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Anelise Cunha Santos Oliveira Cíntia Gomide Tosta Cleide Regina Oliveira Gláucia Eli Silva Gilberto Gonçalves de Oliveira Judith Mara de Souza Almeida Desenvolvimento biopsicomotor e social da criança © 2016 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Editoração Produção de Materiais Didáticos Capa Toninho Cartoon Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central UNIUBE D457 Desenvolvimento biopsicomotor e social da criança / Anelise Cunha Santos Oliveira ... [et al.]. – Uberaba : Universidade de Uberaba, 2016. 184 p. : il. Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba. ISBN 1. Crianças - Desenvolvimento. 2. Crianças. 3. Desenvolvimento so- cial. 4. Aprendizagem. I. Oliveira, Anelise Cunha Santos. II. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. CDD 305.231 Anelise Cunha Santos Oliveira Especialista em metodologia da educação física escolar, pela Universidade Fe deral de Uberlândia. Professora de educação física, graduada pelas Faculdades Integradas de Uberaba (1985). Professora efetiva na rede municipal, atuando no Departamento de Inclusão Educacional e Diversidade / Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Uberaba como assessora pedagógica. Cíntia Gomide Tosta Mestre em psicologia e especialista em educação pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU. Graduou-se em direito e pedagogia. Atua com gestão escolar e como pesquisadora dos processos de aprendizagem e desenvolvimento prin cipalmente relacionados ao grafismo infantil. É docente no curso de formação e pedagoga e pesquisadora do Arquivo Público de Uberaba. Cleide Regina Oliveira Especialista em Gestão da Prática Pedagógica, pela Faculdade Senac – Minas. Pedagoga pela Universidade de Uberaba – Uniube. Professora da educação básica na rede municipal, atua no Departamento de Inclusão Educacional e Diversidade / Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Uberaba como assessora pedagógica. Gláucia Eli Silva Pós-graduada em psicopedagogia institucional pela Universidade Castelo Branco, graduada em pedagogia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ituverava (1994). Diretora do Departamento de Inclusão Educacional e Di versidade da Secretaria Municipal de Educação e Sobre os autores Cultura de Uberaba. Docente do curso de pedagogia a distância da Universidade de Uberaba. Coordenadora de referência do curso de pedagogia a distância da Universidade de Uberaba e do curso de pós-graduação em psicopedagogia da Universidade de Uberaba. Gilberto Gonçalves de Oliveira Mestrando em educação pela Universidade de Uberaba – Uniube. Especia lista em neurologia e neurocirurgia pela Universidade de Campinas – Uni camp; especialista em docência universitária e em educação a distância pela Universidade de Uberaba – Uniube. Médico, graduado pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM. Ministra conteúdos de neurologia e neuroanatomia humana nos cursos de medicina, fisioterapia e fonoaudiologia e neurologia da aprendizagem no curso de pedagogia, na Universidade de Uberaba – Uniube. Judith Mara de Souza Almeida Mestre em linguística pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU. Graduada em letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ituverava – FFCLI. Especialista em informática para deficientes visuais pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. Especialista em língua portuguesa e literatura pela Universidade de Franca – Unifran. Professora do Núcleo de Apoio Didático Pedagógico e Formação Docente do CAP – Uberaba (Centro de Apoio Pedagó gico para atendimento às pessoas com deficiência visual). Compõe a equipe do Departamento de Inclusão Educacional e Diversidade da Secretaria Municipal de Educação de Uberaba. Sumário Apresentação .............................................................................................................. IX Capítulo 1 O desenvolvimento humano no período escolar: reflexões fundamentais ....................................................................... 1 1.1 Desenvolvimento e aprendizagem ......................................................................... 3 1.2 A relação escola e desenvolvimento ....................................................................... 4 1.3 O desenvolvimento durante os anos escolares ...................................................... 5 1.4 O crescimento durante os anos escolares .............................................................. 8 1.5.1 Doenças ....................................................................................................... 10 1.5 Problemas de saúde enfrentados por crianças ..................................................... 10 1.5.2 Deficiência visual.......................................................................................... 12 1.5.3 Cáries .......................................................................................................... 12 1.5.4 Gagueira ...................................................................................................... 13 1.5.5 Tiques .......................................................................................................... 13 1.6 Segurança na escola ............................................................................................. 14 1.7 Desenvolvimento motor ......................................................................................... 14 1.8 Desenvolvimento intelectual nos anos escolares ................................................. 14 1.8.1 Estratégias de memória ............................................................................... 14 1.8.2 Estratégias de produção da linguagem escrita .......................................... 15 1.8.3 Metacognição ............................................................................................... 17 1.9 Conhecimento social e desenvolvimento moral nos anos escolares ................................................................................................................18 1.9.1 O desenvolvimento da personalidade .........................................................20 1.10 Distúrbios emocionais na infância ........................................................................21 1.11 Adolescência .........................................................................................................23 1.11.1 A puberdade ................................................................................................24 1.11.2 Nutrição .......................................................................................................26 1.11.3 Problemas com drogas lícitas e ilícitas .......................................................27 1.11.4 Doenças sexualmente transmissíveis .........................................................28 1.11.5 Desenvolvimento cognitivo dos adolescentes ............................................29 1.11.6 Desenvolvimento da personalidade do adolescente ................................ 30 1.12 O desenvolvimento de crianças e adolescentes com necessidades educativas especiais .............................................................................................32 1.13 Conclusão .............................................................................................................33 Capítulo 2 A condição humana e a construção damoral na perspectiva de Jean Piaget .................................................................... 37 2.1 Relembrando: a relevância do social e da cultura para Wallon, Vygotsky e Piaget ..................................................................................................43 2.1.1 A relevância do social para Wallon ..............................................................45 2.1.2 A relevância do social para Vygotsky ...........................................................46 2.1.3 A relevância do social para Piaget ...............................................................48 2.2 Moral e ética: conceitos historicamente construídos .............................................49 2.2.1 A construção da moralidade sob a teoria piagetiana: retomando e avançando essa reflexão ...........................................................................53 2.2.2 Aprofundando a reflexão sobre o papel do professor no desenvolvimento moral do aprendiz, na perspectiva piagetiana...................60 2.3 Conclusão ...............................................................................................................67 Capítulo 3 Desenvolvimento neuropsicomotor e sua relação com o processo de ensino-aprendizagem na infância ................. 71 3.1 O sistema nervoso ................................................................................................. 74 3.2 O cérebro e o sistema nervoso ............................................................................. 79 3.3 A embriologia do sistema nervoso ......................................................................... 83 3.4 Neuroplasticidade .................................................................................................. 84 3.5 A anatomia do cérebro ........................................................................................... 89 3.5.1 Organização e estrutura do sistema nervoso .............................................. 91 3.5.2 A lateralidade hemisférica cerebral .............................................................. 95 3.6 As funções corticais ............................................................................................... 97 3.7 Como o cérebro aprende ..................................................................................... 100 3.8 Inteligências múltiplas .......................................................................................... 105 3.9 Funções mentais relacionadas com a aprendizagem ......................................... 106 3.10 Conclusão .......................................................................................................... 109 Capítulo 4 Aprendizagem pelo movimento ........................................113 4.1 Características gerais do desenvolvimento motor ...............................................115 4.2 O que os teóricos dizem em relação à importância da motricidade ....................117 4.3 Elementos da motricidade ....................................................................................119 4.3.1 Desenvolvimento motor ..............................................................................119 4.3.2 Motricidade ................................................................................................120 4.4 Elementos básicos da motricidade ......................................................................120 4.4.1 Motricidade fina .........................................................................................120 4.4.2 Motricidade Global ....................................................................................120 4.4.3 Esquema corporal ..................................................................................... 122 4.4.4 Lateralidade ............................................................................................... 124 4.4.5 Orientação espacial ..................................................................................126 4.4.6 Orientação temporal .................................................................................. 128 4.4.7 Equilíbrio .................................................................................................... 130 4.4.8 Discriminação visual ................................................................................. 132 4.4.9 Discriminação auditiva .............................................................................. 133 4.5 Pensando a prática .............................................................................................. 133 4.6 Conclusão ............................................................................................................ 139 Capítulo 5 Os processos pedagógicos e a prática da psicomotricidade .............................................................. 143 5.1 O desenvolvimento psicomotor e a prática pedagógica .....................................145 5.2 A relação entre o corpo e as emoções ................................................................152 5.3 A psicomotricidade e a prática pedagógica ......................................................... 154 5.3.1 A psicomotricidade em ação na sala de aula ........................................... 159 5.4 Brincando também se aprende .......................................................................... 163 5.5 A avaliação do processo de desenvolvimento psicomotor ................................. 164 5.5.1 A avaliação como forma de acompanhar a evolução psicomotora da criança .................................................................................................. 166 5.6 Conclusão ............................................................................................................ 169 Prezado(a) aluno(a). Pular corda, pular amarelinha; brincar de pique esconde, de bandeirinha, de bicicleta são recordações felizes de uma época que deixa saudades. Pelas brincadeiras da infância, na interação com os objetos e com os outros, descobrimos nosso próprio corpo; descobrimos o mundo e nos descobrimos no mundo! Neste livro você estudará sobre “O desenvolvimento biopsicomotor e social da criança”, para, como educador, atuar no desenvolvimento infantil, de forma integrada com os aspectos afetivos, cognitivos, psíquicos, entre outros. Esperamos que, ao ler estas primeiras páginas, você possa trazer lembranças da sua infância, conhecimentos advindos de suas experiências de brincar, e, então, alinhavá-los aos conteúdos aqui apresentados. Pois, acreditamos que tais conhecimentos são sempre melhor compreendidos quando partimos de nossa experiência pessoal. A seguir, apresentaremos a proposta de cada capítulo, para que você consiga visualizar os conteúdos que serão estudados. No primeiro capítulo, intitulado “O desenvolvimento humano no período escolar: reflexões fundamentais”, o objetivo é apresentar um estudo bibliográfico do desenvolvimento humano durante a fase de escolarização. A leitura do texto nos permitirá compreender aquilo que é determinado pelo biológico no desenvolvimento humano e ainda observar o que depende de aprendizagem. Já o segundo capítulo “A condição humana e a construção da moral na perspectiva de Jean Piaget”, você terá a oportunidade de compreender que a moralidade é um resultado de um longo processo inconcluso de Apresentação X UNIUBE construção sócio-histórica e o quanto é importante pensar sobre esse assunto no âmbito da esfera escolar. O terceiro capítulo, intitulado “Desenvolvimento neuropsicomotor e sua relação com o processo de ensino-aprendizagem na infância”, traz uma abordagem articulando à pedagogia os conhecimentos de neurociências produzidos na área médica que contribuem na formação do professor. O capítulo se desenvolve a partir de conceitos próprios da neurociência, numa linguagem acessível ao educador. A proposta é subsidiar o professorna aquisição de conhecimentos em neurociência, necessários à sua atuação como mediador, facilitador ou como estimulador dos processos neuropedagógicos do saber e do desenvolvimento integral da pessoa humana. No capítulo “Aprendizagem pelo movimento”, você estudará a necessidade e a importância da educação motora para o ser humano. Nele, serão contempladas as características do desenvolvimento motor, bem como os elementos da motricidade, e, ainda, uma breve articulação com a prática profissional. Nessa perspectiva, no capítulo “Os processos pedagógicos e a prática da psicomotricidade”, os conhecimentos construídos no capítulo anterior serão aprofundados. Você estudará, mais detalhadamente, a importância do desenvolvimento psicomotor no processo de aprendizagem da criança e sua relação com a práxis do professor. Nesse sentido, estabelecerá uma relação entre teoria e prática por meio da pesquisa, da análise e da escolha de atividades, refletindo sobre a avaliação do processo de desenvolvimento psicomotor da criança. Sendo assim, esperamos que compreenda a importância de planejar atividades lúdicas e criativas que permitam às crianças vivenciarem momentos de muita ação, construindo aprendizagens significativas. Esperamos que você usufrua com otimismo e dedicação desses saberes que só farão sentido se forem construídos por você! Bons estudos! Judith Mara de Souza Almeida Introdução O desenvolvimento humano no período escolar: reflexões fundamentais Capítulo 1 Antes mesmo de entrar na escola, a criança já construiu muitos conhecimentos sobre a realidade que a cerca. Esses conhecimentos são construídos na relação com as outras crianças, com os adultos, com os objetos, na exploração do mundo por meio das imitações, do jogo de faz de conta, da vivência de experiências. Para Lima (2007), há um percurso que a criança realiza apenas com a intervenção de outras pessoas. Sobre isso explica: [...] há entre o que a criança faz sozinha, partindo da sua própria intenção, e o conhecimento a ser adquiri- do, formalmente organizado, um percurso que só po- derá ser feito com a intervenção dos indivíduos mais experimentados da espécie. Inclui ‑se, entre eles, evi- dentemente, o professor (LIMA, 2007, p. 38 ‑39). Nesse sentido, Vygotsky afirma que “o aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo por meio do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que a cercam” (VYGOTSKY, 1935, p. 115). Assim sendo, qualquer que seja a situação com a qual a criança se defronta na escola, há sempre uma história prévia. Entretanto, para o mesmo autor, há diferenças entre o aprendizado antes de a criança chegar à escola – não sistematizado – e o aprendizado escolar – sistematizado. 2 UNIUBE Ao final do estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • identificar as fases do desenvolvimento humano, corresponden- tes aos anos escolares; • definir a importância das fases e processos do desenvolvimento da criança e do adolescente; • orientar o estudante da Educação Infantil, dos anos iniciais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, viabilizando, adequa- damente, o seu desenvolvimento. 1.1 Desenvolvimento e aprendizagem 1.2 A relação escola e desenvolvimento 1.3 O desenvolvimento durante os anos escolares 1.4 O crescimento durante os anos escolares 1.5 Problemas de saúde enfrentados por crianças 1.6 Segurança na escola 1.7 Desenvolvimento motor Objetivos Esquema Para Lima (2007 p. 27), [...] sistematizar é estabelecer conceitos, ordená-los em níveis de complexidade com regras internas que regulam a relação entre os elementos que os compõem. Todo co- nhecimento formal é representado, simbolicamente, pela linguagem de cada sistema. Para Vygotsky (1935), o aprendizado sistematizado, formal, produz algo fundamentalmente novo no desenvolvimento da criança, pois ele des perta vários processos internos que mais tarde passam a fazer parte das aquisições do desenvolvimento, independentemente da criança. Este estudo nos possibilitará compreender melhor esse processo e ainda observar aspectos do desenvolvimento físico e psicológico da criança e do adolescente durante as fases de escolarização. UNIUBE 3 Desenvolvimento e aprendizagem 1.1 Há diferenças entre desenvolvimento e aprendizagem escolar? Se a resposta for positiva, que diferenças são essas? Você acredita que, se a criança não for à escola, seu desenvolvimento fica comprometido? O fato de uma criança de 5 anos, por exemplo, pegar um graveto e desenhar na terra só é possível porque há uma imagem mental que ela formou do objeto desenhado a partir da percepção desse objeto, utilizando para isso os sentidos. Assim, para Lima, podemos afirmar que as crianças se desenvolvem indepen dentemente de irem ou não à escola: [...] o que é do domínio do desenvolvimento humano não deixa de acontecer se a criança não for à escola, ou se ela for e se encontrar em uma situação de não aprendizagem. Assim, a memória infantil, a função simbólica, a percepção vão se de senvolver segundo o caminho dado pela genética da espécie (LIMA, 2007, p. 36). Diferentemente de Vygotsky, Lima acredita que aquilo que é de domínio do desenvolvimento humano não vai deixar de acontecer. Há aprendizagens que são inerentes à espécie humana. As crianças que enxergam são capazes de diferenciar e nomear as cores presentes no cotidiano delas sem que ninguém as ensine, são capazes também de desenhar e seus desenhos evoluem conforme a evolução da percepção visual e da coordenação olho/membro/espaço. 1.8 Desenvolvimento intelectual nos anos escolares 1.9 Conhecimento social e desenvolvimento moral nos anos escolares 1.10 Distúrbios emocionais na infância 1.11 Adolescência 1.12 O desenvolvimento de crianças e adolescentes com necessidades educativas especiais 1.13 Conclusão 4 UNIUBE Mas qual a relação entre escola e desenvolvimento? Vamos refletir um pouco sobre esse tema?! A relação escola e desenvolvimento1.2 Conforme Lima (2007), somente o que não é de domínio do desenvolvimento precisa ser ensinado, como: apropriar-se da língua escrita, ler e escrever; formar conceitos nas diversas matérias, como história, geografia, ecologia, entre outras; desenvolver o pensamento matemático e aprender a escrever matematicamente uma operação. Veja o que Lima nos explica sobre a escola: A escola foi criada há aproximadamente 4.500 anos, no momento histórico da invenção da escrita e da matemática, do desenvolvimento da geometria e da expansão de certas práticas artísticas. Podemos dizer que ambas – a escrita e a escola – são criações recentes da humanidade, principalmente se considerarmos que a fala surgiu há cerca de 200 mil anos e que os primeiros registros de imagens em suportes como parede das cavernas datam de 25 mil anos no continente europeu. Antes mesmo disto, há 32 mil anos, na África surgiram registros, hoje chamados de protolinguagem. A escrita é, assim, bem mais recente, tendo surgido há aproximadamente cinco milênios. Depois da criação da escrita, o desenvolvimento cultural da humanidade se acelera chegando à invenção da imprensa no século XV. Daí para frente, houve uma aceleração acentuada no desenvolvimento das ciências e das técnicas artísticas, na invenção de equipamentos, na produção literária e desenvolvimento tecnológico. A aceleração é tal que hoje testemunhamos em uma mesma geração mudanças enormes nas formas de comunicação dos seres humanos, no fluxo de informação entre países e na inovação instrumental e tecnológica. Isto SAIBA MAIS UNIUBE 5 reflete na escola: educar crianças hoje exige dos professores saberes muito distintos do que se exigia dos professores que os ensinaram, há 20 ou 30 anos. Testemunhamos nas últimas duas décadas mudanças extraordinárias no desenvolvimento cultural da espécie humana. Como resultado, os processos de desenvolvimento das novas gerações apresentam peculiaridadesabsolutamente novas, mesmo para educadores jovens (LIMA, 2007, p. 17 ‑18). Na atualidade, com o avanço tecnológico, por exemplo, o professor precisa ser bastante criativo para conseguir desenvolver sua aula e trabalhar seus conteúdos, muitas vezes entre quatro paredes, pois, fora da escola, a maioria dos alunos têm acesso às informações em tempo real, sem precisar sair de casa, bastando para isso um computador com Internet. Para que a escola consiga promover o desenvolvimento humano, é importante considerar o que a criança desenvolve por si mesma (conhecimento não sistemati zado). A escola deve, ainda, propor aprendizagens novas (conhecimento formal ou sistematizado) que façam uso das manifestações de funções simbólicas que são próprias da espécie humana e adquiridas antes mesmo de a criança chegar à escola. O desenvolvimento durante os anos escolares1.3 O período de desenvolvimento que coincide com a entrada da criança no ensino fundamental, por volta dos 6, 7 ou 8 anos de vida, é marcado por mudanças cerebrais importantes que afetam diretamente a atuação da criança na escola. Conforme a criança cresce, desenvolve a atenção voluntária que possibilita a ação prolongada e organizada a partir de regras ditadas por outras pessoas, como o professor, por exemplo. É o desenvolvimento da atenção voluntária que torna possível a execução de tarefas em sala de aula. Nessa etapa, a fala organiza a ação, por isso é natural ouvir uma criança murmurar, ou seja, verbalizar para si mesma, passo a passo do que esteja fazendo. Esta etapa também é marcada pela necessidade e 6 UNIUBE Se a educação reestrutura o comportamento, qual é o papel do professor e da escola nesse processo? PARADA PARA REFLEXÃO Se você acredita na escola como espaço em que as experiências humanas são ampliadas, você está no caminho certo, pois é importante que haja na escola o contato do aluno com conhecimentos novos, metodologias e áreas de conhecimento contemporâneas. Sobre o papel do professor nesse processo, Vygotsky destaca o papel de mediador, que faz junto, demonstra, fornece pistas, instrui, dá assistência, enfim, aquele que contribui para o processo de desenvolvimento do aluno, e um dos componentes desse papel está na definição do currículo e na elaboração de seus componentes. Você já ouviu falar sobre plasticidade cerebral? Veja o que Lima explica: Enquanto espécie, o ser humano apresenta, desde o nascimento, uma plasticidade muito grande no cérebro, podendo desenvolver várias formas de comportamento, aprender várias línguas, utilizar diferentes recursos e estratégias para se inserir no meio, agir sobre ele, avaliar, tomar decisões, defender -se, criar condições de sobrevivência ao longo de sua vida. Plasticidade é a possibilidade de formação de conexões entre neurônios a partir das sinapses. A infância é o período de maior plasticidade e isto atende, naturalmente, ao processo intenso de crescimento e desenvolvimento que ocorre neste período (LIMA, 2007, p. 24). Por esse motivo, há autores que acreditam que se aprende melhor um outro idioma até os doze anos; entretanto, esta ainda é uma afirmativa que causa muita discussão entre os pesquisadores interessados em aspectos relativos à aquisição da linguagem. CURIOSIDADE importância atribuídas ao grupo. Nesse sentido, é relevante considerar o que Vygotsky (1935) afirma, ou seja, para o autor a educação reestrutura o comportamento. UNIUBE 7 Lima explica também sobre a possibilidade oportunizada pela plasticidade cerebral: A plasticidade cerebral possibilita uma adaptação de áreas do cérebro destinadas a uma função específica, ou seja, o córtex visual de crianças que nascem cegas poderá assumir outra função devido ao impedimento visual (LIMA, 2007, p. 25). Assim sendo, o sentido da visão será substituído por outro, tornando esse outro sentido mais aguçado. Dessa forma, pode-se explicar o fato de uma pessoa cega conhecer o outro pelo cheiro, pelos passos e até mesmo pelo toque. A plasticidade cerebral também permite um tipo de “interdis ciplinaridade” do cérebro em que áreas desenvolvidas por meio de um tipo de atividade podem ser “aproveitadas” para aprender outros conhecimentos ou desenvolver áreas relativas a outro tipo de atividade. Por exemplo, áreas desenvolvidas pela música, como a de ritmo, são “aproveitadas” no ato da leitura da escrita ou a de divisão do tempo na aprendizagem de matemática (LIMA, 2007, p.25). Isso ocorre em virtude de mudanças estruturais no sistema nervoso central de vido às experiências proporcionadas, nesse caso, pela aprendizagem da música. Moreira e Candau definem o currículo como: [...] as experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, em meio às relações sociais, e que contribuem para a construção das identidades de nossos estudantes. Currículo associa-se, assim, ao conjunto de esforços pedagó gicos desenvolvidos com intenções educativas (MOREIRA; CANDAU, 2007, p. 18). O currículo diz respeito aos eventos escolhidos para se trabalhar os conhecimentos que vão contribuir para o desenvolvimento dos alunos. Assim, para compor um currículo é preciso mobilizar alguns aspectos fundamentais do desenvolvimento humano. Passaremos a discuti-los em seguida. 8 UNIUBE O crescimento durante os anos escolares1.4 Se observarmos as crianças de 6 a 12 anos de uma escola no horário de recreio, veremos que elas se diferem em tamanho (altura) e estrutura corporal (peso): há crianças altas, baixas, gordas, magras. Nessa faixa etária, elas crescem cerca de 5 a 8 centímetros por ano e ganham de 2.700 a 3.800 g. As alterações em altura e peso não são iguais em meninas e meninos. As garotas geralmente retêm um pouco mais de tecido adiposo (gorduroso) do que os meninos e esta característica persiste até a vida adulta. Tanto a altura quanto o peso de meninas e meninos são influenciados pela genética e também por hábitos alimentares. As crianças que apresentam crescimento abaixo do normal são frequentemente muito mais baixas que seus colegas, mesmo aos 6 ou 7 anos. Há diversos tipos de distúrbios do crescimento e um deles diz respeito à insuficiência do corpo para produzir o hormônio do crescimento. Durante muito tempo, o tratamento indicado para esse problema foi à base de injeções de hormônio que resultavam em 45 cm a mais na altura prevista. Entretanto, é um tratamento caro e com riscos de infecção. A engenharia genética trouxe com seu avanço um hormônio sintético mais abundante, mas também mais caro e sem ideia clara dos efeitos causados à saúde. Portanto, a Academia Americana de Pediatria recomenda que o hormônio do crescimento seja usado apenas em crianças que realmente apresentem deficiência dele. Acredita-se também que as pessoas geneticamente mais baixas possam ganhar mais com terapias psicológicas que terapias hormonais, pois essas terapias podem ajudar a superar sentimentos negativos associados à baixa estatura (PAPALIA; OLDS, 1998). AMPLIANDO O CONHECIMENTO No Brasil, o Ministério da Saúde garante tratamento medicamentoso gratuito a crianças com distúrbios de crescimento, entretanto é importante que, primeiramente, essa necessidade seja comprovada para que, posteriormente, a criança receba o medicamento sob acompanhamento UNIUBE 9 do profissional da saúde (endocrinologista). Vale ressaltar que o tratamento hormonal objetiva corrigir o ritmo de crescimento e não tornar o indivíduo alto. O peso médio do corpo dobra entre 6 e 12 anos e as brincadeiras das crianças exigem um gasto maior de energia. Para apoiar esse crescimento contínuo e a constância de exercícios, as crianças precisam de uma alimentação balanceada: carboidratos, sendo altos níveis de carboidratos complexos; proteínas e fibras. Os carboidratos complexos são encontrados em alimentos como: batatas, pães e cereais etc. Os carboidratos simples são encontrados em doces e devem ser ingeridos minimamente, pois são considerados caloriasvazias, ou seja, não nutritivas. CURIOSIDADE É importante destacar que os cálculos em relação ao número de calorias a serem ingeridas são realizados considerando a altura e o peso de uma pessoa. Para calcular o número de calorias necessárias a uma pessoa é importante considerar a altura, peso, idade e nível de atividade física, sendo esses cálculos diferenciados para adultos homens e mulheres e mais ainda para crianças. Caso você queira experimentar fazer esse cálculo, entre no seguinte site: <http://www.aprendaemagrecer.com/necessidade-calorica -diaria.html>. SAIBA MAIS A boa nutrição é essencial para atividades mentais, físicas e sociais; já a desnu trição leva à falta de atividade, seja qual for a faixa etária do indivíduo. Por outro lado, é fundamental observar os efeitos da supernutrição, ou seja, o excesso de calorias que pode levar à obesidade. 10 UNIUBE A obesidade é caracterizada pelo excesso de peso que advém de um grande acúmulo de gordura corporal. O cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) é a técnica mais utilizada para diagnosticar a obesidade. O IMC é baseado em uma relação entre o peso e a altura; esse cálculo é utilizado tanto para adultos quanto para crianças e adolescentes. Para se obter o IMC, o peso (em quilos) é dividido pela altura (em metros) ao quadrado, cuja equação é a seguinte: IMC = Peso / Altura x Altura. O resultado é obtido em quilogramas por metro quadrado. Alguns pesquisadores indicam como fatores que contribuem para o surgimento do problema: a predisposição genética, influências do ambiente – falta de local para praticar esportes, nível de atividade e peso, horas em frente à televisão que, além de incentivar a inatividade, ainda influenciam hábitos alimentares al tamente calóricos, uso de alguns medicamentos, como corticosteroides, fatores emocionais, idade – ao envelhecer, a massa muscular corporal tende a diminuir e, diminuindo, diminui também o gasto energético, favorecendo o ganho de peso –, gravidez, insônia. A obesidade precisa ser tratada, uma vez que crianças gordas podem se tornar adultos obesos. Além disso, essas crianças poderão ter prejuízos em relação à saúde e à autoestima, pois geralmente são consideradas menos atraentes e ainda correm o risco de desenvolver pressão alta, problemas ortopédicos e diabetes. O tratamento envolve reeducação alimentar, exercícios e mudança de comportamento. Os profissionais da saúde evitam a utilização de pílulas para tratar a obesidade, visto que elas podem aumentar a pressão sanguínea e causar tontura, ataques e até derrame. Se quiser saber mais sobre a obesidade, acesse o site: <http://www. bancodesaude.com.br/obesidade/o -que -obesidade>. PESQUISANDO NA WEB Problemas de saúde enfrentados por crianças1.5 1.5.1 Doenças UNIUBE 11 Aos 6 anos, as crianças geralmente já experimentaram ou experimentam problemas como resfriados, garganta inflamada, verrugas, dores de ouvido e mais de 90% delas podem apresentar uma condição médica severa, como uma infecção virótica por estreptococos, por exemplo. Apenas uma em cada nove crianças apresenta problemas crônicos, como enxaqueca e miopia, para exemplificar. Os problemas respiratórios, infecções de garganta e ouvido tendem a diminuir conforme as crianças se aproximam da puberdade. Nesta etapa, os jovens enfrentam mais problemas, como acne, dores de cabeça e problemas emocionais passageiros. Observamos que a saúde física das crianças muda com a idade, vai ganhando mais estabilidade, muda também a maneira como elas compreendem a saúde e a doença. Estreptococos Também chamado de streptococcus fazem parte de um gênero de bactérias que pode ser prejudicial ao ser humano. Nem todas são patogênicas, a maioria é inofensiva. A pneumonia é um exemplo de infecção causada por estreptococos. Entre 6 e 12 anos, as crianças acreditam que a doença é provocada pelas ações humanas e frequentemente elas acreditam que suas próprias ações as deixam doentes. Posteriormente, elas atribuem todas as doenças aos germes que precisam ser espantados, mesmo que para isso utilizem comportamentos supersticiosos. Próximas à adolescência, as crianças já não atribuem todas as doenças aos germes e compreendem que podem se manter saudáveis com algumas atitudes. Nessa fase, a doença tem múltiplas causas. Qualquer ação educativa sobre doenças precisa considerar os níveis de compreensão dos alunos ou corre o risco de falhar (PAPALIA; OLDS, 1998). Podemos perceber que as explicações que as crianças e adolescentes apresentam sobre a doença evoluem conforme elas avançam no desenvolvimento cognitivo. AMPLIANDO O CONHECIMENTO 12 UNIUBE 1.5.2 Deficiência visual Para que se tenha uma noção do número de pessoas com algum problema de visão, de um grupo de 4.623 crianças submetidas a exame de acuidade visual, 8,1% apresentaram necessidade de exame oftalmológico completo. Houve 63,2% de crianças com astigmatismo hipermetrópico, 15,7% com astigmatismo miópico, 12,5% com astigmatismo misto, 4,9% com hipermetropia e 3,7% com miopia. Somente o oftalmologista pode determinar a utilização ou não de lentes corretivas nesses casos (OLIVEIRA et al., 2009). Os problemas de visão geralmente são observados pelos professores, pois é na escola que aumentam as exigências em relação à utilização da visão. Preste atenção: se seu aluno aperta os olhos enquanto fixa o olhar em algo distante, se ele reclama de dores de cabeça ou visão embaçada, se ele apresenta dificuldades em copiar a matéria da lousa ou ler os textos impressos ou xerocados, ou se ainda apresenta lacrimejamento durante a fixação visual, esses podem ser indícios de dificuldade visual e, nesse caso, é preciso avisar aos pais, para que eles possam encaminhar as crianças para um exame oftalmológico. DICAS 1.5.3 Cáries Outro problema enfrentado por crianças de 6 a 12 anos é a presença de cáries. Dentes fortes e saudáveis são importantes para a nutrição, a saúde de maneira geral e também para a aparência. Mas, em países subdesenvolvidos, como o Brasil, ainda é grande o número de crianças com cárie; mais que 45% das crianças na faixa etária citada apresentam o problema. Campanhas de uso de flúor na água potável, momentos de aplicação de flúor nos dentes de alunos durante as aulas em escolas públicas, difusão de medidas de higiene e de serviços odontológicos gratuitos são maneiras utilizadas para erradicar o problema ou melhorar a saúde bucal. UNIUBE 13 A visita frequente ao dentista ainda é reduzida no Brasil, culturalmente há um medo muito grande das pessoas em relação aos dentistas e as crianças vão incorporando essa atitude, portanto, o comportamento dos pais é o que mais influencia a criança. Mas, o que mais impede as pessoas de frequentarem o dentista, principalmente no Brasil, ainda são problemas econômicos, pois o número de postos de atendimento é pouco em relação ao número de pessoas que necessitam dele. 1.5.4 Gagueira A gagueira consiste na repetição involuntária frequente ou o prolongamento das sílabas e sons. É um distúrbio embaraçoso que afeta 10% das crianças em idade escolar, prejudicando principalmente a autoestima delas. Geralmente, começa antes dos 10 anos de idade, mas 80% das crianças que gaguejam deixam de fazê-lo antes dos 16 anos, a maioria (aproximadamente 60%) por conta própria e uma minoria (20%) em resposta a tratamento, mas cerca de 1% continua gaguejando na fase adulta. As causas da gagueira podem ser físicas ou emocionais: falhas na respiração ou articulação dos sons, problemas com o feedback defeituoso da própria fala, pressão dos pais para que a criança fale corretamente e conflitos emocionais profundos. Para tratar a gagueira, são realizadas sessões de psicoterapia, aconselhamento, terapia da fala e uso de medicamentos. 1.5.5 Tiques Já observou que algumas crianças apresentam movimentos musculares involun tários e repetitivos, como virar o pescoço, por exemplo? São os tiquese surgem por volta de 4 a 10 anos. Os tiques tendem a desaparecer um ano depois do aparecimento ou antes mesmo da adolescência. Eles funcionam como alívio para perturbações emocionais que surgem geralmente de relacionamentos atuais ou passados. É importante consultar um neurologista, pois um tique pode ser um sintoma de um problema neurológico. 14 UNIUBE Segurança na escola1.6 Crianças de 6 a 12 anos e na adolescência se machucam mais em atividades esportivas ou nas imediações da escola; neste último caso, por fazerem, geralmente sozinhas, o percurso de casa para escola e da escola para casa. Para evitar acidentes, é importante orientar as crianças em brincadeiras, em relação ao atravessamento de ruas e cruzamentos, uso de playground, uso de equipamentos de esportes perto de outras pessoas etc. Desenvolvimento motor1.7 É impressionante observar as crianças de 6 a 12 anos, elas pulam corda, jogam, andam de skate e bicicleta, entre outras atividades executadas cada vez mais rapidamente, com melhor coordenação, equilíbrio e força. Pesquisas indicam que as habilidades motoras melhoram com a idade e que meninos e meninas quando participam de atividades similares apresentam habilidades semelhantes. A prática de atividades físicas traz benefícios aos jovens e crianças, e esses benefícios têm reflexo a longo prazo na vida das pessoas. Desenvolvimento intelectual nos anos escolares1.8 Madruga e Lacasa (1998) destacam que dos 6 aos 12 anos de idade acontecem mudanças importantes no desenvolvimento cognitivo das crianças. Ao final desse período, elas já são capazes de realizar tarefas intelectuais próprias de um adulto. Para resolver problemas de ordem cognitiva, as crianças precisam de utilizar algumas estratégias, as quais discutiremos em seguida. 1.8.1 Estratégias de memória Você já parou para pensar na importância da memória? Há quem parafraseie a sentença de Descartes: “Penso, logo existo”, afirmando que “Lembro, logo existo. Playground Expressão de origem inglesa que significa um espaço de brincadeira, de ludicidade. UNIUBE 15 Reflita sobre a importância da memória! Imagine uma pessoa que sofre um acidente e, em consequência dele, não consegue se lembrar de fatos importantes da vida cotidiana, como o trabalho desempenhado há anos. A sensação que se tem é que a vida do sujeito vai emperrar! PARADA PARA REFLEXÃO A memória é fundamental, ela é ativada principalmente em uma situação em que a pessoa precisa utilizar conhecimentos arquivados para prestar um exame, por exemplo. Assim, o que aprendemos na escola não pode perecer em alguns minutos, dias, meses ou ano. Uma das estratégias de memória que empregamos é a repetição. Mas essa é uma estratégia que possibilita um entendimento superficial, importante para ar mazenarmos informações na memória a curto prazo, como guardar um número de telefone, por exemplo. Outra estratégia utilizada para memorização de informações é o que Madruga e Lacasa (1998) definem como categorização ou agrupamento, uma maneira de organizar buscando conexões dentro da própria informação. Pode ser mais fácil recordar uma lista de palavras que se referem a grupos de animais ou a plantas, por exemplo, em vez de memorizar palavras misturadas. Essas estratégias consolidam-se e ampliam conforme a criança vai avançando em idade e são importantes na resolução de tarefas e problemas. 1.8.2 Estratégias de produção da linguagem escrita Nos anos escolares, surgem ainda estratégias relacionadas ao processamento e produção da linguagem escrita. É comum crianças escreverem o que sabem sobre determinado assunto ou copiarem partes de determinados textos quando a proposta é resumir, entretanto essas 16 UNIUBE posturas são ainda consideradas passivas frente às atividades de produção escrita. Oferecer às crianças situações em que elas tenham que resolver tarefas e problemas cognitivos que exijam delas o uso de estratégias que estejam a seu alcance permite uma progressiva aquisição, fortalecimento e extensão destas. Na atividade de leitura, a criança utiliza várias estratégias que possibilitam realizar essa tarefa com eficácia. Compreender um texto exige do leitor a interação entre diversos processos cognitivos que resultam na representação mental do sentido do texto. Essa representação mental é determinada não só pelo texto, mas também pelos conhecimentos diversos que o leitor traz para compor o sentido do mesmo (conhecimento de mundo, conhecimentos específicos relacionados ao tema, conhecimento sobre como o texto é organizado etc.). Conseguir reconhecer o que é relevante em um texto é um requisito importante para desenvolver estratégias de estudo, como tomar nota, sublinhar, resumir etc. EXEMPLIFICANDO! Atividades familiares costumam ser motivantes para os alunos quando há proximidade com a sua vida cotidiana. Tudo que é importante na escola, o é por ser muito mais relevante fora dela. São evidentes as transformações cognitivas pelas quais as crianças passam durante a vida escolar, as estratégias tornam ‑se cada vez mais complexas e abstratas, os conceitos espontâneos se transformam em conceitos científicos. Vamos supor as seguintes situações de exemplos de conceitos espontâneos. Uma criança de 10 anos é capaz de atribuir funções biológicas básicas a todos os animais, por serem funções gerais de todos os seres vivos, ou seja EXEMPLIFICANDO! UNIUBE 17 todos eles comem, respiram, dormem, possuem órgãos internos. Entretanto, as crianças menores (4 – 5 anos), geralmente, atribuem essas funções somente aos seres humanos ou a seres inanimados. Com base nesse exemplo e neste ponto de nosso estudo, podemos retomar Vygotsky quando o autor afirma que a educação, o aprendizado formal produz algo de fundamentalmente novo no desenvolvimento da criança. Por meio dele, os conceitos espontâneos que a criança elaborou em contato com pares e com o mundo são transformados em conceitos científicos, estes últimos, frutos da aprendizagem escolar. 1.8.3 Metacognição Madruga e Lacasa (1998) definem a metacognição como uma forma de regular e controlar o conhecimento em situações de aprendizagem ou quando se busca soluções para um problema. Segundo esses autores, a metacognição refere ‑se à participação ativa do indivíduo em três momentos precisos do processo: antes, durante ou depois de realizar uma atividade. Quando realizamos uma atividade, temos em mente o objetivo de realiza- la e, também, o controle de nossas ações, somos capazes de explicálas. Você sabe a diferença entre as estratégias cognitivas e as metacognitivas? Veja o que Kleiman (2004, p. 50) nos diz: As estratégias cognitivas se diferem das metacognitivas, pois as primeiras são operações inconscientes, ou seja, o indivíduo não tem consciência de seus atos para atingir um objetivo; já na utilização de estratégias metacognitivas, o sujeito é consciente das escolhas que faz para atingir seus objetivos e ainda é capaz de descrever e explicar essas escolhas. Podemos inferir o sentido de um texto a partir de algumas pistas presentes no título ou em alguma ilustração; a inferência que realizamos é uma estratégia CURIOSIDADE 18 UNIUBE metacognitiva, posteriormente utilizamos outras durante o exercício de leitura, como testar e confirmar ou não nossas hipóteses. São exemplos de estratégias metacognitivas durante uma atividade de leitura: • autoavaliar constantemente a própria compreensão; • determinar um objetivo para a leitura; • controlar conscientemente essas duas ações, sendo que o leitor saberá dizer para que está lendo um texto e também quando não estiver entendendo o texto. Há também estratégias para conseguir mais eficiência na leitura: • voltar ao texto e reler; • buscar o sentido de uma palavra -chave do texto; • resumir o que leu; • buscar um exemplo de um conceito. 1.9 Conhecimento social e desenvolvimento moral nos anos escolares Padilla e González (1998) destacam que de 6 a 12anos há uma grande evolução no modo pelo qual as crianças compreendem as pessoas com as quais convive e as relações que estabelece com essas pessoas. No meio escolar, há o convívio com pessoas diversas e o estabelecimento de diferentes relações (igualdade, submissão, liderança etc.). As crianças • se conscientizam de que, em um jogo, por exemplo, elas precisam disfarçar suas estratégias para que não sejam descobertas pelos outros; • passam a analisar um problema considerando a perspectiva de uma terceira pessoa por não estar envolvida diretamente no processo; UNIUBE 19 • colocam -se no lugar dos outros para compreender um problema; • podem realizar inferências para buscar as causas de um determinado pro blema; • percebem quando alguém está tentando enganá-las; • passam a dar importância sobre a opinião dos outros a seu respeito; • nas amizades, suas relações transcendem o imediato e se estendem ao longo do tempo; • compreendem gradativamente as relações de ajuda mútua. Uma criança de 7 anos sabe que deve pagar pelo doce que compra e que o comerciante deve lhe devolver o troco. Mas, nessa idade, ela ainda não compreende o que acontece com o dinheiro que paga ao comerciante. Por volta de 9, 10 anos, ela passa a compreender que o comerciante utiliza o dinheiro para repor mercadorias, mas ainda não compreende a noção de lucro. Essa noção a criança adquire por volta de 11, 12 anos e daí ela é capaz de estabelecer a inter-relação entre dois sistemas: o processo de obtenção de dinheiro, trocando -o depois por mercadoria e o lucro que essa atividade produz, possibilitando uma nova inversão, a repetição do ciclo (PADILLA; GONZÁLEZ,1998). EXPLICANDO MELHOR Ao final da infância e durante a adolescência, a concepção de sociedade se amplia para um sistema de múltiplas interações, e aquilo que acontece em uma delas repercute sobre os demais. Conhecer como as crianças compreendem a realidade é fundamental para que o professor programe atividades que trabalhem noções históricas, políticas, geográficas, econômicas e sociais, pois é importante adaptar as atividades ao nível crescente de compreensão da criança, bem como fornecer informações que dinamizem a evolução das representações que ela já tem sobre a realidade. Com base em seus avanços cognitivos e também com as experiências adquiridas no convívio social, as crianças vão adquirindo princípios morais 20 UNIUBE que a levam a uma maior compreensão das regras e valores que regem a sociedade na qual estão inseridas e percebem a importância dessas regras e desses valores para uma melhor convivência entre as pessoas. 1.9.1 O desenvolvimento da personalidade 1.9.1.1 Autoconceito O autoconceito nos auxilia no conhecimento de nós mesmos, e também no controle e ajuste de nosso comportamento. Começa quando nos percebemos seres únicos, diferentes das outras pessoas, mas pertencentes a uma sociedade. Posteriormente nos autodefinimos, ou seja, observamos as características que consideramos importantes para nos descrevermos. Na luta para se tornarem membros de uma sociedade e desenvolverem o au toconceito, as crianças cumprem tarefas diversas: • expandem sua autocompreensão, ou seja, passam a refletir sobre suas ne cessidades e as expectativas dos outros em relação a elas; • aprendem mais sobre o funcionamento da sociedade, ou seja, que as relações são complexas e envolvem regras, pois as pessoas desempenham papéis e cumprem regras; • precisam desenvolver padrões de comportamentos que sejam satisfatórios para elas e também aceitos pela sociedade e ainda, • precisam aprender a dirigir seu próprio comportamento. 1.9.1.2 Autoestima A idade de 6 a 12 anos é um momento importante para o desenvolvimento da autoestima. A autoestima consiste em uma autoavaliação ou autoimagem favo rável de si mesmo. As crianças geralmente comparam o que elas realmente são ao que é considerado ideal em relação às expectativas sociais. A opinião que ela tem de si mesma tem grande impacto no desenvolvimento de sua personalidade. UNIUBE 21 A capacidade de aprender habilidades que precisam para viver em sociedade, que pode ser denominada competência, ajuda a criança a ter uma noção do que elas são. Em países industrializados, é importante aprender a contar, ler e usar computadores. As crianças que não conseguem desenvolver habilidades referentes a essas atividades tendem a desenvolver baixa autoestima. EXPLICANDO MELHOR Alguns fatores interferem no desenvolvimento da personalidade de crianças de 6 a 12 anos: • o cotidiano – as atividades executadas; • as relações entre as pessoas que convivem com as crianças (adultos, crianças) e das crianças com essas pessoas; • o papel desempenhado pela criança no grupo. • O grupo, seja o familiar, o escolar ou o de amigos, influencia positiva e/ou negativamente a formação do autoconceito e no desenvolvimento de habilidades sociais. Distúrbios emocionais na infância1.10 Você viu crianças que apresentam um comportamento exibicionista, ansioso ou depressivo? Pois bem, é comum surgirem distúrbios emocionais na infância. Eles incluem o comportamento exibicionista, distúrbios de ansiedade, depressão infantil e estresse. O comportamento exibicionista é definido por Papalia e Dols (1998) como um comportamento inadequado estimulado pelas dificuldades emocionais, por exemplo, mentir ou roubar. É comum crianças entre 6 e 7 anos mentirem para evitar punições, entretanto se a mentira se torna habitual é importante observar atentamente, pois pode ser um indício de desequilíbrio emocional. 22 UNIUBE Os distúrbios de ansiedade podem estar relacionados a uma condição de ansiedade que persiste por, no mínimo, duas semanas, devido à separação da criança em relação a uma pessoa ou animal de estimação. Pode causar mal ‑estar físico, como vômito, dor de cabeça e dor no estômago. A fobia à escola também pode ser uma forma de distúrbio de ansiedade e pode estar mais relacionada ao medo de deixar a mãe do que ir à escola em si. Os sintomas são os mesmos citados anteriormente e desaparecem quando a criança tem permissão para ficar em casa. Durante o tratamento, é importante que a criança retorne gradualmente à escola, e geralmente isso acontece sem maiores problemas. A depressão infantil é um distúrbio afetivo caracterizado pela ausência de reações emocionais normais. Geralmente, as crianças estão sempre cansadas, tristes, choram muito, dormem muito ou muito pouco, perdem o apetite, vão mal nos estudos, entre outros sintomas. Quatro desses sintomas já caracterizam um quadro depressivo e a presença de qualquer um deles já indica a necessidade de auxílio psicológico. A dificuldade da criança em lidar com situações novas pode ainda provocar o estresse: o divórcio ou morte dos pais, mudança de escola, hospitalização, pressão constante da pobreza, maus ‑tratos psicológicos etc. Os tratamentos para os distúrbios emocionais na infância incluem a psicoterapia individual, a terapia familiar, a terapia comportamental e a terapia com medicamentos. A psicoterapia individual é uma técnica em que um terapeuta ajuda o paciente a ter insights sobre sua personalidade e relacionamentos e ainda o ajuda a interpretar sentimentos e comportamentos. Na terapia familiar, a família inteira é tratada em conjunto. SAIBA MAIS UNIUBE 23 A terapia comportamental utiliza os pressupostos das teorias de aprendizagem para alterar o comportamento. A terapia com medicamento conta com a administração criteriosa de medicamentos para tratamento dos distúrbios emocionais. Os distúrbios emocionais na infância precisam ser tratados para não influenciar negativamente o desenvolvimento da criança nos aspectos emocionais, sociais e cognitivos. Você acredita que a reflexão que realizamos até aqui se aplica também aos adolescentes? Qual é a sua opinião sobre isso? PARADA PARA REFLEXÃO Em muitos aspectos, se aplica sim, mas vamos detalhar um pouco mais algunsaspectos relevantes sobre o adolescente. Adolescência1.11 Iniciando‑se, aproximadamente, aos 12 ou 13 anos, e terminando aos 18 ou 19 anos, podemos afirmar que a adolescência é o período de transição entre a infância e a fase adulta (PAPALIA; OLDS, 1998). As mudanças biológicas produzem um crescimento rápido em relação à altura, proporção corporal e maturidade sexual. Mas, não somente alterações biológicas marcam esse período, a adolescência é também um fenômeno social e emocional, portanto, aspectos culturais também afetam essa etapa de transição. Convido você a refletir sobre esse aspecto a partir de um comentário realizado pelo psicanalista francês Charles Melman (apud CHAGAS, 2011, p. 1): CURIOSIDADE 24 UNIUBE [...] o autor nos lembra que a noção de crise associada ao período de transição na adolescência, se encontra essencialmente em nossa cultura. Ele afirma que “não há nenhum sinal dela, enquanto crise psíquica, nos textos das culturas gregas e latinas, onde seria um simples período de introdução a vida social”. A crise psíquica – na adolescência – como um processo de transição entre um mundo (infantil) e outro (adulto), pode ser assinalada como um fenômeno característico das sociedades pós ‑industriais capitalistas. Nelas, não encontramos ritos de passagem responsáveis pela demarcação de uma fase e outra. A ausência de cerimônias reguladoras, verificadas em sociedades menos evoluídas que a nossa, certamente, favorece a crise psíquica que conhecemos na fase adolescente. Disponível em: <http://www.pailegal.net/fatpar. asp?rvTextoId=482489451>. A partir desse pensamento, podemos inferir que o autor acredita que o comportamento, muitas vezes inadequado, que a maioria dos jovens brasileiros apresentam na adolescência justifica-se pela ausência de um ritual que marque essa transição. 1.11.1 A puberdade A puberdade é o período em que ocorre a maturidade sexual e a habilidade de reprodução. As meninas começam a mostrar essas mudanças entre 9 ou 10 anos e atingem a maturidade sexual por volta dos 13 ou 14 anos. Essas idades não são fixadas com exatidão, pode ocorrer de uma menina mostrar os primeiros sinais da puberdade aos 7 anos ou mais tarde, aos 14. Já os meninos iniciam a puberdade aos 12 anos, e a maturidade sexual acontece aos 14. Para eles, esse período também pode se alterar para menos ou para mais, iniciando aos 9 ou 16 anos, com maturidade sexual entre 11 e 18 anos. A puberdade ocorre em resposta às mudanças hormonais. Nas meninas, os ovários iniciam a produção de estrogêneo, hormônio feminino; nos meninos, os testículos aumentam a produção de testosterona. Esses dois UNIUBE 25 hormônios estão presentes tanto em meninas quanto em meninos, mas as meninas têm níveis mais altos de estrógenos e os meninos apresentam níveis mais altos de andróginos. O humor dos adolescentes sofre influências hormonais e sociais, mas estas últimas influenciam mais; assim sendo, o ambiente em que o adolescente vive pode contribuir para que seu humor seja bom ou ruim. As mudanças físicas que ocorrem durante a adolescência dizem respeito ao estirão do crescimento, ao desenvolvimento dos órgãos sexuais primários, das características sexuais secundárias e à menarca (primeira menstruação – para as meninas). No que diz respeito ao desenvolvimento das características sexuais primárias, há o aumento e amadurecimento dos órgãos necessários à reprodução: ovários, útero e vagina nas meninas e testículos, próstata e vesículas seminais nos meninos. As características sexuais secundárias são sinais de maturidade sexual, mas não envolvem os órgãos reprodutores. Incluem as mamas das mulheres, mu danças na voz, textura da pele, pelos pubianos, faciais, na pele e sob a axila de homens e mulheres. A atividade aumentada das glândulas sebáceas (que secretam substância gordurosa) origina espinhas e cravos que incomodam os adolescentes. A acne incomoda mais meninos que meninas e parece estar associada ao aumento da testosterona (hormônio masculino). As vozes de meninos e meninas ficam mais graves devido ao crescimento da laringe e, nos meninos, também devido à produção de hormônios masculinos. Nas meninas, a menarca, primeira menstruação, é o sinal mais significativo da maturidade sexual. Um sinal de maturação do adolescente é o estirão do crescimento adolescente em que há um aumento acentuado em altura e peso que precede a maturidade sexual. Entre 11 e 13 anos, as meninas são geralmente mais altas, mais pesadas e mais fortes que os meninos, estes atingem o estirão do crescimento mais tarde. 26 UNIUBE As mudanças físicas são marcadas por um grande impacto psicológico, pois é embaraçoso para os adolescentes conviver com a observação constante de todas as pessoas ao mesmo tempo que seus corpos mudam constantemente. Os adolescentes preocupam-se muito com a aparência e as meninas são mais inclinadas à depressão devido a essa preocupação. 1.11.2 Nutrição Os adolescentes, assim como as crianças, necessitam de uma alimentação balanceada, mas gastam muito mais energia que na etapa anterior; eles podem também sofrer de distúrbios de alimentação como a obesidade, se ocorrer ingestão de mais calorias do que gastam. Outro distúrbio alimentar que os adolescentes podem enfrentar é a anorexia nervosa, ou seja, a autoprivação de alimento. As pessoas que sofrem desse distúrbio não conseguem ver como a magreza é chocante. Os primeiros sinais de aviso da anorexia incluem restrição na dieta, perda contínua de peso, insatisfação com o corpo mesmo com perda excessiva de peso e interrupção da menstruação. Esses são sintomas que apontam para a necessidade de tratamento. IMPORTANTE! Os adolescentes também podem apresentar um distúrbio alimentar denominado bulimia nervosa, em que a pessoa se alimenta excessivamente e depois toma laxantes ou induz o vômito para limpar o organismo. Vamos observar o que Papalia e Olds consideram sobre essa doença: Os bulímicos são muito ligados em seu peso e formas corporais. IMPORTANTE! UNIUBE 27 São tomados por culpa, autodesprezo e depressão com respeito aos hábitos anormais de alimentação. Eles também sofrem de problemas sérios de cárie (devido ao ácido estomacal que atingem os dentes durante os vômitos), irritação gástrica e queda de cabelo (PAPALIA; OLDS, 1998, p. 496). Geralmente, os bulímicos sentem vergonha de seus corpos, mas não alcançam a magreza assustadora da anorexia, o que de certa forma dificulta o diagnóstico e retarda a intervenção médica. Os tratamentos para anorexia e bulimia vão desde a internação, uso de medicamentos para estimular a alimentação e inibir o vômito e a terapia comportamental com recompensas para quem se alimenta, como sair da cama e do quarto. Também é importante utilizar antidepressivos. 1.11.3 Problemas com drogas lícitas e ilícitas Uso do álcool Geralmente, os jovens acreditam que o álcool abrilhanta ocasiões sociais, aumenta a aceitação do indivíduo no grupo, reduz a ansiedade e faz esquecer os problemas. Entretanto, o álcool pode causar danos à saúde e dificuldades de relacionamento e desenvolvimento profissional. Jovens viciados em álcool resultam em adultos também viciados. Tabaco O tabagismo se desenvolve nos jovens devido às influências de amigos e da família que fuma. Mas, muitos jovens são conscientes de que o fumo traz sérias implicações para a vida posterior, como diversos tipos de câncer e doenças pulmonares. Uso de drogas O uso de drogas pelos jovens pode acontecer por curiosidade, pela necessidade de imitar os amigos ou sentirem-se mais adultos. Há, ainda, jovens que utilizam drogas como expressão de rebeldia contra os valores dos pais. 28 UNIUBE As drogas podem causar sérios problemas de saúde, como cardíacos, pulmo nares, prejuízos à memória, à aprendizagem, diminuição da motivação para o trabalho, para o estudo, motivação à violência, entre outros problemas. As principais drogas, lícitas e ilícitas,consumidas no Brasil: 1. Álcool – 40% 2. Solventes (cola, benzina, removedor de esmalte) – 28.7% 3. Maconha – 25,4% 4. Cocaína – 12,5% 5. Drogas de laboratório (ecstasy e anfetamina) – 3% As drogas lícitas são legalizadas, produzidas e comercializadas livremente. Os principais exemplos de drogas lícitas são o cigarro e o álcool. Podemos citar também: anorexígenos (moderadores de apetite), benzodiazepínicos (remédios utilizados para reduzir a ansiedade) etc. Já, a cocaína, a maconha, o crack, a heroína, entre outras, são drogas ilícitas, drogas cuja comercialização é proibida pela legislação. 1.11.4 Doenças sexualmente transmissíveis DSTs são doenças transmitidas pelo contato sexual. As mais comuns são: clamídia, gonorreia, herpes, sífilis e AIDS. Essas doenças podem ser evitadas com a utilização de preservativos, e a escola, junto à família, tem papel fundamental no trabalho de conscientização dos jovens. Caso queira saber mais sobre as DSTs, visite o site: <http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt&pid= S003786822004000300003>. PESQUISANDO NA WEB UNIUBE 29 1.11.5 Desenvolvimento cognitivo dos adolescentes Carretero e Cascón (1998) destacam que a adolescência é um período de conquista de novas formas de pensamento, caracterizado por uma maior autonomia e rigor no raciocínio. Quando ao adolescente é apresentado um problema, ele não conta apenas com os dados reais que estão presentes, mas prevê todas as situações e reações causais possíveis entre seus elementos. Nesta etapa da vida, o real está subordinado ao possível. Na adolescência, as abstrações ou teorias assumem um caráter hipotético dedutivo: [...] utiliza-se uma estratégia que consiste em formular um conjunto de explicações possíveis para, posteriormente submetê-las à prova, para comprovar sua confirmação empírica. Porém, a capacidade de comprovação dos adolescentes não se reduz a uma ou duas hipóteses, mas eles podem levar a cabo várias delas simultânea ou sucessivamente (CARRETERO; CASCÓN, 1998, p. 276). Conforme a citação anterior, o adolescente, além de operar sobre as possibilidades oferecidas pelas hipóteses que formula, é capaz de testar cada uma delas e atribuir-lhes o devido valor. Para que a escola consiga potencializar essa capacidade do adolescente, seria interessante propor atividades que tenham uma maior relação com a realidade cotidiana, assim pode-se desenvolver um conhecimento mais preciso para resolver problemas formais. Raciocinar a respeito de um tema depende do conhecimento prévio que se tem dele, ou seja, dos esquemas que temos sobre determinado assunto. O esquema é entendido como um processo interno, organizado e não necessariamente consciente, que repousa sobre a antiga informação já armazenada em nossa mente. Os esquemas vão se modificando em SAIBA MAIS 30 UNIUBE contato com nossas experiências. Mas é importante considerar que os seres humanos tendem a manter suas hipóteses e ideias prévias, apesar de a realidade mostrar o contrário. A teoria só é mudada quando há outra mais completa, que considere o que foi explicado pela anterior e ainda acrescente novos fenômenos. Entretanto, essa mudança é um processo difícil, visto que as concepções espontâneas, geralmente, explicam bem as situações cotidianas. Conforme Carretero e Cascón (1998), o desenvolvimento cognitivo não consiste apenas em um conjunto de estratégias de raciocínio, que pode ser aplicado a qualquer conteúdo, mas consiste também em blocos de informações específicas, que dependem da experiência concreta de cada aluno e cuja assimilação adequada está intimamente relacionada com a capacidade de desprezar ou contradizer as ideias prévias. Para os autores, não se pode conceber o desenvolvimento à margem da aprendizagem, seja escolar ou informal. A escola é um espaço em que se podem privilegiar situações reais de ensino e aprendizagem com objetivo de contribuir de fato para o desenvolvimento cognitivo de crianças e adolescentes. 1.11.6 Desenvolvimento da personalidade do adolescente Como os indivíduos reagem e se comportam nesta etapa da vida, em que as pessoas se preparam para a adultez, diz respeito à personalidade do adolescente. Nesta fase, abandona-se um passado pessoal e projeta-se um futuro. Mas, esse não é um processo simples, pois como fenômeno cultural, biologicamente o indivíduo está maduro para a atividade sexual e para o trabalho, e socialmente ele é considerado imaturo para tais atividades. Assim sendo, essa indefinição de limites deixa o adolescente confuso, ou seja, ele não sabe exatamente o que se espera dele. Entretanto, a constituição do sujeito não para, ele continua lutando para definir sua identidade. PONTO-CHAVE UNIUBE 31 A identidade pessoal É na adolescência que se começa a tecer o relato pessoal, e esse relato constitui o discurso fundamentador da identidade pessoal. Nesta fase, o indivíduo atinge maturidade que lhe permite definir quem ele é; viver em sociedade e se relacionar com os outros. Seu sucesso evolutivo individual depende de circunstâncias sociais e históricas, que podem facilitar ou dificultar a adesão a determinados estilos de vida e identidade pessoal. Os valores, as atitudes, a moral, o modo de vida são julgados pelo adolescente e o conjunto desses elementos determina a representação do sujeito sobre si e sobre os outros. O reconhecimento e aceitação da família e do grupo é o que assegura ao adolescente um conceito positivo de si mesmo. Relações sociais na adolescência As primeiras relações sociais acontecem na família e se estendem posteriormente à escola, onde há o contato com novos companheiros e novos adultos. A emancipação em relação à família é um traço que se destaca no processo de busca pela autonomia, entretanto, são as práticas de criação que determinarão uma emancipação mais tranquila ou perturbada. Paralelamente a essa emancipação, o adolescente estabelece laços mais estreitos com o grupo, considerando valores, costumes relacionados a estilo de roupas e de vida. Inicialmente, essa relação envolve adolescentes do mesmo sexo e há certa hostilidade em relação ao sexo oposto. Mais tarde, começam os relacionamentos com o sexo oposto. São os envolvimentos amorosos, que fazem com que os adolescentes se desliguem aos poucos do grupo. Os pais têm influência mais intensa nas opções e valores adotados pelos filhos quando pensam no futuro, mas no dia a dia eles geralmente seguem os valores dos companheiros no momento presente, pois é uma forma de atender às necessidades e aos desejos imediatos. Também por esse motivo, a adolescência é uma fase de conflitos, principalmente com a família. 32 UNIUBE Mas há o momento em que é preciso assumir as rédeas da própria vida, definir a profissionalização, buscar a independência financeira, a segurança em relação a si mesmo, assumir a responsabilidade pelos próprios atos, enfim, a época em que a emancipação é inevitável. Discutimos o desenvolvimento de crianças e adolescentes em idade escolar, mas consideramos para tanto o padrão de desenvolvimento de sujeitos que não apresentam nenhuma deficiência física, mental ou sensorial. E, no caso dessas pessoas, você acredita que existem diferenças significativas? O que você conhece sobre esse tema? PARADA PARA REFLEXÃO 1.12 O desenvolvimento de crianças e adolescentes com necessidades educativas especiais Crianças e adolescentes com necessidades educativas especiais precisam dos mesmos cuidados e atenção que crianças e adolescentes sem deficiência necessitam: alimentação saudável, afeto, educação, prática de atividades físicas, interação e convivência com outras crianças e também com adultos. Alterações ou adaptações necessárias em qualquer um desses itens, como atividades físicas e alimentação, são realizadas por profissionais da saúde ou de outra área específica e cabe à família compartilhar essas informações com a escola. Há um site na Internetem que você tem acesso a artigos que abordam a relação família e a criança com deficiência. Com eles, você poderá ampliar seus conhecimentos, basta buscar por assunto: <http://scielo.bvs-psi.org.br/ scielo.php?pid=S1414 -98932007000200006&script=sci_arttext>. PESQUISANDO NA WEB A dinâmica das relações pessoais com essas pessoas nos mostra, e até mesmo nos ensina, como lidar com elas. A convivência possibilita para o educador, para a família e qualquer outro grupo, descobrir as capacidades e possibilidades de pessoas com deficiência. UNIUBE 33 Quando há a presença de uma deficiência sensorial, em que falta um ou mais de um sentido, é necessário motivar a criança para o uso integrado dos sentidos preservados; dessa forma, ela não fica prejudicada em relação à restrição de experiências na interação com o meio e com as outras pessoas. Na presença de uma deficiência física, há a limitação para acesso a alguns espaços e atividades, entretanto, se não há outra deficiência associada, o convívio costuma ser tranquilo. Também para as pessoas com deficiência mental, o convívio e interação com pessoas sem deficiência tem papel fundamental e proporciona aprendizagem para ambas. Em nossa sociedade, as relações entre pessoas sem deficiência e pessoas com deficiência têm sido ampliadas devido ao movimento pela inclusão. O que é fundamental nesse processo é o respeito pelas pessoas, independentemente de suas condições físicas, psicológicas, sociais, emocionais etc. Conclusão1.13 Pensamos que os conhecimentos acerca do desenvolvimento infantil, especial mente nos anos escolares, poderão contribuir em muito para que você, futuro (a) pedagogo(a), possa entender melhor a criança. Acreditamos que tais conheci mentos são fundamentais, uma vez que lhe permitem compreender e intervir de forma mais adequada e profícua na relação dessa criança com os objetos, com os conceitos, com os outros meios sociais, no processo de ensino-aprendizagem. Resumo Este capítulo teve como objetivo apresentar um estudo bibliográfico do desenvol vimento humano durante a fase de escolarização. A leitura do texto nos permite compreender aquilo que é determinado pelo biológico no desenvolvimento hu mano e ainda observar o que depende de aprendizagem. Apresentamos aspectos importantes do desenvolvimento 34 UNIUBE físico, emocional, motor, cognitivo e social de crianças e adolescentes. É um estudo fundamental para pessoas que tenham ou venham estabelecer contato com crianças e jovens em fases de escolariza ção, pois possibilita conhecer para compreender e, consequentemente, orientar. Referências BEE, H. A criança em desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed, 1998. CARRETERO, M.; CASCÓN, J. A. L. Desenvolvimento cognitivo e aprendizagem na adolescência. Cap. 1. In: COLL, C.; PALACIOS, J.; MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação. v. 1. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. CHAGAS, Arnaldo. Adolescência ─ Um fenômeno contraditório. In: Pai Legal. Disponível em: <http://www.pailegal.net/fatpar.asp?rvTextoId=482489451>. Acesso em: 12 abr. 2011. 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Este processo contínuo de interações, além de promover o desenvolvimento dos indivíduos e da espécie humana, também gera conflitos, confrontos e desentendimentos que se não forem adequadamente mediados, principalmente por meio do diálogo, podem inibir, quiçá promover o extermínio de sociedades e grupos humanos. Segundo o físico alemão Albert Einstein, autor da Teoria da Relatividade, e ganhador do Nobel de física em 1921, se houver uma outra Guerra Mundial certamente ela será combatida com paus e pedras. Nas sociedades humanas primitivas, em resposta à necessidade dos homens de regulação das atividades cooperativas de trabalho e ao fortalecimento da coletividade como forma de preservação da espécie, surgiram os rudimentos da moralidade. A moralidade, neste cenário, era compreendida como um conjunto de normas e regras destinadas a regular as relações dos indivíduos em uma determinada comunidade social. Primitivas Neste texto o termo “primitivas” está associado ao conceito de primeiras, de origem, dos primórdios da humanidade, e não de inferior. 38 UNIUBE Um dos códigos normativos mais antigos que se tem notícia é o de Hamurabi. Constituído de um conjunto de leis que regulavam a vida e a cultura local, o código do rei Hamurabi foi talhado por volta de 1700 a.C., em uma rocha monolítica, na civilização Babilônica, antiga Mesopotâmia, atual Irã. Desta época até a contemporaneidade, os códigos normativos passaram por inúmeras mudanças e o conceito de moral sofreu várias transformações, recebendo diferentes interpretações. Para o antropólogo Franz Boas, considerado o pai da antropologia moderna e precursor das ideias do relativismo cultural, cada sociedade tem suas normas e regras morais que devem ser avaliadas dentro de seus domínios. Do ponto de vista sociológico, não se conhece cultura sem sistema moral, ou seja, toda comunidade humana necessita para seu desenvolvimento e para sua sobrevivência de um aporte de caráter normativo. Compreender que a moralidade não é inata na espécie humana e nem a mesma para todas as culturas e indivíduos mas o resultado de um longo processo inconcluso de construção sócio-histórica, abre caminho para
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