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Princípios de Fisiologia e Farmacologia do Sistema Nervoso 7 Joshua M. Galanter e Daniel H. Lowenstein Introdução Caso Neuroanatomia Anatomia do Sistema Nervoso Periférico Sistema Nervoso Autônomo Nervos Motores e Sensitivos Periféricos Anatomia do Sistema Nervoso Central Cérebro Diencéfalo Cerebelo Tronco Encefálico Medula Espinal Organização Celular do Sistema Nervoso Organização Neuronal de Trato Longo Organização Neuronal de Circuito Local Organização Neuronal Divergente de Fonte Única Neurofisiologia Neurotransmissores Neurotransmissores de Aminoácidos Aminas Biogênicas Outros Neurotransmissores de Pequenas Moléculas Neuropeptídios A Barreira Hematoencefálica Conclusão e Perspectivas Futuras Leitura Sugerida INTRODUÇÃO O sistema nervoso contém mais de 10 bilhões de neurônios. Os neurônios formam, em sua maioria, milhares de conexões sinápticas, conferindo ao sistema nervoso uma complexidade diferente daquela observada em qualquer outro sistema orgâni- co. As interações entre os circuitos neuronais medeiam funções que incluem desde reflexos primitivos até a linguagem, o humor e a memória. Para desempenhar essas funções, os neurônios individuais que compõem o sistema nervoso precisam estar organizados em redes funcionais, as quais são, por sua vez, organizadas em unidades anatômicas maiores. O capítulo anterior procedeu a uma revisão da fisiologia dos neurônios, descrevendo a transmissão elétrica dentro de um neurônio e a transmissão química de um neurônio para outro. Este capítulo trata dos sistemas neuronais e examina dois níveis de organização. Em primeiro lugar, a organização anatômica macroscópica do sistema nervoso é apresentada para ressaltar os locais de ação dos agentes farmacológicos que atuam sobre esse sistema. Em segundo lugar, são descritos os principais padrões de conectividade neuronal (os denominados tratos neu- ronais), visto que o conhecimento das maneiras pelas quais as células neuronais estão organizadas para transmitir, processar e modular sinais facilita uma compreensão mais profunda das ações dos fármacos nesses tratos. Este capítulo também discute os principais tipos de neurotransmissores, bem como a barrei- ra hematoencefálica. Esses conceitos funcionais e metabólicos possuem conseqüências farmacológicas importantes para os fármacos que atuam sobre o sistema nervoso. nn Caso Martha P é uma mulher de 66 anos de idade com história de 4 anos de doença de Parkinson, que vem agravando-se. A doença de Parkinson é um distúrbio neurológico que resulta da degeneração progressiva dos neurônios nigroestriatais que utilizam a dopamina como neurotransmissor. A doença provoca tremor em repouso, rigidez, dificuldade em iniciar o movimento e instabilidade postural. Durante a consulta com seu médico, a Sra. P registra uma queixa incomum: “Parece que o Sinemet não funciona muito bem quan- do tomo o remédio durante as refeições.” A Sra. P explica que, recentemente, começou uma nova dieta “pobre em carboidratos”, aumentando a ingestão de proteínas em lugar dos alimentos ricos em carboidratos. Preocupada, a Sra. P pergunta: “Essa dieta poderia estar relacionada com isso?” O médico explica que a levodopa, um componente do Sinemet, ajuda a repor uma substância química no cérebro que é produzida em quantidades insuficientes, devido à perda de certos neurônios nessa doença. Embora muitos fatores possam levar a uma diminuição da eficiência de sua medicação, o médico da Sra. P confirma a sua suspeita de que a dieta rica em proteínas pode, com efeito, interferir na capacidade do fármaco de alcançar o cérebro. Ele recomenda que ela reduza a ingestão de proteínas e, se necessário, tome uma dose mais alta de Sinemet após uma refeição rica em proteína. Em sua visita de retorno ao Princípios de Fisiologia e Farmacologia do Sistema Nervoso | 83 médico, a Sra. P está feliz ao anunciar que a sua medicação agora está mais efetiva, pois está ingerindo menos proteína. QUESTÕES n 1. Onde está localizado o trato nigroestriatal? Como a dege- neração de um grupo específico de neurônios resulta em sintomas específicos como aqueles observados na doença de Parkinson? n 2. Por que a levodopa é utilizada no tratamento da doença de Parkinson, e qual a relação desse composto com a dopa- mina? n 3. Por que o consumo de proteína interfere na ação da levo- dopa? NEUROANATOMIA O sistema nervoso pode ser dividido, em nível estrutural e funcional, em componentes periférico e central. O sistema nervoso periférico inclui todos os nervos que seguem o seu percurso entre o sistema nervoso central e os locais somáti- cos e viscerais. Funcionalmente, é dividido em sistema ner- voso autônomo (involuntário) e sistema nervoso sensitivo e somático (voluntário). O sistema nervoso central (SNC) inclui o cérebro, o dien- cefálico, o cerebelo, o tronco encefálico e a medula espinal. O SNC transmite e processa sinais recebidos do sistema ner- voso periférico; o processamento resulta em respostas que são formuladas e retransmitidas à periferia. O SNC é responsável por funções importantes, como percepção — incluindo pro- cessamento sensitivo, auditivo e visual —, estado de vigília, linguagem e consciência. ANATOMIA DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO O sistema nervoso autônomo regula as respostas involuntárias do músculo liso e do tecido glandular. Por exemplo, controla o tônus vascular, a freqüência e a contratilidade cardíacas, a cons- trição das pupilas, a sudorese, a salivação, a piloereção (“pele de galinha”), a contração do útero, a motilidade gastrintestinal (GI) e a função da bexiga. O sistema nervoso autônomo é divi- dido em sistema nervoso simpático, responsável pelas respos- tas de “luta ou fuga”, e em sistema nervoso parassimpático, responsável pelas respostas de “repouso e digestão”. O sistema nervoso periférico sensitivo e somático transporta sinais sensi- tivos da periferia para o SNC e sinais motores do SNC para o músculo estriado; esses sinais regulam o movimento voluntário (Fig. 7.1). Sistema Nervoso Autônomo As fibras nervosas autônomas interagem com seus órgãos-alvo através de uma via de dois neurônios. O primeiro neurônio origina-se no tronco encefálico ou na medula espinal e é denominado neurônio pré-ganglionar. O neurônio pré-gan- glionar faz sinapse fora da medula espinal com um neurônio pós-ganglionar, que inerva o órgão-alvo. Conforme discutido adiante, a localização anatômica dessas conexões difere para os neurônios das divisões simpática e parassimpática do sistema nervoso autônomo. Medula espinal Substância cinzenta Substância branca Raiz dorsal Gânglio da raiz dorsal Tronco nervoso simpático Gânglio da cadeia paravertebral Pele Músculo liso Músculo esquelético Medula supra-renal Raiz ventral Gânglio pré-vertebral Neurônio sensitivo Neurônio motor somático Neurônio pré-ganglionar Neurônio pós-ganglionar Fig. 7.1 Organização do sistema nervoso periférico. O sistema nervoso periférico possui componentes sensitivos, motores somáticos e autônomos. Os neurônios sensitivos (linha azul sólida) surgem principalmente na pele ou nas articulações, possuem corpos celulares e núcleos nos gânglios da raiz dorsal e projetam-se em neurônios localizados no corno dorsal da medula espinal. Os neurônios motores somáticos (linha preta sólida) surgem no corno ventral da medula espinal, saem através das raízes ventrais e unem-se a fibras de neurônios sensitivos para formar nervos espinais que, a seguir, inervam a musculatura esquelética. O componente autônomo do sistema nervoso periférico consiste em um sistema de dois nervos: os dois nervos são denominados neurônios pré- ganglionar e pós-ganglionar, respectivamente. Os neurônios pré-ganglionares simpáticos (linha cinzenta tracejada) surgem no corno ventral dos segmentos torácico e lombar da medula espinal e projetam-se em neurônios pós-ganglionares nos gânglios paravertebrais e pré-vertebrais. Os neurônios pós-ganglionares simpáticos (linha azul tracejada)inervam muitos órgãos, incluindo o músculo liso. A medula supra-renal também é inervada por neurônios pré-ganglionares do sistema nervoso simpático (ver Fig. 7.2). Os neurônios pré-ganglionares parassimpáticos (não ilustrados) surgem em núcleos do tronco encefálico e segmentos sacrais da medula espinal e projetam-se em neurônios pós-ganglionares, em gânglios localizados próximo aos órgãos inervados. cliente Realce cliente Realce cliente Realce 84 | Capítulo Sete Anatomia do Sistema Nervoso Simpático O sistema nervoso simpático é também conhecido como sistema toracolombar, visto que suas fibras pré-ganglionares originam-se do primeiro segmento torácico ao segundo ou terceiro segmento lombar da medula espinal (Fig. 7.2). Espe- cificamente, os corpos celulares dos nervos pré-ganglionares surgem das colunas intermediolaterais na medula espinal. Os nervos pré-ganglionares abandonam a medula espinal nas raí- zes ventrais de cada nível vertebral e fazem conexões sinápticas com neurônios pós-ganglionares nos gânglios simpáticos. Os gânglios simpáticos localizam-se, em sua maioria, nas cadeias simpáticas, que consistem em 25 pares de gânglios interconecta- dos situados de cada lado da coluna vertebral. Os primeiros três gânglios simpáticos, cujas fibras pós-ganglionares seguem com Sacral Lombar Cervical Cranial Torácico Sistema nervoso simpático Olhos Glândulas salivares Trato respiratório Coração Pele Fígado Estômago Sistema nervoso parassimpático T1 C7 C6 C5 C4 C3 C2 C1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12 L1 L2 L3 L4 L5 S1 S2 S3 S4 S5 Nervo oculomotor (NC III) Nervo facial (NC VII) Nervo glossofaríngeo (NC IX) Nervo vago (NC X) Intestino Bexiga Pâncreas Vaso sangüíneo periférico Genitália externa Gânglio celíaco Gânglio mesentérico sup. Glândula supra-renal Rim Gânglio mesentérico inferior Gânglios pré-vertebrais Gânglios paravertebrais Tronco simpático Fibras pré-ganglionares simpáticas Fibras pós-ganglionares simpáticas Fibras pré-ganglionares parassimpáticas Fibras pós-ganglionares parassimpáticas Fig. 7.2 Padrões de inervação simpática e parassimpática. Os neurônios pré-ganglionares simpáticos surgem nos segmentos torácico e lombar da medula espinal. Os neurônios pré-ganglionares simpáticos projetam-se em neurônios pós-ganglionares nos gânglios situados próximo à medula espinal, mais notavelmente os gânglios paravertebrais, e nos gânglios pré-vertebrais localizados próximo à aorta. Em geral, os gânglios parassimpáticos situam-se próximo aos órgãos que inervam. Por conseguinte, os neurônios pré-ganglionares parassimpáticos, que surgem em núcleos do tronco encefálico e segmentos sacrais da medula espinal, são geralmente longos e projetam-se em neurônios pós-ganglionares curtos. Princípios de Fisiologia e Farmacologia do Sistema Nervoso | 85 os nervos espinais cervicais, são denominados gânglio cervical superior, gânglio cervical médio e gânglio cervical inferior. O gânglio cervical superior inerva a pupila, as glândulas sali- vares e as glândulas lacrimais, bem como os vasos sangüíneos e as glândulas sudoríparas na cabeça e na face (Fig. 7.2). Os neurônios pós-ganglionares que surgem nos gânglios cervicais médio e inferior, bem como nos gânglios torácicos, inervam o coração e os pulmões. As fibras que surgem dos gânglios paravertebrais remanescentes inervam as glândulas sudorípa- ras, os músculos pilomotores e os vasos sangüíneos do músculo esquelético e da pele por todo o corpo. Os neurônios pós-ganglionares que inervam o trato GI até o colo sigmóide, incluindo o fígado e o pâncreas, originam-se dos gânglios localizados anteriormente à aorta, nas origens dos vasos sangüíneos celíaco, mesentérico superior e mesentérico inferior (Fig. 7.2). Por conseguinte, esses gânglios, conhecidos em seu conjunto como gânglios pré-vertebrais, são denomina- dos gânglio celíaco, gânglio mesentérico superior e gânglio mesentérico inferior, respectivamente. Ao contrário dos gân- glios paravertebrais, os gânglios pré-vertebrais possuem longas fibras pré-ganglionares e fibras pós-ganglionares curtas. A medula supra-renal encontra-se no interior das glându- las supra-renais, localizadas na superfície superior dos rins. A medula supra-renal contém células neuroendócrinas pós-sináp- ticas (Fig. 7.2). Ao contrário dos neurônios pós-ganglionares simpáticos, que sintetizam e liberam norepinefrina, as células neuroendócrinas da medula supra-renal sintetizam primaria- mente epinefrina (85%) e liberam esse neurotransmissor na corrente sangüínea, em lugar de fazê-lo em sinapses, num órgão-alvo específico (ver Cap. 9). A atividade do sistema nervoso simpático é modulada por numerosos agentes farmacológicos. Conforme discutido no Cap. 9, o sistema nervoso simpático possui uma distribuição de tipos de receptores adrenérgicos específica de órgãos. Essa expressão específica de receptores para órgãos permite aos fár- macos modular seletivamente a atividade simpática. Por exem- plo, certos agonistas simpáticos, como o salbutamol, podem dilatar seletivamente os bronquíolos, enquanto determinados antagonistas simpáticos, como o metoprolol, podem diminuir seletivamente a freqüência e a contratilidade cardíacas. Anatomia do Sistema Nervoso Parassimpático Quase todos os gânglios parassimpáticos localizam-se nos órgãos que inervam ou em sua proximidade. As fibras pré-gan- glionares do sistema nervoso parassimpático originam-se no tronco encefálico ou nos segmentos sacrais da medula espinal; por conseguinte, o sistema parassimpático é também denomi- nado sistema craniossacral (Fig. 7.2). Em alguns casos, os neurônios pré-ganglionares parassimpáticos podem seguir um percurso de quase um metro antes de fazer sinapse com seus alvos pós-ganglionares. As fibras nervosas pré-ganglionares do nervo craniano (NC) III, o nervo oculomotor, surgem de uma região do tronco encefálico, denominada núcleo de Edinger-Westphal, e inervam a pupila, estimulando a sua constrição. A medula oblonga do cérebro contém núcleos para as fibras nervosas parassimpáticas nos NC VII, IX e X. As fibras paras simpáticas no nervo facial (NC VII) estimulam a secreção salivar pelas glândulas submaxilares e sublinguais, bem como a produção de lágrimas pela glândula lacrimal. As fibras pa rassimpáticas do nervo craniano IX, o nervo glos- sofaríngeo, estimulam a glândula parótida. O nervo craniano X, denominado nervo vago, fornece inervação parassimpática para os principais órgãos do tórax e do abdome, incluindo o coração, a árvore traqueobrônquica, os rins e o sistema GI até o colo proximal. Os nervos parassimpáticos que se originam na região sacral da medula espinal inervam a parte restante do colo, a bexiga e a genitália. A atividade do sistema nervoso parassimpático é modulada por numerosos agentes farmacológicos. Por exemplo, o beta- necol é um parassimpaticomimético que promove a motilidade do trato GI e do trato urinário. Os antagonistas da atividade parassimpática incluem a atro- pina, um fármaco utilizado localmente para dilatar as pupilas ou sistemicamente para aumentar a freqüência cardíaca, e o ipratrópio, um fármaco utilizado para dilatar os bronquíolos. Esses agentes, bem como outros fármacos, são discutidos no Cap. 8. Nervos Motores e Sensitivos Periféricos As fibras do sistema nervoso somático inervam diretamente seus alvos, os músculos estriados (Fig. 7.1). Esses neurônios originam-se nos cornos ventrais da medula espinal e saem através das raízes ventrais. Alcançam as raízes dorsais, que transportam fibras nervosas sensitivas, para formar os nervos espinais. Os nervos espinais saem da coluna vertebral através dos foramens intervertebrais e, a seguir, separam-se em nervos periféricos. Os componentes somáticos dos nervos periféricos inervam diretamente os músculos. Os músculos são inervados numa distribuição miotomal, isto é, os neurônios que se origi- nam de determinado nível na raiz ventral da medulaespinal (por exemplo, C6) inervam músculos específicos (por exemplo, músculos flexores do antebraço). Os neurônios sensitivos possuem corpos celulares nos gân- glios da raiz dorsal. As terminações dos nervos sensitivos situ- am-se na pele e nas articulações e penetram na medula espinal através das raízes dorsais. Os neurônios para a sensação de vibração e posição (propriocepção) ascendem através das colu- nas dorsais da medula espinal e fazem sinapse com neurônios secundários na parte inferior da medula oblonga. Os neurônios sensitivos que transportam as sensações de dor, temperatura e toque fazem sinapse com neurônios secundários no corno posterior da medula espinal. A informação sensorial é codi- ficada numa distribuição dermatomal, isto é, os neurônios que se originam em determinado nível da raiz dorsal da medula espinal (por exemplo, C6) transportam a informação sensitiva correspondente a determinada área da pele (por exemplo, a face lateral do antebraço e da mão). A atividade do sistema nervoso somático é modulada por diversos agentes farmacológicos. Por exemplo, os antagonistas da atividade da junção neuromuscular, como o pancurônio, são utilizados para induzir paralisia durante a cirurgia. Em contra- partida, os fármacos que aumentam a atividade da junção neu- romuscular, como o edrofônio e a neostigmina, são utilizados no diagnóstico e tratamento da miastenia grave, uma doença auto-imune caracterizada por diminuição da estimulação do músculo esquelético na junção neuromuscular. Esses agentes, bem como outros fármacos, são discutidos no Cap. 8. ANATOMIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL O SNC é dividido, anatomicamente, em sete divisões principais: os hemisférios cerebrais, o diencéfalo, o cerebelo, o mesencé- falo, a ponte, a medula oblonga e a medula espinal (Fig. 7.3). O mesencéfalo, a ponte e a medula oblonga são, em seu conjunto, conhecidos como tronco encefálico e juntos conectam a medula espinal com o cérebro, o diencéfalo e o cerebelo. 86 | Capítulo Sete Cérebro Os hemisférios cerebrais constituem a maior divisão do cére- bro humano. Essas estruturas contêm diversas subdivisões, incluindo o córtex cerebral, sua substância branca subja- cente e núcleos da base (Fig. 7.4). Os hemisférios cerebrais são divididos em lados esquerdo e direito, conectados pelo corpo caloso. O córtex cerebral é responsável pelas fun- ções de alto nível, incluindo percepção sensorial, planeja- mento e ordenação das funções motoras, funções cognitivas, como raciocínio abstrato, e linguagem. O córtex é dividido, anatômica e funcionalmente, nos lobos frontal, temporal, parietal e occipital (Fig. 7.4A). O córtex possui sub-regiões com funções específicas. Por exemplo, a estimulação de parte do giro pré-central, situado no lobo frontal, induz a função motora periférica (movimento), e a ablação dessa estrutura inibe o movimento. Do ponto de vista farmacológico, o córtex cerebral constitui um local de ação de numerosos fármacos, algumas vezes como parte de seu mecanismo de ação inten- cional e, outras vezes, como efeito colateral. Os barbitúri- cos e os benzodiazepínicos (ver Cap. 11) são hipnóticos e sedativos comumente prescritos que potencializam a ação dos neurotransmissores inibitórios no córtex. Acredita-se também que os anestésicos gerais (ver Cap. 15) possuem efeitos sobre o córtex cerebral. Hemisfério cerebral: Córtex cerebral Núcleos da base Tronco encefálico Medula espinal CerebeloPonte Medula oblonga Mesencéfalo Cervical Torácica Lombar Sacral Diencéfalo Fig. 7.3 Organização anatômica do sistema nervoso central. O sistema nervoso central é dividido em sete regiões principais: os hemisférios cerebrais, o diencéfalo (tálamo), o cerebelo, o mesencéfalo, a ponte, a medula oblonga e a medula espinal. Os hemisférios cerebrais incluem o córtex cerebral, a substância branca subjacente (não ilustrada) e os núcleos da base. O mesencéfalo, a ponte e a medula oblonga, juntos, formam o tronco encefálico. A medula espinal é ainda dividida em partes cervical, torácica, lombar e sacral. Lobo frontal Lobo parietal Lobo occipital Corpo caloso Tálamo Núcleo caudado Putâmen Giro do cíngulo Lobo temporal Cáp sula interna A B C Fig. 7.4 Anatomia dos hemisférios cerebrais. A. Nesta vista lateral, os hemisférios cerebrais são divididos em quatro lobos — frontal, parietal, occipital e temporal — que são tanto estrutural quanto funcionalmente distintos uns dos outros. B. Um corte sagital dos hemisférios cerebrais mostra o corpo caloso e o giro do cíngulo. O corpo caloso conecta os hemisférios esquerdo e direito e coordena as suas ações. O giro do cíngulo faz parte do sistema límbico e possui uma localização imediatamente superior ao corpo caloso. C. Os núcleos da base incluem o núcleo caudado e o putâmen, que em seu conjunto são conhecidos como estriado, e o globo pálido (medialmente ao putâmen, não ilustrado). O tálamo situa-se medialmente aos núcleos da base. As setas indicam a trajetória dos neurônios na cápsula interna, um feixe de substância branca que transporta comandos motores do córtex para a medula espinal. Princípios de Fisiologia e Farmacologia do Sistema Nervoso | 87 A substância branca cerebral, que inclui o corpo caloso (Fig. 7.4B), transmite sinais entre o córtex e outras áreas do sistema nervoso central e de uma área do córtex para outra. A subs- tância branca consiste basicamente em axônios mielinizados que, a exemplo de outras áreas do cérebro, possuem uma rede vascular associada de pequenas artérias, veias e capilares. É ao redor desses pequenos vasos que as células inflamatórias acumulam-se em doenças como a esclerose múltipla, e são as pequenas arteríolas que são particularmente acometidas pela hipertensão sistêmica. Os núcleos da base consistem em três núcleos profundos de substância cinzenta (Fig. 7.4C), incluindo o núcleo cau- dado e putâmen — juntos conhecidos como estriado — e o globo pálido. De modo geral, esses núcleos ajudam a iniciar e a controlar ações corticais. Essas ações incluem não ape- nas o movimento voluntário, como também o comportamento e certos aspectos rudimentares da cognição. As regiões dos núcleos da base responsáveis pelo movimento asseguram a execução das ações voluntárias, enquanto os movimentos irre- levantes são inibidos. Conforme observado no caso da Sra. P, a doença de Parkinson é causada pela degeneração de uma via dopaminérgica que surge na substância negra no mesencéfalo (ver adiante) e que termina no estriado (daí o seu nome: via ou trato nigroestriatal). Essa degeneração impede que os núcleos da base iniciem adequadamente a atividade motora — resultando em diminuição do movimento voluntário e tremor não-intencio- nal — e leva ao afeto diminuído (“embotado”) característico da doença de Parkinson. A levodopa, um componente do medica- mento Sinemet tomado pela Sra. P, atua sobre o estriado para melhorar essas manifestações clínicas da doença (ver Cap. 12). Uma borda ou “limbo” ao redor do córtex, que possui funções “mais antigas” e mais básicas, é, em sentido amplo, denominado sistema límbico. Esse sistema consiste no giro do cíngulo (Fig. 7.4B), na formação hipocampal (incluindo o hipocampo e estruturas circundantes) e nas amígdalas. Essas estruturas são responsáveis pelas emoções, pelo comportamen- to social, controle autônomo, percepção da dor e memória. Por exemplo, a perda de memória associada à doença de Alzheimer é causada pela degeneração da formação hipocampal. Na atua- lidade, dispõe-se apenas de alguns fármacos que atuam especi- ficamente sobre o sistema límbico, embora muitos agentes que afetam essa região do cérebro estejam em fase de desenvolvi- mento. Deve-se assinalar que muitas drogas de uso abusivo (ver Cap. 17) estimulam a via de recompensa do cérebro, que inclui o nucleus accumbens e suas projeções no sistema límbico. Diencéfalo O diencéfalo é dividido em tálamo e hipotálamo. O tálamo, que possui vários núcleos distintos,tem uma localização medial no cérebro e situa-se inferiormente ao córtex cerebral. Alguns núcleos do tálamo ligam vias sensitivas da periferia para o córtex cerebral. Outros núcleos atuam como conexões entre os núcleos da base e o córtex. O tálamo não é um simples transmissor de sinais; com efeito, filtra e modula a informação sensorial, determinando, em parte, que sinais irão alcançar a percepção consciente. O hipotálamo localiza-se ventralmente ao tálamo. Contro- la o sistema nervoso autônomo, a hipófise e comportamentos essenciais, como a fome e a termorregulação. As vias descen- dentes do hipotálamo medial regulam neurônios pré-ganglio- nares autônomos na medula oblonga e medula espinal. Em geral, acredita-se que o efeito anti-hipertensivo da clonidina seja mediado pela sua ação sobre os receptores presentes em neurônios do tronco encefálico controlados pelo hipotálamo (ver Cap. 9). Outros neurônios que se originam no hipotálamo medial secretam hormônios diretamente na circulação sistê- mica (por exemplo, a vasopressina das terminações axônicas na neuro-hipófise) ou em um sistema porta que, por sua vez, controla a secreção de hormônios pela adeno-hipófise (ver Cap. 25). O hipotálamo também inicia comportamentos complexos em resposta à fome, a extremos de temperatura, à sede e ao momento do dia. Cerebelo O cerebelo possui uma localização inferior à extremidade posterior do cérebro e dorsal ao tronco encefálico. Possui três regiões funcionalmente distintas: o verme do cerebelo central, os hemisférios do cerebelo laterais e o pequeno lóbulo flóculo- nodular (Fig. 7.5). O cerebelo possui um padrão relativamente bem definido de conexões neurais, recebendo influxos de uma ampla variedade de fontes e enviando respostas primariamente para as áreas motoras do córtex cerebral, através do tálamo. O cerebelo coordena o movimento voluntário no espaço e no tempo, mantém o equilíbrio, controla os movimentos oculares e desempenha um papel na aprendizagem motora (por exem- plo, na coordenação mão-olho) e em certas funções cognitivas, como o controle temporal de eventos repetitivos e a linguagem. Foram planejados poucos fármacos capazes de afetar primari- amente o cerebelo. Entretanto, diversos agentes, notavelmente o álcool e certos fármacos antiepilépticos, são tóxicos para o cerebelo. Esses agentes afetam particularmente o verme do cere- belo, que controla o equilíbrio. Tronco Encefálico O mesencéfalo, a ponte e a medula oblonga são coletivamente conhecidos como tronco encefálico. O tronco encefálico conecta a medula espinal ao tálamo e córtex cerebral. É orga- nizado com o mesencéfalo superiormente, a medula oblonga inferiormente e a ponte entre o mesencéfalo e a medula oblonga (Fig. 7.3). As vias de substância branca que interconectam a medula espinal, o cerebelo, o tálamo, os núcleos da base e o córtex cerebral seguem o seu trajeto através dessa pequena região do cérebro. Além disso, o tronco encefálico dá origem à Lóbulo flóculo-nodular Hemisférios cerebelares Verme do cerebelo Fig. 7.5 Anatomia do cerebelo. O cerebelo é dividido nos hemisférios do cerebelo (lateralmente), verme (medialmente) e pequeno lóbulo flóculo- nodular. A área imediatamente acima do lóbulo flóculo-nodular neste desenho é um corte transversal dos pedúnculos cerebelares. 88 | Capítulo Sete maioria dos nervos cranianos. Alguns desses nervos são con- dutos para a sensação da cabeça e da face, incluindo audição, equilíbrio e paladar. Os nervos cranianos também controlam a resposta motora aos músculos esqueléticos da mastigação, expressão facial, deglutição e movimento ocular. O tronco encefálico também regula a descarga parassimpática para as glândulas salivares e a íris. A medula contém vários centros de controle que são essen- ciais à vida, incluindo centros que dirigem a descarga dos núcleos autônomos, marca-passos que regulam a freqüência cardíaca e a respiração e centros que controlam ações reflexas, como tosse e vômito. Diversas estruturas de transmissão na ponte também desempenham um papel (em associação com o mesencéfalo) na regulação de funções vitais, como a res- piração. A base da ponte contém tratos de substância branca que conectam o córtex cerebral e o cerebelo. Os neurônios na substância cinzenta central, particularmente no mesencéfa- lo, emitem projeções descendentes para a medula espinal, que modulam a percepção da dor (ver Cap. 16). Existem grupos de neurônios de projeção difusa situados em todo o tronco encefálico, hipotálamo e base circundante do cérebro. Esses núcleos, que incluem o locus ceruleus, núcleos da rafe e vários outros, formam o sistema de ativação reticu- lar, responsável pela ativação da atividade cortical, controle do ciclo vigília/sono e manutenção da consciência. Muitas drogas amplamente prescritas e ilícitas influenciam um ou mais desses núcleos. Medula Espinal A medula espinal é a divisão mais caudal do sistema nervo- so central. Estende-se da base do tronco encefálico (medula oblonga) no nível da primeira vértebra cervical até a primeira vértebra lombar. A exemplo do cérebro, a medula espinal é organizada em tratos de substância branca e regiões de subs- tância cinzenta. Os tratos de substância branca conectam a peri- feria e a medula espinal com as divisões mais rostrais do SNC, enquanto a substância cinzenta forma as colunas nucleares que se localizam no centro da medula espinal, em um padrão em H (Fig. 7.6). Os neurônios na medula espinal podem ser definidos pela sua localização espacial em relação à substância cinzenta em padrão H. Esses neurônios incluem neurônios sensitivos locali- zados nos cornos dorsais da substância cinzenta (H), neurônios motores situados nos cornos ventrais e interneurônios espinais. Os neurônios sensitivos transmitem a informação da periferia para as divisões mais rostrais do SNC, enquanto os neurônios motores transmitem comandos provenientes das áreas moto- ras centrais do córtex e tronco encefálico para os músculos periféricos. Os interneurônios conectam os neurônios sensiti- vos e motores e são responsáveis pela mediação de reflexos, como os reflexos tendíneos profundos, coordenando a ação de grupos musculares opostos. Como a medula espinal transporta sinais sensitivos — incluindo sensação da dor — para o sistema nervoso central, trata-se de um importante alvo para fármacos analgésicos, como os opióides (ver Cap. 16). ORGANIZAÇÃO CELULAR DO SISTEMA NERVOSO A organização celular do sistema nervoso autônomo e periférico envolve um número limitado de neurônios que estabelecem pou- cas conexões. Por exemplo, a informação somática e sensitiva é transmitida diretamente entre a medula espinal e a periferia. Os nervos autônomos são ligeiramente mais complexos, visto que o sinal deve sofrer transmissão sináptica entre um neurônio pré-ganglionar e um neurônio pós-ganglionar. Entretanto, em ambos os casos existem poucas conexões neuronais auxiliares, e ocorre pouca ou nenhuma modificação da informação. Em contrapartida, a organização celular do sistema nervoso central é muito mais complexa. A informação não é apenas transmitida de uma área para outra; com efeito, os neurônios centrais recebem sinais de numerosas fontes e apresentam uma ampla distribuição de seus próprios axônios. Alguns neurônios fazem sinapse com centenas de milhares de outros neurônios. Além disso, nem toda conexão simpática é excitatória (isto é, destinada a despolarizar o neurônio pós-sináptico). Algumas conexões são inibitórias (isto é, destinadas a hiperpolarizar o neurônio pós-sináptico). Outros neurônios que se projetam em um neurônio-alvo podem modular a excitabilidade relativa da célula, afetando a resposta do neurônio pós-sináptico a outros sinais. A complexidade gerada por essa variabilidade é neces- sária para a execução dos numerosos processos complexos realizados pelo cérebro. Embora o SNC possua uma imensa complexidade em nível de conectividade neuronal, são utilizadostrês modelos princi- pais para organizar os neurônios em unidades funcionais no sistema nervoso: os sistemas neuronais de trato longo, os circuitos locais e os sistemas divergentes de fonte única (Fig. 7.7). O sistema nervoso periférico é organizado exclusivamente como sistema de tratos longos, enquanto o sistema nervoso central utiliza os três modelos. Organização Neuronal de Trato Longo A organização neuronal de trato longo envolve vias neurais que conectam áreas distantes do sistema nervoso (Fig. 7.7A). Trata-se da organização utilizada pelo sistema nervoso peri- férico, que, no sistema nervoso central, é importante para a transmissão de sinais de uma região para outra. Corno ventralSubstância cinzenta Substância branca Corno dorsal Raiz dorsal Gânglio da raiz dorsal Dura-máter Fig. 7.6 Anatomia da medula espinal. A medula espinal possui substância cinzenta em forma de H, que inclui os cornos dorsais e ventrais. O corno dorsal é responsável pela transmissão sensitiva para o cérebro, enquanto o corno ventral é responsável pela transmissão motora para o músculo esquelético. A substância branca transporta sinais para as divisões mais rostrais do SNC e a partir delas. Princípios de Fisiologia e Farmacologia do Sistema Nervoso | 89 No sistema nervoso periférico, os sinais são transmitidos com pouca modificação. Os neurônios sensitivos respondem a estímulos, como toque, temperatura, pressão, vibração e subs- tâncias químicas nocivas e, se a despolarização da membra- na inicial for forte o suficiente, transmitem um potencial de ação diretamente para a medula espinal. Na medula espinal, os neurônios sensitivos fazem sinapse diretamente com neurônios motores somáticos, formando arcos reflexos, e com neurônios espinais ascendentes, que transmitem a informação para níveis superiores. Os neurônios motores transportam a informação diretamente da medula espinal através das raízes ventrais e projetam-se diretamente nas placas motoras terminais dos mús- culos por eles inervados. Os tratos axônicos longos dos neurô- nios sensitivos e motores periféricos são reunidos em feixes e seguem o seu trajeto como nervos periféricos. Conforme descrito anteriormente, os neurônios pré-gangliona- res do sistema nervoso autônomo formam conexões sinápticas com neurônios pós-ganglionares em gânglios de localização pré-verte- bral, paravertebral ou nas proximidades dos órgãos viscerais inerva- dos. Tipicamente, o neurônio pré-ganglionar estabelece conexões sinápticas com até vários milhares de neurônios pós-ganglionares, uma organização denominada sinalização divergente. Embora a sinalização divergente resulte em algum processamento e modi- ficação da informação, o sistema nervoso autônomo geralmente não modifica de modo apreciável os sinais neurais. Ao contrário dos neurônios das vias periféricas, os neurônios nos sistemas de tratos longos do sistema nervoso central não apenas transmitem sinais, como também os integram e modifi- cam. Os neurônios de tratos longos do SNC exibem uma sinali- zação divergente, como os neurônios autônomos, mas também recebem conexões sinápticas de muitos neurônios proximais (sinalização convergente). O SNC utiliza neurotransmissores tanto excitatórios quanto inibitórios para a localização de um sinal, uma estratégia conhecida como sinalização central-cir- cundante. Por exemplo, a percepção sensitiva no SNC pode localizar com precisão um sinal através da ativação de neurônios corticais que mapeiam uma área do corpo e através da inibição de neurônios que mapeiam áreas circundantes do corpo. Organização Neuronal de Circuito Local Os neurônios de circuito local mantêm uma conectividade primariamente na área imediata. Em geral, esses neurônios são responsáveis pela modulação da transmissão de sinais (Fig. 7.7B). Por exemplo, os neurônios do córtex cerebral estão organizados em camadas, habitualmente em número de seis. Enquanto a informação flui para uma camada e fora de uma camada diferente através de conexões de trato longo, as ligações entre as camadas processam os sinais e interpretam os influxos. As conexões sinápticas locais podem ser tanto exci- tatórias quanto inibitórias, assegurando a transmissão de apenas determinados padrões de influxos. Por exemplo, a informação que se origina nos neurônios do gânglio geniculado lateral penetra no córtex visual primário através de uma conexão de trato longo, denominado trato óptico. Em uma área do córtex destinada a perceber linhas, os neurônios de saída só serão excitados se os neurônios de entrada descarregarem um padrão particular, designando, neste caso, uma linha em determinada orientação. O sinal de saída pode servir então como influxo para outra área do cérebro com capacidade de reconhecer formas. Se esta área receber um padrão apropriado de linhas proveniente das fontes apropriadas, poderá reconhecer determinado objeto, como a grade de um jogo da velha. Organização Neuronal Divergente de Fonte Única Os núcleos no tronco encefálico, no hipotálamo e no prosencé- falo basal seguem a organização em circuito divergente de fonte única (Fig. 7.7C), em que os neurônios que se originam de um núcleo inervam numerosas células-alvo. Como a orga- nização neuronal divergente de fonte única envolve a ação de sinais de uma ampla variedade de neurônios, é também comu- mente designada como sistema difuso de organização. Em lugar de estimular diretamente seus alvos, os neurônios diver- gentes exercem tipicamente uma influência moduladora ao uti- lizar neurotransmissores — em geral, aminas biogênicas (ver adiante) — que atuam sobre receptores acoplados à proteína G. Esses receptores alteram o potencial em repouso e a condutân- Sinalização convergente Sinalização divergente A Trato longo B Circuito local C Divergente de fonte única Fig. 7.7 Organização celular do sistema nervoso central. O SNC possui três modelos principais de organização. A. Os neurônios de trato longo atuam como transmissores entre a periferia e as áreas superiores do SNC. Os neurônios de trato longo recebem sinais de muitos neurônios diferentes (sinalização convergente) e fazem sinapse com numerosos neurônios distalmente (sinalização divergente). B. Os neurônios de circuito local exibem um modelo estrutural complicado, disposto em camadas, que inclui neurônios tanto excitatórios quanto inibitórios. Esses circuitos são utilizados para o processamento da informação. C. Os neurônios divergentes de fonte única originam-se tipicamente em um núcleo no tronco encefálico e possuem terminações axônicas que inervam milhares de neurônios, habitualmente no córtex cerebral. 90 | Capítulo Sete cia dos canais iônicos das membranas neuronais nas quais estão localizados, alterando, assim, a facilidade de despolarização desses neurônios. Os neurônios que formam circuitos divergen- tes de fonte única geralmente não possuem bainha de mielina, visto que suas influências moduladoras variam no decorrer de minutos ou horas, em lugar de frações de segundo. Além disso, seus axônios são altamente ramificados, permitindo conexões sinápticas com grande número de neurônios-alvo. Os principais sistemas neuronais divergentes de fonte única estão resumidos no Quadro 7.1. Incluem os neurônios dopami- nérgicos pigmentados, que dão origem à substância negra, que inervam amplamente o estriado e são responsáveis pela regula- ção da atividade de neurônios que controlam ações voluntárias (Fig. 7.8A). Especificamente, os neurônios no trato nigroestriatal excitam vias distais que iniciam o movimento, enquanto inibem as vias que o suprimem. O trato nigroestriatal sofre degeneração na doença de Parkinson, explicando, assim, o motivo pelo qual a Sra. P apresenta uma escassez de movimento. Outros neurônios dopaminérgicos mediais à substância negra projetam-se no cór- tex pré-frontal e influenciam os processos de pensamento. Outro exemplo de circuito divergente de fonte única envolve o núcleo noradrenérgico na ponte,denominado locus ceruleus (Fig. 7.8B). Os neurônios que se originam nesse núcleo inervam amplamente o córtex cerebral e o cerebelo e mantêm vigilância e responsividade a estímulos inesperados. Assim, drogas como a cocaína, que inibe a recaptação de catecolaminas, como a norepinefrina, podem ativar esse sistema e causar hipervigi- lância (ver Cap. 17). Os neurônios que se originam nos núcleos da rafe, no tronco encefálico caudal, utilizam o neurotransmissor serotonina e são responsáveis pela modulação de sinais de dor na medula espinal e no locus ceruleus (Fig. 7.8B). Outros neurônios que se originam nos núcleos da rafe inervam amplamente o prosen- céfalo, modulando a responsividade dos neurônios no córtex. Os neurônios serotoninérgicos regulam o estado de vigília e o sono, e foi aventada a hipótese de que a disfunção do sistema serotoninérgico pode constituir uma causa de depressão. Como os antidepressivos bloqueiam a recaptação de serotonina, essa classe de fármacos pode ativar a via serotoninérgica dos núcleos da rafe (ver Cap. 13). QUADRO 7.1 Sistemas Neuronais Divergentes de Fonte Única ORIGEM NEUROTRANSMISSOR FUNÇÕES Substância negra (mesencéfalo) Dopamina Possibilita o movimento voluntário; emoção, pensamento, armazenamento da memória Locus ceruleus (ponte) Norepinefrina Vigilância; responsividade a estímulos inesperados Núcleos da rafe (medula oblonga, ponte e mesencéfalo) Serotonina Percepção da dor; responsividade dos neurônios corticais; humor (?) Núcleo basal de Meynert Acetilcolina Estado de alerta Núcleo tegmental pedunculopontino Acetilcolina Ciclo de sono/vigília Núcleo túbero-mamilar (hipotálamo) Histamina Reatividade do prosencéfalo Fig. 7.8 Sistemas neuronais difusos. A. Os neurônios dopaminérgicos (em preto) surgem na substância negra e área tegmental ventral e projetam-se no estriado e córtex cerebral, respectivamente. Esses neurônios estão associados à iniciação do movimento e às vias de recompensa do cérebro. Os neurônios colinérgicos (em azul) originam-se no núcleo basal, núcleo tegmental pedunculopontino e núcleos septais mediais. Esses neurônios, que se projetam amplamente pelo cérebro, são responsáveis pela manutenção do ciclo de sono-vigília e pela regulação da transmissão sensitiva. B. Os neurônios noradrenérgicos (em preto) originam-se no locus ceruleus e inervam todo o cérebro. Esses neurônios são responsáveis pela manutenção do estado de alerta. Os neurônios serotoninérgicos (em azul) surgem nos núcleos da rafe e projetam-se no diencéfalo, núcleos da base e, através do mesencéfalo basal, nos hemisférios cerebrais, bem como no cerebelo e na medula espinal. Acredita-se que os neurônios serotoninérgicos desempenham um papel na modulação do afeto e da dor. Neurônios dopaminérgicos Núcleo basal Núcleos septais mediais Estriado Núcleo tegmental pedunculopontino Área tegmental ventral Substância negra Neurônios colinérgicos A Vias dopaminérgicas e colinérgicas B Vias noradrenérgicas e serotoninérgicas Neurônios noradrenérgicos Neurônios serotoninérgicos Locus ceruleus Núcleos da rafe Medula espinal Princípios de Fisiologia e Farmacologia do Sistema Nervoso | 91 Três outros núcleos importantes que inervam amplamente o córtex são o núcleo basal de Meynert, o núcleo tegmental pedunculopontino e o núcleo túbero-mamilar. O núcleo basal e o núcleo tegmental pedunculopontino utilizam a acetilcolina como neurotransmissor (Fig. 7.8A). O primeiro núcleo projeta- se no córtex e regula o estado de alerta, enquanto o segundo núcleo controla os ciclos de sono-vigília e a reatividade. As células no prosencéfalo basal que recebem influxos do núcleo tegmental pedunculopontino sofrem degeneração em várias doenças, incluindo a doença de Alzheimer. O núcleo túbero- mamilar utiliza o neurotransmissor histamina (ver adiante) e pode ajudar a manter a reatividade através de suas ações sobre o prosencéfalo. A sonolência induzida pelos anti-histamínicos de primeira geração — antagonistas dos receptores H1 de histami- na utilizados no tratamento de alergias (ver Cap. 42) — pode ser causada pela inibição da transmissão envolvendo os neurônios do núcleo túbero-mamilar. NEUROFISIOLOGIA NEUROTRANSMISSORES O sistema nervoso periférico utiliza apenas dois neurotrans- missores: a acetilcolina e a norepinefrina (Fig. 7.9). Em con- trapartida, o SNC utiliza não apenas uma ampla variedade de pequenas moléculas neurotransmissoras, incluindo a acetilco- lina e a norepinefrina (Quadro 7.2), como também numerosos peptídios neuroativos. Esses peptídios podem ser transmitidos concomitantemente com os pequenos neurotransmissores e, em geral, desempenham um papel neuromodulador. As pequenas moléculas de neurotransmissores podem ser organizadas em várias categorias amplas, com base na sua estrutura e função (Fig. 7.10). A primeira categoria, constituída pelos neurotransmissores de aminoácidos, inclui o glutamato, Neurônio pré-ganglionar Neurônio pós-ganglionar Receptor tecidual Adrenérgico Muscarínico (glândulas sudoríparas) Muscarínico Nicotínico Acetilcolina Acetilcolina Receptores nicotínicos Receptores nicotínicos Norepinefrina ou Acetilcolina Acetilcolina Acetilcolina A Simpáticos B Parassimpáticos C Somático Fig. 7.9 Neurotransmissores no sistema nervoso periférico. São necessários apenas dois neurotransmissores para mediar a neurotransmissão do sistema nervoso periférico. A acetilcolina é liberada por neurônios pré-ganglionares simpáticos e parassimpáticos, neurônios pós-ganglionares parassimpáticos, neurônios motores somáticos e neurônios pós-ganglionares simpáticos que inervam as glândulas sudoríparas. Todos os outros neurônios pós-ganglionares simpáticos liberam norepinefrina. A acetilcolina estimula os receptores nicotínicos de acetilcolina nos neurônios pós-ganglionares simpáticos e parassimpáticos e na junção neuromuscular. A acetilcolina estimula os receptores muscarínicos de acetilcolina nas glândulas sudoríparas e tecidos inervados por neurônios pós-ganglionares parassimpáticos. A norepinefrina estimula os receptores � e �-adrenérgicos nos tecidos (à exceção das glândulas sudoríparas) inervados por neurônios pós- ganglionares simpáticos. 92 | Capítulo Sete o aspartato, o GABA e a glicina. Os neurotransmissores de aminas biogênicas, que derivam de aminoácidos descarboxi- lados, incluem a norepinefrina, a dopamina, a epinefrina, a serotonina e a histamina. A acetilcolina, que não é um aminoácido nem uma amina biogênica, é utilizada como neuro- transmissor tanto no SNC quanto no sistema nervoso periférico. As purinas adenosina e trifosfato de adenosina (ATP) também são utilizadas na neurotransmissão central, embora suas fun- ções não tenham sido estudadas com tanto detalhe quanto as de outros neurotransmissores. Recentemente, foi constatado que o gás lipossolúvel óxido nítrico (NO), que possui muitos efeitos nos tecidos periféricos, atua como neurotransmissor passível de difusão no SNC. Neurotransmissores de Aminoácidos Os aminoácidos neurotransmissores constituem os neurotrans- missores excitatórios e inibitórios primários do SNC. São utilizados dois tipos de aminoácidos neurotransmissores: os aminoácidos ácidos, o glutamato e o aspartato, que são pri- mariamente excitatórios, e os aminoácidos neutros, o GABA e a glicina, que são primariamente inibitórios. O glutamato, o aspartato e a glicina são alfa-aminoácidos, que também cons- tituem as unidades de construção na síntese de proteínas. O glutamato é o principal neurotransmissor excitatório, que atua sobre receptores tanto ionotrópicos (canais iônicos regulados por ligantes) quanto metabotrópicos (acoplados à proteína G) (ver Cap. 11). A excitação excessiva de certos receptores de glutamato constitui um dos mecanismos pelos quais a lesão isquêmica provoca morte neuronal. Por esse motivo, os recep- tores de glutamato representam um importante alvo para pes- quisa farmacêutica. Entretanto, até o momento,dispõe-se de poucos agentes terapêuticos de uso clínico que se ligam sele- tivamente a receptores de glutamato. O GABA, que também é discutido no Cap. 11, constitui o principal neurotransmissor inibitório no SNC. Várias classes de agentes terapêuticos, mais notavelmente os barbitúricos e os benzodiazepínicos, ligam-se a receptores de GABA e, através de mecanismos alostéricos, potencializam o efeito do GABA endógeno. Aminas Biogênicas As aminas biogênicas (juntamente com a acetilcolina) são uti- lizadas pelos sistemas neuronais difusos para modular funções complexas do sistema nervoso central, como estado de alerta e consciência. No sistema nervoso periférico, a norepinefrina QUADRO 7.2 Neurotransmissores de Pequenas Moléculas no Sistema Nervoso Central NEUROTRANSMISSOR SUBTIPO DE RECEPTOR MODELO DO RECEPTOR MECANISMO GABA GABAA Ionotrópico ↓ cAMP GABAB Metabotrópico ↑ Condutância do Cl– ↑ Condutância do K+, Cl– Glicina Subunidades �, � Ionotrópico ↑ Condutância do Cl– Glutamato, Aspartato AMPA Ionotrópico ↑ Condutância do Na+, K+ Cainato Ionotrópico ↑ Condutância do Na+, K+ NMDA Ionotrópico ↑ Condutância do Na+, K+, Ca2+ mGlu (1-7) Metabotrópico ↓ cAMP ↑ IP3/DAG/Ca2+ Dopamina D1, D5 Metabotrópico ↑ cAMP D2, D3, D4 Metabotrópico ↓ cAMP; ↑ K+, ↓ condutância do Ca2+ Norepinefrina �1 Metabotrópico ↑ IP3/DAG/Ca2+ �2 Metabotrópico ↓ cAMP; ↑K+, ↓ condutância do Ca2+ �1, �2, �3 Metabotrópico ↑ cAMP Serotonina 5-HT1 Metabotrópico ↓ cAMP; ↑ condutância do K+ 5-HT2 Metabotrópico ↑ IP3/DAG/Ca2+ 5-HT3 Ionotrópico ↑ Condutância do Na+, K+ 5-HT4-7 Metabotrópico ↑ cAMP Histamina H1 Metabotrópico ↑ IP3/DAG/Ca2+ H2 Metabotrópico ↑ cAMP H3 Desconhecido Desconhecido Acetilcolina Nicotínico Ionotrópico ↑ Condutância do Na+, K+, Ca2+ Muscarínico Metabotrópico ↑IP3/DAG/Ca2+ ↓ cAMP; ↑ condutância do K+ Adenosina P1 Metabotrópico ↓ cAMP; ↓ Ca2+, ↑ condutância do K+ P2X Ionotrópico ↑ Condutância do Ca2+, K+, Na+ P2Y Metabotrópico ↑ IP3/DAG/Ca2+ Os neurotransmissores podem ser organizados em várias categorias, incluindo aminoácidos, aminas biogênicas, acetilcolina, adenosina e óxido nítrico. Cada neurotransmissor pode ligar-se a um ou mais receptores. À exceção do receptor de NO, que é intracelular (não mostrado), todos os outros receptores de moléculas pequenas localizam-se na superfície celular. Esses receptores de superfície celular podem ser ionotrópicos ou metabotrópicos. O mecanismo de ação de cada receptor está indicado. Além dos neurotransmissores de pequenas moléculas, foram identificados mais de 50 peptídios neuroativos. Os receptores AMPA, cainato e NMDA foram designados com base nos agonistas que os ativam seletivamente. AMPA, ácido �-amino-3-hidroxi-5-metilisoxazol-4-propiônico; NMDA, N-metil-D-aspartato; cAMP, 3ʼ,5ʼ-monofosfato de adenosina cíclico; DAG, diacilglicerol; IP3, inositol-1,4,5-trifosfato. Princípios de Fisiologia e Farmacologia do Sistema Nervoso | 93 é liberada por neurônios pós-ganglionares simpáticos, produ- zindo a resposta simpática. A medula supra-renal é um tecido neuroendócrino que libera a amina biogênica epinefrina na cir- culação, em resposta ao estresse. Todas as aminas biogênicas são sintetizadas a partir de precursores de aminoácidos. Com base nesses precursores, as aminas biogênicas podem ser divididas em três categorias. As catecolaminas (dopamina, norepinefrina e epinefrina) são derivadas da tirosina. A indolamina serotonina é sintetizada a partir do triptofano. A histamina é formada a partir da his- tidina. Essas três categorias são descritas de modo sucinto, adiante. Todas as catecolaminas derivam da tirosina, numa série de reações bioquímicas (Fig. 7.11). Em primeiro lugar, a tirosi- na é oxidada a L-diidroxifenilalanina (L-DOPA). A seguir, a L-DOPA é descarboxilada a dopamina. No caso da Sra. P, a L-DOPA (levodopa) é um dos componentes da medicação utilizada para compensar a perda de neurônios dopaminérgicos na substância negra. (A dopamina não constitui um agente tera- pêutico efetivo na doença de Parkinson, visto que não atravessa a barreira hematoencefálica; ver adiante.) Os receptores dopa- minérgicos centrais têm sido o alvo de uma ampla variedade de agentes terapêuticos. Por exemplo, tanto os precursores da dopamina quanto os agonistas diretos do receptor de dopami- na são utilizados no tratamento da doença de Parkinson, con- forme discutido no Cap. 12. Os antagonistas dos receptores de dopamina têm sido utilizados com sucesso no tratamento dos sintomas psicóticos da esquizofrenia; esse assunto também é discutido no Cap. 12. Certas drogas de abuso, como a cocaína e as anfetaminas, podem ativar vias de recompensa do cérebro, que dependem da neurotransmissão dopaminérgica, conforme discutido no Cap. 17. A dopamina é sintetizada a partir da tirosina e da L-DOPA no citoplasma; a seguir, é transportada em vesículas sinápticas. Nos neurônios dopaminérgicos, a dopamina contida nas vesícu- las sinápticas é liberada como neurotransmissor. Nos neurônios adrenérgicos e noradrenérgicos, a dopamina é convertida em norepinefrina no interior das vesículas sinápticas pela enzima dopamina-�-hidroxilase. Em um pequeno número de neurô- nios e na medula supra-renal, a norepinefrina é então trans- portada de volta ao citoplasma, onde é metilada a epinefrina. O Cap. 9 trata da farmacologia dos fármacos cujos alvos con- sistem nos receptores adrenérgicos periféricos, incluindo tan- to agonistas, como broncodilatadores e vasopressores, quanto antagonistas, como agentes anti-hipertensivos. Várias classes de agentes terapêuticos atuam sobre os receptores adrenérgi- cos centrais. A clonidina é um agonista parcial que atua sobre receptores �2-pré-sinápticos. Alguns antidepressivos aumen- tam a concentração sináptica de norepinefrina através de blo- queio de sua recaptação (antidepressivos tricíclicos [ATC]), enquanto outros aumentam o reservatório intracelular de nore- pinefrina disponível para liberação sináptica através da inibi- ção de sua degradação química (inibidores da monoamina oxidase [IMAO]). A 5-hidroxitriptamina (5-HT, também conhecida como serotonina) é formada a partir do aminoácido triptofano por oxidação enzimática na posição 5, seguida de descarboxilação enzimática. Essa seqüência de reações assemelha-se àquela uti- lizada na síntese de dopamina, embora as enzimas envolvidas nas reações sejam diferentes (Fig. 7.12). A neurotransmissão serotoninérgica serve de alvo para diversas classes de fármacos. Os antidepressivos tricíclicos, que bloqueiam a recaptação de norepinefrina, também bloqueiam a recaptação de serotonina. Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), que atuam de modo mais seletivo sobre os transportadores de O OH H2NH2N O OH HO HO NH2 HO HO OH NH2 HO HO OH H N NH2 HN N OH OHHO ONN H2N N N O N+ O NO Ácido γ-aminobutírico (GABA)Glicina Ácido aspártico Aminoácidos Neurotransmissores Outros Neurotransmissores Aminas Biogênicas Neurotransmissoras Ácido glutâmico Histamina Dopamina Norepinefrina Epinefrina Acetilcolina Adenosina Óxido nítrico Serotonina H2N OH O OHO H2N O OH O HO HN NH2 OH Fig. 7.10 Estruturas dos neurotransmissores de pequenas moléculas. Os principais neurotransmissores de pequenas moléculas podem ser divididos em duas amplas categorias. Os aminoácidos constituem os principais neurotransmissores excitatórios (glutamato e aspartato) e inibitórios (glicina e ácido �-aminobutírico) no SNC. Seus grupos amino e ácido carboxílico são mostrados em azul. As aminas biogênicas são os principais neurotransmissores moduladores do SNC. A amina é mostrada em azul. A dopamina, a norepinefrina e a epinefrina compartilham um grupo catecol comum; a histamina possui um grupo imidazol; e a serotonina, um grupo indol. A acetilcolina (um neurotransmissor nos sistemas moduladores difusos do SNC), a adenosina e o óxido nítrico (NO) não se enquadram em nenhuma categoria estrutural. A ordem de ligação é 2,5para a ligação nitrogênio–oxigênio no NO, de força intermediária entre uma ligação dupla e ligação tripla. 94 | Capítulo Sete sobre a neurotransmissão serotoninérgica são discutidos de modo mais pormenorizado no Cap. 13. A histamina é formada por descarboxilação do aminoácido histidina. A histamina atua como neurotransmissor difuso no SNC, embora poucos agentes terapêuticos sejam direciona- dos intencionalmente para a neurotransmissão histaminérgica central. Muitos histamínicos foram desenvolvidos para atuar sobre receptores de histamina H1 periféricos, onde a histamina medeia a resposta inflamatória a estímulos alérgicos. Vários agentes terapêuticos dirigidos para os receptores de histamina H2 são utilizados no tratamento da doença ulcerosa péptica (ver Caps. 42 e 45). Conforme assinalado anteriormente, a ação dos antagonistas dos receptores de histamina H1 sobre os recep- tores de histamina centrais pode produzir o efeito adverso de sonolência. Outros Neurotransmissores de Pequenas Moléculas A acetilcolina desempenha um importante papel na neurotrans- missão periférica. Na junção neuromuscular, essa molécula é utilizada por neurônios motores somáticos para despolarizar o músculo estriado. No sistema nervoso autônomo, a acetilcolina NH2 HO O OH NH2 HO HO OH O NH2HO HO HO OH HO NH2 HO OH HO H N Tirosina Tirosina hidroxilase (TH)Tetraidrobiopterina O2, Fe2+ L-aminoácido aromático descarboxilaseFosfato de piridoxal Ácido ascórbico O2, Cu2+ Dopamina b-hidroxilase S-adenosilmetionina Feniletanolamina N-metiltransferase L-DOPA Dopamina Norepinefrina Epinefrina Fig. 7.11 Síntese das catecolaminas. Todas as catecolaminas são sintetizadas a partir da tirosina. As reações enzimáticas seqüenciais resultam de hidroxilação da tirosina para formar L-DOPA, descarboxilação da L-DOPA para formar dopamina, hidroxilação da dopamina para formar norepinefrina e metilação da norepinefrina para formar epinefrina. Dependendo das enzimas (mostradas em letras azuis) expressas em determinado tipo de neurônio pré-sináptico, a seqüência de reações pode ser interrompida em qualquer uma das últimas três etapas, de modo que a dopamina, a norepinefrina ou a epinefrina podem constituir o produto final que é sintetizado e utilizado como neurotransmissor. Triptofano hidroxilase (TPH) L-aminoácido aromático descarboxilase HN OH O NH2 HN NH2 OH Triptofano 5-Hidroxitriptofano 5-Hidroxitriptamina (Serotonina) HN OH O NH2 OH Fig. 7.12 Síntese da 5-hidroxitriptamina (serotonina). O triptofano é inicialmente oxidado pela triptofano hidroxilase (TPH) e, a seguir, descarboxilado pela L-aminoácido aromático descarboxilase, produzindo serotonina. recaptação de serotonina, também são utilizados no tratamen- to da depressão. O papel dos neurônios serotoninérgicos na depressão e os vários tratamentos para a depressão que atuam Princípios de Fisiologia e Farmacologia do Sistema Nervoso | 95 é o neurotransmissor empregado por todos os neurônios pré- ganglionares e por neurônios pós-ganglionares parassimpáti- cos. As múltiplas funções da acetilcolina no sistema nervoso periférico estimularam o desenvolvimento de uma ampla varie- dade de fármacos tendo como alvo a neurotransmissão colinér- gica periférica. Esses agentes incluem paralisantes musculares, que interferem na neurotransmissão, na placa motora terminal, inibidores da acetilcolinesterase, que aumentam a concentra- ção local de acetilcolina ao interferir na degradação metabólica do neurotransmissor, e agonistas e antagonistas específicos de receptores. No SNC, a acetilcolina atua como neurotransmissor de sis- tema difuso. À semelhança das aminas biogênicas, acredita-se que a acetilcolina regula o sono e o estado de vigília. O done- pezil, um inibidor reversível da acetilcolinesterase, que atua nas sinapses colinérgicas centrais, ajuda a “avivar” pacientes com demência (ver Cap. 8). Os agentes anticolinérgicos periféricos podem causar bloqueio colinérgico central e, portanto, resultar em efeitos adversos significativos. Por exemplo, o agente anti- muscarínico escopolamina pode causar sonolência, amnésia, fadiga e sono sem sonhos. Em contrapartida, os agonistas coli- nérgicos, como a pilocarpina, podem induzir efeitos adversos de reatividade cortical e estado de alerta. Os neurotransmissores purinérgicos, adenosina e trifosfa- to de adenosina, desempenham um papel na neurotransmissão central. Essa função é mais evidente nos efeitos da cafeína, que é um antagonista competitivo nos receptores de adenosina, produzindo leve efeito estimulante. Neste caso, os receptores de adenosina, que estão localizados em neurônios noradrenérgicos pré-sinápticos, atuam para inibir a liberação de norepinefrina. O antagonismo desses receptores de adenosina pela cafeína faz com que a liberação de norepinefrina não seja inibida, produ- zindo os efeitos estimulantes característicos da droga. O óxido nítrico, que despertou grande interesse como vaso- dilatador periférico, atua no cérebro como neurotransmissor. Ao contrário dos outros neurotransmissores de pequenas molécu- las, o NO difunde-se através da membrana neuronal e liga-se a seus receptores no interior da célula-alvo. Acredita-se que os receptores de NO residem em neurônios pré-sinápticos, permi- tindo que o NO atue como mensageiro retrógrado. Enquanto os efeitos vasodilatadores periféricos do NO constituem um alvo para muitos agentes terapêuticos, nenhum deles exerce ações como neurotransmissor central. Neuropeptídios Os peptídios neuroativos constituem a última classe importante de neurotransmissores. Muitos neuropeptídios também exercem ações endócrinas, autócrinas e parácrinas. Os principais exem- plos de famílias de peptídios neuroativos incluem os opióides, as taquicininas, as secretinas, as insulinas e as gastrinas. Os neuropeptídios também incluem os fatores de liberação e de inibição dos hormônios hipofisários, como o hormônio de liberação da corticotropina (CRH), o hormônio de libera- ção das gonadotropinas (GnRH), o hormônio de liberação da tireotropina (TRH), o hormônio de liberação do hor- mônio do crescimento (GRH) e a somatostatina. A família de peptídios opióides abrange as encefalinas, as dinorfinas e as endorfinas. Os receptores de opióides, que estão ampla- mente distribuídos em áreas da medula espinal e do cérebro envolvidas na sensação de dor, constituem os principais alvos farmacológicos dos analgésicos opióides, como a morfina (ver Cap. 16), e de algumas drogas de abuso, como a heroína (ver Cap. 17). A BARREIRA HEMATOENCEFÁLICA No caso da Sra. P, foi administrada L-DOPA, o precursor ime- diato da dopamina, em lugar do próprio neurotransmissor. Ao contrário da L-DOPA, que tem a capacidade de passar do sangue para o tecido cerebral, onde atua, por exemplo, no tratamento da doença de Parkinson da Sra. P, a dopamina é incapaz de cruzar essa fronteira. A razão dessa exclusão é a existência de um filtro seletivo, denominado barreira hematoencefálica, que regula o transporte de muitas moléculas do sangue para o cérebro (Fig. 7.13). A barreira hematoencefálica protege o tecido cerebral de substâncias tóxicas que circulam no sangue, bem como de neu- rotransmissores, como epinefrina, norepinefrina, glutamato e dopamina, que exercem efeitos sistêmicos nos tecidos do corpo mas que se ligariam a receptores no SNC, causando efeitos indesejáveis, se o seu acesso fosse permitido. Capilar periférico Vesículas pinocitóticas Célula endotelial Fenestração Capilar cerebral Mitocôndria Junção firme Pericito Membrana basal Processo da astróglia Fig. 7.13 Características dos capilares no sistema nervoso central em comparação com a vasculatura periférica. Na periferia, as células endoteliais capilares possuem lacunas (denominadas fenestrações) entre elas e utilizam vesículas pinocitóticas intracelulares para facilitar o transporte transcapilar de líquido e moléculas solúveis. Em contrapartida,os vasos do SNC são selados por junções firmes existentes entre as células endoteliais. As células apresentam menos vesículas pinocitóticas e são circundadas por pericitos e processos da astróglia. Além disso, as células endoteliais capilares no SNC apresentam mais mitocôndrias do que as células endoteliais nos vasos sistêmicos; essas mitocôndrias podem refletir as necessidades energéticas das células endoteliais do SNC para o transporte de certas moléculas no SNC e de outras moléculas fora do SNC. 96 | Capítulo Sete A base estrutural da barreira hematoencefálica resulta na estrutura singular da microcirculação cerebral. Na maioria dos tecidos, existem pequenas lacunas, denominadas fenestrações, entre as células endoteliais que revestem a microvasculatu- ra. Essas lacunas permitem a difusão de moléculas de água e pequenas moléculas através do revestimento sem qualquer resistência, enquanto impedem a filtração de grandes molécu- las e células. No SNC, as células endoteliais formam junções firmes, que impedem a difusão de pequenas moléculas através da parede vascular. Além disso, ao contrário das células endo- teliais periféricas, as células endoteliais do SNC geralmente não apresentam vesículas pinocitóticas para transporte do líquido da luz do vaso sangüíneo para o espaço extracelular. Além disso, os vasos sangüíneos no SNC são recobertos por processos celu- lares derivados da astróglia. Esses processos desempenham um importante papel no transporte seletivo de certos nutrientes do sangue para os neurônios centrais. Na ausência de um mecanismo de transporte seletivo, a bar- reira hematoencefálica geralmente exclui as substâncias hidros- solúveis. Em contrapartida, as substâncias lipofílicas, incluindo gases lipossolúveis importantes, como o oxigênio e o dióxido de carbono, geralmente podem difundir-se através das membra- nas endoteliais. O coeficiente de partição óleo–água fornece um bom indicador da facilidade com que uma pequena molécula pode penetrar no SNC. As substâncias lipofílicas com altos coe- ficientes de partição óleo–água geralmente podem difundir-se através da barreira hematoencefálica, enquanto as substâncias hidrofílicas com baixos coeficientes de partição óleo–água são tipicamente excluídas (Fig. 7.14). Muitos nutrientes hidrofílicos importantes, como a glicose e vários dos aminoácidos, não seriam capazes de atravessar a barreira hematoencefálica sem a existência de transportado- res específicos. Por exemplo, a glicose é transportada através da barreira por um transportador de hexose, que permite ao nutriente deslocar-se ao longo de seu gradiente de concentra- ção, em um processo denominado difusão facilitada. Os ami- noácidos são transportados por três transportadores diferentes: um tipo de transportador para grandes aminoácidos neutros, como a valina e a fenilalanina; um transportador para aminoáci- dos neutros menores e aminoácidos polares, como a glicina e o glutamato, respectivamente; e um terceiro para a alanina, serina e cisteína. A L-DOPA é transportada pelo transportador dos ami- noácidos neutros grandes, porém a própria dopamina é excluída pela barreira hematoencefálica. Por esse motivo, administra-se L-DOPA em lugar de dopamina em pacientes com doença de Parkinson. Entretanto, após refeição com alto teor de proteína, o transportador pode ser sobrepujado, e, em conseqüência, o transporte de L-DOPA pode tornar-se ineficaz. Isso explica a queixa da Sra. P de que o seu medicamento tornou-se menos efetivo quando começou a seguir uma dieta rica em proteínas. A barreira hematoencefálica também contém diversos canais iônicos, que asseguram a manutenção das concentrações de íons no cérebro em níveis homeostáticos. Assim como determinados nutrientes hidrofílicos vitais têm acesso ao tecido cerebral através de transportadores específicos, muitos compostos lipofílicos potencialmente tóxicos podem ser excluídos do cérebro por uma classe de proteínas, conhecidas como transportadores de resistência a múltiplos fármacos (MDR, multiple drug resistance). Esses transportadores bom- beiam compostos hidrofóbicos para fora do cérebro, de volta à luz dos vasos sangüíneos. (Observe que são encontrados trans- portadores de MDR em muitos tipos de células, onde desem- penham um importante papel em processos como resistência das células tumorais a agentes quimioterápicos.) Uma barreira hematoencefálica metabólica contribui com uma camada de proteção contra compostos tóxicos; essa barreira é mantida por enzimas que metabolizam compostos transportados nas célu- las endoteliais do SNC. Uma dessas enzimas, a L-aminoácido aromático descarboxilase (algumas vezes denominada DOPA descarboxilase), metaboliza a L-DOPA periférica a dopami- na, que é incapaz de atravessar a barreira hematoencefálica. Por esse motivo, o medicamento da Sra. P inclui um segun- do componente, a carbidopa, que é um inibidor da DOPA descarboxilase. A carbidopa assegura que a L-DOPA não seja metabolizada perifericamente a dopamina antes de atravessar a barreira hematoencefálica. É importante assinalar que a própria carbidopa é incapaz de atravessar a barreira hematoencefálica, de modo que ela não interfere na conversão da L-DOPA em dopamina no SNC. n Conclusão e Perspectivas Futuras Este capítulo trata da organização anatômica dos sistemas ner- vosos periférico e central, da transmissão e processamento de sinais elétricos e químicos pelos neurônios, dos principais neu- rotransmissores utilizados por neurônios do SNC e da estrutura e função da barreira hematoencefálica. Embora ele introduza alguns fármacos específicos como exemplos, a discussão con- centra-se nos princípios gerais de anatomia e neurotransmissão que são importantes para compreender a ação de todos os agen- tes farmacológicos que afetam o sistema nervoso. Os capítulos remanescentes desta seção irão discutir sistemas neurotransmis- sores e agentes específicos que atuam sobre o sistema nervoso periférico e sistema nervoso central. Assim, os Caps. 8 e 9 descrevem os sistemas colinérgicos e adrenérgicos periféricos, enquanto o Cap. 10 discute a produção de anestesia local pela inibição da transmissão elétrica através dos neurônios periféri- cos e espinais. O Cap. 11 descreve a neurotransmissão exci- tatória e inibitória central. Embora poucos agentes terapêuticos atualmente disponíveis utilizem a neurotransmissão glutamatér- 0,10 Glicose L-DOPA Metotrexato Manitol Sódio Penicilina Morfina Fenobarbital DiazepamNicotina Etanol Heroína Cloranfenicol Fenitoína Dopamina 0,01 0,010,001 Coeficiente de partição óleo–água P en et ra çã o re la tiv a no c ér eb ro 0,1 1,0 10 100 1,00 Fig. 7.14 Capacidade relativa de compostos do sangue de penetrar no cérebro. Em geral, existe uma correlação entre o coeficiente de partição óleo–água de um composto e a sua capacidade de penetrar no cérebro a partir da circulação sistêmica. Transportadores específicos facilitam a entrada de certos compostos (quadrados) no cérebro, como a glicose (transportador de glicose) e a L-DOPA (transportador de L-aminoácidos neutros grandes). Os transportadores também bombeiam certos compostos para fora do SNC (losangos), como o fenobarbital e a fenitoína. A barreira hematoencefálica metabólica, que consiste em várias das enzimas envolvidas no metabolismo de drogas, também limita a concentração de certas drogas no SNC. Princípios de Fisiologia e Farmacologia do Sistema Nervoso | 97 gica, duas classes principais de fármacos, os benzodiazepínicos e os barbitúricos, afetam a neurotransmissão GABAérgica ao potencializar o efeito do GABA no receptor GABAA. O Cap. 12 discute os sistemas dopaminérgicos e descreve de modo mais detalhado o conceito — introduzido neste capítulo — de que alguns dos sintomas que caracterizam a doença de Parkinson podem ser aliviados por fármacos que aumentam a transmissão dopaminérgica. O Cap. 12 também explica como a inibição da transmissão dopaminérgicapode aliviar alguns dos sintomas da esquizofrenia, implicando que a dopamina pode desempenhar algum papel nessa doença. O Cap. 13 trata dos fármacos que modificam o afeto, isto é, as manifestações externas do humor. Esses agentes incluem os antidepressivos, que bloqueiam a recaptação ou que inibem o metabolismo das aminas biogêni- cas, a norepinefrina e a serotonina, bem como o “estabilizador do humor”, o lítio, que se acredita afete uma via de transdução de sinais. O Cap. 14 explora a farmacologia da neurotrans- missão elétrica anormal, incluindo a ação dos bloqueadores de canais, como a fenitoína, que bloqueiam a propagação de potenciais de ação, inibindo, portanto, muitos tipos de con- vulsões. O Cap. 15 descreve a farmacologia dos anestésicos gerais, cujo mecanismo de ação continua sendo uma área de investigação ativa. O Cap. 16 discute a farmacologia da anal- gesia, incluindo agonistas dos receptores opióides e analgésicos não-opióides. Para concluir, o Cap. 17 trata dos mecanismos de dependência e abuso de drogas, as principais drogas de uso abusivo e os tratamentos para a adicção. n Leitura Sugerida Kandel ER, Schwartz JH, Jessel TM, eds. Principles of neural scien- ce. 5th ed. New York: McGraw-Hill; 2006. (Livro que contém informações detalhadas sobre neuroanatomia e neurofisiologia humanas.) << /ASCII85EncodePages false /AllowTransparency false /AutoPositionEPSFiles false /AutoRotatePages /None /Binding /Left /CalGrayProfile (Gray Gamma 1.8) /CalRGBProfile (ColorMatch RGB) /CalCMYKProfile (U.S. Sheetfed Uncoated v2) /sRGBProfile (sRGB IEC61966-2.1) /CannotEmbedFontPolicy /Error /CompatibilityLevel 1.4 /CompressObjects /Off /CompressPages true /ConvertImagesToIndexed true /PassThroughJPEGImages true /CreateJDFFile false /CreateJobTicket false /DefaultRenderingIntent /Default /DetectBlends false /ColorConversionStrategy /LeaveColorUnchanged /DoThumbnails false /EmbedAllFonts true /EmbedJobOptions true /DSCReportingLevel 0 /EmitDSCWarnings false /EndPage -1 /ImageMemory 1048576 /LockDistillerParams true /MaxSubsetPct 100 /Optimize false /OPM 1 /ParseDSCComments true /ParseDSCCommentsForDocInfo true /PreserveCopyPage true /PreserveEPSInfo false /PreserveHalftoneInfo false 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