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Recursos Didáticos em História

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PRODUÇÃO DE RECURSOS 
DIDÁTICOS EM HISTÓRIA 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Antonio Fontoura 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Os antigos egípcios tinham um ditado: “os ouvidos dos estudantes estão 
em suas costas”. Pois, para os escribas professores, apenas com varadas às 
costas os estudantes conseguiriam se comportar e aprender. Não é à toa que os 
hieróglifos para a palavra “ensinar” terminavam com a imagem de um homem 
com uma vara à mão. Para nós, trata-se de uma metodologia estranha de ensino, 
porque nossa compreensão de conhecimento, de sociedade, de educação é 
bem diferente da dos egípcios antigos. O mesmo ocorre com os recursos 
didáticos: os materiais que são utilizados para o ensino estão de acordo com o 
que desejamos que nossos alunos e alunas aprendam, como devem aprender e 
qual o grau de autonomia que devem ter diante do conhecimento. E, no caso da 
História, como os recursos didáticos se relacionam com o estado atual da 
disciplina. 
TEMA 1 – RECURSOS DIDÁTICOS EM HISTÓRIA 
A atividade profissional em História está sempre relacionada à educação, 
e parte de nosso trabalho se liga à utilização cotidiana de recursos didáticos. No 
contexto escolar, o mais comum é sermos consumidores destes materiais: livros, 
jogos, materiais paradidáticos, mapas, filmes, músicas. Daqueles disponíveis no 
mercado (e temos à disposição um número cada vez maior de produtos 
educativos), avaliamos sua qualidade, a pertinência em relação aos nossos 
objetivos em sala de aula, sua correção, a adequação etária, a adaptação ao 
tempo disponível, a disponibilidade de equipamentos e espaços escolares e, é 
claro, o preço. De forma mais ou menos implícita, por vezes até para nós 
mesmos, projetamos nesses produtos e serviços determinadas concepções de 
educação e de sociedade; temos em mente determinada ideia de quais alunos 
desejamos formar; e, obviamente, qual a concepção de História que desejamos 
ensinar. De tudo isso, fazemos nossas escolhas. 
Tais questões devem estar mais explícitas, e nossos objetivos mais 
claros, quando nos dispomos a sermos produtores de recursos didáticos. Pois, 
enquanto historiadoras e historiadores, bem devemos saber que os recursos 
didáticos têm a sua própria história e, ainda mais importante que isso, ecoam 
determinada concepção de história. Os manuais escolares do final do século 
XIX, por exemplo, insistiam na narrativa dos processos promovidos pelos 
 
 
3 
grandes líderes, salientavam os eventos ligados à formação dos Estados 
nacionais, listavam generais, imperadores, presidentes – os agentes históricos 
privilegiados – e suas batalhas, tratados, acordos, leis – os fatos dignos de serem 
sabidos, decorados, e repetidos tanto no questionário, quanto na prova. Se a 
história era então concebida enquanto um conhecimento pronto e acabado sobre 
um passado imutável, nada mais restava aos alunos senão apreender e 
reproduzir o conhecimento que os historiadores haviam definido como verdade 
histórica. A boa memória acabava ditando quem seria bom ou mau aluno, a 
“decoreba” se associava à disciplina histórica, e os recursos didáticos à 
disposição de professores estava em sintonia com essas ideias: até as últimas 
décadas do século XX, cronologias, questionários, simplistas listas de causas e 
consequências de eventos históricos, ladeadas por imagens de senhores 
sisudos com grandes bigodes que não mantinham qualquer relação com a 
realidade de alunas e alunos, eram itens comuns em livros didáticos. 
Nesta discussão iremos conversar sobre a produção de recursos didáticos 
em História e, para isso, acabaremos discutindo aspectos importantes daquilo 
que entendemos por História. Pois, se pretendemos produzir recursos didáticos 
que sejam uma mera reprodução de modelos já existentes, ou se não pensamos 
em nossas alunas e nossos alunos em nada mais que meros reprodutores do 
discurso de autoridade de um livro didático (e, jamais se esqueça, um livro 
didático sempre se coloca em posição de autoridade), o processo fica bem 
facilitado. Há exemplos de sobra, desde o século XIX. Não há necessidade de 
se inventar nada. Basta sermos aqueles professores que odiávamos quando 
éramos nós mesmos estudantes. 
Por outro lado, se você deseja, como também eu desejo, que as salas de 
aula se aproximem do conteúdo histórico produzido no ensino superior, e se 
pretendemos estimular, em nossas alunas e alunos, a criação de um efetivo 
raciocínio histórico sobre o presente, neste caso precisamos avaliar os recursos 
didáticos que já existem e, talvez, aprimorá-los. Pois, se não desejamos que os 
estudantes sejam meros reprodutores de conteúdos, é porque temos a 
pretensão de que também participem ativamente da produção do conhecimento 
histórico. Que tenham à disposição documentos históricos e sejam capazes de 
analisá-los; que possam discutir – dentro, é claro, dos objetivos e limites mais 
gerais da educação – com a historiografia; que saibam produzir suas próprias 
questões históricas, assim como elaborar metodologias adequadas para 
 
 
4 
respondê-las. Que saibam, enfim, compreender historicamente a realidade 
presente. 
Para isso, devemos produzir recursos didáticos que sejam facilitadores do 
desenvolvimento e autonomia de nossas alunas e alunos. Sempre em parceira 
e com a mediação de professores – pois os recursos didáticos, não importa quão 
modernos ou interessantes sejam, jamais ensinam sozinhos. 
Nesta discussão não poderemos tratar senão de um número limitado 
destes recursos didáticos. Discutiremos os livros didáticos, a principal ferramenta 
de trabalho de professoras e professores de história, e tão mal abordada nos 
cursos superiores; falaremos de jogos, de elaboração de atividades (inclusive 
provas e avaliações); discutiremos a criação materiais para educação EaD e as 
ferramentas multimídia. Sempre tendo, em nosso horizonte, as concepções 
atuais de História, e como é possível inseri-las no contexto escolar. 
TEMA 2 – OS RECURSOS DIDÁTICOS DIALOGAM COM A CONCEPÇÃO DE 
ENSINO 
São inumeráveis os recursos didáticos que podem ser utilizados nas aulas 
de História, assim como são infindáveis as próprias fontes primárias que 
podemos utilizar para conhecer o passado. A partir de planejamento e 
metodologia apropriados, podemos levar à sala de aula tudo o que possa 
estimular, junto aos alunos, debates, questionamentos, diálogos a respeito do 
passado e da compreensão histórica. Porém, nosso objetivo em sala de aula, 
enquanto profissionais da história, não é o de tentar transformar nossos alunos 
em mini-historiadores. Todas as estratégias, temas, métodos, documentos, 
trabalhos discutidos no ensino superior devem sim ser levados à sala de aula, 
desde que possuam adequação metodológica, estejam em linguagem 
apropriada, respeitem o desenvolvimento do educando em seu processo de 
desenvolvimento. Se o objetivo essencial é o estímulo à leitura histórica da 
realidade e à construção da autonomia cidadã de alunos e alunas, não se pode 
esquecer que a educação histórica em geral, e a produção de recursos didáticos 
especificamente, estão necessariamente inseridas dentro dos objetivos mais 
amplos da educação. 
Em primeiro lugar, todo conhecimento deve partir da compreensão da 
realidade dos alunos – estude-se o passado do município ou a religiosidade dos 
antigos Sumérios. Sempre será interessante e, ao mesmo tempo, significativo, o 
 
 
5 
conteúdo que inclui a própria realidade dos estudantes como algo valioso a ser 
investigado; quando se convida grupos de convívio próximos aos alunos a 
contribuírem para o processo educativo; quando se desenvolve um 
conhecimento ativo e questionador sobre o presente, em que alunas e alunos 
aprendem a formar opiniões, a selecionar dados, a construir interpretações sobre 
a realidade, de maneira autônoma e independente. E no momento em que a 
essa abordagem são adicionados recursos didáticos para seremdebatidos, 
questões a serem pesquisadas, projetos a serem desenvolvidos, documentos 
históricos a serem investigados, estimula-se a apropriação do conhecimento, a 
construção de um raciocínio histórico sobre a realidade, além de se valorizar a 
vivência cultural do aluno – ponto de partida e de chegada de qualquer processo 
ou recurso educativo. 
Considerar a produção de recursos didáticos dentro dos objetivos mais 
amplos da educação é isso: tornar os alunos partícipes da construção do 
conhecimento em sala de aula, permitir o desenvolvimento de sua autonomia em 
relação aos saberes discutidos em livros, vídeos ou jogos, e estimulá-los a se 
colocarem em posição ativa e inquisitiva diante da realidade. Compreendendo a 
educação enquanto um processo libertador, e não de mera aquisição de 
conhecimentos, os alunos deixam de estar submetidos à autoridade da 
professora ou do professor que se limita a narrar uma determinada história. 
Produzir recursos didáticos a partir desses princípios e objetivos significa 
estimular um conhecimento ativo a respeito da história. Ao mesmo tempo, deixa 
de fazer qualquer sentido um ensino que, por exemplo, esteja pautado na 
apresentação de datas cívicas ou na glorificação de heróis pátrios. 
TEMA 3 – OS RECURSOS DIDÁTICOS DIALOGAM COM AS CONCEPÇÕES 
DE SOCIEDADE 
Já vimos que a produção de recursos didáticos se relaciona com a 
concepção de História que queremos levar à sala de aula; e que se relaciona, 
mais amplamente, com os princípios e objetivos da educação. Mas há mais: os 
recursos didáticos se relacionam mais amplamente com os conceitos de 
sociedade e de cidadania. 
Tome-se o seguinte exemplo, extraído de um livro intitulado Meus 
deveres, produzido para o ensino de moral e cívica, do ano de 1936: 
 
 
6 
Figura 1 – Imagem do livro Meus deveres 
 
Fonte: Pinto e Silva, 1936, p. 25. 
Não é muito difícil perceber como esse livro didático, sob o pretexto de 
ensinar moralidade e civilidade – como o tema era concebido na década de 1930 
– acabava reforçando diferenças sociais: empregados domésticos deveriam ser 
respeitados, mas não tratados igualmente: “É preciso mesmo ser assim”, salienta 
o texto. Concepções sobre diferenças raciais também podem ser encontradas, 
de maneira implícita, em antigos materiais didáticos. Em um livro chamado 
Primeiro livro de leitura, de 1915, destinado ao treino de leitura para crianças de 
sete a oito anos, é apresentada a menina Luíza, que brincava com suas bonecas: 
“Umas são grandes, outras são pequenas. Quase todas, porém, são brancas, 
coradas e louras como a mãezinha! Há duas bonecas que servem de criadas. 
Essas são pretinhas, bem pretinhas, de lábios muito vermelhos” (Barreto; 
Puiggari, 1915, p. 20). E, como destaca a contracapa, tratava-se de um “livro 
aprovado pelo Governo do Estado de S. Paulo e adotado em todas as suas 
escolas públicas” (Barreto; Puiggari, 1915, p. 1). 
Essas duas obras demonstram que determinadas concepções e 
preconceitos sobre diferenças sociais, de raça e de gênero, compartilhados 
socialmente, não eram apenas perpetuados pelos recursos didáticos colocados 
à disposição dos alunos, mas conteúdos a serem ensinados. É verdade que nos 
dias de hoje é incomum que recursos didáticos apresentem tais concepções 
preconceituosas, inclusive porque o mercado de materiais didáticos, como um 
todo, está submetido a diferentes instâncias de controle e vigilância (que não 
são, de toda forma, perfeitas). Mas este não é o ponto. O que se pretende 
destacar, com esses explícitos exemplos, é que quando produzimos recursos 
 
 
7 
didáticos, estamos passando aos alunos determinada compreensão da 
sociedade: tanto do que ela é, quanto da forma como gostaríamos que ela fosse. 
Assim, qualquer recurso didático que seja socialmente significativo deve 
partir de concepções democráticas a respeito da realidade e de inclusão social. 
Deve representar a diversidade social brasileira, considerar as diferenças 
regionais (o recurso didático a ser produzido é para Paranaguá, no litoral do 
Paraná, ou para São Paulo? É para o interior de Minas Gerais, ou para Belém?), 
as diferenças existentes em relação ao campo e à cidade, a multiplicidade de 
opções religiosas, de gêneros, de opções sexuais – enfim, que procure atender 
à diversidade de alunas e alunos que, a partir de suas diferentes trajetórias 
particulares, irão utilizar os recursos didáticos produzidos por você. Nem sempre 
será possível produzir um material que atenda às necessidades de todos; na 
verdade, talvez isso jamais seja, na prática, totalmente factível. Mas é sempre 
possível fornecer orientações e ferramentas para que professores e alunos, das 
mais diferentes regiões e condições sociais, adaptem aquele conhecimento às 
suas necessidades específicas. 
Há outras relações, também importantes, que os recursos didáticos 
estabelecem com a sociedade. Todos os materiais didáticos estão submetidos à 
legislação nacional, e há determinações bastante específicas que regulam 
aspectos de sua produção; estão ligados à economia como um todo, pois muitos 
dos recursos didáticos que produzimos poderão participar do mercado específico 
desse tipo de produtos; estão relacionados a determinadas profissões, aspecto 
particularmente interessante que, talvez, possa em algum momento incluir você. 
Afinal, algo que é muitas vezes esquecido nos cursos superiores de História é 
que existe um espaço cada vez mais amplo para profissionais que se 
especializam na criação de recursos didáticos. Esse talvez seja um caminho 
profissional que você escolha percorrer. Neste sentido, será importante conhecê-
lo também por isso. 
TEMA 4 – RECURSOS DIDÁTICOS: LEGISLAÇÃO E MERCADO 
A produção de recursos didáticos envolve, como não poderia deixar de 
ser, o respeito a um conjunto bastante amplo de leis, resoluções e pareceres. 
Algumas dessas determinações legais são, por assim dizer, evidentes: todo 
recurso didático deve estar adequado ao que diz a Constituição, bem como à lei 
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e ao Estatuto da Criança e do 
 
 
8 
Adolescente. Pareceres e resoluções do Conselho Nacional de Educação 
também participam da regulamentação dos conteúdos que podem, devem, ou 
não devem estar presentes em diferentes recursos didáticos. É vetado, por 
exemplo, a presença de imagens comerciais em livros didáticos (Ministério da 
Educação, 2000), além de existirem diretrizes específicas relacionadas à 
implementação da educação das relações étnico-raciais no Ensino de História e 
Cultura Afro-Brasileira e Indígena (Ministério da Educação, 2004). Direitos 
educativos, derivados de princípios constitucionais, também fazem parte das 
resoluções do Conselho Nacional de Educação: igualdade de acesso à escola 
com ensino de qualidade, liberdade de ensino e aprendizagem, valorização da 
liberdade e do pluralismo de ideias, gestão democrática do ensino e valorização 
de seus profissionais (Ministério da Educação, 2010), dentre outros princípios 
que devem ser devidamente representados nos diferentes recursos didáticos. 
O Governo Federal, na atualidade, é o maior comprador nacional de 
produtos didáticos, que são distribuídos às escolas em todo o país. Muitos 
desses produtos, como livros didáticos e paradidáticos, devem seguir 
específicas determinações técnicas e de conteúdo que são avaliados antes de 
serem adquiridos e distribuídos às escolas públicas. Por isso, os editais públicos 
se apresentam também enquanto importantes documentos legais a serem 
seguidos no momento de produção de recursos didáticos. O Programa Nacional 
do Livro e do Material Didático (PNLD), destinado a avaliar, adquirir e 
disponibilizar aos alunos da rede pública de ensino obras didáticas, pedagógicas 
e literárias (Ministério da Educação, 2019), apresenta em seus editais desde 
determinações ligadas à abordagem de conteúdos (como o incentivo à 
democratização do ensino,a proibição de textos e imagens preconceituosas 
etc.) até detalhes técnicos, como número de páginas, tamanho de imagens, 
tamanho de fontes, que influenciam diretamente no conteúdo a ser produzido. 
Também recursos didáticos produzidos para empresas particulares 
devem atender a várias das exigências legais apresentadas acima, bem como 
determinações bastante específicas que são regidas por contratos. O presente 
texto que você está lendo é, em si, um recurso didático, e faz parte de um 
conjunto mais amplo. Todo esse conjunto está submetido a um determinado 
contrato particular que define os temas a serem abordados, a extensão dos 
conteúdos, os prazos a serem respeitados, os fluxos de produção que devem 
ser seguidos e, obviamente, os valores a serem pagos. 
 
 
9 
Esses acordos e determinações legais, públicas ou privadas, influenciam 
diretamente no que é produzido. Autores e autoras de recursos didáticos não 
criam materiais seguindo apenas o que acreditam ser adequado do ponto de 
vista pedagógico, mas, sim, adaptam suas convicções às condições existentes 
à produção dos recursos didáticos. 
Discutiremos com mais profundidade a influência das questões técnicas, 
legais e contratuais sobre os conteúdos em outro momento. Aqui, é importante 
destacar que essas limitações, restrições e padronizações existem porque os 
recursos didáticos participam, também, de determinado mercado. E o fato de 
que recursos didáticos sejam também produtos bastante valiosos importa no 
momento em que os produzimos. 
Cerca de metade de todos os livros vendidos no Brasil, atualmente, são 
didáticos (BNDES, 2018). Além de maior comprador individual de livros do 
mundo, o governo federal ainda adquire, por meio de seus vários projetos, obras 
literárias, dicionários e materiais educativos de vários tipos. Para participar desse 
mercado, as empresas fazem investimentos significativos e, na busca por 
aumentar suas chances de terem seus produtos aprovados, é essencial que 
cumpram todas e cada uma das exigências previstas em cada documento 
público. 
Algo bastante semelhante ocorre no mercado privado. Tomem-se as 
faculdades de ensino à distância, por exemplo. Trata-se de um mercado cada 
vez mais concorrido e, por isso, o estabelecimento das características e da 
qualidade de um produto educacional são fundamentais para a própria 
sobrevivência da empresa. Por isso, o conteúdo propriamente acadêmico deve 
estar adequado à forma considerada pela empresa como mais adequada a ser 
oferecida aos clientes. No caso, você, por exemplo. 
TEMA 5 – RECURSOS DIDÁTICOS: TÉCNICA E PROFISSÃO 
Trabalhando na edição e correção de livros didáticos, certa vez me 
deparei com a seguinte atividade que deveria ser publicada em um livro de 
História para o 2º ano: 
 
 
 
 
10 
Figura 2 – Um funcionário a passeio com sua família 
 
Fonte: Jean-Baptiste Debret, 1839. 
Observe a Figura 2. Como a família de antigamente é diferente da família dos 
dias de hoje? 
É possível depreender a intenção da autora ou autor desse material 
quando escreveu essa atividade: muito provavelmente, desejava abordar o 
contraste entre a família extensa e patriarcal do Brasil Colônia com o modelo de 
família nuclear da atualidade. Porém, a atividade, como, apresentada, não 
permitiria que a criança, que teria cerca de sete anos, alcançasse esta 
conclusão. Em diálogo com professores e colegas, o aluno ou aluna poderá 
anotar a diferença nas vestimentas, talvez destacar que todos parecem andar 
em fila, quem sabe demonstrar curiosidade sobre algum apetrecho específico 
apresentado na imagem. Mas está absolutamente além de sua capacidade, 
estabelecer, a partir dessa atividade, quaisquer diferenças entre os modelos 
familiares de duas épocas diferentes. 
Produzir recursos didáticos envolve, também, o domínio de determinadas 
técnicas e competências. Deve-se aprender a produzir atividades, projetos e 
avaliações adequados aos objetivos educacionais pretendidos e ao 
desenvolvimento dos alunos. Não que seja impossível discutir diferentes 
modelos familiares com crianças de sete anos. Não é. Porém, exige-se um grau 
de abstração que deve ser desenvolvido, gradualmente, ao longo de vários anos, 
como exige determinados conceitos fundamentais que devem estar bem 
dominados. “Quem faz parte de sua família? A sua família é igual a de seus 
colegas? O que é igual? O que é diferente? Em sua turma, quem tem a maior 
família? E a menor? Todos os membros de sua família moram juntos?” Essas 
 
 
11 
são questões possíveis de serem elaboradas para crianças de 2º ano: 
fundamenta seu conhecimento sobre a própria família, permite que ela perceba 
que famílias são diferentes, e a permitirá intuir, inclusive, que existem diferentes 
possibilidades de definição para o conceito de família. 
As técnicas e competências ligadas à produção de recursos didáticos 
envolvem, dentre outros fatores, a adequação da linguagem, o adequado 
encaminhamento de questões, o estabelecimento de problemas e projetos, a 
escolha e trabalho com imagens, gráficos, mapas, a elaboração de avaliações, 
a sensibilidade à multiplicidade de estratégias, a adaptação das atividades às 
condições de sala de aula. 
O conhecimento e domínio dessas técnicas e competências são 
necessários para o desenvolvimento adequado de recursos didáticos às 
diferentes idades de alunos para os quais ensinamos. Embora a concepção de 
história tenha de ser fundamentalmente a mesma, há formas bastante 
particulares de se falar sobre a vida cotidiana no Brasil do século XIX para uma 
criança do Ensino Fundamental I ou para um adulto do curso de História em EaD. 
Compreender e, com o tempo, dominar essas técnicas e competências é útil não 
apenas para que deixemos de estar submetidos aos produtos educacionais já 
prontos e que utilizamos em nossas salas de aula. Podemos produzir nossos 
próprios materiais e, assim, termos uma maior liberdade de atuação em sala de 
aula, de acordo com nossos objetivos educacionais e as especificidades de 
nossos alunos. 
Mas, além disso, o conhecimento desses elementos propriamente 
técnicos da produção de recursos didáticos nos capacita melhor enquanto 
profissionais da história. Professoras e professores sempre seremos. Porém, 
poderemos também “dar aulas” produzindo vídeos, elaborando questões, 
escrevendo materiais, programando jogos. Nesse sentido, e para muitas 
pessoas, produzir recursos didáticos, além de ampliar sua autonomia enquanto 
educador, poderá significar uma atividade profissional. 
NA PRÁTICA 
Atuando ou não como professor ou professora de história, nossas 
atividades profissionais estarão sempre intimamente ligadas à educação. 
Compreender os processos e contextos em que está inserida a produção de 
recursos didáticos nos permite atuar de maneira mais instigadora e proativa em 
 
 
12 
relação aos materiais que utilizamos, avaliamos, editamos ou produzimos. 
Entender os processos de produção de recursos didáticos em história participa, 
assim, de nossa formação profissional. 
FINALIZANDO 
A produção de recursos didáticos em história envolve muitos fatores: 
nossa concepção sobre educação e sociedade; nossas ideias sobre os 
fundamentos e os objetivos do conhecimento histórico; detalhes ligados à 
legislação educacional e à organização do currículo. E, além disso, envolve 
determinada técnicas (o saber fazer), certo mercado e, mesmo, a possibilidade 
de uma determinada profissão. Pode-se ser professor ou professora de História 
de várias maneiras. Produzindo recursos didáticos, como vimos, é uma delas. 
 
 
 
13 
REFERÊNCIAS 
BARRETO, A.; PUIGGARI, R. Primeiro livro de leitura. Rio de Janeiro: 
Francisco Alves, 1915. 
BNDES. Dez curiosidades sobre o mercado de didáticos brasileiro. 2018. 
Disponível em: <https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/conhecimento/
noticias/noticia/livro-didatico>. Acesso em: 29 set. 2019. 
BRASIL. Ministérioda Educação. Parecer CNE/CEB 15/2000. Brasília, 2000. 
Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view
=download&alias=14453-pceb015-00&category_slug=outubro-2013-
pdf&itemid=30192>. Acesso em: 29 set. 2019. 
_____. Parecer CNE/CP 003/2004. Brasília, 2004. Disponível em: 
<http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/cnecp_003.pdf>. Acesso em: 29 set. 
2019. 
_____. Resolução CNE/CEB n. 4. Brasília, 2010. Disponível em: 
<http://www.escoladeformacao.sp.gov.br/portais/portals/84/docs/cursos-
concursos/promocao/anexo%20f6_resolu%c3%87%c3%83o%20cneceb%204
%20de%2013%20de%20julho%20de%202010%20.pdf> Acesso em: 29 set. 
2019. 
_____. PNLD. Brasília, 2019. Disponível em: 
<http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=12391:pnld>. Acesso 
em: 29 set. 2019. 
PINTO E SILVA, J. Meus deveres. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1936.

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