureza 
que nos cerca.
Há muita controvérsia a respeito da importância de cada uma dessas modalidades de pesquisa. 
Há quem defenda que, por serem escassas, as verbas para pesquisa devem priorizar estudos 
empíricos/práticos. Segundo essa corrente, as pesquisas teóricas, por não apresentarem resultados 
práticos imediatos, são de pouca serventia, especialmente no caso de economias em desenvolvimento 
que sofrem com problemas crônicos de miséria, fome e epidemias. No entanto, é importante lembrar 
que, muitas vezes, pesquisas teóricas acabaram por resultar em aplicações práticas extremamente úteis. 
Além disso, o desenvolvimento da ciência depende da reflexão teórica.
 Saiba mais
A esse respeito, sugerimos o filme Contato. Baseado no livro homônimo 
de Carl Sagan, Contato narra a jornada da cientista Ellie Arroway, uma física 
que procura sinais de inteligência extraterrestre. Em dado momento da 
narrativa, o chefe de Ellie questiona o uso de verbas públicas para o estudo 
sobre “homenzinhos verdes” (forma irônica pela qual ele se refere à pesquisa 
sobre inteligências extraterrestres); para ele, recursos financeiros escassos 
devem ser utilizados em pesquisas que gerem resultados e benefícios para 
os contribuintes e pagadores de impostos.
CONTATO. Direção: Robert Zemeckis. Estados Unidos: Warner Brothers; 
South Side Amusement Company, 1997. 150 min.
Sobre o mesmo filme, sugerimos o artigo “Contato: a mulher 
cientista no cinema”. Nesse texto, os autores fazem uma reflexão sobre a 
participação da mulher no mundo científico, levantando questões sobre 
a representação social do feminino no cinema e sobre as dificuldades que 
o gênero encontra em termos de papel e função no ambiente da ciência.
JUDENSNAIDER, I.; FIGUEIRÔA, S. F. M.; SANTOS, F. S. Contato: a mulher 
cientista no cinema. Prometeica, n. 19, p. 80-92, 2019. Disponível em: 
https://periodicos.unifesp.br/index.php/prometeica/article/view/9529. 
Acesso em: 4 nov. 2019.
32
Unidade I
Na mesma direção, há conflito entre os cientistas sociais que pretendem que as ciências sociais e 
humanas tenham como base os mesmos procedimentos e métodos das ciências naturais e os cientistas 
que defendem para as ciências sociais uma metodologia própria, que prescinda do empirismo e da 
evidência empírica.
De forma resumida, os que advogam o menor valor científico das ciências sociais usam como 
principais argumentos os fatos de que
as ciências sociais não dispõem de teorias explicativas que lhes permitam 
abstrair do real para depois buscar nele, de modo metodologicamente 
controlado, a prova adequada; as ciências sociais não podem estabelecer leis 
universais porque os fenômenos sociais são historicamente condicionados 
e culturalmente determinados; as ciências sociais não podem produzir 
previsões fiáveis porque os seres humanos modificam o seu comportamento 
em função do conhecimento que sobre ele se adquire; os fenômenos sociais 
são de natureza subjetiva e como tal não se deixam captar pela objetividade 
do comportamento; as ciências sociais não são objetivas porque o cientista 
social não pode libertar- se, no ato de observação, dos valores que informam 
a sua prática em geral e, portanto, também a sua prática de cientista 
(SANTOS, 2008, p. 36).
 Saiba mais
A questão da mensuração e da previsibilidade nas ciências sociais é 
abordada na trilogia de ficção científica Fundação (Fundação, Fundação e 
império, Segunda fundação), de Isaac Asimov. Os livros narram a transição 
de um mundo imperial para um mundo científico. Curiosamente, essa 
transição é prevista e acompanhada por cientistas especializados em 
“psico-história”, um saber fictício que faz uso da estatística para prever 
fenômenos sociais.
ASIMOV, I. Fundação. Tradução: Fábio Fernandes. São Paulo: Aleph, 2019.
Em contrapartida, os que defendem o caráter científico das ciências sociais argumentam que não 
há como pretender, para estas, a objetividade alcançada por experiências em laboratório ou medições 
instrumentais. Ao contrário: considerando-se que o objeto das ciências sociais é o homem e suas 
realizações, seus atos, seu trabalho e seu comportamento, há que ponderar que a subjetividade é 
elemento indissociável das variáveis que serão estudadas. Por isso mesmo, são necessários métodos 
específicos, diferentes daqueles utilizados no campo das ciências naturais. Ou no campo das ciências 
sociais, ou no campo das ciências naturais, conclui-se que o conhecimento científico depende, para a 
sua produção, de normas, procedimentos e métodos. Em suma, de metodologia.
33
METODOLOGIA DO TRABALHO ACADÊMICO
2.1 Algumas relações entre ciência, filosofia e religião
Segundo Brooke e Numbers (2011), do ponto de vista histórico, a religião e a ciência estabeleceram 
relações de conflito, de tensão e, não raras vezes, de hibridização entre seus elementos.
 Lembrete
A religião é o conjunto de crenças e valores que dão suporte à fé em 
determinado poder divino na criação e na gestão do mundo. Ela é, portanto, 
o objeto de estudo da teologia, que se ocupa da investigação do discurso 
construído a respeito de um ser superior, em geral onisciente e onipresente.
Henri Atlan, médico e biólogo associado à Faculdade de Ciências de Paris e à Universidade Hebraica 
de Jerusalém, em entrevista à jornalista científica francesa Guitta Pessis-Pasternak, alerta: não é possível 
misturar os conteúdos de um e de outro campo. Para Atlan, constituiria um “erro ver alusões à mecânica 
quântica em uma tradição hindu, do mesmo

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