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Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 1 💭 Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 1. Definir Consciência e Inconsciência A definição neuropsicológica emprega o termo “consciência” no sentido de estado vígil (vigilância) - iguala a consciência ao grau de clareza do sensório. Consciência é fundamentalmente o estado de estar desperto, acordado, vígil, lúcido - trata-se especificamente do nível de consciência. Já a definição psicológica a conceitua como a soma total das experiências conscientes de um indivíduo em determinado momento. É a dimensão subjetiva da atividade psíquica do sujeito que se volta para a realidade. Na relação do Eu com o meio ambiente, a consciência é a capacidade do indivíduo de entrar em contato com a realidade, perceber e conhecer os seus objetos. A definição ético-filosófica é utilizada mais frequentemente no campo da ética, da filosofia, do direito ou da teologia. O termo “consciência” refere-se à capacidade de tomar ciência dos deveres éticos e assumir as responsabilidades, os direitos e os deveres concernentes a essa ética. Assim, a consciência ético-filosófica é atributo do homem desenvolvido e responsável, engajado na dinâmica social de determinada cultura. Refere-se a consciência moral, ética e política. John Searle (2000), ressalta a importância de articular conceitualmente a consciência com a busca das neurociências contemporâneas de correlatos neuronais dos estados de consciência (CNEC). O aspecto fundamental da consciência que se deve tentar explicar, segundo ele, é seu caráter de unidade qualitativa subjetiva. Todo estado de consciência vem acompanhado de um sentimento qualitativo especial. A experiência de beber uma cerveja com os amigos é muito diferente da de ouvir uma sinfonia de Beethoven, e ambas são distintas de sentir o perfume de uma mulher bonita ou ver o crepúsculo na praia - esses exemplos revelam o caráter qualitativo das experiências conscientes. Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 2 Lucidez da Consciência: a lucidez constitui um estado de consciência clara, ou de vigilância plena – a consciência teria uma função iluminadora quanto aos conteúdos mentais. Na lucidez, os processos psíquicos são experimentados com suficiente intensidade; os estímulos são adequadamente apreendidos; e os conteúdos mentais possuem nitidez e são claramente delimitados e identificados. Em oposição à lucidez estão o sono e o coma. Entre esses extremos, há diversos níveis de clareza da consciência, o que representa a dimensão vertical da consciência. Neuropsicologia da Consciência O sistema Research Domain Criteria (RDoC) contém construtos psicológicos dimensionais relevantes tanto para o comportamento humano normal como para a psicopatologia. No campo da neuropsicologia da consciência, o RDoC propõe sistemas reguladores relacionados ao nível de consciência (arousal), os quais são responsáveis por gerar toda a ativação dos sistemas neurais nos vários contextos da vida. Eles têm por função produzir uma regulação adequada dos estados de consciência vígil (sujeito acordado) e dos períodos de sono. Segundo o RDoC, deve-se salientar que o nível de consciência é o continuum de sensibilidade e alerta do organismo perante os estímulos, tanto internos como externos. As principais características e propriedades do nível de consciência são: O nível de consciência facilita a interação da pessoa com o ambiente de forma adequada ao contexto no qual o sujeito está inserido (p. ex., em situações de ameaça, alguns estímulos podem ser ignorados, e, ao mesmo tempo, a sensibilidade para outros, mais relevantes, pode estar aumentada, expressando o chamado estado de alerta). O nível de consciência adequado pode ser evocado tanto por estímulos externos ambientais como por estímulos internos, como pensamentos, emoções, recordações. O nível de consciência pode ser modulado tanto pelas características dos estímulos externos como pela motivação que o estímulo implica para o indivíduo em questão. Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 3 O nível de consciência varia ao longo de um continuum que inclui desde o estado total de alerta, passando por níveis de redução da consciência até os estados de sono (variação normal) ou coma (variação patológica). Delirium cam icus O delirium se caracteriza por um declínio agudo nos níveis tanto de consciência quanto de cognição, com particular comprometimento da atenção. Podendo ser letal, mas ainda potencialmente um transtorno reversível do sistema nervoso central (SNC), o delirium costuma envolver perturbações da percepção, atividade psicomotora anormal e prejuízo do ciclo de sono-vigília. A condição com frequência passa despercebida por profissionais do sistema de saúde. Tremor, asterixe, nistagmo, incoordenação e incontinência urinária são sintomas neurológicos habituais. Em sua forma clássica, o delirium apresenta início repentino (horas ou dias), um curso breve e instável e melhora rápida quando o fator causativo é identificado e eliminado, mas cada um desses aspectos característicos pode variar de um indivíduo para outro. Delirum ou Estado Confusional Agudo Descrito a principio por Hipócrates (500 a.C) como "Frenite", pois ele associava essa sindrome com pacientes que estavam tendo febre. Celsus foi o primeiro a falar sobre delirium na literatura médica. Sims já diferenciou delirium de loucura e foi o primeiro a falar das duas formas. Romano e Engel no século XX falaram que delirium era a quebra da homeostase cerebral, e geravam transtorno do nivel de consciencia. Delirium é uma alteração cognitiva de início agudo, curso flutuante com disturbios de consciencia, memoria, atenção, pensamento e comportamento. Tal patologia é normalmente apresentado em pessoas idosas, e cerca de 50% destes são hospitalizados, considerado uma emergencia geriátrica. O paciente que apresenta delirium comumente apresenta mais tempo de hospitalização e maior mortalidade e institucionalização. O delirium diz respeito, portanto, aos vários quadros com rebaixamento leve a moderado do nível de consciência, acompanhados de desorientação temporoespacial, dificuldade de concentração, perplexidade, ansiedade em graus variáveis, agitação ou lentificação psicomotora, discurso ilógico e confuso e ilusões Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 4 e/ou alucinações, quase sempre visuais. Trata-se de um quadro que oscila muito ao longo do dia. Não se deve confundir delirium (quadro sindrômico causado por alteração do nível de consciência, em pacientes com distúrbios cerebrais agudos) com o termo “delírio” (ideia delirante; alteração do juízo de realidade encontrada principalmente em psicóticos esquizofrênicos ou em outras psicoses). Os quadros de delirium ocorrem em função de uma perturbação difusa no metabolismo cerebral, que pode ser causado por: intoxicações por drogas (álcool, anticolinérgicos); abstinência a drogas (álcool, benzodiazepínicos); encefalopatias metabólicas (cetoacidose diabética, uremia, coma hepático); infecções (septicemia, meningoencefalites); epilepsia; traumatismo cranioencefálico; doenças cerebrovasculares; tumores intracranianos; doenças degenerativas cerebrais; 1. Fatores Predisponentes: demência (principal), idade, comorbidades, gravidade da doença de base, desidratação, doença renal cronica. 2. Fatores Precipitantes: medicamentos (principalmente os psicoativos), iatrogenia (qualquer alteração patológica provocada no paciente pela má prática médica), procedimentos invasivos (cateterizado, procedimentos cirurgicos), restrição física/imobilização provocada, doenças agudas. 3. Fisiopatologia: incerta, ocorre redução do metabolismo oxidativo cerebral gerando uma falência na transmissão colinérgica e atividade dopaminérgica em excesso (na Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 5 qual resulta em uma diminuição na liberação de acetilcolina). 4. Quadro Clínico: tem inícioagudo (do nada), déficit de atenção (focar e manter), desorganização do pensamento, alteração no nivel de consciencia (no caso do delirium hiperativo ele n esta rebaixado), curso flutuante durante o dia (melhor ou pior), desorientação, déficit cognitivo, alterações psicomotoras, alucinações, ansiedade, agressividade, alteração no ciclo sono-vigilia. Forma Hiperativa = paciente mais agitado e agressivo (consigo e com os outros). Forma Hipoativa = rebaixamento do nivel de consciencia, apresenta prostração, pouco contactante e pior prognóstico. Forma Mista = alternancia entre os dois pólos. 💡 Delirium versus demência Os principais pontos diferenciais entre ambos são o tempo de desenvolvimento da condição e a oscilação no nível de atenção no delirium em comparação com a atenção relativamente consistente na demência. O tempo de desenvolvimento dos sintomas costuma ser curto no delirium, e, com exceção de demência vascular causada por acidente vascular, o início de demência é gradual e insidioso. Embora as duas condições incluam prejuízo cognitivo, as alterações na demência são mais estáveis com o passar do tempo e, por exemplo, em geral não oscilam ao longo de um dia. Um paciente com demência costuma estar alerta; um paciente com delirium apresenta episódios de redução da consciência. Eventualmente, delirium ocorre em um paciente com demência, uma condição conhecida como demência nebulosa. Um diagnóstico duplo de delirium pode ser realizado quando houver uma história bem estabelecida de demência preexistente. Diagnóstico Exame Neurologico Detalhado - afastar deficits focais; Checar medicamentos em uso (caso foram adicionados medicamentos, com correlacao entre 3 medicamentos, ou introducao de medicamentos psicoativos); Abuso de Alcool (pode desenvolver o delirium tremens) Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 6 Escala de Confusion Assessment Method (CAM) Composto por 4 pontos: A. Estado confusional agudo com flutuação marcante; B. Deficit de atenção marcante; C. Pensamento e discurso desorganizado; D. Alteração do nível de consciencia (ou não); Diagnostico Diferencial: demencia, depressão e alterações psicóticas não organicas. Tratamento Identificar e tratar fator precipitante; Estratégias de reorientação; Permitir presença de familiares; Estimular mobilidade e independencia para atividades; Contenção no leito deve ser evitada; Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 7 Neuroléticos (obnulação, risperidona), Haloperidol (um antipsicótico de butirofenona) e Benzodiazepínicos; 💡 Delirium por intoxicação e por estimulantes O delirium associado ao uso de estimulantes geralmente resulta de doses elevadas de um estimulante ou de seu uso prolongado, sendo que a privação de sono decorrente afeta a apresentação clínica. A combinação de estimulantes com outras substâncias e seu uso por indivíduo com dano cerebral preexistente também podem causar o desenvolvimento de delirium. Não raro universitários que fazem uso de anfetaminas a fim de estudar para provas exibem esse tipo de delirium. Campo da Consciência Ao voltar-se para a realidade, a consciência demarca um campo, no qual se pode delimitar um foco, ou parte central mais iluminada da consciência, e uma margem (franja ou umbral), que seria sua periferia menos iluminada, mais nebulosa. Segundo a psicopatologia clássica, é na margem da consciência que surgem os chamados automatismos mentais e os estados ditos subliminares. O campo (ou amplitude) da consciência refere-se à quantidade de conteúdos que a consciência abarca em determinado momento, e representa a dimensão horizontal da consciência. O Inconsciente O conceito de inconsciente dinâmico e determinante da vida psíquica é um dos pilares mais importantes da psicanálise e da psicopatologia dinâmica com base na psicanálise. Já no fim do século XIX, Freud e Breuer (1895), pesquisando com a hipnose os conteúdos esquecidos, reprimidos, de seus pacientes, verificaram que certas ideias que surgiam em estado hipnótico eram intensas, mas isoladas da comunicação associativa com o restante do conteúdo da consciência, organizando-se, então, como uma segunda consciência. Perceberam que, em pacientes histéricos, os atos podem ser regidos por essa outra vontade que não a consciente. Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 8 Freud chegou à conclusão, ao longo de suas investigações, de que existem duas classes de inconsciente: o verdadeiro inconsciente e o inconsciente pré- consciente. O primeiro é fundamentalmente incapaz de consciência. Já o pré-consciente é composto por representações, ideias e sentimentos suscetíveis de recuperação por meio de esforço voluntário: fatos, lembranças, ideias que esquecemos, deixamos de lado, mas que podemos, a qualquer hora, evocar voluntariamente. Segundo Freud, na Enciclopédia Britanica, chamamos o inconsciênte então essas tendências de “recalcadas”. Elas permanecem inconscientes e, se o médico tenta trazê-las à consciência do paciente, provoca “resistência”. Esses impulsos instintivos recalcados não têm, contudo, seu poder anulado por esse processo. Em muitos casos, conseguem fazer sentir sua influência por caminhos tortuosos, e a satisfação indireta ou substitutiva de impulsos recalcados é o que cria os sintomas neuróticos. Características funcionais do inconsciente Atemporalidade: no inconsciente, não existe tempo; ele é atemporal. Os processos inconscientes não são ordenados temporalmente, não se alteram com a passagem do tempo, não têm qualquer referência ao tempo. Não existe, aqui, passado, presente ou futuro. Isenção de contradição: no sistema inconsciente, não há lugar para negação ou dúvida, nem graus diversos de certeza ou incerteza. Tudo é absolutamente certo, afirmativo. Princípio do prazer: o funcionamento do inconsciente não segue as ordens da realidade; submete-se apenas ao princípio do prazer. Toda a atividade inconsciente visa evitar o desprazer e proporcionar o prazer, independentemente de exigências éticas ou realistas. A busca do prazer se dá por meio da descarga das excitações, diminuindo-se ao máximo a carga de excitações no aparelho psíquico. Processo primário: as cargas energéticas (catexias) acopladas às representações psíquicas, às ideias, são totalmente móveis. Uma ideia pode ceder a outra toda sua cota de energia (processo de deslocamento) ou apropriar-se de toda a energia de várias outras (processo de condensação). Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 9 2. Descrever as principais escalas de avaliação do nível de consciência em situações de traumatismos cranioencefálicos, situações de sedação, aspectos psicológicos e de função cognitiva O exame da consciência (vigilância) Expressão fisionômica Uma fácies que denota sonolência ou fadiga constitui um indício de que a consciência está rebaixada. A fisionomia pode expressar ainda perplexidade, que resulta de uma dificuldade de apreensão do ambiente. Alienação do mundo externo Uma aparente alienação do mundo externo pode indicar tanto rebaixamento como estreitamento da consciência. Traduz-se por um desinteresse, ou dificuldade de apreensão, em relação ao ambiente; ou por um comportamento inadequado ou incoerente, que não leva em consideração a realidade. Outras funções psíquicas Indica uma perturbação da consciência a observação de alterações principalmente quanto à atenção, à orientação, à sensopercepção, à memória e à capacidade de reflexão. Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 10 Richmond Agitation-Sedation Scale (RASS) A escala de RASS é menos usada no pronto-socorro e mais usada na terapia intensiva, e por isso costuma ser menos conhecida entre os acadêmicos. Ao contrário da ECG, em que a pontuação é dividida entre três avaliações específicas que depois são somadas, o escore da RASS é global: o médico observa o paciente e lhe atribui uma nota de -5 a +4, de acordo com sua observação. Como se poderia imaginar,o RASS 0 é o paciente “normal”: calmo, acordado, respondendo normalmente a estímulos — nem agitado, nem sedado. Pontuações positivas (+1 a +4) são dadas a pacientes superativos, inquietos, combativos, enquanto pontuações negativas (-1 a -5) são reservadas para pacientes sonolentos, sedados ou comatosos. Apesar de a RASS dar a impressão de ser menos objetiva do que a Escala de Glasgow, porque utiliza uma avaliação global em vez de três avaliações bem definidas, ela é bastante confiável na avaliação de pacientes críticos e prediz mortalidade tão bem quanto a ECG. O uso de escalas de sedação na terapia intensiva tem impactos positivos para o paciente e para o serviço, incluindo menor tempo de ventilação mecânica e menor uso de sedativos. No caso específico da RASS, ela tem a vantagem de incluir a análise da agitação, já que a maioria dos pacientes críticos apresenta agitação em algum momento da internação. Como calcular Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 11 Assim como a ECG, existe um algoritmo para o cálculo do escore RASS do nosso paciente. Primeiro, observe. Se o paciente estiver calmo e alerta, o escore é 0. Se o paciente demonstra agitação ou inquietação, dê um escore de +1 a +4, de acordo com a tabela. Se o paciente não estiver alerta, use a voz. Chame o paciente pelo nome com voz alta e firme e peça que ele olhe nos seus olhos. Se o paciente abre os olhos e mantém contato visual por mais de dez segundos, RASS -1; Se o paciente abre os olhos e faz contato visual, mas não o mantém por dez segundos, RASS -2; Se o paciente reage fisicamente ao chamado (abrindo os olhos ou fazendo outro movimento qualquer), mas não faz contato visual, RASS -3; Caso o paciente não tenha nenhuma reação à voz, o passo seguinte é o estímulo físico. Primeiro tente balançar o ombro do paciente e, se não houver resposta, faça estímulo de dor esfregando os nós dos dedos no seu esterno. Se o paciente apresentar qualquer movimento em resposta ao estímulo, RASS -4; Se o paciente não apresenta nenhuma resposta a estímulo verbal ou físico, RASS -5; Escala FOUR (Full Outline of UnResponsiveness) uma escala mais recente que vem ganhando espaço na prática clínica, sobretudo na avaliação de pacientes intubados, nos quais a avaliação da resposta verbal não é possível, prejudicando a pontuação na ECG. Essa escala analisa mais detalhes neurológicos (incluindo o tronco cerebral) e é capaz de identificar condições como síndrome do encarceramento, estado vegetativo e diferentes graus de herniação cerebral. Sua pontuação total vai de 0 a 16 e tem boa relação prognóstica e de seguimento. Resposta Ocular https://www.uptodate.com/contents/image?imageKey=PULM%2F57874&topicKey=PULM%2F1606&search=sedation%20in%20icu&rank=1~150&source=see_link Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 12 Pálpebras abertas espontaneamente ou pelo examinador, segue o objeto ou pisca os olhos a pedido = 4 Pálpebras abertas, mas não segue objeto com o olhar = 3 Pálpebras fechadas, mas abre com estímulo de voz alta = 2 Pálpebras fechadas, mas abre com estímulo doloroso = 1 Pálpebras permanecem fechadas mesmo após estímulo doloroso = 0 Resposta Motora Levanta os polegares ou os punhos ou faz sinal de paz = 4 Localiza dor = 3 Flexão em resposta à dor = 2 Extensão em resposta à dor = 1 Sem resposta à dor ou estado de mioclonia generalizada = 0 Reflexos do Tronco Cerebral Reflexos pupilar e córneo presentes = 4 Uma pupila dilatada e fixa = 3 Reflexos pupilar ou córneo ausente = 2 Reflexos pupilar e córneo ausentes = 1 Reflexos pupilar, córneo e de tosse ausentes = 0 Respiração Respiração regular, não intubado = 4 Respiração de Cheyne-Stokes, não intubado = 3 Respiração irregular, não intubado = 2 Respiração em ventilação mecânica acima da taxa de ventilação = 1 Respiração na taxa de ventilação ou apneia = 0 Teste de Romberg Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 13 É uma avaliação clínica que revela alterações no equilíbrio estático do paciente. O procedimento permite a análise de 3 bases neurofisiológicas que possibilitam o equilíbrio: sistema vestibular, sistema visual e sistema proprioceptivo. De forma simplificada, podemos dizer que o sistema vestibular foca na orientação da cabeça em relação ao ambiente em redor. Já o sistema proprioceptivo permite nossa orientação quanto ao corpo e seus movimentos no espaço. Por fim, o sistema visual coleta e apresenta uma série de informações sobre o ambiente, reforçando nossa capacidade de equilíbrio. Junto ao meio ambiente, eles são responsáveis por relacionar atividade sensorial e motora para permitir que o corpo se mantenha ereto. Então, apesar de parecer algo simples, a tarefa de se manter em pé é bastante complexa. E o teste de Romberg existe para investigar perturbações que atrapalhem essa tarefa, com impacto negativo nos sistemas vestibular, visual e proprioceptivo. O teste pode ter abordagem preventiva ou para diagnóstico de problemas neurológicos. No primeiro caso, costuma ser indicado para funcionários contratados para atuar em ambientes perigosos, por exemplo, no trabalho em altura. O objetivo é evitar quedas que, nesse contexto, podem levar a acidentes de trabalho graves ou até mesmo à morte. Romberg positivo 1. Primeiro, o paciente é orientado pelo profissional que vai conduzir o exame, tomando ciência de que terá suporte se ameaçar cair 2. Depois, deve se levantar e permanecer parado, em posição ortostática. Significa que deve estar com os pés unidos e os braços pendendo ao lado do corpo 3. O médico ou técnico de enfermagem ficam ao lado do paciente, prontos para sustentá-lo caso ele perca o equilíbrio 4. O paciente se mantém em posição ortostática, com os olhos abertos, por cerca de 1 minuto. Essa fase serve para avaliar seu equilíbrio na presença da visão 5. Depois, deve fechar os olhos e permanecer parado por mais 1 minuto. Essa é a etapa reveladora, pois verifica sua capacidade de se equilibrar sem o apoio da visão. Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 14 Durante todas as fases, o paciente deve ser capaz de manter a postura ereta, ainda que com pequenas oscilações. Esse quadro caracteriza resultado negativo para o teste de Romberg. Já quando o paciente mostra tendência a cair para frente ou para os lados, o Romberg é positivo. Essa situação pede mais testes para identificar onde está o problema, de que tipo é a lesão e qual a terapia adequada. Ramsay Sedation Scale (RSS) Publicada em 1974 pelo Dr. Michael Ramsay, Há quem diga que é a escala de sedação mais usada na prática dos CTIs, apesar de na minha experiência pessoal eu ter visto muito mais a RASS. A RSS é mais simples, mas menos acurada do que a escala Richmond. A RSS vai de 1 a 6 pontos, e é ainda mais centrada na sedação do que a escala de RASS. Quanto mais alto o escore, mais sedado o paciente: a pontuação 6 corresponde a um paciente desacordado, que não reage a um estímulo sensorial glabelar nem a sons altos, enquanto a pontuação 1 corresponde a um paciente acordado e agitado. A escala Ramsay é usada para avaliar o nível de sedação do paciente, principalmente na terapia intensiva. É mais antiga do que a escala Richmond, mas não necessariamente apresenta melhores resultados na avaliação da sedação. Além disso, a RASS tem a vantagem de avaliar de forma mais pormenorizada a agitação, o que também é importante no manejo do paciente crítico. Como calcular Como de costume, o primeiro passo para calcular o escore Ramsay do paciente é observar: se ele estiver acordado e agitado, Ramsay 1; se ele estiver acordado e cativo, mas calmo, Ramsay 2; se ele estiver desacordado ou inativo, Ramsay 3 ou maior; O segundo passo é conversar com o paciente: se ele reage a comandos, Ramsay 3; se ele está desacordado e não reage a comandos, Ramsay 4 ou maior; Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 15 Por fim, o observador deve chamar o paciente com voz alta e firmee bater levemente em sua glabela (entre as sobrancelhas): se o paciente reage de forma energética, Ramsay 4; se o paciente reage de forma lenta e letárgica, Ramsay 5; se o paciente não responde aos estímulos, Ramsay 6; Comfort A escala COMFORT foi criada em 1992 para avaliar a resposta da população pediátrica a medidas de conforto (sedação, analgesia etc.), e foi demonstrado que sua aplicação diminui o tempo de ventilação mecânica e o uso de sedativos e analgésicos em pacientes pediátricos. Este escore é um pouco mais complexo do que as escalas abordadas anteriormente. São nove parâmetros, cada um avaliado com uma nota de 1 a 5, que somando gera um score que vai de 9 a 45 (sendo 9 um paciente profundamente sedado e 45, um paciente bem desconfortável e agitado). Os parâmetros incluem observação comportamental (nível de alerta, tensão facial, choro) e também sinais vitais (pressão arterial e frequência cardíaca). Uma variante dessa escala é a COMFORT-B (B de behavior, ou seja, comportamento), um escore mais simples, que exclui os sinais vitais da avaliação, focando mais nos parâmetros comportamentais. São sete itens que valem de 1 a 5 pontos, totalizando um escore que vai de 7 a 35 pontos. 3. Explicar a Escala de Coma de Glasgow Caracterização de Coma Coma é um estado de comprometimento patológico da consciência devido a alterações funcionais ou estruturais em diversos níveis do sistema nervoso central (SNC), como lesões encefálicas destrutivas ou expansivas, processos infecciosos, inflamatórios, tóxicos, metabólicos, ou disfunções de outros sistemas (cardiorrespiratório, hepático, renal, endócrino, hematológico etc.), com repercussão secundária sobre o SNC. Considera se em coma o indivíduo que apresenta comprometimento acentuado da percepção de si e do meio ambiente (componente qualitativo de consciência), Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 16 acompanhado de redução do nível de alerta ou despertar (componente quantitativo de consciência), com baixa ou nenhuma reatividade a estímulos auditivos, visuais, táteis e dolorosos. Para a caracterização do coma, é fundamental que ambos os componentes da consciência estejam envolvidos no quadro disfuncional, uma vez que o comprometimento exclusivo da percepção de si e do meio, sem alterações no nível de vigilância, pode ocorrer em outros estados alterados de consciência, como em quadros demenciais e psicóticos. Igualmente, a hipersonolência, sem confusão mental, pode ser um distúrbio do sono, sem caracterizar coma. O comprometimento de consciência que precede a instalação do coma pode ser insidioso ou abrupto, direcionando o médico para seu mecanismo fisiopatológico e suas prováveis etiologias. Pode envolver os componentes qualitativo ou quantitativo da consciência de forma diferente, até que os dois elementos se associem em intensidade suficiente para determinar o coma. Assim, certas encefalopatias podem provocar inicialmente um estado de euforia, ou de confusão mental e delírio, sem que haja alteração no nível de alerta ou despertar do indivíduo, com posterior surgimento de sonolência, torpor e, finalmente, o coma, caso um tratamento eficaz não seja instituído. Os estados gradativos de comprometimento do alerta, anteriores à instalação do coma Sonolência patológica - em oposição ao coma, é seu caráter cíclico, reversível e não progressivo; Turvação da consciência - geralmente com distúrbios de percepção do ambiente e alteração no conteúdo e curso do pensamento, levando a alucinações ou ilusões (delírio), com ou sem disforia e descontrole emocional, que, com o tempo, combina se com flutuações do nível de alerta e atenção, tendendo a redução da vigilância e a sonolência; Estupor ou Torpor - estado em que o nível de alerta é nitidamente mais comprometido em relação ao anterior, associado a confusão mental em diversos graus; Escala de Glasgow Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 17 É uma escala focada em déficits: geralmente, partimos da pontuação máxima (15) e retiramos pontos de acordo com os déficits que observamos no paciente. Ao contrário da Richmond Agitation-Sedation Scale, a Escala de Glasgow não mede agitação: um paciente combativo, contido mecanicamente, xingando os funcionários do serviço, e um paciente calmo e colaborativo, ambos terão a pontuação 15 — talvez, dependendo do que o paciente agitado responder às suas perguntas, é possível até que ele perca pontos no quesito “resposta verbal”, o que não quer dizer necessariamente que ele esteja mais perto do coma do que o paciente calmo e colaborativo (pelo menos não antes de lhe ser receitada sua levomepromazina). A Escala de Glasgow é estruturada na avaliação de três comportamentos: abertura ocular, resposta verbal e resposta motora. O paciente recebe uma pontuação em cada um desses quesitos, e a soma deles é o escore final do paciente. Classicamente, a Escala de Glasgow vai de 3 a 15, sendo 3 um paciente completamente irresponsivo (coma profundo) e 15 um paciente com nível de consciência preservado (calmo e colaborativo ou em mania). Na prática, a Escala de Glasgow é usada para avaliar rapidamente o nível de consciência de qualquer paciente, clínico ou cirúrgico, principalmente no pronto- socorro. Já foi demonstrado que existe uma correlação contínua entre a pontuação na escala e o prognóstico do paciente: quanto mais baixo o escore, maior a mortalidade. É rápido, objetivo e confiável: dizer que o paciente está em Glasgow 10 ou Glasgow 5 é muito mais útil do que dizer que ele está “sonolento” — que é o que um leigo diria ao ver alguém em Glasgow 10, mas também em Glasgow 5. Como Calcular Para calcular o Glasgow do paciente, o primeiro a se fazer é checar se não há nada que possa interferir na sua avaliação. Um paciente intubado não terá nenhuma resposta verbal, mesmo que esteja acordado e alerta, e um paciente com hemiplégico pós-AVC pode não obedecer a certos comandos motores, mesmo sem apresentar redução do nível de consciência. O segundo passo é observar. O paciente entrou no consultório andando e falou “bom dia”, olhando nos seus olhos: Glasgow 15. Você não precisa fazer testes, não precisa pedir para ele levantar o braço ou dizer seu nome: basta observar. O terceiro passo, agora sim, é estimular. O paciente está na maca da sala de emergências cirúrgicas, após um acidente motociclístico: olhos fechados, sem Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 18 movimentos, calado. Isso não significa que ele esteja em coma (segure seu tubo!). Ele pode estar simplesmente dormindo. Nesse caso, primeiro use a voz: assim ele pode abrir os olhos, responder perguntas e ouvir seus comandos. Se isso não for o suficiente, use o toque (estímulo físico leve). Se ainda assim o paciente não estiver totalmente responsivo, utilize estímulos físicos mais vigorosos. Por fim, avalie: dê pontos para cada comportamento do paciente de acordo com a tabela e some as três pontuações (abertura ocular, resposta verbal e resposta motora) para chegar ao escore final. 4. Compreender os mecanismos responsáveis pela consciência e os fatores que levam a perda da consciência Bases Neuroanatomicas e Funcionais O primeiro elemento do sistema nervoso relacionado ao nível de consciência é o chamado sistema reticular ativador ascendente (SRAA). Foram Horace Winchell Magoun e Giuseppe Moruzzi que inicialmente propuseram o SRAA. Esses autores partiram da noção de que a capacidade de estar desperto e agir conscientemente depende da atividade do tronco cerebral e do diencéfalo. Essas estruturas exercem poderosa influência sobre os hemisférios cerebrais, ativando-os e mantendo o tônus necessário para seu funcionamento normal. O SRAA se origina no tronco cerebral, e sua ação se estende até o córtex, por meio de projeções talâmicas. Elementos do SRAA particularmente importantes para a ativação cortical são os neurônios da parte superior da ponte e os do mesencéfalo. Tais neurônios recebemimpulsos da maioria das vias ascendentes, as quais trazem estímulos intrínsecos (proprioceptivos e viscerais) e extrínsecos (órgãos dos sentidos: visão, audição, tato, paladar e olfato). Lesões ou disfunções no SRAA produzem alterações do nível de consciência e prejuízo a todas as funções psíquicas. A ativação do SARA leva a um aumento da vigilância. O alerta está relacionado especialmente ao locus ceruleus, localizado no terço superior da ponte, que é a maior fonte de norepinefrina (NE) no cérebro. A destruição bilateral do locus ceruleus, em Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 19 animais, provoca um estado de sono profundo; substâncias que aumentam a atividade noradrenérgica aumentam a vigilância. O sono está relacionado aos núcleos da rafe, localizados na parte inferior da ponte e no bulbo, cujas terminações secretam serotonina (5-HT). A destruição dos núcleos da rafe e o uso de substâncias que inibem a síntese de 5-HT, em animais, provocam insônia. Sabe-se atualmente que várias estruturas mais altas, do telencéfalo, têm também participação crítica na gênese do nível de consciência. Verificou-se, por exemplo, que a ação sincrônica de numerosas áreas corticais visuais, que contêm amplas redes neuronais bidirecionais, é uma pré-condição para a visão consciente. É de fundamental importância, para a atividade mental consciente, a atividade do lobo parietal direito, o qual está intimamente relacionado ao reconhecimento do próprio corpo, dos objetos e do mundo, assim como da apreensão daquilo que, convencionalmente, se denomina realidade. Também as áreas pré-frontais são fundamentais na organização da atividade mental consciente. Por fim, reconhece-se a importância das interações talamocorticais na ativação e na integração da atividade neuronal cortical relacionada à consciência (Zeman; Grayling; Cowey, 1997). A experiência humana chamada atividade mental consciente esta relacionada a alterações do nível da consciência na síndrome denominada delirium as regiões do córtex parietal posterior direito superficial, o córtex pré-frontal bilateral, o córtex fusiforme (ventromedial temporoparietal), o giro lingual, o tálamo anterior direito e os núcleos da base. Também têm sido reconhecidas as conexões talamofrontais e temporolímbicas frontais, em nível subcortical, como importantes na gênese dos quadros de delirium (Trzepacz; Meagher; Wise, 2006). Assim, pode-se concluir que, além do SRAA, também o tálamo e as regiões do córtex parietal direito e pré-frontal direito têm importância estratégica para o funcionamento da consciência, sobretudo no seu aspecto de nível de consciência. O tálamo é uma estrutura posicionada singularmente no centro do cérebro para filtrar, integrar e regular as informações que chegam ao córtex cerebral, dados que partem da periferia do organismo e meio externo e se dirigem ao córtex cerebral. O tálamo é extensiva e reciprocamente interligado a todas as áreas do córtex cerebral, de forma que uma pequena lesão talâmica pode produzir graves alterações do nível de consciência, como, por exemplo, o delirium (Trzepacz; Meagher; Wise, 2006). Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 20 Por fim, deve-se ressaltar a importância das estruturas encefálicas do lado direito (parietais, frontais e mesmo talâmicas) na origem dos transtornos da consciência. Alterações Quantitativas Fisiológicas As alterações quantitativas da consciência (vigilância), que podem ser normais ou patológicas, referem-se à intensidade da clareza das vivências psíquicas. No estado normal, o indivíduo desperto está constantemente apresentando oscilações na intensidade de sua consciência, em geral pequenas. Há certa diminuição no nível de consciência quando o indivíduo está cansado ou sonolento, quando se encontra num estado de relaxamento ou repouso, e quando os estímulos sensoriais externos e internos e os afetos são pouco intensos. Há também uma redução do nível de consciência na transição da vigília para o sono, e vice-versa. Alterações Quantitativas Patológicas Segundo Alonso-Fernández (1976), a situação de a consciência adquirir características mais intensas que as da consciência normal constitui apenas uma possibilidade teórica, que não tem base empírica. Esse fenômeno ocorreria na intoxicação por alucinógenos (LSD, mescalina etc.) e por anfetamina, na mania, no início da esquizofrenia e em auras epilépticas. Haveria um aumento de intensidade das percepções, do afeto, da atividade, da memória de evocação e da atenção espontânea; todavia, isso se daria com prejuízo na capacidade de concentração e de raciocínio, e na memória de fixação, além de incoerência, desorganização e hipopragmatismo. Rebaixamento do nível de consciência Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 21 A expressão rebaixamento do nível de consciência refere-se a um nível de consciência entre a lucidez e o coma. Constitui uma perda da clareza da consciência: a percepção do mundo externo torna-se vaga e imprecisa (aumenta o limiar para a captação de estímulos externos), havendo ainda uma dificuldade para a introspecção, para a apreensão do próprio eu. O rebaixamento do nível de consciência está relacionado a um comprometimento difuso, generalizado, do funcionamento cerebral. Sempre possui uma etiologia orgânica. Ocorre um déficit cognitivo global. Estão especialmente afetadas as funções de atenção, orientação alopsíquica, pensamento, inteligência, sensopercepção, memória, afeto e psicomotricidade. São empregadas expressões tão diferentes quanto obnubilação, torpor, estupor (que na verdade é alteração da psicomotricidade), estado confusional, confusão mental, estado onírico, estado oniroide, estado confuso-onírico, estado comatoso, amência, entre outras. Uma opção é dividir esses estados em que o nível da consciência está diminuído em: obnubilação simples e obnubilação oniroide. Obnubilação Simples Caracteriza-se pela ausência de sintomas psicóticos. O paciente apresenta, além de intensa sonolência, hipoprosexia (diminuição global da atenção), desorientação no tempo e no espaço, pensamento empobrecido e alentecido (às vezes, mutismo), dificuldades de compreensão e de raciocínio, hipoestesia (alteração quantitativa da sensopercepção), hipomnesia de fixação e de evocação (distúrbio da memória), apatia e inibição psicomotora (às vezes, estupor). Obnubilação Oniroide Caracteriza-se pela presença de sintomas psicóticos, especialmente ilusões e pseudoalucinações visuais (menos frequentemente, de outras modalidades sensoriais) - além de ideias deliroides (muitas vezes, persecutórias). Há ainda dificuldade de concentração (com exacerbação da atenção espontânea), desorientação temporoespacial, desagregação do pensamento, dificuldade de compreensão e de raciocínio, amnésia de fixação e de evocação, exaltação afetiva (muitas vezes, ansiedade), perplexidade e agitação psicomotora. Esse quadro corresponde à amência, termo introduzido por Meynert em 1890. Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 22 O delirium tremens, um quadro grave de abstinência alcoólica, costuma cursar com obnubilação oniroide. O indivíduo encontra-se agitado e assustado, sem saber onde está e não conseguindo identificar corretamente as pessoas ao seu redor. Com grande frequência, ele vê ou sente sobre sua pele pequenos animais repugnantes – como baratas, aranhas, lagartixas ou ratos – os quais não estão realmente presentes. Coma O termo coma vem do grego e significa sono profundo. O quadro caracteriza-se por abolição da consciência. Nesse estado, o indivíduo não pode ser despertado nem por estímulos dolorosos muito intensos. Ocorre perda total da motricidade voluntária e da sensibilidade. Embora a vida somática prossiga, não há sinal de atividade psíquica. Alterações qualitativas fisiológicas Sonhos Estes são vivências subjetivas que se dão durante o sono. Eles caracterizam-se por: predomínio de imagens visuais (mas pode haver sensaçõesmotoras, auditivas etc.); conteúdos bizarros; a falsa crença de que se está acordado; diminuição da capacidade de reflexão; mudanças súbitas quanto a tempo, lugar e pessoas; uma estrutura narrativa; forte colorido emocional; comportamentos instintivos; atenuação da vontade; dificuldade de se lembrar de seu conteúdo após ter despertado (Hobson, 1999). A consciência no sonho é uma consciência parcial, pois nele observa-se a perda de diversos aspectos encontrados na consciência de vigília, tais como: controle (sobre a ação), coerência, memória de longo prazo, capacidade de crítica e consciência da própria identidade (autoconsciência) (Del Nero, 1997). Alterações qualitativas patológicas Estreitamento do campo da consciência A consciência estreitada abarca um conteúdo menor do que o normal e está restrita a determinadas vivências (ideias, afetos, imagens, ações). Outras vivências Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 23 internas, assim como grande parte dos estímulos externos, tornam-se inacessíveis à consciência. Há uma interrupção da continuidade e unidade psíquicas da personalidade, e perde-se a capacidade de reflexão. Esta é a característica que define os estados crepusculares (termo introduzido por Westphal) - no qual uma obnubilação leve da consciência (mais ou menos perceptível) é acompanhada de relativa conservação da atividade motora coordenada. Havendo estreitamento transitório do campo da consciência e afunilamento da consciência (que se restringe a um círculo de ideias, sentimentos ou representações de importância particular para o sujeito acometido), com a conservação de uma atividade psicomotora global mais ou menos coordenada, permitindo a ocorrência dos chamados atos automáticos. Ocorre na epilepsia parcial complexa, na intoxicação alcoólica patológica, nos estados dissociativos histéricos e, ainda, no devaneio, no estado hipnótico, na reação aguda ao estresse, no sonambulismo neurológico e nas crises de pavor noturno. A epilepsia parcial complexa está geralmente associada ao lobo temporal. O paciente torna-se relativamente alheio ao ambiente, mas pode parecer lúcido numa observação menos apurada. Seu comportamento, que pode ser bem organizado, é estereotipado, à base de automatismos; a reflexão e a intencionalidade estão ausentes. Podem ocorrer comportamentos violentos ou impulsivos, delírios (alterações do pensamento) e alucinações (sensopercepção), estados afetivos intensos (ansiedade, êxtase), agitação ou inibição psicomotora. O início e o fim são súbitos. Entre os estados dissociativos histéricos, incluem-se os estados de transe, sonambulismo, fugas e amnésia psicogênicos, a pseudodemência (síndrome de Ganser) e o transtorno da personalidades múltiplas. Eles caracterizam-se, além da alienação da realidade, por teatralidade,intencionalidade, ausência de automatismos, uma relação temporal com um fator de estresse agudo e possibilidade de recuperação completa da memória referente ao episódio. Pode estar perturbada a orientação autopsíquica. Os quadros de transe dissociativo são bem representativos dos estados de estreitamento da consciência de natureza psicogênica. O doente parece estar dentro de um sonho. Desconhece o ambiente em que se encontra e se comporta como se estivesse em outro lugar ou em outra época de sua vida. Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 24 Muitas vezes diz coisas incompreensíveis ou sem sentido e age de maneira bizarra e chamativa. São comuns intensas descargas emocionais e comportamento destrutivo. Pode ocorrer ainda a vivência de ser possuído por um espírito, mesmo fora de qualquer contexto religioso. Dissociação da consciência Tal expressão designa a fragmentação ou a divisão do campo da consciência, ocorrendo perda da unidade psíquica comum do ser humano. O termo “dissociação” pode cobrir não apenas a consciência como também a memória, a percepção, a identidade e o controle motor (Krause-Utz et al., 2017). Neste livro, entretanto, optamos por utilizar a noção de dissociação centrando nas alterações da consciência. A dissociação da consciência ocorre com mais frequência nos quadros anteriormente chamados histéricos (crises histéricas de tipo dissociativo). Nessas situações, observa-se dissociação da consciência, um estado semelhante ao sonho (ganhando o caráter de estado onírico), em geral desencadeada por acontecimentos psicologicamente significativos (conscientes ou inconscientes) que produzem grande ansiedade para o paciente. Essas crises duram de minutos a horas, raramente permanecendo por dias. Alguns pacientes têm crises ou estados dissociativos agudos que se iniciam com queda ao chão, abalos musculares e movimentação do corpo semelhante à crise convulsiva (da epilepsia). Nesses casos, designa-se tal crise como crise pseudoepiléptica (em relação à crise epiléptica verdadeira). A dissociação da consciência pode ocorrer também em quadros de ansiedade intensa, independentemente de se tratar de paciente com personalidade histriônica ou traços histéricos, sendo a dissociação, então, vista como uma estratégia defensiva inconsciente (i.e., sem a deliberação voluntária plena) para lidar com a ansiedade muito intensa; o indivíduo desliga da realidade para parar de sofrer. Quadros dissociativos são também frequentes em pessoas com o diagnóstico de transtorno da personalidade borderline. Transe Estado de alteração qualitativa da consciência que se assemelha a sonhar acordado, diferindo disso, porém, pela presença em geral de atividade motora Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 25 automática e estereotipada acompanhada de suspensão parcial dos movimentos voluntários. O estado de transe ocorre sobretudo em contextos religiosos e culturais (espiritismo kardecista, religiões afro-brasileiras e religiões evangélicas pentecostais e neopentecostais). O transe dito extático pode ser induzido por treinamento místico- religioso, ocorrendo geralmente a sensação de fusão do eu com o universo. Não se deve confundir o transe religioso, culturalmente contextualizado e sancionado, com o chamado transe histérico, que é um estado dissociativo da consciência relacionado frequentemente a conflitos interpessoais e alterações psicopatológicas. Estado Hipnótico É um estado de consciência reduzida e estreitada e de atenção concentrada, que pode ser induzido por outra pessoa (hipnotizador). Trata-se de um estado de consciência semelhante ao transe, no qual a sugestionabilidade do indivíduo está aumentada, e sua atenção, concentrada no hipnotizador. Nesse estado, podem ser lembradas cenas e fatos esquecidos e podem ser induzidos fenômenos como anestesia, paralisias, rigidez muscular, alterações vasomotoras. Não há nada de místico ou paranormal na hipnose. É apenas uma técnica refinada de concentração da atenção e de alteração induzida do estado da consciência. Perdas abruptas da consciência Tal perda pode ser causada por fatores emocionais, neurofuncionais ou orgânicos de diversas naturezas. Podem também ser rapidamente reversíveis ou irreversíveis, indicando quadros orgânicos mais graves. As perdas abruptas e transitórias (duram geralmente segundos a minutos) da consciência recebem várias denominações médicas e populares: lipotimia, síncope, desmaios e perdas da consciência de outra natureza (Ramos Jr., 1986; Bickley; Szilagyi, 2013). A lipotimia se caracteriza por perda parcial e rápida da consciência (dura apenas segundos), geralmente com visão borrada, palidez da face, suor frio, vertigens e perda parcial e momentânea do tônus muscular dos membros, com ou sem queda do corpo ao chão. A pessoa tem a sensação desagradável de que vai desmaiar. A lipotimia é rápida e completamente reversível. Às vezes, utiliza-se o termo “lipotimia” para descrever a fase inicial da síncope. Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 26 A síncope designa um colapso bem súbito, com perda abrupta e completa da consciência, perda totaldo tônus muscular, com queda completa ao chão. O mecanismo básico é a instalação rápida de irrigação cerebral insuficiente por causas diversas. A síncope pode ou não ser reversível, dependendo dos fatores causais envolvidos. O termo “desmaio” é uma designação não médica, da linguagem comum, que geralmente significa uma perda abrupta da consciência. Corresponde de forma genérica aos termos médicos “síncope” ou “lipotimia”. Outras alterações da consciência Perplexidade patológica (perplexidade como experiência psicopatológica) A experiência mental de perplexidade difusa e intensa diante do ambiente, relatada por alguns psicopatólogos, é com frequência observada em pacientes com quadros psicopatológicos agudos e graves, sobretudo em fases agudas das psicoses. É discutível se o sintoma perplexidade patológica deve ser apresentado neste capítulo de consciência ou se ficaria melhor nos capítulos de vivências do tempo e do espaço ou no de afetividade. Perplexidade, no contexto psicopatológico, é definida como a perda de uma sensação de naturalidade na experiência comum e óbvia do dia a dia, perda de uma certa autoevidência do ambiente e seus objetos. Na experiência comum, normal, sento-me no sofá de minha casa, olho a mesa, os quadros, as janelas; tudo é natural, de uma realidade autoevidente. Na perplexidade como experiência psicopatológica, a pessoa sente uma estranheza inquietante, uma sensação de incapacidade de captar o significado comum das coisas, pessoas e acontecimentos. O psicopatólogo alemão Gustav E. Störring (1903-2000), por sua vez, define perplexidade (como experiência psicopatológica) como a consciência opressiva que o indivíduo sente relacionada a sua incapacidade para perceber e compreender sua situação, sua experiência presente, interna e externa (Störring, 1939). Tal consciência de estranhamento é difícil mesmo de ser comunicada pela pessoa acometida. Notamos, ao examinar o paciente com perplexidade patológica, sua atitude de estranhar o ambiente de forma radical. O olhar e a face perplexa, com Tutoria 4 - Niveis de Consciência - Leticia e Lucas 27 certa angústia e incerteza, transmitem para nós essa experiência de não captar com naturalidade o ambiente. A perplexidade psicopatológica é experimentada geralmente em quadros psicóticos agudos, sobretudo nos primeiros dias do episódio, podendo ocorrer em quadros psicóticos esquizofrênicos ou em transtornos do humor (depressão ou mania) com sintomas psicóticos. Nas psicoses breves (quadros psicóticos mais reativos e agudos), também se observa com considerável frequência tal experiência de perplexidade como experiência psicopatológica.
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