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Profa. Dra. Neusa Meirelles UNIDADE II Sociologia da Comunicação As relações entre os dois segmentos de produção e consumo são exploradas pela SC, mantendo foco nas práticas envolvidas, sobretudo na divulgação dessas práticas. Assim, interessa examinar como se faz o consumo e quais relações ele mantém com a produção. Inversamente, como a produção de um bem ou serviço antecipa o seu consumo, embora não seja possível explorar aqui todas as facetas dessa questão, por exemplo: como é possível direcionar um produto ou serviço desconhecido para um público conhecido ou supostamente conhecido: a resposta imediata seria sim, mas como seria feito esse direcionamento? (Não responda pelas tais “necessidades”, porque essa é uma ótima palavra para dizer nada). Foram criadas imagens ou representações, tanto para o público quanto para o produto, e que certo saber de comunicação associou a construção simbólica do produto ou serviço à construção simbólica do público; essa associação será o conteúdo da comunicação. SC e a produção e consumo material e simbólico Quanto à modalidade da mensagem, ela poderá variar em texto, imagem, som etc., embora cada uma delas com peculiaridades. Houve aqui uma construção simbólica, da materialidade do produto e do serviço, assim como do público, e ambas as construções são socialmente orientadas, ou seja, apoiam-se em padrões, valores e expectativas sociais, mas nem sempre as já existentes na sociedade em foco, uma vez que o apelo simbólico da “novidade” é grande. Todavia, produzir implica em certa antecipação do consumo, portanto em previsão de demanda, racionalidade nos processos, recursos etc. Como se dá esse processo que antecipa o consumo? Ele implica antecipar, prever e projetar uma dada tendência de comportamento social; portanto é a sociedade, com todas as suas contradições e complexidades, que oferece base para essa antecipação, considerando o presente e possíveis tendências de futuro, local e global. Comunicação e representação Discutir a peculiar articulação entre as duas dimensões da existência social, a material e a simbólica, presentes nas práticas sociais de produção e de consumo, como se pudessem ser separadas, o que não é verdadeiro: as duas dimensões são sempre associadas na existência social, em todo caso podem ser apontados 4 momentos. produção material para consumo material e o consumo material da produção material; produção material para consumo simbólico e o consumo material da produção simbólica; produção simbólica para consumo material e o consumo simbólico da produção material; produção simbólica para consumo simbólico e o consumo simbólico da produção simbólica (aqui um item fundamental é a produção e “consumo” de bens simbólicos na educação e ambiente virtual). Comunicação e a articulação material e simbólica Antonil (1982), escrevendo do século XVIII, descreve os tipos de açúcar obtidos nos engenhos e os classifica em relação à cor e à consistência: “Do branco há fino, há redondo e há baixo; e todos estes são açúcares machos. O fino é mais alvo, mais fechado e de maior peso, e tal é ordinariamente a primeira parte, que chamam cara da forma. O redondo é algum tanto menos alvo, e menos fechado; e tal é comumente o da segunda parte da forma; e digo comumente porque não é esta regra infalível, podendo acontecer que a cara de algumas formas seja menos alva, e menos fechada que a segunda parte de outra forma. O baixo é ainda menos alvo e quase trigueiro na cor; e ainda que seja fechado e forte, contudo, por ter menos alvura, chama-se baixo ou inferior. [...] É necessário falar de várias castas de açúcar, que separadamente se encaixam, porque também nesta droga há sua nobreza, há casta vil, há mistura” (ANTONIL, 1982, p. 136). Um exemplo de representação simbólica do açúcar brasileiro para consumidor europeu Os paulistas emprestaram o seu item de consumo alimentar mais típico, a partir dos anos 1950: a pizza, a uma certa forma de conversa política. “Tudo deu em pizza” é expressão corrente na mídia, que toma uma prática alimentar (produção e consumo material) por uma prática política de acordos, conciliações e de privilégios, cujo objetivo é material, na maioria dos casos. Essa prática é corrente na instância que se situa no “avesso” da ordem política brasileira, mas ela a caracteriza. A pizza é redonda, ao contrário da italiana original, que é retangular, (seria a versão das elites brasileiras para a Távola Redonda, do Rei Arthur? (não deve ser). A pizza é qualificada pela espessura da massa e variedade quase infinita de coberturas (que muitos paulistas chamam de “recheio”, não se sabe por quê). É costume nos grupos maiores dividir a conta, assim como se passa na “pizza política” na qual todos os envolvidos dividem o sigilo em torno dos fatos, e todos se fartam de impunidade... Produto material para representação simbólica de práticas culturais: a Pizza Para ele a vida cotidiana se passa em um “mundo de objetos”, uma vivência peculiar, na qual os indivíduos se conduzem de modo mais ou menos inconsciente. Os problemas levantados dizem respeito “aos processos pelos quais as pessoas entram em relação com eles [os objetos] e da sistemática das condutas e das relações humanas que disso resulta” (BAUDRILLARD, 1997, p. 11). Consolidou-se a tendência de relacionamento com as coisas, cada vez mais ampliada, atingindo níveis profundos do comportamento. Essa tendência pode ser observada quando se pensa em estilo e em design: Baudrillard aponta algumas implicações desses conceitos, especialmente do primeiro, na produção material e respectivo consumo. Enquanto a produção material resultava do trabalho artesanal, o “estilo” consistia na concepção e produção de objetos, o que lhes conferia valor de uso. Eram “modelos” que poderiam até ser copiados. A destinação desses objetos conferia-lhes valor estético e social: a cópia dos objetos da nobreza pela burguesia foi uma das raízes da cultura de consumo, e do que se vai entender por ‘estilo’. Hoje, para diferenciar, instituiu-se a “customização”: é o consumidor (consumer inglês) que introduz um traço diferenciador no produto em série. Baudrillard e o mundo dos objetos Por exemplo, a produção de ambientes tem sentido social de recorrer ao passado, ou a outras culturas, em busca do exótico e do autêntico para demonstrar, ao mesmo tempo, refinamento e poder aquisitivo. Introduzir, no ambiente contemporâneo, objetos artesanais tem a mesma finalidade, originando um setor de “produção artesanal” em escala comercial: no Brasil, incluem-se nesse mercado a cestaria do Maranhão e de Sergipe, os objetos de conchas de Santarém, de penas da Amazônia, a tecelagem em algodão do Vale do São Francisco, panelas do Espírito Santo, alguns tapetes artesanais de Minas e as colchas de “fuxico” baianas formam um segmento especial, visto apresentarem nuanças que respondem por estilos das artesãs, aproximando-se da arte. O consumo simbólico está no envolvimento no “clima” e na “personalidade do ambiente.” A produção material para consumo simbólico e o consumo material da produção simbólica O espaço onde se concretiza esse “consumo-desfrute” é psicológico e cultural. Por isso, a sensação de “estilo” (e de riqueza) pode ser alcançada com os móveis do shopping da esquina, ou da feira de antiguidades, e pelo mesmo motivo podem ser produzidos nas revistas, “ambientes modernos para pessoas descoladas”, em geral solteiras e sem filhos. A produção material torna disponíveis os objetos e equipamentos para que o desfrute (consumo) aconteça, mas para que ele se concretize, será necessário reconstruir no plano simbólico, cultural e social os sentidos dos objetos e daquilo que os equipamentos permitem. Enfim, embora a vida contemporânea possa ser considerada como instaurada em um mundo de objetos, ela não se dána relação com os objetos, mas por meio das relações sociais simbólicas estabelecidas entre pessoas, objetos e equipamentos, conforme a cultura e ao longo da história. O consumo “desfrute” Um produto, bem ou serviço, deverá ser falado, mostrado para o consumidor, de um modo a estabelecer uma relação de significação, portanto simbólica, entre o consumidor e o produto, bem ou serviço. Às vezes a comunicação se faz pela falsa ausência de um emissor; em outros casos, um suposto emissor aparece, como se dele partisse a mensagem. A questão central não diz respeito à construção da comunicação, mas às bases da construção (simbólica) criada para o produto, bem ou serviço, pela comunicação, lembrando que essa articulação é sempre uma mediação simbólica. A produção simbólica de um bem, produto ou serviço implica em integrá-lo na sociedade e cultura, articulando peculiaridades presentes no momento histórico às peculiaridades do produto. Produção simbólica para consumo material e o consumo simbólico da produção material Nessa construção é fundamental preservar a diferença social entre os que adquirem o produto e o “resto”, uma vez que é da diferença social que se alimenta o consumo, e por consequência a produção. Contudo, a “diferença” não se restringe à posse do produto, mas à felicidade que ele proporciona. E aqui está a chave da produção simbólica para o consumo material: são as diferenças mínimas que fazem a grande diferença, ou seja, “a diferença está no detalhe”. Meticulosa, a produção simbólica insere um desvio no código das diferenças para sinalizar aquilo que representa “o” diferencial de um produto, bem ou serviço. Esse detalhe pode ser uma costura em uma roupa, o tratamento servil do gerente de conta para sua cliente “personalidade”, como também pode ser uma cor ou a marca discreta. Fundamental é não ser ostensivo, “menos é mais”, afirmou o figurinista de sucesso (Calvin Klein), reiterando nos brancos e beges. O detalhe reconstrói o estilo nos circuitos de elites, por isso ele “agrega valor”, como dizem os marqueteiros, e realmente torna um produto inacessível para todos. As diferenças e a felicidade Segundo Baudrillard “é o pensamento mágico que governa o consumo, é uma mentalidade sensível ao miraculoso que rege a vida cotidiana” (BAUDRILLARD, 2003 p. 23), essa felicidade anunciada pelo consumo, e que se concretiza como “liberdade” de escolha no cotidiano, ainda que seja ilusória, é vivida como tal, pois “ninguém a vive como alienação”...Mas de onde vem essa felicidade? Seria da liberdade usufruída com o consumo? Não; os comerciais são claros elucidando a questão: nenhum deles anuncia a felicidade, mas a diferença em relação aos demais consumidores; ao mesmo tempo, a aquisição de um objeto amplia e diversifica as faltas ou carências, não apazigua, mas renova o desejo, estabelece um “mais ainda”, sempre colocado à frente. Mas esse prazer é ao mesmo tempo uma recusa à fruição: o prazer está na demonstração da posse do carro, portanto no espetáculo para o outro (sociedade) de uma felicidade que ambos, ele e os outros, e até o espectador da TV, reconhecem ilusória, mas não o admitiriam nem sob tortura. Caso o fizessem seria desmanchado o encanto e a ilusão (assim como se está fazendo agora). Consumo e pensamento mágico A produção simbólica reproduz o código social, uma vez que ele é assumido como a expressão da vida social contemporânea. Evidentemente que há aqui uma dimensão ideológica, a ser comentada posteriormente, mas esse não é o ponto, a questão central reside em reconstruir produtos, bens e serviços por esse código, o do consumo, no qual a liberdade reside na escolha de produtos disponíveis, a igualdade na produção de diferenças, e a fraternidade na competição. Os três valores que sinalizam a sociedade burguesa foram redefinidos, mas não deixam de permanecer, para justificar a oferta incessante de novos produtos, bens e serviços, e alimentar a produção. Produção simbólica É necessário e importante tornar um produto material um bem simbólico para o consumidor? Escolha a alternativa correta. a) Importante sim, porque estimula o consumo. b) Não é necessário, o consumidor sempre vai consumir, até minhoca... c) Sim e não: depende do produto: um livro (objeto) vai ser adquirido se houver um sentido, ainda que seja só para enfeite. d) Todo produto vai ser consumido. Se houver uma justificativa razoável, afinal, consumo é racionalidade. e) É necessário apenas para os produtos não desejados, como remédios. Interatividade É necessário e importante tornar um produto material um bem simbólico para o consumidor? Escolha a alternativa correta. a) Importante sim, porque estimula o consumo. b) Não é necessário, o consumidor sempre vai consumir, até minhoca... c) Sim e não: depende do produto: um livro (objeto) vai ser adquirido se houver um sentido, ainda que seja só para enfeite. d) Todo produto vai ser consumido. Se houver uma justificativa razoável, afinal, consumo é racionalidade. e) É necessário apenas para os produtos não desejados, como remédios. Resposta Há três aspectos fundamentais a serem comentados: a) a produção da cultura e práticas sociais nos meios de comunicação e em certa modalidade de literatura; b) o papel na formação e disseminação de práticas sociais articuladas a essa produção, (ambos os aspectos relacionados ao que se entende por produto cultural); c) a produção simbólica virtual de material educativo on- line e nas redes sociais, Facebook, chats e fóruns. O primeiro aspecto decorre da lógica econômica e social da produção e consumo na ordem capitalista. Nesse sentido, toma-se a produção simbólica no âmbito da representação material. (objetos) Essa condição empresta às ideias discurso (elaboração simbólica) de um conteúdo (tema, assunto, história, música, notícia, evento etc.), uma dada materialidade (estatuto), que vai se refletir nas condições abertas para sua elaboração, notadamente remuneração de trabalho, custos etc. A produção simbólica considerada como produto será intencionalmente elaborada para um público, e a ele destinada. Esse produto será colocado no mercado para pessoas que irão consumi-lo, apesar de esse consumo ser a apropriação, pelo público de um conteúdo de ideias comunicado. Produção simbólica para consumo simbólico e o consumo simbólico da produção simbólica Um produto cultural é sempre uma simbolização, uma comunicação, em distintas modalidades de discurso, mas ele se apresenta ao público como unidade na programação (conteúdo) dos meios de comunicação, ou em suporte material, pelo qual o público o nomeia e reconhece. Essa apresentação material é importante também na valorização do produto. A estética (aspecto) de um produto pode ser condicionante para sua aquisição pelo consumidor, assim como as características “internas”, específicas do conteúdo, como a modalidade de discurso, linguagem utilizada etc. Livros, revistas, exposições de arte, concertos, shows e espetáculos são produtos culturais, ou podem ser produzidos como tal, mas entre eles há profundas diferenças: entre um livro (papel impresso) e um e-book (apresentação virtual) há profunda diferença de meio, embora seja o mesmo conteúdo, no que respeita à elaboração simbólica: o livro de Antonil antes utilizado como exemplo foi obtido na internet, ou seja, uma apresentação virtual, mas que preservou o texto original de sua publicação no Brasil. Produto Cultural A comunicação em sociedade implica “interposição” de um saber especializado em comunicação entre emissor e receptor. Essa situação condiciona o modo como é construída a mensagem, por texto e imagem sem movimento (imprensa), pelo discurso sonoro, som e música (rádio), imagem sem movimento (fotografia), pelo som, música, imagem, imagem com movimento e também texto (cinema, TV, internet), além de influir noconteúdo da própria mensagem. Nessas condições, a produção simbólica intencional se torna, ela própria, um produto, que deve atender a certas especificações e ser dirigido a um público relativamente específico. Dessa perspectiva, as questões anteriormente tratadas na discussão de indústria cultural retornam, todavia agora inseridas nas práticas de produção (simbólica) para consumo, o que significa reconhecer na intencionalidade, a racionalidade econômica que a preside, e na destinação, a eficiência de um saber prático de “combinação” entre “coisas e ideias”, instaurando novos sentidos, seja para “cada coisa”, como para a “ideia” a ela associada. Produção simbólica e interposição A adequação de um produto cultural ao público (e vice-versa) é um problema enfrentado pelos profissionais de comunicação, uma vez que implica levar em conta o conteúdo, meio utilizado, finalidade a ser atingida com a comunicação, além de todos os critérios econômicos e financeiros que cercam a produção de um bem na ordem capitalista. Considerando a delimitação de público por características de potenciais consumidores, e a tendência do mercado de individualizar a relação produção consumo (customização), instauram-se no âmbito da produção simbólica para consumo simbólico, duas tendências conflitantes: de um lado, é forçoso delimitar públicos preferenciais para determinados programas, ou mesmo elaborá-los de acordo com os interesses pressupostos e linguagem desses públicos (na verdade potenciais consumidores para produtos anunciados nos intervalos); de outro lado, tornou-se fundamental criar mecanismos de individualização, ou seja, utilizar mecanismos de interatividade, permitindo que o consumidor “participe da programação”, e opine “pois sua opinião é muito importante”. Adequação de um produto ao público Como a produção simbólica é sempre comunicação, seja qual for a modalidade focalizada, ela se apresenta como linguagem (discurso), e como tal, exerce uma modalidade de poder especial, não violento, mas eficaz: por ela se constrói o mundo e o outro. “O poder simbólico, como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo, e deste modo, a ação sobre o mundo [...] só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrário [...] o que faz o poder das palavras [...] é a crença na legitimidade das palavras e daquele que as pronuncia, crença cuja produção não é da competência das palavras” (BOURDIEU, 1989, p.15). Bourdieu toca em questões das mais relevantes na área de comunicação: considerando-se que parte da produção simbólica tem por finalidade fazer ver e fazer crer ao consumidor um conteúdo elaborado intencionalmente, vale questionar as condições que esse público tem para submeter o conteúdo da recepção a uma apreciação crítica e, principalmente, qual é o conteúdo considerado “adequado” para aquele público. Poder da produção simbólica: o discurso No Brasil, a partir da Ditadura Militar, instalou-se outra ordem de prioridades na educação: da formação bacharelesca e humanista, passou-se para uma formação técnica, voltada para o mercado de trabalho. Os estudos de História foram relegados, e em geral ministrados como uma sequência de eventos (antecedentes e consequências para serem decorados, e odiados por crianças e adolescentes). Era uma história que não focalizava a população brasileira, nem sua memória, muito menos a latino-americana; o foco se concentrava na história europeia e americana do norte, e realizava “saltos”, evitando certos momentos “complexos”. Passada a ditadura militar, a escola pública não foi aperfeiçoada, embora nos programas de algumas escolas tenham sido inseridos temas que são relevantes, como cidadania e meio ambiente; mas ainda não foi inserido conteúdo relativo à história latino-americana e africana. (continua) Produção simbólica da cultura: educação, poder e o discurso de convencimento O “repertório” disponível para os jovens apresenta carências de formação, o que afeta principalmente as condições efetivas para apreciação da produção simbólica cultural, e para constituir uma demanda de novos produtos. Importante assinalar que segmentos dessa mesma população, nas favelas e periferias, tornaram-se produtores culturais autônomos, processo significativo para a cultura brasileira. Produção simbólica da cultura: educação, poder e o discurso de convencimento (continuação) Como a produção simbólica tem por finalidade fazer ver e fazer crer ao consumidor um conteúdo elaborado intencionalmente, ela constrói a situação vivida a partir de alguma perspectiva ideológica, político-partidária, religiosa, estética ou de interesses conjunturais. Ela é apresentada por meio de um discurso, que pode ser publicitário, informativo, técnico- explicativo, interpretativo ou quaisquer combinações. O discurso não é um convite à manifestação, mas provoca uma “disposição de mobilização intencional” no público, que poderá se expressar na forma de uma dada ação, por exemplo, no consumo, na formação de uma “opinião pública”, de um “consenso”, na forma de uma aceitação obediente ou de uma indiferença desencantada com a política, essa última um risco para a democracia. A construção elaborada pode ser verdadeira ou não, em realidade não importa seu grau de veracidade, mas importa isto sim, que ela pareça verdadeira aos que são afetados por ela, e isto porque eles mantêm com a realidade, tal como foi construída, certos vínculos supostamente concretos, e mesmo que sejam imaginários, podem ser tomados como reais. A análise desse discurso de sensibilização é importante, especialmente quando o conteúdo elaborado desse modo é apresentado como “informação”. As bases da produção simbólica O discurso de convencimento sensibiliza e mobiliza, especialmente por imagens, mas o convencimento pode apelar para a razão e entendimento, então se apresenta como “científico”, ou ainda remeter aos valores sociais e políticos esposados por uma população, em dado momento de sua história. O mais frequente, contudo, é ser um discurso que apela para a desrazão da emoção, para uma merecida felicidade, para o desejo de um futuro melhor, ou para o medo de um futuro incerto, construído pelo próprio discurso como assustador. O discurso de convencimento Em alguns casos, opera-se um recorte sobre aquilo que seria necessário dizer, considerando aquilo que é possível dizer. Os critérios de possibilidade têm origem em várias instâncias, principalmente nas condições em que se processa o trabalho de produção simbólica. Foram essas possibilidades que Adorno e Horkheimer discutiram em relação à indústria cultural. Concepções políticas e ideológicas (até partidárias) transitam nesse campo, imprimem ao conteúdo, antes mesmo de ser elaborado, ainda como roteiro, os “pontos” importantes a serem mencionados. Trata-se de sensibilizar o receptor, induzindo-lhe atitudes, ou disponibilidade para a ação, ou ainda lhe oferecendo modelos de ação compatíveis com o conteúdo elaborado. Nos dois casos, tanto as práticas quanto os modelos são reforçados no próprio discurso pelo emprego de valorações em curso na sociedade. Na produção simbólica, o que é necessário dizer e o que é possível dizer A produção realizada em redes sociais, ou a elas destinada, ou comunidades virtuais, grupos de WhatsApp e assemelhados apresenta várias clivagens, por exemplo, explorando a produção das comunidades REA, dos Recursos Educacionais Abertos, analisando a produção dos Grupos de Pesquisa em EAD, registrados no CNPq. Fazendo levantamento das revistas acadêmicas brasileiras existentes etc. Na verdade, as redes sociais, no caso específico do Facebook, permitem um palco para exposição dos sujeitos, e respectiva vida privada; há nessa postura certo risco, contudo, parece que “anunciarsegredos se converteu numa estratégia eficiente para garantir visibilidade e popularidade” (COUTO, E. 2014, p.60). Todavia, uma conclusão do autor deve ser levada a sério, como recomendação: “Na era das conexões as pessoas aprendem trabalhando em conjunto, colaborando umas com as outras, com os professores e também entre si. A colaboração está se tornando o foco de uma outra pedagogia focada na participação, na interação, complexa, dinâmica, multidirecional e muito mais criativa” (COUTO, op. cit. p. 62). Produção simbólica virtual para consumo simbólico virtual Um outro campo peculiar da produção simbólica é constituído pelos games, fascinante combinação de ficção, imaginário, poderes e desejos, que acenam com vitória estratégica, desde que seja mantido compromisso com objetivos, além de outros valores e práticas sociais contemporâneas. Enfim, um game como o Lol (League of Legends) consiste na mais completa recriação de um espaço social, mas em realidade virtual, combinando possibilidades e riscos, determinação e recursos. Os games, produção simbólica O que significa dizer que a produção simbólica na indústria cultural tem por finalidade fazer ver, e fazer crer ao consumidor o conteúdo elaborado? Escolha abaixo a alternativa correta. a) Quer dizer que as empresas de comunicação constroem as notícias com uma certa intencionalidade. b) Quer dizer que a situação construída na TV, Jornais e Revistas nunca é verdadeira. c) Quer dizer que uma situação construída de alguma perspectiva ideológica é diferente de a mesma situação construída de uma perspectiva religiosa. d) Quer dizer que TV, Jornais e Revistas sempre escolhem notícias segundo seus interesses. e) Quer dizer que as empresas de comunicação defendem posicionamento político-partidário e religioso, afora os interesses econômicos conjunturais. Interatividade O que significa dizer que a produção simbólica na indústria cultural tem por finalidade fazer ver, e fazer crer ao consumidor o conteúdo elaborado? Escolha abaixo a alternativa correta. a) Quer dizer que as empresas de comunicação constroem as notícias com uma certa intencionalidade. b) Quer dizer que a situação construída na TV, Jornais e Revistas nunca é verdadeira. c) Quer dizer que uma situação construída de alguma perspectiva ideológica é diferente de a mesma situação construída de uma perspectiva religiosa. d) Quer dizer que TV, Jornais e Revistas sempre escolhem notícias segundo seus interesses. e) Quer dizer que as empresas de comunicação defendem posicionamento político-partidário e religioso, afora os interesses econômicos conjunturais. Resposta Na verdade, já faz algum tempo que os jogos eletrônicos deixaram de ser simplesmente um divertimento: tornaram-se um esporte (eSports), constam na grade de disciplinas de cursos universitários, abrangem campos de saber distintos (informática, design, programação, dentre outros), são jogados em grupos (times), que disputam campeonatos regionais, nacionais e internacionais, e no Brasil, estão associados a clubes de futebol tradicionais, como o Flamengo, do Rio de Janeiro. Apesar daqueles que entendem por esporte apenas os tradicionais, os eSports têm apresentado crescimento exponencial em todo globo. Essa visão otimista consta em post do Diretor Global de eSports sobre o futuro dos eSports de LoL (John Needham. 2019 08/27): Os jogos eletrônicos A sociabilidade contemporânea implica tendência de estetização do eu ou do self, orientada pelas valorações correntes na sociedade e, de modo especial, valorações aceitas pelas comunidades virtuais e grupos de WhatsApp. Nas duas situações as pessoas se identificam pelo telefone (WhatsApp) e foto, ou pela foto e perfil (Facebook e outras redes). No momento em que essa “produção” está sendo realizada a imagem do “eu”, então sujeito de sua própria produção, passa por recursos tecnológicos de “correção”, como o Photoshop, disponível inclusive em versão gratuita. Essa imagem do “eu” corrigido torna-se um produto como outro qualquer, por isso a importância do sorriso de sucesso, ou das notícias associadas, especialmente durante ou após as férias. É interessante pensar que o questionamento: “quem sou eu?” que na vida real não tem resposta fácil, nas redes sociais é rapidamente respondido, a partir de algumas indicações de preferência, as reconhecíveis pelos “seguidores”, ou usuários das redes. Assim o sujeito se faz produto de si, e se oferta para o outro, talvez não seguindo apenas os critérios do outro, mas provavelmente em correspondência às preferências e expectativas desse outro. Construção do sujeito e do outro no espaço virtual Na medida em que as diferenciações sociais emergem de processos endógenos (internos) à formação social, cabe à SC estudar quais são os pressupostos e características adotados na construção, e nela implicados, tanto no que se refere ao produto resultante desse trabalho, quanto no que respeita aos elementos tecnológicos e recursos mobilizados nessa produção. Nas peças publicitárias, especialmente nos comerciais televisivos, as semelhanças são projetadas de supostas características do público consumidor. Nesse sentido, o produto adquire a dimensão social conveniente para que o público, consumidor preferencial, com ele se identifique, ainda que essa “identificação” possa ser ilusória. Todavia, esse procedimento não se aplica a outros produtos culturais como cinema, TV, internet etc. Assim, será preciso recorrer a “imagens sociais” de semelhanças e diferenças utilizadas nesses meios para analisar o processo de construção, considerando ainda as distintas modalidades de discurso: texto, imagem, som, e nas três modalidades articuladas. A construção do social, semelhanças e diferenças Mesmo os brasileiros que não moram em São Paulo ou no Rio devem ter imagens contrastantes dessas duas metrópoles brasileiras construídas em letras da música popular: Rio de Janeiro, “Cidade Maravilhosa”, foi caracterizada pela beleza da paisagem, muito sol, praia, amor, samba e carnaval, cenário natural de uma vida descontraída, espaço onde transitam malandros sensuais e belas mulatas, garotas douradas e os jovens alegres, despreocupados. Em décadas mais recentes, acrescentou-se a essa imagem uma outra, de violência nas favelas e “arrastões” nas praias, mas, mesmo assim, a cidade aonde surgiu a bossa nova parece manter sempre a imagem idílica registrada nas letras de música: “Rio que mora no mar [...] que sorri de tudo”... (MENESCAL & BÔSCOLI, 1998). (continua) Exemplos de construção simbólica: duas metrópoles: Rio de Janeiro São Paulo, ao contrário, cidade que foi sendo construída como cenário frio, céu nublado e garoa, cidade masculina, de homens comprometidos com a produção industrial capitalista, uma “selva de pedra” de empresários – os novos bandeirantes desbravadores –, e de trabalhadores responsáveis, apressados e ambiciosos. Uma Rádio Paulista abre sua programação com um trecho da Sinfonia a São Paulo (Billy Blanco, 1974), mais ou menos assim “Vam’bora, vam’bora, tá na hora, vam’bora”, uma referência direta à pressa e à “deselegância discreta” das meninas paulistanas, como diz Caetano Veloso (1978) em Sampa, uma ode à cidade que é o “avesso do avesso”. Exemplos de construção simbólica: duas metrópoles: São Paulo O elemento central na construção das semelhanças, e das diferenças, é a elaboração, ou a recorrência a um “espelho” de apreciações reiteradas para uma coletividade, permitindo a cada integrante nele se reconhecer, ou se projetar, ainda que nele não se visualize individualmente. Esse “espelho” reflete a construção de uma identidade social, e um estágio, ou momento no “reconhecimento de si”, como percepção do sujeito de si, de seus gostos, preferências, atitudes, valores, corpo etc. Como o sujeito receptor se percebe em meio dos outros, e em meio da sociedade em geral,resulta em um reconhecimento de si (identidade) que encontra receptividade ou “repercussão” nos outros. Essa dinâmica dá origem a um sentimento de “pertencimento”, de acolhimento, reforçado pelas semelhanças entre indivíduos do mesmo grupo, como foi discutido por autores como Stuart Hall, Giddens e Bauman, favorecendo a dimensão “inclusiva” (ou excludente) desse processo de identidade. Da construção simbólica à identidade social, ao reconhecimento de si A construção de uma “identidade” social no jogo da semelhança e diferença é um processo complexo, que engendra pluralidade e ilusões no cotidiano e nas construções da mídia. O jogo entre semelhança e diferença, entre o geral e o específico, é utilizado na construção da identidade social como processo que se instaura de fora, dando origem a modelos de comportamento e de aparência necessários (ou assim considerados) para o exercício profissional, ou para a inserção na ordem do trabalho. Um exemplo é o modelo do “executivo”, outro o do “operário” etc. São construções às quais se podem denominar por “subjetividades”, no sentido em que moldam sujeitos para o desempenho de atividades econômicas, segundo exigências dessa mesma ordem econômica. Por exemplo, os “executivos” são construídos (produzidos) de terno, gravata, vestimenta que, nas raras mulheres, só exclui a gravata, e em geral são “brancos”; operários estão sempre sorridentes, nos macacões azuis, e em geral são “brancos”, mas não loiros. Construção de identidades Na verdade, o “espelho” da identidade social brasileira se apresenta fragmentado: cada fragmento é uma parte de uma identidade em mosaico que caracteriza a sociedade brasileira: nele estão todos projetados, os gaúchos e amazonenses, cariocas e paulistas, acreanos e pernambucanos em uma “mistura” organizada, sabe-se lá por quem. Todos falam a mesma língua, mas palavras são incompreensíveis para alguns, enquanto que para outros, elas são cotidianas: a propósito, você leitor, sabe o que é pilcha (a roupa tradicional gaúcha)? Em São Paulo dizer que se “está na pindaíba” é estar “a nenhum”, como dizem os cariocas, estar pobre, mas em Roraima é pescar com vara. E assim muitos são os dizeres que diferenciam, no detalhe, a grande semelhança projetada pelo mosaico. É evidente que a mídia constitui um agente poderoso na construção desse mosaico, dela foram extraídos alguns dos exemplos citados. Todavia não bastam as palavras escritas para a construção da semelhança e diferenças: é fundamental associar o modo de dizer, a sonoridade, sobretudo evitando que todo nordestino fale com acento “nordestino global”, ou com o “carioquês” igualmente global. Identidades e espelho Em toda forma de convívio cotidiano a distância social aparece antes da palavra, com o enquadramento do olhar, então a comunicação se estabelece de uma estranha forma pelo incomunicável, a comunicação da distância, da diferença, entre “quem” é chamado e “quem” chama. Desse modo, toda inclusão se transforma em um “convite” para um banquete, no qual, ao “convidado” são destinadas as migalhas. A constituição de um espaço social da “exclusão” resultou da própria dinâmica social da economia urbana industrial, cuja incapacidade de absorção do fator trabalho produziu um contingente excedente de “sobras”, ou de “reserva inútil”. Portanto, ao ritmo do enriquecimento das elites, cresciam os segmentos sociais das “sobras”, na verdade, complementares aos primeiros. (continua) A diferença: a báscula exclusão / inclusão... Essa gênese, comum aos dois segmentos da ordem social, os inseridos na ordem econômica e social da sociedade de consumo, em posição de privilégio, e os excedentes dessa ordem, e que foram constituindo “as sobras” do sistema, resulta na apontada “complementaridade”: o espaço de exclusão social de certo modo garante a preservação dos privilégios da inclusão. Consequentemente, todo programa de “inclusão”, se ao ritmo e profundidade necessários, tenderá a comprometer o sistema que ainda hoje articula os dois segmentos. Essa realidade perversa da exclusão social fundamenta a construção do conteúdo incomunicável da comunicação entre os dois segmentos: a diferença. A diferença: a báscula exclusão / inclusão... A produção do “comum partilhado” da cultura implica ressignificações, inovações, eventuais rupturas e acomodações. Por isso, a construção dessa “produção” deve refletir nitidamente a articulação entre significações correntes na cultura e as novas que vão sendo instaladas, ao ritmo de processos sociais mais profundos presentes na formação social, além das inovações dos padrões tecnológicos de produção e de recepção. Como afirma Bakhtin: “Os novos aspectos da existência, que foram integrados no círculo do interesse social, que se tornaram objetos da fala e da emoção humana, não coexistem pacificamente com os elementos que se integraram à existência antes deles; pelo contrário, entram em luta com eles, submetem-nos a uma reavaliação, fazem-nos mudar de lugar no interior da unidade do horizonte apreciativo. Essa evolução dialética reflete-se na evolução semântica. Uma nova significação se descobre na antiga e através da antiga, mas a fim de entrar em contradição com ela e de reconstruí-la”. (BAKHTIN, 2002, p.136). A produção do comum partilhado e a integração do novo As construções das diferenças sociais em imagem e texto constituem expressão particular das mediações da sensibilidade na expressão de Barbero (2001). Nas dobras desta comunicação estão presentes modelos culturais e estereótipos de natureza diversa, conteúdos e sentidos assumidos para produzi-los, bem como concepções ideológicas, opções políticas e estéticas de seus realizadores. Para construir imagens e textos incorporando essas dimensões, encontra-se à disposição dos especialistas um arsenal de recursos tecnológicos e de espaços virtuais que preservam as imagens produzindo sentidos para cada um que com elas se depare na internet. Desse modo, pessoas se tornam personagens de um cenário virtual, construído às vezes à revelia, e aquelas pessoas que efetivamente têm uma dimensão pública são submetidas a uma câmera que as flagra em instantâneos que duram para sempre, e que maldosamente servem às comparações do tipo “antes e depois”. A construção das diferenças sociais O cinema nacional em vários momentos dirigiu as câmeras para os morros, expondo para o público de classe média as condições de vida dos segmentos sociais “excluídos”, sobretudo favelados, negros e prisioneiros. Uma exposição considerada por muitos como desagradável, desnecessária, e mesmo irrelevante. Todavia, construir a imagem desse outro, diferente da pretensa uniformidade geral, não é fácil, mas é necessária: na sua “diferença” ele é assunto, é consumidor de ampla gama de produtos, e também é eleitor. Construí-lo com atores implica em extrair do ator um desempenho especial, e em situá-lo em cenário coerente com a experiência cotidiana do espectador, ou com seu repertório. Uma alternativa tem sido a preparação de atores, outra consiste em utilizar a comunidade local quando o filme é realizado em lugares muito específicos. A construção do “diferente” no cinema O que significa mediação de sensibilidade na produção da imagem do outro? Escolha a alternativa correta. a) Mediação em SC compreende recursos e técnicas para produzir imagens que sejam reconhecidas pelo público (o outro). b) Mediação é articulação de elementos que tornem o produto aceito pelo público (outro). c) É a prática profissional (fazer um book) de construir o outro como produto. d) É saber usar recursos tecnológicos para melhorar a imagem do Outro para constar em redes sociais. e) É o emprego de recursos técnicos (digitais ou não) para aperfeiçoar a imagem do outro, no sentido positivo ou negativo. Dependendo da finalidade do trabalho.Interatividade O que significa mediação de sensibilidade na produção da imagem do outro? Escolha a alternativa correta. a) Mediação em SC compreende recursos e técnicas para produzir imagens que sejam reconhecidas pelo público (o outro). b) Mediação é articulação de elementos que tornem o produto aceito pelo público (outro). c) É a prática profissional (fazer um book) de construir o outro como produto. d) É saber usar recursos tecnológicos para melhorar a imagem do Outro para constar em redes sociais. e) É o emprego de recursos técnicos (digitais ou não) para aperfeiçoar a imagem do outro, no sentido positivo ou negativo. Dependendo da finalidade do trabalho. Resposta A caracterização da corporeidade é feita no campo da transdiscursividade, de modo que o que é possível dizer (ou fazer ver) sobre o corpo percorre “na diagonal” os campos do texto e da imagem, articulados entre si, complementando-se, e também se “abrindo” para um extenso campo correlato, aquele da vida social, do qual incorporam sentidos, ou no qual eventualmente tendem a perdê-los. É fácil entender isso considerando as mudanças que incidiram sobre o corpo feminino, reflexo da moda e da liberação da sexualidade. As imagens de corpo nas fotos, nos filmes e textos estão inseridas no processo de comunicação social, foram produzidas a partir de distintas práticas discursivas e integram a variedade de produtos de comunicação ao longo de décadas. (continua) A Construção da corporeidade 1 As imagens (de atrizes, por exemplo) são “produtos” e manifestam a intencionalidade de quem as construiu; mas também nas canções podem ser apontadas algumas tendências na produção do corpo do outro, a saber: a) como objeto de desejo, instrumento à disposição de quem canta, de seu prazer; b) no devaneio, delírio, paixão e loucura de quem canta, assim no corpo do outro residem a “fraqueza” do cantor, seus pecados e vícios. Aquele corpo (objeto) é produzido no âmbito de uma ética androcêntrica e de estética dos corpos; c) no âmbito das relações de poder, presentes na ordem do trabalho, na sujeição amorosa, e a partir de distinções sociais e referências visuais de identidade social. A Construção da corporeidade 2 Para Foucault (2001, p. 41) esse “olho” do voyeur é a “figura do ser que não é senão a transgressão do seu próprio limite”, mesmo porque, para ele, a sexualidade “aparece como o único conteúdo absolutamente universal do interdito” (FOUCAULT, 2001, p. 29). Na verdade, o distanciamento entre quem olha e o objeto de seu olhar é fundamental: é por ele que se dá a apropriação da privacidade do outro, como se fosse adoração e oferenda, e a sensualidade de quem olha é ocultada, solitária e erótica. O olhar que focaliza a mulher é a visão de corpo que desperta o próprio erotismo masculino. Outra modalidade de olhar é aquela que “recorta” a figura feminina em “áreas de interesse”, produzindo o que se pode designar como um “corpo fragmentado” (COSTA, 2003). Um recurso de produção de imagem para cartazes, cenas dos filmes, aparecendo nos versos das canções. Essas imagens atraem a “mesma” modalidade de olhar carregado de erotismo e sensualidade: elas recortam a mulher (mas às vezes, a figura masculina) em “partes” de interesse. Não se pode afirmar que esse “recortar” seja um “sintoma” da cultura contemporânea, dado que é frequente na literatura, e até em textos sagrados como o Cântico dos Cânticos (7: 2-6). O olho que produz a imagem Os olhares que percorrem com sensibilidade e sutileza o corpo feminino, exploram referências, avançam para o interdito, para os limites. Então, a câmera não se torna um recurso mecânico para focalizar em detalhe o corpo para o desejo, mas como instrumento de olhar, vai surpreendê-lo no detalhe estético de “uma curva, uma linha, eventualmente, uma dobra” (FOUCAULT, 2001, p. 370). Por isso ela desliza do corpo para o rosto que “é dotado de uma expressividade inigualável” (BALLOGH, 2003, p. 120) e para os olhos que aludem sentidos, ainda que simulados. (continua) Olhares e tomadas, o cinema e o corpo feminino Em síntese, o olhar que constrói o corpo feminino nas fotos e cartazes de cinema propicia a reiteração de elementos eróticos já conhecidos na cultura, com forte apelo para o erotismo masculino, o que não impede à mulher exercitar sua sedução estimulando com sutileza seu próprio erotismo. Olhares e gestos, especialmente das mãos, são fundamentais na composição de um corpo-mensagem. Gestos são imobilizados nas fotos e cartazes traindo a intencionalidade, olhares que compõem a intencionalidade, traindo sentidos, ambos se oferecem à sensibilidade do reconhecimento pelo olhar do outro, como um caso especial das mediações da sensibilidade já mencionadas. É nessa relação sutil que se instala uma corporeidade de fragmentos de interesse. Olhares e tomadas, o cinema e o corpo feminino A produção dos corpos evidentemente reflete tendências estéticas e políticas em curso na sociedade nacional e fora dela, bem como concepções de identidade nacional. Aquele que a produz está afetado por tais tendências e seu trabalho aparece como resultante da mediação simbólica entre a realidade (que se lhe apresenta sob a forma de objeto) e sua postura estética, ideológica para se apropriar daquele recorte de realidade e reapresentá-lo em seu trabalho na forma de expressão escolhida. O desenvolvimento dos meios e tecnologias de comunicação ampliou as possibilidades e saberes para o artista gráfico, e hoje ele não se limita a uma realidade factual ou imaginária, ele opera em uma realidade virtual, e não somente com elementos virtuais, mas combina, articula o virtual com o material, trabalha com sons e com imagens, que são existentes ou criadas por ele, com textos, falas ou ambos. Ele continua a realizar mediações simbólicas entre o que concebe, como arte, e o que sua produção deve ser para que seja reconhecida em sociedade. Produção de corpos nos cartazes publicitários, de eventos etc. A divulgação de modos de entender a realidade e a vida implica na construção de verdades sobre o cotidiano, ou mesmo a construção do cotidiano com valores estéticos, éticos e políticos que, em conjunto, permitam emprestar sentido para o passado e traçar rumos para o futuro. A aceitação desses “modos de entender” se dá no plano das ideias e das práticas dos indivíduos e, dependendo da dimensão, no plano das ideias dos grupos sociais em relação, ou mais ainda, dos padrões de sociabilidade. É evidente a dimensão política e ideológica dessa divulgação de “modos de entender a realidade e a vida”, não se situa como questionamento, mas como “verdade dada”. Ora, verdades dadas ou reveladas são de natureza religiosa, elas não refletem as práticas e valores humanos, que são passíveis de erros, de interesses. As verdades políticas, e o próprio conhecimento, pressupõem atitude crítica e reflexão. Em uma frase, pode-se dizer que se apropriar da resposta correta não é conhecimento, é informação; conhecimento e formação implicam capacitação para fazer perguntas, formular hipóteses e buscar respostas válidas. A construção do cotidiano e da política para exposição Existe a premissa de que, nos regimes representativos, no Legislativo se dão as discussões livres pelos representantes legítimos do povo, das quais resultarão as leis que atendem às solicitações do mesmo povo. Mas as opiniões (e interesses) mesmo ali são diferentes, e até mesmo opostas, por isso a designação de “públicos” é mais coerente com a realidade. Todavia, na maior parte da história brasileira, esses públicos não se formaram, mesmo porque esse é um processo de raízes urbanas, e o Brasil foi durante séculos uma sociedade com a economia enraizada na agricultura de exportação, nas grandes fazendas e no mandonismo dos proprietários rurais e seus agentes urbanos. Pensamento crítico reflexivoe o mandonismo Dois contingentes sociais se sobressaem no cenário político brasileiro dos anos 1930 e 1940: ambos vão mudar a política brasileira, mas de formas distintas: a população, sobretudo, urbana, passa a pressionar os centros de poder e se constitui em sujeito coletivo, presente na sociedade civil em organizações coletivas, sindicatos e partidos, embora esse “poder constituinte” tenha sido desbancado com a “Polaca”, a Carta de 1937. Esse povo, então representado na Constituinte desbancada, era uma população urbana, medianamente informada sobre eleições, partidos e política, católica majoritariamente, e favorável aos governos fortes, que impõem a ordem e os bons costumes. A essa população, que constitui parcela significativa do que se reconhece vulgarmente como “povo brasileiro”, Foucault utiliza a palavra plebe para designar “aquele alvo constante e constantemente mudo dos dispositivos de poder” (Foucault, 2003, p. 244), mas ele mesmo considera o termo inadequado. Em português, essa palavra adquire sentidos preconceituosos, que a tornam inaceitável. Os segmentos sociais presentes na política brasileira 1 O outro grupo que emerge é constituído pelos militares, os quais intervêm manu militari na vida social e política do país, exploram as contradições da oligarquia e contribuem decididamente para sua desagregação. Todavia não se afastam do poder civil, como seria de se esperar. Findo o processo revolucionário, os militares permanecem na arena política, como indivíduos ou em grupos que participam dos acordos e coalisões, e em face do risco de guerra se aproximam dos favoráveis à industrialização e das políticas voltadas para mercado interno, portanto favoráveis à expansão do capitalismo industrial. Outro papel significativo desempenhado pelos militares residiu na base de suporte ao governante, o que facilitou a decretação do estado de exceção em 1937. Os segmentos sociais presentes na política brasileira 2 No panorama político que sucedeu à 2ª Guerra o mundo se dividiu entre duas potências: USA e URSS, no Brasil, a figura de Getúlio Vargas volta a ganhar força, como “pai” dos trabalhadores, nacionalista etc. Formou-se um processo de vínculo político acima do partido, com a figura do líder, no caso Getúlio, figura que se tornou mártir do nacionalismo brasileiro, sob a violenta oposição de outro populista, Carlos Lacerda, o corvo. Esse processo esteve na base da projeção política de Juscelino, Jânio Quadros, Ademar de Barros, cada um com seu estilo. A didatura civil militar não teve líderes populistas, (apesar de Figueredo), mas nas lutas pela redemocratização vários nomes ensaiaram o mesmo feito: Tancredo Neves, o proseador da política, articulador mineiro; Collor, o guerreiro jovem, esportista, caçador de marajás, poderoso, e depois Lula, um ex- líder metalúrgico e depois popular. As redes sociais estão substituindo os comícios, mas o atual presidente parece usar de recursos dos populistas do passado, só que mais sofisticado: um populismo virtual. O populismo é um processo político centrado na fala e na imagem do líder, um discurso simples, direto, com respostas claras para as questões que o próprio orador faz. Um pouco de controvérsia “apimenta” o que foi dito, e que, aliás, não precisa ser verdade. Populismo É interessante observar quando jovens de hoje se referem ao passado político, as palavras ainda são atropeladas, um efeito da mídia, talvez, mas de qualquer forma, jovens denominam guerrilheiro por terrorista, reforma por revolução, socialismo por comunismo, revolução por guerra, e insistem em denominar o que foi um golpe, seguido de ditadura, por revolução. Quanto aos problemas sociais e econômicos que motivaram a trajetória da militância política dos universitários, eles continuam presentes, e são discutidos, integram as políticas públicas e pautas de governo, contudo são mais amplos e profundos do que eram, quando prenunciados, há mais de 40 anos. A vivência da política é a faceta do cotidiano que Baudrillard (1985) considera em desaparecimento: ao discutir as maiorias silenciosas, ele as considera os grandes contingentes sociais das democracias contemporâneas, para os quais a instância política se explicita e se expõe nos meios de comunicação, especialmente pela TV. Nessas democracias, o vínculo entre contingentes sociais e a instância política perdeu especificidade e envolvimento. Ditadura, política e desinteresse Em face da complexidade da esfera política atual, os meios de comunicação e as redes sociais parecem espaços privilegiados para o debate político, na medida em que permitam a circulação de informações, notícias e rumores. Os meios massivos, em articulação com as redes, permitem construir (ou destruir) imagens políticas, muitas vezes bastando uma foto, uma expressão ou frase infeliz. A mídia realiza uma produção da realidade, ela constrói uma realidade para divulgação para um público, uma construção que não é isenta, porque isso é impossível. Cabe a ela informar sobre acontecimentos, produzir e divulgar produtos para consumo, dentre eles a cultura, também elaborada como produto, em programas de televisão, filmes, sites, blogs etc. Com essa finalidade são desenvolvidas inúmeras pesquisas “de opinião”, as quais partem de hipóteses sobre o “perfil” do público, cujo resultado aparece nos canais da TV aberta e paga. Não é papel da mídia “conscientizar” o público: esse é um processo do sujeito, implica que ele examine as condições do vivido e alternativas que se projetam para o futuro, além das práticas possíveis (práxis): um movimento do pensamento crítico reflexivo, tão necessário. Construção da realidade, pensamento reflexivo, análise e “conscientização” Qual a relação entre pensamento analítico, crítico reflexivo e conscientização? Escolha a alternativa correta. a) A modalidade de pensamento analítico, crítico e reflexivo não está relacionada à conscientização, porque o processo de conscientização depende de informação e de alguém que conscientize. b) Conscientizar é um verbo, indica ação, mas voltada para o sujeito (conscientizar-se), para esse movimento de se tornar ciente de ideias e situações, a modalidade de pensamento crítico reflexivo é fundamental. c) O sujeito que está treinado para usar o pensamento crítico reflexivo pode conscientizar o outro, ou treinar o outro nessa modalidade de pensamento. d) Nenhuma relação: são dois campos distintos, a consciência das coisas e a análise crítica das coisas e ideias. e) Para fazer um exame de consciência, antes da comunhão, é preciso pensar, analisar os comportamentos etc. A relação é essa. Interatividade Qual a relação entre pensamento analítico, crítico reflexivo e conscientização? Escolha a alternativa correta. a) A modalidade de pensamento analítico, crítico e reflexivo não está relacionada à conscientização, porque o processo de conscientização depende de informação e de alguém que conscientize. b) Conscientizar é um verbo, indica ação, mas voltada para o sujeito (conscientizar-se), para esse movimento de se tornar ciente de ideias e situações, a modalidade de pensamento crítico reflexivo é fundamental. c) O sujeito que está treinado para usar o pensamento crítico reflexivo pode conscientizar o outro, ou treinar o outro nessa modalidade de pensamento. d) Nenhuma relação: são dois campos distintos, a consciência das coisas e a análise crítica das coisas e ideias. e) Para fazer um exame de consciência, antes da comunhão, é preciso pensar, analisar os comportamentos etc. A relação é essa. Resposta ANTONIL, A. Cultura e opulência do Brasil. São Paulo: Edusp, 1982. BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec/ Anna Blume 2002. BALLOGH, A. 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MENESCAL, R.; BOSCOLI, R. Rio. Intérprete: Wanda Sa e Roberto Menescal. In: Estrada Tókyio-Rio. Rio de Janeiro: Albatroz, 1998. CD. Faixa 11. Referências bibliográficas ATÉ A PRÓXIMA!
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