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Dor de cabeça, um sintoma muito comum, pode ser causada por uma anormalidade grave subjacente, mas geralmente é devida a transtornos denominados cefaleias primárias, tais como enxaqueca, cefaleia do tipo tensional, cefaleia em salvas e hemicrania paroxística. Um sistema de classificação caracteriza a cefaleia como primária ou secundária. CEFALEIAS PRIMÁRIAS São doenças em que episódios recorrentes de cefaleia são o sintoma principal. Na maioria das vezes, apresentam etiologia desconhecida e fisiopatologia incerta. Como muitas dessas condições ainda não possuem marcadores bioquímicos e imagéticos, uma boa anamnese e exame físico são cruciais para seu diagnóstico, e os critérios são baseados em dados de história e exame físico. São cefaleias primárias: • Enxaqueca • do tipo-tensão • em salvas e outras trigêmino-autônomas • outras CEFALEIAS SECUNDÁRIAS São aquelas causadas por distúrbios, como sintoma de uma doença subjacente. Geralmente, possuem um processo maior que tem como um de seus sintomas dor de cabeça. Na anamnese e no exame físico, essas cefaleias costumam nos apresentar SINAIS DE ALARME, que sugerem fortemente que o diagnostico seja de uma cefaleia secundária, e não primária. Tendem a ter mais frequentemente marcadores bioquímicos e/ou imagéticos presentes, e seu diagnostico tende a depender de exames complementares (mas existem exceções). Ela frequentemente resulta em considerável incapacidade e redução da qualidade de vida do paciente. A cefaleia secundária leve, como a observada em associação a infecções do trato respiratório superior, é comum, mas raramente preocupante. São cefaleias secundárias: • atribuída a traumas de crânio e cervical • atribuída à desordem vascular cranial ou cervical • atribuída à desordem cranial não vascular • atribuída a substâncias ou sua retirada • atribuída à infecção • atribuída à desordem da homeostase • atribuída a desordens do crânio, pescoço, olhos, ouvido, nariz, seios, dentes, boca ou outras estruturas cranianas ou faciais • atribuída a desordens psiquiátricas RED FLAGS Sinais de alarme para pensar em cefaleias secundárias. É uma condição extremamente frequente. Cerca de 95% dos adultos apresentam dor de cabeça em algum momento de sua vida e cerca de 10% dessas pessoas passam a ter enxaqueca. Aproximadamente 90% dos que procuram atendimento em clínicas especializadas tem algum tipo de cefaleia primária. O risco relativo de ter enxaqueca ou cefaleia é aumentado em até 4 vezes se um paciente de primeiro grau tiver o mesmo tipo de dor de cabeça. É uma condição que, embora raramente tenha causas graves (< 0,1% dos casos em atendimento primário), pode ser muito debilitante uma vez que 1 entre 30 pessoas vive mais tempo com cefaleia do que sem ela (uma média de 6 ou mais meses), como também é um tema importante em saúde pública já que ocupa o top 20 de motivos de atendimento ambulatorial. As principais estruturas envolvidas na cefaleia primária parecem ser as seguintes: ✓ Grandes vasos intracranianos e a dura-máter e os terminais periféricos do nervo trigêmeo que inervam tais estruturas; ✓ Porção caudal do núcleo trigeminal, que se estende até os cornos dorsais da medula cervical superior e recebe impulsos da primeira e da segunda raízes nervosas cervicais (complexo trigeminocervical); ✓ Regiões rostrais de processamento da dor, como o tálamo ventral posteromedial e o córtex; ✓ Sistemas moduladores da dor no cérebro que modulam o impulso dos nociceptores trigeminais em todos os níveis de vias de processamento da dor e influenciam as funções vegetativas, como as estruturas do hipotálamo e tronco cerebral. A sensibilidade dolorosa da cabeça é veiculada por meio das vias aferentes trigeminais primárias que inervam os vasos sanguíneos, mucosas, músculos e tecidos. As fibras nervosas a partir dessas fontes atingem o gânglio trigeminal, terminando no núcleo sensitivo principal do V nervo craniano e seu núcleo da raiz espinhal, sendo o mais importante o subnucleus caudalis. Esse subnúcleo recebe aferentes de vasos meníngeos, regiões sensíveis da dura-máter e mesmo da medula cervical superior que se projetam para o tálamo medial e lateral através do trato espinotalâmico e para regiões do diencéfalo e tronco encefálico. Com isso, as informações nociceptivas talâmicas ascendem para o córtex sensorial e outras áreas do cérebro. Obs: Dores de cabeça secundária estimulam a via nociceptiva por meio de processos inflamatórios e compressivos, enquanto as cefaleias primárias ocorrem espontaneamente e mediadas por substâncias químicas. Aura é definida como um distúrbio focal neurológico visual, sensorial ou motor, que pode ocorrer com ou sem dor de cabeça. A aura parece ocorrer quando a depressão alastrante cortical causa a despolarização das membranas neuronais. Tanto neurônios como células da glia podem causar constrição e dilatação dos vasos sanguíneos. Pode ser dividida em 5 passos: 1. CONHECIMENTO: Para saber o que procurar. 2. INTELIGÊNCIA: Para poder interpretar o que encontrar. 3. PACIÊNCIA: Para cativar e obter a colaboração do paciente. 4. ATENÇÃO: Para captar todos os detalhes, incluindo os mais sutis. 5. TEMPO: Para melhorar a sua acurácia. ANAMNESE INÍCIO Cefaleias primárias, habitualmente, se apresentam de forma paroxística e crônica, principalmente quando associadas a intervalos assintomáticos com exame neurológico normal. Devem ser diferenciadas em condições agudas, subagudas ou crônicas. FREQUÊNCIA As cefaleias primárias têm frequência muito variável. A frequência pode nos ajudar na subclassificação das cefaleias primárias (episódicas vs crônicas) e isso tem implicações terapêuticas. DURAÇÃO Cefaleia tipo-tensão é mais prolongada, enquanto a migrânea pode durar de 4 até 72 horas. A cefaleia em salvas dura menos de uma hora. E outras cefaleias como a cefaleia em pontada primária, SUNCT ou SUNA podem durar segundos. LOCAL A migrânea e a cefaleia em salvas são unilaterais, e esta última possui dor orbital. Enquanto isso, a cefaleia tipo- tensão é holocraniana, geralmente associada a dor muscular no pescoço. É importante investigar a irradiação da dor. Cefaleia cervicogênica tende a ser unilateral também. QUALIDADE Dor pulsátil é característica da migrânea e a cefaleia tipo-tensão costumar ser dor em peso ou pressão (por isso o nome tipo-tensão). A cefaleia em salvas é caracterizada como uma dor “perfurante” no olho. QUANTIDADE A intensidade da dor é dimensionada pelo prejuízo causado pela cefaleia nas atividades de vida diária do paciente. Numa escala decrescente, a cefaleia em salvas tem dores insuportáveis, enquanto a migrânea varia entre dor intensa a moderada e a cefaleia tipo- tensão apresenta-se como dor leve a moderada. FATORES ASSOCIADOS Alguns desses sintomas são essenciais para diferenciar os possíveis diagnósticos. Na migrânea, a presença de aura é muito sugestivo, e, também, estão presentes náuseas, vômitos, foto e fonofobia. Já na cefaleia em salvas e outras cefaleias trigêmino-autonômicas, estão muito associadas com sinais autonômicos, como lacrimejamento, congestão nasal, rinorreia, edema palpebral, miose, rubor facial, entre outros. A cefaleia tipo-tensão apresenta-se com poucos fatores associados, mais comumente estão presentes dor em nuca e sensibilidade à palpação dos músculos pericranianos. FATORES DE ALÍVIO, AGRAVANTES OU PRECIPITANTES Alguns prováveis fatores desencadeantes da migrânea, são bebidas alcóolicas, comidas muito açucaradas ou gordurosas, alterações do sono, queda do estrogênio, estresse e traumas em crânio (mas isso tende a ser bastante individual de cada paciente). Seus fatores agravantes conhecidos, são: esforçofísico habitual, estímulos luminosos, odores fortes e ruídos. A migrânea é habitualmente aliviada após dormir ou vomitar. Já na cefaleia tipo-tensão, o estresse físico e emocional é o seu principal precipitante e agravante. MEDICAMENTOS JÁ UTILIZADOS Conhecer quais tratamentos já foram feitos, atentar-se à ocorrência de falhas terapêuticas e quais intervenções – farmacológicas ou não – obtiveram sucesso. Além disso checar sempre a frequência que paciente utiliza medicamentos analgésicos SOS, pois uso indiscriminado pode levar a cefaleia por abuso de analgésicos. PREOCUPAÇÕES Questionar o paciente quais são suas dúvidas e angústias sobre a cefaleia e sanar esses questionamentos e tranquilizar o paciente. EXAME FÍSICO 1. Aferir pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória. 2. Examinar pavilhão auricular, meato acústico e mastoide para descartar otite. 3. Palpar articulação temporo-mandibular para excluir cefaleia secundária à sua disfunção. 4. Verificar saúde bucal, descartando etiologias associadas. 5. Palpar seios da face procurando sinusopatia. 6. Fazer breve exame oftalmológico (observação de simetria das pupilas, presença de midríase ou miose, pesquisa de papiledema). 7. Examinar couro cabeludo, procurando edema ou foliculite, afastando algum processo cutâneo. 8. Avaliar artéria temporal em busca de arterite de células gigantes. 9. Examinar pares cranianos e nervos do crânio e da face (nervos Occipital maior, Occipital menor, Supraorbital, Infraorbital e Mentoniano). 10.Pesquisar sinais de irritação meningorradicular. 11.Palpar pescoço para análise da contratura muscular. Pacientes com dor de cabeça podem descrever a dor como latejante, em faixa ou contínua, podendo ser de moderada a grave, interferindo nas atividades diárias. A dor muitas vezes é unilateral, mas pode ser bilateral. Além disso, frequentemente a enxaqueca é associada a náuseas, vômitos, fotofobia e fonofobia. Outras manifestações autonômicas que podem acompanhar a enxaqueca, cefaleia em salvas e outras variantes de dor de cabeça incluem semiptose, rinorreia, síndrome de Horner e edema facial. Podemos ver em sociedades antigas já mitos e rituais que envolviam a cefaleia – o mito de Atena nascendo da cabeça de Zeus, após ele sentir fortes dores de cabeça e algumas sociedades que tinham como procedimento furar buracos na cabeça de seus habitantes na expectativa de expulsar espíritos que ali estavam presos e lhes causavam dores e sofrimento. Desde o século II, já se descrevia dores de cabeça. Algumas eram “dores fracas, pouco frequentes e de duração limitada”, enquanto outras apresentavam-se como “dores mais fortes, duradouras, difíceis de tratar”, algumas também manifestavam “heterocrania”. Desde aquela época alguns fatores cruciais já eram usados para diferenciar esses diagnósticos: Quanto tempo dura a crise? Qual o local da dor? Qual a sua intensidade? Hoje, a avaliação da dor de cabeça é baseada em cinco elementos do histórico: 1. Histórico familiar: ajuda a determinar se ocorre predisposição genética; 2. Histórico de vida da dor de cabeça: determina se a dor é nova ou evoluiu ao longo da vida; 3. Histórico da crise: fornece as características clínicas da dor de cabeça; 4. Histórico médico e psiquiátrico: determina se existe de comorbidades que podem causar ou piorar a dor de cabeça; 5. Histórico de fármacos e drogas: determina se a dor pode ser causada ou agravada por medicamentos ou drogas que a pessoa ingeriu. Com a coleta dos cinco elementos históricos, para definir o tipo de dor de cabeça, usa-se informações como: • Tipo de dor; • Duração da dor; • Características que acompanham a dor. DOR AGUDA: Caso a dor de cabeça seja aguda, a tomografia computadorizada é a melhor opção para avaliação de hemorragia aguda como causa de dor DOR PERSISTENTE: A melhor alternativa para avaliação de dores de cabeça persistentes à procura de lesões focais, evidências de hipertensão ou hipotensão intracraniana, hemossiderina e anormalidades congênitas de malformação. O tratamento da dor de cabeça aguda depende do tipo e gravidade da dor. Para dores de cabeça leves, analgésicos simples como acetaminofeno, ácido acetilsalicílico e anti- inflamatórios não esteroidais são suficientes. Em dores moderadas a graves, os pacientes podem utilizar terapias específicas para enxaquecas, como triptanas (sumatriptana, zolmitriptana, etc.), ergóticos (diidroergotamina, tartarato de ergotamina), isometepteno e a combinação de naproxeno com sumatriptana. DEFINIÇÃO É uma modalidade de cefaleia primária herdada que é tipicamente unilateral, mas, às vezes, bilateral, intensidade moderada a intensa, de característica pulsátil, agravada pela atividade física de rotina, associada a náuseas e vômitos, e acompanhada de fotofobia e fonofobia. A dor de cabeça ocorre a qualquer momento e persiste por quatro a 72 horas; pode ocorrer com aura (sintoma neurológico focal que pode ser visual, sensorial ou motor) ou sem aura. EPIDEMIOLOGIA A enxaqueca acomete 12% da população e sua prevalência é 3x mais comum em mulheres (12%) do que em homens (4%). Em crianças a prevalência pode ser de até 17% e é igual em meninos e meninas. Na puberdade, a prevalência aumenta em meninas e continua sendo maior durante toda sua vida. A maior prevalência ocorre entre 25 e 55 anos de idade. É muito comum a presença de história familiar. Tipo principal: sem aura (75%). Em 2010 foi eleita: TOP 3 das doenças mais comuns e TOP 7 em causa específica de incapacidade. Não é uma doença fatal, porém mórbida. FISIOPATOLOGIA Postula-se que ocorre uma disfunção neuronal primária que acarreta em uma sequência de mudanças intra e extracranianas, levando às 4 fases da enxaqueca: Prodrômica, Aura, Cefaleia e Resolução. 1. A principal teoria conhecida é a Depressão Alastrante de Leão, que diz sobre a “onda autopropagadora de despolarização neuronal e glial que se espalha pelo córtex cerebral”, causando: Aura da enxaqueca; Ativação dos aferentes do nervo trigêmeo, que resulta em inflamação das meninges sensíveis a dor e ativação prolongada da nocicepção trigeminal; e Alteração da permeabilidade da barreira hematoencefálica. Embora não seja uma cefaleia trigemino-autonômica, se reconhece a Ativação do Sistema Trigeminovascular como estimulante da liberação de peptídeos vasoativos associados a inflamação neurogênica, importante no prolongamento e intensificação da cefaleia e que pode resultar em sensibilização neuronal. Acredita-se que essa Sensibilização Neuronal Exagerada torna os neurônios mais responsivos à estimulação e, provavelmente, tem como efeito as características da dor da enxaqueca, os sintomas da 4ª fase (Postdrome), a hiperalgesia e alodínia. 2. Além disso, existem teorias relacionadas a algumas substâncias, como os baixos níveis de Serotonina que levam a um déficit no controle inibitório da via descendente de modulação da dor, facilitando ativação nociceptiva. Como também, sobre o Peptídeo Relacionado ao Gene ao Calcitonina, que está associado a transmissão da dor trigeminovascular para SNC e inflamação neurogênica (fazendo vasodilatação). 3. Alguns estudos demonstraram a associação da enxaqueca com o shunt cardíaco direitaesquerda, mas as evidências ainda são conflitantes. É importante ressaltar que, a teoria da vasodilatação e vasoconstrição já não é mais aceita. Atualmente, a vasodilatação que ocorre durante a enxaqueca é considerada consequência da instabilidade do controle neurovascular central. Em resumo, temos geralmente uma pessoa geneticamente susceptível que sofre um gatilho (ainda pouco desconhecido) que leva a um processo de depressão alastrante (onda de despolarização neuronal) quequando ocorre em áreas silenciosas não leva a sintomas, mas que quando ocorre em determinadas áreas pode levar a sinais focais (auras) transitórios. Isso acarreta em ativação do sistema trigeminovascular, que por sua vez aumenta a permeabilidade da barreira hematocefálica à mediadores inflamatórios. Os impulsos seguem para os núcleos trigeminais no tronco, aonde um estado de baixa de serotonina permite perpetuação de estímulos dolorosos. GATILHOS Alguns conceitos importantes devem ser mencionados como, a grande maioria dos pacientes com enxaqueca, cerca de 75%, apresentam gatilho. A obesidade, apesar de não ser um gatilho, é um fator que piora a frequência e intensidade da enxaqueca. Esses gatilhos são: • Estresse emocional (80%) • Hormônios em mulheres (65%) • Ficar sem comer (57%) • Mudanças do tempo (53%) • Distúrbios do sono (50%) • Odores (44%) • Dor no pescoço (38%) • Luzes (38%) • Álcool (38%) • Fumar (36%) • Dormir tarde (32%) • Calor (30%) • Comida (27%) • Exercício (22%) Mas lembrar – isso não é uma regra! Pacientes podem ter gatilhos muito individuais, e não devemos pedir para o paciente evitar um gatilho que nunca tenha o provocado dores. A abordagem atual de gatilhos é de manejá-los sem evitação completa, pois evitar completamente pode levar a aumento da sensibilização paradoxal ao gatilho. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Pode ser dividido em 4 fases: Pródromo, Aura, Cefaleia e Pósdromo. FASE 1: PRÓDROMO Cerca de 77% dos pacientes apresentam sintomas em 1 a 2 dias antes da cefaleia. Ela é caracterizada por um mal-estar indefinido, associado a Euforia ou Depressão; Incômodo abdominal ou torácico; Rigidez em nuca; Fome; Constipação; Cansaço; ou Bocejos repetitivos, este último ocorre principalmente em crianças. FASE 2: AURA A apresentação de aura é a forma mais clássica da enxaqueca, porém não é a mais comum! Quando presente é muito sugestivo de que o diagnóstico é enxaqueca (patognomônico). Ela é definida como sintomas neurológicos focais que antecedem a dor e duram entre 5 minutos a 1 hora e tem evolução gradual. O fato de sua evolução ser gradual é um ponto que a diferencia do AVC, que tem início súbito. É composta por sintomas negativos (resultado da ausência ou perda de função neuronal) e positivos (que refletem a exacerbação ou hiperfunção específica do neurônio). Após 1 hora, o quadro é revertido totalmente. Existem alguns tipos de aura. AURA VISUAL: é a mais comum (70%), que começa – classicamente - com uma pequena perda visual no centro, podendo se apresentar também como ponto brilhante. Posteriormente, vai se expandindo para periferia. É comum a formação da imagem chamada “Espectro Fortificante”, pois se assemelha a uma fortaleza medieval vista de cima. AURA SENSITIVA: é a segunda mais comum e pode estar associada a aura visual. Geralmente iniciada com um formigamento em um membro ou hemiface que migra, deixando dormência em seu rastro. É bastante característica da aura da enxaqueca. Outros tipos de aura são mais incomuns, como a aura de linguagem, que se apresenta com níveis variados de afasia, e aura motora, que estabelece uma paresia em membros e face de um hemicorpo. Atualmente, é classificada como enxaqueca hemiplégica. Existe também, porém bastante raro, ataques de aura sem cefaleia associada, e podem ser confundidos com ataque isquêmico transitório (AIT). FASE 3: CEFALEIA É a dor de cabeça propriamente dita. O padrão mais comumente encontrado na enxaqueca é uma dor com intensidade moderada a grave, de característica pulsátil e unilateral (paciente refere dor latejante), que piora com atividade física habitual e melhora após vomitar ou dormir, podendo durar até 72 horas. Os principais sintomas associados são: • náuseas e vômito; • Foto e fonofobia; • Haptofobia, que é o medo de ser tocado, no caso, é secundário a alodínia cutânea; • Osmofobia, caracterizada pela intolerância e hipersensibilidade a odores, muito associado com as náuseas; • Alodínia Cutânea, definida pela percepção de dor produzida por um estímulo que normalmente não é doloroso, como pentear o cabelo. Pode ser explicado pela sensibilização das vias centrais de dor causada pela enxaqueca. FASE 4: PÓSDROMO Resolução ou Postdrome, a cefaleia é resolvida, porém movimentos súbitos da cabeça geram dor no local onde havia cefaleia. O paciente apresenta exaustão física, embora alguns relatem exaltação. DIAGNÓSTICO É baseado no histórico do paciente, sendo realizada a diferenciação entre dor de cabeça tensional através da intensidade, em que geralmente dores moderadas a graves trata-se de enxaqueca. Atenção: Pacientes com histórico sugestivo de dor secundária devem passar por uma avaliação aprofundada com ressonância magnética. ENXAQUECA SEM AURA A. Pelo menos 5 episódios preenchendo critérios B e C B. Episódios de cefaleia durando 4 a 72 horas (quando não tratada ou tratada sem sucesso) C. A cefaleia tem, pelo menos, 2 das 4 características: 1. Localização unilateral 2. Qualidade pulsátil 3. Intensidade moderada a grave 4. Agravada por atividade física rotineira (ou precisou evitar aquilo) D. Durante a cefaleia, pelo menos 1 dos seguintes: a. Náusea e/ou vômito b. Foto e/ou fonofobia E. Não é mais bem explicada por outro diagnóstico da ICHD-3 (International Classification of Headache Disorders – 3° edição) ENXAQUECA COM AURA A. Pelo menos 2 episódios preenchendo critérios B e C B. Pelo menos 1 sintoma de aura 100% reversível: Exemplos: visual, sensitivo, fala/linguagem, motor, de tronco, retiniano. C. Pelo menos 2 dos 4 seguintes: 1. Pelo menos um sintoma de aura alastra gradualmente por 5 ou mais minutos e/ou dois ou mais sintomas aparecem sucessivamente 2. Cada sintoma de aura dura entre 5 e 60 minutos 3. Pelo menos 1 sintoma de aura é unilateral 4. Aura é acompanhada ou seguida (60 minutos depois) de cefaleia D. Não mais bem explicada por outro diagnóstico da ICHD3 e excluído ataque isquêmico transitório (AIT) TRATAMENTO Uma vez estabelecido o diagnóstico de migrânea, é importante avaliar a extensão da doença e incapacidade do paciente. O Migraine Disability Assessment Score (MIDAS) é uma ferramenta bem validada e fácil de usar: O tratamento se divide em 2 tipos – o tratamento abortivo (para as crises agudas) e o tratamento profilático (para pacientes que possuam indicações de usar drogas para evitar que a cefaleia venha). TRATAMENTO ABORTIVO A seleção do esquema ideal para determinado paciente depende de vários fatores, sendo que o mais importante deles é a gravidade da crise. As crises leves de migrânea podem geralmente ser tratadas com agentes orais. As crises graves de migrânea podem exigir terapia parenteral. Para abortar uma crise aguda, temos diversas opções, desde AINEs (cetoprofeno, Diclofenaco, Ibuprofeno), analgésicos simples (Dipirona e Paracetamol), opioides, ergotaminas, antieméticos até o uso de medicamentos mais específicos como os Triptanos. No geral, os tratamentos abortivos são mais efetivos quando tomados logo no início da dor, e uma dose maior única tende a dar respostas melhores do que várias doses menores. Nos pacientes que tem estase gástrica induzida pela enxaqueca, agentes orais podem não ser eficazes. No geral, usamos AINEs ou analgésicos simples em combinação para crises mais leves, e começamos a usar os agentes mais específicos (como triptanos e dihidroergotamina) em pacientes com enxaquecas mais severas e que não respondem bem a eles. Podemos também dispor mão de uso de drogas por via não oral para pacientes que tenham náuseas ou vômitos significativos (como Sumatriptano nasal). No geral, os melhores resultados são obtidos com uso precoce de agentes específicos para enxaqueca.Sempre devemos atentar para evitar o desenvolvimento de cefaleia por abuso de analgésicos – então limitar uso de triptanos para 9 dias por mês e o uso de AINEs para 14 dias no mês. AINEs Muitas migrâneas não diagnosticadas são autotratadas com AINEs sem prescrição. Há um consenso de que os AINEs são mais eficazes quando administrados no início da crise de migrânea. Entretanto, a eficácia desses agentes costuma ser menor do que o ideal nas crises de migrânea moderadas ou graves. A combinação de paracetamol, ácido acetilsalicílico e cafeína foi aprovada para o tratamento da migrânea leve a moderada. AINEs muito utilizados: naproxeno, ibuprofeno, diclofenaco potássico. AGONISTAS DO RECEPTOR De 5-HT1B/1D A estimulação dos receptores 5-HT1B/1D pode interromper uma crise aguda de migrânea. A ergotamina e a di-hidroergotamina são agonistas não seletivos dos receptores, enquanto as triptanas são agonistas seletivos dos receptores 5-HT1B/1D. As triptanas interrompem a sinalização nervosa nas vias nociceptivas do sistema trigeminovascular, pelo menos no núcleo caudal do trigêmeo e tálamo sensitivo trigeminal, além de promover vasoconstrição craniana. Diversas triptanas – sumatriptana, almotriptana, eletriptana, frovatriptana, naratriptana, rizatriptana e zolmitriptana – estão disponíveis para o tratamento da migrânea. A eficácia clínica de cada fármaco dentro das triptanas parece estar relacionada mais ao tmáx (tempo para atingir o nível plasmático máximo) do que à potência, meia-vida ou biodisponibilidade. Infelizmente, a monoterapia com um agonista oral seletivo do receptor 5-HT1B/1D não resulta em um alívio rápido, consistente e completo da migrânea em todos os pacientes. Obs1: Os efeitos colaterais são comuns, porém são frequentemente leves e transitórios. Obs2: As triptanas são contraindicados em pacientes com doenças cardiovascular e cerebrovascular. Obs3: Recorrência de cefaleia é uma limitação quanto ao uso das triptanas e ocorre na maioria dos pacientes. Existem também formulações nasais (di- hidroergotamina, zolmitriptana ou sumatriptana) que resultam em níveis sanguíneos em 30 a 60min, porém a eficácia é de 50 a 80%. Formulações parenterais (di- hidroergotamina e a sumatriptana) também podem ser utilizadas para alívio rápido de uma crise e os níveis plasmáticos são atingidos em 3min via EV. ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES DE DOPAMINA Os antagonistas dos receptores de dopamina orais podem ser considerados uma terapia adjuvante na migrânea. A absorção dos fármacos é prejudicada durante a migrânea devido à redução da motilidade gastrintestinal. A absorção tardia ocorre mesmo na ausência de náuseas e está relacionada com a gravidade da crise, e não com sua duração. Portanto, quando AINEs e/ou triptanas por via oral não atingem o efeito desejado, a adição de um antagonista dos receptores de dopamina, como metoclopramida ou domperidona, deve ser considerada para aumentar a absorção gástrica. Além disso, os antagonistas dos receptores de dopamina diminuem as náuseas/vômitos e restabelecem a motilidade gástrica normal. As formulações parenterais podem promover um alívio agudo significativo da migrânea e podem ser utilizados em combinação com os agonistas dos receptores 5- HT1B/1D. OUTRAS MEDICAÇÕES Os opioides são pouco eficazes no tratamento agudo da migrânea. A meperidina EV é administrada com frequência na sala de emergência, esse esquema “funciona” no sentido de que a dor da migrânea é eliminada. Os opioides não tratam os mecanismos da cefaleia subjacente; ao contrário, eles atuam na alteração da sensação de dor, e há evidências de que seu uso possa diminuir a probabilidade de uma resposta às triptanas no futuro. Recomenda-se que o consumo de opioides na migrânea seja limitado a pacientes com cefaleias graves, mas pouco frequentes, que não respondem a outras abordagens farmacológicas ou que apresentam contraindicações para outras terapias. A estimulação magnética transcraniana com pulso único (EMT-p) foi aprovada pela FDA para o tratamento agudo da migrânea. Dois pulsos podem ser aplicados no início da crise, e isso pode ser repetido. TRATAMENTO PROFILÁTICO Os pacientes com crises de migrânea em frequência crescente, ou com crises que não respondem ou respondem precariamente a tratamentos abortivos, são bons candidatos aos agentes preventivos. Indicações para início de tratamento profilático: • Frequência > 4 crises por mês ou crises que duram mais de 12h • Crises incapacitantes • Ineficácia ou contraindicações do tratamento abortivo • Intolerância ao tratamento abortivo • Abuso de drogas abortivas • Crises programadas (exemplo: menstrual) • Auras frequentes ou prolongadas • Tipo hemiplégica familiar, basilar, retiniana • 9. Abranger comorbidades • Preferência do paciente O mecanismo de ação desses fármacos não é claro; parece provável que a sensibilidade do cérebro subjacente à migrânea seja modificada. Os pacientes em geral começam com uma dose baixa de um tratamento escolhido; a dose é então gradualmente aumentada até um máximo razoável que atinja benefício clínico. Os tratamentos devem ser usados, em sua maioria, diariamente, e, em geral, há um intervalo de 2 a 12 semanas para que se observe um efeito. Os medicamentos que podem ser usadas para esse intuito são: Propranolol (melhor betabloqueador para profilaxia), Venlafaxina, Topiramato, Amitriptilina, Valproato de sódioe Flunarizina Uma vez atingida a estabilização, o fármaco é continuado por cerca de 6 meses e depois gradualmente reduzido para avaliar a necessidade de continuação. Muitos pacientes conseguem descontinuar o medicamento e ter crises menos frequentes e mais leves por longos períodos, sugerindo que tais fármacos alteram a história natural da migrânea. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO Quando o paciente consegue identificar gatilhos confiáveis, pode ser útil evitá-los. Um estilo de vida regulado é útil, incluindo dieta saudável, exercícios regulares, padrões de sono regulares, além de evitar o consumo excessivo de cafeína e álcool e evitar mudanças agudas nos níveis de estresse, com atenção particular para o período pós-estresse. Como o estresse da vida diária não pode ser eliminado, diminuir a resposta de uma pessoa ao estresse, por meio de várias técnicas, é útil para muitos pacientes. Essas técnicas podem incluir ioga, meditação transcendental e hipnose. A Cefaleia do Tipo-Tensão é uma desordem de cefaleia primária caracterizada por dores de cabeça que tendem a ser bilaterais, em aperto ou pressão, não pulsáteis e sem outras características associadas, ou seja, sem náuseas ou vômitos. Era antigamente conhecida como cefaleia tensional, mas esse nome remitia à falsa crença de que vinha de tensão emocional, e não de seu aspecto ser de tipo uma tensão na cabeça. Os pacientes podem ter fotofobia ou fonofobia, mas não ambos, e a dor de cabeça não piora com a atividade. EPIDEMIOLOGIA Estima-se que 80% da população apresenta 1 episódio alguma vez na vida, e que 3% tem a forma crônica. É a segunda desordem mais comum no mundo. Apesar de ser tão comum, a maioria das pessoas tem a forma episódica infrequente, com menos de 1 cefaleia ao mês. Esses pacientes raramente buscam ajuda médica devido a cefaleia ser branda e infrequente. O perfil típico do paciente é um adulto (35-40 anos), e é um pouco mais comum em mulheres e brancos. FISIOPATOLOGIA Sua fisiopatologia é multifatorial e incerta. Acredita-se que, fatores ambientais influenciam mais os episódios, enquanto os fatores genéticos estão associados ao processo de cronificação. Além disso, existem fatores centrais e periféricos associados ao quadro. A teoria mais importante postula que, a ativação periférica de nociceptores miofasciais geram os primeirosepisódios, que podem ser perpetuados através de estímulos repetitivos e prolongados que resultam na sensibilização das vias centrais da dor, convertendo-os para a forma crônica. Em pacientes com CTT crônica está presente a hiperalgesia generalizada, isso pode ser explicado devido ao aumento da estimulação das vias nociceptivas que resulta numa facilitação da transmissão da dor. Pacientes com apresentação crônica podem ter também déficits em vias descendentes inibitórias, alterando limiar de reflexos e dor subjetiva. Além disso, alguns estudos sugerem que a CTT crônica tem uma herança multifatorial envolvida no seu desenvolvimento. Considera-se que, fatores periféricos como aumento do número de pontos gatilhos em músculos pericranianos, postura anteriorizada da cabeça e diminuição da mobilidade do pescoço são importantes na fisiopatologia da CTT episódica. Anteriormente, acreditava-se que a cefaleia era originada devido contração prolongada dos músculos pericranianos, atualmente essa teoria não é mais aceita. CLASSIFICAÇÃO • CTT Episódica Infrequente → - de 1 vez por mês; • CTT Episódica Frequente → até 14 crises ao mês; • CTT Crônica → + de 15 episódios dentro de um mês. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS PADRÃO MAIS COMUM: dor holocraniana, constritiva e não pulsátil, paciente refere aperto em faixa. Sua intensidade varia entre leve a moderada, e geralmente, é precipitada por estresse e movimentos de cabeça e pescoço. A maioria dos indivíduos não procura atendimento. Existem sintomas associados como, dor em aperto na nuca e náusea e/ou vômitos. SENSIBILIDADE DOS MÚSCULOS PERICRANIANOS: O aumento de sensibilidade e de pontos gatilhos nos músculos pericranianos dos pacientes com CTT, devem ser investigados através da palpação manual. O exame deve ser feito, com o segundo e terceiro dedo fazendo movimentos circulares, nos músculos frontal, temporal, masseter, pterigoide, esternocleido- mastóideo, esplênio e trapézio. RELAÇÃO COM ENXAQUECA: Em pacientes com enxaqueca, a frequência e duração dos episódios de CTT são maiores quando comparados aqueles sem enxaqueca. Dos pacientes com dor de cabeça do tipo tensional crônica, cerca de 1/4 a 1/3 continua como crônica, a metade pode melhorar para episódica, e em cerca de 1/4 o uso excessivo de medicamentos pode piorar a dor de cabeça. As dores de cabeça tensionais episódicas podem durar minutos, horas ou dias. DIAGNÓSTICO Dores de cabeça que podem ser equivocadamente diagnosticadas como cefaleia do tipo tensional incluem enxaqueca, hemicrânia contínua, cefaleia persistente e diária de início súbito e dores de cabeça causadas por tumores cerebrais, pressão intracraniana elevada ou baixa, ou arterite de células gigantes. Um histórico cuidadoso é a melhor maneira de distinguir de outros tipos de dores de cabeça. TIPO TENSÃO EPISÓDICA A. Pelo menos 10 episódios preenchendo critérios de B a D B. Cefaleia durando 30 min a 7 dias C. Pelo menos 2 das 4 seguintes: 1. Localização bilateral 2. Qualidade em aperto ou em pressão (não pulsátil) 3. Intensidade leve a moderada 4. Não agravada por atividade física cotidiana D. Ambos dos seguintes: 1. Ausência de náusea e de vômito 2. Não mais do que 1 episódio de fotofobia ou fonofobia E. Nenhum outro diagnóstico melhor pelo ICHD-3 TIPO TENSÃO CRÔNICA A. Cefaleia ocorrendo 15 ou mais vezes por mês preenchendo critérios de B a D B. Duração de horas a dias ou não remitente C. Pelo menos 2 dos seguintes: 1. Localização bilateral 2. Qualidade em aperto ou em pressão (não pulsátil) 3. Intensidade leve a moderada 4. Não agravada por atividade física cotidiana D. Ambos dos seguintes: 1. Não mais do que 1 episódio de fotofobia, fonofobia ou náusea. 2. Não pode haver náusea nem vômito de forma severa E. Nenhum outro diagnóstico melhor pelo ICHD-3 TRATAMENTO ABORTIVO Os medicamentos de escolha são Analgésicos Simples como AINEs (ibuprofeno), Aspirina ou Paracetamol (esse último possui menor eficácia que outros, porém é a escolha para pacientes grávidas). Esses medicamentos em combinação com cafeína são mais efetivos no tratamento da CTT episódica. É importante ressaltar que, a maioria dos pacientes com quadro crônico tem outras comorbidades associadas, como ansiedade e depressão, então analgésicos simples tem pouco efeito. Outras classes podem ser usadas principalmente na forma severa→ clorpromazina, difenidramina, metoclopramida. Existe um limite de uso da terapêutica: 14 dias por mês e/ou 2 doses de tratamento por dia. Isso visa evitar desenvolvimento de cefaleia por abuso de analgésicos. PROFILAXIA Indicações: 1. CTT episódica frequente 2. CTT crônica 3. Não respondeu ao tratamento abortivo 4. Gera morbidade 5. Episódios vem piorando de forma crescente Algumas drogas que podem servir de opção para tratamento profilático são: Amitriptilina, Venlafaxina, Mirtazapina e Topiramato. Além disso, a terapia não-farmacológica pode ser associada, alguns exemplos são: acupuntura, psicanálise, massagem, higiene do sono, atividade física, entre outras As CTAs descrevem um grupo de cefaleias primárias, incluindo: • cefaleia em salvas (mais frequente) • hemicrania paroxística (episódica e crônica) • SUNCT (crises de cefaleia neuralgiforme unilateral de curta duração com hiperemia conjuntival e lacrimejamento) • SUNA (crises de cefaleia neuralgiforme unilateral de curta duração com sintomas autonômicos cranianos) As CTAs são caracterizadas por crises de cefaleia de duração relativamente curta, unilaterais de dor muito intensa que pode ocorrer mais de uma vez ao dia, e associadas a sintomas autonômicos cranianos, como lacrimejamento, hiperemia conjuntival ou congestão nasal. Estudos sugerem que existe uma ativação de vias nociceptivas trigeminovasculares e concomitante ativação autonômica craniana reflexa. EPIDEMIOLOGIA As cefaleias em salvas são as mais comuns cefalalgias, ocorrendo em até 400 indivíduos para cada 100.000 por ano, tendo uma frequência maior em homens (3:1 até 7:1), com início geralmente entre os 20 e 30 anos de idade. Já a hemicrania paroxística ocorre em até 380 pessoas a cada 100.000 por ano, afetando geralmente mulheres (2:1) com início em qualquer idade. CEFALEIA EM SALVAS A dor é profunda, em geral retro-orbital, muitas vezes de intensidade excruciante, não flutuante, de característica explosiva e quase sempre unilateral. EPIDEMIOLOGIA É a mais comum das cefaleias trigêmino-autonômicas. Em 5% dos casos são herdadas, demonstrando evidências de um componente genético. Ela afeta < 1% da população e cerca de 80 a 90% dos casos são episódicos. (crônico é raro). Seu perfil típico: Homem adulto jovem (4,3x + comum q em mulheres). FISIOPATOLOGIA Sua fisiopatologia é complexa e ainda incompletamente compreendida. A teoria mais aceita postula sobre a cefaleia ser originada através da ativação hipotalâmica com ativação secundária do reflexo trigeminoautonômico pela via que liga ambos. Outra teoria diz que a inflamação neurogênica da parede do seio cavernoso causa injúria em fibras simpáticas. Há outras que correlacionam com TCE e tabagismo. CLASSIFICAÇÃO CRÔNICA: Crises de cefaleia em salvas que ocorrem por 1 ano ou mais sem remissão, ou com períodos de remissão com duração inferior a 3 meses. Pode ocorrer casos de suicídio devido a dor insuportável. EPISÓDICA: Crises de cefaleia em salvas que ocorrem por períodos de 7 dias a 1 ano, separados por períodos sem dor com duração mínima de três meses. CARACTERÍSTICAS Uma característica fundamental da cefaleia em salvas é a periodicidade. Pelo menos uma das crises diárias de dor recorre aproximadamente na mesma hora todo dia, ao longo do episódio de salvas. O paciente típico com cefaleiaem salvas tem surtos diários de uma ou duas crises de dor unilateral de duração relativamente curta por 8 a 10 semanas por ano, o que costuma ser acompanhado de um intervalo sem dor que dura em média um pouco menos de 1 ano. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS PADRÃO MAIS COMUM: crises severas de dor unilateral, localizadas em região orbital ou temporal, predomina à noite. Dor caracterizada tipo “facada”, muito comumente descrita como “faca de gelo entrando pelo olho e girando”. Sua duração é limitada entre 15 a 180 minutos e podem ocorrer até 8 crises por dia. É unilateral, sempre referida na mesma hemiface e está associada a sinais e sintomas autonômicos ipsilaterais. FATORES ASSOCIADOS: Sinais autonômicos, como: • Miose (pupila menor que o tamanho normal) • edema palpebral • lacrimejamento e hiperemia conjuntival • congestão nasal e rinorreia • ptose palpebral (pálpebra caída, semifechado) • sudorese frontal • flushing (rubor facial). • Está presente também, inquietude motora (ao contrário da enxaqueca) ou cansaço. A miose e ptose palpebral podem permanecer após crise e são agravadas durante novas crises. DIAGNÓSTICO É feito com critérios que incluem: A. Pelo menos 5 ataques preenchendo critérios B e D B. Dor severa unilateral em região orbital, supra orbital e/ou temporal, durando de 15 a 180 minutos (sem tratamento). C. Pelo menos um item abaixo (1) ou (2) ou ambos 1. Pelo menos 1 dos sintomas/ sinais ipsilaterais: i. Lacrimejamento ou injeção conjuntival ii. Congestão nasal ou rinorreia iii. Edema de pálpebra iv. Sudorese em face v. Miose e ou ptose 2. Sensação de cansaço ou agitação D. Frequência das crises entre 1 a 8x por dia E. Não é mais bem explicada por outro diagnóstico da ICHD-3 (International Classification of Headache Disorders – 3° edição) TRATAMENTO As crises de cefaleia em salvas atingem o pico rapidamente, sendo, portanto, necessário um tratamento com início rápido. TRATAMENTO ABORTIVO: • Máscara sem recirculação de O2 a 100%, com fluxo de 10-12 L/min durante 20 minutos (1ª linha de tratamento), OU • Sumatriptano, 6mg, Subcutâneo. Tem início rápido e em geral encurtará uma crise para 10 a 15 minutos. • Os sprays nasais de sumatriptana e zolmitriptana são eficazes na cefaleia em salvas aguda, oferecendo uma opção útil para pacientes que podem não querer autoinjetar diariamente. TRATAMENTO PROFILÁTICO: • 1ª Linha: Verapamil – dose inicial de 240mg/dia dividida em 3 doses. Os pacientes, de maneira geral, respondem com doses entre 240 e 480mg, porém pode ser necessária dose máxima de 960mg/dia em certos casos. • Outros medicamentos que podem ser empregados são: corticoide, lítio e topiramato. HEMICRANIANA PAROXÍSTICA A HP caracteriza-se por episódios de cefaleia unilaterais, graves e de curta duração. Assim como a cefaleia em salvas, a dor tende a ser retro-orbital, mas pode-se senti-la em toda a cabeça, sendo associada a fenômenos autonômicos como lacrimejamento e congestão nasal. As características essenciais da HP incluem: • Dor unilateral e muito intensa; • Crises de curta duração (2-45 min); • Crises muito frequentes (geralmente > 5 por dia); • Manifestações autonômicas acentuadas ipsilaterais à dor; • Curso rápido (< 72 h); • Resposta excelente à indometacina. A indometacina (3×/dia), que pode suprimir completamente as crises de HP, é o tratamento de escolha. Embora a terapia possa ser complicada por efeitos colaterais gastrintestinais, hoje não há alternativas consistentemente eficazes. SUNCT / SUNA A SUNCT é uma síndrome rara de cefaleia primária, caracterizada por dor orbital ou temporal unilateral grave e que tem característica de facada ou latejante. O diagnóstico requer pelo menos 20 crises que durem de 5 a 240 segundos; deve haver hiperemia conjuntival e lacrimejamento ipsilaterais. A dor da SUNCT/SUNA é unilateral, podendo ser localizada em qualquer local na cabeça. Três padrões básicos podem ser observados: • Facadas isoladas, em geral de curta duração; • Grupos de facadas; • Crise mais longa que compreende muitas facadas, entre as quais a dor não desaparece completamente, produzindo, assim, um fenômeno “dentes de serra” com crises que duram muitos minutos. O objetivo do tratamento é a prevenção a longo prazo para minimizar a incapacidade e a hospitalização. O tratamento preventivo mais eficaz é a lamotrigina. O topiramato e a gabapentina também podem ser eficazes. Pacientes relataram que a carbamazepina oferece benefício modesto. ARTERITE TEMPORAL Também chamada de arterite de células gigantes, se caracterizando por um processo inflamatório comumente visto em idosos. EPIDEMIOLOGIA Tem uma incidência de aproximadamente 12 para cada 100 mil indivíduos em idade geral, possuindo um aumento para 51 casos a cada 100 mil em indivíduos com mais de 80 anos, afetando principalmente mulheres (3:1), com maior ocorrência em indivíduos brancos. MANIFESTAÇÃO CLÍNICA A dor de cabeça é, em geral, contínua, generalizada e ocasionalmente latejante, com as têmporas dolorosas e com piora ao realizar atividades da vida diária, como mastigar ou pentear o cabelo. DIAGNÓSTICO É feito com base em exames laboratoriais, sendo confirmado pela elevação do VHS e proteína C reativa, além da detecção de células gigantes em uma amostra de biópsia da artéria temporal. TRATAMENTO É feito com corticoesteroides. HIPERTENSÃO INTRACRANIANA Pode ocorrer de forma primária, sendo geralmente idiopática ou secundária, se desenvolvendo por conta de uma trombose venosa cerebral, processos expansivos intracranianos, hidrocefalia ou outros processos intracranianos. EPIDEMIOLOGIA Na forma idiopática, ocorre em cerca de 20 indivíduos a cada 100 mil, entre a idade de 15 a 55 anos geralmente, que são obesos, sendo geralmente em mulheres. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS É caracterizada por cefaleia em mais de 90% dos indivíduos, sendo que desses, 90% são obesos. Outros sintomas incluem zumbido pulsátil, obscurecimentos visuais transitórios e visão dupla. DIAGNÓSTICO É feito com base na presença de características clínicas, bem como sinais de hipertensão, como papiledema. É necessário a ressonância magnética para excluir causas secundárias, como trombose. A punção lombar deve ser realizada, a menos que os pacientes tenham contraindicação como uma lesão expansiva intracraniana e a pressão do LCR deve ser medida. O diagnóstico pode ser feito se a pressão está elevada (LCR > 200 mm H2O), mas o exame do mesmo é normal. TRATAMENTO É realizado com acetazolamida em doses de 500 a 1.000 mg/dia quando idiopática. A perda de peso é benéfica quando o paciente for obeso. HIPOTENSÃO INTRACRANIANA Causa dor de cabeça que fica caracteristicamente melhora quando o paciente está em decúbito dorsal e piora quando o paciente está em posição ereta, podendo ser primária (espontânea) ou secundária a alguma causa subjacente, como punção lombar. EPIDEMIOLOGIA É uma patologia rara, tendo uma incidência de 5 casos a cada 100 mil pessoas por ano. FISIOPATOLOGIA A causa mais importante é a perda de líquor, que se dá geralmente por laceração da dura-máter, em especial na região lombar em torno de estruturas císticas chamadas de cistos de Tarlov. Qualquer fístula, em qualquer ponto dos envoltórios do SNC, pode determinar a síndrome de hipotensão liquórica devido a perda do líquor. MANIFESTAÇÃO CLÍNICA A hipotensão intracraniana é caracterizada por cefaleia postural, com localização variável, podendo ser associada a visão dupla por herniação do rombencéfalo. Pode ocorrer também zumbidos, náuseas e vômitos. DIAGNÓSTICO Feito através de RM que mostra o realce dural com injeção do contraste gadolínio, com espessamentoda dura-máter ou por meio da aferição da pressão de saída na punção lombar menor que 50mmH2O. TRATAMENTO É baseado no repouso do paciente no leito, sendo administrado cafeína e líquidos para reposição volêmica. NEURALGIA TRIGEMINAL É uma condição “terrivelmente dolorosa” provocada por estímulos sensoriais na distribuição do nervo trigêmeo. EPIDEMIOLOGIA Acredita-se que ocorra em 4 a cada 100 mil indivíduos por ano, sendo comumente em pessoas entre 50 e 70 anos, com uma predisposição elevada em mulheres (5:1). Quando em indivíduos jovens, esclerose múltipla pode ser associada a condição. Em indivíduos mais velhos, uma dobra vascular no sistema vertebrobasilar pode causar a síndrome por compressão do trigêmeo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A dor da neuralgia do trigêmeo é caracteristicamente aguda, penetrante e semelhante a choque elétrico na distribuição do nervo trigêmeo: • V1 quando ocorre dor ao redor do olho e testa; • V2 quando ocorre dor na bochecha; • V3 quando ocorre dor no queixo ou dentes inferiores; • A associação mais comum é entre V2 e V3. Além disso, os paroxismos são curtos, com duração de segundos até 2 minutos, sendo que a intensidade varia de paciente para paciente, podendo ser até uma dor surda e interictal contínua, porém na maioria das vezes é exclusivamente paroxistica. A dor pode ser desencadeada por atos diários simples, como tocar a face, escovar os dentes, estimulação por corrente de ar ou mastigar alimentos. DIAGNÓSTICO É realizado através da história patológica da doença, sendo enquadrado os sinais e sintomas conforme o paciente relata a dor, sendo o principal o tempo e o tipo de dor. TRATAMENTO Pode ser tratada com medicamentos ou cirurgia. Os medicamentos incluem carbamazepina como primeira opção, podendo ser usado clonazepam, ácido valpróico, gabapentina, entre outros. Já o tratamento cirúrgico inclui a descompressão microvascular, que pode aliviar os sintomas e preservar função sensorial.
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