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1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ DIEGO MARTINS O PROCESSO DO EMPREENDEDORISMO CORPORATIVO NA VOLVO DO BRASIL Balneário Camboriú 2010 2 DIEGO MARTINS O PROCESSO DO EMPREENDEDORISMO CORPORATIVO NA VOLVO DO BRASIL Balneário Camboriú 2010 Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Administração – Gestão Empreendedora e Recursos Humanos, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Balneário Camboriú. Orientadora: Prof.ª. Drª. Sara Joana Gadotti dos Anjos 3 DIEGO MARTINS O PROCESSO DO EMPREENDEDORISMO CORPORATIVO NA VOLVO DO BRASIL Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Bacharel em Administração e aprovada pelo Curso de Administração – ênfase em Gestão Empreendedora e Recursos Humanos da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação de Balneário Camboriú. Área de Concentração: empreendedorismo Balneário Camboriú, 29 de Novembro de 2010. _________________________________ Prof.ª. Drª. Sara Joana Gadotti dos Anjos Orientadora ___________________________________ Prof. Dr. Fernando Cesar Lenzi Avaliador ___________________________________ Prof.ª. MSc. Luzia Fröhlich Nunes Avaliadora 4 EQUIPE TÉCNICA Estagiário(a): Diego Martins. Área de Estágio: Administrativo. Professor Responsável pelos Estágios: Lorena Schröder. Supervisor da Empresa: Mariane Carpes Nicoloso. Professora orientadora: Drª. Sara Joana Gadotti dos Anjos. 5 DADOS DA EMPRESA Razão Social: Associação Brasileira de Recursos Humanos – Regional Itajaí. Endereço: Rua Treze de Maio, 97, Centro – Itajaí - SC, CEP 88301-550. Setor de Desenvolvimento do Estágio: Administrativo. Duração do Estágio: 240 horas. Nome e Cargo do Supervisor da Empresa: Mariane Carpes Nicoloso – Presidente - Gestão 2010 – 2012. Carimbo do CNPJ da Empresa: 6 AUTORIZAÇÃO DA EMPRESA Balneário Camboriú, 29 de novembro de 2010. A Empresa Associação Brasileira de Recursos Humanos – Regional Itajaí, pelo presente instrumento, autoriza a Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, a divulgar os dados do Relatório de Conclusão de Estágio executado durante o Estágio Curricular Obrigatório, pelo acadêmico Diego Martins. ___________________________________ Mariane Carpes Nicoloso 7 Para quem ama, qualquer sacrifício é alegria. (Benjamim Franklin) 8 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a todos os apaixonados pelo empreendedorismo 9 AGRADECIMENTOS A Professora Sara Joana Gadotti dos Anjos pela sua orientação e seu apoio para a elaboração desta Monografia, obrigado pela confiança ao longo da pesquisa, pela motivação, pelo incentivo constante na superação de limites e na busca dos melhores resultados. Aos professores que ao longo destes quatro anos permitiram um aprendizado continuo, agradeço em especial as contribuições dos professores Aloísio Vicente Salomon, Fernando Cesar Lenzi, Luzia Fröhlich, Kiliano Gesser, Luciana Imeton, Ligia Ghisi e Robson Freire que além de educadores foram amigos e assíduos ouvintes ao longo do curso e do desenvolvimento desta monografia. À Coordenação do curso, Professor Márcio Daniel Kiesel, pelo apoio, confiança, amizade e pelas oportunidades concedidas ao longo do curso, que possibilitaram o amadurecimento pessoal, profissional e acadêmico. Aos meus pais, Edson e Claudete, pelo dom da vida, pelo apoio e compreensão que permitiram que superasse desafios e buscasse realizar o melhor. Aos meus familiares, colegas de curso e companheiros de trabalho que souberam compreender minhas ausências e ansiedades ao longo deste período. Aos que por algum motivo da trajetória humana hoje são ausentes entre nós, mas que por terem feito parte de minha vida foram fonte de incentivo e de persistência nessa caminhada. Aos amigos, Claudio, Carla, Fátima, Paulo, Ana Paula, Valéria, Mauricio, Adriana e a muitos outros que foram companheiros dessa jornada e que sempre foram fortes incentivadores no desenvolvimento deste e de muitos outros trabalhos. Em especial aos meus amigos Silvana Souza, Antônio Lodir e Fernanda Arruda amigos que nasceram junto com o curso e que ficarão para a vida; que apoiaram e deram broncas; que nas infindáveis noites e fins de semana de estudo foram compreensíveis; agradeço pela amizade e por fazerem parte da minha história e da minha vida. Ao amigo de longo tempo, Rafael Serpa, a quem as palavras são poucas e falhas para agradecer pela amizade. Ao amigo Artur Lopes, pela amizade e pela cumplicidade ao longo de tantos fatos de nossa vida, pelo ombro amigo e ouvinte, e pelo apoio incondicional. A instituição participante da pesquisa, a Volvo do Brasil, na pessoa do Sr. Rubens Cieslak, do Sr. Antonio Carlos Morassutti e dos demais profissionais 10 envolvidos na pesquisa que permitiram dividir o seu tempo e o da empresa para a obtenção dos dados que constituem este trabalho. A ABRH Litoral e seus diretores pela oportunidade de fazer parte desse grupo, e que acima de tudo me ensinaram a paixão pelo RH. E a todos que de algum modo especial me apoiaram e incentivaram neste caminho. 11 RESUMO Empreendedorismo corporativo significa estimular que os profissionais da empresa pensem e ajam como empreendedores, de modo a ter um elevado comprometimento com o negócio e sua importância no mercado. Este trabalho tem como principal objetivo analisar o processo de empreendedorismo corporativo em uma empresa de grande porte de Curitiba- PR. Foi realizado um levantamento bibliográfico para compreensão do tema, das atitudes e das competências e se identificou um referencial do escopo do tema na área acadêmica nacional e em periódicos internacionais. A metodologia da pesquisa teve como objetivo a pesquisa exploratória, qualitativa e quantitativa, utilizando-se para a coleta dos dados questionários de Pinchot III, Lopes Jr e Lenzi, além de um processo de observação e entrevista semi-estruturada. Concluiu-se que o perfil intra-empreendedor está ligado ao entusiasmo com o trabalho realizado; as atitudes ligadas à dimensão de poder; e as competências ligadas a comprometimento, persistência, busca de informação e planejamento são essenciais na formação de empreendedores corporativos. Palavras Chave: Empreendedorismo Corporativo, Competências Empreendedoras, Atitudes Empreendedoras. 12 ABSTRACT Corporative administration means to motivate the professionals of a company to think and act as administrators, with high commitment with the business and its importance in the market. This paper’s main goal is to analyze the process of administration in a large company in Curitiba – PR. We did a bibliographic research to understand the subject, the attitudes and the competences and we identified a referential of the subject idea in the national academic area and in international periodic. This is a qualitative and quantitative exploratory research that used Pinchot III’s, Lopes Jr.’s and Lenzi’s questionnaires to gather people’s opinions, besides an observation process and semi-structured interview. We could notice thatthe corporative administration is connected to the enthusiasm the person has with his/her already made work; the attitudes are linked to power’s dimension; and that the competences are connected to commitment, persistence, search of information and a planning are essentials in the corporative administrators’ formation. Keywords: Corporate Entrepreneurship, Entrepreneurial Skills, Attitudes Entrepreneurs 13 LISTA DE QUADROS Quadro 01 Pensamento empreendedor de 1816 a 1988 .............................. 25 Quadro 02 Definições de empreendedorismo da década de 1990 a 2000.... 28 Quadro 03 Principais autores e contribuições por tema do empreendedorismo ...................................................................... 29 Quadro 04 Escolas de pensamento de empreendedorismo ......................... 30 Quadro 05 As abordagens das escolas de empreendedorismo ................... 31 Quadro 06 Características e padrões de empreendedorismo compilado por Pinotti ........................................................................................... 34 Quadro 07 Diferentes abordagens de empreendedorismo ........................... 35 Quadro 08 Características presentes em empresários bem sucedidos ........ 37 Quadro 09 Características das competências para a gestão de pessoas .... 38 Quadro 10 As atitudes, características, competências e aprendizagem dos empreendedores ......................................................................... 40 Quadro 11 Modelo de competências de Spencer e Spencer ........................ 43 Quadro 12 Relações das competências empreendedoras, autores e abordagens de Spencer e Spencer (1993) e Cooley (1990) ....... 44 Quadro 13 Variações do empreendedorismo corporativo ............................. 47 Quadro 14 Nomenclaturas e definições do termo empreendedorismo corporativo ................................................................................... 48 Quadro 15 Competências do intra-empreendedor ........................................ 51 Quadro 16 Modelo de competências empreendedoras ................................ 51 Quadro 17 Pesquisas de empreendedorismo nos cursos de doutorado ...... 57 Quadro 18 Pesquisas de empreendedorismo nos cursos de mestrado ........ 59 Quadro 19 Principais estudos internacionais no campo de empreendedorismo no ano de 2008 ............................................ 63 Quadro 20 Resumo dos projetos inovadores do grupo estudado ................. 85 Quadro 21 Dimensões, distribuição dos itens e indicadores das atitudes empreendedoras de Lopez Jr. ..................................................... 92 14 LISTA DE TABELAS Tabela 01 Programas de pós-graduação pesquisados ................................ 68 Tabela 02 Idade dos respondentes .............................................................. 82 Tabela 03 Estado civil dos respondentes ..................................................... 83 Tabela 04 Resumo da pontuação intra-empreendedora .............................. 87 Tabela 05 Freqüência das proposições do perfil intra-empreendedor ......... 88 Tabela 06 Atitudes empreendedoras dos intra-empreendedores da Volvo do Brasil ....................................................................................... 90 Tabela 07 Atitudes da dimensão de realização ............................................ 92 Tabela 08 Atitudes da dimensão de planejamento ...................................... 93 Tabela 09 Atitudes da dimensão poder ........................................................ 95 Tabela 10 Atitudes da dimensão inovação ................................................... 95 Tabela 11 Distribuição dos respondentes por competência empreendedora segundo pontuação individual .......................... 98 Tabela 12 Comparativo entre freqüência, moda e média das competências empreendedoras .................................................. 100 Tabela 13 Comparativo entre freqüência, moda e média das competências empreendedoras no grupo formado por coordenadores de EAG’s ............................................................ 103 Tabela 14 Pesquisas na linha de atitudes empreendedoras ........................ 103 15 LISTA DE FIGURAS Figura 01 Ciclo do comportamento empreendedor ..................................... 32 Figura 02 Exemplo de estrutura de carreira e competências ...................... 39 Figura 03 Integração das esferas de educação corporativa por meio das competências .............................................................................. 42 Figura 04 Escopo do empreendedorismo corporativo ................................. 50 Figura 05 Integração estratégica do empreendedorismo corporativo ......... 53 Figura 06 Processo empreendedor de Timmons ........................................ 55 Figura 07 As fases de implementação de projetos e seus filtros defendidos por Hashimoto ........................................................... 56 16 LISTA DE GRÁFICO Gráfico 01 Evolução histórica do estudo de empreendedorismo .................. 69 Gráfico 02 Formação superior dos respondentes ......................................... 84 Gráfico 03 Motivação para treinamentos ...................................................... 84 Gráfico 04 Freqüência da participação em treinamentos ............................. 85 Gráfico 05 Média das atitudes empreendedoras por dimensão ................... 96 Gráfico 06 Distribuição percentual do grupo respondente segundo tipo e presença das competências empreendedoras ............................ 99 Gráfico 07 Freqüência de respondentes por competência empreendedora . 100 Gráfico 08 Número de competências identificadas por respondente ........... 102 17 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 19 1.1 Tema de estágio ...................................................................................... 19 1.2 Problema de pesquisa ............................................................................. 20 1.3 Objetivo geral ........................................................................................... 20 1.3.1 Objetivos específicos .............................................................................. 20 1.4 Justificativa .............................................................................................. 20 1.5 Contextualização do ambiente de estágio ............................................... 21 1.6 Organização do trabalho ......................................................................... 22 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................. 23 2.1 Empreendedorismo ................................................................................. 23 2.1.1 Conceito ................................................................................................... 23 2.1.2 Escolas de empreendedorismo ............................................................... 30 2.1.3 Comportamento, atitude e perfil empreendedor ...................................... 31 2.1.4 Características empreendedoras ............................................................ 34 2.1.5 Competências empreendedoras .............................................................. 38 2.2 Empreendedorismo corporativo ............................................................... 46 2.3 Empresas empreendedoras .................................................................... 52 2.4 Empreendedorismonas organizações .................................................... 57 3 METODOLOGIA ...................................................................................... 66 3.1 Tipologia de pesquisa .............................................................................. 66 3.2 Sujeito do estudo ..................................................................................... 70 3.3 Instrumentos de pesquisa ........................................................................ 71 3.4 Análise e apresentação dos dados ......................................................... 72 4 ANÁLISE DOS DADOS ......................................................................... 73 4.1 Contextualização da empresa estudada ................................................. 74 4.1.1 Evolução histórica da Volvo do Brasil ...................................................... 74 4.1.2 Gestão, políticas e cultura da empresa ................................................... 80 4.2 Perfil intra-empreendedor dos gestores .................................................. 82 4.2.1 Perfil do empreendedor corporativo ........................................................ 82 18 4.2.2 Projeto inovador para a empresa ............................................................ 85 4.2.3 Intra-empreendedorismo ......................................................................... 87 4.3 Atitudes e competências necessárias para desenvolver o empreendedorismo corporativo ............................................................... 89 4.3.1 Atitudes empreendedoras ........................................................................ 89 4.3.2 Competências empreendedoras .............................................................. 97 4.4 Análise estratificada ................................................................................. 102 4.4.1 Coordenadores de Equipes Auto Gerenciável- EAG’s .......................... 102 4.5 Comparativo com as pesquisas análogas encontradas na literatura.................................................................................................... 103 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 105 5.1 Limitações ............................................................................................... 106 5.2 Sugestões para pesquisas futuras .......................................................... 106 REFERÊNCIAS ....................................................................................... 107 ANEXOS .................................................................................................. 119 APÊNDICES ............................................................................................ 125 19 1 INTRODUÇÃO Neste capítulo inicia-se uma breve introdução do tema e apresentação do problema a ser estudado, bem como os objetivos a serem alcançados e a justificativa da temática pesquisada. 1.1 Tema de estágio O estudo do empreendedorismo caracteriza-se como força motriz para a economia de países em desenvolvimento, no Brasil este partilha de um movimento de apoio, que começa a sair da esfera de instituições como o Sebrae e começa a abranger organizações não-governamentais, associações, iniciativa privada, instituições de ensino superior e mídia em geral (HASHIMOTO, 2006). Portanto, é oportuno que haja cada vez mais um estudo profundo a respeito do conceito de empreendedorismo, já que a maioria dos negócios criados no país são gerenciados por pequenos empresários que geralmente não possuem conceitos de gestão de negócios, fazendo-o muitas vezes sem planejamento ou de forma empírica (DORNELAS, 2001). Diante dessas premissas apresentadas, vale ressaltar o que apresenta Hisrich e Peters (2004, p.32) que “o papel do empreendedorismo no desenvolvimento econômico envolve mais do que apenas o aumento da produção e renda per capita, envolve iniciar e constituir mudanças na estrutura do negócio e da sociedade”. Em complemento a esse entendimento vale lembrar que existem milhares de pessoas que possuem este perfil empreendedor, que vão desde jovens até cidadãos mais idosos, que inauguram diversos negócios por conta própria onde agrega a liderança que conduz ao progresso e ao desenvolvimento econômico das nações (CHIAVENATO, 2004). Por sua vez, o estudo do empreendedorismo ganha diversas formas de estudo, como o caso do empreendedorismo corporativo; que embora possua todos os componentes, se aplica em uma organização já existente (DORNELAS, 2008). Há alguns mitos com relação ao empreendedor corporativo, que o ligam diretamente a alta administração, no entanto, diferentemente do que se pensa, todos podem ser 20 empreendedores corporativos por enfrentarem os problemas cotidianos de forma diferente (HASHIMOTO, 2006). 1.2 Problema de pesquisa Desta forma o presente estudo busca responder a seguinte pergunta de pesquisa: • Quais as competências necessárias para a concepção do empreendedorismo corporativo na Volvo do Brasil? 1.3 Objetivo Geral Analisar o processo do empreendedorismo corporativo na Volvo do Brasil. 1.3.1 Objetivos Específicos • Identificar o perfil de empreendedor corporativo dos gestores • Delimitar as atitudes e competências necessárias para desenvolver o empreendedorismo corporativo. • Analisar as competências para alavancar o empreendedorismo corporativo. 1.4 Justificativa Esta pesquisa se justifica pela atualidade e importância do tema à ciência da administração; uma vez que a criação de novos empreendimentos já vem sendo foco de estudo há muitos anos, o tema do empreendedorismo corporativo ganha destaque pelos resultados significativos que tem gerado em organizações de todos os segmentos (HASHIMOTO, 2006; DORNELAS, 2008). Não raro há casos de empresas que relatam seus programas de empreendedorismo corporativo e apresentam significativos resultados diante das problemáticas encontradas anteriormente ao programa (HASHIMOTO, 2006). Diante desta situação, desenvolve-se este estudo buscando analisar o processo de empreendedorismo corporativo na Volvo do Brasil, analisando seu 21 perfil, atitudes e competências empreendedoras; traçando assim as características deste grupo. A relação acadêmica do aluno com o cotidiano das organizações, aprendizagem do conteúdo teórico vivenciado durante o curso de administração e sua aplicação empírica nas organizações relacionada com a temática do empreendedorismo. 1.5 Contexto do ambiente de estagio A Volvo do Brasil é no mercado em que atual uma empresa de grande importância, dados os fatores tecnológicos empregados em seus produtos bem como pelo tempo no mercado. Para a região de Curitiba – PR a empresa ganha ainda mais importância devido ao grande número de empregos gerado na região, sobretudo pelo fato de ter contribuído ao longo de sua história para o desenvolvimento do setor de transporte da capital paranaense. O setor automotivo do Paraná é um dos que mais apresentam crescimento nos últimos anos no Estado, desde a década de 1990 o assim chamado pólo automotivo do Estado tem ganhado a adesão de grandes montadoras como Renault, Volks/Audio e Chrysler; mas sem dúvida o destaque ainda fica com a Volvo que está instalada na Cidade Industrial de Curitiba desde 1970. Os números demonstram que o setor tem crescido consideravelmente, num comparativo entre 1995 e 2003 o Estado passou da produção de 372 unidades para a significativa marca de 500 unidades. Com relação aos empregos, nesse mesmo período, o aumento chegou a 176,6%, passando de 8.827 empregados em 1995, para 24.413, em 2003 (MIGLIORINI, 2006). Na área de gestão de pessoas a empresa é referência para outras empresasdo mesmo porte e seguimento; presente por 06 anos consecutivos no Guia Você S/A como uma das 150 melhores empresas para se trabalhar, sendo que durante 04 vezes esteve entre as 10 melhores. Deste modo a escolha da Volvo do Brasil é significativa tendo em vista a grande referencia que está é para o setor em que atua e pela sua importância econômica para o Estado do Paraná. 22 1.6 Organização do trabalho A primeira parte do trabalho constitui-se da introdução e da contextualização, juntamente com o tema da pesquisa e a identificação dos objetivos a serem cumpridos, além da justificativa e a apresentação do ambiente pesquisado. O segundo capítulo refere-se ao embasamento teórico desta pesquisa, sendo dividido em quatro sub-capítulos que abordam o empreendedorismo (conceito, escolas, comportamento, atitude, perfil, características, competências), empreendedorismo corporativo, empresas empreendedoras e empreendedorismo nas organizações. O terceiro capítulo à metodologia apresentando os meios utilizados para a coleta, apresentação e caracterização da pesquisa, definindo o delineamento utilizado desencadeadas no processo. Por sua vez, o quarto capítulo apresenta os resultados da pesquisa feita pelo acadêmico através de uma pesquisa exploratória e dados primários, bem como análise dos dados e compreensões a respeito do tema pesquisado. O quinto capítulo configura as considerações finais feitas com relação ao estudo realizado, bem como uma análise dos objetivos propostos que foram alcançados no decorrer do trabalho. Finalmente são apresentadas as referências bibliográficas dos autores citados no trabalho, bem como anexos e apêndices que auxiliaram na realização desta pesquisa. 23 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Empreendedorismo 2.1.1 Conceito O termo empreendedorismo é uma tradução livre do termo inglês entrepreneurship, que contém idéias de iniciativa e inovação (DOLABELA, 2008), sendo o termo derivado da palavra francesa entrepreneur, que se resume em aquele que assume riscos e começa algo novo (CHIAVENATO, 2004). Vale lembrar que o empreendedorismo como ciência é entendido como o processo de criar algo novo dedicando o tempo e o esforço necessários e assumindo riscos que podem ser psíquicos, financeiros ou sociais, e recebendo as recompensas que podem ser satisfação ou a independência econômica e pessoal (HISRICH; PETERS, 2004). Algumas escolas de estudo de empreendedorismo colocam o empreendedorismo como algo totalmente pessoal, puxando todo o pensamento para o indivíduo como afirma Gerber (2004, p.15-16) onde “o empreendedor é o visionário em nós: o sonhador, a energia por trás de toda atividade humana, a imaginação que alimenta o fogo do futuro, o catalisador da mudança.” Neste mesmo pensamento verifica-se que os empreendedores são pessoas que perseguem o benefício, trabalham individual e coletivamente. Podem ser definidos como indivíduos que inovam, identificam e criam oportunidades de negócios, montam e coordenam novas combinações de recursos para extrair os melhores benefícios (LEZANA, 1999, apud RAMBO, 2006). Quando se busca uma definição sobre o empreendedor, sabe-se que ele é aquele que faz com que as coisas aconteçam, antecipando-se aos fatos e tem, em relação à organização, uma visão futura. Sabe-se que os empreendedores são pessoas diferentes, que tem uma motivação acima do comum e são apaixonadas pelo que fazem. Estes não se contentam em ser mais um na multidão, buscam ser reconhecidos, referenciados, querem deixar um legado (DORNELAS, 2001). Essa discussão se amplia quando são inserindo tópicos que são o epicentro das características a cerca do empreendedor, segundo Chiavenato (2004, p. 3) “o 24 empreendedor é a pessoa que inicia e/ou opera um negócio para realizar uma idéia ou projeto pessoal assumindo riscos e responsabilidades e inovando continuamente”, o autor ainda salienta que essa definição envolve não somente os fundadores das empresas, mas inseri os membros da segunda e terceira geração de empresas familiares, bem como os gerentes-proprietários que adquirem empresas já existentes. O empreendedor além de tais características é uma pessoa que destrói a ordem econômica, graças à introdução no mercado de produtos/serviços novos e pela criação de novas formas de gestão (SCHUMPETER, 1947). Desta forma há idéia de que a essência da inovação está no empreendedor e que desta forma as antigas maneiras de fazer negócio se tornam obsoletas. Deste modo, a idéia em sua essência corrobora com o exposto por Chiavenato (2004), embora Dornelas (2001) por sua vez afeiçoe-se mais a idéia de Schumpeter (1947), já que retoma a questão de paixão por um projeto pessoal. Levando em consideração e tomando por base as definições dos demais autores apresentados, pode-se agregar maior valor a tais pensamentos, tornando sua conceituação mais ampla e explicativa como define Oliveira (1995, p. 22) ao estabelecer que: Empreendedor é todo indivíduo que, estando na qualidade de principal tomador das decisões envolvidas, conseguiu formar um novo negócio ou desenvolver negócios já existentes, elevando substancialmente seu valor patrimonial, várias vezes acima da média esperada das empresas congêneres no mesmo período e no mesmo contexto sócio-político-econômico, tendo granjeado com isso alto prestígio perante a maioria das pessoas que conhecem essa empresa ou tem relacionamentos com ela. Um dos conceitos que mais engloba termos simples, mas ao mesmo tempo interpela os diversos conceitos e nomenclaturas de empreendedorismo, é apresentado por Dornelas (2003, p. 35), afirmando que empreendedorismo significa “fazer algo novo, diferente, mudar a situação atual e buscar, de forma incessante, novas oportunidades de negócios, tendo como foco a inovação e a criação de valor.”. Nesta mesma linha de pensamento, Leite (1998, p. 117) apresenta: O empreendedor é aquele que faz as coisas acontecerem, pois além de ser capaz de identificar oportunidades de mercado, possui uma aguçada sensibilidade financeira e de negócios, para transformar aquela idéia em um fato econômico em seu benefício. 25 Segundo o mesmo autor, ele tenta não só atender aos seus futuros clientes, como busca satisfazer as suas necessidades de realização profissional. Deste modo, verifica-se que não há necessidade do empreendedor de conhecer diversas áreas de conhecimento, mas precisa ser inovador e antever situações. Neste ponto uma definição bastante usada, por apresentar diversas características em torno do conceito de empreendedor é apresentada por Filion (1999a, p. 19), que apresenta: O empreendedor é uma pessoa criativa, marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos, e que mantém alto nível de consciência do ambiente em que vive, usando-a para detectar oportunidades de negócios. Um empreendedor que continua a aprender a respeito de possíveis oportunidades de negócios e a tomar decisões moderadamente arriscadas que objetivam a inovação, continuará a desempenhar um papel empreendedor [....]. Um empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões. Por sua vez Bhidé (2001, p.80) coloca que “para iniciar um negócio potencialmente bem-sucedido, não é fundamental contar com uma idéia criativa, no sentido de aparecer com algo novo. Muito mais importante é ter a capacidade de executar a idéia de outro”. O termo empreendedorismo e empreendedor, muito confundido com empresário ou até mesmo gestor, evolui ao longo do tempo, passando de uma pessoa que une meios de produção a fundadores de empresas, passando pela idéia de um agente que organiza a estrutura organizacional em diversos níveis; essa evolução tem como referencial teórico inicial Say (1816) como primeiro a usar ou referenciar um fenômeno ao tema. O quadro 01 apresenta algunsdos pensamentos sobre o tema ligando-o essencialmente ao empreendedorismo tradicional: de criação de empresas. Autores Definições de Empreendedorismo Say (1816) O agente que une todos os meios de produção e que encontra no valor dos produtos (...) o restabelecimento da totalidade do capital que ele emprega, e o valor dos salários, os juros e a renda que ser paga, como bem os lucros pertença a si mesmo. (p. 28-29) Lavington (1922) Em tempos modernos, o empresário assume muitas formas. Ele pode ser um homem de negócios privados, uma parceria, uma sociedade anônima, uma sociedade cooperativa, município ou órgão similar. (p. 19). Schumpeter (1934) (...) Empresarial, tal como definido, essencialmente, consiste em fazer coisas que geralmente não são feitas no decurso de operações de rotina do negócio, é, essencialmente, um fenômeno que vem sob o aspecto maior da liderança. (p. 254) 26 Autores Definições de Empreendedorismo Ely e Hess (1937) A pessoa ou grupo de pessoas que assumem a tarefa e a responsabilidade de combinar fatores de produção em uma organização empresarial e manter essa organização em funcionamento (...) ele comanda as forças industriais, e sobre ele recai a responsabilidade pelo seu sucesso do fracasso. (p. 113) Stauss (1944) Este trabalha em um argumento para avançar a proposição de que a empresa é o empresário. Cole (1959) (...) A atividade intencional (incluindo uma seqüência integrada de decisão) de um indivíduo ou grupo de indivíduos, comprometeu-se a iniciar, manter ou engrandecer um lucro unidade de negócio orientada para a produção ou distribuição de bens econômicos e serviços. (p. 7) McClelland (1961) (...) Alguém que exerça algum controle sobre os meios de produção e produz mais do que ele pode consumir a fim de vender (ou câmbio) para no indivíduo (ou família) de renda (...). Na prática, essas pessoas revelaram-se os comerciantes, artesãos independentes e os operadores de empresa (p. 65). Davids (1963) Fundadores de novas empresas (p. 3) Litzinger (1965) A distinção feita entre os empresários que são objetivos e ação orientada em contraste com os gestores que executam políticas e procedimentos para alcançar as metas (...). Os proprietários de mãe e motéis pop aparecem o tipo de empreendedor que investiram o seu capital próprio e operar um negócio (p. 268). Leibenstein (1968) Por espírito de rotina que entendemos as atividades envolvidas na coordenação e execução de um bem estabelecido preocupação, indo as que as partes da função de produção em uso (e as alternativas passíveis de uso atual) são bem conhecidos e que opera bem estabelecidos e claramente definidos mercados. Por empreendedorismo entendemos as atividades necessárias para criar ou continuar uma empresa que nem todos os mercados estão bem estabelecidos e claramente definidos e / ou em que as partes relevantes da função de produção não são totalmente conhecidas. (p. 73) Hartman (1969) A distinção entre empresário e empreendedor em termos de sua relação com a autoridade formal na organização industrial (...). O empresário pode justificar a sua autoridade formal de forma independente ou que possa descrevê-lo como delegada de outros, nomeadamente dos acionistas. Mas dentro da organização só ele é a fonte de toda autoridade formal. Gestão é definida residualmente como "não sendo a fonte de toda autoridade.". A fronteira entre o empresário e o gerente é, portanto, relativamente precisa. (p. 450-451). Wainer e Rubin (1969) O empresário em esquema de McClelland é "o homem que organiza a empresa (a unidade de negócio) e / ou aumenta a sua capacidade produtiva." (p. 178) Collins e Moore (1970) Distinguimos entre construtores organização que criam empresas novas e independentes e aqueles que desempenham funções dentro da organização empresariais já estabelecidos. Talvez estejamos, afinal, o pensamento do empresário na forma como Schumpeter visto por ele: "todo mundo é um empresário somente quando ele realmente" e perde esse caráter assim que ele construiu o seu negócio. (p.10) Hornaday e Bunker (1970) (...) O "empresário bem sucedido" era um indivíduo que tinha começado um negócio, construindo-se não útil anterior tinha sido bom, e continuando por um período de pelo menos 5 anos para o lucro atual estrutura de tomada (... ) com 15 ou mais empregados. (p. 50) Hornaday e Aboud (1971) O "empresário bem sucedido" foi definido como um homem ou uma mulher que começou um negócio que havia antes, que tinha pelo menos 8 funcionários e que tinha sido estabelecido há pelo menos 5 anos. Palmer (1971) (...) A função empresarial envolve principalmente de medição do risco e de risco que uma organização empresarial. Além disso, o empresário bem-sucedido é aquele indivíduo que pode interpretar corretamente a situação de risco e, em seguida, determinar as políticas que minimizem os riscos envolvidos (...). Assim, o indivíduo que possa medir corretamente a situação de risco, mas é incapaz de minimizar o risco, não seria definida como um empresário. (p. 38) Draheim, Howell (1972) Empreendedorismo - o ato de fundar uma nova sociedade onde não existia antes. Empresário é a pessoa e os empresários são o pequeno grupo de pessoas que são fundadores da nova empresa. O termo também é usado para indicar que os fundadores têm alguma participação acionária significativa no 27 Autores Definições de Empreendedorismo negócio (eles não são apenas os empregados) e que sua intenção é para que a empresa crescer e prosperar para além da fase de auto-emprego. (p. 1) Kirzner (1973) Empreendedorismo é a habilidade de se perceber novas oportunidades. O reconhecimento e aproveitamento da oportunidade levarão à tendência de correção do mercado e trazê-lo de volta ao equilíbrio. Liles (1974) Examinamos o empresário que está envolvido em empreendimentos substancial e de ter considerado que encontramos à luz do pensamento tradicional de que ele é um tipo especial de indivíduo - um homem de alguma maneira incomum e raro - um homem distante. Provavelmente é verdade que os empresários muito bem sucedidos se os homens separados. Mas, no início, quando tomam a decisão de iniciar uma carreira empresarial, são em muitos aspectos, muito parecido com muitos outros ambiciosos, lutando indivíduos. (p. 14). Brockhaus (1980) (...) Um empresário é definido como um grande proprietário e gestor de um negócio que não esteja em outro lugar. (p. 510) Hull, Bosley e Udell (1980) Uma pessoa que organiza e administra uma empresa de negócios assumindo o risco por causa do lucro. Para efeitos do presente, esta definição padrão irá ser alargada para incluir aqueles indivíduos que compram ou herdam uma empresa já existente com a intenção de (e esforço em direção a) expandir. (p. 11) Lachman (1980) O empreendedor é percebido como uma pessoa que usa uma nova combinação de fatores de produção para produzir a primeira marca em uma indústria. Cooper e Dunkelberg (1981) Este artigo relata sobre o que acreditamos ser o maior e variada amostra de empreendedores estudados até hoje. As conclusões são de um levantamento de 1805 proprietários-gerentes. Mescon e Montanari (1981) Os empresários são, por definição, os fundadores de novas empresas. Drucker (1985) Empreendedorismo é um ato de inovação que envolve prover recursos existentes com novas capacidades de produção de riquezas. Stevenson, Roberts e Grousbeck (1985) Empreendedorismo é perseguir uma oportunidade sem se preocupar com recursos atuais ou capacidades. Rumelt (1987) Empreendedorismo é a criação de novos negócios que não sejam exatamente a duplicação de negócios já existentes, mas que tenham algum elemento de novidade. Low e MacMillan (1988) Empreendedorismo é a criação de nova empresa. Quadro 01: Pensamento empreendedor de 1816 a 1988 Fonte: Adaptado Gartner (1989) e Grassi (2005). Outros autores, como Schrage (1965), Gould(1969), Durand (1975), Gomolka (1977), DeCarlo e Lyons (1979), Hisrich e O’Brien (1981), Thorne e Ball (1981), Welsch e Young (1982); também citados por Gartner (1989) abordam o tema empreendedorismo focando-o como empresário ou um criador de empresas, no entanto, eles abordam o tema baseando-se em características identificadas e não na definição propriamente dita. No entanto, é durante a década de 1990 a 2000 que a discussão do tema empreendedorismo ganha uma dimensão maior, e passa assim a ser estudado como um fenômeno em particular, mas substancialmente ligado as empresas. A 28 evolução do pensamento permite que se percebam diversos temas ligados ao assunto (quadro 02); num levantamento comparativo é possível se observar que a questão da inovação é o centro da discussão. Autores Definições de Empreendedorismo Stevenson e Jarillo (1990) Empreendedorismo é um processo pelo qual indivíduos – em sua própria empresa ou dentro de organizações – perseguem oportunidades sem considerar os recursos que controlam. Covin e Slevin (1991) Empreendedorismo é uma dimensão de postura estratégica de uma organização representada por assumir riscos, tendências e agir proativamente e com agressividade competitiva e confiar em inovação de produtos. Morris, Lewis e Sexton (1994) Empreendedorismo é uma atividade em processo que envolve uma série de inputs e que pode produzir diferentes resultados (outputs). Lumpkin e Dess (1996) Empreendedorismo tem relação com novos negócios, no que consiste o empreendedor. Timmons (1997) Empreendedorismo é um modo de pensar, raciocinar e agir que é obcecado pela oportunidade, de abordagem holística e liderança equilibrada. Venkataraman (1997) A pesquisa do empreendedorismo procura compreender como as oportunidades que criam a existência de futuros produtos e serviços são descobertas, criadas e exploradas por quem e com quais conseqüências. Morris (1998) Empreendedorismo é o processo através do qual indivíduos e equipes criam valor reunindo entradas de recursos de pacotes únicos para explorar oportunidades no ambiente. Filion (1999) Empreendedorismo envolve o estudo dos empreendedores, examina suas atividades, características, efeitos sociais e econômicos e os métodos de suporte usados para facilitar a expressão da atividade empreendedora. Sharma e Chrisman (1999) Empreendedorismo inclui atos de criação organizacional, renovação ou inovação que ocorrem dentro ou fora da organização existente. Shane e Venkataraman (2000) Empreendedorismo é o processo de descoberta, evolução e exploração de oportunidades. Quadro 02: Definições de empreendedorismo da década de 1990 a 2000. Fonte: Adaptado Grassi (2005) e Martens (2009). Verifica-se que o termo empreendedorismo ganha mais sentido científico já que não mais se explica o empreendedorismo tendo por base o entendimento do empresário, mas se constituem entendimentos embasados em um escopo de estudo pelo qual cientificamente o empreendedorismo ganha sentido de estudo e permite assim a análise de fenômenos organizacionais para explicar a ação empreendedora, constituindo assim a definição da terminologia. Após verificar-se a evolução do entendimento e da discussão do tema, pode- se perceber que as idéias de Oliveira (1995) são pertinentes a essa discussão, não só porque apresentam uma definição de empreendedorismo mais ampla, mas por 29 explicar as idéias apresentadas, visto que expressa que o empreendedor se sobressai por atingir resultados positivos ou acima da média quando ninguém espera que isso seja possível; mesmo e independentemente deste romper a ordem econômica vigente ou ser um projeto de cunho pessoal. Em consonância com os autores anteriores, Gerber (2004) apresenta uma idéia mais romântica do empreendedor, buscando ressaltar os demais conceitos outrora apresentados, mas aprimorando a idéia de paixão e inovação pessoal na ação empreendedora. Por sua vez, Filion (1999a) abrange diversos pontos da discussão de empreendedorismo colocando em alta a criatividade e o atingir objetivos, que outros autores raramente apresentam como substanciais ao tema, já a questão de detectar oportunidades e o risco corrobora com as idéias apresentadas pela maioria dos autores citados. Embora alguns pensamentos vão contra algumas questões apresentadas por Filion (1999a), estes são pertinentes a essa discussão, pois ao definir o empreendedor, é fundamental saber quais são as ações e as características mais coerentes com o seu papel social e econômico; na idéia de Bhidé (2001) ocorre na verdade uma inversão de prioridades ao empreendedor, já que Filion (1999a) enfatiza com maior grau de importância o ser criativo. Em resumo os autores colocam que mais do que ser criativo, para ser um empreendedor de sucesso é necessário compreender e saber executar as idéias da organização transformando- as em objetivos a ser alcançado, fato que visto deste ponto corrobora com a maioria dos autores conhecidos na literatura de empreendedorismo. Na literatura existente de empreendedorismo, diversos autores realizaram diversas contribuições em relação aos principais temas relacionados a empreendedorismo, um resumo é apresentado no quadro 03. Tema Autor Contribuição Teoria do Empreendedorismo Cunningham e Lischeron (1991) Seleção de abordagens para descrever empreendedores Carland, Hoy, Boulton e Carland (1984), Low e MacMillan (1988) e Gartner (1990) Estudos de personalidade, traços, qualificação e experiência. Chell, Haworth e Brearley (1991), Gartner, Brid e Starr (1992) e Lumpkin e Dess (1996) Aspectos comportamentais Minamala (1992), Palich e Bagby (1995), Baron (1998), Barney (1997), Tversky e Kaheneman (1974), e Stevenson e Gumpert (1985) Processo cognitivo e decisório Westhead e Wright (1998 a), Wright, Classificação e 30 Tema Autor Contribuição Tipos de Empreendedorismo Westhead e Soul (1998), Delmar e Davidsson (2000), Reynolds (1997) e Kolvereid (1998) aprofundamento dos tipos: nascente, novato, serial e de portfólio. Kamm e Shuman (1990), Fiet Busenitz, Moesel e Barney (1997), Wright e Coyne (1985), Baruch e Gebbie (1998), Ensley, Carland, Banks (1999) e Birley e Stockley (2000) Times empreendedores Dyer (1994), Cooper e Woo (1997) e McGrath (1999) Empreendedores de carreira Quadro 03: Principais autores e contribuições por tema do empreendedorismo. Fonte: Adaptado de Seiffert (2005). 2.1.2 Escolas de Empreendedorismo Diversas ciências vêm se interessando pelo empreendedorismo e trazendo suas próprias contribuições para o assunto. Desta forma as escolas de empreendedorismo surgem e se posicionam sob diferentes perspectivas de estudo. As escolas de empreendedorismo e suas características são apresentadas no Quadro 04 sob a classificação de Cunningham e Lischeron (1991, apud HASHIMOTO, 2006). Escola Características Escola Bibliográfica Estuda a história de vida de grandes empreendedores, mostrando que os traços empreendedores são inatos e não podem ser desenvolvidos. É a intuição que diferencia os empreendedores das demais pessoas, sobretudo o seu “sexto sentido” para identificar e aproveitar uma oportunidade. A pessoa simplesmente nasce empreendedora. Escola Psicológica Estuda as características comportamentais e de personalidade dos empreendedores. Nesta escola assume-se que o empreendedor desenvolve uma série de atitudes, crenças e valores que moldam sua personalidade em torno de três áreas de atenção: valores pessoais, como honestidade, comprometimento, responsabilidade e ética; propensão ao risco e necessidade de realização. Escola Clássica Tem como principal característica a inovação. Ela crê que o empreendedor é aquele que “cria” algo, e não que simplesmente o “possui”. Descoberta, inovação, criatividade são os temas de estudo desta escola.A base desta linha de estudos é o trabalho do economista Joseph Schumpeter. Escola da Administração Sugere que o empreendedor é uma pessoa que organiza e administra um negócio, assume os riscos de prejuízo e o lucro inerentes a ele, planejando, supervisionando, controlando e direcionando o empreendimento e estruturação de idéias nasce desta escola. Escola da Liderança Mostra que o empreendedor é um líder que mobiliza as pessoas em torno de objetivos e propósitos. Esta escola parte do pressuposto que nenhum empreendedor obtém resultados sozinho. É preciso, acima de tudo, que ele saiba montar sua equipe, motivá-la e desenvolvê-la para construir coisas em conjunto. Diz que as habilidades empreendedoras podem ser úteis em organizações complexas, para ações de foco bastante específico, como 31 Escola Características Escola Corporativa abrir um mercado, expandir serviços ou desenvolver produto. Seu foco de estudo é a organização e o seu desenvolvimento. Ela ganhou relevância a partir da necessidade e das dificuldades das organizações em desenvolver os empreendedores internos ou o clima empreendedor. Quadro 04: Escolas de pensamento de empreendedorismo. Fonte: Adaptado de Hashimoto (2006). Em comparativo a essa classificação, há outra classificação que apresenta três linhas: a primeira é formada por economistas, a segunda é constituída por psicólogos e sociólogos, e a terceira é estabelecida por administradores e busca conhecer suas habilidades gerenciais Stevenson e Jarilo (1990 apud HASHIMOTO, 2006). Baseado nos estudos de Filion (1999a) pode-se construir uma estrutura a respeito das escolas do empreendedorismo, verificando assim suas diferentes abordagens (LENZI, 2008). O quadro 05 apresenta as diversas abordagens. Escola Pensamento Escola Econômica Os empreendedores eram considerados como pessoas que corriam riscos, basicamente porque investiam o próprio dinheiro, aproveitavam oportunidades com perspectivas de lucro e assumiam os riscos inerentes (CANTILION. SAY apud FILION, 1999). Escola Comportamentalista Centram seus estudos nos aspectos criativos e intuitivos. Enquanto alguns autores afirmam que a necessidade de auto-realização é insuficiente para a explicação dos novos empreendimentos, outros acreditam que é suficiente. A pesquisa de Timmons (1977) demonstrou que pessoas que participavam de treinamentos para melhorar sua necessidade de realização, avançavam na direção de abrir seus negócios. Escola Fisiológica Considera o empreendedorismo como produto da natureza das pessoas que empreendem e não das condições ambientais. Escola Positivo Funcional O empreendedor como agente de mudança e iniciação de novos empreendimentos adaptados em seu contexto e evoluindo com as mudanças de seu meio. Escola do Mapeamento O empreendedor é estudado em função da visão e formulação de sua estratégia. Quadro 05: As Abordagens das escolas do empreendedorismo. Fonte: Adaptado de Lenzi (2008). 2.1.3 Comportamento, atitude e perfil empreendedor A discussão do termo empreendedorismo levanta uma série de fatores que podem ser unificados e compreendidos como parte do comportamento do empreendedor, como apresenta a figura 01, a seguir. 32 Figura 01: Ciclo do comportamento empreendedor. Fonte: David (2004, p. 32). O comportamento do empreendedor é na verdade a sua busca incessante de satisfação, ou seja, aquilo que realmente motiva para que ele desenvolva o empreendimento (DAVID, 2004). Segundo a mesma autora, é necessário se conhecer as habilidades empreendedoras que consistem em ter a facilidade para empregar as capacidades físicas e intelectuais. Segundo estudos realizados por Gibb (1988), Pati (1995), Filion (1999a), Dornelas (2001) e Leite (2002) as habilidades freqüentemente encontradas nos empreendedores são a capacidade de aprendizagem; negociação; identificação de novas oportunidades; orientação para resultados; mover-se por metas especificas; habilidade para pesquisar; capacidade de assumir riscos; flexibilidade; comunicação persuasiva; conhecimento de como lidar, conseguir, dar e receber crédito; senso de organização; habilidade para conduzir situações; capacidade gerencial; criar valor para a sociedade; disposição de trabalho; e a habilidade na utilização de recursos. Essas habilidades permitem criar uma base que permeia o entendimento do comportamento, e posteriormente das características empreendedoras (DAVID, 2004). A importância do estudo do comportamento e das habilidades do empreendedor é evidenciada quando se entende diversas partes do pensamento do escopo de sua conceituação, como na definição apresentada por Adizes (2004, p. 17), que apresenta 33 O empreendedor que funda uma empresa tendo em vista necessidades que não foram ainda satisfeitas ou expressas é um empreendedor voltado para os produtos e não para o mercado. Ele está comprometido com um produto que deverá satisfazer uma necessidade, mas uma necessidade difícil de ser colocada em palavras. Esse empreendedor não está reagindo a uma necessidade do mercado; pelo contrário, ele procura educar e modificar o comportamento do mercado. Num certo sentido, é ele quem expressa essa necessidade com suas ações. Na verdade, ele é mais um profeta empresarial do que um entrepreneur comercial. E, como outros profetas, ele poderá ser crucificado, já que a estrutura de poder irá rejeitá-lo inicialmente. Ninguém compreende a sua mensagem, pois até o produto dar certo ninguém mais compreende a necessidade. Segundo essa concepção verifica-se que as ações e o compromisso de um empreendedor podem ter caminhos diferentes, o que pode apresentar que nem sempre o comportamento do empreendedor esta atrelado a sua habilidade; deste modo entende-se que mais do que verificar comportamentos ou habilidades é preciso avaliar a junção de ambas para que se possa formar a ação para qual o empreendedor se orienta. Só assim, o empreendedor deixa de ser visto como profeta, mas passa a ser entendido como protagonista de uma atitude conjunta entre suas ações e sua habilidade, comportamento e características empreendedoras. Quando se fala em observar a forma de agir dos empreendedores, com o intuito de descrever suas características para assim compreendê-las é fundamental se ter em mente o que Drucker (apud PANTZIER, 1999, p. 25) “o empreendedor não se caracteriza por traços de personalidade e sim pelo comportamento diante das situações e, portanto, qualquer um pode aprender a agir de forma empreendedora”. Com base nessa idéia deve-se estudar e conhecer as características de comportamento do empreendedor bem como seu perfil para que se possam criar mecanismos para formar e aprimorar empreendedores. Como forma de buscar definir o papel do empreendedor, sabe-se que o empreendedor se trata de um indivíduo com iniciativa, que é agressivo para negócios, sabe encontrar e identificar as oportunidades, não tem por gosto ser empregado, dinâmico e inquieto. Pode-se afirmar que ele é o próprio negócio. Adora fazer – e faz – tudo sozinho, e tem, enfim, uma vocação doentia de se envolver em todos os detalhes de sua incipiente organização. Geralmente é alguém dotado de muitas idéias, vocação para o risco, porém, excitados em administrar seus próprios destinos (LEVI-STRAUSS apud OLIVEIRA, 1995). 34 Existe uma clara diferença entre comportamento e atitude, segundo Rodrigues (1972, p. 402): Atitudes envolvem o que as pessoas pensam, sentem, e como elas gostariam de se comportar em relação a um objeto atitudinal. O comportamento não é apenas determinado pelo que as pessoas gostariam, mas, também, pelo que elas pensam que devem fazer, isto é, normas sociais; pelo que elas, geralmente, tem feito isto é, hábito, e pelas conseqüências esperadas de seu comportamento. Os estudos de Lopez Jr e Souza (2005) apresentam como resultadoum conjunto de atitudes empreendedoras, sendo: voltadas a conclusão de tarefas, mesmo que exijam sacrifício pessoal; confiança na competência, isso como fonte de sucesso no negócio; busca de novas soluções para atender os clientes, e responsabilidade em cumprir prazos, podem ser associados ao tipo de trabalho efetuado. Segundo o mesmo estudo, a atitude empreendedora pode ser categorizada em dois compostos: prospecção e inovação, e gestão e persistência. 2.1.4 Características Empreendedoras As características empreendedoras são foco de estudo de diversas escolas, nesta linha Azevedo (1992) investigou diversas características da personalidade de empreendedores, e concluiu que a maioria possui o seguinte perfil: capacidade de assumir riscos; habilidade para identificar oportunidades; senso de organização; disposição para tomar decisões; liderança; conhecimento e tino empresarial; talento para empreender; independência pessoal; otimismo (LENZI, RODRIGUES, ALMEIDA, 2003). Um levantamento, que mistura características e padrões dos empreendedores, é apresentado por Pinotti (2009), onde amparado nos estudos de Aidar (2007) Greenhaus, Callanan e Godshalk (2000) e Veciana (2005) constrói um modelo que elenca sete características, como apresenta o quadro 06 a seguir. Característica Descrição Sentem-se confortáveis em quebrar regras A idéia de ser um empreendedor esta exatamente no fato de oferecer novos produtos ou serviços, de entrar em novos mercados, ou seja, de estar aberto a inovação e, portanto, sempre disposto de romper o status quo. Tolerância a ambigüidade e tomador de riscos Habilidade de aceitar e negociar sobre situações conflitantes e incertas. Propensão a tomar riscos a fim de se atingir as metas estabelecidas; no entanto, o empreendedor pode também não ser somente um tomador de risco, mas tornar-se “cego” a ele devido 35 Característica Descrição ao excessivo foco no objetivo final. Apresentam necessidades e satisfação em atingir metas Ainda que esta seja uma característica presente em muitas outras profissões, ela possui grande influencia na decisão dos indivíduos em se tornar um empreendedor. Estão preparados para fazer inimigos poderosos Para romper o status quo e criar inovações, é necessária coragem de ir contra opiniões diversas. Outro ponto é que à medida que o negócio cresça, torna-se inevitável o confronto de interesses com grupos maiores. Sabem tomar decisões e fazer acordos As decisões de um empreendedor resultam diretamente sobre o sucesso ou a falência de novo negócio, principalmente quando ainda está em estágio inicial e se trata de um pequeno negócio sem grandes recursos. Deste modo, o empreendedor deve estar apto a tomar decisões ágeis e efetivas, sem ter medo e sabendo negociar sempre que necessário. Apresentam senso de controle interno São indivíduos que acreditam que podem controlar largamente seu destino e o ambiente em que encontram, ou seja, de que podem trilhar seus caminhos de acordo com sua vontade e empenho. Apresentam ainda um forte senso de insatisfação, o que se transforma em fonte para ações. Apresentam disposição para mudar a estratégia rapidamente Empreendedores devem estar aptos a reconhecer oportunidades de negócios e tendências, assim que devem estar dispostos a mudar rapidamente de rumo e reposicionar o negócio quando necessário. Quadro 06: Características e Padrões de Empreendedorismo compilados por Pinotti. Fonte: Pinotti (2009, p. 21). Ao longo do estudo do empreendedorismo diversos autores apresentaram suas contribuições quanto às características empreendedoras, que outrora se firmaram com o que hoje é conhecido de características empreendedoras. Essas diferentes abordagens sobre empreendedorismo é apresentado no Quadro 07. Autor/ Ano Características Mill (1848) Tolerância ao risco. Schumpeter (1934) Inovação, iniciativa. Buscar oportunidades, correr riscos, liderança, necessidade de realização, proatividade. Sutton (1954) Busca de responsabilidade. McClelland (1961) Tomador de risco e necessidade de realização. Buscar oportunidades, criatividade, iniciativa, inovação, liderança, proatividade. Davids (1963) Ambição, desejo de independência, responsabilidade e autoconfiança. Pickle (1964) Relacionamento humano, habilidade de comunicação, conhecimento técnico. Hornaday e Aboud (1971) Necessidade de realização, autonomia, agressão, poder, reconhecimento, inovação, independência. Winter (1973) Necessidade de poder. Liles (1974) Necessidade de realização. Gasse (1977) Orientado por valores pessoais. Timmons (1978) Autoconfiança, orientado por metas, tomador de riscos moderados, centro de controle, criatividade, inovação. 36 Autor/ Ano Características Welsh e White (1981) Necessidade de controle, buscador de responsabilidade, autoconfiança, corredor de riscos moderados. Dunkelberg e Cooper (1982) Orientado ao crescimento, profissionalização e independência. Filion Buscar oportunidades, correr riscos, criatividade, iniciativa, inovação, liderança, proatividade, visionaridade. Weber Inovação e liderança, origem da autoridade formal McDonald Buscar oportunidades, correr riscos, inovação, liderança. Degen Buscar oportunidades, conhecimento do mercado, conhecimento do produto, correr riscos, criatividade, inovação. Drucker Buscar oportunidades, conhecimento do mercado, conhecimento do produto, correr riscos, inovação, liderança. Lalkala Conhecimento do mercado, conhecimento do produto, criatividade, inovação. Dutra Buscar oportunidades, criatividade, iniciativa, inovação, visionaridade. Barros e Prates Criatividade, inovação. Mintzberg Buscar oportunidades, correr riscos, inovação, liderança, necessidade de realização, visionaridade. Ângelo Buscar oportunidades, conhecimento do mercado, conhecimento do produto, correr riscos, criatividade, inovação. Logenecker et al.. Buscar oportunidades, inovação. Leite Buscar oportunidades, conhecimento do mercado, conhecimento do produto, correr riscos, criatividade, iniciativa, inovação, visionaridade. Carland et al. Correr riscos, criatividade, inovação, necessidade de realização, proatividade. Frese et al. Iniciativa, inovação, necessidade de realização, proatividade, visionaridade. Hartman (1959) Busca de autoridade formal. Palmer (1971) Avaliador de riscos Borland (1974) Controle interno Sexton (1980) Energético, ambicioso, revés positivo Smith e Miner (1981) Motivação Gerencial Gartner (1985) Visão configuracional (pessoas, ambiente, organização e processo) McClelland (1989) Proatividade, orientação para a realização, comprometimento Quadro 07: Diferentes abordagens de empreendedorismo. Fonte: Adaptado Lenzi, Dutra e Santos (2006), Souza (2005), Debastiani (2003), Andrade (2008). Em um levantamento bibliográfico Souza (2005) apresenta uma matriz, conceituando a expressiva variedade de características, onde algumas são citadas por poucos e outras por muitos autores; como resultado o item mais preponderante foi inovação, seguido por busca de oportunidades e correr riscos. 37 No estudo apresentado por Schmidt e Bohnenberger (2009), procurou-se ampliar a base conceitual sobre o perfil empreendedor, por meio das diversas definições encontradas na literatura. A partir dessas definições, foram extraídas características atitudinais comuns, que são: líder, inovador, sociável, persistente, detecta oportunidades, planejador, assume riscos calculados, e auto-eficaz. Essas características são as que mais se assemelham ao modelo utilizado pelo SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio as Empresas) no programa chamado EMPRETEC que define as diversas características presentes em empresários bem sucedidos, como apresenta Pantzier (1999, p. 31) no Quadro 08. Características Modo de manifestação Busca de Oportunidade e Iniciativa Capacidadede se antecipar aos fatos e de criar novas oportunidades de negócios, desenvolver novos produtos e serviços, propor soluções inovadoras; Correr Riscos Calculados Disposição de assumir desafios ou riscos moderados e responder pessoalmente por eles; Exigência de Qualidade e Eficiência Decisão de fazer sempre mais e melhor, buscando satisfazer ou superar as expectativas de prazos e padrões de qualidade; Comprometimento Faz sacrifício pessoal ou despende esforço extraordinário para completar uma tarefa. Colabora com os subordinados e até mesmo assume o lugar deles para terminar um trabalho. Esmera-se para manter os clientes satisfeitos e coloca a boa vontade a longo prazo acima do lucro a curto prazo; Busca de Informações Busca pessoalmente obter informações sobre clientes, fornecedores ou concorrentes. Investiga pessoalmente como fabricar um produto ou prestar um serviço. Consulta especialistas para obter assessoria técnica ou comercial; Planejamento e Monitoramento Sistemáticos Planeja dividindo tarefas de grande porte em sub-tarefas com prazos definidos. Revisa constantemente seus planos, considerando resultados obtidos e mudanças circunstanciais. Mantém registros financeiros e os utiliza para tomar decisões; Persuasão e Rede de Contatos Utiliza estratégias para influenciar ou persuadir os outros. Utiliza pessoas chave como agentes para atingir seus objetivos. Atua para desenvolver e manter relações comerciais; Independência e Autoconfiança Busca autonomia em relação a normas e procedimentos. Mantém seus pontos de vista mesmo diante da oposição ou de resultados desanimadores. Expressa confiança na sua própria capacidade de completar tarefa difícil ou de enfrentar desafios. Quadro 08: Características presentes em empresários bem sucedidos. Fonte: Adaptado de Pantzier (1999). Diante dos diversos conceitos apresentados, que visam expressar o conceito de empreendedor por meio de características típicas de seu cotidiano, Inácio Junior (2002, p. 41) apresenta que: Muitas das características salientadas nestes conceitos encontram sua fundamentação no trabalho original de McClelland, que identificou o papel histórico do modelo de influência dos heróis sobre 38 as gerações subseqüentes, que por sua vez, induzia uma alta necessidade de realização sobre a população de gerações subseqüentes. 2.1.5 Competências Empreendedoras As competências empreendedoras estão atreladas as características, porém seu estudo permite entender que elas implicam em saber agir de maneira responsável, além disso, implica integrar, transferir conhecimentos, mobilizar e habilidades que possam de alguma forma incorporar valor econômico à empresa (FLEURY e FLEURY, 2000). A gestão de pessoas permite que se configurem algumas características tanto para a empresa quanto para os indivíduos sobre a utilização de competências; essas características permitem entender a importância do seu estudo no empreendedorismo; as características são apresentadas no quadro 09. Para a Organização • Simplicidade flexibilidade e transparência. • Otimização de recursos e da massa salarial. • Direcionamento e otimização dos investimentos no desenvolvimento profissional. • Capacidade de atração, retenção e potencialização de talentos. • Flexibilidade do modo do trabalho e tecnologia. • Equilíbrio entre remuneração e agregação de valor. Para as Pessoas • Horizontes profissionais claros com critérios de acesso definidos. • Remuneração compatível com a complexidade das atribuições e das responsabilidades e com o mercado. • Estimulo ao auto-desenvolvimento e à ampliação do espaço de atuação. • Condições claras e objetivas para a mobilização entre as carreiras abrangidas pelo modelo. Quadro 09: Características das competências para a gestão de pessoas. Fonte: Dutra (2001). Deste modo é possível perceber uma série de características em que as competências permitem uma abertura maior nas empresas o que de certa forma se integra ao empreendedorismo no seu escopo corporativo, incentivando-se o empreendedorismo dentro da estrutura organizacional. A visão da ligação tênue entre competências e características empreendedoras pode ser visualizado quando se compara as competências no eixo profissional e gerencial, como apresenta a figura 02. 39 Figura 02: Exemplo de estrutura de carreira e de competências. Fonte: Dutra (2001). Quando a competência é observada sobre o olhar do pilares profissionais, pode-se entender o porquê que seu estudo está tão atrelado ao do empreendedorismo, isso porque ao se entender as estruturas do eixo profissional e gerencial do modelo de Dutra (2001) é possível criar estruturas para se estimular o empreendedorismo corporativo por meio de competências; o entendimento COMPETÊNCIAS gerencias COMPETÊNCIAS dos eixos profissionais Suporte ao negócio Tecnológico Mercadológico • Liderança e criatividade • Organização estratégica e planejamento • Gestão integrada de processos, recursos e prazos • Negociação – interação com ambiente • Tomada de decisão • Gestão de recursos e prazos e organização • Planejamento • Tomada de decisão • Gestão do conhecimento • Condução e aprimoramento de processos e projetos Interação com ambiente/ orientação ao cliente e negociação Interação e negociação internas Relacionamento externo 40 aprofundado desta questão é possível quando se verifica a definição de Spencer e Spencer (1993, p. 9) sobre competências: [...] uma característica marcante de um indivíduo que está relacionada causalmente a um critério - referência e / ou a um desempenho superior em uma situação de trabalho. Característica marcante significa que a competência é uma parte bastante profunda e permanente da personalidade de uma pessoa e pode predizer o comportamento em uma ampla variedade de situações e tarefas de trabalho. Causalmente relacionada significa que a competência causa ou prevê um comportamento ou desempenho. Critério – referência significa que a competência prevê quem faz alguma coisa bem ou mal, a partir da comparação com um critério específico ou padrão. Certamente as competências deixam de ser um estoque de conhecimentos teóricos e empíricos do indivíduo; mas sem dúvida diz respeito à ação de colocar em prática o conhecimento em uma determinada situação (FLEURY e FLEURY, 2004); além de utilizar as capacidades de transferência de aprendizagem e adaptação diante de um novo cenário (PARDINI, 2005), neste sentido o especialista competente seria aquele em que consegue reconhecer a particular habilidade em determinado campo de conhecimento, o que marca a ruptura entre aquele que a detém e os que não a possuem ou a têm de forma incompleta (LUZ, 2003). No caso das competências do empreendedor o destaque centra-se na capacidade de visualizar o ambiente que antecede e ampara o processo de decisão (PARDINI, BRANDÃO, SOUKI, 2008); isso fica claro quando se observa a presença do planejamento e da tomada de decisão no eixo de competência apresentado por Dutra (2001). No que diz respeito essencialmente as competências empreendedoras o quadro 10 configura o estudo de Dolabella (1999) que apresenta as atividades, características, competências e aprendizagens necessárias para o sucesso dos empreendedores. Atividades Características Competências Aprendizagem Descoberta de oportunidades. Faro, intuição. Pragmatismo, bom senso, capacidade de reconhecer o que é útil e dá resultados. Análise setorial. Conhecer as características do setor, os clientes e o concorrente líder. Concepção de visões. Imaginação, independência, paixão. Concepção, pensamento sistemático. Avaliação de todos os recursos necessários e dos respectivos custos. 41 AtividadesCaracterísticas Competências Aprendizagem Tomada de decisões. Julgamento, Prudência. Visão. Obter informações, saber minimizar o risco. Realização de visões. Diligência (saber “se virar”), constância (tenacidade). Ação. Saber obter informações para realizar ajustes contínuos, retroalimentação. Utilização de equipamentos (principalmente de tecnologia de informação). Destreza. Polivalência (no começo, o empreendedor faz de tudo). Técnica. Compras. Acuidade. Negociação. Saber conter-se nos próprios limites, conhecer profundamente o tema e ter flexibilidade para que todos ganhem. Diagnóstico do setor. Pesquisa de compras. Projeto e colocação do produto/serviço no mercado. Diferenciação, originalidade. Coordenação de múltiplas atividades: hábitos de consumo dos clientes, publicidade, promoção. Marketing, gestão. Vendas. Flexibilidade para ajustar-se aos clientes e circunstâncias, buscar feedback. Adaptação às pessoas e circunstâncias. Conhecimento do cliente. Formação de equipes e conselheiros. Ser previdente, projeção em longo prazo. Saber construir redes de relações internas e externas. Gestão de recursos humanos, saber compartilhar. Delegação de tarefas. Comunicação, capacidade de aprender. Delegação. Saber dizer o que deve ser feito e por quem; saber acompanhar, obter informações. Gestão de operações. Quadro 10: As atividades, características, competências e aprendizagem dos empreendedores. Fonte: Dolabella (1999). 42 Deste modo “as competências são demonstradas por comportamentos observáveis condicionantes da capacidade pessoal de realizar ações estratégicas de expansão empresarial” (MELLO, LEÃO, PAIVA JUNIOR, 2006, p. 49); isso fica mais expressivo quando analisado pelo ponto de vista da educação corporativa, conforme a figura 03. Figura 03: Integração das esferas de educação corporativa por meio das competências. Fonte: Eboli (2001). Quando se verifica o lado do indivíduo, o autoconhecimento e a maturidade são estágios que permitem a internalização do sentido de aprendizagem e de desenvolvimento (EBOLI, 2001), já no contexto central há a decorrência do resultado de uma ou mais visões emergentes, que pode ser originada de uma visualização externa e outras internas (PARDINI, BRANDÃO, SOUKI, 2008); deste modo pode-se perceber que os empreendedores têm visões, que demandam tempo, comprometimento e imaginação sobre o objetivo e os caminhos necessários para realizá-lo (FILION, 1999a). O que ocorre de forma diferente nos gerentes e executivos tradicionais, que normalmente utilizam habilidades administrativas para VISÃO, MISSÃO, ESTRATÉGIAS COMPETÊNCIAS EMPRESARIAIS RESULTADOS DO NEGÓCIO OBJETIVOS E SONHOS INDIVIDUAIS COMPETÊNCIAS HUMANAS PERFORMANCE INDIVIDUAL DIRECIONAMENTO ATUAÇÃO MÉTRICA COMPETÊNCIA RESULTADO CULTURA GESTÃO DE PESSOAS PARA COMPETITIVIDADE 43 atingir metas a partir dos recursos disponíveis na estrutura organizacional (FILION, 1999b). Por sua vez a pesquisa de Spencer e Spencer em 1983 em diferentes países (Equador, Malawi e Índia) resultou em um modelo de competência com as diversas características apresentadas no quadro 11 e que permitem entender melhor a relação de competências empreendedoras. I. REALIZAÇÃO • Iniciativa • Vê e aproveita oportunidades • Persistência • Busca de Informações • Interesse pela Alta Qualidade do Trabalho • Comprometimento com Contratos de Trabalho • Orientação para a Eficiência II. PENSAMENTO E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS • Planejamento Sistemático • Solução de problemas III. MATURIDADE PESSOAL • Autoconfiança. • Perícia (Expertise) • Reconhece suas próprias limitações IV. INFLUÊNCIA • Persuasão • Uso de estratégias de influência V. DIREÇÃO E CONTROLE • Assertividade. • Monitoramento. VI. ORIENTAÇÃO PARA OS OUTROS • Credibilidade, Integridade e Sinceridade • Preocupação com o bem-estar dos empregados • Reconhecimento da Importância de Relacionamentos Comerciais • Providencia Treinamento para os Empregados VII. COMPETÊNCIAS ADICIONAIS • Formação de capital (apenas em Malawi) • Preocupa-se com a Imagem dos Produtos e Serviços (apenas no Equador). Quadro 11: Modelo de competências de Spencer e Spencer. Fonte: Spencer e Spencer (1993). Por meio da comparação entre o modelo de competências de Spencer e Spencer (quadro 11) e as características presentes em empresários bem sucedidos (quadro 08) é possível perceber como um indivíduo que possui suas competências individuais bem definidas pode facilmente utilizá-las para o campo empreendedor. Mas, é importante ressaltar que não basta tão somente ter suas competências individuais bem definidas, é necessário sobre tudo que exista um trabalho eficaz das competências da organização onde ele está inserido. Deste modo, as competências empreendedoras necessitam ter um foco bem definido para os resultados por parte do profissional em prol da empresa (LENZI, 2008). Uma importante base conceitual para a discussão do empreendedorismo corporativo é apresentada na pesquisa de Spencer e Spencer (1993) e Cooley (1990), para tal Lenzi (2008) destaca as principais competências evidenciadas pela literatura e correlaciona aos referidos estudos, como apresenta o quadro 12. 44 Autor Principais competências Competências empreendedoras Spencer e Spencer (1993) e Cooley (1990) Mill (1848) Tolerância ao risco Correr riscos calculados, busca de informações Weber (1917) Origem da autoridade formal --- Schumpeter (1928, 1934, 1942, 1949, 1967, 1982) Inovação, iniciativa, sonho, criatividade, energia, realização pessoal, poder, mudança Busca de oportunidade e iniciativa, persistência, comprometimento, persuasão e rede de contatos, independência e autoconfiança Sutton (1954) Busca de responsabilidade Comprometimento Hartman (1954) Busca de autoridade formal ---- McClelland (1961, 1971, 1973) Tomador de risco, necessidade de realização, necessidade de afiliação Busca de oportunidade e iniciativa, correr riscos calculados, persuasão e rede de contatos, independência e autoconfiança Davids (1963) Ambição, desejo de independência, responsabilidade e autoconfiança Busca de oportunidade e iniciativa, comprometimento, independência e autoconfiança Pickle (1964) Relacionamento humano, habilidade de comunicação, conhecimento técnico Exigência de qualidade e eficiência, busca de informações, persuasão e rede de contatos Palmer (1971) Avaliador de riscos Correr riscos calculados, busca de informações Hornaday e Aboud (1971) Necessidade de realização, autonomia, agressão, poder, reconhecimento, inovação, independência Busca de oportunidades e iniciativa, persistência, persuasão e rede de contatos, independência e autoconfiança Winter (1973) Necessidade de poder Persuasão e rede de contatos, independência e autoconfiança Borland (1974) Controle interno Exigência de qualidade e eficiência, busca de informações, estabelecimento de metas, planejamento e monitoramento sistemático Liles (1974) Necessidade de realização Busca de oportunidade e iniciativa, persistência, comprometimento Bruce (1976) Tomada de decisões, risco Correr riscos calculados, exigência de qualidade e eficiência, busca de informações, independência e autoconfiança Shapero (1977, 1980) Inovação, risco, iniciativa, independência Busca de oportunidades e iniciativa, correr riscos calculados, persistência, comprometimento, independência e autoconfiança Gasse (1977) Orientado por valores pessoais Comprometimento Timmons (1978) Autoconfiança, orientado por metas, tomador de riscos moderados, centro de controle, criatividade, inovação Busca de oportunidades e iniciativa, correr riscos calculados, persistência, busca de informações, estabelecimento de metas, planejamento e monitoramento
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