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HTP_de_John_Buck com Maria Cecilia Silva-2

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da casa-arvore
(HTP) de John Buck
Marta Cecilia de Vilhena Moraes Silva
o HTP propõe o desenho de temas simples, conhecidos da grande maioria das pessoas,
por meio dos quais podem ser explorados diferentes níveis de proieção da personalidade,
abordando aspectos mais arcai.cos poi meio do desenho da árvore e aspectos menos arcaicos
por meio do desenho da pessoa; o desenho da casa fica em algum ponto entle esses dois
extremos. Desenhos específicos e familiares à maioria das pessoas oferecem, para o clínico,
uma referência para a comparação da produção de um indivíduo em particular com a das
pessoas de mesma idade e stltus socioeconômico equivalente, constituindo, assim, uma
âncora para a interpretação.
Na forma original, proposta por Buck, o HTP envoÌve três desenhos produzidos com
lápis n. 2 e material verbai obtido no inquérito. com o acréscimo sugerido por Hammer
(1991) - o HTP cromático - o clínico dispÒe de um conjunto de pelo menos seis desenhos,
além do material verbaÌ associado, contando, portanto, com uma amostra maior de compor-
tamentos observados em cilcunstâncias distintas. Para o autor, a fase cromática não consti-
tui apenas uma complementaçào da fase acromática. Ela representa um coniunto de condi-
ções em que o suleito perde parte do controle defensivo: o inquérito que a antecede, além 
de
esclarecei aspectos do desenho, força a identificação do sujeito com o que produziu e mobi-
ìiza mais claramente os conflitos subiacentes; o uso da col acentua a participação dos aspec-
tos emocionais; o material - giz de cera - impede o controÌe mals refinado de que o suieito
dispõe quando desenha com o lápis n" 2; a impossibilidade de apagar o que considera erros
no desenho, tendo apenas a oportunidade de escondê-los, coloca o suieito em uma situação
mais vulneráveÌ. Essa configuÍação induz, no examinando, um nível de frustÍação diferente
daquele proposto pela fase acromática e expõe um níveÌ mais profundo de sua personalida-
de, revelando de forma mais evidente os conflitos, as defesas e os recursos psicológicos do
indivÍduo.
Este capítulo aborda as origens do HTP e os acréscimos feitos ao instrumento com o
passar do tempo. Com o objetivã de apresentar diferentes abordagens à análise do material
produzido, sãã apresentados: o simbolismo dos temas Casa, Árvore e Pessoa' o qual fun-
damentam a tradicional interpÌetação do conteúdo; o simbolismo do espaço, que funda-
menta a inteÌpretação da fohã em que se desenha como Ìepresentação do espaço vivencial
pessoatécn ica
i
l
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248 A Ì u a L t z  ç Õ E s E M M É T o D o s p R o l E Í t v o s p a R A A v a L r a ç à o p s t c o L ó c t c a
do indivíduo; por fim, é descrita sucintamente a identificação dos tipos de defesa e de
organização da personaÌidade, desenvolvida poÌ Elsa Grassano (I99 4,1.99 6), como exem-
plo de análise integrada de vários aspectos associadas a um referencial teórico específico,
no caso, os conceitos de Melanie Klein.
Em seguida são apresentados alguns estudos que usam o HTP, o desenho da figura
humana ou o desenho livre para a identificação de variáveis compÌexas, estudos de caso da
vida real e avaliação de intervenções. O capítu1o é encerrado com algumas consideraçòes
sobre pontos Ìevantados no artigo sobre o uso e a interpretação de desenhos.
ORICENS E FUNDAMENTOS TEORICOS
A técnica pÍoietiva da Casa-Árvore-Pessoa (HTP), de John Buck (1948), consiste na siste-
matização de vários procedimentos envoÌvendo a expressão gráfica que, a partir das décadas
de 192O e 1930, foram impulsionados pela substituição da expressão verbal pelo desenho
livre como instrumental para associações livres no tratamento de crianças (Anzieu, 1986).
Já no final de 1926, Florence Goodenough desenvoÌvia, nos Estados Unidos, o teste da
figura humana (DFH) para avaliação do desenvolvimento intelectual de crianças. Karen
Machover, identificando o potencial para o estudo da personalidade da técnica de
Goodenough, cria o Desenho de uma pessoa (DAP, Draw a Person), uma técnica puramente
projetiva.
Em 1928, partindo de uma base exclusivamente intuitiva, o suíço Emil Jucker utilizava o
desenho da árvore para identificar possíveis dificuldades dos clientes que o procuravam em
busca de orientação educacional e vocacionaì. A escolha da árvore como tema, segundo
Jucker, baseou-se no estudo da história da cultura e dos mitos, nos quais a árvore tem simbo-
lismo privilegiado (Van Kolck, 1984; Hammer, 1991). Em 1934, Schliebe, na Alemanha, com
o obietivo de investigar os afetos, solicitava vários desenhos de áNores, nesta seqüência:
uma árvore qualquer, depois geÌada, alegre, pedindo ajuda, sofrendo e, por fim, morta. Dis-
cípulo de Juckeç Karl Koch criou o Teste da Arvore a partir de estudos experimentais com
desenhos desse tema em situações de hipnose, reflexões fenomenológicas sobre os possíveis
significados de cada traço da produção gráfica e aplicação de tratamento estatístico ao mate-
ÍiaÌ coletado (Van Kolck, 1984; Hammer, 1991). Posteriormente, Renée Stora, na França,
adaptou e modificou a técnica, tornando-a mais didgida (Anzieu, 1980), mas seu trabalho
teve pouca repercussão no Brasil.
John Buck (1948) sistematizou os dados das técnicas desenvolvidas por Koch e Machover
e acrescentou o desenho da casa. PosterioÌmente, Emmanuel Hammer introduziu o HTP
cromático no procedimento, visando a investigar a personalidade em um nível mais pro-
fundo do que o possibilitado pela produção acromática (Hammer, 1991).
A tarefa de desenhar os três temas pode ser considerada como um tipo de teste situacional
no qual o sujeito enfrenta não só o problema de desenhar o tema indicado, como também
com o de orientar-se, adaptar-se e compoÌtar-se numa situação específica. Para isso, eÌe mos-
tÌará um comportamento verbal, expressivo e motor. Esses comportamentos, assim como o
próprio desenho, fornecem os dados para a análise psicológica (Lery, 1991).
T É c N r c À s c R À F t c À s 249
PRINCIPIOS DE INTERPRETAÇÃO
!' A produção pode ser analisada sob três perspectivas: adaptativa, expressiva e projetiva
r (van Kolck, 1984). A diferenciação em três perspectivas é puramente didática, uma vez que
i' os Íês aspectos são inseparáveis. Da mesma forrna, os vários desenhos devem ser analisados
em coniunto, procurando-se padrões característicos da produção do suieito.
A perspectiva adaptativa avalia a adequação do sujeito à tarefa, considerando a qualida-
de da produção tanto em termos formais de correspondência ao grupo etário e sociocultural
ao qual o indivíduo pertence, quanto à compatibilidade entre o que foi solicitado e o que foi
produzido. De modo geral, os problemas de adaptação se devem a recuÍsos intelectuais insu-
ficientes, problemas orgânicos, patologias mais graves ou problernas emocionais intensos.
A perspectiva expressiva analisa o estilo próprio do suieito. Como destaca Hammer
(1991), nossos músculos não mentem; a análise volta-se para a expressão psicomotora do
indivíduo, levando em conta também os comportamentos não-verbais apresentados durante
arealização da tarefa. Considerando que a folha em branco representa o ambiente delimitado
imposto ao sujeito (Van KoÌck, 1984), o modo como o indivíduo o utiliza revelará sua
orientação geraÌ em reìação ao mundo e a si próprio. Os aspectos expressivos revelam
características estáveis do indivíduo, como as atitudes básicas em relação a si e ao ambiente,
o grau de energia de que dispõe e como a investe, o controle na expressão dos impulsos e os
Ìecursos cognitivos potenciais e efetivamente usados para dar conta das tarefas propostas
(Hammer, 1991).
A perspectiva proietiva concentÍa-se no modo como o tema é tratado e avalia a atri-
buição de qualidades às situações e obietos representados, o que permite identificar áreas
de confÌito mais significativas (Van Kolck, 1984). Aqui a atenção se volta para as diferen-
tes partes representadas e a análise se fundamenta no aspecto simbólico dos elementos
analisados.
ASPECTOS SIMBOLICOS DA TRIADE CASA-ARVORE-PESSOA
A experiência tem demonstradoque os temas árvoÌe, casa e pessoa são os preferidos
pelas crianças quando são solicitados desenhos livres. Em pesquisa realizada na Inglaterra,
Griffiths, citado poÌ Hammer (1991), constatou que a figura humana é objeto mais desenha-
do espontaneamente pelas crianças pequenas, seguida da casa e depois da árvore.
O HTP parte do pressuposto de que existe, no homem, uma tendência a ver o mundo de
modo antropomórfico. Assim, eÌe tende a atribuir a sua visão a outros habitantes do mundo,
o que permite identificar-se com eles e não apenas com seus pares humanos. Nesse sentido,
a casa, a árvore e a pessoa desenhadas no HTP não deixam de ser representações da imagem
que o indivíduo tem de si.
A Casa suscita associações à vida familiar e doméstica, tanto para crianças quanto para
adultos. O clima geral (ou atmosfera) do desenho é bastante indicativo de como o indivíduo
sente o seu ambiente. Segundo Hammer (L99L), a casa Ìepresenta mais freqüentemente o
auto'Íetrato com elementos de fantasia, ego, contato com a realidade, acessibilidade e também
a percepção da situação doméstica. Para a avaliação da integridade do ego, especial atenção
deve ser dada à solidez das paredes; o grau de uso da fantasia e da ideação pode ser indicado
pela proporção entre a área do corpo da casa e a do telhado. As aberturas para o mundo,
repÌesentadas pelas portas e janelas, são boas indicações da disponibilidade do indivíduo
250 A Ì u A L t z A ç Õ E s Ê M M É Í o D o s p R o l E Ì r v o s p a R A A v A L t À ç Ã o p s t c o L ó c t c A
para a interação sociaÌ. Os elementos acessórios, como chaminés, iardineiras, grades de
proteção, também devem ser considerados em seus aspectos simbóÌicos, procurando-se
compreender a que servem e identificar os conflitos ou necessidades que podem ter motivado
sua inclusão. Por ser o primeiro da série, muitas vezes o desenho da casa apresenta poucos
detalhes ou tamanho pequeno, ou é desenhado no canto superior esquerdo da folha. Essas
produções podem indicar uma atitude de cautela decorrente da falta de referências quanto
ao que virá em seguida. Caso essas características apareçam somente nesse primeiro desenho
da casa, a importância da pÌodução no quadro geral será menor, devendo-se enfatizar a própúa
atitude do indivíduo frente a uma situação sobre a qual não tem controle.
A Árvore, poÍ sua condição mais básica, natural e vegetativa, favorece a pÍoieção de
sentimentos mais profundos da personalidade e do sef em um nível mais primitivo. Como
a relação entre o indivíduo e a árvore não é tão evidente, esse desenho favorece também a
atribuição de sentimentos mais profundos, negativos ou perturbadores com menos exigên-
cia de manobras defensivas do ego (Hammer, 1991). A Árvore tem alto valor simbóhco e o
emprego universal de seu simbolismo foi constatado por autores de diferentes áreas como
Carl Gustav Jung (1991), Joseph CampbelÌ (1990), Sir James G. Frazer(1986), apenas para
citar alguns. Nossa identificação com a árvore pode ser observada pelo uso metafórico de seu
cicÌo anual como representação das fases da vida - observamos na árvore nosso próprio
processo de crescimento, reprodução e morte, e também a possibilidade de recuperação.
Jung considera a áwore como um motivo pÌesente em sonhos, mitos e lendas de várias
culturas, podendo assumir diferentes significados: evolução, crescimento físico ou amadure-
cimento psicológico. Além disso, esse tema está intimamente relacionado com o simbolismo
da cruz, uma forma esquematizada de árvore. Desenhar uma cruz é representar a si mesmo;
a árvore é simbolismo do homem enquanto ser veÌtical e representa o crescimento e a evolu-
ção, graças à proeminência do eixo vertical em sua estrutura, em oposição ao simbolismo dos
animais, mais associado à vida instintiva. Expressões como "me senti podado" ou "ele resga-
tou suas raízes" ou a pdmeira frase da obra Ricardo III de William Shakespeare, "o inverno da
nossa desesperança" (também título de uma obra de John Steinbeck) remetem à nossa iden-
tificação com a árvore e o ciclo das estações. Para a avaliação da integridade do ego, especial
atenção deve ser dada à soÌidez do tronco; o grau de uso da fantasia e da ideação pode ser
indicado pela proporção entre tÍonco e copa. As diferentes possibilidades de interagir com o
mundo são indicadas pelas ramificações dos galhos. Elementos acessórios, como flores, fru-
tos, nós na superfície do tronco, também devem ser considerados em seus aspectos simbó1i-
cos, procurando-se compreender a que seÌvem e identificar os conflitos ou necessidades que
podem ter motivado sua inclusão.
O desenho da Pessoa nitidamente tem características de "humanidade", com as quais
o indivíduo prontamente se identifica. Geralmente o desenho da pessoa geÌa pÌotestos e
reclamações poÌ parte de suieitos adultos. Não se pode negar que se trata de um desenho
mais difícil de fazer do que o de uma casa ou de uma árvore. Há mais detalhes, as dìficuida-
des com as pÍoporções ficam mais evidentes. Porém, é preciso considerar que, como o dese-
nho da pessoa mobiliza conflitos mais próximos da consciência, é natural que a ansiedade
aumente, assim como as manobras defensivas para contorná-la. Por esses motivos, o dese-
nho da pessoa tende a ter uma qualidade inferior à dos dois desenhos anteriores.
O desenho da pessoa é determinado por fatores psicodinâmicos nucleares resultantes do
conceito de imagem corporaÌ - a imagem física em sua estrutura, e em grande paÌte incons-
ciente, do tipo de pessoa que se é, que cada um de nós Ìeva em seu aparelho psíquico. Essa
imagem se baseia em parte nas convenções, em paÌte nas sensações e estrutura somática, e
Ì É c N l c A s c R Á F r c a s
em parte na tÍansposição simbólica das atitudes em caracteÌísticas somáticas. E construída
a partir de todas as imagens, sensações e emoções pelos quais o corpo passa ao longo da
vida, constituindo o estÌato inconsciente das representações corporais (Schilder, 1981)'
Por esse motivo, esse desenho manifesta mais prontamente a visão de si mesmo mais pró-
xima da consciência e a relação com o ambiente. Para a avaÌiação da integridade do ego,
especial atenção deve ser dada à integridade do corpo, à delimitação clara dos seus limites
em relação ao ambiente que o cÌrcunda; o grau de valorização dos processos ideacionais
em oposição aos emocionais pode ser identificado pela proporção entre cabeça e tlonco.
As diferentes possibilidades de intelagir com o mundo são indicadas pelas mãos e braços; a
disponibilidade para entraÌ em contato com conteúdos internos ou extelnos é expressa
pelo tamanho e qualidade dos olhos, en tre outros. Elementos acessórios, como boìsas,
iinto, o.r anéis, também devem ser considerados em Seus aspectos simbóÌicos, procurando-
se compreender a que seÌvem e identificar os conflitos ou necessidades que podem ter mo-
tivado sua inclusão.
fupectos simbólicos do uso do espaço
considerando que a folha em branco representa o ambiente delimitado imposto ao
sujeito, a anáÌise do modo como o indivíduo o utiliza revela sua olientação geral em reÌação
aomundoeasipróprio,ouseia,oseuespaçoexistencial 'Osimbolismodoespaçoapresen-
tado por Max pulvei fundamenta várias interpretações do uso do papel, como é o caso do
HTR ãu de outras superfícies, como a tampa da caixa do teste da Aldeia, de Arthus (Anzieu,
1986; Augras 1980).
SegundoPulver,emseusestudosparafundamentaraanálisepsicológicadaescrita,o
simboúmo espaciaÌ precede o simbolismo verbal, e a expressão gráfica, como a altística,
revela sistema; anímicos de organização do mundo. Nas palavras de Augras (1980): "o
espaço aparece como um srstema de Ìinhas convergentes cujo ponto de encontro é 
o ho-
mem" (p.244).
ParaPulver,esseespaço,queeStádentrodecadapessoa,., foÌneceumaordemprimordial
que é simbólica, isto é, intuiìiva e ainda não intelectual" (Pulver, 1953, mencionado em
Áugras, 1980). O autor usa um esquema em cruz para representar o espaço' no qual integra 
a
diriensão temporai (direção) à dimensão espacial. No eixo horizontalda cruz, o lado 
esquer-
does táassoc iadoàor igem,aocomeçodetudoe,porex tensão,aopassado 'à in t roversãoéà
Mãe; o Ìado direito, por sua vez, assócia-se à evoiução, à extroversão e' por extensão' 
à reali
zação no ambiente, ao futuro, ao Pai. No eixo vertical, há uma Ìinha intermediária 
(que
corlespondeàpauta,naescri ta)querepÌesentaareal idadeexteÌnaperceptível,ondetudo
pode acontecer; esse plano equivále à esfera empírica do ego 
- o que em teÍmos concretos
equìvaleria ao espaço que periebemos da superfície de apoio dos nossos 
pés a até um pouco
acima do plano visual horizontaÌ. Acima, a área consciente, envolve as "funções 
supeliores"'
associadai aos pÌocessos de pensamento, imaginação ou, segundo a denominação 
do autor'
da InteÌectualidade - basta ábraruu, como tendemos a olhar para cima 
quando-nos esforça-
mos em concentrar a atenção nos nossos pensamentos' Abaixo encontra-se a 
área do não-
visível, da materiaÌidade, do inconsciente
O simboÌismo do espaço permeia várias formas em que configuramos obietos 
e expenen-
cias da nossa vida diária. 1'or'exemplo, ao dizermos "Joié está no mundo 
da lua" ou "Você
precisadarasasàimaginação,,,referimo-nosaosplocessosideacionais,entendidoscomo
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ii
A Ì u A L l z Á ç õ É s E M M É Ì o D o 5 p R o l E Ì r v o s p a R A A v A L t A ç À o p s t c o L ó c r c A
"acima", assim como a concepÇão habitual de céu; por outÍo lado, dizemos que "É preciso
mergulhar nos conteúdos do inconsciente", aquilo que está abaixo, oculto sob a terra firme
em que pisamos, assim como a concepção habitual de inferno. Entendemos também que
nossos sentimentos vêm "de baixo", e precisam ser controlados pela cabeça: "me subiu uma
raiva e perdi a cabeça". Também as metas a alcançar são repÌesentadas como escaladas no
eixo vertical: "ele quer subir na vida", "ela tem metas muito altas", "ele é uma alpinista
social".
O eixo hoÍizontaÌ indica progressão e a dimensão temporal, o que pode ser constatado
em expressões como "ele paÌece que não avança, não sai do Ìugar" (permanecer no ponto de
origem, à esquerda) ou em "não coloque os bois à frente do carro" (a ação precipitada, para
a direita) ou ainda em "é preciso enxergar mais longe" (ter uma visão do futuro).
Esse simbolismo, apresentado aqui de modo extremamente conciso, apÌica-se também
aos três temas do HTR o que permite compará-los: uma área inferior, de base, que constitui o
apoio do objeto na realidade prática, representada mais claramente pelos pés da figura hu-
mana e pelas raízes da árvore ou área de apoio da árvore e da casa sobre o solo; uma área
intermediária, de estrutura sólida, que asseguta a sustentação do objeto e que representa
características mais estáveis do objeto (paredes da casa, corpo da pessoa, tronco da árvore);
uma área superior, menos estávei, mais móvel ou fluida (telhado da casa, copa da árvore,
cabeça e feições da figura humana). Considerando o simboÌismo do espaço pÍoposto por
Pulver, essas três áreas corresponderiam, respectivamente, à (1) área corporal, do inconscien-
te, da matéria; (2) a ârea do ego, que assegura a integridade do indivíduo, e de suas relações
tanto com as pulsões como com as demandas do ambiente, do qual se diferencia; (3) a área
dos processos de ideação, do pensamento, da imaginação. Nos desenhos, a harmonia dessas
três áreas, sua afticulação e proporções adequadas indicam uma personalidade integÌada que
faz pleno uso de seus recursos internos, Mais preocupantes são as produções em que iusta-
mente a parte r/estrutuÌaÌ" dos desenhos se mostra comprometida (paredes em ruÍnas ou a
ponto de desabar, delimitação incerta ou irregular do corpo da pessoa ou do tronco da árvo"
re). Os aspectos de integridade e harmonia são particularmente importantes na análise das
defesas desenvolvida por GÌassano (1994, 1996), abordada a seguiÍ.
Uso das defesas nas técnicas gráficas
Elsa Grassano (1996), apoiada na teoria kleiniana, propõe indicadores para o diagnósti-
co das defesas com base no desenvolvimento evolutivo dos processos defensivos identifica-
dos na produção gráfica: dos mecanismos esquizóides para os mecanismos maníacos e obses-
sivos da etapa depressiva para a emergência de mecanismos neuróticos e mais avançados. O
fracasso na primeira ou na segunda etapas permitirá o diagnÓstico do tipo de organização
neurótica, psicótica ou psicopática da personalidade. A autora destaca que não basta somen'
te ÌotuÌar as defesas; é necessário compreender o plocesso dinâmico de que fazem parte, o
que envolve identificar a modalidade defensiva, por que o ego optou por e1a, com que fina-
lidade optou por ela, a que nível evolutivo corresponde a modalidade defensiva e que caÍac-
terísticas tem essa configuração defensiva (plasticidade, rigidez etc). A partir dos indicadores
levantados, Grassano caracteriza as produções neuróticas, psicóticas e psicopáticas.
A análise concentra-se na integração do aparato psíquico e no desenvolvimento de fun-
ções de discriminação, por um lado, e no desenvoivimento de funções simbolizantes (pensa-
mento lógico-abstrato, repaÌação e subÌimação), poÍ outro.
i
li
T É c N r c Á s c R Á Ê t c a s
Para avaliar o grau de integração do aparato psíquico e desenvolvimento de funçoes
de discriminação, volta a atenção para a percepção da realidade, indicada pero tratamento
que recebe a folha como representante simbótico do espaço extemo, ou seia, como o sujei-
to "povoa" esse espaço, e paÌa as características da estruturação intrapsíquica, reveladas
peÌas caracteísticas estruturais de cada obieto obtido (qualidades harmônlcas ou desarti-
culadas; objetos compÌetos, incompletos, parciais/reais, imaginários, bizarros). são obser-
vadas a preservação da gestaÌt, a qualidade das figuras, o grau de diferenciação das figuras,
o tipo de movimento (expansivo ou impedido ou coartado); noções de peÌspectiva, inser-
ção adequada das partes; também a localização e o tamanho são consideÌados Ìepresenta-
ções da localização do próprio ego com relação ao mund.o externo em termos de seguran-
ça, insegurança, megalomania.
Para a avallação do desenvolvimento de funções simbolizantes, Grassano considera
que a produção gráfica revelará as ansiedades ou preocupações mobiÌizadas no indivíduo
fiente à reparação e o estado de seus objetos inteÌnos e seu ego (inteiros, quebrados,
parcializados etc). como sublimação e reparação estão indissoluvelmente unidas, o grau
de desenvolvimento da capacidade sublimatória se expressada gÌaficamente na disposi-
ção, atitude e modaÌidade com que o indivíduo enfrenta a tarefa proietiva e no aspecto
inteiro, sólido, harmonioso (reparado) ou, ao contrário, destÍuído do objeto gráfico.
As produções neuróticas caracteÌizam-se pela preservação da Gestalt, da delimitaçâo e
das qualidades centÌais que caracteÌizam os obietos na realidade. Os elementos patoÌógicos
se manifestam em pequenas áreas e se expressam por ênfase exagerada, omissão ou zonas
confusas que não compÌometem a organização da totalidade.
As produções psicóticas caracterizam-se pela fragmentação e a dispersão de elementos. A
produção tem uma aparência geral confusa. A desorganização é observada também nos obje-
tos gÌáficos individuais, cujas características se afastam das observadas na realidade; os dese-
nhos têm uma aparência estranha e parcial. Os mecanismos de spllffrng e identificação projetiva
excessivos provocam a desorganização do ego e do objeto e vivências de esvaziamento e
despersonalização.
Nas produções psicopáticas, a identificação projetiva indutora excessiva leva à paralisa-
ção e à anulação da capacidade de discriminação do objeto externo. O "mau" é depositado
no objeto externo, mas ao contrário do que ocorÌe com da identificação projetiva psicótica,
o ego mantém o controle do proietado para evitar a Ìeintroieção e para Ìevar o objeto a
assumir ativamente as características proietadas. Geralmente há produção de obietos gran-
des, expressão de necessidade de difundir a imagem corporal, o corpo, no continente obieto
externo. A ênfase é coÌocada na musculaturade braços, pernas e tórax - exacerbação de
mecanismos de ação e necessidade de instrumentar o apaÌato motoÌ como expulsivo-expan-
sivo de controle do obieto.
PESQUISAS COM O HTP
O HTP, e particulaÌmente o desenho da figura humana, tem sido bastante utilizado em
pesquisas que procuram avaliar auto-estima, imagem corporal e diferentes aspectos pslcoló-
gicos de grupos cÌínicos diversos. A aplicação das técnicas gráficas sofre pequenas alterações,
dependendo do tempo disponível, do contexto em que se dá a avaliação e das especificidades
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A Ì u a L t z a ç ó E s E M M É Ì o D o s p R o J É Í r v o s p A R A a v a L t a C Ã o p s t c o t ó c t c Á
do grupo estudado. Nesta seção, serão abordados alguns estudos que envolvem as técnicas
gráficas em diferentes contextos e para finalidades diversas.
Estudos associados à obesidade
Santos, Peres e Benez (2002) utilizaram o desenho da figura humana para delinear o
perfil psicoiógico de 10 adultos obesos mórbidos submetidos a um programa multidisciplinar
de reeducação alimentar. Para o estudo foram seiecionados pacientes com idade acima de 21
anos, Índice de Massa CorporaÌ compatível com obesidade mórbida e que não apresentavam
problemas psiquiátricos ou de saúde que impedissem o retorno ambulatorial. A aplicaçào,
individuai, seguiu o procedimento sugerido por Machover: dois desenhos de figura humana,
um de cada sexo, com lápis preto no 2 e folhas de papel tamanho Oficio.
Para a análise do material coletado foi elaborado um protocolo de avaliação, compos-
to por 41 indicadores envolvendo aspectos gerais, formais e de conteúdo. Entretanto, para
a interpretação priorizou-se a análise qualitativa, considerada mais profunda e reveladora
do que a avaÌiação quantitativa. As observações coletadas durante o contato de aproxima-
damente 90 dias com os participantes, por ocasião da intervenção multidisciplinar, tam-
bém foram articuladas com a elaboração das hipóteses interpretativas.
Em linhas gerais, os desenhos indicaram, no grupo estudado, caÍacterísticas psicológi-
cas coerentes com as encontradas na liteÍatura sobre obesos: dificuldades de contenção de
impulsos; tendência à imaturidade, passividade, dependência e insegurança; busca de sa-
tisfação no plano da fantasia; imagem corporal permeada por sentimentos de inadequação,
inferioridade, descontentamento, baixa auto-estima e inibição. Segundo os autores, os
dados obtidos por meio dos desenhos serviram de subsídio para o direcionamento do aten-
dimento psicológico, visando à maior conscientização dos problemas emocionais
vivenciados, o que pode ter contribuído para a adesão dos sujeitos ao tratamento.
AÌmeida, Loureiro e Santos (2002) usaram o desenho da figura humana e uma entreüsta
complementar para avaliar a auto-imagem de 30 mulheres com obesidade mórbida e compará-
las com a auto-imagem de 30 mulheres não obesas. Como no estudo acima, a apÌicação seguiu
o procedimento sugerido por Machover. A avaliação dos resultados foi feita quantitaüvamente,
a partiÍ de itens cujos significados, segundo a literahÍa, estão mais associados à imagem cor-
poral, sendo 10 de aspectos geÍais e 15 de tamanho e propoÌcionalidade da configuração gìo-
bal e de partes específicas (como cabeça, olhos, ombros e outras) de cada desenho. A codificação
foi feita por quatro psicólogos, divididos em duas duplas. Cada protocolo foi avaliado de modo
independente por dois psicólogos. Em caso de discordância, um terceiro psicóÌogo, da outra
dupla, avaliou o item em questão. O nível de concordância entre avaliadores atingiu a média
de 0,83 no grupo de obesas e variou de O,7O a O,92 no grupo de não-obesas. A descrição do
perfiI geral de cada grupo baseou-se na freqüência e na porcentagem dos índices predominan-
tes. A comparação entre os dois grupos utilizou o Têste +2 ou o Têste de intervalo de confiança
entre proporções, dependendo do número de índices envolvido em cada item.
Os resultados mostraram que a produção da maioria dos itens não apresentou diferen-
ças significativas entre os dois grupos. EntÌetanto, os itens que apÌesentaram diferenças
significativas, segundo os autores, são os que se supõe sejam os mais relevantes quanto à
questão da imagem corporal: desenho realizado no 4" quadrante; cabeça grande ou muito
grande; olhos pequenos; tronco representado de forma distorcida; mãos grandes, muito
grandes ou omitidas; pernas longas e finas. Quanto às características gerais da produçã0,
foi observada maior freqüência no gÍupo de obesas: Ìinhas finas; traçado de avanços e
recuosl desenhos localizados na parte superior da folha; linhas gtossas; traços trêmuÌos;
desenhos localizados no 4o quadrante; ausência de temática específica. A forma como essas
il
i
Ì É c N r c a s c R Á F l c A s
mumeres representam braços, olhos e pernas sugerem farta de confiança na própria produ-
tividade e na manipuração do ambiente, e inadequação no contato com as pessoas.
No gÌupo de murheres não-obesas destacaram-se sinais de agressividade, dependência
e de falta de controÌe em reÌação ao ambiente (tamanhos globais, olhos e nariz grandes),
tendência a se guiar mais peÌos impulsos do que pera reflexão (pescoço grosso, de lamanho
médio ou curto) e confiança nas funções intelecúais e sociais (cabeça de tamanho médio).
De modo geral, tronco, tórax, peito e pernas foram representados ãe forma adequada, in-
dicando satisfação com a forma corporal e estabilidad; com relação ao corpo. Seg'ndo os
autoÌes, as fontes dos sentimentos de inadequação evidenciados no desenho da fisura hu-
mana quanto à imagem corporal das mulheres obesas podem ser de diversas ,ruttrrúur, qrr"
a análise adotada no estudo não peÌmitiu identificaÌ.
Estudo de validade com avaliação da auto-estima
Silva e Villemor-Amaral (2o06) rcalizanm um estudo com o obietivo de evidenciar a
validade conconente entre as categorias de indicadores de auto-estima do GAT-A e do HTp.
Para tanto, foi calculada a correlação entre os indicadores de auto-estima dos dois rnstru-
mentos e também com os resultados no EMAE - Forma A, um instrumento de auto-ÌeÌato
(Gobitta e Guzzo,2004, citados em Silva e Villemor-Amaral). Do estudo paÌticip arjam 32
cÌianças, com idades entre 7 e L0 anos, de ambos os sexos, freqüentando da 2". à 4". séries
do ensino fundamental de uma escola da rede pública do interior do Estado de são paulo.
Apenas a fase acromática do HTP foi aplicada. os dados mostraram correÌação positiva e
moderada quanto à auto-estima entÍe o HTp e o CAT-A (0,525). Em relação ao EMAE, a
correlação com o CAT-A foi positiva e baixa (0,381), ao passo que com o HTp não foi
encontrada correÌação significativa.
Embora as cÍianças da amostra em sua maioria tenham apresentado auto-estima eleva-
da nos três instrumentos, os resultados no EMAE mostram uma concentração de 93,9olo da
amostra com auto-estima elevada, em oposição a 78,Io/o no CAT-A e 87,So/o no HTp. Segundo
as autoras, os dados demonstraÌam que os índices de correlação entÌe os instrumentos per-
mitiram encontrar evidência de vaÌidade para o cAr-A e o HTp. As autoras concluem ainda
que as diferenças observadas entre os diferentes instrumentos podem deconer do fato de o
HTP avaÌiar a auto-estima implícita e o EMAE, por apoiar-se mais nas funções cognitivas,
avaÌiar a auto-estima explícita. o GAT-A avaliaria os dois tipos de auto-estima, por ser proÍetivo
mas também por se apoiar nas funções cognitivas, devido ao seu caráter verbal.
Estudos de identificação de abuso sexual
Segundo Deffenbaugh (2003), à medida que os testes proietivos se popularizaram, au-
mentou o número de estudos visando à identificação de elementos que pemitissem a detecção
de problemas emocionais específicos. Essa tendência pode ser particularmente observada na
busca de indicadores de abuso sexual por meio do HTP e do desenho da figura humana.
A autora aponta aÌguns esforços nesse sentido. Já na década de L94O, Laura Bender,
que trabalhava com crianças vítimas de abuso sexual, identificou casas pintadas ou con-
totnadas em vermelho e chaminés e árvoresfálicas como elementos bastante freqüentes
na produção dessas crianças. Esses dados foram confirmados posteriormente por Cohen e
Phelps, quarenta anos depois.
A Ì u  L r z  ç ó É 5 Ê M M É Ì O O O s P R O ì t Í t v o s 
P A n a A V A L I A ç Ã o P s l c o L ó c Ì c Á
Deffenbaugh(2003)Ievantaváriascrít icasaousodosdesenhos,comoasjáconheci
dasalegaçõesdesubjet ividadedainterpletaçãoefaltadefidedignidadeevalidadedoins-
trumento. Levanta também a hipótese de que a maioÌ 
exposição das crianças à sexualida-
de, nos dias de hoie, coloque em dúvida a adequação 
de manuais escritos no passado'
R;;;h..., porém que o HTP apÌesenta "benefícios 
logísticos"' ?rimeiro' é um instrumen-
to que demanda pouco tt*po d" aplicação e é de baixo 
custo; pode ser reaplicado durante
o período de terapia, para avaliação do tratamento 
e' nesse sentido' consiste em "anota-
,uãr-"ìr*o" oa evoluçao ou lriu.rçu. 
A autora concorda com Allan e clatk (1984), para
irr"* o HTP não deve ser usado 
apenas no início da relação paciente-terapeuta; como os
desenhos favoÍecem a expressão dãs pensamentos 
€ sentimentos da criança' o teÍapeuta
pãlïrãìrã-i., puru .orrúdá-lu u .*florur partes de 'm 
desenho particuÌar; no mesmo
sentido, as verbalizaçõe, oultiuttçu às'otiaàus à 
produção constituem lma-valiosa fonte
de informaçÕes para o teraPeuta' Para a autora' a 
principal vantagem a9 UlP é favorecer
uma relação de confiança com o terapeuta que lhe 
permiiirá falar a respeito de seus proble-
mas de modo mais aberto' Boa parte'das reitrições 
de^Deffenbaugh ao instrumento baseia-
," .ru p"rqrriru feita por Palmer e colaboradores 
(2000)'
Palmer (2000) avaliou ãs desenhos do HTP de 47 
crianças com histórico confitmado
deabusosexua l ,a rqu ivadosnoNewarkBeth ls rae lMed ica lCenter 'emNewJersey 'nos
EstadosUnidos,comaproduçãodeumgrupocompostoporcriançasdeduasigreiaslocaÍs'
além dos iÌmãos, sem historico de abuso' das crianças 
do primeiro grupo' A avaliação foi
feita poÌ meio de quatro es;las desenvorvidas 
por van Hutton (1994, citado por Palmer e
colaboÌadores): SRC (preocupação com conceitos 
reÌevantes em teÌmos sexuais); AH
(agressividade e hostilidade); ivGA (retraimento. e acessibiiidade 
resguardada) e ADST (vi-
gilância quanto ao perigo, uíi"'at At 'u'ptita e falta 
de confiança)' As escalas de Van Hutton
consistem em um conlunto de itens agrupados 
segundo o aspecto comum que avaliam'
Por exemplo, a escala SRc inclui itens"coÀo: 
ênfase no dormitório' cabelo enfatizado ou
eiaborado, indefinição do 'e"o da figura' figura 
do sexo oposto ao da criança' pescoço
comprido. A escala AH contém itens como 
pïesença de dentes, ênfase no quelxo, dedos
sem mãos, maior pressão na linha da boca' Embora 
reconheçam as limitações da pesquisa'
os autores, com base ,ro, ."r.riiuoor obtidos, concluem 
que o HTP não contribui para o
processo de avaliação o" uU'"o sexual e recomendam 
quó nao seja usado para identifical
ou confirmar u o.onct'tiu ãl'su pástiUifiaaae' 
os probÈmas metodológicos do estudo re-
conhecidos pelos autores 'aotfutiu de informações 
sobre variáveis culturais e raciais' nível
de escolaridade dos pais e treinamento aÌtístico 
anterioÌ; registros dos abusos,sexuais de
qualidade irregular 
" "'i"ito'-u 
uies; composição do grupo de controle sem avaÌíação 
ade-
ãuada da possibilidade de os irmãos incluídos terem' 
também eles' sido vítimas de abuso
ï.#'ï#;;ã,ìãatt do grupo de comparação 
eÌa L ano e meio inferior à média do
grupo clínico; a amplitude de"idàes no grupo vitimizado 
era de 4 anos e 6 meses a 17
anos e 5 meses, enquanto no grupo de comparação.a 
amplitude era de 5 anos'e 2 -l]tt u .
13 anos e 9 meses; "1é- 
d;;;;;i;sda idaàe, não houvè controle adequado 
das variáveis ':
gêneroeníve lsoc ia l .Emnen.hummomentoosautores levamemcontaofa todeoHTPte l . i
sido aplicado de forma coletiva nas crianças, 
nas próprias igrejas. Em uma sala de aula' I
foram fornecidas quarro folhas de papel às crianças, 
ápós uma bÌeve apresentação infor- '
mandoqueapesqu isaVisavaacompr"e ' 'd " rme lhorosdesenhosdecasa,á IVoIeepêssoa: l
das crianças. Nao há daOos sobre como os desenhos 
foram solicitados' Não há como asse
guÌar que a motivação oã"ui ttlu"çut para desenhar 
e o envolvimento emocional com â
tare fa te Í Ihamsidoosmesmo'aog" 'poc l ín ico 'submet idoaap l icações ind iv idua isem:
)
T É c N r c A s c R Á F t c Á s
üm contexto de investigação mais amplo. Não nos deteremos mais nessa pesquisa, mas
ela é um bom exemplo de como muitas vezes as conclusões de estudos com graves falhas
metodológicas passam a ser citadas como evidências favoráveis ou desfavoráveis a um
instrumento, sem levar em conta as limitações ou inadequações desses estudos.
Briggs e Lehman (1989) demonstram como os desenhos são importantes para o diagnós-
tico de ocoÌrência de abuso sexual. Em seu artigo, as autoras apÍesentam dois casos: um em
que havia a certeza de abuso sexuaÌ - uma menina de cerca de 4 anos relatou à mãe que um
homem a havia tocado nos genitais; no outro caso, a suspeita foi Ìevantada pela professora
de uma menina de 5 anos, assustada com a quantidade de símbolos fálicos que a garota
apresentava em seus desenhos, e com a impressão que eles the transmitiam de que "algo nào
estava bem". A anáÌise isolada de partes dos desenhos pouco esclarece, mas a produção das
duas meninas mostra claramente um aÌto grau de ansiedade e sentimento de desamparo
fiente a um ambiente ameaçador. Destaca-se a pobreza de detalhes das representações de si
quando comparadas às de outras figuras desenhadas poÍ essas crianças.
Após o incidente, a primeira menina passou a se desenhar sem braços e com a linha do
solo. Seis meses após o ocorrido, e antes de ser levada a uma psicóloga, ela desenhou "o
homem que eu não gosto" com braços Ìargos e grandes e traços como dedos, além de fazer
um pequeno tÌaço na região genital. As cores predominantes são loxo, vermelho e pleto.
Segundo as autoras, seus desenhos mostram que ela passava por grande sofrimento emocio-
nal. Após a primeiÌa sessão de terapia, a garota desenhou a si e à telapeuta. Embora a terapeuta
seja desenhada com mais detalhes, as duas figuras têm dois braços e não há linha do solo.
Abaixo, um desenho em que a criança se apÌesenta na banheira, cercada por "uma aranha,
uma cobra, uma minhoca e uma abelha", realizado antes da intervenção terapêutica (Briggs
e Lehman, 1989, p. 138).
257
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11
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Ì
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,e
\
A segunda criança de fato estava sofrendo abuso sexual por paÌte de seu irmão e possl-
velmentó da mãe - que tinha histórico de abuso sexual em relação ao filho mais 
velho.
como apontam as autoras, os desenhos dessa menina, a1ém dos folmatos fálicos, 
apre-
sentavam auto-retratos sem feições e sem braços; ao desenhar a familia na casa' o 
irmão
A Ì u Á L r z Á ç Õ a s Ê M M É Ì o o o s p R o J E Ì t v o s p Á R A a v A L t A c à o p s t c o L ó c t c Â
foi representado com um "terceiro membro", próximo à virilha,
um pênis ereto. Abaixo, o desenho da casa. O contorno foi feito
figuras superiores são respectivamente o irmão e a mãe; a criança
porta, apoiada na linha do solo. (Briggs e Lehman, 1989, p. 746)
que mais se assemelha a
pela professora. As duas
se repÌesenta ao Ìado da
A comparação de elementos isoÌados dos desenhos provavelmente não seÍia conclu-
siva. Mas o tom emocionaÌ geral dessas produçÕes permite ídentificar cÌaramente o am-
biente percebido como altamente ameaçador. Associados aos reÌatos verbais que provo-
caram e aos dados de observação do comportamento dessas crianças em diferentes
ambientes, os desenhos contribuíram decisivamente para a identificação da natureza da
agressão sofrida por elas.
Apenas como ilustração da força dramática da expressão gráfica, é mostrado a seguir o
desenho de uma menina de 13 anos estuprada repetidamente; o desenho encontra-se dis-
ponível em http://rwvw.amnestyusa.org/child_soldiers/pages.
T É c N t c a s G R Á i t c a s 259
Avaliação de intervenção
Gomes (s.d.) apÌesentaparte dos resultados de um estudo sobre a formação do sintoma
na criança, que envoÌve o atendimento dos pais. como parte do procedimento, é felto o
psicodiagnóstico da criança, com base nos modelos de ocampo e Trinca, usando o HTp e, no
caso de crianças menores, também a hora lúdica. Após o psicodiagnóstico, é proposto o
atendimento dos casais em 8 sessões de psicoteÌapia breve com enfoque psicanalítico. Após
o enceÌramento da intervenção terapêutica, as crianças são reavaliadas.
o estudo mostra 6 casos e demonstra a utiÌidade do HTp nesse contexto. Segundo a
autora, o instrumento permitiu identificar os recursos egóicos presentes e traços da persona-
Iidade das cÌianças. As árvores mostÌaram-se adequadas às faixas etárias dos sujeitos; as casas
revelaram mais claramente as dificuldades da dinâmica conjugal ou familiar, o que funda-
mentou o deslocamento do foco do atendimento, das crianças para os pais; as figuras huma-
nas peÍmitiram observar a construção da identidade, o contato interpessoal e dados referen-
tes à autonomia e à independência. os desenhos no reteste evidenciaram a evolução das
crianças: mostÌaram-se mais elaborados e com uso de cores mais adequado; revelaram que as
crianças estavam mais seguras e aÌiviadas do peso das questões familiares, mais abertas a
interesses compatíveis com a idade, mais independentes e desenvolvidas socialmente, com
remissão das queixas de conduta iniciais. Para a autoÌa, "o uso de algumas técnicas proietivas
peÌmite ao cÌínico maior clareza na atÌibuição das hipóteses diagnósticas e, conseqüente-
mente, na escolha do melhor tipo de interuenção terapêutica para o caso"(p. 10).
Um estudo emblemático
Meyer, Brown e Levine (1955) realizaram um estudo com pacientes internados no Mount
Sinai Hospital, na cidade de Nova York, para a realização de ciÌurgias invasivas e mutiladoras.
Retomarei aqui este estudo, apesar de ter sido realizado há mais de 30 anos, por considerá-
ìo um exemplo de pesquisa adequada às técnicas proietivas gráficas sob vários aspectos:
- A coÌeta de dados se deu em um contexto real de prática ciínica.
- O teste foi aplicado em sessões individuais.
- Há dados obietivos sobÌe a situação de vida atual dos participantes.
- Há dados de anamnese e de entrevista psiquiátrica realizadas com os participantes.
- Os desenhos foram feitos em duas situações distintas, antes e após os pÌocedimentos
ciúrgicos.
- As inteÌpÌetações procuram apreender o sentido gÌobaÌ de cada produção, sem deixar
de mencionar detalhes relevantes em termos de significado.
- As interpÌetações são articuìadas com os dados do histórico de cada paciente e com
uma teoria, no caso, a psicanáìise.
Além disso, o próprio estudo teve origem em uma situação prática, na qual os dados
obtidos por meio da anamnese e da entrevista psiquiátrica mostraram-se insuficientes para a
compreensão mais profunda das vivências em situação de crise dos pacientes e dos recursos
que eles mobilizam para supoltálas. Essa insuficiência foi observada a partir de um caso
concreto de mastectomia.
A paciente, de 54 anos, informou ter tido uma vida normal e feÌiz, exceto pela
oerda de um fiÌho de dez anos de idade, há nove anos. Relatou tel soflido muito na
A Ì U A L I Z A ç Õ E 5 E M M É Ì O D O S P R O J Ê Ì I V O S P A R À Â V Á L I A ç À O P S I C O L ó G I C A
ocasião da perda, mas afiÌmou ter conseguido superar a tragédia. A conclusão a partir
desses e de outros dados foi a de que a paciente poderia sofrer um período de depressão
Ìeve após a cirurgia, sem outras conseqüências psicológicas preocupantes, o que de fato
aconteceu. Porém, no terceiro dia após a operação, a paciente relatou um sonho em
que via o filho morto correndo. Ela procurava alcançáJo, com os braços abertos, mas
eÌe sempre escapava. O médico perguntouìhe em que direção o menino corria, ao que
a paciente respondeu, sem hesitar: "Para a esquerda, doutor, sempre para a esquerda".
A mama esquerda fora removida.
A equipe de atendimento considerou que o sonho indicava a associação da perda da
nìama com a perda do filho, uma atitude inconsciente em relação à cirurgia que não fora
identificada nas entrevistas. Ponderou-se que o uso de uma técnica projetiva contribuiria
com dados sobre as atitudes inconscientes em relação a mudanças corporais provocadas por
intervenções cirúrgicas. Um projeto coniunto usando o HTP e a avaliação psiquiátrica foi
então desenvolvido, tema do artigo aqui referido.
Dos 22 pacientes que seriam submetidos a procedimentos invasivos e/ou mutiladores,
9 realizaram apenas a primeira série de desenhos, poÌ diferentes motivos, e 5 se recusaram
a fazer o teste. A forma aplicada foi simpÌificada: os pacientes recebiam iápis grafite n' 2 e
lápis de cor comuns; era-lhes solicitado que desenhassem uma casa, uma árvore e uma
figura humana de cada sexo, usando os Ìápis que quisessem.
A interpretação dos desenhos baseou-se na apreensão globaÌ dos desenhos e os detalhes
relevantes, de modo geral atípicos, foram examinados no contexto da apreensão global.
Inicialmente foi feita uma análise cega por psicólogos que desconheciam o histórico clínico
dos casos. Essas anáÌises mostraram-se bastante precisas, não só em teÌmos de aspectos
psicológicos como também quanto à natureza da doença física e do tratamento cirúrgico.
As conclusões finais levaram em conta a interpretação do desenho articulada com os da-
dos do histórico de cada paciente.
Um dado que chamou a atenção foi a grande diferença na qualidade das produções pré-
operatórias e pós-operatórias, a ponto de se cogitar se teriam sido feitas pelo mesmo indivíduo,
uma diferença, segundo os autoÌes, comparável à que se observa na produção de indiúduos
submetidos a anos de teraDia Dsicanalítica.
A presença de regressão pré-operatória foi marcante, com várias produções com caracte-
rísticas de deterioração esquizofrênica. Nesse sentido, destacam-se uma casa com braços e
pernas, uma figura humana semelhante a um sapo e outra com dois narizes, além de uma
representação de perfiÌ com as feiçÕes vistas de frente, entre outras. Houve casos em que a cor
foi usada de modo irreaiista, como uma árvore com folhas cor-de-rosa. Quanto ao conteúdo,
ocorreram desenhos de crianças como figuras humanas, bÌotos em lugar de árvores formadas
e casas semelhantes a caixas. Outros exemplos de regressão foram identificados em desenhos
que pÍocuÍavam ocupar o mínimo espaço possível e uma instância de lábios protraídos com
ênfase na oralidade.
Esses pacientes não apresentaram nenhum indício de desorganização na entrevista psi-
quiátrica. A qualidade da produção no pós-operatório dependeu do resultado da cirurgia. Os
pacientes submetidos a mutiiações visíveis apÌesentaÌam os mesmos elementos defensivos
observados na produção anterior à intervenção. No caso de pacientes cuiá cirurgia não resul-
tou em mutilações visíveis ou apenas mínimas, a produção pós-cirúrgica foi sensivelmente
melhor. As cores se mostraram compatíveis com a reaiidade, desenhos monocromáticos
foram substituídos por desenhos coloridos, as figuras infantis foram trocadas por figuras
adultas, inclusive os brotos por árvores maduras, e as casas se mostraram mais receptivas e
j
, a
v'
:
T É c N r c a s c R Á Ê t c Á s
aDeÌtas para o entorno; a Ìepresentação da casa com braços e pernas foi substituída por um
desenho compatível com a realidade e a boca com ênfase na oralìdade foi modificada. o
tom emocional dos desenhos também apresentou sensível melhora.
Para os autores, a regressão é comum em pessoas doentes. Esses aspectos encontra-
dos em vários pacientes e que desapareceram após a cirurgia, seriam manifestações da
intensa ansiedade dessas pessoas diante não só do procedimento cirúrgico em si, como
também da mutilação decorrente e da possibiÌidade da morte. comparando os dados
observados nessa amostra de pacientes que passavam por momentos agudos da doença
com as observações de Levine e Brown, mencionados peÌos autores, em relação a aspec-
tos regressivos em doentes crônicos, os autores observaram que o graude ansiedade e o
sentimento de catástrofe iminente são bem mais acentuados no grupo agudo. os autores
destacam ainda que o grau de regressão observado nos desenhos superou em muito o
observado nas entrevistas cÌínicas.
Duas exceções à melhoria nos desenhos pós-cirúrgicos foram observadas. Uma foi uma
paciente de 45 anos com longo histótico de cirurgias retais e anais, desde aproximadamen-
te 15 anos de idade. Muitas vezes a paciente introduzia o dedo indicador no ânus para
facilitar a passagem das fezes. Era gaga desde os 7 anos de idade e apresentou enurese
noturna até os 17 anos, Os autores identificaram uma grande semelhança entre seus dese-
nhos da figura humana e a figura de João Felpudo (Struv\rweÌpeter), o personagem de um
conto infantii alemão, conforme mostra a ilustração abaixo (extraída de Meyer, Brown e
Levine, 1955, p. aa\.
262 A Ì U Á L I Z Á ç Ó E S E M M É Ì O D O 5 P R O I É T I V O 5 P Â R A A V A L I Â ç Â O P S I C O L ó C I C A
Olha pra e1e! OÌha só!
Cabelo e mãos de dar dó.
As unhas nunca cortou,
cor de carvão, um horrorl
Água? Nunca! Ô fedorl
E cada dia é pior!
Qualquer coisa é melhor
que esse Joào Catimbó.
(tradução de Angela-Lago)1
Outra produção que não apresentou diferenças significativas foi a de uma paciente com
recursos inteÌectuais limítrofes que finalmente se dispusera a remover um cisto do escalpo. O
cisto tinha o tamanho de uma bola de belseboì e estava presente há 25 anos. Na fase pré-
cirúrgica todos os desenhos - casa, árvore e pessoa - tinham uma "boÌa" que se projetava das
extremidades superiores. Após a remoção do cisto, as protuberâncias ainda apareceram nos
desenhos, como se ele tivesse sido "integrado" à imagem corporaì da paciente. Os desenhos
da paciente anteriores à cirurgia são mostrados abaixo (extraído de Meyer, Brown e Levine,
19ss, p. 4a1).
Este último também foi o único caso em que a doença somática foi expressa diretamente
no desenho. Nos outros pacientes, as alusões apresentaram caráter simbólico e tenderam a
desaparecer ou se modificar após a cirurgia: um homem portador de câncer retal pintou de
vermeìho os degraus que conduzem à casa; uma mulher com suspeita de câncer de mama
desenhou a casa perfeitamente simétrica, exceto por uma ianela ÍepÍesentada apenas pelo
contorno, dando a impressão de vazio, desenhada no mesmo lado da mama afetada. Já um
paciente que seria submetido a hemipeìvectomia, decorrente de sarcoma na viriÌha, omitiu a
parte inferior da figura humana, o que foi identificado pelos autores como um processo de
negação; no desenho da árvore, uma linha incÌinada bizafia coÍta o tronco; no pós-operató-
rio, o corpo da figura humana é omitido abaixo da linha do pescoço; após 3 meses, as duas
pernas aparecem no desenho, embora a perna esquerda (correspondente ao membro ampu-
tado), tenha o pé mutilado. Outra paciente, com suspeita de câncer de mama, desenhou uma
casa perfeitamente siÌnétrica, exceto pela ausência da parede esquerda; a figura humana foi
' ' i
r l lustração de loão teìpudo ê tradução dos versos disponíveis em http:/ /vw\ r.angelalago.com.br/1 HoÍfmann.html
Ì É c N l c a s c R Á F r c a s
desenhada como uma menina de sete anos, com o pé esquerdo deformado. Na cirurgia foi
constatado que se tratava de um tumor benigno e a mama foi preservada. A casa desenha-
da após a cirurgia é perfeitamente simétrica e íntegra, e a figura humana é uma adolescente
com os seios bem Ìepresentados.
Os três últimos casos citados, assim como o sonho da paciente que deu origem ao
proieto, apresentam correspondência entre lateralidade anatômica e lateralidade da repre-
sentação simbólica da parte do corpo afetada. Esse dado reforça o caráteÌ de auto-tetrato
dos desenhos.
Ainda segundo os autores, no grupo de pacientes estudados, as mudanças mais dramáti-
cas fOram ObServadas nos desenhos da casa. Isso pode ser explicado por dois motivos: plimei-
ro, a correspondência entre casa e si-mesmo é menos óbvia, uma vez que, dos três temas
solicitados, apenas a casa não é um organismo vivo, o que mobilizaria menos defesas; segun-
do, a casa pode ser também a representação de um lugar seguro, associado às noções de lal ou
figura materna, o que the confere alto vaÌor emocionaÌ em uma situação de caráter tão amea-
çador como aquela em que os pacientes se encontravam. PoÍ outro lado, foi possível dlferen-
ciar aspectos mais estáveis da personalidade e conteúdos mais diretamente associados ao
momento de crise.
coNSTDERAÇÕES FINAIS
Nâ prática clínica, os desenhos, como iá mencionado várias vezes nos capítuÌos sobre
técnicas protetivas gráficas, não devem ser vistos como mera somatória de sinais ou caracte-
rísticas de produção que se prestam, ou não, a exercícios matemáticos. Se, por um Ìado, a
identificaç-o de características próprias de grupos clínicos específicos contribui com dados
importantes para a compreensáo da dinâmica ou da patologia subiacente, por outrô nada
dizem sobre ãs especificidades dos casos, como fica clato nos estudos baseados em itens
isolados. Eventos como abuso sexual, possibilidade de mutilaçào ou presença de doença nos
genitais não,,cria" características específicas; eles terão impacto na personalidade única so-
úre a qual se abatem, que mobilizará, à sua maneira, os recursos possíveis para enfrentar o
traumã ou a ameaça. Essa configuração singular de forças escapa completamente aos_ índices
numéricos, aos itens isolados ou às categorias amplas e abstratas. Quem espera a elaboração
de escalas de itens isoÌados que Ìesultem em um valor numérico e asseguÍem o diagnóstico
certamente se frustrará. Apenas a consideração da produção gráfica como um todo e na sua
singularidade poderá revelar de modo dramático as conseqüências desses eventos 
soble a
personalidade global.
Os desenhos podem expÌessar o sofrimento com uma intensidade que excede o 
que as
palavras, e muito menos os- números, podem dar conta. Para o cliente, a expressão 
gráfica
favorece a elaboração dos conflitos ou, pelo menos, a maior conscientização dos conteúdos
dolorosos e estimuÌa verbalizaçÕes associadas. Para o clínico, eÌes permitem apÌoúmaÌ-se 
do
mundo interno dessas pessoas, de suas ansiedades e principais temoÍes' assim como 
dos re-
cursos de que dispõem paÍa supoÌtálos, a fim de fornecerlhes o apoio e o acolhimento 
de
quenecessltam-oquenemsempreéexplici tadonasentrevistas'Porém'essesdadosnãose
dão a conhecer em teÌmos absolutos. Caúe ao profissionaÌ usar a experiência e 
o lastro pes-
soal para relacioná-los em articulações mais complexas, de acordo com o método 
clínico' A
uti l idadedastécnicasplolet ivasgráficas,quandosubordinadasaométodoclínico,éinesti-
mável para o profissional que traúalha com as questões da vida real daqueles a 
quem atende'
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