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1Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 
2 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020
Edição Especial Centro-Oeste
Outubro de 2020
Aldeia Norte Editora Ltda
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ISSN 16778081Sumário
3
12
28
34
Pragas da soja no Cerrado
Crébio José Ávila; José Fernando Jurca Grigolli; José Roberto Salvadori; 
Ivana Fernandes da Silva 
Perspectivas sobre manejo de plantas daninhas 
na cultura do algodoeiro
Jamil Constantin; Rubem Silvério de Oliveira Jr. 
A relação entre plantio direto 
e pragas em canaviais
Leila Luci Dinardo-Miranda; Higor Domingos Silvério da Silva
Manejo da fertilidade do solo e adubação
do milho na Região Centro Oeste
Álvaro Vilela de Resende, Jeferson Giehl, Miguel Marques Gontijo Neto, Emerson Borghi, 
Antônio Marcos Coelho, Flávia Cristina dos Santos, Samuel Campos Abreu
Plantas Daninhas: Cenário no cultivo do milho
na região centro-oeste
Décio Karam, Alexandre Ferreira da Silva
Como manejar doenças foliares em milho
Dagma Dionísia da Silva; Luciano Viana Cota; Rodrigo Véras da Costa
Desafios no manejo de insetos-praga 
do sistema de produção do Centro-Oeste
Rosangela C Marucci; Simone M Mendes; Silvino G Moreira
Uso eficiente de corretivos 
e fertilizantes em pastagens
Lourival Vilela; Geraldo Bueno Martha Jr.; Djalma Martinhão Gomes de Sousa
Os dez passos para ter sucesso
com a implantação da ILPF no Cerrado
Ronaldo Trecenti
14
18
46
54
66
3Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 
As plantas de soja podem 
ser atacadas por pragas desde a 
germinação das sementes e emer-
gência das plantas até a fase de 
maturação fisiológica, sendo es-
ses organismos constituídos por 
diferentes grupos de artrópodes 
(insetos e ácaros), diplópodes (pio-
lhos-de-cobra) e moluscos (lesmas 
e caracóis). 
Neste artigo, são abordadas 
as principais espécies de pragas 
que atacam a soja, no cerrado. Os 
problemas se iniciam com os in-
setos de solo, seguido pelas pragas 
de superfície que atacam especial-
mente as plântulas. Em seguida 
vêm as lagartas que se alimentam 
de folhas, flores e até mesmo de 
vagens e, finalmente, os insetos 
sugadores que atacam as folhas, as 
vagens ou os grãos em formação.
Pragas iniciais 
Caracterizam-se com pragas 
iniciais da soja, aqueles organis-
mos que atacam a cultura até por 
volta dos 30-40 dias após a sua 
emergência, danificando especial-
mente as raízes, os nóduos de fixa-
ção biológica e as plântulas.
Pragas de solo
São representadas, principal-
mente, pelos corós e os percevejos 
castanhos. Esses dois grupos de 
insetos apresentam normalmente, 
uma forte associação com o solo 
onde ocorrem e podem destruir ou 
sugar as raízes da soja, afetando 
negativamente o estabelecimen-
to da cultura, o desenvolvimento 
inicial das plantas e, consequente-
mente, a sua produtividade.
Os danos de corós na soja 
(Figura 1) são causados pelo con-
sumo de raízes ou até mesmo 
dos nódulos de fixação biológica 
de nitrogênio, acarretando redu-
ção na capacidade das plantas de 
absorver água e nutrientes, in-
gredientes essenciais para o seu 
desenvolvimento e produção de 
grãos e até a morte das mesmas. A 
intensidade de danos é maior em 
plantas jovens de soja cultivadas 
em condições de déficit hídrico. Já 
os danos causados por percevejos 
castanhos na soja são decorrentes 
da sucção contínua da seiva nas 
raízes, o que pode levar ao enfra-
quecimento, amarelecimento ou 
até mesmo a morte das plantas 
(Figura 2).
Pragas de plântulas
e hastes
Caracterizam-se essas pra-
gas os insetos e outros artrópodes 
que atacam a cultura logo após a 
sua emergência até a formação 
das primeiras folhas trifoliadas, 
podendo esse ataque, afetar ne-
gativamente o estande, o vigor, a 
uniformidade das plantas e, con-
sequentemente, o rendimento de 
grãos da cultura.
A lagarta-do-cartucho, Spo-
doptera frugiperda causa danos 
em plântulas (Figura 3), quando 
esta praga já estiver previamente 
em uma espécie vegetal utilizada 
como cobertura e que será desse-
cada para a semeadura da cultura. 
Já o bicudo ou tamanduá-da-soja, 
Sternechus subsignatus (Figura 4), as 
larvas podem causar injúrias na 
cultura, provocando a interrupção 
ou redução da circulação da seiva 
Pragas da soja no Cerrado
Crébio José Ávila1; José Fernando Jurca Grigolli2; José Roberto Salvadori3; Ivana Fernandes da Silva4
1Embrapa Agropecuária Oeste
Dourados, MS.
2Fundação MS – Maracaju, MS.
3Universidade de Passo Fundo,
Passo Fundo, RS.
4Universidade Federal da
Grande Dourados - Dourados, MS.
4 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020
através da haste principal, redu-
zindo assim o vigor das plantas e 
a sua produtividade. Os adultos 
atacam a parte apical das plantas, 
dilacerando seu tecido o que pode 
levar secamento e morte da planta.
A lagarta-elasmo, Elasmopal-
pus lignosellus (Figura 5), é outra 
praga que também pode danificar 
plantas jovens de soja, especial-
mente quando o inseto já estiver 
presente na cultura anterior ou 
na cobertura a ser dessecada (ex. 
trigo, braquiária, aveia, tiguera de 
milho) para a semeadura da soja. 
As larvas penetram no colo da 
planta, um pouco abaixo do nível 
do solo, onde constroem galerias 
ascendentes na haste central, obs-
truindo do transporte de água e 
de nutrientes do solo para a parte 
aérea, podendo causar a murcha e 
morte da planta, com consequente 
redução de estande da cultura.
Já as lesmas e caracóis (Figu-
ra 6) são moluscos da classe Gas-
tropoda, que raspam o tecido do 
caule, dos cotilédones ou até mes-
mo das folhas de plântulas de soja, 
sendo suas injúrias semelhantes 
àquelas causadas por insetos des-
folhadores. Esses danos podem re-
duzir o estande da cultura e afetar 
a sua produtividade.
Figura 1. Coró (A) e seus danos (B) em lavouras de soja.
Fo
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: C
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Figura 2. Percevejo-castanho (A) e seus danos (B) em lavoura de soja.
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an
5Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 
Manejo de
pragas iniciais
Para que o manejo efetivo 
de pragas que atacam as raízes da 
soja (corós e percevejo-castanho) e 
das demais pragas iniciais (lagar-
tas, brocas etc.), é necessário fazer 
o monitoramento dessas pragas 
antes mesmo da instalação da la-
voura, uma vez que todas as táti-
cas de controle a serem utilizadas 
são preventivas.
A aplicação de inseticidas 
tais como fipronil, imidaclopri-
do + tiodicarbe, ciantraniliprole + 
tiametoxam e clorantraniliprole 
nas sementes constitui alternativa 
eficiente para o manejo de corós, 
da lagarta-elasmo, do tamanduá-
da-soja e da lagarta-do-cartucho 
especialmente em sistemas con-
servacionistas, como é o plantio 
direto. No caso do percevejo-cas-
tanho, inseticidas aplicados nas 
sementes não têm mostrado uma 
tática eficiente.No entanto, tra-
balhos conduzidos pela Fundação 
MT evidenciaram que o cultivo de 
crotalárias em rotação de cultu-
ras, especialmente com a espécie 
Crotalaria spectabilis, pode afetar 
negativamente o desenvolvimento 
do percevejo castanho no solo, re-
duzindo assim a sua população na 
área infestada. 
Para o controle de lesmas e 
caracóis, produtos na forma de 
iscas à base de metaldeído são 
eficientes, mas além de terem um 
preço elevado, não tem registro 
no MAPA para uso na soja. Tra-
balhos conduzidos pela coopera-
tiva COAMO, em Campo Mourão/
PR, evidenciaram que a mistura 
de abamectina + leite integral im-
pregnados em quirelas de milho 
constituiu uma isca efetiva para o 
Figura 3. Lagarta de Spodoptera frugiperda e seus danos em plântula de soja. 
Fo
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Figura 4. Adulto (A) e larva (B) do tamanduá-da-soja e seus danos em soja.
Fo
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ilv
a
6 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020
controle de caramujos na cultura 
da soja. Sugere-se que qualquer 
aplicação para o controle de cara-
mujos em soja seja realizada du-
rante a noite, período em que essas 
pragas apresentam maior ativida-
de devido às condições favoráveis 
de umidade e de temperatura e, 
dessa forma, são mais vulneráveis 
à ação dos produtos químicos.
Pragas que
atacam as folhas
As principais espécies de pra-
gas desfolhadoras com potencial 
de danos na soja na região Centro-
Oeste são: a lagarta-da-soja, Anti-
carsia gemmatalis; a lagarta-falsa-
medideira, Chrysodeixis includens; a 
lagarta-das-maçãs, Heliothis vires-
cens; a lagarta Helicoverpa armigera 
e as lagartas do gênero Spodoptera 
tais como S. frugiperda, S. cosmioides 
e S. eridania. Essas pragas podem 
se alimentarem de folhas, flores ou 
até mesmo de vagens dependendo 
da espécie. 
A lagarta-da-soja (Figura 7) 
apresenta grande potencial de in-
júrias, podendo causar 100% de 
desfolha, caso não seja controlada, 
e afetar significativamente a taxa 
fotossintética das plantas e o ren-
dimento de grãos da cultura, sen-
do esses danos mais acentuados 
na fase reprodutiva da soja.
Já as lagartas conhecidas po-
pularmente por falsas-medideiras 
compreendem basicamente três 
espécies: Crhysodeixis includens, Tri-
Figura 5. Lagarta-elasmo (A) e seus danos em soja (B).
Fo
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: D
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 G
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Figura 6. Lesmas (A) e caramujo (B) em soja.
Fo
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Fo
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a
7Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 
choplusia ni e Rachiplusia nu. A espé-
cie R. nu é encontrada, com maior 
freqüência, na região Sul do Brasil 
(RS e SC), enquanto que C. includens 
(Figura 8) tem sido observada em 
todas as regiões tradicionais de 
cultivo da soja, bem como nas áre-
as atuais de expansão da cultura 
(Nordeste e Norte). 
No passado, a espécie C. in-
cludens era considerada praga de 
importância secundária na cultu-
ra da soja, quando raramente exi-
gia medidas de controle. Todavia, 
após a safra 2001/2002, grandes 
mudanças ocorreram no sistema 
de produção da soja, como a detec-
ção da ferrugem-asiática, que con-
tribuiu para transformar a espécie 
em uma praga-chave chave nas di-
ferentes regiões do Brasil. O uso de 
fungicidas para o controle da fer-
rugem-asiática, que também afeta 
negativamente os fungos benéfi-
cos como Nomuraea rileyi (doença-
branca), associado ao emprego de 
inseticidas não seletivos na cultu-
ra, são considerados os principais 
fatores que proporcionaram a mu-
dança do status de C. includens na 
cultura da soja.
Manejo de pragas
que atacam as folhas
O sucesso do manejo inte-
grado de pragas (MIP) na soja tem 
como base as estratégias e táticas 
empregadas para o controle de 
lagartas, especialmente nos está-
Figura 7. Adulto (A) e a lagarta da soja (B). 
Fo
to
: E
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ap
a
Fo
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: E
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Figura 8. Adulto (A) e lagarta falsa-medideira (B).
Fo
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: E
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a
Fo
to
: E
m
br
ap
a
8 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020
dios iniciais de desenvolvimento 
da cultura. Essas tecnologias em-
pregadas na lavoura de soja devem 
sempre buscar o equilíbrio bioló-
gico no agroecossistema. Deve-se 
ter também consciência de que 
nem todos os organismos que cau-
sam desfolha na soja necessitam 
de controle, haja vista que a cultu-
ra tolera certos níveis de desfolha 
sem que haja redução significativa 
da produção. Dessa forma, o con-
trole é somente justificado quando 
a densidade populacional das pra-
gas ou a intensidade de desfolha na 
cultura forem iguais ou superiores 
aos níveis de ação recomendados 
pela pesquisa. O controle de lagar-
tas desfolhadoras, especialmente 
a lagarta-da-soja e a falsa-medi-
deira na soja, deve ser realizado 
quando forem encontradas, em 
média, 20 lagartas grandes (igual 
ou maior que 1,5 cm) por metro de 
fileira ou quando a desfolha atingir 
30% antes da floração ou 15% tão 
logo apareça as primeiras flores. 
No entanto, tem-se observado que 
a sensibilidade ao desfolhamento 
da soja poderia ser menor, devido 
ao ciclo curto, baixo índice de área 
folhar e alta capacidade produti-
va das novas cultivares, especial-
mente em condições de estiagens, 
necessitando assim dos ajustes 
desses níveis de desfolha.
Outra estratégia importante 
é ter em mente que quanto mais 
tempo for possível retardar a pri-
meira aplicação de inseticidas 
na cultura, maior será a proba-
bilidade de sucesso no manejo 
de lagartas e outras pragas uma 
vez que essa atitude proporciona 
condições para o estabelecimento 
dos primeiros inimigos naturais 
das pragas no agroecossistema, 
os quais se multiplicam sobre a 
primeira geração de lagartas, que 
se estabelecem na cultura. Em 
adição, o controle de lagartas não 
deve ser feito com inseticidas não 
seletivos, como são os piretróides, 
visto que, nestas condições pode-
rá ocorrer alta mortalidade dos 
inimigos naturais, prejudicando a 
ação do controle biológico natural 
no agroecossistema. Informações 
sobre os inseticidas recomenda-
dos para o manejo de lagartas da 
soja estão contidas nas recomen-
dações de inseticidas da Reunião 
de Pesquisa de Soja da Região Cen-
tral do Brasil (RPSRCB). 
No caso da lagarta-das-ma-
çãs, ainda não existe recomenda-
ção de inseticidas para o seu ma-
nejo, porém, trabalhos conduzidos 
em Mato Grosso do Sul eviden-
ciaram que os produtos metomil, 
tiodicarbe, espinosade, flubendia-
mida e clorantraniliprole propor-
cionaram boa eficácia no controle 
dessa praga.
O controle químico da falsa-
medideira tem sido relativamente 
difícil, por se tratar de uma espé-
cie mais tolerante às doses de in-
seticidas normalmente utilizadas 
na soja. Outro fator limitante para 
o controle efetivo da falsa-medi-
deira está relacionado ao seu há-
bito. Como as lagartas ficam situ-
adas, geralmente, no baixeiro e/
ou no terço médio das plantas, os 
inseticidas aplicados sobre a cul-
tura, normalmente, não atingem o 
ambiente onde o inseto está aloja-
do. Dessa forma, as lagartas ficam 
protegidas da ação dos produtos, 
especialmente quando a cultura 
estiver fechada.
Trabalhos conduzidos na 
Embrapa Agropecuária Oeste 
evidenciaram que a lagarta falsa-
medideira se desloca verticalmen-
te durante o dia no dossel foliar 
da soja, ficando mais exposta no 
terço superior das plantas de ma-
drugada e a noite, momentos estes 
mais adequados para a aplicação 
de inseticidas visando o seu con-
trole. Os inseticidas pertencentes 
ao grupo dos carbamatos, diami-
das, avermectinas, espinosinas, 
oxadiazinas e análogo de pirazol 
são, em geral, os mais promissores 
para serem empregados no con-
trole da lagarta-falsa-medideira.
As plantas transgênicas Bt 
constituem uma tecnologia im-
portante para ser empregada no 
controle de lagartas na cultura da 
soja. Com o emprego da soja Intac-
ta RR2 Pro, que expressa a proteí-
na Cry1Ac de Bacillus thuringiensis, 
o manejo de lagartas na cultura 
da soja foi profundamentealte-
9Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 
rado. É de conhecimento público 
que a soja Intacta apresenta bom 
controle da lagarta da soja, falsa-
medideira e lagarta-das-maçãs, 
mas tem-se mostrado pouco efe-
tiva para as lagartas do complexo 
de Spodoptera. Todavia, duas novas 
biotecnologias devem chegar ao 
mercado brasileiro em breve, pois 
estão em fase final de desenvolvi-
mento. A primeira é a soja INTAC-
TA 2 XTEND que apresenta três 
proteínas para o controle de la-
gartas (Cry1A105 + Cry 2Ab2 + Cry 
1Ac), a segunda é a soja Conkesta, 
que apresenta duas proteínas (Cry 
1F + Cry 1Ac). As duas biotecnolo-
gias já estão aprovadas no Brasil e 
aguardando a liberação comercial 
da China para serem comerciali-
zadas no território nacional.
A utilização exclusiva da soja 
Intacta nas áreas de cultivo poderá 
proporcionar o desenvolvimento 
de lagartas resistentes às proteí-
nas Bt, podendo inviabilizar essa 
tecnologia em médio prazo espe-
cialmente em razão de expressar 
apenas uma proteína (Cry1Ac). 
Para que não ocorra o desenvolvi-
mento de resistência das lagartas 
às cultivares de soja Bt e, conse-
quentemente, prolongar a vida útil 
dessa tecnologia, é imprescindível 
a implantação de áreas de refúgios 
nas unidades de produção agríco-
la. Assim, recomenda-se a adoção 
de refúgios estruturados em pelo 
menos 20% da área cultivada com 
a soja transgênica Bt, utilizando-
se nestas áreas materiais conven-
cionais (não Bt) que apresentam 
fenologia e ciclo semelhante ao 
genótipo transgênico. Nas áreas 
de refúgio, o controle de lagartas 
deverá ser realizado sempre que 
o inseto atingir o nível de controle.
Pragas sugadoras
A mosca-branca, Bemisia 
sp. (Figura 9) é uma importante 
praga sugadora da soja que pode 
causar intensa injúria direta e in-
diretamente na cultura. Os danos 
são causados tanto pelos adultos 
quanto pelas ninfas (formas jo-
vens), na fase vegetativa ou repro-
dutiva da soja, quando se alimen-
tam nas plantas, através da sucção 
da seiva, causando debilidade ou 
até mesmo a sua morte. Em condi-
ções de população muito elevada, 
especialmente as ninfas excretam 
substâncias açucaradas (“honey-
dew”) em grande quantidade, pro-
porcionando o desenvolvimento 
da fumagina (Capnodium sp.), um 
fungo de coloração negra que se 
desenvolve sobre as folhas da soja, 
tornando-as escuras o que preju-
dica a realização da fotossíntese. 
Esse escurecimento da superfí-
cie foliar causa o ressecamento, 
Figura 9. Adulto (A) e ninfa (B) da mosca-branca.
Fo
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: E
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10 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020
queima e queda das folhas devido 
à ação da radiação. Todo este pro-
cesso acarreta redução de produti-
vidade e, dependendo do nível da 
mosca e do estádio de ocorrência 
na cultura, as perdas podem che-
gar até a 100%, especialmente 
quando o inseto ataca na fase de 
enchimento de grãos. Danos in-
diretos na soja podem também 
serem observados pela transmis-
são de vírus pela mosca-branca, 
cujo sintoma é a necrose da haste. 
Plantas infectadas com esse vírus 
apresenta a haste necrosada, tor-
nando a planta debilitada ou cau-
sando a sua morte.
Os percevejos pentatomídeos 
fitófagos são considerados as prin-
cipais pragas sugadoras na cultu-
ra da soja. O percevejo-marrom, 
Euschistus heros, o percevejo-verde-
pequeno, Piezodorus guildinii, e o 
percevejo-verde, Nezara viridula, 
são as três espécies mais abun-
dantes que ocorrem na cultura, na 
região Centro-Sul do Brasil (Figura 
10). A intensidade de danos des-
sas pragas é variável com a espé-
cie e a densidade populacional do 
inseto, bem como com estádio de 
desenvolvimento da soja, sendo o 
percevejo-verde-pequeno o mais 
daninho, enquanto o percevejo-
marrom E. heros é o que causa me-
nor dano à cultura.
A colonização das plantas de 
soja pelos percevejos inicia em 
meados ou final do período vegeta-
tivo da cultura ou logo após o início 
da floração. Nesta época, os perce-
vejos estão saindo da diapausa ou 
de hospedeiros alternativos e mi-
gram para a cultura da soja. Com 
o início do período reprodutivo, 
a partir do aparecimento das va-
gens, as populações desses inse-
tos, principalmente de ovos e nin-
fas, aumentam, podendo atingir 
níveis elevados entre o final do de-
senvolvimento das vagens e início 
do enchimento dos grãos, quando 
a soja é mais suscetível ao ataque. 
Os danos causados pelos 
percevejos nas plantas de soja 
decorrem da introdução do seu 
aparelho bucal (estiletes) nas va-
gens, podendo atingir os grãos ou 
as sementes em desenvolvimento, 
sendo estes danos irreversíveis a 
partir de determinados níveis de 
injúria. Os grãos atacados ficam 
menores, enrugados, chochos e 
com a cor mais escura que o nor-
mal, podendo apresentar doenças 
como a mancha-fermento, causa-
da pelo fungo Nematospora corily, 
o qual é transmitido durante a ali-
mentação dos percevejos. Ataques 
Figura 10. Percevejos da soja: adulto e ninfa (B) do percevejo-marrom; adulto (C) e ninfa (D) 
do percevejo verde-pequeno e adulto (E) e ninfa (F) do percevejo-verde. Fotos: J. Rattes 
(ABDF) e Embrapa (CE).
11Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 
nos estádios R3 (canivetinhos for-
mados) a R4 (vagens formadas sem 
grãos) podem favorecer o abor-
tamento de vagens, enquanto no 
estádio de enchimento da vagem 
(R5) podem afetar negativamen-
te, tanto o rendimento da cultura, 
como a qualidade dos grãos ou das 
sementes produzidas, provocando 
alterações nos teores de proteína 
e de óleo. Além do dano direto, um 
ataque severo de percevejos na 
soja pode causar distúrbio fisioló-
gico na planta o que, em consequ-
ência, proporciona o aparecimen-
to de retenção foliar e/ou haste 
verde, fenômeno este conhecido 
como “soja louca I”, que retarda e/
ou dificulta a colheita da soja.
Manejo das pragas
sugadoras
O manejo efetivo da mosca-
branca na cultura da soja somente 
é obtido através da integração de 
diferentes táticas de controle, den-
tre as quais se destacam: escolha 
da melhor época de semeadura; 
eliminação de plantas hospedei-
ras cultivadas ou não durante a 
safra e no período da entressafra 
de soja; concentração da época de 
semeadura na região; rotação de 
culturas e seleção de inseticidas 
efetivos para o controle de ninfas 
e adultos. Alguns inseticidas po-
dem apresentar bom controle de 
formas jovens da mosca-branca 
(ex. piriproxifem, espiromesifeno, 
ciantraniliprole, e a mistura spi-
rotetramat + imidacloprido), exi-
gindo, quase sempre, aplicações 
sequenciais, enquanto outros têm 
boa ação somente sobre adultos 
(ex. acetamiprido). A adição de 
óleo na calda inseticida tem sido 
recomendada como alternativa 
para maximizar a eficácia de con-
trole dos inseticidas. O tratamento 
de sementes, especialmente com 
inseticidas neonicotinóides, cons-
titui também outra tática auxiliar 
para reduzir ou retardar o esta-
belecimento da mosca-branca em 
uma determinada área, na fase 
inicial da cultura.
Já o controle de percevejos 
na cultura de soja se inicia no es-
tádio R3, ou seja, logo após a for-
mação dos “canivetinhos”, que são 
os primórdios do desenvolvimento 
das vagens. Nos estádios da soja 
que apresentam suscetibilidade 
ao ataque dos percevejos (após o 
estádio R3) o controle deve ser rea-
lizado com base nos níveis de ação 
determinados pela pesquisa, que 
é de 2 percevejos/metro de fileira 
de plantas para lavouras de grãos 
e 1 percevejo/metro para lavouras 
destinadas a sementes. Para isso, 
os percevejos devem ser moni-
torados através de amostragens 
utilizando-se o pano-de-batida. 
Nestas amostragens, é importante 
considerar tanto os adultos como 
as formas jovens dos percevejos 
(ninfas), a partir do terceiro ins-
tar (0,4 a 0,5 cm), computando-se 
indivíduos de todas as espécies de 
percevejos fitófagos.
A escassez de ingredientes 
ativos para o controle de perce-
vejos e o uso abusivo de produtos 
nas lavouras tem proporcionado 
elevadossurtos dessas pragas e 
selecionado populações resisten-
tes aos inseticidas químicos. Para 
que esses problemas não sejam 
intensificados, recomenda-se que 
o mesmo inseticida não seja uti-
lizado na mesma área repetidas 
vezes ou em doses maiores que as 
recomendadas. Vários inseticidas 
são recomendados pela Comis-
são de Entomologia da Reunião de 
Pesquisa de Soja da Região Central 
do Brasil (RPSRCB) para o contro-
le dos percevejos na soja. Além da 
eficácia, o critério da seletividade, 
ou seja, o menor efeito dos pro-
dutos sobre os inimigos naturais 
deve ser também considerado na 
sua escolha.
Em lavouras de soja muito 
adensadas, como as que existem 
atualmente, os inseticidas aplica-
dos em pulverização podem não 
atingir os percevejos devido ao 
fenômeno conhecido como “efeito 
guarda-chuva”. Nestas condições, 
o uso do sal de cozinha (NaCl) na 
concentração de 0,5% na calda in-
seticida (500 g para cada 100 L de 
água) pode incrementar a mortali-
dade dos percevejos em até 25%, 
quando comparado a áreas aplica-
das sem o sal. O sal apresenta um 
efeito arrestante sobre o percevejo 
fazendo com que ele permaneça 
mais tempo sobre a superfície tra-
tada, o que intensifica a sua conta-
minação.
Considerações finais
A implementação do MIP, 
em qualquer cultura deve ser ba-
seada em princípios econômicos, 
ecológicos e sociais, tendo tam-
bém a concepção de que o MIP é 
um meio para suporte à tomada 
de decisão. O primeiro princípio 
é o econômico, quando se deve 
ter a plena consciência de que o 
importante para o produtor é a 
margem de lucro, buscando sem-
pre a sua maximização. O segun-
do princípio é o ecológico, sendo 
necessário ter consciência de que 
no agroecossistema da soja, além 
dos insetos-praga, existe uma ex-
pressiva quantidade de agentes 
benéficos (predadores, parasitói-
des e patógenos), denominados 
coletivamente de inimigos natu-
rais, os quais se alimentam ou vi-
vem à custa dos insetos que ata-
cam a soja, levando-os à morte. A 
identificação e preservação desses 
agentes de controle natural são de 
fundamental importância para a 
execução do MIP na soja. O último 
princípio do MIP a ser considerado 
é o social, que está relacionado à 
segurança do aplicador de inseti-
cidas na cultura e do consumidor 
do produto a ser colhido. Neste 
sentido, devem-se utilizar todos os 
equipamentos de proteção indivi-
dual (EPI´s) recomendados para a 
aplicação dos produtos químicos 
nas lavouras, bem como respeitar 
o período de carência dos mes-
mos, visando preservar a saúde do 
componente mais importante do 
sistema agrícola, que é o ser hu-
mano.
12 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020
O sistema de manejo de plan-
tas daninhas na cultura do algodo-
eiro está se tornando cada vez mais 
complexo. Mesmo com o surgimen-
to de variedades que possibilitam a 
utilização de herbicidas de amplo 
espectro em pós-emergência em 
área total, o aumento de plantas to-
lerantes e resistentes a herbicidas 
faz com que a eficiência dos pro-
dutos fique comprometida. Além 
disso, a migração de grande parte 
da área cultivada com o algodoeiro 
para o ambiente de safrinha tem 
implicado também em mudanças 
nos padrões de cultivo em termos 
não só de datas de semeadura e de 
colheita, mas também de espaça-
mento e de nível de investimento 
nas lavouras. Dados de pesquisas 
do NAPD/UEM indicam que quanto 
menor o espaçamento entre linhas 
de plantio, mais cedo se inicia a in-
terferência das plantas daninhas 
e maior é o comprometimento da 
produtividade da cultura.
De maneira geral, as prin-
cipais plantas daninhas que são 
mais frequentes nos algodoeiros 
são picão-preto, caruru e leiteiro 
(todos com histórico de resistência 
aos herbicidas inibidores da ALS), 
corda-de-viola, trapoeraba, apaga-
fogo, erva-quente, vassourinha-
de-botão e capim-pé-de-galinha. 
Recentemente temos observado 
um aumento das áreas que apre-
sentam infestações de buva e de 
capim-amargoso resistentes ao 
glifosato e, em diversas importan-
tes regiões produtoras, o capim-
pé-de-galinha tem apresentado re-
sistência a graminicidas inibidores 
de ACCase e ao glifosato. No caso 
do caruru já se constatou resistên-
cia aos inibidores da ALS, como 
trifloxysulfuron-sodium e pyri-
thiobac-sodium, e aos inibidores 
do Fotossistema II, como a atrazina 
e prometrina, havendo, inclusive, 
áreas com resistência cruzada (aos 
dois mecanismos simultaneamen-
te). No caso do Amaranthus palme-
ri, temos também resistência ao 
glifosato e aos inibidores da ALS. 
Por último, mas não menos impor-
tante, temos a presença de tigueras 
de soja RR dentro da cultura do al-
godoeiro.
As opções para o manejo des-
tas plantas daninhas em pós-emer-
gência da cultura são limitadas e só 
funcionam quando as aplicações 
são feitas em plantas daninhas em 
estádios iniciais de desenvolvi-
mento. A disponibilização de no-
vas variedades de algodoeiro com 
resistência ao amônio-glufosinato, 
ao glifosato ou a ambos, aumentou 
o leque de opções para os agricul-
tores. No entanto, estas opções 
também apresentam limitações 
em certos casos, em função da pre-
sença de plantas daninhas toleran-
tes e resistentes, assim como pelo 
tamanho das plantas daninhas no 
momento das aplicações. 
Outra questão muito rele-
vante no momento na cultura do 
algodoeiro é a possibilidade de 
tigueras (plantas voluntárias) do 
algodoeiro com resistência a her-
bicidas como glifosato e amônio-
glufosinato emergindo e infestan-
do a própria cultura do algodoeiro 
no ciclo seguinte, as quais podem 
se tornar um problema de impor-
tância semelhante ou maior do que 
Perspectivas sobre
manejo de plantas daninhas
na cultura do algodoeiro
Jamil Constantin1; Rubem Silvério de Oliveira Jr.2 
1Eng. Agr., Dr., Professor do Programa 
de Pós-graduação em Agronomia da 
Universidade Estadual de Maringá (UEM), 
Bolsista de produtividade do CNPq
nível 1 e Pesquisador da CONPEA – 
Consultoria e Pesquisa Agropecuária.
2Eng. Agr., Dr., Coordenador do Núcleo
de Estudos Avançados em Ciência das 
Plantas Daninhas (NAPD) da Universidade 
Estadual de Maringá (UEM). Bolsista de 
produtividade do CNPq nível 1.
13Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 
as próprias plantas daninhas, caso 
o produtor não faça uma rotação de 
eventos genéticos que possibilite o 
uso de herbicidas que possam eli-
minar estas plantas.
Um exemplo clássico da im-
portância de um evento genético 
no manejo de uma determinada 
espécie de planta daninha é a utili-
zação de variedades de algodoeiro 
com resistência ao amônio-glufosi-
nato visando ao controle do leiteiro 
com resistência aos inibidores de 
ALS como trifloxysulfuron-sodium 
e pyrithiobac-sodium. Antes do 
lançamento desta tecnologia, uma 
das poucas alternativas disponí-
veis para o controle desta espécie 
era o uso de diuron e prometrina 
em pré-emergência. Mas, para ob-
ter controle desta planta daninha, 
as doses destes herbicidas pre-
cisavam ser elevadas, o que fre-
quentemente implicava em efeitos 
negativos para o algodoeiro. Mes-
mo assim, a eficiência era apenas 
regular e sobravam apenas as apli-
cações em jato dirigido às entreli-
nhas para complementar o con-
trole de fluxos mais tardios. Com 
a possibilidade do uso do amônio-
glufosinato, o manejo desta planta 
daninha foi facilitado, deixando de 
ser problema, e permitindo a volta 
de grandes áreas para o cultivo do 
algodoeiro que antes, em função da 
alta infestação, eram praticamente 
inviáveis. Mais recentemente, tam-
bém foram lançadas no Brasil as 
variedades de algodoeiro com re-
sistência ao glifosato (RR), possibi-
litando o uso desta ferramenta no 
controle do leiteiro. Entretanto, já 
temos no país populações de leitei-
ro com resistência a este herbicida 
e, no futuro, o glifosato pode deixar 
de ser uma opção para esta planta 
daninha.
Plantas daninhas como buva, 
capim-amargoso, capim-pé-de-
galinha e caruru estão sendo con-
tinuamente selecionadas para 
resistência a herbicidas com me-
canismosde ação diferenciados, 
levando o manejo das mesmas a 
um nível de dificuldade nunca vis-
to antes.
Herbicidas como o trifloxy-
sulfuron-sodium e o pyrithiobac-
sodium, continuam sendo boas op-
ções para o controle de infestantes 
importantes como a soja tiguera, a 
trapoeraba e outras folhas largas 
desde que não sejam resistentes 
aos inibidores da ALS. É impor-
tante ressaltar que as opções para 
manejo em pós-emergência exis-
tentes atualmente podem resolver 
estes problemas, mas o número 
destas opções é limitado e o seu 
uso de forma isolada ou indiscri-
minada poderá, eventualmente, 
resultar em problemas mais sérios 
ainda no futuro pelo aumento dos 
casos de tolerância e resistência. 
Considerando, novamente, que es-
tas opções só apresentam elevada 
eficiência com plantas daninhas 
em estádios precoces de desenvol-
vimento, é imprescindível que se 
crie condições, através de sistemas 
de manejo, nos quais as infestan-
tes se encontrem com tamanho 
pequeno no momento da aplicação 
dos pós-emergentes.
O uso de herbicidas com ação 
em pré-emergência na cultura do 
algodoeiro é uma prática decisiva 
para se criar as condições necessá-
rias para um bom funcionamento 
dos herbicidas utilizados em pós-
emergência. As opções de produ-
tos com ação em pré-emergência 
disponíveis no momento contem-
plam todas as plantas daninhas 
citadas anteriormente, proporcio-
nando níveis de eficiência de re-
gulares a excelentes. Herbicidas 
como diuron, prometrina, fome-
safen, trifluralina, s-metolachlor 
e clomazone, utilizados de forma 
isolada ou combinada, podem tra-
zer enormes benefícios ao sistema 
de manejo. Os principais benefí-
cios estão relacionados ao fato de 
que os herbicidas utilizados em 
pré-emergência, de modo geral, 
apresentam mecanismos de ação 
diferentes daqueles utilizados em 
pós-emergência, diminuindo o 
processo de seleção de plantas to-
lerantes e resistentes. Além disso, 
os pré-emergentes permitem a eli-
minação da interferência precoce, 
preservando a produtividade da 
lavoura, e diminuem a infestação 
da área. Um terceiro benefício dos 
pré-emergentes se relaciona ao 
fato de seu uso possibilitar o atraso 
na saída de novos fluxos de plantas 
daninhas, o que possibilita uma 
“janela” maior para as aplicações 
em pós-emergência e a aplicação 
destes em plantas daninhas de me-
nor tamanho, como discutido ante-
riormente. Estas condições (menor 
número de infestantes e plantas 
menores), potencializam o efeito 
dos herbicidas com ação em pós-
emergência, melhorando sobre-
maneira os níveis de controle.
Concluindo, a utilização com-
binada de produtos com ação em 
pré e pós-emergência é primor-
dial, tanto no cenário atual como 
no futuro, para se montar um siste-
ma de manejo eficiente e sustentá-
vel na cultura do algodoeiro.
Foto 1. Infestação no momento de aplicação do glufosinate-ammonium aos 12 dias após a 
emergência do algodão.
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14 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020
O sistema de plantio direto 
é amplamente utilizado no Brasil 
para as culturas de grãos, espe-
cialmente milho e soja, há várias 
décadas, com reconhecidas van-
tagens em relação ao controle de 
erosão, aumento da matéria orgâ-
nica no solo, menor perda de água 
pelo solo, aumento da atividade 
microbiana no solo, sequestro de 
carbono, entre outras. 
Em cana-de-açúcar, a adoção 
do plantio direto se deu mais re-
centemente, embora muitos pro-
dutores independentes e usinas 
utilizem esse sistema de plantio 
há quase três décadas, tanto plan-
tando soja diretamente sobre os 
restos da cultura de cana, como 
plantando a cana sobre os restos 
culturais da soja. Esse sistema se 
tornou possível pelo uso de her-
bicidas, capazes de promover boa 
dessecação da soqueira velha de 
cana, a ser destruída. 
Crotalárias também são 
muito utilizadas em sistema de 
plantio direto, principalmente 
em ambientes de produção mais 
restritivos, compostos por solos 
menos férteis e sujeitos à erosão. 
Por ocasião do florescimento, as 
crotalárias são trituradas e, mui-
tas vezes nem isso (são somente 
“quebradas” sobre o solo), para o 
plantio imediato da nova lavoura 
de cana-de-açúcar. Nos anos re-
centes, as braquiárias, que produ-
zem grande volume de massa ver-
de, principalmente em ambientes 
mais restritivos, vieram se juntar 
às culturas em plantio direto em 
áreas de reforma do canavial. 
Assim como em outras cultu-
ras, o plantio direto de cana, sem-
pre associado à rotação com soja, 
crotalárias, braquiárias e outras, 
traz inúmeras vantagens ao pro-
dutor, entre os quais se destacam 
ganhos em produtividade, aumen-
to da longevidade dos canaviais 
e redução de custos. Entretanto, 
esse sistema pode favorecer o 
crescimento populacional de pra-
gas de solo, com consequente au-
mento dos danos.
Por definição, pragas de 
solo são aquelas que passam pelo 
menos parte de seu ciclo de vida 
no solo ou na superfície do solo, 
alimentando-se de ou em partes 
subterrâneas das plantas. Nesse 
sentido, há várias pragas de solo 
em cana-de-açúcar, com destaque 
para Sphenophorus levis, Migdolus 
fryanus, cigarrinha das raízes, bro-
ca gigante (Telchin licus) e cupins. 
Por passarem pelo menos 
parte da vida no solo ou atacando 
partes subterrâneas das plantas, o 
controle de algumas dessas pragas 
é, em geral, muito difícil, exigin-
do a adoção de várias medidas de 
controle, principalmente, a elimi-
nação mecânica da soqueira infes-
tada, o que, por si só, elimina o uso 
de plantio direto.
Embora a destruição mecâni-
ca da soqueira infestada e o revol-
vimento de solo possam, na teoria, 
contribuir para reduzir popula-
ções de cigarrinha das raízes, não 
há dados que comprovem isso. En-
tão, à luz do conhecimento atual, o 
fato de uma área ter apresentado 
altas populações de cigarrinha das 
raízes não é impedimento para 
passar pelo plantio direto, quando 
for feito novo plantio na área. 
A relação entre plantio direto
e pragas em canaviais
Leila Luci Dinardo-Miranda1; Higor Domingos Silvério da Silva2 
1Instituto Agronômico - 
Centro de Cana, Ribeirão Preto/SP. 
2DMLab Serviços Agrícolas,
Ribeirão Preto/SP.
15Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 
Em relação aos cupins, a 
destruição mecânica da soqueira 
infestada muitas vezes é suficien-
te para reduzir os problemas com 
essas pragas no ciclo seguinte da 
cultura, pois a destruição mecâ-
nica da soqueira também destrói 
ou desestabiliza as colônias de 
cupins. No entanto, há alguns in-
seticidas altamente eficientes no 
controle de cupins, como é o caso 
de fipronil. Assim, em áreas pou-
co ou moderadamente infestadas, 
o plantio direto poderia eventual-
mente ser empregado, desde que 
fossem utilizados inseticidas no 
sulco de plantio. Entretanto, em 
áreas com altas populações de 
cupins, somente o uso de inseti-
cidas no sulco não resolve o pro-
blema: é necessário associar essa 
ferramenta à destruição mecâni-
ca da soqueira infestada, a fim de 
conduzir o canavial pelos quatro 
ou mais cortes sob baixas infesta-
ções de cupins. 
A destruição mecânica da 
soqueira infestada também é fer-
ramenta importante para reduzir 
populações e consequentes danos 
causados pela broca gigante. Essa 
praga é muito importante na re-
gião canavieira do Nordeste brasi-
leiro e em algumas usinas de Goiás 
e Minas Gerais; já foi relatada no 
Estado de São Paulo, mas, aparen-
temente, em populações menos 
problemáticas do que as encontra-
das nas outras regiões. 
Assim, em função do citado, 
Sphenophorus levis e MiIgdolus frya-
nus são, com certeza, as pragas que 
podem limitar o plantio direto em 
cana. 
S. levis é um besouro Curculio-
nidae, cujas larvas e pupas vivem 
no interior dos rizomas (parte sub-
terrênea dos colmos), provocando 
grande destruição de perfilhos, 
devido às galerias que fazem du-
rante a alimentação; estas geral-
mente permanecem com uma fina 
serragem, característica do ataque 
(Figura 1). Devido à destruiçãoda 
parte subterrânea das touceiras, 
com morte de muitos perfilhos e, 
não raro, de toda a touceira (Figu-
Figura 1. Larva de Sphenophorus levis na base de um colmo danificado.
Figura 2. Área infestada por Sphenophorus levis, com muitas falhas de stand causadas pela 
praga.
16 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020
ra 2), os danos provocados por S. 
levis são significativos, estando, 
de acordo com trabalhos desen-
volvidos pelo IAC, ao redor de 1 t/
ha para cada 1 % de rizomas da-
nificados, levando à necessidade 
de renovação precoce do canavial, 
algumas vezes após 2 ou 3 cortes.
Infelizmente, os insetici-
das químicos e biológicos não são 
muito eficientes na redução popu-
lacional de S. levis, uma vez que nas 
fases de ovo, larva e pupa, os inse-
tos ficam protegidos no interior 
dos rizomas. Em consequência, a 
medida mais efetiva na redução 
populacional é a destruição me-
cânica da soqueira velha e infes-
tada (Figura 3), principalmente na 
época seca do ano. Nessa época, a 
maior parte da população está nas 
fases de larva e pupa, no interior 
dos rizomas, e são afetadas pela 
destruição mecânica das soquei-
ras, tanto pelos danos mecânicos 
que a operação pode ocasionar, 
como pela exposição dos insetos 
à ação do sol e dos inimigos natu-
rais. 
Se a destruição mecânica da 
soqueira infestada puder ser as-
sociada ao vazio sanitário de 4 a 
6 meses, a redução populacional 
é muito mais significativa. Muitas 
vezes, o novo ciclo de cana-de-
açúcar pode ser implantado sem a 
necessidade de aplicar inseticidas 
no sulco de plantio se tais medidas 
forem corretamente executadas 
(destruição mecânica da soqueira 
+ vazio sanitário de 4 a 6 meses).
Vazio sanitário é um período 
em que a área infestada é mantida 
sem hospedeiros da praga e isso, 
pelo menos teoricamente, é fácil 
de ser feito em cana-de-açúcar, 
uma vez que S. levis tem pequena 
gama de hospedeiros conhecidos: 
além da cana-de-açúcar, S. levis 
sobrevive em milho e, possivel-
mente, em outras gramíneas como 
sorgo. Assim, se tais culturas não 
forem cultivadas em campo, as 
populações de S. levis se reduzem 
drasticamente, pois os adultos não 
encontram abrigo ou hospedeiros 
para se alimentar. 
Figura 3. Eliminador mecânico de soqueira.
Figura 4. Adultos de Migdolus fryanus.
17Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 
Assim, quando se faz o plan-
tio direto em áreas infestadas por 
S. levis obviamente não se tem a 
destruição mecânica da soqueira 
infestada e, por causa disso, mui-
tos insetos sobrevivem no interior 
dos rizomas, mesmo após a desse-
cação das plantas com herbicidas. 
Grande parte das formas jovens 
(larvas e pupas) e dos adultos não 
sofre danos mecânicos e nem são 
expostos à ação do sol e dos inimi-
gos naturais, como ocorre quando 
se usa o eliminador mecânico de 
soqueiras. Portanto, as populações 
dessa praga permanecem eleva-
das no canavial subsequente. Para 
compensar a falta de controle pela 
destruição mecânica da soqueira, 
alguns produtores aplicam inseti-
cidas no sulco de plantio, mas essa 
medida não tem a mesma eficiên-
cia da destruição mecânica da so-
queira no controle de S. levis. 
A destruição mecânica da 
soqueira também é medida essen-
cial no manejo de áreas infestadas 
por Migdolus. Os besouros conhe-
cidos como Migdolus englobam dez 
espécies; todas são consideradas 
raras, com exceção de M. fryanus, 
que ocorre em canaviais na região 
dos estados de Goiás, Mato Grosso, 
Mato Grosso do Sul, Paraná, Ron-
dônia, Santa Catarina e São Paulo. 
Os adultos são besouros com 
grandes diferenças entre os ma-
chos e as fêmeas: os machos são 
pretos, castanho-escuros ou de 
cor castanha-avermelhada, com 
grandes antenas e asas funcionais, 
enquanto as fêmeas são geralmen-
te mais claras, com antenas bem 
mais curtas que a dos machos e 
asas não funcionais (portanto elas 
não voam) (Figura 4). A fêmea de 
Migdolus coloca os ovos a grandes 
profundidades no solo; quando as 
larvas eclodem, começam a se ali-
mentar de raízes e outros materiais 
orgânicos. À medida que crescem, 
precisam de maior quantidade de 
alimento e, em razão disso, sobem 
para as camadas mais superficiais 
de solo, onde está grande parte do 
sistema radicular da cana, e pro-
vocam grande destruição de raí-
zes e das partes subterrâneas das 
touceiras. Os danos, portanto, são 
causados pelas larvas, que destro-
em os rizomas e raízes da cana (Fi-
gura 5), chegando algumas vezes a 
destruir totalmente o canavial na 
reboleira onde ocorrem.
Como as populações de lar-
vas são mais abundantes nas ca-
madas mais superficiais do solo 
na época mais seca do ano (entre 
abril e outubro), a destruição me-
cânica da soqueira velha execu-
tada nessa época pode eliminar 
grande parte da população de lar-
vas e pupas. Assim, o plantio di-
reto em áreas afetadas por Migdo-
lus não é recomendável, pois aqui 
também os inseticidas são pouco 
eficientes, mesmo aplicados em 
elevadas doses em profundidade 
(na base do arado de aivecas). Vale 
ressaltar que mesmo a destruição 
mecânica da soqueira não é capaz 
de destruir toda a população da 
praga, pois ela só atua na camada 
mais superficial do solo, não sendo 
capaz de revolver o solo a grandes 
profundidades, onde muitas lar-
vas podem estar alojadas. Por isso, 
o manejo de áreas infestadas por 
Migdolus engloba a destruição me-
cânica da soqueira e a aplicação de 
inseticidas em altas doses em pro-
fundidade.
Assim, apesar dos amplos e 
conhecidos benefícios do plantio 
direto em cana-de-açúcar, esse 
sistema não é indicado para áre-
as infestadas por pragas de solo, 
especialmente por Migdolus e Sphe-
nophorus, já que a medida mais 
efetiva para reduzir as populações 
dessas pragas é a destruição me-
cânica da soqueira infestada. 
Figura 5. Dano causado por larva de Migdolus fryanus.
18 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020
1 Introdução
Uma parcela do milho no 
Brasil é utilizada para o consumo 
humano direto e na obtenção de 
subprodutos com aplicações na 
indústria alimentícia e em outros 
processos industriais, mas a maior 
demanda é para composição de 
rações animais. Nos últimos anos, 
as exportações crescentes, sobre-
tudo para a China, aliadas à desti-
nação de parte dos grãos para pro-
dução de etanol no Centro-Oeste, 
criaram uma conjuntura de estí-
mulo ao cultivo, por contribuírem 
para a manutenção de valores de 
comercialização mais atrativos 
aos produtores. 
A colheita da segunda safra 
de milho, antiga “safrinha”, re-
presentou 95% da produção total 
de grãos do cereal no ano agrícola 
2018/2019 na região Centro-Oes-
te, alcançando cerca de 50,2 mi-
lhões de toneladas, em uma área 
cultivada ao redor de 8,2 milhões 
de hectares, cobrindo metade da 
área ocupada com soja no verão. 
Essa quantidade colhida respon-
deu por 50,2% de toda a produção 
brasileira no período. As estimati-
vas para 2019/2020 indicaram um 
incremento acima de 8,5% na área 
de segunda safra de milho na re-
gião (CONAB, 2020). Portanto, jun-
tamente com a soja, a cultura do 
milho compõe a base dos sistemas 
de produção na mais importante 
área de agricultura no País.
Embora a soja cultivada no 
verão sucedida pelo milho segun-
da safra seja o sistema dominante 
atualmente, há outras diferentes 
modalidades em que o milho se 
insere: 1) cultivo no verão, irriga-
do ou não, para produção de grãos; 
2) cultivo com finalidade de pro-
dução de silagem; 3) consórcios 
com forrageiras para formação de 
palhada ou pastagem; 4) inserção 
em esquemas mais diversificados 
de rotação de culturas e outros, in-
cluindo integração lavoura-pecu-
ária e lavoura-pecuária-floresta; 
além de 5) campos de produção de 
sementes. Não há dados estatísti-
cos precisos sobre a extensão de 
área dessas modalidades em par-
ticular, mas é importante atentar 
para o fato de que as distintas for-
mas de exploração da cultura do 
milho exigem manejo nutricional 
específico e podem ter impactos 
variáveisna fertilidade do solo e 
interferir no desempenho das de-
mais culturas componentes dos 
sistemas de produção.
Neste artigo, será dado enfo-
que ao milho no contexto de dois 
aspectos cruciais para o sucesso 
de qualquer atividade agrícola en-
volvendo culturas anuais em so-
los de cerrado. O primeiro ponto 
diz respeito à necessidade de se 
construir adequadamente a fer-
Manejo da fertilidade do solo
e adubação do milho na
Região Centro Oeste
Álvaro Vilela de Resende1, Jeferson Giehl1, Miguel Marques Gontijo Neto1, Emerson Borghi1,
Antônio Marcos Coelho1, Flávia Cristina dos Santos1, Samuel Campos Abreu1
1Embrapa Milho e Sorgo.
E-mail para correspondência:
alvaro.resende@embrapa.br
19Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 
tilidade química no perfil de solo, 
como etapa inicial indispensável 
ao condicionamento de ambien-
tes de alto potencial produtivo. 
O segundo ponto refere-se ao es-
tabelecimento de um programa 
mais criterioso de reposição de 
nutrientes na medida de sua re-
moção pelas colheitas ao longo do 
tempo, de modo a preservar a con-
dição de fertilidade construída e a 
produtividade, mas otimizando o 
retorno econômico das adubações 
que oneram fortemente os custos 
operacionais das fazendas.
2 Ajustando a
fertilidade do solo
para alto potencial
produtivo
Com base no custo das se-
mentes comercializadas em 
2019/2020, pode-se considerar 
que 51% do milho plantado no 
Centro-Oeste foi de cultivares de 
nível tecnológico mais alto, confor-
me levantamento da Associação 
Paulista dos Produtores de Semen-
tes e Mudas (APPS). Assim, embo-
ra a época de cultivo na segunda 
safra não seja a que proporciona 
maior potencial de rendimento do 
milho, a maioria dos produtores 
atualmente já não trabalha mais 
com manejo “improvisado”, como 
acontecia no advento da safrinha. 
Uma visão que vem se conso-
lidando é que a fertilidade do solo 
deve ser gerenciada buscando me-
lhor desempenho do sistema de 
produção como um todo e não de 
cada cultura de forma isolada. Na 
Tabela 1, são apresentados valores 
de referência para o condiciona-
mento da fertilidade química de 
solos de cerrado, em atendimento 
às necessidades gerais de espécies 
graníferas cultivadas em sequei-
ro. Esses valores são o ponto de 
partida, alvos do manejo visando 
tirar o máximo proveito da oferta 
ambiental, e devem ser usados nas 
etapas de diagnóstico e aferição 
periódica das condições das la-
vouras por meio da análise de solo. 
Dão ideia dos níveis de atributos 
de fertilidade a serem mantidos ao 
longo do tempo na camada de 0 a 
20 cm de profundidade, embora 
possam ser refinados a partir de 
melhor reconhecimento da reali-
dade local em termos de compor-
tamento do solo e das culturas em 
safras sucessivas, além, é claro, do 
padrão tecnológico empregado na 
propriedade. 
Essa abordagem constitui a 
forma técnica, econômica e am-
bientalmente mais racional de se 
fazer agricultura. Investimentos 
apenas parciais frente aos reque-
rimentos expressos na Tabela 1 
implicam em perda de eficiência 
no processo produtivo. Em outras 
palavras, cultivar um solo que não 
se encontra com fertilidade cons-
truída representa desperdício ou 
ineficiência na aplicação de todos 
os demais recursos de produção 
(sementes, defensivos, maquiná-
rio, irrigação...).
O condicionamento do per-
fil para estimular o crescimento 
radicular em profundidade é uma 
das técnicas mais efetivas para a 
convivência com as inconstâncias 
climáticas no cerrado, ao propiciar 
Tabela 1. Valores de referência para a análise de solo na camada de 0-20 cm de profundidade, visando o estabelecimento de ambientes de 
alto potencial produtivo de grãos no cerrado. Fonte: Adaptado de Sousa & Lobato (2004) e Benites et al. (2010).
20 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020
melhor aproveitamento da água 
disponível no solo em períodos de 
veranico, e também no decorrer da 
segunda safra, quando diminuem 
as chuvas e inicia-se a estação 
seca no Centro-Oeste. 
Para tal condicionamento, 
é preciso aplicar um conjunto de 
práticas agrícolas visando o forne-
cimento de cálcio (Ca) e a diminui-
ção da acidez subsuperficial, pelo 
uso de calagem e gessagem, além 
do enriquecimento do perfil com 
outros nutrientes, notadamente o 
fósforo (P), por meio de adubações 
corretivas incorporadas. A presen-
ça de alumínio (Al) e/ou a deficiên-
cia de Ca abaixo de 10 ou 20 cm de 
profundidade, bem como a con-
centração do P e outros nutrientes 
apenas nos primeiros centímetros 
de solo, tendem a confinar o cres-
cimento radicular superficialmen-
te, deixando as culturas mais vul-
neráveis ao estresse hídrico. Áreas 
novas normalmente requerem, 
ainda, um investimento inicial em 
adubações corretivas para ajustar 
os níveis de potássio (K) e micro-
nutrientes (B, Cu, Mn, Zn, Co e Mo). 
Ao proporcionarem melhor 
desenvolvimento vegetal, com 
maior produção de biomassa de 
parte aérea e de raízes, as condi-
ções químicas satisfatórias no per-
fil e o sistema plantio direto (SPD) 
constituem o ponto chave para se 
alcançar também a qualidade/fer-
tilidade física e biológica no solo. 
Nesse aspecto, pesa o baixo nível 
de diversidade de plantas e, por 
consequência, de variações na re-
lação carbono/nitrogênio (C/N) da 
palhada e na arquitetura do sis-
tema radicular, quando simples-
mente se repete a sucessão soja/
milho segunda safra a cada ano 
agrícola. Os produtores que con-
seguem contornar tal limitação 
com maior diversificação de culti-
vos e uso de plantas de cobertura 
completam a necessária harmo-
nização, ficando menos depen-
dentes de métodos mecânicos de 
condicionamento físico do perfil e 
mesmo de insumos externos para 
melhorar o equilíbrio químico-
biológico na lavoura. 
A matéria orgânica é o com-
ponente mais importante para a 
aptidão e potencial produtivo dos 
solos de cerrado, especialmente 
daqueles de textura mais arenosa, 
exercendo um papel intrincado, 
porém inegável na estabilização 
e tamponamento da condição de 
fertilidade construída. Portanto, 
tudo o que estiver ao alcance deve 
ser feito no sentido de conservar 
e, se possível, aumentar o teor de 
matéria orgânica do solo (MOS) 
nos ambientes de produção. Um 
conteúdo mais elevado de MOS 
significa melhor equilíbrio quími-
co, físico e biológico, uma maior 
reserva de nutrientes (sobretudo 
de N) e de água, atenuando danos 
de estresses bióticos e abióticos, 
além de compensar desbalanços 
(“erros”) na adubação, tornando o 
sistema de produção mais autor-
regulado e resiliente. 
3 Ajustando a
reposição de
nutrientes em
sistemas
envolvendo milho
O dimensionamento correto 
das práticas mencionadas na eta-
pa de construção da fertilidade do 
solo pode ser feito com relativa fa-
cilidade, envolvendo alguma assis-
tência técnica, a partir de análise 
do solo, das referências indicadas 
na Tabela 1 e, se necessário, con-
sulta aos manuais de recomenda-
ção de corretivos e fertilizantes. Já 
o ajuste eficiente das adubações 
de manutenção apresenta maior 
complexidade e requer esforço 
técnico mais dedicado nos proces-
sos de diagnóstico, definição de 
critérios e prescrição de nutrien-
tes a cada safra.
É um equívoco manejar um 
solo de fertilidade construída com 
dosagens fixas de nutrientes. Sem 
uma abordagem de dimensiona-
mento flexível das quantidades 
aplicadas em safras sucessivas, 
fatalmente incorre-se em falta ou 
excesso, acarretando no uso inefi-
ciente de fertilizantes, com conse-
21Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 
quências econômicas e eventual 
aumento do risco ambiental das 
adubações.
O primeiro cuidado para li-
dar com essa questão é reconhecer 
ou ao menos inferir sobre o real 
significado agronômico da condi-
ção de fertilidade construída, con-
forme a natureza e características 
do solo em cada lavoura. A título 
de exemplo, na Figura 1, pode-se 
observar níveis contrastantes de 
matéria orgânica, de capacidade 
de troca de cátions(CTC) e de te-
ores de potássio, ao se comparar 
um solo de textura média e outro 
argiloso, ambos considerados de 
fertilidade construída. Verifica-se 
a maior capacidade do solo argilo-
so em suprir nutrientes e manter 
sua fertilidade ao longo de “n” sa-
fras, ou seja, o seu maior grau de 
tamponamento. Vale lembrar que, 
por mais aprimorado que seja o 
manejo, é improvável que os ní-
veis de fertilidade do solo de tex-
tura média possam ser igualados 
aos do solo argiloso, pois são am-
bientes intrinsecamente distintos. 
Evidentemente, isso interfere nos 
critérios para o dimensionamento 
das adubações de manutenção em 
cada caso.
Assim, cada lavoura consis-
te de um ambiente de produção 
individualizado, com caracterís-
ticas particulares que precisam 
ser (re)conhecidas para subsidiar 
refinamentos gerenciais. Além 
do diagnóstico do solo, é necessá-
rio identificar mais precisamen-
te as exigências nutricionais não 
Figura 1. Distintos níveis de matéria orgânica, 
CTC e potássio trocável no perfil, exemplifi-
cando condições muito diferentes quanto à 
capacidade de estocagem de nutrientes e 
ao tamponamento de dois solos de cerrado, 
com textura média e argilosa, utilizados no 
cultivo de grãos. As linhas vermelhas nos 
gráficos dão ideia de limites críticos para um 
bom potencial produtivo. Fonte: Original dos 
autores.
22 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020
apenas do milho, mas do sistema 
como um todo, incluindo a soja e 
eventuais outras culturas em es-
quema de rotação, dentre outros 
condicionantes. É regra comu-
mente aceita que as adubações de 
manutenção devem, no mínimo, 
suprir os nutrientes necessários 
para repor as quantidades expor-
tadas nas colheitas. Nesse caso, a 
técnica é chamada de adubação 
de restituição ou de reposição. Por 
isso mesmo, não é procedimento 
coerente e eficaz fixar uma pres-
crição e replicá-la para várias si-
tuações.
Se a racionalidade do mane-
jo está em conservar a fertilida-
de construída, adubando-se em 
quantidade suficiente para repor 
a exportação, essa remoção de 
nutrientes precisa ser bem deter-
minada para cada talhão ao longo 
do tempo. Focando no milho, a ex-
portação pode ser muito variável, 
conforme o nível de produtivida-
de registrado ou a finalidade do 
cultivo (Figura 2). Para uma dada 
modalidade de exploração (milho 
safra, segunda safra ou silagem) 
a produtividade e, portanto, a ex-
portação de nutrientes oscila de 
um ano para outro. Tal variação 
costuma ser muito expressiva, 
principalmente no caso do milho 
segunda safra, como evidenciado 
nas estatísticas de produção por 
região ou estado (Figura 3). O mes-
mo raciocínio se aplica ao âmbito 
de propriedade, onde ocorrem di-
ferenças de produtividade entre 
anos-agrícolas, entre lavouras e 
até dentro de um talhão. Esse fato 
não pode ser desconsiderado no 
momento de definir as adubações 
de manutenção, sob pena de pro-
vocar desequilíbrios que prejudi-
carão as culturas subsequentes.
A adubação de restituição 
pode ser delineada de maneira 
mais eficiente quando se conse-
gue integrar informações oriun-
das de registros ou estimativas de 
entradas, créditos e saídas de nu-
trientes, possibilitando calcular de 
maneira mais assertiva o balanço, 
conforme esquematizado na Figu-
ra 4. A determinação do balanço 
de nutrientes permite orientar de 
forma dinâmica a adubação das 
safras, de modo a manter equi-
librada a fertilidade no sistema, 
desde que o solo já apresente os 
pré-requisitos de fertilidade cons-
truída (Tabela 1, Figura 5). Quan-
do, no balanço, se detectam sobras 
de nutrientes da adubação que 
não foram exportados na colheita 
(saldo positivo), especialmente no 
caso de P e K, pode-se com razo-
ável segurança diminuir propor-
cionalmente a aplicação para o 
próximo cultivo, que aproveitará 
os nutrientes residuais. Do con-
trário, havendo déficit no balanço 
calculado, é preciso aumentar o 
montante na próxima adubação, 
para compensar o saldo negativo 
e assim repor o que foi retirado do 
sistema na produção obtida ante-
riormente.
O milho apresenta grande 
capacidade de absorção precoce 
de nutrientes, característica pro-
pulsora do rápido desenvolvimen-
to das plantas e da definição do 
potencial produtivo no início do 
ciclo. Até o pendoamento (estádio 
VT), pode ocorrer mais de 60% 
da absorção total da maioria dos 
nutrientes (Tabela 2). Em termos 
práticos, significa que os reque-
rimentos nutricionais da cultura 
precisam ser atendidos na fase ve-
getativa. Toda a adubação deve ser 
distribuída na lavoura preferen-
cialmente nos primeiros 30 dias 
após a germinação, período que, 
além de permitir sincronizar me-
lhor o suprimento com a demanda 
das plantas, coincide com a maior 
facilidade de circulação de maqui-
nário entre as linhas de milho. Nos 
cultivos em segunda safra, esse 
prazo tende a ser ainda mais cur-
to devido à frequente escassez de 
chuvas já a partir das primeiras 
semanas do ciclo. 
É importante enfatizar que, 
pela lógica da adubação de resti-
tuição, uma parcela significativa 
dos nutrientes absorvidos pelas 
culturas vai depender das reservas 
do sistema (solo, MOS e palhada), 
de onde se originam créditos (Fi-
gura 4) que ajudam a suprir a de-
manda dos cultivos. Certa propor-
Figura 2. Exportação de nutrientes pela cultura do milho conforme a modalidade de cultivo 
e o nível de produtividade. Para converter P2O5 em P e K2O em K, dividir, respectivamente, os 
valores da figura por 2,29 e 1,20. 
23Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 
ção do que é acumulado durante o 
ciclo (extração) sai via exportação 
nas partes colhidas (Tabela 2) e 
precisará ser reposta na aduba-
ção justamente para que aquelas 
reservas sejam restabelecidas e 
continuem cumprindo o seu papel 
de fonte de nutrientes para as cul-
turas seguintes, mantendo assim a 
estabilidade produtiva do sistema. 
Por isso, o balanço de nutrientes 
envolvendo uma sequência de cul-
tivos/adubações/colheitas consti-
tui um ótimo aferidor do equilíbrio 
nutricional, especialmente quan-
do devidamente confrontado com 
os resultados de análise de solo. 
Considerando a sucessão à 
soja verão em solos com CTC maior 
que 4,0 cmolc/dm3 (os quais apre-
sentam razoável tamponamento/
reserva de nutrientes), a aduba-
ção de restituição de P e K para o 
milho segunda safra poderia ser 
feita exclusivamente com base nas 
quantidades exportadas no cultivo 
anterior de soja e vice-versa, com 
ajustes no caso de mudança im-
portante, para mais ou para me-
nos, na produtividade esperada. 
Esses dois nutrientes são os que 
melhor se adequam à estratégia 
de adubação de sistema, na qual 
o momento e a forma de distribui-
ção dos fertilizantes podem ser 
escolhidos com mais flexibilidade, 
conforme conveniências técnicas 
ou operacionais. Cabe mencionar 
que a pesquisa tem demonstrado 
que a soja tem maior plasticidade, 
sendo menos responsiva à aduba-
ção de sistema do que o milho. Por-
tanto, as razões para privilegiar a 
aplicação de P e K na soja, opção 
adotada por muitos produtores do 
Centro-Oeste, decorrem mais de 
vantagens operacionais do que de 
argumentos relacionados à efici-
ência técnica da adubação.
Os dados da Tabela 3 dão 
ideia das taxas de exportação de 
nutrientes nos grãos colhidos de 
soja e de milho. São informações 
atualizadas e que podem ser con-
sideradas para contabilizar as sa-
ídas de nutrientes no balanço do 
sistema e subsidiar a definição 
das adubações na sucessão soja/
milho segunda safra, por exem-
plo. Embora apresentem alguma 
variação em função de cultivar, 
ambiente e manejo da adubação, 
as quantidades exportadas por to-
nelada de grãos são relativamente 
semelhantes para condições di-
versas. No caso do milho, as dife-
renças entre safra e segunda safra 
são pequenas. De modo geral, as 
quantidades exportadas são mais 
afetadas pelas variações de pro-
dutividade das culturas do que de 
concentração dos nutrientes nos 
grãos.
4 Manejo de
nutrientesna
cultura do milho
É natural que a adubação 
NPK receba mais atenção por re-
presentar o maior custo no mane-
jo nutricional do milho. Como já 
mencionado, o fornecimento de P 
e K em sistemas consolidados deve 
ser baseado no balanço de entra-
das e saídas, com monitoramento 
periódico do solo para eventuais 
ajustes a fim de manter níveis de-
Figura 3. Evolução da produtividade média do milho segunda safra e da soja nos estados de 
Goiás e Mato Grosso (gráfico de cima), e variação percentual da produtividade em relação ao 
ano anterior (gráfico de baixo). Notar que a variabilidade da produção e, por consequência, 
da exportação de nutrientes, é maior no milho do que na soja, em função, principalmente, da 
instabilidade climática na segunda safra. 
24 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020
sejáveis de disponibilidade na ca-
mada de 0-20 cm do perfil (Tabela 
1). 
Assim, num exemplo soja/
milho segunda safra com pro-
dutividades de 4,5 e 9,0 t/ha de 
grãos, respectivamente, a aduba-
ção de restituição para o sistema, 
com base nas taxas de exportação 
pelas duas culturas (Tabela 3), 
corresponderia a aportes ao re-
dor de 88 (45+43) kg/ha de P2O5 e 
123 (90+33) kg/ha de K2O por ano 
agrícola. Desde que se assegure o 
reabastecimento nas quantidades 
totais exigidas, o produtor pode 
decidir entre diferentes alternati-
vas de manejo da adubação de sis-
tema, considerando possibilida-
des de alocação entre as culturas e 
modo de aplicação. A distribuição 
superficial a lanço geralmente é 
possível sem maiores restrições 
para os fertilizantes potássicos, 
enquanto, para os fosfatados, as 
premissas para eficiência técni-
ca e segurança ambiental devem 
ser observadas (Prochnow et al., 
2017).
Teores adequados e uma re-
lação equilibrada de cálcio (Ca) e 
magnésio (Mg) podem ser plena-
mente atendidos concomitante-
mente ao controle da acidez do 
solo, mediante escolha apropriada 
do tipo de calcário ou outros corre-
tivos. O suprimento de enxofre (S) 
é garantido por vários anos após 
a utilização de gesso agrícola no 
manejo da acidez, sendo o efeito 
residual proporcional à dosagem 
aplicada. Deve ser monitorado por 
meio de análise de amostras de 
camadas superficiais e subsuper-
ficiais (até 40 ou 60 cm no perfil), 
pois o S como sulfato ligado a cá-
tions apresenta grande mobilida-
de. Quando o teor estiver abaixo do 
nível crítico (Tabela 1), efetuar rea-
plicação de gesso ou fornecimento 
por meio de outras fontes conten-
do o nutriente. 
Já os micronutrientes (B, Cu, 
Mn, Zn, Co, Mo) devem ser aplica-
dos de forma corretiva via solo na 
abertura de área, com reaplicações 
a cada quatro anos ou em intervalo 
menor para sistemas mais inten-
sivos. Também devem ser moni-
torados periodicamente por meio 
de análises de solo e foliar, sendo 
opções complementares de forne-
cimento sua adição via produtos 
para tratamento de sementes e 
em adubações foliares. Devido às 
pequenas quantidades requeri-
das/aplicadas e às reações dos mi-
cronutrientes no solo, há grande 
variabilidade espacial e temporal 
na sua disponibilidade. Em parte, 
por esse motivo, vários resultados 
de pesquisa relatam benefícios de 
pulverizações com formulações 
multinutrientes durante a fase 
vegetativa do milho, promovendo 
certa uniformização da lavoura e 
maior rendimento de grãos. 
Figura 5. Diagnóstico baseado na análise de solo e no balanço de nutrientes para suporte 
à tomada de decisão no manejo da adubação de restituição em sistemas de produção de 
culturas anuais. 
Figura 4. Modelo conceitual para aplicação do balanço de nutrientes no monitoramento 
nutricional de sistemas de produção de culturas anuais em solos de fertilidade construída. 
25Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 
O ajuste da adubação nitro-
genada é mais desafiador, pois, 
mesmo adotando-se o balanço 
de nutrientes, é necessário lidar 
com indicadores pouco precisos 
sobre aspectos como: 1) potencial 
de créditos de N no sistema, afe-
tado principalmente pelo tipo de 
palhada e taxas de decomposição 
de resíduos e de mineralização da 
MOS; 2) contribuição de cultivos 
antecessores de espécies legumi-
nosas; 3) eficiência do fertilizante 
nitrogenado; 4) déficits decorren-
tes de processos de imobilização 
de N e de perdas por volatilização 
e lixiviação; e 5) influência de fa-
tores climáticos como chuva/seca, 
calor/frio, insolação/nebulosidade, 
na demanda fisiológica do milho 
e no aproveitamento da adubação 
nitrogenada. 
Na modalidade de cultivo 
mais comum no Centro-Oeste, o 
milho em sucessão à soja se bene-
ficia muito dos créditos de N deri-
vados da rápida decomposição dos 
restos culturais da leguminosa, 
além da própria contribuição da 
MOS. Entretanto, não há na lite-
ratura dados consensuais sobre 
as quantidades de N deixadas no 
sistema após a colheita da soja. As-
sume-se que quanto maior a pro-
dutividade de grãos, proporcional-
mente maiores serão a massa de 
palhada na área e as quantidades 
de N disponíveis para o milho em 
sucessão. Duarte et al. (2017) indi-
caram uma estimativa de crédito 
de 17 kg ha-1 de N para cada tone-
lada de soja produzida. 
O fornecimento de N na se-
meadura é decisivo para um bom 
arranque do milho. No caso da 
segunda safra, que geralmente re-
quer menor dose total de N, forne-
cer certa quantidade na semeadu-
ra pode ser mais importante para 
o desempenho produtivo do que a 
opção de se aplicar todo o nutrien-
te apenas em cobertura (DUARTE 
et al., 2017). A adubação de cober-
tura poderia ser realizada até o 
estádio de 8 folhas, porém, muitas 
vezes a antecipação para o estádio 
de 3 a 4 folhas resulta em melhor 
resposta no plantio direto, além de 
estimular o fechamento do dossel 
da cultura facilitando o manejo de 
plantas daninhas. Para os padrões 
atuais de produtividade média na 
segunda safra, o fornecimento de 
dose total acima de 100 kg ha-1 de 
N deve ter sua efetividade técnica 
e econômica aferidas localmente, 
devido a variações de resposta que 
sempre ocorrem em função de in-
terferências climáticas, diferenças 
de créditos do nutriente no siste-
ma e perdas por volatilização e/ou 
lixiviação.
Com frequência, doses totais 
de 90 a 120 kg/ha de N têm promo-
vido produtividades superiores às 
médias estaduais e se mostrado 
economicamente viáveis para o 
milho segunda safra no Centro-
Oeste. Entretanto, têm-se tornado 
cada vez mais comuns os rela-
tos de lavouras com rendimento 
maior que 150 sc/ha. Nesses am-
bientes, a adubação indicada aci-
Tabela 2. Índices de absorção/acúmulo na parte aérea do milho até o estádio de pendoa-
mento e de translocação para os grãos, conforme o nutriente. 
Tabela 3. Exportação de nutrientes em cada tonelada colhida de grãos de soja e de milho. 
26 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020
ma deve ser reforçada em 14 kg/ha 
de N para cada tonelada a mais de 
grãos que se espera produzir (aci-
ma de 150 sc/ha). 
É preciso também maior 
atenção e eventual reforço na adu-
bação nitrogenada para o milho 
em consórcio com gramíneas for-
rageiras (por exemplo, braquiá-
rias). A insuficiência de N acentua 
a competição intra e interespecí-
fica. Nos plantios consorciados, 
a falta do nutriente retarda o de-
senvolvimento do milho e favorece 
os capins, que mostram-se mais 
robustos e agressivos ao recebe-
rem maior incidência de radiação 
solar. Assim, o correto posiciona-
mento do momento de realização 
da adubação de cobertura, para 
privilegiar o arranque do milho 
e o rápido fechamento do dossel, 
é uma estratégia de manejo para 
travar o crescimento do capim, de 
forma que a competição não preju-
dique o rendimento de grãos (Re-
sende et al., 2019b).
Há grande interesse na prá-
tica de inoculação do milho com 
bactérias diazotróficas, a exemplo 
de espécies do gênero Azospirillum, 
capazes de realizar o processo 
de fixação biológica de nitrogê-
nio (FBN), além de estimularem 
a produção de determinadoshor-
mônios com efeitos promotores 
do crescimento de plantas. Alguns 
pesquisadores acreditam que esse 
segundo aspecto seja de fato o 
mais relevante. É preciso ponde-
rar que a FBN no milho, diferen-
temente da simbiose soja-rizóbio, 
não permite suprimir integral-
mente a adubação nitrogenada. 
A economia de fertilizantes ou os 
ganhos de rendimento pela inocu-
lação do milho com bactérias dia-
zotróficas são bastante variáveis 
entre locais/cultivos e inconstan-
tes ao longo do tempo. Os benefí-
cios esperados nem sempre são 
perceptíveis, sobretudo quando se 
trabalha com doses mais elevadas 
de N na adubação.
Além de ser determinante 
da produtividade do milho, o nível 
de fertilização nitrogenada afeta o 
saldo do nutriente após a colhei-
ta. Assim, a adubação deve fazer 
parte de um programa de reposi-
ção em que se busca considerar as 
reservas e ciclagem de N, permi-
tir suprimento suficiente ao bom 
desenvolvimento e produtividade 
daquele cultivo e realimentar o es-
toque do sistema. De modo geral, a 
adubação nitrogenada do milho no 
Centro-Oeste vem sendo dimen-
sionada em níveis insuficientes 
para cobrir sequer as quantidades 
exportadas nas colheitas. Em que 
pesem as respostas nem sempre 
compensatórias em termos eco-
nômicos devido às questões mer-
cadológicas, cabe sensibilizar os 
produtores de que cultivos recor-
rentes de milho deixando déficits 
de N no sistema acabam por forçar 
a degradação da MOS, com ine-
vitável prejuízo ao seu papel pri-
mordial para a sustentabilidade 
da agricultura em ambientes de 
cerrado.
Mais informações aplicáveis 
ao manejo da fertilidade do solo 
e adubação do milho no Centro-
Oeste podem ser acessadas no ar-
tigo técnico “Manejo de nutrientes 
no cultivo de milho segunda safra 
na região do Cerrado”, publicado 
na Revista Plantio Direto e Tecno-
logia Agrícola, edição 166 de nov/
dez 2018. 
5 Considerações finais
Os investimentos na cons-
trução da fertilidade, mesmo que 
realizados da melhor maneira 
possível, normalmente não dis-
pensam ajustes posteriores no uso 
de corretivos e fertilizantes. O pro-
dutor deve fazer o monitoramento 
das condições de suprimento de 
nutrientes no sistema de culturas, 
por meio do balanço de entradas 
via adubação e saídas via colheita, 
aferindo periodicamente as reser-
vas do solo com análises de rotina 
para detecção de oscilações dos 
atributos de fertilidade. Proceden-
do assim, é possível identificar a 
necessidade de redefinir as quan-
tidades de fertilizantes para corri-
gir desbalanços entre requerimen-
to/fornecimento de nutrientes às 
culturas ou nos níveis de disponi-
27Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 
bilidade no solo ao longo do tem-
po. Ainda é comum encontrar la-
vouras com déficit significativo de 
determinados nutrientes e sobra 
de outros quando se calcula o ba-
lanço, indicando oportunidades de 
aperfeiçoar o gerenciamento para 
uso mais eficiente de fertilizantes, 
com reflexos na produtividade e 
na rentabilidade das lavouras.
Os produtores do Centro-
Oeste já usufruem da flexibilida-
de de manejo proporcionada pelo 
fato de grande parte das áreas de 
cultivo se encontrar com alta fer-
tilidade, apresentando boa reserva 
de nutrientes no perfil do solo, seja 
em formas inorgânicas retidas na 
matriz mineral ou em formas or-
gânicas na palhada e MOS. Nesse 
cenário, o manejo nutricional das 
culturas anuais avança para con-
solidar a adubação de sistema e a 
técnica de restituição dos nutrien-
tes exportados como procedimen-
tos rotineiros para maior eficiên-
cia. Mas muitos aperfeiçoamentos 
poderão ser acrescentados à me-
dida que se utilizarem meios de 
integrar informações e critérios 
baseados no conhecimento deta-
lhado do comportamento do solo e 
das culturas em cada talhão, com 
melhor quantificação dos fluxos 
de entrada, saída e ciclagem de 
nutrientes. Isso se tornará cada 
vez mais factível com a evolução 
da Agricultura 4.0 ou Agricultura 
Digital.
Por fim, resta ainda um de-
safio, talvez o maior atualmente 
constatado para o binômio soja/
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Balanço de nutrientes e manejo da 
milho segunda safra no cerrado, 
que é a composição de novos dese-
nhos para a diversificação do sis-
tema. Infelizmente, o modelo pre-
dominante de sucessão simples 
ainda está muito próximo à mono-
cultura e degrada-se, implicando 
em problemas de toda ordem aos 
produtores. 
6 Agradecimentos
Ao CNPq (Processo 
422538/2016-7), à Fundação Agri-
sus (Processo 2484/18) e à Yara 
Brasil (Processo 20700.19/0050-
5), pelo suporte financeiro às pes-
quisas envolvendo adubação de 
sistema em solos de fertilidade 
construída. 
adubação em solos de fertilidade 
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28 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020
O cultivo de milho na região 
Centro-Oeste do Brasil, ocorre, 
predominante,