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Imunologia | Camyla Duarte 1 Linfócitos expressam receptores de antígenos altamente diversos que são capazes de reconhecer uma grande variedade de substâncias estranhas. Os linfócitos B expressam os BCR (B Cell Receptor). Os linfócitos T expressam os TCR (T Cell Receptor). Receptor de membrana de linfócito B (BCR) Os BCRs são formados por duas cadeias pesadas Mi (μ) e duas cadeias leves Capa (Ҡ) ou Lambda (λ). Receptor de membrana de linfócito T (TCR) O TCR consiste em duas cadeias polipeptídicas transmembranares, designadas como TCR α e β, covalentemente ligadas umas as outras por uma ponte dissulfeto nos linfócitos T αβ. Uma configuração possível mas menos comum é a do TCR γδ Maturação dos linfócitos B e T Cada linfócito tem a capacidade de reconhecer um antígeno especifico. Esta diversidade é gerada durante o desenvolvimento dos linfócitos B e T maduros a partir de células precursoras que não expressam receptores de antígenos e não podem reconhecer e responder aos antígenos. O processo pelo qual os progenitores dos linfócitos no timo e na medula óssea se diferenciam em linfócitos maduros localizados em tecidos linfoides secundários é denominado maturação de linfócitos. Processo de maturação: Célula tronco -> pró-linfócito -> pré-linfócito -> linfócito imaturo -> linfócito maduro -> linfócito efetor diferenciavel o Órgão linfoide primário o Órgão linfoide secundário A IL-7 induz a proliferação das células progenitoras auto renováveis (Células tronco). Se transformam em pro-linfócito, recebem um estimulo de diferenciação e proliferação formando os pré-linfocitos. A maturação é iniciada por sinais de receptores de superfície celular que tem duas funções principais: o Promover a proliferação de progenitores; o Iniciar o rearranjo dos genes dos receptores de antígenos específicos. A maturação dos linfócitos B e T envolve uma série de eventos que ocorrem nos órgãos linfoides primários. Estes eventos incluem os seguintes: 1. Comprometimento de células progenitoras com linhagem linfoide B ou linfoide T; 2. Proliferação de progenitoras e células imaturas comprometidas em estágios iniciais Imunologia | Camyla Duarte 2 específicos do desenvolvimento, proporcionando um grande reservatório de células capazes de gerar linfócitos úteis; 3. O rearranjo sequencial e ordenado dos genes dos receptores de antígenos e a expressão de proteínas dos receptores de antígenos; A maturação dos linfócitos são eventos de seleção que preservam as células que produziram proteínas receptoras de antígeno funcionais e eliminam células potencialmente perigosas que reconhecem fortemente antígenos próprios mantendo a chamada tolerância imunológica. Diferenciação das células B e T em subpopulações funcionalmente e fenotipicamente distintas. As células B se desenvolvem em células foliculares, da zona marginal e B1, e as células T se desenvolvem em linfócitos TCD4, TCD8 e células NK. Células tronco pluripotentes no fígado fetal e na medula óssea, conhecidas como células tronco hematopoéticas (CTH) dão origem a todas as linhagens de células sanguíneas, incluindo linfócitos. As CTH amadurecem e geram progenitores linfoides que por sua vez podem originar células B, células T, células linfoides inatas (NK) e algumas células dendríticas. A maturação das células B a partir de progenitores comprometidos com essa linhagem ocorre principalmente na medula óssea e, antes do nascimento no fígado fetal. As células tronco derivadas do fígado fetal originam principalmente um tipo de célula B denominada B1, enquanto as CTH derivadas da medula óssea originam a maioria das células B circulantes (células B foliculares), bem como um subgrupo de células B, denominado células B da zona marginal. Os precursores de linfócitos T deixam o fígado fetal antes do nascimento e a medula óssea durante a vida e circulam até o timo, onde completam sua maturação. A maioria das células T que são células T αβ, se desenvolve a partir das CTH derivadas da medula óssea, enquanto a maioria das células T γδ se origina das CTH do fígado fetal. Em geral as células B e T que são geradas no início da vida fetal possuem receptores de antígenos menos variados. Apesar de suas diferentes localizações anatômicas, os eventos de maturação inicial de ambos os linfócitos B e T são fundamentalmente semelhantes. O comprometimento com a linhagem B ou T depende das instruções recebidas de vários receptores de superfície celular, que induzem reguladores de transcrição específicos que levam um progenitor linfoide comum a assumir, de modo específico, o destino de uma célula B ou uma célula T. Os receptores de superfície celular e fatores de transcrição que contribuem para o comprometimento induzem a expressão de proteínas envolvidas em rearranjos do gene dos receptores de antígenos, e tornam os loci dos genes dos receptores de antígenos acessíveis a essas proteínas. Loci: plural de lócus (região no DNA genomico onde se encontram genes) No caso das células B em desenvolvimento, o lócus da cadeia pesada da imunoglobulina (Ig), inicialmente em uma configuração inacessível à cromatina, é aberto, de modo que torna-se acessível às proteínas que medeia o arranjo e expressão dos genes das Ig. No desenvolvimento de células T αβ, o lócus do gene β do receptor de células T (TCR) é o primeiro a se tornar disponível. Além das proteínas envolvidas no processo de rearranjo do gene do receptor antigênico, fatores de transcrição e receptores de citocinas que Imunologia | Camyla Duarte 3 dirigem a diferenciação adicional de células T e B são expressos neste estágio. Os fatores de transcrição Notch-1 e GATA-3 comprometem-se no desenvolvimento de linfócitos para a linhagem de células T. Os fatores de transcrição EBF, E2A e Pax-5 induzem a expressão dos genes necessários para o desenvolvimento de células B. Durante o desenvolvimento das células B e T, as células progenitoras comprometidas proliferam, primeiramente, em resposta às citocinas (em humanos, a IL-7 é necessária para a proliferação dos progenitores das células T, mas não para os progenitores da linhagem B) e, posteriormente, em resposta a sinais gerados por um pré-receptor de antígeno, que seleciona as células que rearranjaram de maneira efetiva o primeiro conjunto de genes dos receptores de antígenos. O rearranjo dos genes receptores de antígenos é um evento chave no desenvolvimento de linfócitos que é responsável pela geração de um repertório diverso. Cada clone de linfócitos B ou T produz um receptor de antígeno com uma estrutura única de ligação a antígenos. Em qualquer indivíduo, podem existir 107 ou mais clones de linfócitos B e T, cada qual com um único receptor. A capacidade de cada indivíduo de gerar estes repertórios de linfócitos extremamente diversos evoluiu de tal forma que não exige um número grande de genes de receptores de antígenos diferentes; caso contrário, grande parte do genoma seria dedicada a codificar o grande número de moléculas de Ig e TCR. Rearranjo dos genes dos receptores de antígenos nos linfócitos B e T Os genes que codificam os diversos receptores de antígeno de linfócitos B e T são gerados pelo rearranjo, em cada linfócito, de diferentes segmentos gênicos da região variável (V) com segmentos gênicos de diversidade (D) e junção (J). Três loci separados codificam respectivamente, todas as cadeias pesadas das Ig, no caso das cadeias leves Ҡ e λ o segmento de diversidade D não é necessário. Na formação do TCR o segmento D entra na formação da cadeia β mas não na cadeia α. O número de genes V varia consideravelmente entre os diferentes loci das Ig, em humanos, há aproximadamente 45 genes V funcionais no lócus da cadeia pesada e entre 30a 35 genes no loci da cadeia leve. Imunologia | Camyla Duarte 4 Os eventos de rearranjo de DNA que levam a produção de receptores de antígenos não são dependentes ou influenciados pela presença de antígenos. Os diversos receptores de antígenos são gerados e expressos antes de entrar em contato com os antígenos. Os processos de desenvolvimento de linfócitos contêm numerosas etapas intrínsecas, denominadas pontos de controle, nas quais as células em desenvolvimento são testadas e somente continuam a amadurecer se a etapa anterior do processo tiver sido concluída de maneira eficaz. Um destes pontos de controle baseia-se na produção bem-sucedida de uma das cadeias polipeptídicas da proteína do receptor de antígeno de duas cadeias, e um segundo ponto de controle exige a montagem de um receptor completo. Os linfócitos cuja passagem pelo ponto de controle tenha sido bem-sucedida seguem ao rearranjo e expressão de genes que codificam a segunda cadeia do BCR ou TCR e expressam o receptor de antígeno completo enquanto ainda estão imaturas. Neste estágio imaturo, as células potencialmente nocivas que reconhecem estruturas próprias podem ser eliminadas ou induzidas a alterar seus receptores de antígenos, e as células que expressam receptores de antígenos úteis podem ser preservadas. Tal processo é denominado seleção positiva. Estágios de desenvolvimento dos linfócitos B A primeira célula da medula óssea comprometida com a linhagem de células B é a chamada célula pró-B. As células pró-B não produzem Ig, mas podem ser distinguidas de outras células imaturas pela expressão de moléculas de superfície restritas a linhagem B, como CD19 e CD10. As proteínas Rag-1 e Rag-2 são expressas inicialmente nesse estágio. Uma vez realizado um rearranjo produtivo de μ da Ig, a célula deixa de ser chamada de pró-B e já está diferenciada no estágio pré-B. As células pré-B são células da linhagem B em desenvolvimento que expressam a proteína μ da Ig, mas que ainda devem rearranjar seus loci da cadeia leve. Os sinais originados do pré-BCR são responsáveis pela maior expansão proliferativa das células da linhagem B na medula óssea. Acredita-se que este receptor funcione independente de ligante e que o próprio processo de montagem funcione como estímulo para proliferação celular. A expressão do pré-BCR é o primeiro ponto de controle de maturação das células B. Caso ocorram falhas na montagem do pré-BCR o linfócito não é estimulado a proliferar e morre. A segunda maneira pela qual o pré-BCR regula a produção do receptor de antígeno é por meio do estímulo do rearranjo do gene da cadeia leve Ҡ (capa), que se associa a cadeia μ (mi) sintetizada anteriormente para produzir uma proteína de IgM completa. Se o lócus Ҡ (capa) não for rearranjado de maneira produtiva, a célula pode rearranjar o lócus λ (lambda) e, novamente, produzir uma molécula de IgM completa. A indução do rearranjo do gene da cadeia leve λ (lambda) ocorre principalmente quando os receptores da célula B que expressam Ҡ (capa) da Ig são autorreativos. Se os dois alelos de ambas as cadeias Ҡ (capa) e λ (lambda) forem rearranjados de maneira não Imunologia | Camyla Duarte 5 funcional em uma célula B em desenvolvimento, esta célula não consegue receber sinais de sobrevivência que são normalmente gerados pelo BCR e morre. As moléculas de IgM montadas são expressas na superfície celular em associação com Igα e Igβ, onde funcionam como receptores específicos para antígenos. Em células que não são fortemente autorreativas, o BCR emite sinais tônicos independentes de ligantes que mantêm as células B vivas. As células B imaturas não proliferam e não se diferenciam em resposta a antígenos. Quando reconhecem antígenos na medula óssea com alta afinidade, as células B podem passar por edição do receptor. Se a edição do receptor falhar, as células B imaturas que expressam receptores de alta afinidade para antígenos próprios e que encontram estes antígenos na medula óssea ou no baço podem morrer por apoptose. Este processo também é denominado seleção negativa. Tanto a edição do receptor quanto a deleção dos linfócitos autorreativos são responsáveis por manter a tolerância das células B aos antígenos próprios presentes na medula óssea. Subgrupos de células B maduras Subgrupos distintos de células B se desenvolvem a partir de diferentes progenitores. As CTH derivadas do fígado fetal são as precursoras das células B-1. As CTH derivadas da medula óssea dão origem as células B foliculares ou células B da zona marginal. Um subgrupo de linfócitos B, denominado células B-1, expressa uma diversidade limitada de receptores de antígenos e pode ter funções exclusivas. Em adultos, grandes números de células B-1 são encontrados como uma população autorrenovável no peritônio e nas mucosas. As células B-1 se desenvolvem mais cedo durante a ontogenia do que as células foliculares e da zona marginal, expressam um repertório relativamente limitado de genes V e exibem uma diversidade juncional muito menor do que as células B convencionais. As células B-1 secretam espontaneamente anticorpos IgM que frequentemente reagem a lipídios e polissacarídeos microbianos, assim como lipídios oxidados produzidos por peroxidação lipídica. Estes anticorpos são algumas vezes chamados de anticorpos naturais porque estão presentes em indivíduos sem imunização evidente, embora possivelmente a microbiota intestinal seja a fonte de antígenos que estimulam sua produção. As células B-1 contribuem para a produção rápida de anticorpos contra microrganismos em tecidos particulares, tais como o peritônio. Nas mucosas, metade das células secretoras de IgA na lâmina própria pode ser derivada de células B-1. As células B da zona marginal estão localizadas primariamente nas proximidades do seio marginal no baço e são semelhantes às células B-1 em relação a sua diversidade limitada e sua capacidade de responder a antígenos polissacarídicos e gerar anticorpos naturais. As células B da zona marginal respondem muito rapidamente a microrganismos transportados pelo sangue e diferencia-se em plasmócitos secretores de IgM de vida curta. Embora elas geralmente medeiem respostas imunes humorais independentes de células T a patógenos circulantes, também parecem ser capazes de mediar algumas respostas imunes dependentes de células T. A maioria das células B maduras pertence ao subgrupo de células B foliculares e produz IgD além de IgM. A expressão de IgM e IgD é acompanhada pela capacidade de recircular e a aquisição da competência funcional e é por isso que as células B IgM+ IgD+ são também denominadas células B maduras. Não há nenhuma evidência de uma diferença funcional entre o IgM de membrana e o IgD de membrana. Quando a transição ao estágio de célula B madura IgM+ IgD+ é realizada, o reconhecimento do antígeno leva a proliferação e a diferenciação, e não à edição do receptor ou a apoptose. As células B maduras que reconhecem antígenos com alta afinidade tecidos linfóides periféricos são ativadas, e este processo leva às respostas imunes humorais Imunologia | Camyla Duarte 6 Estágios de desenvolvimento dos linfócitos T A maturação das células T possui algumas características que refletem a especificidade da maioria dos linfócitos T aos antígenos peptídicos próprios associados ao MHC e a necessidade de um microambiente especial para a seleção de células com esta especificidade. O timo é o principal local de maturação das células T. A Ausência congênita do timo, como ocorre na síndrome de DiGeorge, é caracterizada por baixos números de células T maduras na circulação e nos tecidos linfóides periféricos e deficiências graves da imunidade mediada por célulasT. Os linfócitos T originam-se de precursores que surgem no fígado fetal e na medula óssea adulta e se alojam no timo na sétima ou oitava semana de gestação. As células T em desenvolvimento no timo são denominadas timócitos. Os timócitos mais imaturos são encontrados no seio subcapsular e na região cortical exterior do timo. A partir daqui os timócitos migram para dentro e através do cortéx, onde a maioria dos eventos de maturação subsequentes ocorrem. Dentro do córtex, as células epiteliais corticais tímicas formam uma malha de longos processos citoplasmáticos, em torno dos quais os timócitos devem passar para atingir a medula. As células dendríticas derivadas da medula óssea estão presentes na junção cortico medular e dentro da medula, e os macrófagos estão presentes principalmente no interior da medula. A migração de timócitos através desta disposição anatômica permite interações físicas entre os timócitos e o MHC classe I das células epiteliais tímicas e o MHC classe II das células dendríticas e macrófagos que serão essenciais para a seleção do repertório das células T maduras. Os timócitos corticais mais imaturos, recém-chegados da medula óssea, contêm genes de TCR na sua configuração de linhagem germinativa, mas ainda não expressam TCR nem cadeias CD4 ou CD 8; estas células são denominadas timócitos duplo negativos (linfócitos pró-T). Uma vez realizado o arranjo dos genes V, D e J com a posterior formação da cadeia β do TCR temos os linfócitos pré-T. Os sinais do pré-TCR medeiam a sobrevivência das células pré-T que tendo arranjado de maneira produtiva o gene da cadeia β do TCR contribuem para a maior expansão proliferativa durante o desenvolvimento das células T. Na próxima fase da maturação das células T, os timócitos expressam tanto CD4 e CD8 e são denominados timócitos duplo positivos. Modelos sugerem que os TCRs restritos ao MHC classe I e pelo MHC classe II emitem diferentes sinais que induzem ativamente a expressão do correceptor correto e desligam a expressão do outro correceptor. As moléculas de MHC classe I e classe II na superfície celular sempre contêm peptídeos ligados. A seleção positiva é o processo que preserva as células T que reconhecem MHC próprio (com peptídeos próprios) com baixa afinidade. A seleção negativa é o processo em que os timócitos cujos TCRs se ligam fortemente aos antígenos peptídeos próprios em associação a moléculas de MHC próprias são eliminados (autotolerância). Cerca de 10% das células T diferenciam-se em linfócitos Tϒδ que possuem diversidade limitada lembrando o subgrupo de Linfócitos B-1, funcionando como uma defesa inicial contra um número limitado de microrganismos comumente encontrados em barreiras epiteliais.
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