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BIOÉTICA E BIOSSEGURANÇA APLICADA Fernanda Stapenhorst França Perfil profissional ético do esteticista Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Elencar as atribuições dos pro� ssionais técnicos e tecnólogos em estética. Especi� car as atribuições de pro� ssionais de estética com diferentes formações. Identi� car os elementos que formam a base de um atendimento ético em estética. Introdução A ética profissional tem um papel fundamental em todas as profissões e como a estética é uma área composta por profissionais de diferentes formações, é fundamental que cada um saiba de suas capacitações e limitações para um atendimento ético. Neste capítulo, você verá as atribuições profissionais de técnicos e tecnólogos em estética, bem como as dos demais profissionais que trabalham na área, além de estudar alguns aspectos que formam a base de um atendimento ético na estética. Atribuições de técnicos e tecnólogos em estética A estética no Brasil surgiu nos anos 1950 com Anne Marie Klotz – fi lha de pais franceses que, após um período na França, trouxe técnicas de estética aprendidas na França para o Brasil. Em 1963, Anne criou a Federação Brasileira de Estética e Cosmetologia (FEBECO), que via a estética como fundamental para o equilíbrio físico, mental, espiritual e social do indivíduo. Posteriormente, foi criada a Federação Brasileira dos Profi ssionais Esteticistas (FEBRAPE), que visa a unifi car associações, a divulgar estudos e a proporcionar o aper- feiçoamento dos profi ssionais. A área da estética é uma área em ascensão, visto que a busca pela melhoria da aparência vem crescendo nos últimos tempos. Com isso, mais profissionais estão buscando trabalhar nesse setor e com isso diferentes formações vêm incorporando a estética em sua área de atuação. Atualmente, profissionais com bacharelado em cursos da saúde, como enfermagem, fisioterapia e biomedicina, também podem atuar no ramo, desde que tenham formação de esteta. Os profissionais formados em cursos técnicos e tecnólogos em estética, que são denominados esteticistas, atuam na área. Dessa forma, é fundamental que os profissionais de cada formação saibam as habilidades de sua profissão, respeitando os colegas que vêm de diferentes cursos. Técnicos em estética Atualmente, de acordo com o Projeto de Lei nº 2.332-A, de 2015, são conside- rados técnicos em estética os profi ssionais que possuírem curso técnico com concentração em estética (SANTOS, 2015). Esses profi ssionais podem atuar realizando a aplicação de procedimentos estéticos com: Recursos manuais: manobras manuais para aplicar cosméticos, ativar a circulação e trabalhar a gordura localizada e celulite, drenagem linfática e massagens, desde que não invasivas. Recursos eletroterápicos: equipamento de alta frequência, equipamento de vapor de ozônio, equipamento de corrente contínua ou galvânica, peeling mecânico, entre outros. Procedimentos estéticos faciais: limpeza de pele, hidratação, nutrição, revitalização, flacidez, tratamento para acne de graus I e II e clareamento de manchas superficiais. Cabe ainda a ele elaborar o plano de atendimento, de forma a estabelecer as técnicas que serão utilizadas e a quantidade de aplicações e solicitar o parecer de outro profissional, quando necessário, para a complementação da avaliação estética. Esteticista e cosmetólogo De acordo com o Projeto de Lei nº 2.332-A, de 2015, os profi ssionais portadores de diploma de graduação em nível superior com concentração em Estética Perfil profissional ético do esteticista 70 e Cosmética, ou equivalente, são considerados esteticistas e cosmetólogos (SANTOS, 2015). Esses profi ssionais podem exercer as atividades descritas para os técnicos em estética, além de possuírem outras atribuições, como a responsabilidade técnica por centros de estética, a capacidade de ministrar, direcionar, coordenar e supervisionar disciplinas de cursos relativos à estética ou à cosmetologia, realizar o treinamento institucional em atividades de ensino e pesquisa na área, realizar auditorias, consultorias e assessoria sobre cosmé- ticos e serviços de estética, além da elaboração de pareceres tecnocientífi cos e estudos relativos à estética e à cosmetologia. Também cabe ao esteticista e ao cosmetólogo supervisionar ou aplicar técnicas em casos de pacientes idosos, pós-cirúrgicos e pós-parto, bem como executar técnicas eletroterápicas avançadas, como hidrozonioterapia, radio- frequência e luz intensa pulsada. Atribuições dos demais profissionais da estética Fisioterapia dermatofuncional Os primeiros relatos da atuação de fi sioterapeutas na estética são dos anos 1970, mas apenas nos anos 1990 surgiram as primeiras publicações científi cas brasileiras na área. Assim, em 1977 foi formada a Comissão de Estudos em Fisioterapia Estética, que visava a estudar o papel do fi sioterapeuta nesse setor. Assim, essa comissão sugeriu que o enfoque da estética para o profi s- sional de fi sioterapia fosse voltado às características de pacientes queimados, operados ou portadores de doenças que afetem a estética do indivíduo, de forma a direcionar a atuação na estética não apenas para a beleza, mas para a função. O termo fi sioterapia estética foi substituído por fi sioterapia derma- tofuncional, visto que esta tem o objetivo principal de recuperar alterações físico-estético-funcional dos pacientes. De acordo com o Guide to Physical Therapist Practice, da Associação Norte-americana de Fisioterapia, essa área visa à manutenção da integridade do sistema tegumentar, e é responsabilidade do terapeuta manter e promover não apenas a ótima função física, mas também o bem-estar e a qualidade de vida. Atualmente, o fi sioterapeuta dermatofun- cional atua realizando técnicas como massoterapia, mecanoterapia (drenagem linfática, endermologia), ultrassom, eletroterapia, laser e limpeza de pele. 71Perfil profissional ético do esteticista Biomedicina estética Em 2011, o Conselho Federal de Biomedicina (CFBM) regulamentou a atuação do biomédico na área da saúde estética e em 2012 foi criada uma resolução que dispõe os atos do biomédico sobre o uso de substâncias em procedimentos estéticos. Para que o biomédico adquira a habilitação em estética, é necessário que ele obtenha o certifi cado com título de Especialista em Biomedicina Estética, certifi cado de Pós-Graduação ou 500 horas de estágio na área. Para a habilitação provisória, o profi ssional pode apresentar certifi cados de cursos livres em estética, comprovante de 1 ano de experiência na área ou declaração de matrícula em curso de Pós-Graduação em Estética em andamento. Os profissionais de Biomedicina Estética podem realizar procedimentos invasivos não cirúrgicos, bem como procedimentos de laserterapia, carboxi- terapia, intradermoterapia, radiofrequência estética e ultrassom. Além disso, o biomédico está apto a definir o tratamento a ser realizado e a estratégia de tratamento, realizar treinamentos técnicos e possuir responsabilidade técnica de uma empresa de estética. Enfermagem dermatológica A enfermagem está inserida no ramo da estética desde os anos 1970, na espe- cialidade de enfermagem dermatológica, que habilita o enfermeiro esteta. Em 1998, foi fundada a Sociedade Brasileira de Enfermagem em Dermatologia (SOBENDE). Somente em 2004 o Conselho Federal de Enfermagem reconhe- ceu a especialidade de Dermatologia. Além disso, a atuação do enfermeiro na estética se estende também para os indivíduos que apresentam patologias, restrições e necessidade de cuidados especiais, pois é possível unir as habi- lidades do enfermeiro com o atendimento estético. O enfermeiro pode atuar de forma autônoma, realizando consultas antes e depois da consulta médica, desde que o profi ssional esteja capacitado para realizar os procedimentos necessários e que tais procedimentos não exijam formação médica ou profi s- sional específi cas de ato médico.Ética na estética O profi ssional em estética ético deve respeitar as diferentes capacitações dos demais profi ssionais com quem trabalha, de acordo com suas diferentes formações. Assim, o esteticista dito como ético é aquele que atua de acordo Perfil profissional ético do esteticista 72 com o seu próprio Código de Ética e dentro de suas habilidades, sabendo pedir auxílio quando necessário para o profi ssional adequado e, com isso, promovendo a estética multidisciplinar. Nesse contexto de relações interpro- fi ssionais, o Código de Ética do esteticista, Capítulo IV, ressalta o seguinte: Art. 8º – O esteticista no exercício de suas funções se relacionará com outros profissionais de áreas afins e correlatas, devendo: I – Executar os procedimentos estando nos limites permitidos. II – Reconhecer situações especiais que requeiram intervenção de especialista, encaminhando os clientes a tratamentos específicos. III – Manter comportamento ético evitando críticas ou praticando atos que prejudiquem seu trabalho ou sua reputação. IV – Enaltecer a atuação do esteticista, no sentido de elevar o nível de respeito e o reconhecimento de sua categoria profissional (FEDERAÇÃO BRASILEIRA DOS PROFISSIONAIS ESTETICISTAS, 2003). Um dos pontos importantes da ética no trabalho do esteticista é a auto- nomia do profissional, mas cabe a ele tomar decisões sobre o que pode e o que não pode ser realizado, sempre seguindo o Código de Ética da área. Esse trabalho deve ser feito levando em consideração a avaliação, o histórico do cliente e, principalmente, a legislação vigente. Cabe, ainda, ao profissional, informar os pacientes da forma mais completa possível sobre o tratamento que será realizado, o resultado esperado e os possíveis riscos, bem como esclarecer todas as dúvidas do cliente. De acordo com o Código de Ética dos esteticistas, o profissional deve realizar o atendimento sem restrições raciais, religiosas, políticas ou sociais, de forma a realizar os procedimentos estéticos que beneficiem a saúde, a higiene e a beleza do paciente. O profissional deve, ainda, realizar uma autoavaliação periódica, considerando sua competência e realizando somente os procedimentos que ele seja capaz de desempenhar de forma segura para o paciente. O Código de Ética também ressalta a im- portância da atualização e do aperfeiçoamento contínuos do esteticista, de forma que é imprescindível a constante busca de novos conhecimentos e do progresso da profissão. Outro ponto importante da ética do esteticista é a priorização da segu- rança do paciente, independente da busca pelo lucro. Muitas vezes, o foco no lucro pessoal pode levar à aplicação de tratamentos de forma incorreta ou não recomendada, colocando em risco a saúde e a segurança do paciente. O Código de Ética ressalta a proibição do esteticista anunciar especialidades 73Perfil profissional ético do esteticista para as quais não está habilitado, visto que se evidencia o risco de realizar técnicas e procedimentos para os quais o profissional não esteja capacitado. A informação e o consentimento esclarecido do paciente são elementos fundamentais para uma prática ética em que é imprescindível a realização da anamnese para o conhecimento tanto do profissional, como do paciente sobre os possíveis riscos associados ao tratamento de escolha com base no histórico do paciente. Além disso, a esterilização dos materiais utilizados é, além de um dever ético, uma obrigação das clínicas de estética em termos de biossegurança. A falta de esterilização e gerenciamento correto de resíduos apresenta riscos para os pacientes, para os profissionais da clínica, para os trabalhadores envolvidos no processo de gerenciamento de resíduos e para o ambiente, gerando riscos de infecções por hepatite, HIV e contaminações químicas. Vale ressaltar, também, a importância ética do sigilo profissional, pois qual- quer informação compartilhada pelo paciente deve ser respeitada e utilizada somente dentro do contexto para o qual ela foi revelada. Esse aspecto, além de ser um ato ético de respeito ao paciente, garante que todas as informações necessárias para a realização dos procedimentos sejam partilhadas, de forma que o cliente se sinta seguro para fornecer todas informações que possam ser relevantes. Perfil profissional ético do esteticista 74 Para ter acesso ao Código de Ética do profissional esteticista (técnicos e tecnólogos), acesse o link e o leia na íntegra. https://goo.gl/tHqZYN 75Perfil profissional ético do esteticista FEDERAÇÃO BRASILEIRA DOS PROFISSIONAIS ESTETICISTAS. Código de ética profissio- nal do esteticista (técnicos e tecnólogos). Rio de Janeiro, 09 jun. 2003. Disponível em: <http://febrapeestetica.blogspot.com.br/p/codigo-de-etica-profissional-do.html>. Acesso em: 23 out. 2017. SANTOS, S. Projeto de lei nº 2.332-A, de 2015. Regulamenta a profissão de esteticista, cosmetólogo e técnico em estética. Brasília, DF, 2015. Disponível em: <http://www. camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=34FAD95FB3E 7F25D71EF417A83F4F6CA.proposicoesWebExterno1?codteor=1359767&filename =PL+2332/2015>. Acesso em: 23 out. 2017. Leituras recomendadas KAHLOW, A.; OLIVEIRA, L. C. A estética como instrumento do enfermeiro na promoç ão do conforto e bem-estar. 28 f. 2012. Artigo Científico (Pós-Graduação em Estética Facial e Corporal)- Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, SC, 2012. LORENZET, A. R. et al. Uma abordagem dos aspectos legais para abertura de uma clínica de biomedicina estética. Terci, Rio bonito, RJ, v. 5, n. 2, p. 28-45, jul./dez. 2015. MILANI, G. B.; JOÃO, S. M. A.; FARAH, E. A. Fundamentos da fisioterapia dermato-fun- cional: revisão de literatura. Fisioterapia & Pesquisa, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 37-43, 2006. SANTOS, I.; BRANDÃO, E. S.; CLOS, A. C. Enfermagem dermatológica: competências e tecnologia da escuta sensível para atuar nos cuidados com a pele. 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