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1 
 
UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO 
GRANDE DO SUL. 
GLEICA DA SILVEIRA ROSA 
 
 
 
 
 
 
SIGNWRITING: AVANÇOS, LIMITAÇÕES E DESAFIOS DESTA P ROPOSTA 
NA EDUCAÇÃO DE SURDOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
Santa Rosa 
2014 
 
2 
 
UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO 
GRANDE DO SUL. 
GLEICA DA SILVEIRA ROSA 
 
 
 
SIGNWRITING: AVANÇOS, LIMITAÇÕES E DESAFIOS DESTA P ROPOSTA 
NA EDUCAÇÃO DE SURDOS. 
 
 
Monografia apresentada para obtenção do título de 
graduada em Pedagogia na Universidade Regional 
do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. 
 
 
 
Orientadora: 
Ms. Daniela Medeiros 
 
 
Santa Rosa 
2014 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nem todas as línguas são faladas, nem todos os sistemas de escrita mapeiam 
a fala: Quando a língua de sinais é escrita por meio de sistemas como 
SignWriting, semeingrafemas mapeiam quiremas e propriedades de mão[...]. 
Tal mapeamento permite codificar, armazenar, processar, recuperar, 
decodificar, compreender, e expressar informação; e é uma ferramenta 
poderosa para desenvolver o pensamento formal. (CAPOVILLA, 201, p.77) 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradeço a Deus e a meu querido Espírito Santo pela sabedoria e 
entendimento durante esta escrita. 
h
tt
p
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a minha família e a todos os mestres que tive nesta 
caminhada, pois, com certeza, foram eles que contribuíram para que isso se 
tornasse realidade. 
 
6 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho procura pesquisar de forma qualitativa a escrita da língua de sinais através 
do sistema SignWriting buscando compreender quais são os avanços, limitações e desafios 
desta nova proposta. Procura-se pesquisar com o objetivo de sanar a seguinte dúvida: De que 
forma o SignWriting tem interferido no processo educacional dos surdos? Partindo do objetivo 
central que visa compreender a importância desse conhecimento para o aluno surdo e as 
limitações que este encontra no processo de aprendizagem desta nova escrita, me movimento 
em saber o que é o sistema SignWriting, onde surgiu e onde está sendo trabalhado hoje. 
Pesquisar sobre a importância do SignWriting na educação de surdos, para compreender de 
que maneira este sistema de escrita auxilia (ou não) na compreensão de conceitos no 
processo de ensino/aprendizagem. Assim, foi pesquisada uma escola especial que trabalha 
com o SignWriting e, uma surda que estudou em escola especial sem o auxílio do mesmo, 
para analisar ambas. Ao final conclui-se que de fato este sistema de escrita auxilia no processo 
de ensino/aprendizagem do aluno surdo. 
Palavras -chave : Ensino/aprendizagem; Escrita; SignWriting; Sujeito surdo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
RESUMEN 
 
En este trabajo se trata de encontrar cualitativamente la escritura de la lengua de signos a 
través del sistema de SignWriting tratando de entender cuáles son los avances, las limitaciones 
y los retos de esta nueva propuesta. Buscando la búsqueda con el fin de poner remedio a las 
siguientes preguntas: ¿Cómo SignWriting ha interferido en el proceso educativo de las 
personas sordas? Dejando el objetivo central que tiene como objetivo comprender la 
importancia de este conocimiento para el estudiante sordo y las limitaciones que esto se 
encuentra en el proceso de aprendizaje de esta nueva escritura, trasladarnos a saber lo que es 
el sistema de señalización, los que surgió y donde se está trabajando en la actualidad. Buscar 
en la importancia de SignWriting en la educación sorda, para entender cómo este sistema de 
escritura ayuda (o no) en la comprensión de los conceptos en el proceso de enseñanza / 
aprendizaje. Así se proyectó una escuela especial de trabajo con SignWriting y un sordo que 
fue a la escuela especial y sin la ayuda de la misma, para analizar tanto. Al final se concluye 
que, de hecho, este sistema de escritura ayuda en el proceso de enseñanza / aprendizaje de 
los alumnos sordos. 
Palabras clave: Enseñanza / aprendizaje; Escritura; SignWriting; Sujetos sordos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO 10 
OS MOTIVOS E CAMINHOS PERCORRIDOS NA PESQUISA 13 
1. O SUJEITO SURDO E A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM 16 
2. SIGNWRITING: O QUE É? 21 
3. INFLUÊNCIAS DO SIGNWRITING NA EDUCAÇÃO DE SURDOS 24 
4. UM OLHAR PARA OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM 27 
4.1 VISITA A UMA ESCOLA ESPECIAL 27 
4.2 CONVERSA COM UMA MENINA SURDA 35 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 38 
REFERÊNCIAS 40 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
LISTA DE IMAGENS 
 
Imagem 1.........................................................................................................14 
Imagem 2.........................................................................................................22 
Imagem 3.........................................................................................................24 
Imagem 4........................................................................................................ 28 
Imagem 5........................................................................................................ 28 
Imagem 6........................................................................................................ 29 
Imagem 7........................................................................................................ 30 
Imagem 8........................................................................................................ 30 
Imagem 9........................................................................................................ 31 
Imagem 10...................................................................................................... 31 
Imagem 11...................................................................................................... 32 
Imagem 12...................................................................................................... 32 
Imagem 13...................................................................................................... 33 
Imagem 14...................................................................................................... 34 
Imagem 15...................................................................................................... 35 
Imagem 16...................................................................................................... 36 
Imagem 17........................................................................................................37 
 
 
 
 
10 
 
INTRODUÇÃO 
 
 O ser humano utiliza da linguagem para a comunicação e esta se 
caracteriza pela nacionalidade dos indivíduos. O sujeito surdo também se 
constitui pela linguagem e possui sua própria língua, de acordo com o país em 
que este mora, aqui no Brasil é utilizada a Libras (língua brasileira de sinais). 
 Um dos grandes desafios enfrentados pelos surdos é quando se trata da 
escrita, pois sabemos que é necessário que este aprenda a Língua Portuguesa 
escrita, pois está em uma sociedade onde precisara deste conhecimento para 
se inserir, relacionar-se e ler tudo o que o rodeia. Entretanto, para compreender 
e interpretar um texto, os surdos (em sua maioria) têm dificuldades,afinal não 
se trata de sua língua materna e sim de uma segunda língua. Para isso se 
iniciou um sistema de escrita da língua de sinais, o chamado SignWriting. 
 Neste cenário, vale questionar: De que forma o SignWriting tem 
interferido no processo educacional dos surdos? O problema lançado articula-
se a um objetivo maior que busca visualizar como e onde surgiu esta forma de 
escrita, assim como também seus avanços e limitações. Junto a isso, são 
lançados alguns objetivos específicos, são eles: compreender os avanços, 
desafios e limitações do uso deste sistema de escrita na educação de surdos, 
pesquisar sobre a importância do SignWriting na educação de surdos, para 
compreender como esta escrita auxilia na compreensão de conceitos no 
processo de ensino/aprendizagem e problematizar o significado deste 
conhecimento para o aluno e as limitações que ele encontra na aquisição da 
leitura e escrita durante o processo de aprendizagem. 
O que se apresenta é uma pesquisa realizada em uma escola de surdos 
que utiliza este sistema de escrita e, de forma paralela, uma 
conversa/entrevista com uma surda que não teve contato nenhum com a 
escrita de sinais. Desta forma busca-se compreender qual influência o 
SignWriting tem neste processo de ensino/aprendizagem levando em 
consideração a fala de quem ensina e quem aprende. 
 
11 
 
 
Sabendo que uma pesquisa se caracteriza por um conjunto de 
atividades orientadas e planejadas em busca de um conhecimento, utilizou-se 
de uma pesquisa qualitativa realizada através de conversas informais e uma 
visita a Escola Estadual de Educação Especial Dr. Reinaldo Fernando Cóser, 
localizada no município de Santa Maria/RS. Através destas observações 
reuniram-se informações a respeito do tema, fazendo um comparativo de duas 
realidades distintas para pensar-se no objeto de estudo abordado. 
 A reflexão acerca do tema está dividida em quatro capítulos que se 
iniciam após alguns apontamentos acerca da justificativa e perspectiva 
metodológica da pesquisa. Inicia-se partindo da caracterização do sujeito surdo 
e a aquisição da linguagem. 
 O primeiro capítulo traz dados importantes sobre o que é a surdez, quem 
é considerado surdo, a diferença da deficiência auditiva e da surdez e sobre a 
língua utilizada como língua materna (L1), que é a libras. A respeito disso, 
Stumpf (2003, p.67), surda, doutora e professora da Universidade Federal de 
Santa Catarina, escreve: “Durante todos os séculos da civilização ocidental, 
uma escrita própria fez falta para os surdos, sempre dependentes de escrever 
e ler em outra língua, que não podem compreender bem, vivendo com isso 
uma grande limitação.” A comunidade surda também é abordada neste 
capítulo, da mesma forma que a cultura surda, que faz parte da individualidade 
do sujeito surdo na sua aquisição linguística. 
 O segundo capítulo nos situa a respeito do que é de fato o SingWriting, 
onde surgiu e de que forma expandiu chegando ao nosso país. Assim, 
juntamente com este histórico traz os grandes desafios enfrentados pela 
comunidade surda no decorrer da história. 
 Em sequência, no terceiro capítulo, o texto traz as influências do 
SignWriting na educação de surdos. Considera-se que a bagagem cultural de 
qualquer ser humano é extensa e caracterizada por seus costumes, ritos e 
língua, porém, para o surdo, é como se falasse em uma língua e escrevesse 
em outra, afinal sua língua materna (L1) é a língua de sinais e a Língua 
Portuguesa (L2) é a utilizada para a escrita. O SignWriting vem como um 
auxiliador neste processo onde o aluno, por sua vez, pode escrever sua própria 
língua compreendendo melhor e podendo interpretar o que se escreveu. 
12 
 
Para finalizar esta pesquisa e problematização, o último capítulo e não 
menos importante traça um olhar sobre o processo de aprendizagem de alunos 
que tiveram acesso a este sistema de escrita como um auxiliador e aos alunos 
que percorreram este mesmo processo apenas utilizando de sua língua 
materna para a comunicação e apropriando-se da L2 para a escrita. Neste 
comparativo destacam-se as principais limitações e desafios enfrentados por 
esses sujeitos durante o processo, levando em conta as falas dos sujeitos que 
ensinam e os que aprendem para uma reflexão final. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
OS MOTIVOS E CAMINHOS PERCORRIDOS NA PESQUISA 
 
 A pesquisa a ser feita sobre o SignWriting tem sua importância em 
conhecer sobre esta escrita e perceber sua influência no processo de 
ensino/aprendizagem do aluno surdo. Junto a isso, compreender como essa 
escrita se originou, como se introduziu no Brasil, hoje quais são os avanços 
alcançados até aqui e o que ainda precisa ser repensado e ampliado. Esta 
pesquisa é do tipo qualitativa e traz a fala de alguns colaboradores que foram 
colhidas através de entrevista/conversas durante o processo de pesquisa. 
 Parte-se do pressuposto que os sujeitos surdos possuem qualidades, 
peculiaridades e linguagem própria, a qual não é levada em consideração 
quando se trata da escrita dos símbolos utilizados na comunicação entre estas 
pessoas. Com isto elas são “forçadas” a se adaptarem a uma linguagem que 
não é natural, e que possuem muitas dificuldades de entender e utilizar. A 
apropriação da escrita da Língua Portuguesa é de grande valia para se 
comunicarem com os demais sujeitos ouvintes da sociedade, mas uma escrita 
própria da comunidade surda propicia a constituição de sua identidade. 
 Neste sentido, o SignWriting vem a somar para o sujeito surdo que tem 
sua língua materna em forma escrita. Entretanto, a aceitação desta no Brasil 
foi/é limitada, pois são poucas as escolas que aderiram/aderem a esta 
possibilidade na educação de surdos. Num todo, esta proposta foi pouco 
difundida até mesmo em materiais e publicações que ainda carecem sobre o 
assunto. 
 Refletindo no que foi dito anteriormente a proposta busca fazer uma 
pesquisa em escola de surdos que trabalha com este sistema de escrita e com 
uma surda que não teve este aprendizado durante o período de escolarização. 
Procura-se, assim, verificar qual influência de fato o SignWriting tem neste 
processo de ensino/aprendizagem. No decorrer do texto será apresentada uma 
pesquisa feita a partir de entrevistas, conversas e leituras, às quais trazem 
informações sobre como o tema tem influenciado no processo de 
ensino/aprendizagem e quais são as carências que existem para quem não 
teve este suporte. As entrevistas foram feitas em uma escola especial que 
trabalha com o sistema e com uma surda que se alfabetizou em escola de 
surdos, mas sem ao menos conhecer o SignWriting. 
 
14 
 
 A escola visitada foi escolhida entre duas que trabalham com o sistema 
no Rio Grande do Sul, que é em Porto Alegre e outra em Santa Maria. A 
visitada foi à segunda, por ser mais próximo da cidade local. 
 
Imagem 1 - Blog da escola – apresenta a filosofia bilíngue como perspectiva de 
ensino/aprendizagem (compatível com o Decreto nº 5.626/05) 
Fonte: http://escreinaldocoser.blogspot.com.br/ 
 
 Durante a visita na Escola Estadual de Educação Especial Doutor 
Reinaldo Fernando Cóser fui muito bem recebida pela vice-diretora que estava 
representando o diretor (o diretor da escola é um surdo) que naquele dia não 
se fez presente. Conversamos de forma informal através de uma pequena 
entrevista com perguntas afins, esta aconteceu com três professores surdos 
juntamente com a secretária da escola que se fez nossa intérprete. Assim 
Szymanski afirma que: 
 
[...] a entrevista face a face é fundamentalmente uma situação 
de interação humana, em que estão em jogo às percepções do 
outro e de si, expectativas, sentimentos, preconceitos e 
interpretações para os protagonistas: entrevistador e 
entrevistado. Quem entrevista tem informações e procura outras, 
assim como aquele que é entrevistado também processa um 
conjuntode conhecimentos e pré-conceitos sobre o 
entrevistador, organizando suas respostas para aquela situação. 
(SZYMANSKI, 2004, p.12) 
 
 Com o consentimento da escola pude registrar em fotos vários lugares 
onde se encontra a escrita do SignWriting e tive acesso a algumas produções 
dos alunos que são mostradas no decorrer do texto. Para fazer um comparativo 
15 
 
conversei com uma menina surda que estudou em uma escola especial (para 
surdos) em outra cidade do Estado do Rio Grande do Sul, mas alfabetizou-se 
sem nenhum contato com o SignWriting. Desta forma, analiso qual a 
importância deste sistema como um auxiliador neste processo de 
aprendizagem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
1 O SUJEITO SURDO E A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM 1 
 
 
 Para iniciarmos este capítulo que tem por título “O sujeito surdo e a 
aquisição da linguagem” é preciso caracterizar este sujeito, quem é como está 
inserido na sociedade, o que é a surdez e suas possibilidades e limitações. 
Segundo o IBGE, no senso de 2.000 havia 2% da população brasileira com 
deficiência auditiva e surdez, já em 2.010 esta porcentagem sobe para 5%, um 
crescimento significativo. Junto a estes dados, temos a definição da deficiência 
auditiva na Lei nº 5.296/04, “perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um 
decibéis (dB) ou mais, comprovada por audiograma nas frequências de 500 
hertz, 1.000 hertz e 2.000 hertz.” 
 Além destas informações mais “técnicas/clínicas”, precisamos também 
compreender que uma deficiência auditiva é quando o sujeito se comunica pela 
fala oral e apresenta uma perda auditiva de grau leve ou moderado. Nos casos 
de surdez, de forma diferente, o sujeito tende a se comunicar por meio da 
Língua de Sinais, já que as próteses auditivas não realizam a correção 
necessária para uma comunicação oral eficaz. No Brasil, esta língua de sinais 
se chama Libras (Língua Brasileira de Sinais), e é utilizada por aqueles que 
apresentam uma perda auditiva de grau severo ou profundo 2 . Segundo 
Honozza e Frizango (2008, p.41), “a audição é fundamental para a aquisição 
da linguagem falada e sua deficiência pode ocasionar muita dificuldade nas 
relações sociais, psicológicas e na interação.” 
 No geral, a comunidade surda não aceita os termos deficiente auditivo e 
surdo-mudo. Quanto ao termo “deficiente auditivo” é um termo médico, ou seja, 
clínico. O termo surdo-mudo é incorreto, pois a maioria, não tem problemas 
com a fala em si, podendo ser oralizado, ainda que a língua materna seja a 
Libras. Esses termos constituem a história dos surdos carregada de 
preconceitos, que os fizeram sofrer muito e vivenciar/experimentar formas de 
comunicação impostas pelos ouvintes. 
 
1
 Língua: Sistema de sinais apropriados a uma notação; Linguagem: Agregado de palavras e 
métodos usados por uma nação, povo ou raça; idioma, língua, dialeto. 
2 Isso não é uma regra, visto os diferentes posicionamentos dos surdos. Temos alguns que não 
se aceitam enquanto surdos e também não usam ou desejam a língua de sinais. 
 
 
17 
 
 Hoje estes sujeitos têm por sua língua materna (L1) a língua de sinais. 
Mas, este direito foi reconhecido no Brasil por lei apenas no ano de 2002 
quando a primeira lei que viabiliza/reconhece o uso da língua brasileira de 
sinais como língua materna dos surdos foi assinada pelo então presidente 
Fernando Henrique Cardoso (Lei nº 10.436/02). 
Antes deste reconhecimento, os surdos sofreram muitas perseguições e 
mudanças na sua forma de se comunicar. Um bom exemplo ocorreu em1880, 
quando aconteceu o Congresso Mundial de Professores de Surdos em Milão, 
na Itália, no qual foi discutido o melhor método para a educação dos surdos. 
Nesse Congresso, o método oral puro foi escolhido como o mais adequado 
sendo proibida a utilização da língua de sinais. Tal opressão durou por 
aproximadamente um século, trazendo uma série de consequências sociais e 
educacionais negativas, até que a comunidade surda conquistasse o direito a 
sua língua materna, sendo esta a Libras. 
 Junto ao reconhecimento e respeito à língua de sinais, vale considerar 
que este sujeito está inserido e constitui-se na comunidade surda, na qual 
possui sua cultura, onde se encontram particularidades de seus semelhantes. 
As comunidades surdas estão espalhadas por todo o país trazendo 
particularidades de seus costumes e hábitos próprios da cultura de cada 
estado, esses fatores interferem também nas variações linguísticas da língua 
(regionalismos). Essas se caracterizam por um determinado grupo onde se 
reúnem trocando ideias, promovendo encontros, eventos e convivendo em 
comunidade. É um grupo social que partilham dos mesmos objetivos e metas 
com responsabilidades sociais comuns entre os membros. 
 De um modo geral, a cultura representa um conjunto de conhecimentos, 
línguas, crenças, arte, moral, leis, costumes, capacidades e hábitos que faz 
parte de uma sociedade e é repassado aos seus membros. Strobel (2008, 
p.24) 
 
define que a cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o 
mundo e modificá-lo, para que tenha acesso e possa interagir 
mediante as percepções visuais, o que compreende a língua, as 
ideias, as crenças, os costumes e os hábitos do povo surdo, 
caracterizando assim a identidade surda. 
 
18 
 
 A cultura, em qualquer comunidade ou grupo de pessoas, traz consigo 
sua identidade, sua cara para a comunidade surda e muito mais, pois as 
crenças e vivências, na maioria das vezes, não são trazidas de pais para filhos 
pelo fato de que muitos surdos, e pode se afirmar que em sua maioria, são 
filhos de pais ouvintes. Sendo assim, o sujeito surdo para adquirir sua língua, 
hábitos e crenças, ou seja, uma cultura visual, precisa estar inserido numa 
comunidade surda. 
 Partindo do pressuposto de que a principal característica de uma 
comunidade por menor que seja é a língua, pois nela percebemos gírias, 
sotaques e demais particularidades deste grupo de pessoas, o mesmo ocorre 
com a comunidade surda. Sua língua faz parte desta identidade e cultura, nas 
comunidades surdas os sujeitos surdos podem partilhar seus costumes, 
objetivos, metas e também temores, são sujeitos com particularidades 
semelhantes e que lutam pela mesma causa. Stumpf diz que “a língua é a face 
mais visível de uma cultura. A língua de sinais é parte da cultura surda [...]” 
(2005, p.144). 
 A língua própria do surdo é a Libras, e ao contrário do que muitos crêem, 
os surdos apenas não ouvem e isso não é sinônimo de que não falam. 
Refletindo sobre esta língua, de que modo esta é adquirida? De que maneira 
ocorre esta construção? 
 Compreender o processo de aquisição da linguagem pelo sujeito surdo 
nos permite desmistificar alguns “mitos” e ressignificar algumas compreensões 
acerca do seu desenvolvimento. Além disso, o contexto e período da vida em 
que esta aquisição acontece interferem diretamente no seu processo de 
elaboração das aprendizagens. A participação e envolvimento na comunidade 
surda surgem como pontos essenciais para o seguimento deste processo de 
aquisição, uma maior compreensão acerca de si mesmo, da sua língua e da 
elaboração do pensamento. 
 A língua falada é conhecida por possuir uma característica oral e 
auditiva, no entanto a língua de sinais tem a característica de ser espaço-
visual, desta forma a criança surda percebe o mundo de forma concreta e 
visual. Assim começam as apropriações de linguagem pelo sujeito surdo. 
 Para compreender melhor este processo de aquisição de linguagem na 
criança precisamos nos atentar a alguns estágios que a criança surda passa 
19 
 
neste período. São eles: Período pré- linguístico, estágio de um sinal e estágio 
das primeiras combinações. (QUADROS, 1997) 
 De acordo com o livro “Educação de surdos – Aquisição da linguagem”, 
Quadros (1997) diz que noperíodo pré-linguístico, estudos constataram que a 
criança surda desde o nascimento até seus 14 meses manifesta-se através de 
balbucios, como uma criança ouvinte, porém estes não são apenas por sons, 
mas também por sinais. O estágio de um sinal se caracteriza dos 12 meses até 
os dois anos. O estágio das primeiras combinações inicia-se aos dois anos nas 
crianças surdas, onde as crianças iniciam alguns gestos que são úteis ao seu 
cotidiano para solicitar algo. Desta forma a criança surda vai se apropriando de 
sua L1 que é a língua de sinais. (QUADROS, 1997) 
 Entretanto, temos uma outra realidade, que é a de crianças surdas com 
pais ouvintes. A família, sendo o principal meio de socialização da criança com 
o meio, é na família que ocorrem as construções de normas, valores sociais e 
estrutura institucional. Isso se dá através da linguagem e se esta não é a 
mesma entre pais e filhos ocorre um impasse entre os sujeitos desta família e a 
aquisição da linguagem sofrerá modificações. 
 Desta forma, é necessário que a família compreenda a importância da 
aquisição da língua de sinais como um todo na família, não apenas pela 
criança, para que esta se desenvolva. Segundo Silva e Bastos (2013, p.26), “a 
falta de uma língua acarreta sérias dificuldades de convivência e nos surdos 
isso é muito frequente devido à demora de exposição de uma língua, 
ocasionada pelo tardio diagnóstico da surdez, que prejudica o seu 
desenvolvimento cognitivo e afetivo.” 
 Para uma criança surda não basta a aquisição de sua língua materna, 
precisa acontecer a aquisição da L2 na modalidade escrita, que no caso do 
Brasil é a Língua Portuguesa. Neste processo, existem basicamente três 
possibilidades/alternativas: a aquisição simultânea L1 e L2, aquisição 
espontânea da L2 não simultânea e a aprendizagem da L2 de forma 
sistemática. 
 Entendemos que no atual contexto, os sujeitos surdos têm sido 
submetidos às três possibilidades apresentadas. No entanto, faz-se válido 
refletir sobre os “benefícios” e/ou consequências de cada uma delas. Nas 
20 
 
entrevistas e conversas realizadas percebe-se a construção desta aquisição 
tanto na L1 quanto da L2. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
2 SIGNWRITING: O QUE É? 
 
 Como já foi dito no capítulo anterior, os surdos sofreram várias 
perseguições, sendo proibidos de falarem em sua língua materna. Eram 
castigados se tentassem se expressar por ela sendo que suas mãos eram 
amarradas para que não desobedecessem. 
 Os sinais eram vistos como um “código secreto”, pois eram usados 
escondido, tendo em vista a proibição alcançada com o Congresso de Milão (a 
qual perdurou por quase um século). Depois de muito lutarem por seus direitos, 
a língua de sinais é reconhecida, com a Lei nº 10.436/2002 que diz: 
 
Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e 
expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros 
recursos de expressão a ela associados. 
Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - 
Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema 
lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical 
própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de 
idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do 
Brasil. (BRASIL, 2002). 
 
 
 Em nosso país a língua materna da comunidade surda é a Libras 
(Língua Brasileira de Sinais). Esta, por sua vez, como qualquer outra língua é 
composta por níveis linguísticos, como: fonológico (pronúncia), morfológico 
(palavras) e sintático (sentenças) e estão ligadas aos fatores sociais de idade, 
gênero, raça, educação e situação geográfica. As pessoas que usam a língua 
de sinais podem expressar sentimentos, emoções e falar sobre qualquer 
assunto por mais abstrato que seja. 
 A Libras não é uma língua ágrafa (não possui grafia), mas não têm um 
sistema de escrita largamente adotado e reconhecido oficialmente, embora 
existam algumas propostas, como o SignWriting, que já está sendo usado em 
algumas escolas e possui publicações a respeito dessa modalidade de escrita. 
É baseando-se nesta nova proposta que inicio minha pesquisa acerca da 
escrita dos sinais no processo educacional do sujeito surdo. 
 O SignWriting é um sistema de escrita da língua de sinais. Através dele 
pode-se expressar os movimentos, as formas das mãos, as marcas não-
manuais e os pontos de articulação. O conjunto de símbolos utilizado pelo 
 
22 
 
sistema é internacional, podendo traduzir qualquer tipo de língua de sinais. Não 
se trata de desenhos, mas de uma língua escrita com símbolos, que, por sua 
vez, pode ser usada/escrita através de programas de computadores. 
 
 
Imagem 2 - Página da internet na qual pode-se baixar o programa para escrita do 
SignWriting, além de outros materiais e jogos para este aprendizado. 
Fonte: http://www.signwriting.org/downloads/ 
 
 O SignWriting foi criado por Valerie Sutton, em 1974. Valerie criou um 
sistema para escrever danças e despertou a curiosidade de pesquisadores da 
língua de sinais dinamarquesa. Assim, a década de 70 caracterizou um período 
de transição de Dancewriting para SignWriting, isto é, da escrita de danças 
para a escrita de sinais das línguas de sinais. 
 Em 1996, a PUC de Porto Alegre no Rio Grande do Sul, através do Dr. 
Antonio Carlos da Rocha Costa, iniciou seus estudos acerca do SignWriting no 
Brasil. Foi formado um grupo pelo Dr. Rocha, a Prof. Marianne Stumpf e a Prof. 
Marcia Borba, os quais têm trabalhado num projeto de alfabetização de alunos 
surdos com o sistema SignWriting. 
 Esta escrita tem sido ensinada a crianças e adolescentes brasileiros em 
projetos associados às escolas possuindo muitos resultados positivos. Os 
Estados que já possuem escolas com estes projetos são Rio Grande do Sul, 
Santa Catarina e Ceará. Para Stumpf, “a escrita de sinais pode proporcionar 
23 
 
um decisivo aporte em relação a um currículo realmente diferenciado para os 
surdos que atenda a suas reais necessidades e possibilidades.” ( 2004, p.158) 
 Como recurso tecnológico a comunidade surda possui o sign writer, um 
programa de computador gratuito que auxilia na escrita em SignWriting. Aos 
poucos este sistema de escrita tem ganhado seu espaço como em algumas 
literaturas que já foram lançadas em SignWriting, como a Cinderela surda e a 
Rapunzel surda (ambas escritas por uma surda). 
 Nos cursos de Letras-Libras de algumas universidades, como a 
Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal de Santa Maria 
e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, utiliza-se o SignWriting na 
apresentação do curso na página virtual, em alguns de seus componentes 
curriculares e também nos espaços físicos destas instituições (para identificar 
espaços e salas). Assim, mesmo sendo um processo lento, este sistema de 
escrita tem conquistado seu espaço e respeito, mas precisa ser 
valorizado/compreendido, principalmente entre as escolas que possuem estes 
sujeitos inseridos.3 
 
 
Imagem 3 - Página do curso de Letras Libras da Universidade Federal de Santa 
Catarina, com escrita em SignWriting 
Fonte: http://letraslibras.grad.ufsc.br/ 
 
 
33
 As informações foram retiradas do site http://letraslibras.grad.ufsc.br/. 
24 
 
3 INFLUÊNCIAS DO SIGNWRITING NA EDUCAÇÃO DE SURDOS 
 Os sujeitos surdos possuem uma bagagem cultural com qualidades, 
especificidades e língua própria, a qual não é levada em consideração quando 
se trata da escrita dos símbolos utilizados na comunicação entre estas 
pessoas. Com isto, elas são “forçadas” a se adaptarem a uma língua que não é 
natural, e que, em sua maioria, possuem muitas dificuldades de entender e 
utilizar. 
 A apropriação da escrita da Língua Portuguesa é de grande valia para 
se comunicarem com os demais sujeitos ouvintes da sociedade, mas uma 
escritaprópria da comunidade surda propicia a constituição de sua identidade. 
Segundo a o Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005: 
 
Art. 22. As instituições federais de ensino responsáveis pela 
educação básica devem garantir a inclusão de alunos surdos 
ou com deficiência auditiva, por meio da organização de: I - 
escolas e classes de educação bilíngüe, abertas a alunos 
surdos e ouvintes, com professores bilíngües, na educação 
infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental; II - escolas 
bilíngües ou escolas comuns da rede regular de ensino, 
abertas a alunos surdos e ouvintes, para os anos finais do 
ensino fundamental, ensino médio ou educação profissional, 
com docentes das diferentes áreas do conhecimento, cientes 
da singularidade lingüística dos alunos surdos, bem como com 
a presença de tradutores e intérpretes de Libras - Língua 
Portuguesa. § 1ºSão denominadas escolas ou classes de 
educação bilíngüe aquelas em que a Libras e a modalidade 
escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução 
utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo. 
(BRASIL, 2005) 
 
Apesar das considerações trazidas no referido Decreto, a metodologia 
usada, na maioria das vezes, é própria da comunidade ouvinte e a estrutura 
linguística dos materiais lidos para estudo é própria de sua segunda língua. 
Além disso, muitos profissionais tendem a não respeitar a escrita dos surdos, 
que se dá baseada na língua de sinais. Deste modo, muitos criam limitadores, 
barreiras e receios quanto ao processo de leitura e escrita em língua 
portuguesa. 
No processo de ensino/aprendizagem de um sujeito ouvinte este deve ir 
se apropriando da língua oral e escrita no período de alfabetização, e como 
educadores percebemos como é dificultoso este processo sabendo que cada 
 
25 
 
indivíduo é único e tem o seu determinado tempo de aprendizagem. Isso se dá 
mesmo que seja necessária apenas a apropriação de uma única língua. 
Pensando nesse mesmo processo, o de alfabetização, mas de um 
sujeito surdo, as dificuldades aumentam não pela surdez, mas pela apropriação 
da língua viso-espacial e escrita. A viso-espacial ocorre em uma língua, a 
materna, e a escrita em outra totalmente distinta da anterior, sendo no Brasil a 
língua portuguesa. Assim, dizemos de duas línguas com modalidades distintas 
e um sujeito que pensa e constitui-se em língua de sinais, mas escreve em 
língua portuguesa. 
Neste sentido, o SignWriting vem somar para o sujeito surdo que tem 
sua língua materna em forma escrita. Entretanto, a aceitação desta no Brasil 
ainda é limitada, pois são poucas as escolas que aderiram/aderem a esta 
possibilidade na educação de surdos. Num todo, esta proposta foi pouco 
difundida até mesmo em materiais e publicações ainda carecem sobre o 
assunto. Stumpf adverte: 
 
As escolas de surdos precisam colocar rapidamente a escrita 
de sinais no currículo, pois suas aulas proporcionam 
oportunidades importantes para os surdos de aprender também 
língua de sinais brasileira. Exercitamos muito a aprendizagem 
de sinais quando procuramos pela melhor grafia de um sinal. 
(2003, p. 65) 
 
 Sabemos que para que haja um melhor aproveitamento do 
conhecimento a leitura e a escrita precisam caminhar juntas. Desta forma, com 
este sistema, a comunidade surda possui um novo aliado neste processo. 
Busca-se compreender em um paralelo entre um aluno que possui este 
aprendizado no seu processo escolar e um que ainda não tem acesso: Como 
ocorre a construção dos conhecimentos? Como é o processo de ensino/ 
aprendizagem? Existem dificuldades em ambos? E quem não tem acesso, 
sabe que existe esta possibilidade de escrita? Esta pesquisa busca 
problematizar as dúvidas e questionamentos colocados em destaque na parte 
introdutória. 
 No livro “A invenção da Surdez”, no capítulo 9, Mariane Stumpf relata 
sobre uma pesquisa realizada em uma escola para surdos de Porto Alegre/RS. 
26 
 
Esta pesquisa ocorreu como um projeto de utilização do SignWriting na 
segunda série. 
 Segundo os relatos de Stumpf, os alunos iniciaram desenhando a 
configuração de mão após uma história, o que já caracteriza a escrita dos 
sinais. Aos poucos, conforme vão tendo contato com o sistema, passam a 
escrever através dos desenhos do SignWriting as histórias contadas pela 
professora. Ainda segundo Stumpf, as frases: “não posso, não entendo” 
passam a ser substituídas por “entendi, consegui compreender, se eu estudar 
vou aprender”. Segundo ela “A aquisição da escrita em sinais vai funcionar 
como suporte para a aprendizagem do português escrito.” (2004, p.158) 
 Assim como as experiências relatadas por Stumpf alguns anos atrás 
demonstram questões importantes para o processo de construção das 
aprendizagens do sujeito surdo, a pesquisa aqui relatada também nos traz 
dados semelhantes. Na visita a escola especial ouvi relatos importantes sobre 
o que disse Stumpf sobre a valorização que os próprios alunos se atribuem a 
eles mesmos, pois ao usar o sistema passam a compreender o que estão 
escrevendo em português, então percebem que sim eles conseguem, vão 
aprender. 
 O professor entrevistado diz que a mesma história sinalizada que eles 
não conseguem escrever em português, em SignWriting é possível, pois, afinal, 
estão escrevendo a partir de sua L1 e aí se torna mais fácil. Estes relatos, por 
sua vez, nos motivam a seguir pesquisando sobre a escrita da língua de sinais 
e sobre os diferentes olhares e práticas acerca da educação de surdos. 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
4. UM OLHAR PARA OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM 
 
 A língua materna do sujeito surdo é a língua de sinais e na escrita este 
se apropria de uma segunda língua. Desta forma, uma criança surda possui um 
esforço muito maior em sua aprendizagem do que uma ouvinte que fala, lê e 
escreve na mesma língua. 
 Sabemos que a leitura e a escrita estão vinculadas uma a outra e para 
que a construção do conhecimento seja de fato proveitosa o educando precisa 
ler, escrever e compreender o que leu e escreveu. Porém, isso muitas vezes 
não é o que ocorre com o sujeito surdo, pois este, por vezes, possui 
dificuldades em escrever em língua portuguesa o que foi sinalizado ou mesmo 
sinalizar o que escreveu. 
 
4.1 VISITA A UMA ESCOLA ESPECIAL. 
 
 Durante a escrita do texto conheci esta escola, na qual fui muito bem 
recebida pela vice- diretora (ouvinte), pois o diretor (surdo) não pode se fazer 
presente neste dia. Conversamos baseando-se em algumas perguntas sobre o 
tema com três professores surdos contando com o auxilio da secretária da 
escola que se fez minha intérprete. 
 Na visita à Escola Especial Dr. Reinaldo Fernando Cóser um dos 
professores surdos relatou que de fato os alunos surdos sentem muita 
dificuldade na escrita quando se trata da Língua Portuguesa, por não ser sua 
língua materna. No entanto, com o SignWriting tem mais facilidade de 
compreender e interpretar um texto, entendem mesmo assim a importância da 
Língua Portuguesa neste processo e percebem no sistema de escrita um 
auxiliador para a aprendizagem. 
 Desta forma, o SignWriting vem como um facilitador neste processo de 
ensino/aprendizagem. Como podemos ver na imagem 1 e 2, produções de 
alunos que escreveram uma história inteira que foi sinalizada pelo professor e 
escrita em SignWriting. 
 
28 
 
 
Imagem 4. História dos 3 porquinhos escrita em SignWriting 
 
Imagem 5. História da pesca milagrosa escrita em SignWriting (produção aluno 
do 6º ano – ensino fundamental) 
Fonte: Escola Estadual de Educação Especial Dr. Reinaldo Fernando Cóser. 
 
 Conforme Barreto apud Silva, “o uso do sistema SignWriting, 
assim como outras escritas, se constitui como estratégia de construção de 
29 
 
significados e método de estudo, pois facilita a lembrança e a recuperação da 
informação guardada na memória [...] (2008, p. 43). 
 Para que auxilie e promova esta “recuperação da informação” na escolaespecial visitada todas as informações que estão escritas em corredores, 
portas, armários se constituem em SignWriting, como vistas nas imagens a 
seguir: 
 
Imagem 6: giz4 
 
 
Imagem 7: Educação Física ( o armário da Educação Física) 
 
4 Da imagem nº 6 até a imagem de nº 15 foram extraídas da escola visitada. 
30 
 
 
Imagem 8: Sala dos professores 
 
Imagem 9: Número dois ( Número das salas) 
31 
 
 
Imagem 10: Banheiro da Educação Infantil 
 
Imagem 11: Banheiro dos professores 
32 
 
 
Imagem 12: Refeitório 
 
Imagem 13: Biblioteca 
33 
 
 Durante a conversa, os professores relataram que os alunos passam a 
ter contato com o sistema a partir da Educação Infantil, como uma oficina 
itinerante partindo de livros de história e atividades lúdicas. Quando iniciam o 
Ensino fundamental já passam a escrever com os sinais do SignWriting. No 
Ensino Médio o sistema já é uma matéria do plano de ação sendo que a 
interpretação de textos e a própria produção deles é aceita em SignWriting. Na 
escola encontramos brincadeiras também sinalizadas pelo sistema SignWriting, 
como vemos nas imagens 14 e 15: 
 
Imagem 14: Amarelinha 
34 
 
 
Imagem 15: Centopéia com o alfabeto 
 Os alunos da escola num total são 87 e todos têm acesso a escrita em 
SignWriting, a configuração de mão da libras e a Língua Portuguesa. Este 
acesso se dá em diferentes momentos e de diferentes formas, como algo 
natural, que faz parte deste lugar, desta cultura e destes sujeitos. 
35 
 
 
Imagem 16: Materiais escolares escritos em Língua Portuguesa, Libras com 
configuração de mão e SignWriting. 
Fonte: Escola Estadual de Educação Dr. Reinaldo Fernando Cóser. 
 Os professores relataram que estão em contínuo processo de busca em 
novas aprendizagens e me deixou muito feliz em saber que têm um grupo de 
estudos semanais sobre o sistema em que estão estudando um dos livros que 
pesquisei: Escrita de sinais sem mistério de Barreto. Isso me deixou 
profundamente satisfeita. Desta forma, percebo que é algo que precisa sempre 
está sendo aprendido sobre e com ele. Vemos nas produções que é muito rico 
para o processo de ensino/aprendizagem, pois se para o sujeito surdo o mais 
importante é o visual, o SignWriting vem a somar para haja essa construção. 
4.2 CONVERSA COM UMA MENINA SURDA. 
 Como forma comparativa, conversei com uma menina surda de outro 
município do Estado do Rio Grande do Sul. Esta estudou desde a educação 
infantil até o ensino médio em uma escola especial para surdos de sua cidade. 
Na conversa em Santa Maria uma das professoras surdas relatou que já havia 
trabalhado nesta escola e que a instituição havia recebido o convite para 
36 
 
trabalhar com o sistema SignWriting, mas que após tentativas frustradas 
resolveram desistir, alegando ser algo muito complexo para se ensinar. 
Durante a conversa recebi o auxílio de sua irmã (ouvinte) como intérprete. 
 Na conversa pude perceber a diferença entre um aprendizado e outro. 
Enquanto na escola os alunos contam com um auxiliador na escrita desde a 
primeira série, que é o SignWriting, esta aluna adquiriu a língua de sinais 
apenas com 5 anos de idade e relata que sentiu muita dificuldade em aprender 
a ler e escrever. 
 Com esta conversa consegui compreender o que se fala no decorrer do 
texto onde a criança é surda e está inserida em uma família de ouvintes. Até a 
inserção na escola a menina se comunicava apenas por sinais criados pelo seu 
próprio círculo familiar (sinais caseiros), sendo que moram afastados da cidade 
e ela tinha contato apenas com eles. Neste contexto, ela só conhecia a fala do 
que via em casa e apenas com seus cinco anos de idade passou a de fato falar 
por sinais, com a Libras. 
 Entende-se que este aprendizado quando ocorre de forma tardia é mais 
sofrido e difícil, pois com cinco anos a criança, tanto ouvinte quanto surda, 
poderia apresentar um vocabulário mais amplo e linguagem mais desenvolvida. 
Há de se considerar aqui, que a menina entrevistada apresentou uma 
aquisição da primeira língua de forma tardia, mas esta realidade ainda é 
comum a maioria dos surdos. 
 Ela diz que a professora ensinava a Libras e o Português e conhece 
apenas a escrita da Libras com “desenhos” dos sinais, como nesta imagem: 
 
 Imagem 17: Desenhos de alguns sinais (língua sinalizada e não escrita) 
Fonte: Site de pesquisa em Imagens https://www.google.com.br/imghp?hl=pt-
BR&tab=wi&ei=I7e6U_nTPMOgsATfoYH4DQ&ved=0CAQQqi4oAg 
37 
 
 
 A fala da menina deixa claro o desconhecimento acerca da escrita da 
sua primeira língua, restringindo-a apenas a sinalização e/ou compreendendo 
que escrita e sinalização se dão da mesma maneira. Tal fator se apresenta de 
forma bastante diferente se comparada à realidade da escola visitada e com 
importantes reflexos na constituição desta menina, já que a escrita de sua 
língua ou ao menos o conhecimento sobre sua existência dizem de sua cultura 
e identidade surda. 
 Fala também que no início era difícil entender o que a professora 
sinalizava, mas, aos poucos, foi se acostumando. Imagino que era uma turma 
com alguns alunos que já sabiam a Libras e para ela aquilo ainda não possuía 
significados. 
 No Ensino Médio ela diz que teve mais dificuldades por não 
compreender muito bem os textos e, principalmente, as matérias de biologia e 
física (estas disciplinas apresentam muitos conceitos que ainda não possuem 
sinais, o que pode dificultar a compreensão dos mesmos). Neste sentido e a 
partir da visita e conversa realizada na escola imagino que o sistema teria 
auxiliado neste processo já que a construção da escrita se dá a partir da 
primeira língua e assim a significação por parte de quem escreve ocorre de 
forma mais fácil. 
 Portanto, refletindo sobre ambas as experiências notei como são 
distintos os ensinos das propostas, uma de fato pesquisada e a outra 
indiretamente através dos relatos da menina. Percebi como o sistema de 
escrita SignWriting tem auxiliado muitas crianças e jovens proporcionando a 
eles um aprendizado de resultados e significados, além de uma maior inserção 
e conhecimento acerca de sua cultura e língua. 
 Entendo que apenas copiar o que alguém escreve seria fácil, mas nada 
significativo para os sujeitos e, desta maneira, estes podem fazer suas 
produções compreendendo o que estão escrevendo. O que lamento é saber 
que existem instituições com possibilidades de utilizar/adotar este sistema, mas 
não acreditam que a proposta possa realmente dar certo e desta forma privam 
seus alunos de aprenderem mais e com mais qualidade. 
 
 
38 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 O trabalho partiu do pressuposto que a língua falada e escrita fazem 
parte da identidade cultural dos sujeitos surdos. O mesmo constituiu-se como 
uma pesquisa qualitativa que reuniu informações para analisar de fato quais 
são os avanços, limitações e desafios desta proposta na educação de surdos. 
Inicialmente procurou-se situar sobre como tudo iniciou, todas as adversidades 
que as comunidades surdas tiveram para conquistar sua liberdade de 
expressão, liberdade em se comunicar em sua língua materna. Partindo daí 
pudemos analisar a importância do sujeito surdo em falar na sua própria língua 
e agora em escrever nela através do sistema SignWriting. 
 O sistema de escrita de sinais foi criado como um auxiliador e mediador 
do processo de aquisição da linguagem escrita e falada para que os alunos 
possam compreender de fato o que estão escrevendo, facilitando a produção 
textual e a interpretação. Com base em duas realidades foi possível analisar as 
dificuldades de quem não teve acesso a este sistema e a como este auxilia 
quem conta com ele para escrever, aprender e se expressar culturalmente. 
 A aquisição de uma escrita própria para os sujeitos surdos é um marco 
em sua cultura. Pode ser vista como mais uma vitóriapara estas comunidades 
que estão a cada dia conquistando novos direitos para viverem em uma 
sociedade que não apenas fala de inclusão, mas que deve vivê-la 
 Analisando e refletindo sobre tudo o que foi lido, ouvido e visto no 
decorrer desta pesquisa e escrita conclui que o sistema SignWriting possui 
grande significado no processo de ensino/aprendizagem de quem conta com 
este suporte e, que sim faz falta para quem ainda não tem oportunidade em 
utilizá-lo. Seus avanços são diários e em nosso país algumas escolas já têm 
aderido ao sistema, mas conforme o que os professores da escola especial 
relataram é preciso que as escolas que possuem o sistema se aperfeiçoem 
para que não se perca o que já foi construído até aqui. 
 Algumas universidades já têm colocado como componente curricular o 
SignWriting oque pode acarretar grande mudanças, já que os novos 
professores já estarão aprendendo o sistema e, dessa forma, mais surdos 
terão a oportunidade de aprender. Entretanto, as limitações também existem, 
percebe-se a pouca bibliografia e poucas publicações sobre o assunto. 
 
39 
 
 Mesmo os professores que ensinam o sistema têm pouco material para 
suas aulas e quem quer conhecer/aprender precisa buscar bastante para 
encontrar alguns livros e publicações sobre o assunto. Outro fator que vi 
durante a pesquisa é o medo de aprender que muitas instituições têm em 
relação ao sistema. Isso provem, às vezes, de professores ouvintes que não 
compreendem a necessidade que o surdo tem em escrever em sua L1. 
 Desta forma poderemos melhorar/modificar e de fato ensinarmos para 
uma construção de conhecimentos. Junto a isso caminha uma afirmação de 
Gadotti, que tem enfatizado este desejo: 
[...] Queremos deixar para trás o mundo da prepotência, da 
arrogância dos que tudo sabem e, por isso, tudo querem ensinar. 
O outro mundo possível é um mundo de aprendizagem em 
rede. O nosso mundo possível é um mundo onde todos podem 
perguntar, o mundo da “pedagogia da pergunta”, como 
sustentava Freire. É perguntando que o construiremos. (2011, 
p.91) 
 
 Sendo assim, precisamos continuar pesquisando e buscando sobre este 
sistema de escrita para que mais pessoas possam ser beneficiadas por ele e 
ter a opção de seu aprendizado. Como vimos em alguns dos relatos trazidos, 
desta forma estaremos contribuindo nesta luta pelas comunidades e sujeitos 
surdos de nosso país. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
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