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nos moldes da Constituição de 1891, com a centralização de competências em mãos 
da União, enquanto que os Federalistas, de orientação Centrífuga, defendiam a 
concessão de um rol maior de competências aos Estados-membros. Dentre outros, 
faziam parte dessa segunda vertente Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros. 
Como consequência do Federalismo Dual, os Municípios restaram excluídos76 
da nova Forma de Estado adotada, cuja estrutura previa somente a existência de duas 
esferas77, de forma que os assuntos das municipalidades passaram para a 
competência interna dos respectivos Estados-membros, por meio da cláusula geral 
do Peculiar Interesse. Para Cezar Saldanha, o art. 68 da Constituição de 1891, era 
uma referência expressa à autonomia municipal78: “Art. 68 Os Estados organizar-se-
ão de forma que fique assegurada a autonomia dos Municípios em tudo quanto 
respeite ao seu Peculiar Interesse”79. 
 O supracitado dispositivo representa a revogação da Lei das Câmaras, de 
maneira que passou da União para cada Estado-membro a incumbência de elaborar 
o rol de competências para os Municípios de sua circunscrição. Dessa maneira, as 
Constituições Estaduais passaram a modular o peculiar interesse, o qual tinha maior 
ou menor amplitude conforme o caso concreto. 
 Tal discricionariedade estadual na concessão de competências aos Municípios 
manifestou-se principalmente no tocante à autoadministração, à auto-organização e 
ao autogoverno. Enquanto que, ao menos nominalmente, era possível afirmar a 
existência de auto-organização e de autogoverno, no que toca à função tributária 
 
76 SOUZA JÚNIOR, Cezar Saldanha. Consenso e constitucionalismo no Brasil. Porto Alegre: 
Sagra Luzzatto, 2002. p. 67. 
77 “Art 1º - A Nação brasileira adota como forma de Governo, sob o regime representativo, a 
República Federativa, proclamada a 15 de novembro de 1889, e constitui-se, por união perpétua e 
indissolúvel das suas antigas Províncias, em Estados Unidos do Brasil”. 
BRASIL. Constituição (1891). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891. 
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao91.htm>. Acesso em: 
26 dez. 2015. 
78 SOUZA JÚNIOR, Cezar Saldanha. Constituições do Brasil. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2002. 
p. 40. 
79 BRASIL. Constituição (1891). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao91.htm>. Acesso em: 19 
jul. 2015. 
inexistia previsão de competência própria – autoadministração80 –, dependendo o ente 
local do repasse de receita, que (não) era feito, pela Administração Estadual. 
 As leis orgânicas então existentes limitavam-se tão somente a repetir 
mecanicamente o rol de atribuições que lhes era previamente determinado pela 
respectiva Constituição Estadual81, sem inová-lo. Constata-se que não havia uma 
auto-organização propriamente dita dos Municípios e, consequentemente, uma real 
autonomia municipal, pois suas funções continuavam sendo ditadas por outro ente 
federado e sem o menor espaço de discricionariedade administrativa municipal. 
 Entretanto, foi na incapacidade de autogoverno do ente local que se constatou 
a inexistência da sua autonomia. Explica-se: o Decreto Nº 510, de 22/06/1890, 
publicou a Constituição dos Estados Unidos do Brasil (vigência a partir de 1891), cujo 
art. 6782 previa como funções típicas da entidade municipal83 o peculiar interesse e a 
eletividade do chefe da administração local. Todavia, diante da corrente doutrinária 
dominante à época, que vislumbrava o Município como uma mera divisão 
administrativa e territorial do Estado-membro, a qual era considerada desprovida de 
representatividade política, a 2ª parte do art. 67 (que falava da possibilidade de eleição 
do Prefeito, também chamado de Intendente) foi cortada da redação final da 
Constituição de 189184. 
 Dessa forma, a possibilidade de eleição do Chefe do Executivo Municipal 
acabou relegada a assunto interno dos Estados-membros, cuja maioria das 
Constituições não concedeu tal competência a seus Municípios, mas sim, previa a 
nomeação dele pelo Governador do Estado, de forma que aquele representava os 
 
80 SOUZA JÚNIOR, Cezar Saldanha. Consenso e constitucionalismo no Brasil. Porto Alegre: 
Sagra Luzzatto, 2002. p. 67. 
81 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. 16ª ed. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 34. 
82 Art. 67. Os Estados organizar-se-hão, por leis suas, sob o regimen municipal, com estas bases: 
1º Autonomia do municipio, em tudo quanto respeita ao seu peculiar interesse; 
2º Electividade da administração local. 
BRASIL. Decreto Nº 510 (1890). Publica a Constituição dos Estados Unidos do Brazil. Disponível 
em: < 
http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaNormas.action?numero=510&tipo_norma=DEC&data=18900
622&link=s>. Acesso em: 28 dez. 2015. 
83 COSTA, Nelson Nery. Direito Municipal Brasileiro. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 48. 
84 “Disto resultou a econômica solução adotada no texto constitucional, de 1891, através da emenda 
Lauro Sodré, que dispunha apenas que “os Estados organizar-se-ão de forma que fique assegurada 
a autonomia dos municípios em tudo quanto respeite ao seu peculiar interesse” (art. 68)”. 
COSTA, op. cit., p. 48. 
 
	Márcia Regina Zok da Silva
	Márcia Regina Zok da Silva