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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO DE GRADUAÇÃO BACHAREL EM TEOLOGIA Hermenêutica Bíblica: interpretação e divulgação da Sagrada Escritura Trabalho apresentado como exigência de Prática como Componente Curricular na Disciplina Hermenêutica Bíblica. Aluno: Josué Avelino da Silva Professor(a): Joana Darc Venancio Rio de Janeiro 2022 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 2 DESENVOLVIMENTO...............................................................................................4 3 ENTREVISTAS............................................................................................................7 4 INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS BÍBLICOS.........................................................9 5 CONCLUSÃO.....................................................................................................................................................12 REFERÊNCIAS............................................................................................................13 1 INTRODUÇÃO Este trabalho de Prática como Componente Curricular (PCC) tem como objetivo, Compreender a importância da Hermenêutica Bíblica para interpretação e divulgação da Sagrada Escritura, identificando as habilidades necessárias para a fiel interpretação da Bíblia Sagrada. Interpretar as escrituras sem os princípios de hermenêutica é como um cego correndo em uma rua sinuosa. Certamente ele tropeçaria, cairia e não chegaria ao seu destino final pelo simples fato de não ter quem o guie. Cada vez que lemos a Bíblia procurando entender a mensagem de Deus para anunciá-la em nossa pregação, estamos buscando entender o que lemos para depois explicar e aplicar o texto, isto é, nos engajamos em um processo de interpretação. Como Palavra de Deus, a Bíblia deve ser lida como nenhum outro livro, pois não há outra forma de conhecer a Palavra de Deus que não seja através da sua leitura. No entanto, como ela foi escrita por seres humanos, mas divinamente inspirados, não deve ser lida como um livro qualquer. A leitura da Bíblia se sujeita a regras gerais da hermenêutica e da interpretação, que fazem parte daquilo que é lógico e tem sentido dentro da nossa realidade. Ou seja, quando nós refletimos no fato de que a Bíblia é um texto sujeito a regras gerais de interpretação, temos um texto que está distante de nós porque foi escrita há muito tempo, em idiomas originais da época e em diferentes contextos culturais. Tudo isso faz com que a leitura da Bíblia requeira um esforço maior no sentido de interpretação. A Bíblia não é um livro para ser simplesmente lido, mas estudado à luz da Hermenêutica Bíblica, para então, se extrair dela a mensagem interpretada de forma correta. Quando estudamos a Bíblia, nos aproximamos de textos muito antigos, escritos há milhares de anos e que foi produzido em contextos diversos e idiomas pouco conhecidos e muito diferentes dos idiomas atuais. Além disso, a Bíblia foi escrita para responder a perguntas que nem sempre são as mesmas de hoje. Dessa forma, a Hermenêutica Bíblica é a ferramenta que pode nos aproximar do contexto histórico, lingüístico e cultural em que foram produzidos os textos das Sagradas Escrituras. 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 O significado de Hermenêutica Bíblica e sua relevância para a Teologia. A palavra hermenêutica se origina do termo grego hermeneutike que, por sua vez, deriva do verbo grego hermeneuo e transmite o significado de “expressar”, “explicar”, “interpretar” e “traduzir”. É amplamente aceito que esses termos tenham a ver com o mensageiro divino da mitologia grega, o “deus” Hermes. Dentro do estudo teológico, a hermenêutica faz parte dos estudos bibliológicos. Na verdade, a hermenêutica segue imediatamente o texto bíblico, pois o próprio texto bíblico é o objeto de interpretação da hermenêutica; ou seja, o texto bíblico é o material ou a fonte das informações interpretadas pela hermenêutica. Nesse ponto, fica fácil perceber que a hermenêutica possui um papel de fundamental importância no estudo teológico. Isso porque a hermenêutica é a responsável por fornecer os dados para a teologia bíblica a partir do texto da Escritura. Então a teologia bíblica, por sua vez, fornece os dados para a teologia sistemática e, conseqüentemente, para a teologia prática. Portanto, a hermenêutica bíblica está na base de todas as disciplinas teológicas. Nesse sentido, a hermenêutica bíblica correta aborda o texto da Escritura sob uma interpretação gramatical, contextual, histórica e teológica. 2.2 A importância da Hermenêutica Bíblica na interpretação dos Textos Bíblicos. A leitura sempre envolverá um processo de interpretação ― ainda que esse processo seja inconsciente e nem sempre as pessoas estejam alertas para o fato de que um processo de compreensão está em andamento. A Bíblia é um texto. Ela é a Palavra de Deus, mas ela é um texto. Como tal, ela não foge a essa regra. (Ver. Augusto Nicodemos Lopes) Com base na afirmativa do Reverendo Augusto Nicodemos, supomos que ministros e estudiosos do Evangelho entendam a importância de se utilizar a Hermenêutica Bíblica como uma ferramenta que lhes oriente no ofício de interpretação das Escrituras Sagradas e, dessa forma, ampliem a capacidade de extrair do texto o contexto e a fiel interpretação do que foi escrito e, com isso, não somente difundir a educação cristã, mas incentivar os ministrados à desenvolverem o senso crítico e analítico em relação aos assuntos emergentes no cotidiano, concernentes às Escrituras Sagradas, como também, incentivar o aprofundamento e a aquisição de novos conhecimentos. O estudo e a compreensão das Sagradas Escrituras não podem ser considerados algo de fácil resolução. Durante milhares de anos, o homem dedicou-se a compreender e interpretar os relatos bíblicos de forma a aprofundar-se na essência do significado de cada capítulo e versículo. Contudo, somente como desenvolvimento de si mesmo, o homem tem buscado aprimorar seus conhecimentos para que, ao dominar um determinado assunto, possa transmiti-lo com segurança à outras pessoas. Segundo Carson (2008), “a hermenêutica é a arte e ciência da interpretação”, neste caso, a hermenêutica bíblica é a arte e ciência da interpretação da Bíblia. Na sua segunda carta, capítulo 2 versículo 15, Timóteo enfatiza a importância da interpretação do texto bíblico quando diz: Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. A Bíblia Sagrada é a palavra de Deus, é Ele falando conosco, portanto, quando lemos a Bíblia, nosso objetivo deve ser o de extrair do texto, o mais fielmente possível, a revelação e o propósito de Deus. Todos em algum momento usamos um pouco de Hermenêutica quando lemos um texto e procuramos entender o que diz, porém, no caso da Hermenêutica Bíblica, um erro de interpretação pode causar grandes e irremediáveis transtornos, por este motivo devemos entender que a leitura da Bíblia à luz da hermenêutica é uma forma organizada de compreender e interpretar o ela quer dizer e não o queremos entender. 2.3 A relação entre a Hermenêutica e Exegese Bíblica e a necessidade de sintonia entre as duas nos processos interpretativos dos textos Bíblicos No seu livro “How to Read the Bible for All Its Worth” (Como ler a Bíblia em todo seu valor), Gordon Fee e Dougless Stewart declaram que "exegese é o primeiro passo e hermenêutica é o segundo passo para enfatizar que o que pensamos sobre o texto deve ser baseado no que o texto realmente diz". “Quando falamos de hermenêutica bíblica, estamos nos referindo ao processo de interpretação do texto da Escritura. Por isso, freqüentemente a hermenêutica aparece acompanhada do conceito de exegese”. (DanielConegero) A hermenêutica é basicamente a ciência da interpretação, enquanto a exegese geralmente é mais relacionada à pratica dessa ciência. A hermenêutica reúne os princípios, as regras e os métodos de interpretação para que uma pessoa possa compreender corretamente o sentido e o significado de uma informação. A hermenêutica e a exegese removem as diferenças e os distanciamentos entre o autor e seus leitores. Os textos bíblicos foram escritos em épocas distintas, cujo contexto histórico, lingüístico e cultural eram diferentes de um autor para outro. A Bíblia Sagrada foi escrita por mais de quarenta autores que pertenciam às mais variadas classes sociais, diferentes níveis de escolaridade e ofícios. Entre seus autores temos reis, profetas, sacerdotes, doutores, camponeses, etc. Isso explica a necessidade de, ao estudar um texto bíblico, se fazer uso das ferramentas e técnicas que, tanto a hermenêutica quanto a exegese bíblica dispõem. Isso porque a Bíblia não é apenas um escrito antigo, mas é a Palavra de Deus inspirada, inerrante, infalível, autoritativa e suficiente. A Bíblia possui um autor primário, o Espírito de Deus, que produziu a Escritura através da agência de autores secundários. E nesse processo, o Espírito Santo inspirou e guiou esses autores para que não houvessem erros e imperfeições, como também preservou seus estilos e características pessoais. Então, quem não reconhece a inspiração divina do texto bíblico, jamais poderá fazer uma hermenêutica bíblica correta. Na verdade, sua hermenêutica não passará de uma simples interpretação de um documento clássico. Essa pessoa poderá até chegar ao significado textual pretendido por Moisés, Isaías, Davi, Paulo, etc., mas jamais chegará ao conhecimento do que, de fato, o Espírito pretendeu comunicar através deles. Neste sentido, todo leitor ou estudante da Bíblia Sagrada precisa reunir as ferramentas e técnicas de que dispomos, tanto da hermenêutica quanto da exegese, pois quando se trata de extrair fielmente o significado do texto bíblico, ambas são imprescindíveis, para dar forma à sua teologia ao interpretar a Escritura Sagrada corretamente, para elaborar uma pregação do Evangelho de Cristo que realmente contenha fidelidade bíblica, para se proteger de falsos ensinos que distorcem os princípios bíblicos e para defender a verdade revelada à luz das Escrituras diante daqueles que se propõe a depreciá-la. Estou certo de que a pregação é a maior necessidade da igreja e a maior necessidade do mundo. Uma igreja pode existir sem templo ou mesmo sem recursos financeiros, mas jamais sem a fiel pregação da Palavra de Deus. Os tempos áureos do cristianismo foram aqueles em que a hermenêutica bíblica esteve em alta. Os dias mais sombrios da igreja foram aqueles em que a pregação fiel escasseou nos púlpitos. Martyn Lloyd-Jones disse com razão, “pregação é lógica em fogo, que emana de um homem que está em chamas”. John Wesley era enfático com seus alunos: “Ponha fogo no seu sermão ou ponha o seu sermão no fogo”. Que Deus nos ajude a ler, a explicar e a aplicar a Sua Palavra com fidelidade utilizando corretamente a boa hermenêutica e a exegese bíblica! (Rev. Hernandes Dias Lopes) 3 ENTREVISTAS Foram entrevistados dois Teólogos de doutrinas diferentes, Reverendo Gilberto Miranda Estanech, Pastor da Igreja Presbiteriana em Seropédica - RJ e Pastor Luiz Henrique Amaral de Oliveira, Professor de Teologia do Instituto Bíblico Ebenezer. 3.1 Reverendo Gilberto Miranda Estanech I. Como podemos compreender a sintonia entre Hermenêutica Bíblica e Exegese Bíblica? R: Considerando que a Hermenêutica e a Exegese Bíblica são metodologias de estudo textual, entendo que a sintonia se dá no complemento de conhecimento que uma atribui à outra, trazendo assim, significado próprio e amplo do texto em questão. II. Quais os métodos e práticas de Hermenêutica Bíblica poderia indicar? R: Considerando os métodos científicos mais utilizados, creio que o método “Histórico Crítico” seja o mais indicado, pois faz a análise do texto buscando no otiginal o seu sentido apropriado. Acredito que o “Histórico Gramatical” também deva ser explorado, tendo em vista a riqueza de informações. III. Como concretamente a Hermenêutica pode melhorar a prática da Homilética? R: Creio que a homilética precisa vir acompanhada de um conhecimento crítico do texto para que a aplicabilidade se torne efetivamente válida e assim, se criar um ambiente de ensino saudável e esclarecedor. IV. Como a Hermenêutica colabora para que a legitimidade do texto bíblico seja preservada? R: A hermenêutica colabora com a legitimidade e preservação do texto a partir do conhecimento crítico textual que faz uma análise do escrito em seu contexto próprio, possibilitando que a contextualização seja, em sua aplicabilidade, fiel às intenções do autor. V. De que forma a Hermenêutica nos ajuda a interpretar as muitas simbologias bíblicas? R: Considerando que as simbologias bíblicas precisam ser interpretadas à luz da intenção do autor, conhecer a historicidade do texto é o que faz com que os símbolos sejam compreendidos em sua realidade própria. 3.2 Pastor Luiz Henrique Amaral de Oliveira I. Como podemos compreender a sintonia entre Hermenêutica Bíblica e Exegese Bíblica? R: Na realidade, a principal diferença entre a exegese e a hermenêutica são as regras e técnicas específicas que cada sistema de interpretação possui. A Hermenêutica Bíblica analisa o sentido que o texto tem hoje para nós e a Exegese procura estudar o sentido que o autor quis atribuir ao texto sagrado. II. Quais os métodos e práticas de Hermenêutica Bíblica poderia indicar? R: Entre os escritos judaicos da antiguidade podemos encontrar pelo menos três métodos hermenêuticos principais: a alegórica (a forma alegórica consiste na interpretação de um texto da perspectiva de alguma coisa, sem levar em consideração o que quer que seja essa coisa), a literal (a maioria dos dicionários descreve o sentido literal como o significado primário de um termo, o significado estabelecido pelo uso comum. Podemos dizer que o significado literal é o significado puro, simples, direto do texto) e a tipológica (a exegese tipológica busca reconhecer e interpretar símbolos, tipos e alegorias das Escrituras fazendo uma correspondência entre pessoas e acontecimentos do passado, do presente e do futuro). Vale salientar que não podemos também deixar de analisar alguns pontos importantes: 1) definição de conceitos; 2) uma verdade inabalável; 3) demonstração da realidade; e, 4) apresentação de possíveis soluções práticas. A qual indicaria que a parte literal e tipológica são ambas de grande importância. III. Como concretamente a Hermenêutica pode melhorar a prática da Homilética? R: A importância do esclarecimento e aprofundamento dos relatos bíblicos é evidenciada na crescente preocupação com o aprimoramento das informações obtidas e pelo aumento de materiais produzidos, voltados aos diversos temas contidos no universo da bíblia. IV. Como a Hermenêutica colabora para que a legitimidade do texto bíblico seja preservada? R: Colabora na preservação da verdade Bíblica, não levando à heresias. V. De que forma a Hermenêutica nos ajuda a interpretar as muitas simbologias bíblicas? R: A Hermenêutica não se pode deixar de considerar todo o contexto bíblico quando há figuras literárias como parábolas, hipérbole e outras. Já os símbolos devem ser examinados e interpretados em seus aspectos mais gerais e comuns, como se apresentariam naturalmente às pessoas regularmente familiarizadas com a palavra de Deus. Deve-se fazer aplicação coerente e uniforme dos símbolos, não saltando do sentido figurado para o literal sem que o original o requeira, nem de um aspecto simbólico para outro diverso do contexto próximo ou profético. 4. Interpretação de Textos BíblicosUtilizando os conhecimentos desenvolvidos no estudo da Disciplina Hermenêutica Bíblica, foram feitas a análise e interpretação de dois textos Bíblicos, um do Antigo Testamento e um do Novo Testamento. 4.1 Análise e Interpretação do Salmo 126 Quando o SENHOR trouxe do cativeiro os que voltaram a Sião, estávamos como os que sonham. Então a nossa boca se encheu de riso e a nossa língua de cântico; então se dizia entre os gentios: Grandes coisas fez o Senhor a estes. Grandes coisas fez o Senhor por nós, pelas quais estamos alegres. Traze-nos outra vez, ó Senhor, do cativeiro, como as correntes das águas doNeguebe. Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria. Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos. O Salmo 126 descreve a vida do povo de Israel em três perspectivas distintas: Passado (versículos 1-3), Presente (versículo 4) e Futuro (versículos 5,6). Ao olharem para o passado, eles exultavam pelo livramento do exílio. Ao olharem para o presente, viam-se áridos como o deserto do Neguebe. Ao olharem para o futuro, sentiam-se desafiados a sair e semear, ainda que precisassem regar o solo duro com suas lágrimas, na certeza de que voltariam com júbilo trazendo seus molhos. Neste salmo o rei Davi roga a Deus para realizar na vida do povo de Israel algo semelhante a um fenômeno da natureza. O deserto do Neguebe é o maior deserto da Judéia, com montes e vales de areias escaldantes. Porém, em meio à sequidão estéril, um fenômeno, embora raro, acontece durante o inverno naquele local. De vez em quando, as chuvas de inverno, abrem valas nas areias, e as torrentes descem dos montes para os vales e por onde as águas passam, a flora e rios são restaurados, formando uma espécie de oásis em pleno deserto. Neste sentido, o Salmista pede a Deus que faça o mesmo milagre na vida do seu povo. Assim como acontece no deserto do Neguebe, Deus pode fazer florescer vida onde há morte e jorrar fonte de água viva onde há intensa sequidão. Sonhar com a restauração de Deus é acreditar que Ele tem poder para mudar nossa sorte, ainda que estejamos passando por longos desertos. 4.2 Análise e Interpretação de Atos 17 - O APÓSTOLO PAULO EM ATENAS E Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles; e por três sábados disputou com eles sobre as Escrituras, Expondo e demonstrando que convinha que o Cristo padecesse e ressuscitasse dentre os mortos. E este Jesus, que vos anuncio, dizia ele, é o Cristo. (Atos 17:2,3) E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos (religiosos); Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio. (Atos 17:22,23) Paulo vai pregar a palavra de Deus num lugar onde o povo é majoritariamente pagão e não conhece o Deus de Israel nem tem as noções básicas da fé cristã. Atenas era na época, a capital intelectual do mundo, a cidade dos sábios e filósofos como Péricles, Aristóteles, Platão, Sócrates, etc., mas seus habitantes não conheciam o Deus criador da sabedoria e da ciência. Atenas era uma cidade mergulhada na cultura secular, nas artes, filosofias (filosofias e vãs sutilezas – Col. 2:8) e costumes mundanos. Ao percorrer a cidade, Paulo fica indignado ao ver a cidade entregue à idolatria (Atos 17:16). Então, ele resolve ir para as sinagogas debater com os Judeus e religiosos locais e diariamente nas praças (ágora) com os que se apresentavam (Atos 17:17). Um aspecto importante de se destacar a respeito da religião grega era a inexistência de um livro sagrado. As crenças eram difundidas pelos poetas, mas com uma visão não dogmática e sem uma autoridade que teria o direito de proteger os dogmas. Com isso, os filósofos gregos não enfrentaram resistência religiosa à sua liberdade de pensamento. Na ágora os cidadãos masculinos maiores de 18 anos expressavam suas idéias e tentavam impor sua cosmovisão. Discutiam com Paulo os filósofos epicuristas e estóicos. O discurso de Paulo confrontava tudo o que aqueles filósofos pregavam, seu discurso apontava para Jesus Cristo, o ressurreto, o salvador, tanto de judeus como samaritanos, galileus e de todos os confins da terra. Então, aqueles intelectuais chamaram Paulo de tagarela que não sabia do quê estava falando. Para eles o evangelho que Paulo pregava era algo muito estranho e para eles o Deus de Paulo era um “desconhecido”. Nada mais controverso que a cidade mais iluminada e considerada o centro cultural e sapiencial do mundo estava mergulhada no obscurantismo e em densas trevas da ignorância espiritual. Isso não é diferente dos dias atuais, quando vemos pessoas cultas e intelectuais, mas que espiritualmente vivem na escuridão. No versículo 19 está escrito que aqueles homens, filósofos e intelectuais, levaram Paulo ao areópago, uma espécie de tribunal de justiça ou conselho, que funcionava a céu aberto no outeiro de Marte, antiga Atenas, desempenhando papel importante sobre temas políticos e religiosos. Atenas era considerada uma cidade muito aberta e liberal, de multiplicidade religiosa. Segundo Plínio, um naturalista, escritor, historiador, gramático, administrador e oficial do exército romano, havia em Atenas naquela época mais de trinta mil estátuas dedicadas aos deuses gregos, já Suetônio, um senador e general romano dizia que para cada edifício havia um altar em Atenas. É neste contexto que Paulo foi levado ao areópago para se explicar e falar sobre o que, para os atenienses era uma novidade vista com estranheza. Então Paulo proferiu o discurso que se encontra registrado no livro de Atos dos Apóstolos 17:22-31, o qual inicia de forma estratégica, e disse Paulo: Varões atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos (religiosos); Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio... Naquele dia, Paulo divinamente inspirado fez uma leitura correta do seu auditório e usou a linguagem adequada para a ocasião, conseguindo fazer com sua mensagem alcançasse os corações de alguns atenienses (Todavia, chegando alguns homens a ele, creram; entre os quais foi Dionísio, areopagita, uma mulher por nome Dâmaris, e com eles outros. Atos 17:34) É admirável a desenvoltura e perspicácia de Paulo no areópago, pregando para uma platéia de sábios, filósofos e religiosos gregos que, adeptos do dualismo, não acreditavam na ressurreição e tinham uma visão distorcida a respeito do corpo/matéria humano, pois diziam que o corpo é mal e não presta, mas o corpo não é mal porque nos é dado por Deus, o corpo humano é criado por Deus e tudo o que Deus faz é bom (Porque toda a criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças. 1º Tim. 4:4). Embora a bíblia relate que, ao ouvirem falar da ressurreição dos mortos, uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos outra vez. (Atos 17:32), a palavra de Deus pregada por Paulo naquele dia não voltou vazia, antes produziu efeito e alcançou corações (Porque, assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei. Isaías 55:10-11) Foi assim que Paulo, de uma forma simples, mas cheio da autoridade do Espírito Santo, apresentou aos atenienses o Deus que eles não conheciam, atingindo com sua mensagem desde sábios e autoridades até os mais humildes e simples cidadãos atenienses. O sermão é uma ponte entre dois mundos. Faz conexão entreo texto antigo e o ouvinte contemporâneo. Sem aplicação hermenêutica e exegética não tem pregação. O sermão não é um discurso diante do auditório, mas uma palavra que atinge e alcança os corações dos ouvintes (Rev. Hernendes Dias Lopes) REFERÊNCIAS KAISER, Walter C. Jr. e Moisés Silva. Introdução à hermenêutica bíblica. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. https://estiloadoracao.com/o-que-e-hermeneutica-e-exegese/ https://teologiabrasileira.com.br/a-importancia-da-hermeneutica-biblica-parte-1/ (Rev. Augusto Nicodemos Lopes) https://hernandesdiaslopes.com.br/os-pilares-da-pregacao-expositiva/ (Rev. Hernandes Dias Lopes)
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