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RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL AULA 6 Profª Cora Catalina 2 CONVERSA INICIAL Esta é nossa última aula e gostaríamos de compartilhar uma reflexão que considero da maior importância quando abordamos o tema da responsabilidade social empresarial (RSE). Propomos pensar sobre qual é o motivo principal que nos impulsiona a sermos gestores em responsabilidade social? Será que é exclusivamente pelo sucesso financeiro que desejo alcançar? Será porque, além disso, também desejamos contribuir profissionalmente com o gerenciamento das responsabilidades que as empresas têm? Bem, os argumentos que você utilizará para responder serão únicos, ou seja, a resposta está com você. Acreditamos que será sua motivação e seus valores humanos que darão novos rumos à gestão de muitas empresas. Hoje, o foco principal desta aula se relaciona à sociedade, ao meio ambiente e à inclusão social. No primeiro tema, falaremos de RSE, de crise ambiental e do pensamento ecossistêmico, retomando a visão de Fritjof Capra para conhecer o exemplo da empresa de bebidas Heineken. No segundo tema, conversaremos sobre capital natural e sua importância na gestão da responsabilidade social. O terceiro tema será sobre crise social, e o objetivo será conhecer as dimensões das relações da responsabilidade social empresarial. No quarto tema, veremos o conhecido modelo dos três domínios da RSE. Finalizando a aula, no quinto tema, falaremos sobre a inclusão de minorias. Você vai conhecer então quais são os sete passos direcionadores para a implementação da RSE. CONTEXTUALIZANDO Vamos voltar à pergunta feita para você sobre o motivo de ser um profissional na área de RSE. Vejamos que isso é muito importante por dois motivos: primeiro, porque as empresas desenvolvem a gestão estratégica com ou sem diretrizes de RSE, e, certamente, a definição vai ser de acordo com os valores e princípios dos dirigentes e gestores e de como estes percebem o mundo e as responsabilidades. Se tiverem a premissa de que tudo gira em torno da lucratividade financeira, também precisarão estar preparados para que 3 as outras pessoas usem essa premissa com eles. Em segundo lugar, é importante pensar que há gestores e dirigentes que já têm uma consciência maior de seu papel no mundo e acreditam que a política de governança de RSE contribui para melhorar a justiça, a inclusão social e para preservar os recursos naturais. Nesse caso, ou já estão aplicando ou irão aplicar a governabilidade para o desenvolvimento sustentável. TEMA 1 – RSE, CRISE AMBIENTAL, PENSAMENTO ECOSSISTÊMICO A grande dívida ambiental do modelo brasileiro de desenvolvimento adotado no passado repercute até hoje. Felizmente as gerações recentes têm estabelecido condicionantes para que órgãos governamentais e a sociedade civil organizada sejam fiscalizadores e monitorem as ações, principalmente das grandes indústrias, fundamentados em normativas e legislação vigente, que surgiram a partir da Constituição de 1988. Mesmo assim, a degradação ambiental continua em níveis alarmantes. O principal problema, segundo o advogado de direito internacional, Eduardo Felipe Matias, autor do livro A humanidade contra as cordas (2014), é que: “vivemos dos incentivos equivocados; incentivos de curto prazo, voltados para o lucro imediato. [...] Se você parar para pensar quem é o vilão nessa história, é nosso modelo econômico de sociedade. Estamos diretamente inseridos nisso, e não há como fugir dessa responsabilidade (Escobar, 2014). No cenário global, o Fórum Econômico Mundial de 2017 divulgou a análise de riscos no documento Global Risks Report 2018 e identificou a mudança do clima como uma das tendências determinantes: “compondo o top dos riscos globais avaliados em termos de probabilidade e o dos riscos avaliados em termos de impacto: eventos climáticos extremos, desastres naturais e falhas no processo de mitigação e adaptação mudança do clima” (Global..., 2018). O documento cita que Fortes furacões, temperaturas extremas e o primeiro aumento nas emissões de CO2 em 4 anos, os problemas ambientais se tornam ainda mais evidentes. A perda de biodiversidade está acontecendo em ritmo acelerado, sistemas agrícolas estão sob tensão, a poluição do ar se torna uma ameaça cada vez mais permanente para a saúde humana e eventos climáticos extremos acontecem com maior frequência. (Global..., 2018) 4 Inicialmente podemos pensar que esses riscos não representam a realidade brasileira, entretanto, ao relembrarmos o conceito de visão sistêmica abordado nas aulas 1 e 2, temos a certeza de que estamos inseridos nesse cenário global. Relembrando, as complexas e dinâmicas interações entre fabricação e consumo de bens e serviços e o uso dos recursos naturais produzem o que é conhecido como funções ecossistêmicas, as quais incluem transferência de energia, reciclagem de nutrientes (reciclagem ecológica) e da água, regulação de gases, regulação climática etc. Peroba Filho, gerente nacional do Programa de Gerenciamento Ecológico da Xerox do Brasil, afirma que Cada vez menos, os indicadores socioambientais têm a ver com projetos ou programas sociais patrocinados por empresas, mas sim, cada vez mais aumenta a responsabilidade dos impactos decorrentes de sua forma de operar, das relações de trabalho e a maneira de se relacionar com os públicos de interesse. (Esteves, 2000, p. 244) Na implementação do Programa de Gerenciamento Ecológico da empresa Xerox, o grupo de trabalho adotou as recomendações do Instituto Elmwood, integrado pelo físico Fritjof Capra, e fizeram três descobertas fundamentais: 1. O raciocínio linear é insuficiente para lidar, simultaneamente, com os objetivos e as consequências (impactos) do processo produtivo da empresa; 2. A ampliação da consciência tem que fazer parte de todo treinamento. Porque não se faz gerenciamento ecológico sem “educação ecológica”; 3. A mudança nunca começa por fora, mas por dentro. Ou seja, tem que começar pela transformação individual da pessoa. (Esteves, 2000, p. 247) A empresa de bebidas Heineken do Brasil estabeleceu os seguintes compromissos globais até 2020 no Sistema de Gestão Ambiental (SGA): 1. Água: reduzir o consumo específico de água nas cervejarias em 25%; focar no balanceamento e na compensação de consumo de água por nossas cervejarias em áreas sob estresse hídrico. 2. CO2: reduzir as emissões em 40% na produção; em 50% na refrigeração; e, na distribuição na Europa e nas Américas, em 20% 3. Suprimentos: alcançar 60% de fornecimento local de matérias- primas na África; alcançar ao menos 50% de fornecimento de matérias-primas de fontes sustentáveis; Conformidade permanente com nosso Código de Compras 4. Consumo responsável: fortalecer e atuar nos compromissos setoriais da indústria; promover o consumo responsável por meio da marca Heineken®; garantir que todos os mercados tenham e comuniquem publicamente suas parcerias focadas na abordagem do tema do consumo nocivo de álcool. (Ribeiro, 2014) 5 Um dado importante de ser ressaltado é que as empresas que publicam seus resultados e apresentam as melhores práticas de sustentabilidade têm em média 10% a 19% de suas ações mais valorizadas do que empresas que não assumem essa responsabilidade. Esse dado serve para desmascarar que sustentabilidade não é rentável. De acordo com Ricardo Zibas, diretor da área de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade da KPMG no Brasil. “O relatório de sustentabilidade da empresa coleta e analisa dados que são determinantes no seu processo de geração de valor e de adaptação a mudanças ambientais e sociais, além de ser capaz de convencer os investidores sobre o seu futuro” (Relatório..., 2016). Saiba mais Em 2016, o Relatório de Sustentabilidade da Heineken foi publicado de maneira inusitada, pois, em vez do formato convencional,elaborou um vídeo cantado em forma de rap cantado pelo artista holandês Kevin Blaxtar para a divulgação. Para conhecer esse vídeo, acesse: <http://liderespelasustentabilidade.com/wp-content/uploads/2016/05/GRI.mp4?_=1>. Esse exemplo, que demonstra a forma inédita, ousada e criativa como a empresa comunicou seus resultados de sustentabilidade, é uma exceção, uma vez que se observa na pratica que, muitas vezes, empresas divulgam capacidades e competências que nem sempre são verdadeiras, ou pelo menos, completamente verdade. Para Celso Loducca, sócio-presidente da agencia de propaganda Loducca, “quem usa questões de sustentabilidade apenas como discurso vai pagar um preço alto porque se paga um preço muito alto por enganar o novo consumidor, que é mais crítico e tem mais acesso a informações” (Melo Neto; Froes, 2011, p. 98). TEMA 2 – RSE E CAPITAL NATURAL O significado de capital natural é estratégico para estudos sobre RSE e sustentabilidade porque engloba toda a complexidade relacionada à dimensão ambiental e ao sistema socioeconômico. As empresas que fabricam bens materiais dependem de recursos da natureza que são utilizados como matéria- prima para seu negócio, a exemplo de indústrias e do segmento de prestação 6 de serviços, como instituições financeiras e escritórios que utilizam em grande quantidade o papel feito a partir de celulose, água, energia e outros insumos. Segundo o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Capital natural é um conceito que enxerga, sob a ótica dos custos de produção, o valor dos recursos naturais em relação a um produto ou serviço. A ideia é deixar de considerar tais insumos como ativos gratuitos e passar a fazer uma espécie de valoração/precificação dos mesmos, tratando-os como capital, nos mesmos moldes como tratamos recursos econômicos”. (O que..., 2017) Toda empresa depende de recursos naturais, os quais, por isso, devem ser considerados parte de seu capital, evidenciando que, se houver escassez desses recursos, a produtividade e a saúde financeira dos negócios serão prejudicadas, pois isso envolve toda a cadeia de valor. Para o CEBDS (O que..., 2017), os benefícios de considerar o Capital Natural nos negócios são os seguintes: 1. Possibilita prever a falta de determinado recurso natural, a médio e longo prazo e analisar quais recursos são essenciais para seu negócio; 2. Permite conhecer quais recursos são mais impactados pelas operações da empresa e otimizar sua utilização; 3. Possibilita entender os riscos que a eventual escassez de recursos pode trazer para o negócio. De acordo com Strumpf (2013), especialista em mudanças climáticas e serviços ecossistêmicos, O capital natural representa a somatória de todos os benefícios que os ecossistemas equilibrados fornecem ao homem, dos mais tangíveis, como água potável, alimento e madeira, aos mais abstratos, inclusive como o valor espiritual e cultural que os ambientes naturais representam para diversas comunidades. Strumpf (2013) declara ainda que O conceito de capital natural ajuda a entender a base na qual toda a economia se apoia e, consequentemente, os limites para seu crescimento. É nesse capital que está considerada a capacidade do planeta de fornecer os recursos naturais que alimentam a economia e de reciclar e absorver seus resíduos. Essa capacidade, por sua vez, é possibilitada por um funcionamento cíclico que se alimenta de um equilíbrio complexo e dinâmico entre as espécies e seu meio. 7 Figura 1 – Exemplos de indicadores-chave de capital natural Um instrumento eficiente para o desenvolvimento sustentável é o Sistema de Gestão Ambiental (SGA), o qual deve articular diferentes áreas: de produção, marketing, pesquisa e desenvolvimento, gestão de pessoas, jurídico e financeiro. À produção atribui-se a tarefa de mensurar riscos internos e externos, por meio de auditorias de qualidade e risco técnico pautado no ciclo de vida do produto e na cadeia de suprimentos. A área de marketing, por sua vez, tem a atribuição de elaborar o plano de posicionamento e identidade da marca, estruturando planos de relacionamento e comunicação interna e externa com os stakeholders. A área de pesquisa e desenvolvimento deve buscar a vocação tecnológica da empresa e manter um processo de inovação constante. A área de gestão de pessoas gerencia planos de desenvolvimento de carreira e, junto com a comunicação interna, atua na gestão da cultura organizacional e questões comportamentais (ex.: motivação, canais de comunicação e informação). Por fim, as áreas jurídica e financeira são responsáveis pelo cumprimento das leis e normativas, da diminuição de riscos e elevação das vantagens financeiras, por meio de auditorias jurídicas, balanços e relatórios ecológicos (Ashley, 2002, p. 67). Investimento em proteção ambiental 8 Figura 2 – Habilitadores do desempenho ambiental Fonte: Melo Neto; Froes, 2011, p. 98. Recomenda-se estabelecer indicadores de capital natural porque isso possibilita gerar um relatório com dados e resultados objetivos dos prováveis impactos financeiros, sociais e ambientais, melhorando a análise no momento da tomada de decisão (O que..., 2017). Saiba mais 1. LUTTI, N. Iniciativas sobre capital natural – mapeando este labirinto. Página 22, 8 dez. 2015. Disponível em: <http://pagina22.com.br/2015/12/08/iniciativas- sobre-capital-natural/>. Acesso em: 13 jun. 2018. 2. CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável. Publicações. 2018. Disponível em: <http://cebds.org/publicacoes/>. Acesso em: 13 jun. 2018. TEMA 3 – CRISE SOCIAL E DIMENSÕES DA RSE A desigualdade social e a pobreza são frutos, principalmente, de uma sociedade desequilibrada na distribuição de riquezas e acesso a oportunidades. Alguns dos motivos causadores estão relacionados à forma como os recursos naturais são utilizados e como a política de empresas transnacionais influencia na economia para o desenvolvimento de um país. De acordo com o Programa para o Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), no Brasil, mais de 29 milhões de pessoas saíram da pobreza entre 2003 e 2013. No entanto, o nível voltou a crescer entre 2014 e 2015, quando cerca de 4 milhões de pessoas ingressaram na pobreza. No mesmo período, a taxa de desemprego também voltou a subir, atingindo mais de 12 milhões de pessoas. Andréa Bolzon, coordenadora do Relatório de Desenvolvimento Humano Nacional, afirma que: 9 Não adianta pensar apenas em crescimento econômico a qualquer preço. No passado, o Brasil cresceu a taxas altíssimas, mantendo uma taxa de pobreza alta. Agora, o país precisa voltar a crescer com muito cuidado, incluindo as pessoas e não concentrando o resultado desse crescimento. (Rodrigues, 2017) A dimensão do problema da desigualdade social pode ser medida na seguinte equação: os brasileiros mais ricos recebem 36 vezes acima do que ganham os pobres. Segundo um editorial do Jornal do Comércio, “temos em torno de 12,5 milhões de desempregados, e isso se reflete no comércio, na indústria, nos serviços e nas arrecadações da União, dos estados e dos municípios” (A desigualdade..., 2018) A escassez de alimentos e a má qualidade alimentar também fazem parte da crise social. Segundo anunciou José Graziano, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), “Se o Brasil não conseguir retomar o crescimento econômico, gerar empregos de qualidade e ter um programa de segurança alimentar voltado especificamente para as zonas mais deprimidas, nós podemos, infelizmente, voltar a fazer parte do Mapa da Fome” (Azevedo, 2017). A fome está também relacionada a fatores climáticos, como a falta de chuva em regiões áridas e semiáridas, à má distribuição de terras (reforma agrária) e à concentração de renda nas mãos de poucos. Outrofator é o emprego temporário, o qual é um exemplo da vulnerabilidade social e acontece muito entre os trabalhadores rurais volantes. Quando há uma safra boa, garante-se o emprego por seis a oito meses no ano, mas quando a safra é ruim, eles não conseguem se manter. Nas orientações estratégicas para a responsabilidade social propostas pelos autores do livro Ética e responsabilidade social nos negócios (Ashley, 2002), as dimensões da responsabilidade social empresarial são fundamentas em quatro relações: 10 Figura 3 – RSE: Quatro dimensões de relações Fonte: Ashley, 2002, p. 45. As relações político-sociais precisam ser organizadas de acordo com as parcerias estabelecidas entre a empresa e a sociedade civil organizada (terceiro setor) e o Estado (federal, estadual, municipal). A dimensão das relações de produção e distribuição será variável de acordo com o tipo de constituição da organização (Ltda., Cooperativa, S.A. Capital Misto), capital natural e humano, finanças e as formas de contratação de trabalhadores. A dimensão das relações econômicas trata do objeto da empresa, do foco do negócio, também conhecido como core business, e engloba a cadeia de suprimentos (fornecedores, compradores, ecossistemas, incluindo suas relações com inovação e tecnologia). A quarta dimensão (as relações tempo-espaço) é fundamental para resgatar a constituição histórica e geográfica do conceito da empresa. Ela proporciona o pensamento crítico da própria organização empresarial e seus impactos tanto no tempo quanto no espaço, demonstrando a visão ecocêntrica São parcerias estabelecidas para autoavaliação, medição de resultados e avanços para o desenvolvimento sustentável. TEMA 4 – MODELO DOS TRÊS DOMÍNIOS DA RSE Quando falamos em modelo de gestão, estamos nos referindo ao processo da transformação de objetivos em resultados, metas, ações de impacto e altas expectativas de desempenho. De acordo com Gugelmeier (2014), especialista em métodos e ferramentas corporativas e autor do livro 11 sobre gestão Prisma – pirâmide corporativa (2007), “Tudo isso vai muito além dos números, é para valorizar as pessoas, inspirando confiança e liberando potenciais” Assim, compreende-se que o Modelo dos três domínios da RSE, proposto por Schwartz e Carroll (2003), orienta os gestores para seguir alguns passos na área de responsabilidade social, tais como fixar objetivos, elaborar estratégias, definir prioridades, desenvolvimento de equipes-chave, desenhar a organização e gerenciar o monitoramento das ações. Tudo isso visando a atender os stakeholders da empresa. O primeiro artigo relativo a esse assunto surge no ano de 1979, sendo que em 1991 há uma evolução para a pirâmide conceitual direcionada aos gestores de empresa. O modelo piramidal era então constituído por quatro vertentes: 1. Responsabilidade econômica; 2. Responsabilidade legal; 3. Responsabilidade ética; 4. Responsabilidade discricionária ou filantropia empresarial. Para Schwartz e Carroll (citado por Penha et al., 2016), tais responsabilidades “sempre existiram nas organizações empresariais e essa categorização não é mutuamente exclusiva porque uma ação pode ter motivos econômicos, legais, éticos e/ou discricionários”. Ao reavaliar o modelo, esses autores identificaram alguns problemas: o fato de a representação ser em forma de pirâmide dava a entender que as dimensões não se sobrepunham. Chegam à conclusão de que o modelo deve ser simbolizado com círculos concêntricos, considerando ser mais adequado ao conceito da responsabilidade social (Schwartz; Carroll, 2003). Com base nessa análise, Schwartz e Carrol (2003) propuseram o modelo com três domínios integrados entre si, sendo que nenhum prevalece sobre o outro. São os três domínios das responsabilidades: econômicas; legais e éticas, como mostra a Figura 4. 12 Figura 4 – Modelo dos três domínios da RSE Fonte: Schwartz; Carroll, 2003. Schwartz e Carroll (2003) propõem que, quando as empresas/organizações pensam em adotar um programa de RSE, o primeiro deles refere-se às responsabilidades econômicas, pois deve existir um retorno financeiro à empresa/organização, ou seja, é preciso ser lucrativo, porque só assim ele se mantém. Os lucros devem ser obtidos de acordo com as leis e normas do país onde está inserida a empresa/organização e cumprir as regras ambientais e de segurança em todos os produtos e/ou serviços. As responsabilidades éticas, por sua vez, relacionam-se com os comportamentos e as atitudes da empresa/organização perante a sociedade e os negócios, considerando os direitos de cada um. Os valores éticos devem ser sempre respeitados. Para Schwartz e Carroll (2003), o máximo a se alcançar é o sólido funcionamento, incluindo expectativas filantrópicas, de generosidade da sociedade. Espera-se que a empresa/organização apoie a cultura, haja participação em ações de solidariedade nas comunidades locais e apoio a instituições educacionais. Tudo isso para melhorar a vida em geral de comunidades. As responsabilidades legais são ações corporativas que não têm direta ou indiretamente benefício econômico. Poucas atividades podem ser consideradas “puramente legais”, mas a maioria delas são consideradas legais e também éticas (Schwartz e Carroll, 2003). As decisões acerca da RSE muitas vezes são tomadas sem o envolvimento de todos os colaboradores da empresa. E há falta de incentivo e de reconhecimento por atitudes positivas tomadas pelos colaboradores. Gestores de RSE precisam evitar esse tipo de situação. 13 Faz-se necessário destacar um ponto importante a respeito das responsabilidades éticas, observando o lado oposto, ou seja, quando os caminhos antiéticos predominam advêm também comportamentos antiecológicos. De acordo com Sertek (2014), autor do livro Responsabilidade social e competência interpessoal, os caminhos antiéticos seguem duas linhas comportamentais: a de levar vantagem em tudo e a do mínimo esforço, ambas opções consideradas de curto prazo e oportunismo e que, a longo prazo, deterioram as pessoas e instituições. TEMA 5 – RSE E A INCLUSÃO DE MINORIAS A responsabilidade social é considerada por muitos executivos como demasiado genérica e fragmentada, produto de ações que, na maioria das vezes, estão dissociadas da estratégia global da empresa e, por essa razão, não produzem impacto social nem reforçam a competitividade da corporação no longo prazo. Michael Porter, professor na Universidade de Harvard e especialista em estratégias de competitividade empresarial, propõe que “as empresas deixem de ‘agir sob pressão’ e de submeter suas agendas sociais ao interesse de terceiros” (Porter..., s.d.). Os gestores devem identificar os impactos negativos e positivos da empresa sobre a sociedade e o ambiente, priorizar temas relacionados com o contexto do negócio e adotar uma pauta social capaz de combinar estratégia empresarial com bem-estar social: “Quanto maior é a relação de um tema social com a atividade da empresa - acredita Porter - maior é a oportunidade de mobilizar recursos em benefício da sociedade” (Porter..., S.d.). Vamos conhecer o estudo de caso do Laboratório Fleury, fundado em São Paulo em 1926. Trata-se de uma empresa que oferece soluções nas áreas terapêutica, de prevenção da saúde e de diagnóstico, realiza mais de 6 milhões de exames na média anual e tem um quadro de mais de 2 mil funcionários, 300 médicos que atendem 18 unidades em São Paulo, Rio Janeiro e Brasília. Saiba mais Estudo de caso A empresa já desenvolvia ações na área social, mas desejava aprimorar o trabalho que vinha sendo feito. Além de ter como objetivo canalizar os recursos em projetos que pudessem ter os resultados monitorados e mensurados. Inicialmente criou-se o Comitê Interno para definir 14 e planejar as ações.Foi definida a realização de um diagnóstico inicial e conhecer as ações já desenvolvidas pelos funcionários. A empresa buscou encontrar ações que estivessem relacionadas ao seu negócio e tivessem conexão com o que os funcionários já desenvolviam nas áreas de saúde e de educação. Decidiu-se atuar com uma comunidade numa região próxima ao laboratório, Jabaquara. A instituição parceira escolhida foi o Centro Assistencial Cruz de Malta. Com uma administração transparente e com valores éticos comuns a ambas entidades. O projeto piloto foi a campanha Saúde da Mulher e envolveu 60 voluntários devidamente capacitados. No ano seguinte (2002) ampliaram-se os projetos para a inclusão digital para as pessoas de baixa renda e educação infantil para as famílias carentes. E houve o envolvimento de mais parcerias estratégicas do terceiro setor e do poder público. (Stadler, 2014, p.147-148) 7 passos direcionadores para a implementação da RSE Agora vamos disponibilizar orientações para implementação do processo de responsabilidade social e instrumentos básicos que orientem sua atuação profissional. 1º passo: A criação do Comitê de Responsabilidade Social (RS) é o primeiro passo. O instrumento de gestão é o “painel de stakeholders” que engloba a participação de membros representantes dos segmentos-chave para o negócio (ex: funcionários, fornecedores, transportadores, distribuidores, clientes, acionistas, governo, terceiro setor). O Comitê de RS tem a atribuição de elaborar o Termo de Referência (TR), definindo as responsabilidades, planos e projetos a serem implementados em parceria. 2º passo: Definição das diretrizes, normativas, indicadores de RSE que sua empresa vai seguir. A escolha será de acordo com o tamanho da empresa (micro-pequena-grande). Dentre eles estão, os indicadores Ethos, as diretrizes do Global ReportingIniciative (GRI- G4), ISO 26000, SA8000, ABNT-NBR 16001. 3º passo: Aplicação do diagnóstico de RSE para conhecer a realidade e o status da empresa e seus parceiros (stakeholders) em relação aos indicadores e diretrizes estabelecidas. Empresas de médio e grande porte costumam contratar serviços de consultoria para realizar o diagnóstico. Existem plataformas online que podem ser adquiridas e outras como a GRI-G4 são gratuitas. 4º passo: Analisar as respostas e apresentar resultados do diagnóstico ao grupo de trabalho. A partir de trabalho participativo, o Comitê estabelece o Plano de Ação, que incluirá a realização de diversos projetos. 5º passo: A formatação do Plano de Ação deve registrar os Projetos que serão realizados já com cronograma, planilha de custos e processo de implementação e monitoramento. Os projetos atenderão às necessidades apontadas no diagnóstico e serão implementados por etapa. 6º passo: Validação do Plano de Ação com a alta direção da empresa. Cabe ao Comitê elaborar uma apresentação concisa com os indicadores, percepções do grupo, impactos positivos e negativos, benefícios e principais desafios. 15 7º passo: Implementação dos projetos de acordo com as atribuições delegadas aos membros do Comitê. Para o monitoramento das ações e realização dos ajustes necessários a cada projeto, é importante estabelecer reuniões mensais ou bimestrais, de acordo com as necessidades. (Stadler (2014, p. 150-161) Saiba mais Sugerimos conhecer o Relatório de Responsabilidade Social 2017 da empresa BMA Advogados – Barbosa Müssnich Aragão. Acesse: <http://www.bmalaw.com.br/docsmkt/flipbook/index.aspx#p=4>. TROCANDO IDEIAS Os temas vistos nesta aula disponibilizam instrumentos para sua prática como gestor em RSE. No tema 2, sugerimos assistir ao vídeo da empresa Heineken, que divulga de maneira inédita suas ações voltadas para a gestão da sustentabilidade. Observe a linguagem de comunicação utilizada, as informações contidas no vídeo e a estética utilizada. Faça uma reflexão sobre o material e reflita se você utilizaria um formato como esse na sua empresa. Justifique sua decisão. NA PRÁTICA Nesta aula, você conheceu instrumentos importantes para a gestão de RSE e, dentre eles, os 7 passos direcionadores para a implementação da RSE. A atividade proposta se relaciona com esse conteúdo e consiste em que você elabore uma proposta para a implementação da RSE. Passos para resolver: 1. Escolha uma empresa para realizar a proposta; 2. Aplique os 7 passos direcionadores para a implementação da RSE; 3. Apresente a proposta num formato profissional, texto objetivo, claro e excelente apresentação visual. A síntese de uma resolução: 1. Prepare um texto com uma breve apresentação da empresa antes de escrever a proposta; 2. Ao elaborar a proposta, caso não seja possível a formação do painel de stakeholders, crie uma situação fictícia; 16 3. Elabore a proposta em Word ou similar, usando critérios ABNT ou Power Point. Lembre-se de inserir a apresentação da empresa na proposta. FINALIZANDO Assim, chegamos ao final desta disciplina, concluindo com a aula cujo foco principal foi sociedade, meio ambiente e inclusão social. No primeiro tema, falamos sobre crise ambiental, o pensamento ecossistêmico, retomando à visão de Fritjof Capra, e vimos o exemplo da empresa Heineken. No segundo tema, falamos sobre o capital natural e sua importância na responsabilidade social. O assunto do terceiro tema foi a crise social e as dimensões das relações da responsabilidade social empresarial. Em seguida, vimos o conhecido Modelo dos três domínios da RSE. Finalizando, falamos sobre a inclusão de minorias e conhecemos quais são os 7 passos direcionadores para a implementação da RSE. Desejamos que seu desempenho profissional na gestão de projetos alcance o mais elevado padrão de qualidade, sempre. Compartilho as boas energias para que sua atuação profissional na gestão da RSE seja transformadora, tanto para as empresas onde atuará como para você e todos as pessoas envolvidas. 17 REFERÊNCIAS A DESIGUALDADE social e os desafios para o Brasil (Editorial). Jornal do Comércio, 13 abr. 2018. Disponível em: <http://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/2018/04/opiniao/621773-a- desigualdade-social-e-os-desafios-para-o-brasil.html>. Acesso em: 13 jun. 2018. ALENCASTRO, M. Ética e meio ambiente: construindo as bases para um futuro sustentável. Curitiba: InterSaberes, 2015. ASHLEY, P. (Coord.). Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, 2002. AZEVEDO, G. 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