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DESCRIÇÃO Teoria geral da Constituição, normas e interpretação. PROPÓSITO Compreender os elementos conceituais básicos do Direito constitucional envolvendo a Constituição, norma base do ordenamento jurídico e que serve de fundamento para todas as disciplinas do Direito. PREPARAÇÃO Antes de iniciar o conteúdo, tenha em mãos a Constituição Federal de 1988 atualizada para consulta durante seus estudos. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar os principais conceitos sobre a Constituição, sua classificação e suas espécies MÓDULO 2 Reconhecer as diversas categorias de normas constitucionais MÓDULO 3 Distinguir os critérios de destaque da interpretação constitucional e seus princípios INTRODUÇÃO Neste tema, estudaremos os principais conceitos que envolvem a teoria geral da Constituição. Os pontos apresentados possuem uma perspectiva teórica, mas os conceitos expostos são elementares para se entender o que é uma Constituição e como ela se relaciona com a vida em sociedade. MÓDULO 1 Identificar os principais conceitos sobre a Constituição, sua classificação e suas espécies CONCEITO DE DIREITO CONSTITUCIONAL E SUAS RELAÇÕES COM OUTROS RAMOS DO DIREITO O DIREITO CONSTITUCIONAL, CONJUNTO DE NORMAS FUNDAMENTAIS INSTITUIDORAS DO ESTADO E REGEDORAS DA SOCIEDADE, SITUA-SE NO VÉRTICE DA PIRÂMIDE JURÍDICA E É RAMO DO DIREITO PÚBLICO. (2018, p. 79, grifo nosso) Nessas palavras, Luís Roberto Barroso define o Direito constitucional, que é uma das vertentes do Direito público que estudam as normas fundamentais acerca da instituição do Estado e da vida em sociedade, compondo a Constituição. Por isso, compreender o conceito de Constituição é fundamental para essa disciplina. O Direito público constitui um conjunto de ramos do conhecimento jurídico que envolve a relação entre Estado e sociedade. O centro do conceito de Direito constitucional é o estudo das normas constitucionais e suas teorias de base. ATENÇÃO O surgimento das primeiras Constituições formais e, consequentemente, do Direito constitucional ocorreu inicialmente por meio de ideias liberais, com o objetivo de limitar a atividade do Estado na vida privada. Com o passar do tempo, esse âmbito de estudo se ampliou e, atualmente, a Constituição regula diversos direitos, inclusive aqueles que exigem prestações positivas do Estado (ex.: educação, saúde etc.). O Direito constitucional é estudado a partir de três vertentes distintas: OBJETOS DE ESTUDO DO DIREITO CONSTITUCIONAL Direito constitucional positivo (ou especial) É o estudo das normas constitucionais positivadas em determinado ordenamento jurídico. Direito constitucional comparado É o estudo comparativo entre a Constituição brasileira e a de outros países, a fim de compreender o contexto do Brasil e dos seus institutos jurídicos. Direito constitucional É o estudo da teoria de Direito constitucional, especialmente dos conceitos e institutos que fundamentam essa disciplina. geral Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal O Direito constitucional é um ramo que se relaciona com todas as outras áreas do Direito, já que a Constituição é a norma base do ordenamento jurídico. Todas as leis e todos os atos normativos devem observar a Constituição, sob pena de nulidade por inconstitucionalidade. A fim de sistematizar o conhecimento – sem a pretensão de exaurir –, vale mencionar como o Direito constitucional se relaciona com outras disciplinas jurídicas. DIREITO ADMINISTRATIVO Diversas são as normas constitucionais que fundamentam a disciplina. Por exemplo, você poderá encontrar uma série de dispositivos sobre a administração pública do art. 37 ao 41 da Constituição, que são estudados especificamente nesse ramo do conhecimento. DIREITO TRIBUTÁRIO A Constituição Federal, no Título IV, que trata “Da Tributação e do Orçamento”, estabelece competências tributárias, limitações constitucionais ao poder de tributar, regras de repartição de receita, entre outros. Um exemplo interessante é o art. 145 da Constituição, que estabelece quais tributos podem ser instituídos pelos entes federados. DIREITO CIVIL Os direitos e as garantias fundamentais estabelecidos na Constituição devem ser observados no âmbito desse ramo do conhecimento – por exemplo, o direito de propriedade, previsto no art. 5º, caput e inciso XXII, da Constituição. Por isso, a interpretação das normas no Direito civil também ocorre à luz do Direito constitucional, já tendo o Supremo Tribunal Federal (STF) decidido diversos casos que são estudados nessa área. DIREITO PROCESSUAL CIVIL O devido processo legal (art. 5º, LIV), além do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV), é um exemplo de garantias previstas na Constituição que devem ser observadas no processo civil, tendo influenciado, em diversos aspectos, a edição do Código de Processo Civil de 2015. DIREITO PENAL Esse ramo estuda um dos principais direitos do ser humano, que é a liberdade. Por isso, o art. 5º da Constituição estabelece garantias fundamentais, como a proibição de algumas penas (inciso XLVII). DIREITO PROCESSUAL PENAL A Constituição também estabelece garantias quanto ao processo de natureza penal – por exemplo, as normas que dizem respeito à prisão de uma pessoa (art. 5º, LXI-LXVII). DIREITO DO TRABALHO Os direitos trabalhistas são contemplados na Constituição como direitos sociais e constam, em especial, dos arts. 6º e 7º. DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Assim como o processo civil e o processo penal, as garantias processuais também se aplicam ao processo do trabalho, como o devido processo legal e o contraditório e a ampla defesa. DIREITO INTERNACIONAL Além de estabelecer princípios aplicáveis às relações internacionais (art. 4º), a Constituição e o Direito constitucional também se dispõem a analisar as atribuições, competências e formalidades para atuação internacional do Brasil. DIREITO PREVIDENCIÁRIO A Seguridade Social é regulada na Constituição, e há uma seção específica para isso (Seção III, Capítulo II, Título VIII). Recentemente, houve a reforma da Previdência, que influenciou todo o sistema e o estudo da referida disciplina. DIREITO AMBIENTAL Um dos tópicos estudados nesse ramo do conhecimento é o Direito ambiental constitucional, especialmente partindo do art. 225 da Constituição, que se dedica a regular o meio ambiente. Atualmente, fala-se que essa regulação faz parte da terceira geração de direitos fundamentais. Como se pode observar, o Direito constitucional se relaciona com todos os ramos do conhecimento e, por isso, é considerado uma das principais disciplinas jurídicas, já que seu objeto de estudo (normas constitucionais) confere validade a todas as outras áreas. CONSTITUCIONALISMO E NEOCONSTITUCIONALISMO CONSTITUCIONALISMO O Constitucionalismo foi o movimento ocorrido, no mundo inteiro, de criação de Constituições, que são normas bases para o convívio em sociedade. Embora tenhamos uma Constituição bem completa, conhecida como “Constituição Cidadã”, nem sempre foi assim. O processo de criação das Constituições, tal como conhecemos atualmente, passou por momentos históricos distintos. A doutrina indica três momentos principais: FASES DO CONSTITUCIONALISMO Constitucionalismo antigo São os registros longínquos de normas bases, em sua maioria não escritas, que regiam a sociedade, diferentemente do que se conhece nos dias atuais. A doutrina aponta a existência de registros históricos, por exemplo, no povo hebreu, limitando os poderes políticos do Estado teocrático. Constitucionalismo moderno O Constitucionalismo moderno tem como referências a Revolução Francesa e a Norte-Americana, dando início às primeiras Constituições, predominantemente escritas, com limites claros ao poder político do Estado. Aqui, prevalecia a orientação liberal, e o foco era a limitação do Estado para garantia da liberdade. Constitucionalismo contemporâneo O Constitucionalismo contemporâneo é marcado pela ampliação das Constituições na garantiade direitos, inclusive de caráter social, passando o Estado a ter uma posição proativa na sociedade. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Esse movimento do Constitucionalismo contemporâneo gerou Constituições extensas e garantistas, como é o caso da Constituição brasileira, proporcionando uma reformulação nas bases teóricas do Direito constitucional para assegurar força normativa aos seus preceitos, especialmente seus princípios. É onde se encontra o nascimento do neoconstitucionalismo. NEOCONSTITUCIONALISMO Fonte: https://memoria.ebc.com.br Sessão de promulgação da Constituição brasileira de 1988 O neoconstitucionalismo configura uma nova abordagem do papel institucional da Constituição no sistema jurídico, que surgiu a partir da segunda metade do século XX. Abrange a Constitucionalização do Direito, que passa a ter – como centro do ordenamento jurídico –, não mais a lei em sentido estrito, mas sim a Constituição como norma fundamental de todas as normas e com força normativa suficiente para resolver casos concretos. A partir do neoconstitucionalismo, a Constituição deve ser observada como parâmetro máximo do ordenamento jurídico não apenas do ponto de vista de sua literalidade, mas também dos seus valores, princípios etc., a fim de aproximar o Direito da Ética. Os marcos do Neoconstitucionalismo, ou seja, os pontos de partida do surgimento, de sua origem, são: MARCOS DO NEOCONSTITUCIONALISMO Marco histórico Desenvolvimento do Estado Constitucional de Direito no pós-guerra. Marco filosófico Pós-positivismo, centralidade dos direitos fundamentais e reaproximação de Direito e Ética. Marco teórico Conjunto de mudanças que contribuiu para a nova interpretação constitucional (força normativa da Constituição). Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Importante destacar ainda a diferença entre o Constitucionalismo e o neoconstitucionalismo. O Constitucionalismo foi um movimento jurídico e político destinado a limitar o poder do Estado, criando uma Constituição para dar direito às pessoas. O neoconstitucionalismo, como vimos, é uma nova vertente do Direito constitucional que surgiu na metade do século XX e tem o importante papel de atribuir força normativa à norma constitucional, trazendo-a para o centro jurídico. Atualmente, fala-se em um processo de Constitucionalização do Direito, já que todos os ramos devem ser analisados sob a ótica da Constituição Federal. Assim, por exemplo, fala-se em “constitucionalização do Direito administrativo”, “constitucionalização do direito civil”, “constitucionalização do Direito penal”, e assim por diante. Luís Roberto Barroso (2018, p. 112-113) explica esse processo: SEDIMENTADO O CARÁTER NORMATIVO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS, O DIREITO CONTEMPORÂNEO É CARACTERIZADO PELA PASSAGEM DA CONSTITUIÇÃO PARA O CENTRO DO SISTEMA JURÍDICO, ONDE DESFRUTA NÃO APENAS DA SUPREMACIA FORMAL QUE SEMPRE TEVE, MAS TAMBÉM DE UMA SUPREMACIA MATERIAL, AXIOLÓGICA. COMPREENDIDA COMO UMA ORDEM OBJETIVA DE VALORES E COMO UM SISTEMA ABERTO DE PRINCÍPIOS E REGRAS, A CONSTITUIÇÃO TRANSFORMA-SE NO FILTRO ATRAVÉS DO QUAL SE DEVE LER TODO O DIREITO INFRACONSTITUCIONAL. ESSE FENÔMENO TEM SIDO DESIGNADO COMO CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO, UMA VERDADEIRA MUDANÇA DE PARADIGMA QUE DEU NOVO SENTIDO E ALCANCE A RAMOS TRADICIONAIS E AUTÔNOMOS DO DIREITO, COMO O CIVIL, O ADMINISTRATIVO, O PENAL E O PROCESSUAL. Assista, a seguir, a uma exposição sobre o tema Neoconstitucionalismo. CONCEITO E ORIGEM DA CONSTITUIÇÃO A palavra “Constituição” tem múltiplas acepções. Para fins do Direito constitucional, é preciso compreender a Constituição dos pontos de vista político e jurídico: DO PONTO DE VISTA POLÍTICO A Constituição é considerada uma decisão política fundamental sobre o poder político, os direitos fundamentais e outros aspectos essenciais relacionados à vida em sociedade. DO PONTO DE VISTA JURÍDICO Existem duas dimensões: Em sentido material, a Constituição é considerada, a partir do seu conteúdo, como o conjunto de normas que organiza o exercício do poder político, os direitos fundamentais e outros aspectos essenciais relacionados à vida em sociedade. Em sentido formal, a Constituição é considerada quanto à sua posição no sistema jurídico, já que se trata de uma norma fundamental e superior, que confere fundamento de validade a todas as outras normas. ATENÇÃO O Brasil adota um modelo em que as normas constitucionais são consideradas em sentido formal. Todos os artigos da Constituição são considerados norma constitucional, independentemente do seu conteúdo. Luís Roberto Barroso (2018, p. 101-102) explica que a Constituição: (...) CRIA OU RECONSTRÓI O ESTADO, ORGANIZANDO E LIMITANDO O PODER POLÍTICO, DISPONDO ACERCA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS, VALORES E FINS PÚBLICOS E DISCIPLINANDO O MODO DE PRODUÇÃO E OS LIMITES DE CONTEÚDO DAS NORMAS QUE INTEGRARÃO A ORDEM JURÍDICA POR ELA INSTITUÍDA. COMO REGRA GERAL, TERÁ A FORMA DE UM DOCUMENTO ESCRITO E SISTEMÁTICO, CABENDO-LHE O PAPEL, DECISIVO NO MUNDO MODERNO, DE TRANSPORTAR O FENÔMENO POLÍTICO PARA O MUNDO JURÍDICO, CONVERTENDO O PODER EM DIREITO. As primeiras Constituições escritas, tal como conhecemos, foram editadas na “Era das Revoluções”, especialmente tendo como ponto de partida a Revolução Inglesa, a Revolução Norte-Americana e a Revolução Francesa. Com o objetivo de limitar o poder do Estado, que antes era ilimitado, as primeiras Constituições foram editadas, assegurando alguns direitos fundamentais. Esse processo corresponde ao Constitucionalismo moderno e se identifica com os valores do Iluminismo – e com as visões racionalistas – que começavam a ganhar corpo à época. A primeira Constituição brasileira foi editada em 1824, sucedida por outras que ampliaram direitos e garantias ao longo do tempo. ATENÇÃO O art. 5º, § 3º, da Constituição Federal, incluído com a Emenda Constitucional (EC) nº 45/2004, passou a considerar normas constitucionais os tratados e as convenções internacionais introduzidos com o mesmo quorum de votação das ECs. Dessa forma, as leis constitucionais não são apenas aquelas inseridas da Constituição. A doutrina utiliza o termo bloco de constitucionalidade para caracterizar essa somatória. CONCEPÇÕES SOBRE A CONSTITUIÇÃO Apesar dessa explicação inicial sobre o conceito de Constituição, vale destacar que, ao longo do tempo, a doutrina se dispôs a tentar explicar o seu significado e sua natureza, com acepções diversas. Algumas merecem destaque. SENTIDO SOCIOLÓGICO (FERDINAND LASSALLE) Em seu escrito A essência da Constituição, Lassalle (1825-1864) afirma que as normas constitucionais corresponderiam à somatória dos fatores reais de poder dentro da sociedade. Para ele, a Constituição deveria ser percebida sob um ponto de vista sociológico, por isso a nomenclatura dessa acepção. Fonte: https://en.wikipedia.org Ferdinand Lassalle em 1860 Defendia que a Constituição escrita seria uma mera “folha de papel”, e as normas que regem a vida em sociedade corresponderiam, na verdade, àquilo que se aplica de fato. O poder político e suas regras, verificados socialmente, estabeleceriam as normas constitucionais. SENTIDO SOCIOLÓGICO (CARL SCHMITT) Para Carl Schmitt (1888-1985), a Constituição seria apenas as normas que tratassem de assuntos relativos à decisão política fundamental do Estado. Assim, o que importaria, para definir se uma norma é ou não Constituição, seria o seu conteúdo. A decisão política seria baseada na organização dos órgãos do Estado, dos direitos individuais, da vida democrática, entre outros. Fonte: https://de.wikipedia.org Carl Schmitt em 1912 Todo o excedente seria somente uma mera “Lei Constitucional”, ou seja, teria uma hierarquia inferior. A partir desse conceito, cria-se uma hierarquia entre Constituição e Lei Constitucional. ATENÇÃO O Brasil não adota a divisão proposta no modelo de Schmitt. EXEMPLO Oart. 242, § 2º, da Constituição trata de algo que não se refere a uma decisão política do Estado. Todavia, é considerado norma constitucional? Sim, pois há distinção de acordo com o conteúdo da norma! Todas são constitucionais. SENTIDO JURÍDICO (HANS KELSEN) Para Kelsen (1881-1973), na sua obra Teoria pura do direito, a norma constitucional corresponde ao “dever ser” e não ao “ser”. O autor propõe uma diferenciação entre o Direito e outros ramos do conhecimento (ex.: Sociologia, Ciência Política etc.), para firmar uma “teoria pura” acerca do direito. Fonte: https://abdet.com.br Hans Kelsen Assim, a Constituição estaria relacionada à estrutura formal do direito, consequência da vontade racional humanística, não de leis naturais. Não há tratamento sociológico, político ou filosófico. SENTIDO CULTURALISTA (J. H. MEIRELLES) Para José Horácio Meirelles Teixeira, a Constituição seria resultado de um fato cultural. O autor não contempla apenas um aspecto para conceituá-la, mas sim toda a contextualização cultural das normas básicas da sociedade. Assim, sendo decorrente da cultura, a Constituição englobaria elementos históricos, sociais e racionais, bem como fatores reais (natureza humana e geografia, por exemplo) e espirituais (como os sentimentos e valores morais). ESPÉCIES DE CONSTITUIÇÃO A doutrina classifica os tipos de Constituição de diversas maneiras, partindo sempre de critérios específicos, a fim de categorizá-los. ESPÉCIES DE CONSTITUIÇÃO SEGUNDO A ORIGEM Outorgada Determinada, e de maneira unilateral, por um agente revolucionário, sem legitimidade do povo. Nesse modelo, típico de regimes ditatoriais, a Constituição é produzida sem participação popular, nem mesmo de forma indireta (exemplos no Brasil: 1824, 1937, 1967 e Emenda Constitucional – EC nº 1/69). Nesse caso, denomina-se “Carta” em vez de “Constituição”. Promulgada (democrática, votada ou popular) Criada com participação popular direta ou indireta. Normalmente é resultado do esforço de uma Assembleia Nacional Constituinte, criada pelo povo para elaborar o Texto Constitucional (legitimação popular; exemplos: CF/1891, 1934, 1946 e 1988). É a Constituição atual. Cesarista (bonapartista) Elaborada sem a participação do povo. Nesse caso, por um imperador ou ditador, com a posterior ratificação do diploma por meio de um plebiscito ou referendo. Há apenas a concordância do povo; não existe a possibilidade de acrescentar algum conteúdo, não podendo ser considerada democrática. Pactuada (dualista ou convencionada) Ocorre quando o poder constituinte originário é dividido entre dois ou mais grupos de poder que chegam a um acordo quanto à norma que regerá a vida em sociedade, sem participação popular (exemplos: monarquia e ordens privilegiadas). Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal ESPÉCIES DE CONSTITUIÇÃO SEGUNDO A ALTERABILIDADE (MUTABILIDADE, ESTABILIDADE OU CONSISTÊNCIA) Rígida É o tipo de Constituição que exige, para sua alteração, um processo mais difícil de aprovação das ECs do que as leis. Assim, por exemplo, a aprovação de leis ordinárias no Brasil ocorre pelo quorum de maioria simples, enquanto a aprovação de ECs ocorre por 3/5, o que significa dizer que se trata de uma Constituição rígida (Constituição brasileira: art. 60, § 2º). Flexível Constituição que pode ser alterada pelo mesmo quorum de aprovação de uma lei. Seria o caso, por exemplo, de uma Constituição que exigisse, para aprovação de uma EC, apenas o quorum de maioria simples, o que não é o caso do Brasil. Transitoriamente flexível Constituição que pode ser alterada flexivelmente durante um período definido pela Constituição. Por exemplo, seria o caso de autorização para alteração por EC com quorum de maioria simples durante os meses de abril a dezembro. Isso não existe na Constituição brasileira. Semirrígida (ou semiflexível) Apresenta uma mescla entre a rígida e a flexível. Algumas normas só poderiam ser alteradas por um quorum mais difícil, enquanto outras poderiam com o quorum de lei ordinária. (exemplo: Constituição Imperial de 1824). Super-rígida Uma parte da doutrina menciona também a categoria da Constituição “super-rígida”, sendo aquela que, além de apresentar um processo de modificação rígido, possui normas que são nomeadas imutáveis (exemplo: cláusulas pétreas). Parte da doutrina defende que a Constituição brasileira seria super-rígida. Fixa Só poderá ser alterada por um poder de mesmo nível que a instituiu (uma nova iniciativa do poder constituinte originário, por exemplo). Imutável É aquela que não está sujeita à modificação. Atualmente, essa classificação não é utilizada, pois caiu em desuso. Seu texto seria elaborado por uma “entidade suprema e superior”, desse modo, não haveria órgão com legitimidade suficiente para alterá-lo (exemplo: Código de Hamurabi e Lei das XII Tábuas). Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal ESPÉCIES DE CONSTITUIÇÃO SEGUNDO O CONTEÚDO Material Leva em consideração o conteúdo da norma para identificar se é ou não Constituição. Logo, pode-se dizer que é classificado como Constituição o texto que compreende normas fundamentais e estruturais do Estado (organização, direitos e garantias etc.). Nessa classificação, diferencia-se o conceito de Constituição e Lei Constitucional (LC). Formal Considera apenas a forma, independentemente do seu conteúdo. Assim, tudo o que está na Constituição é considerado norma constitucional, não sendo necessário que disponha sobre temas tidos como constitucionais. Aqui, as normas têm caráter constitucional porque foram criadas com o uso do processo legislativo específico das normas constitucionais. É o caso da Constituição brasileira de 1988. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal É Ã Ã ESPÉCIES DE CONSTITUIÇÃO SEGUNDO A EXTENSÃO Sintética (concisa, breve, sumária, sucinta, básica) Sua construção é breve, pois expõe apenas as vertentes básicas para a estruturação do Estado. Veicula apenas normas fundamentais e estruturais do Estado, sem se prolongar em minúcias. Normalmente, possui um teor mais voltado a princípios e normas básicas. Analítica (ampla, extensa, larga, prolixa, longa, desenvolvida, volumosa, inchada) Tem seu texto detalhado com disposições sobre assuntos variados. É o caso da Constituição brasileira de 1988. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal ESPÉCIES DE CONSTITUIÇÃO SEGUNDO A FORMA Escrita (instrumental) É aquela documentada em texto escrito, como é o caso da Constituição brasileira de 1988. Costumeira (não escrita ou consuetudinária) É aquela cujas fontes normativas são diversas, tais como textos esparsos, jurisprudências, usos, costumes, convenções etc. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal ESPÉCIES DE CONSTITUIÇÃO SEGUNDO A MANEIRA DE CRIAÇÃO Dogmática É elaborada de uma vez, rompendo com o regime jurídico anterior e criando novos princípios estruturais e fundamentais. Foi o caso da Constituição brasileira de 1988, que rompeu com o regime jurídico ditatorial anterior. Histórica Diferentemente da dogmática, como regra é “não escrita”, e apresenta um processo lento e contínuo de formação que se estende ao longo de anos (exemplo: Constituição inglesa). É formada a partir de progressivas evoluções históricas e jurídicas, como uma Constituição duradoura, estável e sólida. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal ESPÉCIES DE CONSTITUIÇÃO SEGUNDO A SISTEMÁTICA Reduzida (codificada) Centralizada em um único texto básico, tal como a Constituição brasileira de 1988. Variada (legal) Apresenta vários textos e documentos “soltos” (Constituição francesa de 1875). Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal ESPÉCIES DE CONSTITUIÇÃO SEGUNDO A DOGMÁTICA Ortodoxa Adota uma únicaideologia, um único pensamento como forma de viver em sociedade (exemplo: China marxista). Eclética/Compromissória Adota ideologias conciliatórias, apresentando várias ideologias que harmonizam entre si, tal como é o caso da Constituição brasileira de 1988. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal É Ã ESPÉCIES DE CONSTITUIÇÃO SEGUNDO A REPRESENTAÇÃO DA REALIDADE OU A CONFORMIDADE DA REALIDADE Normativa É aquela em que as relações de poder se integram ao texto constitucional e respeitam seu teor, tendo, dessa maneira, uma sintonia perfeita com o cenário político e social do Estado. Aquilo que é determinado na Constituição é observado, como regra, na vida em sociedade. Nominalista (nominativa ou nominal) Há incompatibilidade entre o texto constitucional e as relações reais de poder. O texto constitucional não tem exata congruência com o cenário político e social do Estado, mas apresenta uma função prospectiva de alcançar esse ideal, o que se enquadraria mais aproximadamente da Constituição brasileira de 1988. Semântica Não tem a pretensão de conquistar a coerência perfeita entre texto constitucional e realidade, mas sim de garantir a situação de dominação estável do poder autoritário. A Constituição é apenas um instrumento de legitimação do poder existente. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal ESPÉCIES DE CONSTITUIÇÃO SEGUNDO O SISTEMA Principiológica Constituição em que a maior parte do seu teor contém princípios. Por ser abstrata, precisará de mediação legislativa ou judicial. Preceitual Constituição em que predominam regras na maior parte do seu teor. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal É Ã Ã ESPÉCIES DE CONSTITUIÇÃO SEGUNDO A FUNÇÃO Provisória Tem prazo de duração determinado, normalmente com um caráter transitório decorrente de uma revolução. Definitiva É definitivamente elaborada, sem prazo final para sua vigência, tal como é o caso da brasileira. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal ESPÉCIES DE CONSTITUIÇÃO SEGUNDO O INÍCIO DE SUA PROMULGAÇÃO Heterônoma Advém de determinação de outro Estado, impondo uma Constituição ao dominado. Bastante incomum por se originar fora do Estado onde as normas produzirão o efeito. Autônoma Elaborada pelo próprio Estado (exemplo: CF/1988). Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Além dessas classificações, vale ainda destacar três nomenclaturas utilizadas pelos autores: Constituição garantia Restringe o poder do Estado, criando áreas de não inserção do poder público na vida dos indivíduos. Constituição balanço Estabelece um degrau de evolução ideológica da vida em sociedade. Constituição dirigente/compromissória Estabelece um projeto de Estado, com programas e projetos, com a finalidade de alcançar certos ideais políticos. Aqui são elencadas muitas das normas de eficácia programática. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO No Direito brasileiro, a Constituição é concebida sob o ponto de vista formal, sendo norma jurídica constitucional toda aquela que integre o texto constitucional, na forma definida. A estrutura jurídica da Constituição confere validade a todo o sistema, sendo subordinados ao seu teor tanto a legislação como também os atos normativos infralegais. ATENÇÃO Nosso ordenamento jurídico é definido pela rigidez. Logo, para que as normas constitucionais sejam modificadas, devem se sujeitar a um processo mais sofisticado e dificultoso. Esse procedimento é uma das características da supremacia formal da Constituição em face de outras normas infraconstitucionais. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. UM DOS TÓPICOS VISTOS ENVOLVE A CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES DE ACORDO COM CRITÉRIOS ESPECÍFICOS ELENCADOS PELA DOUTRINA. A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA, NESSE SENTIDO, É CONSIDERADA UMA CONSTITUIÇÃO: A) Histórica, pois foi construída a partir de um processo de discussão e evolução ao longo dos anos. B) Ortodoxa, uma vez que adota uma ideologia única como aceita no Brasil. C) Formal, já que todas as normas que constam do texto constitucional são consideradas normas constitucionais, independentemente do seu conteúdo. D) Sintética, visto que o seu conteúdo é sistematizado em títulos e capítulos. 2. O CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO PASSA POR MÚLTIPLAS CONCEPÇÕES TRAZIDAS POR AUTORES DIFERENTES. SOBRE O ASSUNTO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA. A) O sentido sociológico, defendido por Hans Kelsen, afirma que a Constituição é um conjunto de normas jurídicas que estabelece um dever ser. B) O sentido político, defendido por Ferdinand Lassalle, afirma que a Constituição é um produto cultural da sociedade. C) O sentido jurídico, defendido por J. H. Meirelles, afirma que a Constituição é a soma dos fatores reais de poderes. D) A Constituição brasileira é composta por normas de status constitucional, sendo que os tratados e as convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às ECs. GABARITO 1. Um dos tópicos vistos envolve a classificação das Constituições de acordo com critérios específicos elencados pela doutrina. A Constituição brasileira, nesse sentido, é considerada uma Constituição: A alternativa "C " está correta. A alternativa C é a correta, pois o modelo adotado na Constituição brasileira não diferencia as normas constitucionais a partir do seu conteúdo, mas sim a partir da forma, já que todos os artigos são considerados parte integrante da Constituição. 2. O conceito de Constituição passa por múltiplas concepções trazidas por autores diferentes. Sobre o assunto, assinale a alternativa correta. A alternativa "D " está correta. O art. 5º, § 3º, da Constituição prevê o que consta expressamente na letra “d”, admitindo que tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, aprovados na forma constitucional, sejam considerados normas constitucionais. MÓDULO 2 Reconhecer as diversas categorias de normas constitucionais Como visto no módulo 1, as normas constitucionais possuem um status hierárquico superior no ordenamento jurídico brasileiro. Para explicar a sua natureza, a doutrina e a jurisprudência se propõem a realizar a identificação de espécies de normas constitucionais, classificações e eficácia, temas que passaremos a tratar neste módulo. Antes de tudo, é importante ter em mente que a identificação de categorias jurídicas, como uma classificação propõe, por exemplo, depende de critérios que cada autor adota, podendo haver variações na literatura. Por isso, trataremos aqui das categorias mais conhecidas para melhor compreensão do tema. ESPÉCIES DE NORMAS CONSTITUCIONAIS As normas constitucionais não estão concentradas unicamente no texto da Constituição como se poderia pensar. Existem, por exemplo, normas constitucionais fora da Constituição, ainda que excepcionalmente. A Constituição possui o seu texto principal, que concentra a regulação da maior parte dos tópicos relevantes para a vida em sociedade. Todavia, ao longo dos anos, o texto constitucional é modificado pelo poder constituinte reformador a partir das chamadas emendas constitucionais (ECs) previstas no art. 60 da Constituição. As ECs modificam o texto da Constituição (com uma nova redação) e retiram ou incluem artigos. Porém, por vezes, as próprias emendas têm artigos isolados, que não foram inseridos na Constituição, e que são normas constitucionais. Consulte, por exemplo, o art. 3º da EC nº 47/2005, que estabelece uma regra própria de transição para aposentadoria de servidores. Além disso, a Constituição também possui, em sua parte final, normas constitucionais nos atos das disposições constitucionais transitórias (ADCT). Os artigos que constam nos ADCT são consideradosnormas constitucionais e não estão abaixo da Constituição em nível hierárquico. O art. 5º, § 3º, da Constituição Federal (incluído pela EC nº 45/2004), também prevê a possibilidade de tratados e convenções internacionais serem incorporados no ordenamento jurídico brasileiro com status de EC. ATENÇÃO Os tratados e as convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Assim, podemos falar em quatro campos de identificação das normas constitucionais: Normas constitucionais integrantes da Constituição; ADCT; ECs; Tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, incorporados na forma do art. 5º, § 3º, da Constituição Federal. A reunião dessas normas é denominada pela doutrina de bloco de constitucionalidade, que serve como parâmetro de constitucionalidade no ordenamento jurídico brasileiro. CLASSIFICAÇÕES DAS NORMAS As normas constitucionais podem ser classificadas a partir de diversos tipos, de acordo com o critério adotado pelo doutrinador. Aqui, especificamente, apresentaremos algumas classificações indicadas no livro Curso de Direito constitucional contemporâneo, de Luís Roberto Barroso. CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS SEGUNDO A HIERARQUIA Normas constitucionais Conjunto de normas que faz parte do bloco de constitucionalidade e que está no mais alto grau hierárquico do ordenamento jurídico. Normas infraconstitucionais São as leis e os atos normativos que se encontram abaixo da Constituição e devem ser com ela compatíveis, material e formalmente, sob pena de incorrer em inconstitucionalidade. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS SEGUNDO A IMPERATIVIDADE Normas de ordem pública Instituídas no interesse público ou social para proteger as pessoas e, por isso, não podem ser afastadas por convenção das partes. São denominadas também de normas cogentes ou obrigatórias. Normas de ordem privada Embora prescrevam condutas, direitos ou faculdades, podem ser afastadas por autonomia da vontade das partes por meio de um acordo, por exemplo. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS SEGUNDO A NATUREZA DO COMANDO Normas preceptivas Estabelecem uma obrigação para um destinatário, ou seja, uma ação positiva, um fazer. É o caso, por exemplo, da norma constitucional que estabelece o voto como obrigatório. Normas proibitivas Proíbem um comportamento, vedando determinada ação. É o que acontece, por exemplo, no caso das normas que proíbem distinção entre brasileiros. Normas permissivas Estabelecem faculdade ou direito a alguém que terá a possibilidade de exercê-lo, caso queira. É o caso, por exemplo, do voto facultativo destinado às pessoas entre 16 e 18 anos. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS SEGUNDO A ESTRUTURA DO ENUNCIADO NORMATIVO Normas de conduta Destinam-se especificamente à regulação de comportamentos, a maior parte das normas constitucionais. Estabelecem um texto que tem por objetivo reger a conduta das pessoas como um fazer, não fazer ou com uma faculdade. Normas de organização Também chamadas de normas de estrutura, são aquelas que estabelecem uma organização, como a instituição de determinados órgãos ou a atribuição de competências específicas. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal EFICÁCIA E EFETIVIDADE DAS NORMAS As normas constitucionais também são classificadas quanto à eficácia, especialmente com base na classificação proposta por José Afonso da Silva (2012). Para o autor, ainda que todas as normas elencadas no texto constitucional possuam um efeito jurídico mínimo, nem todas possuem a mesma eficácia. Vamos entender como isso funciona. Para o autor, as normas constitucionais podem ser classificadas em três tipos de eficácia: Normas de eficácia plena; Normas de eficácia contida; Normas de eficácia limitada. As normas de eficácia plena são aquelas que se aplicam de maneira imediata, direta e integral, pois não dependem da criação de nenhuma norma que as regulamente ou resguarde. Um exemplo é a norma que estabelece a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III). As normas de eficácia contida são aquelas que, apesar de produzirem seus efeitos desde a promulgação da Constituição, podem ter seus efeitos futuramente contidos por uma lei superveniente. Logo, é certo dizer que o direito é imediatamente aplicável, mas pode sofrer restrições futuras. Tais restrições podem ser impostas por lei (art. 5º, XIII), por outros regulamentos constitucionais (art. 139) ou por conceitos ético-jurídicos (ex.: art. 5º, XXV – iminente perigo público é exposto como uma restrição compulsória ao poder do Estado de convocar a propriedade do particular). EXEMPLO A liberdade profissional é prevista no art. 5º, XIII. Vejamos o caso da atividade de coaching: como não há regulamentação no Direito brasileiro, qualquer pessoa pode ser coach. Contudo, só pode ser advogado quem passa no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), conforme exigência de lei. As normas de eficácia limitada são aquelas que não possuem eficácia plena inicial, dependendo da edição de lei para sua aplicação prática. A norma constitucional estabelece que a produção de efeitos depende da edição de um ato normativo. É o caso, por exemplo, do direito de greve dos servidores públicos, previsto no art. 37, VII, com redação dada pela EC nº 19/98: “o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica”. Até os dias atuais, a lei prevista no dispositivo não foi editada, o que impediria a produção da sua totalidade de efeitos. Contudo, a Constituição prevê instrumentos para o caso de alguém ser prejudicado pela ausência de regulamentação que inviabilize o exercício de um Direito constitucional estabelecido em norma de eficácia limitada. No plano individual/subjetivo, o indivíduo poderá ajuizar o remédio constitucional denominado de mandado de injunção, conforme art. 5º, LXXI, da Constituição, regulado pela Lei nº 13.300/2016: “conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e das liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania (...)”. ATENÇÃO No caso do direito de greve dos servidores públicos, foi ajuizado mandado de injunção e o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que deve ser aplicada a Lei nº 7.783/89 (Lei de Greve dos empregados privados) até ulterior regulação do assunto em lei própria. O julgamento ocorreu nos mandados de injunção nº 670, 708 e 712, utilizando a teoria concretista geral (resolução em concreto do problema com aplicação geral). No plano coletivo/objetivo, a Constituição também prevê a possibilidade de ajuizamento de uma ação de controle de constitucionalidade diretamente do STF, denominada ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO), com base no art. 102, I, “a” e 103, § 2º. Nesse caso, no entanto, apenas os legitimados constitucionalmente poderão propor a ADO. Vale destacar que, embora as normas constitucionais de eficácia limitada não produzam a totalidade dos seus efeitos enquanto reguladas, elas possuem dois efeitos mínimos, descritos a seguir. Efeito revogador: Com a edição da norma constitucional de eficácia limitada, ficam revogadas todas as normas anteriores e contrárias ao seu texto. Efeito inibidor: Não poderão ser editadas leis futuras retirando o Direito constitucional que foi assegurado pela norma constitucional de eficácia limitada, sob pena de inconstitucionalidade. Também é importante saber que, segundo a doutrina, a normatização da eficácia limitada se subdividenas normas descritas a seguir. Normas definidoras de princípios institutivos: Criam estruturas, órgãos e entidades, que, para existir, dependem de lei (ex.: arts. 33, 88, 91, § 2º). Normas definidoras de princípios programáticos: Estabelecem programas (ações) para o Estado, dependendo de lei para que tenham aplicação prática. A Constituição apenas traça princípios que devem ser cumpridos pelos seus órgãos (arts. 3º, 7º, XX, XXVII, 173, § 4º, 196, 205, 216, § 3º, 217). RESUMO DA CLASSIFICAÇÃO JOSÉ AFONSO DA SILVA (2012) Eficácia plena A regra constitucional possui uma eficácia originária, que independe de regulamentação e não pode ser restringida. Ex.: direito à dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III). Eficácia contida A eficácia da norma inicia totalmente (plena), mas pode ser contida, com o passar do tempo, pelo legislador ordinário. Ex.: art. 5º, XIII, art. 139, art. 5º, XXV, CF/88. Eficácia limitada A eficácia da norma inicia limitadamente, mas pode ser ampliada com uma regulamentação legal. Ex.: art. 7º, IX, art. 18, § 4º, art. 37, VII, X, art. 39, § 3º, art. 40, § 4º, CF/88. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal ATENÇÃO O art. 5º, § 1º, da Constituição Federal, dispõe que as normas que estipulam sobre os direitos e as garantias fundamentais possuem aplicação imediata, mas não se confunda: isso não significa dizer que tais normas dispensam a atuação positiva do poder público. Todas as normas constitucionais possuem efeito jurídico mínimo. Assista, a seguir, a uma exposição sobre a eficácia das normas constitucionais. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. AS NORMAS CONSTITUCIONAIS, DE ACORDO COM JOSÉ AFONSO DA SILVA, PODEM SER CLASSIFICADAS CONFORME A SUA EFICÁCIA. CONSIDERANDO A CLASSIFICAÇÃO PROPOSTA PELO REFERIDO AUTOR, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA. A) Normas de eficácia plena são aquelas que possuem eficácia imediata e direta, mas nada impede a restrição de sua eficácia, desde que por leis ou atos normativos posteriores. B) Normas de eficácia limitada são aquelas que iniciam sem eficácia imediata (embora tenham efeitos mínimos), dependendo de regulação por meio de lei para produzir a totalidade dos seus efeitos, e objetivam estabelecer princípios programáticos ou institutivos. C) As normas de eficácia limitada não produzem qualquer efeito até o advento da sua regulamentação por meio de lei. D) A lei que regulamenta uma norma constitucional de eficácia contida amplia seus efeitos. 2. O STF JÁ ANALISOU ALGUMAS NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA LIMITADA EM CASOS CONCRETOS E UTILIZOU PARÂMETROS DOUTRINÁRIOS PARA DECIDIR. ENTRE OS ASPECTOS JURISPRUDENCIAIS E DOUTRINÁRIOS QUE ENVOLVEM AS NORMAS DE EFICÁCIA LIMITADA, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) De acordo com a Constituição, a ausência de norma regulamentadora que inviabilize a aplicação de uma norma constitucional de eficácia limitada permite o ajuizamento do remédio constitucional denominado mandado de injunção. B) De acordo com a Constituição, a ausência de norma regulamentadora que inviabilize a aplicação de uma norma constitucional de eficácia limitada permite o ajuizamento do remédio constitucional denominado mandado de segurança. C) Atualmente, o STF entende que o Poder Judiciário nada pode fazer diante de uma norma constitucional de eficácia limitada que não possui regulamentação, já que é necessário observar o princípio da separação de poderes. D) Segundo a doutrina, as normas constitucionais de eficácia limitada apenas produzem o efeito inicial denominado efeito revogador, não podendo inibir normas legais futuras contrárias ao seu texto. GABARITO 1. As normas constitucionais, de acordo com José Afonso da Silva, podem ser classificadas conforme a sua eficácia. Considerando a classificação proposta pelo referido autor, assinale a alternativa correta. A alternativa "B " está correta. A letra B está correta. As normas de eficácia limitada dependem de lei para produzir a totalidade dos seus efeitos, embora já produzam efeitos mínimos no início (revogador e inibidor). Podem ser subdivididas, segundo a doutrina, de acordo com o objetivo de estabelecer princípios programáticos (ex.: programas sociais) ou institutivos (ex.: criação de órgãos). 2. O STF já analisou algumas normas constitucionais de eficácia limitada em casos concretos e utilizou parâmetros doutrinários para decidir. Entre os aspectos jurisprudenciais e doutrinários que envolvem as normas de eficácia limitada, assinale a alternativa correta: A alternativa "A " está correta. A resposta correta está na letra A. O mandado de injunção é o remédio constitucional cabível contra a omissão normativa que inviabiliza a aplicação de uma norma de eficácia limitada, conforme art. 5º, LXXI, da Constituição. MÓDULO 3 Distinguir os critérios de destaque da interpretação constitucional e seus princípios INTERPRETAÇÃO JURÍDICA E CONSTITUCIONAL A interpretação jurídica é estudada no âmbito da hermenêutica. Como a compreensão sobre normas jurídicas não pode ser feita ao arbítrio de qualquer pessoa, existem princípios e métodos a serem seguidos, o que se estuda desde o início no direito. Apesar dos conhecimentos gerais acerca da interpretação no Direito, os autores apontam para a necessidade de identificação de princípios e métodos próprios de interpretação no Direito constitucional, dada a natureza das normas jurídicas constitucionais. Nesse sentido, destaca Inocêncio Mártires Coelho (2011, p, 113): SEGUNDO A MAIORIA DOS DOUTRINADORES, A DIFERENÇA ESPECÍFICA ENTRE LEI E CONSTITUIÇÃO – DA QUAL RESULTARIA, POR VIA DE CONSEQUÊNCIA, TAMBÉM A DIFERENÇA ENTRE AS RESPECTIVAS INTERPRETAÇÕES –, RESIDIRIA NA PECULIAR ESTRUTURA NORMATIVO-MATERIAL DAS CARTAS POLÍTICAS, MAIS PRECISAMENTE A DA SUA PARTE DOGMÁTICA, EM QUE SE COMPENDIAM OS CHAMADOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. As normas constitucionais possuem um texto mais aberto do que as normas constantes de leis em geral, exatamente pelo seu caráter de norma fundamental do ordenamento jurídico. Assim, a doutrina se propõe a estabelecer diretrizes próprias para sua interpretação, além das diretrizes gerais do Direito. PRINCÍPIOS E MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO O ponto fundamental desse tópico é conhecer os princípios e métodos utilizados na interpretação constitucional. Os princípios são diretrizes que o intérprete pode se valer para decidir o sentido a dar à norma, enquanto o método é o caminho para se chegar à conclusão. PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL A interpretação constitucional é orientada por princípios que devem ser levados em consideração no momento da atribuição de significado pelo intérprete. A doutrina indica a existência de alguns princípios que são compilados a seguir. PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO Estabelece que, por ser a Constituição o ápice da pirâmide de hierarquia normativa, todas as outras normas devem obediência a ela para serem consideradas válidas. Assim, o intérprete deverá levar em consideração sempre o status hierárquico das normas constitucionais. A supremacia da Constituição é fundamentada na declaração de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos incompatíveis com o seu teor. Vale destacar que o termo “Constituição”, nesse sentido, deve ser interpretado como “normas constitucionais”, que são integrantes do bloco de constitucionalidade, no modelo visto anteriormente. Assim, ao interpretar as normas constitucionais, o intérprete deverá considerar o sentido que assegura a supremacia hierárquica indicada no gráfico. PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO Esse princípio orienta que a aplicação das normas infraconstitucionais deve observar e seguir sempre uma interpretação compatível com o texto constitucional. A interpretação conforme a Constituição é bastante utilizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em seus julgados para atribuir às leis e aos atos normativos o sentido compatível com as normas constitucionais. EXEMPLO O julgado da medida cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 6.341 do STF é um exemplo de utilização da técnica de interpretação conforme a Constituição. No caso, analisava-se a constitucionalidade da Medida Provisória (MP) nº 926/2020, convertida na Lei Federal nº 14.035/2020, que alterou a Lei nº 13.979/2020, com regras sobre o poder de polícia em matéria sanitária, considerando a pandemia do coronavírus. O STF conferiu interpretação conforme a Constituição, ao ato normativo analisado, utilizando como base o art. 23, II, para acatar que a lei federal deve ser entendida no sentido de que os estados e municípios também possuem competência para fixação de regras sanitárias a fim de proteger a saúde pública. Assim, com base no princípio da interpretação conforme a Constituição, o STF atribuiu o sentido compatível com o texto constitucional, a ser observado por todos com efeitos erga omnes e vinculante. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS Esse princípio pressupõe que todas as leis vigentes sejam constitucionais, admitindo, porém, prova em contrário (presunção relativa, denominada de juris tantum). Por meio desse princípio, o intérprete deve considerar que as leis editadas contam com uma presunção de compatibilidade com as normas constitucionais, até impugnação pelos meios apropriados. Por isso, a própria Constituição prevê mecanismos de impugnação, como a ADI. Assim, por mais que uma lei seja absurda em seu teor, ela será considerada presumidamente constitucional até que haja impugnação. Tal princípio, contudo, não é absoluto. O Poder Judiciário poderá declarar a inconstitucionalidade de leis ou atos normativos, com efeitos retroativos (ex tunc), em virtude da nulidade. Há, no entanto, a possibilidade de modulação de efeitos com base no art. 27 da Lei nº 9.868/99. PRINCÍPIO DA UNIDADE DA CONSTITUIÇÃO Esse princípio destaca que a norma constitucional deve ser compreendida como um todo unitário, harmônico, sistematizado e ordenado, sem antinomias. Em eventual conflito entre normas constitucionais originárias, deve-se utilizar a técnica de ponderação e encontrar a solução mais adequada de acordo com a proporcionalidade e razoabilidade. O referido princípio orienta o intérprete a buscar sempre a compatibilização entre os preceitos do próprio texto constitucional, levando em consideração o seu todo. Assim, a interpretação constitucional não deve acontecer por partes, com o olhar isolado sobre um artigo. PRINCÍPIO DA CONCORDÂNCIA PRÁTICA OU HARMONIZAÇÃO Esse princípio está intimamente ligado ao da unidade da Constituição e estabelece que o intérprete deverá tentar harmonizar os bens constitucionalmente protegidos, buscando, ao máximo, conciliar a garantia de todos e evitar a negação de alguma garantia do texto constitucional. Assim, em caso de conflito entre bens constitucionalmente protegidos (exemplo: direito à vida e liberdade religiosa), o intérprete deve buscar uma harmonização ou concordância prática da solução a ser empreendida no caso concreto. PRINCÍPIO DA FORÇA NORMATIVA Esse princípio orienta o intérprete a dar primazia à interpretação que confira concretude à norma constitucional, atualizando e garantindo eficácia e permanência da Constituição. Mesmo em situações nas quais o texto constitucional possua uma linguagem aberta, deve o intérprete resolver os casos com base nas normas constitucionais, atribuindo-lhe força normativa. Esse princípio tem relação direta com a ideia de neoconstitucionalismo, na medida em que a Constituição passa a ser o centro do ordenamento jurídico e o intérprete possui o dever de lhe conferir força normativa na análise dos casos concretos. PRINCÍPIO DA MÁXIMA EFETIVIDADE OU EFICIÊNCIA Ligado também ao princípio da força normativa, estabelece a orientação ao intérprete de buscar sempre extrair a maior aplicabilidade das normas constitucionais, sem modificação do seu teor. Nesse sentido, entre as interpretações possíveis, deve o intérprete optar pela que confira máxima efetividade na aplicação prática da norma constitucional. PRINCÍPIO DO EFEITO INTEGRADOR OU DA EFICÁCIA INTEGRADORA Orienta o intérprete a escolher, entre possíveis interpretações, aquela que promova a integração social e a unidade política, visando garantir uma coesão do sistema. Nesse sentido, deve o intérprete considerar os contextos social e político para encontrar uma solução que seja adequada não apenas do ponto de vista individual/subjetivo, mas também do ponto de vista mais amplo. PRINCÍPIO DA CONFORMIDADE FUNCIONAL OU DA JUSTEZA Tal princípio prevê que a interpretação deve resguardar a estrutura organizacional do Estado, de acordo com as atribuições dos poderes estabelecidas constitucionalmente (separação de poderes). Orienta, além disso, o intérprete a evitar interpretações que ensejem violação às competências estabelecidas constitucionalmente para cada poder, tendo em vista o princípio da separação de poderes previsto no art. 2º da Constituição: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. O referido princípio se relaciona com o contexto atual, especialmente com a discussão acerca do “ativismo judicial”, com a seguinte dúvida: qual o limite de atuação do Poder Judiciário? O debate, que não é pacífico, toma como base o princípio da separação de poderes, e o intérprete deve buscar a conformidade funcional ou a justeza de sua conclusão. PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE Muito utilizados pelo STF e demais órgãos do Poder Judiciário, a proporcionalidade e razoabilidade são princípios extraídos do devido processo legal (art. 5º, LIV), que pode ser dividido em formal (cumprimento de normas processuais) e material (exigência de uma decisão justa, razoável e proporcional). Embora haja alto grau de vagueza nessas expressões do devido processo legal material, tem- se a divisão para alcançar sua aplicação em três diretrizes que devem ser observadas pelo intérprete, como se descreve a seguir. Adequação: A medida deve ser adequada à finalidade pretendida. Necessidade: A medida deve ser a menos gravosa possível. Proporcionalidade em sentido estrito: Os custos da medida devem ser menores que seus benefícios. A ideia de proporcionalidade e razoabilidade confere uma maior justiça à decisão proferida na análise de casos concretos pelo poder público. Assim, por exemplo, se para cumprimento de uma política pública houver vários meios igualmente eficientes, o administrador público deve buscar aquele que seja o menos gravoso possível. Assista, a seguir, a uma exposição sobre os princípios da constitucionalidade e da razoabilidade. MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL Além dos princípios, a interpretação constitucional também se vale de métodos específicos para chegar à conclusão nos casos concretos. MÉTODO JURÍDICO OU HERMENÊUTICO CLÁSSICO Normalmente atribuído a Savigny (1779-1861), o método envolve a utilização de técnicas tradicionais da teoria geral do Direito e da hermenêutica para leis em geral, como o método lógico, histórico, teleológico etc. MÉTODO TÓPICO-PROBLEMÁTICO O ponto de partida desse método, desenvolvido por Theodor Viehweg (1907-1988), são os problemas que nascem do caso concreto e que devem ser objeto de diálogo pelo intérprete até encontrar a solução mais adequada entre as possíveis. Aqui, o intérprete deve partir do problema para, com o método da tópica, identificar as soluções possíveis e escolher aquela adequada ao caso. MÉTODO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR No método desenvolvido por Konrad Hesse (2002), considera-se que o intérprete tenha preconcepções e, por isso, é preciso partir da Constituição para o caso concreto, limitando a liberdade do intérprete a partir da norma. A norma serve de parâmetro para que o intérprete possa escolher a opção mais adequada. MÉTODO CIENTÍFICO-ESPIRITUAL Esse método, idealizado por Rudolf Smend (1882-1975), é omais difícil de se conceituar, pois não há clareza na doutrina e jurisprudência. Basicamente, o intérprete deve levar em consideração o contexto científico e espiritual vivenciado pela sociedade no momento da interpretação. Assim, a interpretação não deve ser fria, mas sempre considerar o contexto. MÉTODO NORMATIVO-ESTRUTURANTE De acordo com o método desenvolvido por Friedrich Müller, o intérprete deve considerar a estruturação da norma para viabilizar sua aplicação prática. MÉTODO DE COMPARAÇÃO CONSTITUCIONAL Refere-se à comparação entre ordenamentos jurídicos constitucionais de países diferentes, que também pode ser utilizada como método de interpretação constitucional. ATENÇÃO Além de conhecer os princípios aplicáveis à interpretação constitucional, um ponto muito importante diz respeito à concepção de mutação constitucional, que se trata de uma técnica relacionada à interpretação. A mutação constitucional é um procedimento informal de mudança do sentido de disposições da Constituição, também chamada de poder constituinte difuso. O texto continuará o mesmo e o que irá acontecer é uma mudança na sua interpretação, ou seja, com evolução de sentidos. O texto passará a ser interpretado conforme a realidade atual em que ele está inserido. A mutação constitucional surge como fruto da dinâmica social, das construções judiciais etc. É uma mudança de sentido, lenta e gradual. Não há declaração de inconstitucionalidade, mas apenas mudança de interpretação. EXEMPLO A interpretação originária do art. 226, § 3º, da Constituição, por exemplo, era de que o casamento só poderia ocorrer mediante conjunção do homem e da mulher. Mediante mutação constitucional, passou-se a entender que o dispositivo constitucional permite também a união homoafetiva. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL POSSUI PECULIARIDADES PRÓPRIAS, O QUE FEZ COM QUE A DOUTRINA ELABORASSE UM CONJUNTO DE PRINCÍPIOS E MÉTODOS PRÓPRIOS DE INTERPRETAÇÃO. SOBRE O ASSUNTO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA. A) O princípio da força normativa orienta o intérprete a aplicar a Constituição aos casos concretos, exceto quando o texto constitucional for vago. B) Para fins de termos técnicos, princípios e métodos de interpretação se equivalem. C) O princípio da conformidade funcional ou da justeza orienta o intérprete a observar, na atribuição de sentido, a interpretação que não viole a separação de poderes. D) Proporcionalidade e razoabilidade, embora sejam regularmente mencionados pelo STF em seus julgados, não são considerados princípios de interpretação constitucional. 2. ALÉM DOS PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO, OS MÉTODOS SÃO UTILIZADOS PELO INTÉRPRETE PARA SE TENTAR CHEGAR A UMA SOLUÇÃO EM CADA CASO. NO DIREITO CONSTITUCIONAL, A DOUTRINA ELENCA ALGUNS MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO. SOBRE O ASSUNTO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA. A) O método científico-espiritual estabelece a diretriz ao intérprete de levar em consideração o contexto científico e espiritual vivenciado pela sociedade no momento da interpretação. B) A mutação constitucional é considerada um método de interpretação constitucional pela doutrina. C) Embora a comparação entre normas constitucionais seja uma técnica utilizada pelo STF e pelos demais órgãos do Poder Judiciário em seus fundamentos, não se trata de um método de interpretação. D) A evolução do Direito constitucional revolucionou os métodos de interpretação, não se admitindo mais a utilização do método jurídico ou hermenêutico clássico em face das normas constitucionais. GABARITO 1. A interpretação constitucional possui peculiaridades próprias, o que fez com que a doutrina elaborasse um conjunto de princípios e métodos próprios de interpretação. Sobre o assunto, assinale a alternativa correta. A alternativa "C " está correta. A letra C está correta. O princípio da conformidade funcional ou da justeza se relaciona diretamente com o princípio da separação de poderes do art. 2º da Constituição Federal, e tem por objetivo evitar que o intérprete atribua significado com violação das competências conferidas constitucionalmente. 2. Além dos princípios de interpretação, os métodos são utilizados pelo intérprete para se tentar chegar a uma solução em cada caso. No Direito constitucional, a doutrina elenca alguns métodos de interpretação. Sobre o assunto, assinale a alternativa correta. A alternativa "A " está correta. A letra A é a alternativa correta. Apesar da sua dificuldade conceitual, o método científico- espiritual se relaciona com o contexto, tal como proposto na alternativa. O intérprete deve considerar o que o momento científico e espiritual da sociedade vivencia em sua decisão. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste tema, aprendemos sobre a teoria geral da Constituição em seus variados aspectos. Apresentamos o conceito do Direito constitucional e suas relações com diversos ramos do Direito, assim como estudamos o conceito do neoconstitucionalismo. O Constitucionalismo passa por um fenômeno que engloba diversos aspectos, como a ascensão da força normativa dos princípios e a necessidade de filtragem das demais normas do ordenamento jurídico pela Constituição. Conhecemos também as diferentes classificações das normas constitucionais, valendo destacar a que as divide com base no critério da eficácia: todas as normas constitucionais possuem alguma eficácia, ainda que limitada. Assim, têm-se as normas constitucionais de eficácia plena, contida e limitada. Por fim, estudamos a interpretação constitucional e seus princípios, que a tornam singular em relação à interpretação jurídica em geral. Entre tais princípios, cabe destacar o da supremacia da Constituição, pelo qual todas as normas do ordenamento devem respeitar a Constituição, que está no topo da pirâmide de normas jurídicas; e o da interpretação conforme a Constituição, segundo o qual deve-se buscar, sempre que possível, a interpretação da norma que possa salvar sua constitucionalidade. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito constitucional. 27. ed. atual. São Paulo: Malheiros, 2011. COELHO, Inocêncio Mártires. Interpretação constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. HÄBERLE, Peter. Hermenêutica constitucional – a sociedade aberta dos intérpretes da constituição: contribuição para a interpretação pluralista e “procedimental” da constituição. Trad. Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2002. HESSE, Konrad. A força normativa da constituição. Trad. Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1991. SILVA, José Afonso. Aplicabilidade das normas constitucionais. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. EXPLORE+ Busque pela abordagem de Inocêncio Coelho Mártires sobre os métodos e princípios de interpretação constitucional no artigo publicado na revista FGV pelo referido professor. Assista ao documentário acerca de José Afonso da Silva, autor que deu origem à classificação das normas constitucionais quanto à eficácia e é considerado renomado jurista constitucional, disponível no canal da OAB no YouTube. CONTEUDISTA Marcílio da Silva Ferreira Filho CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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