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1Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 2 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 Edição Especial Centro-Oeste Outubro de 2020 Aldeia Norte Editora Ltda Rua Uruguai, 421, sala 702, Albert Einstein Center 99010-110 - Passo Fundo/RS Fone (54) 3311 1235 Whatsapp 54 9 99449551 e-mail revista@plantiodireto.com.br Fundador Gilberto de Oliveira Borges (1947-2002) Diretor | Editor Técnico João Manoel Borges jm.borges@plantiodireto.com.br Diretora Juliane Borges juliane.borges@plantiodireto.com.br Conselho Consultivo Antonio Luis Santi (Universidade Federal de Santa Maria) Elmar Floss (Grupo Floss) Erlei Melo Reis (Universidade de Passo Fundo) Fernando Penteado Cardoso (Fundação Agrisus) Gilberto Cunha (Embrapa Trigo) João Carlos Moraes de Sá (Universidade Estadual de Ponta Grossa) Telmo Jorge Carneiro Amado (Universidade Federal de Santa Maria) Walter Boller (Universidade de Passo Fundo) Ruy Casão Jr. (IAPAR) Para anunciar comercial@plantiodireto.com.br 54 3311 1235 Nota: As opiniões emitidas em artigos assinados, são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente as da Revista Plantio Direto & Tecnologia Agrícola. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo desta publicação sem autorização da Editora. ISSN 16778081Sumário 3 12 28 34 Pragas da soja no Cerrado Crébio José Ávila; José Fernando Jurca Grigolli; José Roberto Salvadori; Ivana Fernandes da Silva Perspectivas sobre manejo de plantas daninhas na cultura do algodoeiro Jamil Constantin; Rubem Silvério de Oliveira Jr. A relação entre plantio direto e pragas em canaviais Leila Luci Dinardo-Miranda; Higor Domingos Silvério da Silva Manejo da fertilidade do solo e adubação do milho na Região Centro Oeste Álvaro Vilela de Resende, Jeferson Giehl, Miguel Marques Gontijo Neto, Emerson Borghi, Antônio Marcos Coelho, Flávia Cristina dos Santos, Samuel Campos Abreu Plantas Daninhas: Cenário no cultivo do milho na região centro-oeste Décio Karam, Alexandre Ferreira da Silva Como manejar doenças foliares em milho Dagma Dionísia da Silva; Luciano Viana Cota; Rodrigo Véras da Costa Desafios no manejo de insetos-praga do sistema de produção do Centro-Oeste Rosangela C Marucci; Simone M Mendes; Silvino G Moreira Uso eficiente de corretivos e fertilizantes em pastagens Lourival Vilela; Geraldo Bueno Martha Jr.; Djalma Martinhão Gomes de Sousa Os dez passos para ter sucesso com a implantação da ILPF no Cerrado Ronaldo Trecenti 14 18 46 54 66 3Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 As plantas de soja podem ser atacadas por pragas desde a germinação das sementes e emer- gência das plantas até a fase de maturação fisiológica, sendo es- ses organismos constituídos por diferentes grupos de artrópodes (insetos e ácaros), diplópodes (pio- lhos-de-cobra) e moluscos (lesmas e caracóis). Neste artigo, são abordadas as principais espécies de pragas que atacam a soja, no cerrado. Os problemas se iniciam com os in- setos de solo, seguido pelas pragas de superfície que atacam especial- mente as plântulas. Em seguida vêm as lagartas que se alimentam de folhas, flores e até mesmo de vagens e, finalmente, os insetos sugadores que atacam as folhas, as vagens ou os grãos em formação. Pragas iniciais Caracterizam-se com pragas iniciais da soja, aqueles organis- mos que atacam a cultura até por volta dos 30-40 dias após a sua emergência, danificando especial- mente as raízes, os nóduos de fixa- ção biológica e as plântulas. Pragas de solo São representadas, principal- mente, pelos corós e os percevejos castanhos. Esses dois grupos de insetos apresentam normalmente, uma forte associação com o solo onde ocorrem e podem destruir ou sugar as raízes da soja, afetando negativamente o estabelecimen- to da cultura, o desenvolvimento inicial das plantas e, consequente- mente, a sua produtividade. Os danos de corós na soja (Figura 1) são causados pelo con- sumo de raízes ou até mesmo dos nódulos de fixação biológica de nitrogênio, acarretando redu- ção na capacidade das plantas de absorver água e nutrientes, in- gredientes essenciais para o seu desenvolvimento e produção de grãos e até a morte das mesmas. A intensidade de danos é maior em plantas jovens de soja cultivadas em condições de déficit hídrico. Já os danos causados por percevejos castanhos na soja são decorrentes da sucção contínua da seiva nas raízes, o que pode levar ao enfra- quecimento, amarelecimento ou até mesmo a morte das plantas (Figura 2). Pragas de plântulas e hastes Caracterizam-se essas pra- gas os insetos e outros artrópodes que atacam a cultura logo após a sua emergência até a formação das primeiras folhas trifoliadas, podendo esse ataque, afetar ne- gativamente o estande, o vigor, a uniformidade das plantas e, con- sequentemente, o rendimento de grãos da cultura. A lagarta-do-cartucho, Spo- doptera frugiperda causa danos em plântulas (Figura 3), quando esta praga já estiver previamente em uma espécie vegetal utilizada como cobertura e que será desse- cada para a semeadura da cultura. Já o bicudo ou tamanduá-da-soja, Sternechus subsignatus (Figura 4), as larvas podem causar injúrias na cultura, provocando a interrupção ou redução da circulação da seiva Pragas da soja no Cerrado Crébio José Ávila1; José Fernando Jurca Grigolli2; José Roberto Salvadori3; Ivana Fernandes da Silva4 1Embrapa Agropecuária Oeste Dourados, MS. 2Fundação MS – Maracaju, MS. 3Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS. 4Universidade Federal da Grande Dourados - Dourados, MS. 4 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 através da haste principal, redu- zindo assim o vigor das plantas e a sua produtividade. Os adultos atacam a parte apical das plantas, dilacerando seu tecido o que pode levar secamento e morte da planta. A lagarta-elasmo, Elasmopal- pus lignosellus (Figura 5), é outra praga que também pode danificar plantas jovens de soja, especial- mente quando o inseto já estiver presente na cultura anterior ou na cobertura a ser dessecada (ex. trigo, braquiária, aveia, tiguera de milho) para a semeadura da soja. As larvas penetram no colo da planta, um pouco abaixo do nível do solo, onde constroem galerias ascendentes na haste central, obs- truindo do transporte de água e de nutrientes do solo para a parte aérea, podendo causar a murcha e morte da planta, com consequente redução de estande da cultura. Já as lesmas e caracóis (Figu- ra 6) são moluscos da classe Gas- tropoda, que raspam o tecido do caule, dos cotilédones ou até mes- mo das folhas de plântulas de soja, sendo suas injúrias semelhantes àquelas causadas por insetos des- folhadores. Esses danos podem re- duzir o estande da cultura e afetar a sua produtividade. Figura 1. Coró (A) e seus danos (B) em lavouras de soja. Fo to : C . J . Á vi la Fo to : E m br ap a Figura 2. Percevejo-castanho (A) e seus danos (B) em lavoura de soja. Fo to : D irc eu G as se n Fo to : L . M . V iv an 5Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 Manejo de pragas iniciais Para que o manejo efetivo de pragas que atacam as raízes da soja (corós e percevejo-castanho) e das demais pragas iniciais (lagar- tas, brocas etc.), é necessário fazer o monitoramento dessas pragas antes mesmo da instalação da la- voura, uma vez que todas as táti- cas de controle a serem utilizadas são preventivas. A aplicação de inseticidas tais como fipronil, imidaclopri- do + tiodicarbe, ciantraniliprole + tiametoxam e clorantraniliprole nas sementes constitui alternativa eficiente para o manejo de corós, da lagarta-elasmo, do tamanduá- da-soja e da lagarta-do-cartucho especialmente em sistemas con- servacionistas, como é o plantio direto. No caso do percevejo-cas- tanho, inseticidas aplicados nas sementes não têm mostrado uma tática eficiente.No entanto, tra- balhos conduzidos pela Fundação MT evidenciaram que o cultivo de crotalárias em rotação de cultu- ras, especialmente com a espécie Crotalaria spectabilis, pode afetar negativamente o desenvolvimento do percevejo castanho no solo, re- duzindo assim a sua população na área infestada. Para o controle de lesmas e caracóis, produtos na forma de iscas à base de metaldeído são eficientes, mas além de terem um preço elevado, não tem registro no MAPA para uso na soja. Tra- balhos conduzidos pela coopera- tiva COAMO, em Campo Mourão/ PR, evidenciaram que a mistura de abamectina + leite integral im- pregnados em quirelas de milho constituiu uma isca efetiva para o Figura 3. Lagarta de Spodoptera frugiperda e seus danos em plântula de soja. Fo to : D irc eu G as se n Figura 4. Adulto (A) e larva (B) do tamanduá-da-soja e seus danos em soja. Fo to : M .T . B . S ilv a Fo to : M .T . B . S ilv a 6 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 controle de caramujos na cultura da soja. Sugere-se que qualquer aplicação para o controle de cara- mujos em soja seja realizada du- rante a noite, período em que essas pragas apresentam maior ativida- de devido às condições favoráveis de umidade e de temperatura e, dessa forma, são mais vulneráveis à ação dos produtos químicos. Pragas que atacam as folhas As principais espécies de pra- gas desfolhadoras com potencial de danos na soja na região Centro- Oeste são: a lagarta-da-soja, Anti- carsia gemmatalis; a lagarta-falsa- medideira, Chrysodeixis includens; a lagarta-das-maçãs, Heliothis vires- cens; a lagarta Helicoverpa armigera e as lagartas do gênero Spodoptera tais como S. frugiperda, S. cosmioides e S. eridania. Essas pragas podem se alimentarem de folhas, flores ou até mesmo de vagens dependendo da espécie. A lagarta-da-soja (Figura 7) apresenta grande potencial de in- júrias, podendo causar 100% de desfolha, caso não seja controlada, e afetar significativamente a taxa fotossintética das plantas e o ren- dimento de grãos da cultura, sen- do esses danos mais acentuados na fase reprodutiva da soja. Já as lagartas conhecidas po- pularmente por falsas-medideiras compreendem basicamente três espécies: Crhysodeixis includens, Tri- Figura 5. Lagarta-elasmo (A) e seus danos em soja (B). Fo to : D irc eu G as se n Fo to : E m br ap a Figura 6. Lesmas (A) e caramujo (B) em soja. Fo to : D irc eu G as se n Fo to : E m br ap a 7Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 choplusia ni e Rachiplusia nu. A espé- cie R. nu é encontrada, com maior freqüência, na região Sul do Brasil (RS e SC), enquanto que C. includens (Figura 8) tem sido observada em todas as regiões tradicionais de cultivo da soja, bem como nas áre- as atuais de expansão da cultura (Nordeste e Norte). No passado, a espécie C. in- cludens era considerada praga de importância secundária na cultu- ra da soja, quando raramente exi- gia medidas de controle. Todavia, após a safra 2001/2002, grandes mudanças ocorreram no sistema de produção da soja, como a detec- ção da ferrugem-asiática, que con- tribuiu para transformar a espécie em uma praga-chave chave nas di- ferentes regiões do Brasil. O uso de fungicidas para o controle da fer- rugem-asiática, que também afeta negativamente os fungos benéfi- cos como Nomuraea rileyi (doença- branca), associado ao emprego de inseticidas não seletivos na cultu- ra, são considerados os principais fatores que proporcionaram a mu- dança do status de C. includens na cultura da soja. Manejo de pragas que atacam as folhas O sucesso do manejo inte- grado de pragas (MIP) na soja tem como base as estratégias e táticas empregadas para o controle de lagartas, especialmente nos está- Figura 7. Adulto (A) e a lagarta da soja (B). Fo to : E m br ap a Fo to : E m br ap a Figura 8. Adulto (A) e lagarta falsa-medideira (B). Fo to : E m br ap a Fo to : E m br ap a 8 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 dios iniciais de desenvolvimento da cultura. Essas tecnologias em- pregadas na lavoura de soja devem sempre buscar o equilíbrio bioló- gico no agroecossistema. Deve-se ter também consciência de que nem todos os organismos que cau- sam desfolha na soja necessitam de controle, haja vista que a cultu- ra tolera certos níveis de desfolha sem que haja redução significativa da produção. Dessa forma, o con- trole é somente justificado quando a densidade populacional das pra- gas ou a intensidade de desfolha na cultura forem iguais ou superiores aos níveis de ação recomendados pela pesquisa. O controle de lagar- tas desfolhadoras, especialmente a lagarta-da-soja e a falsa-medi- deira na soja, deve ser realizado quando forem encontradas, em média, 20 lagartas grandes (igual ou maior que 1,5 cm) por metro de fileira ou quando a desfolha atingir 30% antes da floração ou 15% tão logo apareça as primeiras flores. No entanto, tem-se observado que a sensibilidade ao desfolhamento da soja poderia ser menor, devido ao ciclo curto, baixo índice de área folhar e alta capacidade produti- va das novas cultivares, especial- mente em condições de estiagens, necessitando assim dos ajustes desses níveis de desfolha. Outra estratégia importante é ter em mente que quanto mais tempo for possível retardar a pri- meira aplicação de inseticidas na cultura, maior será a proba- bilidade de sucesso no manejo de lagartas e outras pragas uma vez que essa atitude proporciona condições para o estabelecimento dos primeiros inimigos naturais das pragas no agroecossistema, os quais se multiplicam sobre a primeira geração de lagartas, que se estabelecem na cultura. Em adição, o controle de lagartas não deve ser feito com inseticidas não seletivos, como são os piretróides, visto que, nestas condições pode- rá ocorrer alta mortalidade dos inimigos naturais, prejudicando a ação do controle biológico natural no agroecossistema. Informações sobre os inseticidas recomenda- dos para o manejo de lagartas da soja estão contidas nas recomen- dações de inseticidas da Reunião de Pesquisa de Soja da Região Cen- tral do Brasil (RPSRCB). No caso da lagarta-das-ma- çãs, ainda não existe recomenda- ção de inseticidas para o seu ma- nejo, porém, trabalhos conduzidos em Mato Grosso do Sul eviden- ciaram que os produtos metomil, tiodicarbe, espinosade, flubendia- mida e clorantraniliprole propor- cionaram boa eficácia no controle dessa praga. O controle químico da falsa- medideira tem sido relativamente difícil, por se tratar de uma espé- cie mais tolerante às doses de in- seticidas normalmente utilizadas na soja. Outro fator limitante para o controle efetivo da falsa-medi- deira está relacionado ao seu há- bito. Como as lagartas ficam situ- adas, geralmente, no baixeiro e/ ou no terço médio das plantas, os inseticidas aplicados sobre a cul- tura, normalmente, não atingem o ambiente onde o inseto está aloja- do. Dessa forma, as lagartas ficam protegidas da ação dos produtos, especialmente quando a cultura estiver fechada. Trabalhos conduzidos na Embrapa Agropecuária Oeste evidenciaram que a lagarta falsa- medideira se desloca verticalmen- te durante o dia no dossel foliar da soja, ficando mais exposta no terço superior das plantas de ma- drugada e a noite, momentos estes mais adequados para a aplicação de inseticidas visando o seu con- trole. Os inseticidas pertencentes ao grupo dos carbamatos, diami- das, avermectinas, espinosinas, oxadiazinas e análogo de pirazol são, em geral, os mais promissores para serem empregados no con- trole da lagarta-falsa-medideira. As plantas transgênicas Bt constituem uma tecnologia im- portante para ser empregada no controle de lagartas na cultura da soja. Com o emprego da soja Intac- ta RR2 Pro, que expressa a proteí- na Cry1Ac de Bacillus thuringiensis, o manejo de lagartas na cultura da soja foi profundamentealte- 9Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 rado. É de conhecimento público que a soja Intacta apresenta bom controle da lagarta da soja, falsa- medideira e lagarta-das-maçãs, mas tem-se mostrado pouco efe- tiva para as lagartas do complexo de Spodoptera. Todavia, duas novas biotecnologias devem chegar ao mercado brasileiro em breve, pois estão em fase final de desenvolvi- mento. A primeira é a soja INTAC- TA 2 XTEND que apresenta três proteínas para o controle de la- gartas (Cry1A105 + Cry 2Ab2 + Cry 1Ac), a segunda é a soja Conkesta, que apresenta duas proteínas (Cry 1F + Cry 1Ac). As duas biotecnolo- gias já estão aprovadas no Brasil e aguardando a liberação comercial da China para serem comerciali- zadas no território nacional. A utilização exclusiva da soja Intacta nas áreas de cultivo poderá proporcionar o desenvolvimento de lagartas resistentes às proteí- nas Bt, podendo inviabilizar essa tecnologia em médio prazo espe- cialmente em razão de expressar apenas uma proteína (Cry1Ac). Para que não ocorra o desenvolvi- mento de resistência das lagartas às cultivares de soja Bt e, conse- quentemente, prolongar a vida útil dessa tecnologia, é imprescindível a implantação de áreas de refúgios nas unidades de produção agríco- la. Assim, recomenda-se a adoção de refúgios estruturados em pelo menos 20% da área cultivada com a soja transgênica Bt, utilizando- se nestas áreas materiais conven- cionais (não Bt) que apresentam fenologia e ciclo semelhante ao genótipo transgênico. Nas áreas de refúgio, o controle de lagartas deverá ser realizado sempre que o inseto atingir o nível de controle. Pragas sugadoras A mosca-branca, Bemisia sp. (Figura 9) é uma importante praga sugadora da soja que pode causar intensa injúria direta e in- diretamente na cultura. Os danos são causados tanto pelos adultos quanto pelas ninfas (formas jo- vens), na fase vegetativa ou repro- dutiva da soja, quando se alimen- tam nas plantas, através da sucção da seiva, causando debilidade ou até mesmo a sua morte. Em condi- ções de população muito elevada, especialmente as ninfas excretam substâncias açucaradas (“honey- dew”) em grande quantidade, pro- porcionando o desenvolvimento da fumagina (Capnodium sp.), um fungo de coloração negra que se desenvolve sobre as folhas da soja, tornando-as escuras o que preju- dica a realização da fotossíntese. Esse escurecimento da superfí- cie foliar causa o ressecamento, Figura 9. Adulto (A) e ninfa (B) da mosca-branca. Fo to : E m br ap a Fo to : E m br ap a 10 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 queima e queda das folhas devido à ação da radiação. Todo este pro- cesso acarreta redução de produti- vidade e, dependendo do nível da mosca e do estádio de ocorrência na cultura, as perdas podem che- gar até a 100%, especialmente quando o inseto ataca na fase de enchimento de grãos. Danos in- diretos na soja podem também serem observados pela transmis- são de vírus pela mosca-branca, cujo sintoma é a necrose da haste. Plantas infectadas com esse vírus apresenta a haste necrosada, tor- nando a planta debilitada ou cau- sando a sua morte. Os percevejos pentatomídeos fitófagos são considerados as prin- cipais pragas sugadoras na cultu- ra da soja. O percevejo-marrom, Euschistus heros, o percevejo-verde- pequeno, Piezodorus guildinii, e o percevejo-verde, Nezara viridula, são as três espécies mais abun- dantes que ocorrem na cultura, na região Centro-Sul do Brasil (Figura 10). A intensidade de danos des- sas pragas é variável com a espé- cie e a densidade populacional do inseto, bem como com estádio de desenvolvimento da soja, sendo o percevejo-verde-pequeno o mais daninho, enquanto o percevejo- marrom E. heros é o que causa me- nor dano à cultura. A colonização das plantas de soja pelos percevejos inicia em meados ou final do período vegeta- tivo da cultura ou logo após o início da floração. Nesta época, os perce- vejos estão saindo da diapausa ou de hospedeiros alternativos e mi- gram para a cultura da soja. Com o início do período reprodutivo, a partir do aparecimento das va- gens, as populações desses inse- tos, principalmente de ovos e nin- fas, aumentam, podendo atingir níveis elevados entre o final do de- senvolvimento das vagens e início do enchimento dos grãos, quando a soja é mais suscetível ao ataque. Os danos causados pelos percevejos nas plantas de soja decorrem da introdução do seu aparelho bucal (estiletes) nas va- gens, podendo atingir os grãos ou as sementes em desenvolvimento, sendo estes danos irreversíveis a partir de determinados níveis de injúria. Os grãos atacados ficam menores, enrugados, chochos e com a cor mais escura que o nor- mal, podendo apresentar doenças como a mancha-fermento, causa- da pelo fungo Nematospora corily, o qual é transmitido durante a ali- mentação dos percevejos. Ataques Figura 10. Percevejos da soja: adulto e ninfa (B) do percevejo-marrom; adulto (C) e ninfa (D) do percevejo verde-pequeno e adulto (E) e ninfa (F) do percevejo-verde. Fotos: J. Rattes (ABDF) e Embrapa (CE). 11Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 nos estádios R3 (canivetinhos for- mados) a R4 (vagens formadas sem grãos) podem favorecer o abor- tamento de vagens, enquanto no estádio de enchimento da vagem (R5) podem afetar negativamen- te, tanto o rendimento da cultura, como a qualidade dos grãos ou das sementes produzidas, provocando alterações nos teores de proteína e de óleo. Além do dano direto, um ataque severo de percevejos na soja pode causar distúrbio fisioló- gico na planta o que, em consequ- ência, proporciona o aparecimen- to de retenção foliar e/ou haste verde, fenômeno este conhecido como “soja louca I”, que retarda e/ ou dificulta a colheita da soja. Manejo das pragas sugadoras O manejo efetivo da mosca- branca na cultura da soja somente é obtido através da integração de diferentes táticas de controle, den- tre as quais se destacam: escolha da melhor época de semeadura; eliminação de plantas hospedei- ras cultivadas ou não durante a safra e no período da entressafra de soja; concentração da época de semeadura na região; rotação de culturas e seleção de inseticidas efetivos para o controle de ninfas e adultos. Alguns inseticidas po- dem apresentar bom controle de formas jovens da mosca-branca (ex. piriproxifem, espiromesifeno, ciantraniliprole, e a mistura spi- rotetramat + imidacloprido), exi- gindo, quase sempre, aplicações sequenciais, enquanto outros têm boa ação somente sobre adultos (ex. acetamiprido). A adição de óleo na calda inseticida tem sido recomendada como alternativa para maximizar a eficácia de con- trole dos inseticidas. O tratamento de sementes, especialmente com inseticidas neonicotinóides, cons- titui também outra tática auxiliar para reduzir ou retardar o esta- belecimento da mosca-branca em uma determinada área, na fase inicial da cultura. Já o controle de percevejos na cultura de soja se inicia no es- tádio R3, ou seja, logo após a for- mação dos “canivetinhos”, que são os primórdios do desenvolvimento das vagens. Nos estádios da soja que apresentam suscetibilidade ao ataque dos percevejos (após o estádio R3) o controle deve ser rea- lizado com base nos níveis de ação determinados pela pesquisa, que é de 2 percevejos/metro de fileira de plantas para lavouras de grãos e 1 percevejo/metro para lavouras destinadas a sementes. Para isso, os percevejos devem ser moni- torados através de amostragens utilizando-se o pano-de-batida. Nestas amostragens, é importante considerar tanto os adultos como as formas jovens dos percevejos (ninfas), a partir do terceiro ins- tar (0,4 a 0,5 cm), computando-se indivíduos de todas as espécies de percevejos fitófagos. A escassez de ingredientes ativos para o controle de perce- vejos e o uso abusivo de produtos nas lavouras tem proporcionado elevadossurtos dessas pragas e selecionado populações resisten- tes aos inseticidas químicos. Para que esses problemas não sejam intensificados, recomenda-se que o mesmo inseticida não seja uti- lizado na mesma área repetidas vezes ou em doses maiores que as recomendadas. Vários inseticidas são recomendados pela Comis- são de Entomologia da Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil (RPSRCB) para o contro- le dos percevejos na soja. Além da eficácia, o critério da seletividade, ou seja, o menor efeito dos pro- dutos sobre os inimigos naturais deve ser também considerado na sua escolha. Em lavouras de soja muito adensadas, como as que existem atualmente, os inseticidas aplica- dos em pulverização podem não atingir os percevejos devido ao fenômeno conhecido como “efeito guarda-chuva”. Nestas condições, o uso do sal de cozinha (NaCl) na concentração de 0,5% na calda in- seticida (500 g para cada 100 L de água) pode incrementar a mortali- dade dos percevejos em até 25%, quando comparado a áreas aplica- das sem o sal. O sal apresenta um efeito arrestante sobre o percevejo fazendo com que ele permaneça mais tempo sobre a superfície tra- tada, o que intensifica a sua conta- minação. Considerações finais A implementação do MIP, em qualquer cultura deve ser ba- seada em princípios econômicos, ecológicos e sociais, tendo tam- bém a concepção de que o MIP é um meio para suporte à tomada de decisão. O primeiro princípio é o econômico, quando se deve ter a plena consciência de que o importante para o produtor é a margem de lucro, buscando sem- pre a sua maximização. O segun- do princípio é o ecológico, sendo necessário ter consciência de que no agroecossistema da soja, além dos insetos-praga, existe uma ex- pressiva quantidade de agentes benéficos (predadores, parasitói- des e patógenos), denominados coletivamente de inimigos natu- rais, os quais se alimentam ou vi- vem à custa dos insetos que ata- cam a soja, levando-os à morte. A identificação e preservação desses agentes de controle natural são de fundamental importância para a execução do MIP na soja. O último princípio do MIP a ser considerado é o social, que está relacionado à segurança do aplicador de inseti- cidas na cultura e do consumidor do produto a ser colhido. Neste sentido, devem-se utilizar todos os equipamentos de proteção indivi- dual (EPI´s) recomendados para a aplicação dos produtos químicos nas lavouras, bem como respeitar o período de carência dos mes- mos, visando preservar a saúde do componente mais importante do sistema agrícola, que é o ser hu- mano. 12 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 O sistema de manejo de plan- tas daninhas na cultura do algodo- eiro está se tornando cada vez mais complexo. Mesmo com o surgimen- to de variedades que possibilitam a utilização de herbicidas de amplo espectro em pós-emergência em área total, o aumento de plantas to- lerantes e resistentes a herbicidas faz com que a eficiência dos pro- dutos fique comprometida. Além disso, a migração de grande parte da área cultivada com o algodoeiro para o ambiente de safrinha tem implicado também em mudanças nos padrões de cultivo em termos não só de datas de semeadura e de colheita, mas também de espaça- mento e de nível de investimento nas lavouras. Dados de pesquisas do NAPD/UEM indicam que quanto menor o espaçamento entre linhas de plantio, mais cedo se inicia a in- terferência das plantas daninhas e maior é o comprometimento da produtividade da cultura. De maneira geral, as prin- cipais plantas daninhas que são mais frequentes nos algodoeiros são picão-preto, caruru e leiteiro (todos com histórico de resistência aos herbicidas inibidores da ALS), corda-de-viola, trapoeraba, apaga- fogo, erva-quente, vassourinha- de-botão e capim-pé-de-galinha. Recentemente temos observado um aumento das áreas que apre- sentam infestações de buva e de capim-amargoso resistentes ao glifosato e, em diversas importan- tes regiões produtoras, o capim- pé-de-galinha tem apresentado re- sistência a graminicidas inibidores de ACCase e ao glifosato. No caso do caruru já se constatou resistên- cia aos inibidores da ALS, como trifloxysulfuron-sodium e pyri- thiobac-sodium, e aos inibidores do Fotossistema II, como a atrazina e prometrina, havendo, inclusive, áreas com resistência cruzada (aos dois mecanismos simultaneamen- te). No caso do Amaranthus palme- ri, temos também resistência ao glifosato e aos inibidores da ALS. Por último, mas não menos impor- tante, temos a presença de tigueras de soja RR dentro da cultura do al- godoeiro. As opções para o manejo des- tas plantas daninhas em pós-emer- gência da cultura são limitadas e só funcionam quando as aplicações são feitas em plantas daninhas em estádios iniciais de desenvolvi- mento. A disponibilização de no- vas variedades de algodoeiro com resistência ao amônio-glufosinato, ao glifosato ou a ambos, aumentou o leque de opções para os agricul- tores. No entanto, estas opções também apresentam limitações em certos casos, em função da pre- sença de plantas daninhas toleran- tes e resistentes, assim como pelo tamanho das plantas daninhas no momento das aplicações. Outra questão muito rele- vante no momento na cultura do algodoeiro é a possibilidade de tigueras (plantas voluntárias) do algodoeiro com resistência a her- bicidas como glifosato e amônio- glufosinato emergindo e infestan- do a própria cultura do algodoeiro no ciclo seguinte, as quais podem se tornar um problema de impor- tância semelhante ou maior do que Perspectivas sobre manejo de plantas daninhas na cultura do algodoeiro Jamil Constantin1; Rubem Silvério de Oliveira Jr.2 1Eng. Agr., Dr., Professor do Programa de Pós-graduação em Agronomia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Bolsista de produtividade do CNPq nível 1 e Pesquisador da CONPEA – Consultoria e Pesquisa Agropecuária. 2Eng. Agr., Dr., Coordenador do Núcleo de Estudos Avançados em Ciência das Plantas Daninhas (NAPD) da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Bolsista de produtividade do CNPq nível 1. 13Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 as próprias plantas daninhas, caso o produtor não faça uma rotação de eventos genéticos que possibilite o uso de herbicidas que possam eli- minar estas plantas. Um exemplo clássico da im- portância de um evento genético no manejo de uma determinada espécie de planta daninha é a utili- zação de variedades de algodoeiro com resistência ao amônio-glufosi- nato visando ao controle do leiteiro com resistência aos inibidores de ALS como trifloxysulfuron-sodium e pyrithiobac-sodium. Antes do lançamento desta tecnologia, uma das poucas alternativas disponí- veis para o controle desta espécie era o uso de diuron e prometrina em pré-emergência. Mas, para ob- ter controle desta planta daninha, as doses destes herbicidas pre- cisavam ser elevadas, o que fre- quentemente implicava em efeitos negativos para o algodoeiro. Mes- mo assim, a eficiência era apenas regular e sobravam apenas as apli- cações em jato dirigido às entreli- nhas para complementar o con- trole de fluxos mais tardios. Com a possibilidade do uso do amônio- glufosinato, o manejo desta planta daninha foi facilitado, deixando de ser problema, e permitindo a volta de grandes áreas para o cultivo do algodoeiro que antes, em função da alta infestação, eram praticamente inviáveis. Mais recentemente, tam- bém foram lançadas no Brasil as variedades de algodoeiro com re- sistência ao glifosato (RR), possibi- litando o uso desta ferramenta no controle do leiteiro. Entretanto, já temos no país populações de leitei- ro com resistência a este herbicida e, no futuro, o glifosato pode deixar de ser uma opção para esta planta daninha. Plantas daninhas como buva, capim-amargoso, capim-pé-de- galinha e caruru estão sendo con- tinuamente selecionadas para resistência a herbicidas com me- canismosde ação diferenciados, levando o manejo das mesmas a um nível de dificuldade nunca vis- to antes. Herbicidas como o trifloxy- sulfuron-sodium e o pyrithiobac- sodium, continuam sendo boas op- ções para o controle de infestantes importantes como a soja tiguera, a trapoeraba e outras folhas largas desde que não sejam resistentes aos inibidores da ALS. É impor- tante ressaltar que as opções para manejo em pós-emergência exis- tentes atualmente podem resolver estes problemas, mas o número destas opções é limitado e o seu uso de forma isolada ou indiscri- minada poderá, eventualmente, resultar em problemas mais sérios ainda no futuro pelo aumento dos casos de tolerância e resistência. Considerando, novamente, que es- tas opções só apresentam elevada eficiência com plantas daninhas em estádios precoces de desenvol- vimento, é imprescindível que se crie condições, através de sistemas de manejo, nos quais as infestan- tes se encontrem com tamanho pequeno no momento da aplicação dos pós-emergentes. O uso de herbicidas com ação em pré-emergência na cultura do algodoeiro é uma prática decisiva para se criar as condições necessá- rias para um bom funcionamento dos herbicidas utilizados em pós- emergência. As opções de produ- tos com ação em pré-emergência disponíveis no momento contem- plam todas as plantas daninhas citadas anteriormente, proporcio- nando níveis de eficiência de re- gulares a excelentes. Herbicidas como diuron, prometrina, fome- safen, trifluralina, s-metolachlor e clomazone, utilizados de forma isolada ou combinada, podem tra- zer enormes benefícios ao sistema de manejo. Os principais benefí- cios estão relacionados ao fato de que os herbicidas utilizados em pré-emergência, de modo geral, apresentam mecanismos de ação diferentes daqueles utilizados em pós-emergência, diminuindo o processo de seleção de plantas to- lerantes e resistentes. Além disso, os pré-emergentes permitem a eli- minação da interferência precoce, preservando a produtividade da lavoura, e diminuem a infestação da área. Um terceiro benefício dos pré-emergentes se relaciona ao fato de seu uso possibilitar o atraso na saída de novos fluxos de plantas daninhas, o que possibilita uma “janela” maior para as aplicações em pós-emergência e a aplicação destes em plantas daninhas de me- nor tamanho, como discutido ante- riormente. Estas condições (menor número de infestantes e plantas menores), potencializam o efeito dos herbicidas com ação em pós- emergência, melhorando sobre- maneira os níveis de controle. Concluindo, a utilização com- binada de produtos com ação em pré e pós-emergência é primor- dial, tanto no cenário atual como no futuro, para se montar um siste- ma de manejo eficiente e sustentá- vel na cultura do algodoeiro. Foto 1. Infestação no momento de aplicação do glufosinate-ammonium aos 12 dias após a emergência do algodão. Fo to s: L . H . M or ai s Fr an ch in i 14 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 O sistema de plantio direto é amplamente utilizado no Brasil para as culturas de grãos, espe- cialmente milho e soja, há várias décadas, com reconhecidas van- tagens em relação ao controle de erosão, aumento da matéria orgâ- nica no solo, menor perda de água pelo solo, aumento da atividade microbiana no solo, sequestro de carbono, entre outras. Em cana-de-açúcar, a adoção do plantio direto se deu mais re- centemente, embora muitos pro- dutores independentes e usinas utilizem esse sistema de plantio há quase três décadas, tanto plan- tando soja diretamente sobre os restos da cultura de cana, como plantando a cana sobre os restos culturais da soja. Esse sistema se tornou possível pelo uso de her- bicidas, capazes de promover boa dessecação da soqueira velha de cana, a ser destruída. Crotalárias também são muito utilizadas em sistema de plantio direto, principalmente em ambientes de produção mais restritivos, compostos por solos menos férteis e sujeitos à erosão. Por ocasião do florescimento, as crotalárias são trituradas e, mui- tas vezes nem isso (são somente “quebradas” sobre o solo), para o plantio imediato da nova lavoura de cana-de-açúcar. Nos anos re- centes, as braquiárias, que produ- zem grande volume de massa ver- de, principalmente em ambientes mais restritivos, vieram se juntar às culturas em plantio direto em áreas de reforma do canavial. Assim como em outras cultu- ras, o plantio direto de cana, sem- pre associado à rotação com soja, crotalárias, braquiárias e outras, traz inúmeras vantagens ao pro- dutor, entre os quais se destacam ganhos em produtividade, aumen- to da longevidade dos canaviais e redução de custos. Entretanto, esse sistema pode favorecer o crescimento populacional de pra- gas de solo, com consequente au- mento dos danos. Por definição, pragas de solo são aquelas que passam pelo menos parte de seu ciclo de vida no solo ou na superfície do solo, alimentando-se de ou em partes subterrâneas das plantas. Nesse sentido, há várias pragas de solo em cana-de-açúcar, com destaque para Sphenophorus levis, Migdolus fryanus, cigarrinha das raízes, bro- ca gigante (Telchin licus) e cupins. Por passarem pelo menos parte da vida no solo ou atacando partes subterrâneas das plantas, o controle de algumas dessas pragas é, em geral, muito difícil, exigin- do a adoção de várias medidas de controle, principalmente, a elimi- nação mecânica da soqueira infes- tada, o que, por si só, elimina o uso de plantio direto. Embora a destruição mecâni- ca da soqueira infestada e o revol- vimento de solo possam, na teoria, contribuir para reduzir popula- ções de cigarrinha das raízes, não há dados que comprovem isso. En- tão, à luz do conhecimento atual, o fato de uma área ter apresentado altas populações de cigarrinha das raízes não é impedimento para passar pelo plantio direto, quando for feito novo plantio na área. A relação entre plantio direto e pragas em canaviais Leila Luci Dinardo-Miranda1; Higor Domingos Silvério da Silva2 1Instituto Agronômico - Centro de Cana, Ribeirão Preto/SP. 2DMLab Serviços Agrícolas, Ribeirão Preto/SP. 15Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 Em relação aos cupins, a destruição mecânica da soqueira infestada muitas vezes é suficien- te para reduzir os problemas com essas pragas no ciclo seguinte da cultura, pois a destruição mecâ- nica da soqueira também destrói ou desestabiliza as colônias de cupins. No entanto, há alguns in- seticidas altamente eficientes no controle de cupins, como é o caso de fipronil. Assim, em áreas pou- co ou moderadamente infestadas, o plantio direto poderia eventual- mente ser empregado, desde que fossem utilizados inseticidas no sulco de plantio. Entretanto, em áreas com altas populações de cupins, somente o uso de inseti- cidas no sulco não resolve o pro- blema: é necessário associar essa ferramenta à destruição mecâni- ca da soqueira infestada, a fim de conduzir o canavial pelos quatro ou mais cortes sob baixas infesta- ções de cupins. A destruição mecânica da soqueira infestada também é fer- ramenta importante para reduzir populações e consequentes danos causados pela broca gigante. Essa praga é muito importante na re- gião canavieira do Nordeste brasi- leiro e em algumas usinas de Goiás e Minas Gerais; já foi relatada no Estado de São Paulo, mas, aparen- temente, em populações menos problemáticas do que as encontra- das nas outras regiões. Assim, em função do citado, Sphenophorus levis e MiIgdolus frya- nus são, com certeza, as pragas que podem limitar o plantio direto em cana. S. levis é um besouro Curculio- nidae, cujas larvas e pupas vivem no interior dos rizomas (parte sub- terrênea dos colmos), provocando grande destruição de perfilhos, devido às galerias que fazem du- rante a alimentação; estas geral- mente permanecem com uma fina serragem, característica do ataque (Figura 1). Devido à destruiçãoda parte subterrânea das touceiras, com morte de muitos perfilhos e, não raro, de toda a touceira (Figu- Figura 1. Larva de Sphenophorus levis na base de um colmo danificado. Figura 2. Área infestada por Sphenophorus levis, com muitas falhas de stand causadas pela praga. 16 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 ra 2), os danos provocados por S. levis são significativos, estando, de acordo com trabalhos desen- volvidos pelo IAC, ao redor de 1 t/ ha para cada 1 % de rizomas da- nificados, levando à necessidade de renovação precoce do canavial, algumas vezes após 2 ou 3 cortes. Infelizmente, os insetici- das químicos e biológicos não são muito eficientes na redução popu- lacional de S. levis, uma vez que nas fases de ovo, larva e pupa, os inse- tos ficam protegidos no interior dos rizomas. Em consequência, a medida mais efetiva na redução populacional é a destruição me- cânica da soqueira velha e infes- tada (Figura 3), principalmente na época seca do ano. Nessa época, a maior parte da população está nas fases de larva e pupa, no interior dos rizomas, e são afetadas pela destruição mecânica das soquei- ras, tanto pelos danos mecânicos que a operação pode ocasionar, como pela exposição dos insetos à ação do sol e dos inimigos natu- rais. Se a destruição mecânica da soqueira infestada puder ser as- sociada ao vazio sanitário de 4 a 6 meses, a redução populacional é muito mais significativa. Muitas vezes, o novo ciclo de cana-de- açúcar pode ser implantado sem a necessidade de aplicar inseticidas no sulco de plantio se tais medidas forem corretamente executadas (destruição mecânica da soqueira + vazio sanitário de 4 a 6 meses). Vazio sanitário é um período em que a área infestada é mantida sem hospedeiros da praga e isso, pelo menos teoricamente, é fácil de ser feito em cana-de-açúcar, uma vez que S. levis tem pequena gama de hospedeiros conhecidos: além da cana-de-açúcar, S. levis sobrevive em milho e, possivel- mente, em outras gramíneas como sorgo. Assim, se tais culturas não forem cultivadas em campo, as populações de S. levis se reduzem drasticamente, pois os adultos não encontram abrigo ou hospedeiros para se alimentar. Figura 3. Eliminador mecânico de soqueira. Figura 4. Adultos de Migdolus fryanus. 17Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 Assim, quando se faz o plan- tio direto em áreas infestadas por S. levis obviamente não se tem a destruição mecânica da soqueira infestada e, por causa disso, mui- tos insetos sobrevivem no interior dos rizomas, mesmo após a desse- cação das plantas com herbicidas. Grande parte das formas jovens (larvas e pupas) e dos adultos não sofre danos mecânicos e nem são expostos à ação do sol e dos inimi- gos naturais, como ocorre quando se usa o eliminador mecânico de soqueiras. Portanto, as populações dessa praga permanecem eleva- das no canavial subsequente. Para compensar a falta de controle pela destruição mecânica da soqueira, alguns produtores aplicam inseti- cidas no sulco de plantio, mas essa medida não tem a mesma eficiên- cia da destruição mecânica da so- queira no controle de S. levis. A destruição mecânica da soqueira também é medida essen- cial no manejo de áreas infestadas por Migdolus. Os besouros conhe- cidos como Migdolus englobam dez espécies; todas são consideradas raras, com exceção de M. fryanus, que ocorre em canaviais na região dos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Ron- dônia, Santa Catarina e São Paulo. Os adultos são besouros com grandes diferenças entre os ma- chos e as fêmeas: os machos são pretos, castanho-escuros ou de cor castanha-avermelhada, com grandes antenas e asas funcionais, enquanto as fêmeas são geralmen- te mais claras, com antenas bem mais curtas que a dos machos e asas não funcionais (portanto elas não voam) (Figura 4). A fêmea de Migdolus coloca os ovos a grandes profundidades no solo; quando as larvas eclodem, começam a se ali- mentar de raízes e outros materiais orgânicos. À medida que crescem, precisam de maior quantidade de alimento e, em razão disso, sobem para as camadas mais superficiais de solo, onde está grande parte do sistema radicular da cana, e pro- vocam grande destruição de raí- zes e das partes subterrâneas das touceiras. Os danos, portanto, são causados pelas larvas, que destro- em os rizomas e raízes da cana (Fi- gura 5), chegando algumas vezes a destruir totalmente o canavial na reboleira onde ocorrem. Como as populações de lar- vas são mais abundantes nas ca- madas mais superficiais do solo na época mais seca do ano (entre abril e outubro), a destruição me- cânica da soqueira velha execu- tada nessa época pode eliminar grande parte da população de lar- vas e pupas. Assim, o plantio di- reto em áreas afetadas por Migdo- lus não é recomendável, pois aqui também os inseticidas são pouco eficientes, mesmo aplicados em elevadas doses em profundidade (na base do arado de aivecas). Vale ressaltar que mesmo a destruição mecânica da soqueira não é capaz de destruir toda a população da praga, pois ela só atua na camada mais superficial do solo, não sendo capaz de revolver o solo a grandes profundidades, onde muitas lar- vas podem estar alojadas. Por isso, o manejo de áreas infestadas por Migdolus engloba a destruição me- cânica da soqueira e a aplicação de inseticidas em altas doses em pro- fundidade. Assim, apesar dos amplos e conhecidos benefícios do plantio direto em cana-de-açúcar, esse sistema não é indicado para áre- as infestadas por pragas de solo, especialmente por Migdolus e Sphe- nophorus, já que a medida mais efetiva para reduzir as populações dessas pragas é a destruição me- cânica da soqueira infestada. Figura 5. Dano causado por larva de Migdolus fryanus. 18 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 1 Introdução Uma parcela do milho no Brasil é utilizada para o consumo humano direto e na obtenção de subprodutos com aplicações na indústria alimentícia e em outros processos industriais, mas a maior demanda é para composição de rações animais. Nos últimos anos, as exportações crescentes, sobre- tudo para a China, aliadas à desti- nação de parte dos grãos para pro- dução de etanol no Centro-Oeste, criaram uma conjuntura de estí- mulo ao cultivo, por contribuírem para a manutenção de valores de comercialização mais atrativos aos produtores. A colheita da segunda safra de milho, antiga “safrinha”, re- presentou 95% da produção total de grãos do cereal no ano agrícola 2018/2019 na região Centro-Oes- te, alcançando cerca de 50,2 mi- lhões de toneladas, em uma área cultivada ao redor de 8,2 milhões de hectares, cobrindo metade da área ocupada com soja no verão. Essa quantidade colhida respon- deu por 50,2% de toda a produção brasileira no período. As estimati- vas para 2019/2020 indicaram um incremento acima de 8,5% na área de segunda safra de milho na re- gião (CONAB, 2020). Portanto, jun- tamente com a soja, a cultura do milho compõe a base dos sistemas de produção na mais importante área de agricultura no País. Embora a soja cultivada no verão sucedida pelo milho segun- da safra seja o sistema dominante atualmente, há outras diferentes modalidades em que o milho se insere: 1) cultivo no verão, irriga- do ou não, para produção de grãos; 2) cultivo com finalidade de pro- dução de silagem; 3) consórcios com forrageiras para formação de palhada ou pastagem; 4) inserção em esquemas mais diversificados de rotação de culturas e outros, in- cluindo integração lavoura-pecu- ária e lavoura-pecuária-floresta; além de 5) campos de produção de sementes. Não há dados estatísti- cos precisos sobre a extensão de área dessas modalidades em par- ticular, mas é importante atentar para o fato de que as distintas for- mas de exploração da cultura do milho exigem manejo nutricional específico e podem ter impactos variáveisna fertilidade do solo e interferir no desempenho das de- mais culturas componentes dos sistemas de produção. Neste artigo, será dado enfo- que ao milho no contexto de dois aspectos cruciais para o sucesso de qualquer atividade agrícola en- volvendo culturas anuais em so- los de cerrado. O primeiro ponto diz respeito à necessidade de se construir adequadamente a fer- Manejo da fertilidade do solo e adubação do milho na Região Centro Oeste Álvaro Vilela de Resende1, Jeferson Giehl1, Miguel Marques Gontijo Neto1, Emerson Borghi1, Antônio Marcos Coelho1, Flávia Cristina dos Santos1, Samuel Campos Abreu1 1Embrapa Milho e Sorgo. E-mail para correspondência: alvaro.resende@embrapa.br 19Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 tilidade química no perfil de solo, como etapa inicial indispensável ao condicionamento de ambien- tes de alto potencial produtivo. O segundo ponto refere-se ao es- tabelecimento de um programa mais criterioso de reposição de nutrientes na medida de sua re- moção pelas colheitas ao longo do tempo, de modo a preservar a con- dição de fertilidade construída e a produtividade, mas otimizando o retorno econômico das adubações que oneram fortemente os custos operacionais das fazendas. 2 Ajustando a fertilidade do solo para alto potencial produtivo Com base no custo das se- mentes comercializadas em 2019/2020, pode-se considerar que 51% do milho plantado no Centro-Oeste foi de cultivares de nível tecnológico mais alto, confor- me levantamento da Associação Paulista dos Produtores de Semen- tes e Mudas (APPS). Assim, embo- ra a época de cultivo na segunda safra não seja a que proporciona maior potencial de rendimento do milho, a maioria dos produtores atualmente já não trabalha mais com manejo “improvisado”, como acontecia no advento da safrinha. Uma visão que vem se conso- lidando é que a fertilidade do solo deve ser gerenciada buscando me- lhor desempenho do sistema de produção como um todo e não de cada cultura de forma isolada. Na Tabela 1, são apresentados valores de referência para o condiciona- mento da fertilidade química de solos de cerrado, em atendimento às necessidades gerais de espécies graníferas cultivadas em sequei- ro. Esses valores são o ponto de partida, alvos do manejo visando tirar o máximo proveito da oferta ambiental, e devem ser usados nas etapas de diagnóstico e aferição periódica das condições das la- vouras por meio da análise de solo. Dão ideia dos níveis de atributos de fertilidade a serem mantidos ao longo do tempo na camada de 0 a 20 cm de profundidade, embora possam ser refinados a partir de melhor reconhecimento da reali- dade local em termos de compor- tamento do solo e das culturas em safras sucessivas, além, é claro, do padrão tecnológico empregado na propriedade. Essa abordagem constitui a forma técnica, econômica e am- bientalmente mais racional de se fazer agricultura. Investimentos apenas parciais frente aos reque- rimentos expressos na Tabela 1 implicam em perda de eficiência no processo produtivo. Em outras palavras, cultivar um solo que não se encontra com fertilidade cons- truída representa desperdício ou ineficiência na aplicação de todos os demais recursos de produção (sementes, defensivos, maquiná- rio, irrigação...). O condicionamento do per- fil para estimular o crescimento radicular em profundidade é uma das técnicas mais efetivas para a convivência com as inconstâncias climáticas no cerrado, ao propiciar Tabela 1. Valores de referência para a análise de solo na camada de 0-20 cm de profundidade, visando o estabelecimento de ambientes de alto potencial produtivo de grãos no cerrado. Fonte: Adaptado de Sousa & Lobato (2004) e Benites et al. (2010). 20 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 melhor aproveitamento da água disponível no solo em períodos de veranico, e também no decorrer da segunda safra, quando diminuem as chuvas e inicia-se a estação seca no Centro-Oeste. Para tal condicionamento, é preciso aplicar um conjunto de práticas agrícolas visando o forne- cimento de cálcio (Ca) e a diminui- ção da acidez subsuperficial, pelo uso de calagem e gessagem, além do enriquecimento do perfil com outros nutrientes, notadamente o fósforo (P), por meio de adubações corretivas incorporadas. A presen- ça de alumínio (Al) e/ou a deficiên- cia de Ca abaixo de 10 ou 20 cm de profundidade, bem como a con- centração do P e outros nutrientes apenas nos primeiros centímetros de solo, tendem a confinar o cres- cimento radicular superficialmen- te, deixando as culturas mais vul- neráveis ao estresse hídrico. Áreas novas normalmente requerem, ainda, um investimento inicial em adubações corretivas para ajustar os níveis de potássio (K) e micro- nutrientes (B, Cu, Mn, Zn, Co e Mo). Ao proporcionarem melhor desenvolvimento vegetal, com maior produção de biomassa de parte aérea e de raízes, as condi- ções químicas satisfatórias no per- fil e o sistema plantio direto (SPD) constituem o ponto chave para se alcançar também a qualidade/fer- tilidade física e biológica no solo. Nesse aspecto, pesa o baixo nível de diversidade de plantas e, por consequência, de variações na re- lação carbono/nitrogênio (C/N) da palhada e na arquitetura do sis- tema radicular, quando simples- mente se repete a sucessão soja/ milho segunda safra a cada ano agrícola. Os produtores que con- seguem contornar tal limitação com maior diversificação de culti- vos e uso de plantas de cobertura completam a necessária harmo- nização, ficando menos depen- dentes de métodos mecânicos de condicionamento físico do perfil e mesmo de insumos externos para melhorar o equilíbrio químico- biológico na lavoura. A matéria orgânica é o com- ponente mais importante para a aptidão e potencial produtivo dos solos de cerrado, especialmente daqueles de textura mais arenosa, exercendo um papel intrincado, porém inegável na estabilização e tamponamento da condição de fertilidade construída. Portanto, tudo o que estiver ao alcance deve ser feito no sentido de conservar e, se possível, aumentar o teor de matéria orgânica do solo (MOS) nos ambientes de produção. Um conteúdo mais elevado de MOS significa melhor equilíbrio quími- co, físico e biológico, uma maior reserva de nutrientes (sobretudo de N) e de água, atenuando danos de estresses bióticos e abióticos, além de compensar desbalanços (“erros”) na adubação, tornando o sistema de produção mais autor- regulado e resiliente. 3 Ajustando a reposição de nutrientes em sistemas envolvendo milho O dimensionamento correto das práticas mencionadas na eta- pa de construção da fertilidade do solo pode ser feito com relativa fa- cilidade, envolvendo alguma assis- tência técnica, a partir de análise do solo, das referências indicadas na Tabela 1 e, se necessário, con- sulta aos manuais de recomenda- ção de corretivos e fertilizantes. Já o ajuste eficiente das adubações de manutenção apresenta maior complexidade e requer esforço técnico mais dedicado nos proces- sos de diagnóstico, definição de critérios e prescrição de nutrien- tes a cada safra. É um equívoco manejar um solo de fertilidade construída com dosagens fixas de nutrientes. Sem uma abordagem de dimensiona- mento flexível das quantidades aplicadas em safras sucessivas, fatalmente incorre-se em falta ou excesso, acarretando no uso inefi- ciente de fertilizantes, com conse- 21Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 quências econômicas e eventual aumento do risco ambiental das adubações. O primeiro cuidado para li- dar com essa questão é reconhecer ou ao menos inferir sobre o real significado agronômico da condi- ção de fertilidade construída, con- forme a natureza e características do solo em cada lavoura. A título de exemplo, na Figura 1, pode-se observar níveis contrastantes de matéria orgânica, de capacidade de troca de cátions(CTC) e de te- ores de potássio, ao se comparar um solo de textura média e outro argiloso, ambos considerados de fertilidade construída. Verifica-se a maior capacidade do solo argilo- so em suprir nutrientes e manter sua fertilidade ao longo de “n” sa- fras, ou seja, o seu maior grau de tamponamento. Vale lembrar que, por mais aprimorado que seja o manejo, é improvável que os ní- veis de fertilidade do solo de tex- tura média possam ser igualados aos do solo argiloso, pois são am- bientes intrinsecamente distintos. Evidentemente, isso interfere nos critérios para o dimensionamento das adubações de manutenção em cada caso. Assim, cada lavoura consis- te de um ambiente de produção individualizado, com caracterís- ticas particulares que precisam ser (re)conhecidas para subsidiar refinamentos gerenciais. Além do diagnóstico do solo, é necessá- rio identificar mais precisamen- te as exigências nutricionais não Figura 1. Distintos níveis de matéria orgânica, CTC e potássio trocável no perfil, exemplifi- cando condições muito diferentes quanto à capacidade de estocagem de nutrientes e ao tamponamento de dois solos de cerrado, com textura média e argilosa, utilizados no cultivo de grãos. As linhas vermelhas nos gráficos dão ideia de limites críticos para um bom potencial produtivo. Fonte: Original dos autores. 22 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 apenas do milho, mas do sistema como um todo, incluindo a soja e eventuais outras culturas em es- quema de rotação, dentre outros condicionantes. É regra comu- mente aceita que as adubações de manutenção devem, no mínimo, suprir os nutrientes necessários para repor as quantidades expor- tadas nas colheitas. Nesse caso, a técnica é chamada de adubação de restituição ou de reposição. Por isso mesmo, não é procedimento coerente e eficaz fixar uma pres- crição e replicá-la para várias si- tuações. Se a racionalidade do mane- jo está em conservar a fertilida- de construída, adubando-se em quantidade suficiente para repor a exportação, essa remoção de nutrientes precisa ser bem deter- minada para cada talhão ao longo do tempo. Focando no milho, a ex- portação pode ser muito variável, conforme o nível de produtivida- de registrado ou a finalidade do cultivo (Figura 2). Para uma dada modalidade de exploração (milho safra, segunda safra ou silagem) a produtividade e, portanto, a ex- portação de nutrientes oscila de um ano para outro. Tal variação costuma ser muito expressiva, principalmente no caso do milho segunda safra, como evidenciado nas estatísticas de produção por região ou estado (Figura 3). O mes- mo raciocínio se aplica ao âmbito de propriedade, onde ocorrem di- ferenças de produtividade entre anos-agrícolas, entre lavouras e até dentro de um talhão. Esse fato não pode ser desconsiderado no momento de definir as adubações de manutenção, sob pena de pro- vocar desequilíbrios que prejudi- carão as culturas subsequentes. A adubação de restituição pode ser delineada de maneira mais eficiente quando se conse- gue integrar informações oriun- das de registros ou estimativas de entradas, créditos e saídas de nu- trientes, possibilitando calcular de maneira mais assertiva o balanço, conforme esquematizado na Figu- ra 4. A determinação do balanço de nutrientes permite orientar de forma dinâmica a adubação das safras, de modo a manter equi- librada a fertilidade no sistema, desde que o solo já apresente os pré-requisitos de fertilidade cons- truída (Tabela 1, Figura 5). Quan- do, no balanço, se detectam sobras de nutrientes da adubação que não foram exportados na colheita (saldo positivo), especialmente no caso de P e K, pode-se com razo- ável segurança diminuir propor- cionalmente a aplicação para o próximo cultivo, que aproveitará os nutrientes residuais. Do con- trário, havendo déficit no balanço calculado, é preciso aumentar o montante na próxima adubação, para compensar o saldo negativo e assim repor o que foi retirado do sistema na produção obtida ante- riormente. O milho apresenta grande capacidade de absorção precoce de nutrientes, característica pro- pulsora do rápido desenvolvimen- to das plantas e da definição do potencial produtivo no início do ciclo. Até o pendoamento (estádio VT), pode ocorrer mais de 60% da absorção total da maioria dos nutrientes (Tabela 2). Em termos práticos, significa que os reque- rimentos nutricionais da cultura precisam ser atendidos na fase ve- getativa. Toda a adubação deve ser distribuída na lavoura preferen- cialmente nos primeiros 30 dias após a germinação, período que, além de permitir sincronizar me- lhor o suprimento com a demanda das plantas, coincide com a maior facilidade de circulação de maqui- nário entre as linhas de milho. Nos cultivos em segunda safra, esse prazo tende a ser ainda mais cur- to devido à frequente escassez de chuvas já a partir das primeiras semanas do ciclo. É importante enfatizar que, pela lógica da adubação de resti- tuição, uma parcela significativa dos nutrientes absorvidos pelas culturas vai depender das reservas do sistema (solo, MOS e palhada), de onde se originam créditos (Fi- gura 4) que ajudam a suprir a de- manda dos cultivos. Certa propor- Figura 2. Exportação de nutrientes pela cultura do milho conforme a modalidade de cultivo e o nível de produtividade. Para converter P2O5 em P e K2O em K, dividir, respectivamente, os valores da figura por 2,29 e 1,20. 23Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 ção do que é acumulado durante o ciclo (extração) sai via exportação nas partes colhidas (Tabela 2) e precisará ser reposta na aduba- ção justamente para que aquelas reservas sejam restabelecidas e continuem cumprindo o seu papel de fonte de nutrientes para as cul- turas seguintes, mantendo assim a estabilidade produtiva do sistema. Por isso, o balanço de nutrientes envolvendo uma sequência de cul- tivos/adubações/colheitas consti- tui um ótimo aferidor do equilíbrio nutricional, especialmente quan- do devidamente confrontado com os resultados de análise de solo. Considerando a sucessão à soja verão em solos com CTC maior que 4,0 cmolc/dm3 (os quais apre- sentam razoável tamponamento/ reserva de nutrientes), a aduba- ção de restituição de P e K para o milho segunda safra poderia ser feita exclusivamente com base nas quantidades exportadas no cultivo anterior de soja e vice-versa, com ajustes no caso de mudança im- portante, para mais ou para me- nos, na produtividade esperada. Esses dois nutrientes são os que melhor se adequam à estratégia de adubação de sistema, na qual o momento e a forma de distribui- ção dos fertilizantes podem ser escolhidos com mais flexibilidade, conforme conveniências técnicas ou operacionais. Cabe mencionar que a pesquisa tem demonstrado que a soja tem maior plasticidade, sendo menos responsiva à aduba- ção de sistema do que o milho. Por- tanto, as razões para privilegiar a aplicação de P e K na soja, opção adotada por muitos produtores do Centro-Oeste, decorrem mais de vantagens operacionais do que de argumentos relacionados à efici- ência técnica da adubação. Os dados da Tabela 3 dão ideia das taxas de exportação de nutrientes nos grãos colhidos de soja e de milho. São informações atualizadas e que podem ser con- sideradas para contabilizar as sa- ídas de nutrientes no balanço do sistema e subsidiar a definição das adubações na sucessão soja/ milho segunda safra, por exem- plo. Embora apresentem alguma variação em função de cultivar, ambiente e manejo da adubação, as quantidades exportadas por to- nelada de grãos são relativamente semelhantes para condições di- versas. No caso do milho, as dife- renças entre safra e segunda safra são pequenas. De modo geral, as quantidades exportadas são mais afetadas pelas variações de pro- dutividade das culturas do que de concentração dos nutrientes nos grãos. 4 Manejo de nutrientesna cultura do milho É natural que a adubação NPK receba mais atenção por re- presentar o maior custo no mane- jo nutricional do milho. Como já mencionado, o fornecimento de P e K em sistemas consolidados deve ser baseado no balanço de entra- das e saídas, com monitoramento periódico do solo para eventuais ajustes a fim de manter níveis de- Figura 3. Evolução da produtividade média do milho segunda safra e da soja nos estados de Goiás e Mato Grosso (gráfico de cima), e variação percentual da produtividade em relação ao ano anterior (gráfico de baixo). Notar que a variabilidade da produção e, por consequência, da exportação de nutrientes, é maior no milho do que na soja, em função, principalmente, da instabilidade climática na segunda safra. 24 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 sejáveis de disponibilidade na ca- mada de 0-20 cm do perfil (Tabela 1). Assim, num exemplo soja/ milho segunda safra com pro- dutividades de 4,5 e 9,0 t/ha de grãos, respectivamente, a aduba- ção de restituição para o sistema, com base nas taxas de exportação pelas duas culturas (Tabela 3), corresponderia a aportes ao re- dor de 88 (45+43) kg/ha de P2O5 e 123 (90+33) kg/ha de K2O por ano agrícola. Desde que se assegure o reabastecimento nas quantidades totais exigidas, o produtor pode decidir entre diferentes alternati- vas de manejo da adubação de sis- tema, considerando possibilida- des de alocação entre as culturas e modo de aplicação. A distribuição superficial a lanço geralmente é possível sem maiores restrições para os fertilizantes potássicos, enquanto, para os fosfatados, as premissas para eficiência técni- ca e segurança ambiental devem ser observadas (Prochnow et al., 2017). Teores adequados e uma re- lação equilibrada de cálcio (Ca) e magnésio (Mg) podem ser plena- mente atendidos concomitante- mente ao controle da acidez do solo, mediante escolha apropriada do tipo de calcário ou outros corre- tivos. O suprimento de enxofre (S) é garantido por vários anos após a utilização de gesso agrícola no manejo da acidez, sendo o efeito residual proporcional à dosagem aplicada. Deve ser monitorado por meio de análise de amostras de camadas superficiais e subsuper- ficiais (até 40 ou 60 cm no perfil), pois o S como sulfato ligado a cá- tions apresenta grande mobilida- de. Quando o teor estiver abaixo do nível crítico (Tabela 1), efetuar rea- plicação de gesso ou fornecimento por meio de outras fontes conten- do o nutriente. Já os micronutrientes (B, Cu, Mn, Zn, Co, Mo) devem ser aplica- dos de forma corretiva via solo na abertura de área, com reaplicações a cada quatro anos ou em intervalo menor para sistemas mais inten- sivos. Também devem ser moni- torados periodicamente por meio de análises de solo e foliar, sendo opções complementares de forne- cimento sua adição via produtos para tratamento de sementes e em adubações foliares. Devido às pequenas quantidades requeri- das/aplicadas e às reações dos mi- cronutrientes no solo, há grande variabilidade espacial e temporal na sua disponibilidade. Em parte, por esse motivo, vários resultados de pesquisa relatam benefícios de pulverizações com formulações multinutrientes durante a fase vegetativa do milho, promovendo certa uniformização da lavoura e maior rendimento de grãos. Figura 5. Diagnóstico baseado na análise de solo e no balanço de nutrientes para suporte à tomada de decisão no manejo da adubação de restituição em sistemas de produção de culturas anuais. Figura 4. Modelo conceitual para aplicação do balanço de nutrientes no monitoramento nutricional de sistemas de produção de culturas anuais em solos de fertilidade construída. 25Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 O ajuste da adubação nitro- genada é mais desafiador, pois, mesmo adotando-se o balanço de nutrientes, é necessário lidar com indicadores pouco precisos sobre aspectos como: 1) potencial de créditos de N no sistema, afe- tado principalmente pelo tipo de palhada e taxas de decomposição de resíduos e de mineralização da MOS; 2) contribuição de cultivos antecessores de espécies legumi- nosas; 3) eficiência do fertilizante nitrogenado; 4) déficits decorren- tes de processos de imobilização de N e de perdas por volatilização e lixiviação; e 5) influência de fa- tores climáticos como chuva/seca, calor/frio, insolação/nebulosidade, na demanda fisiológica do milho e no aproveitamento da adubação nitrogenada. Na modalidade de cultivo mais comum no Centro-Oeste, o milho em sucessão à soja se bene- ficia muito dos créditos de N deri- vados da rápida decomposição dos restos culturais da leguminosa, além da própria contribuição da MOS. Entretanto, não há na lite- ratura dados consensuais sobre as quantidades de N deixadas no sistema após a colheita da soja. As- sume-se que quanto maior a pro- dutividade de grãos, proporcional- mente maiores serão a massa de palhada na área e as quantidades de N disponíveis para o milho em sucessão. Duarte et al. (2017) indi- caram uma estimativa de crédito de 17 kg ha-1 de N para cada tone- lada de soja produzida. O fornecimento de N na se- meadura é decisivo para um bom arranque do milho. No caso da segunda safra, que geralmente re- quer menor dose total de N, forne- cer certa quantidade na semeadu- ra pode ser mais importante para o desempenho produtivo do que a opção de se aplicar todo o nutrien- te apenas em cobertura (DUARTE et al., 2017). A adubação de cober- tura poderia ser realizada até o estádio de 8 folhas, porém, muitas vezes a antecipação para o estádio de 3 a 4 folhas resulta em melhor resposta no plantio direto, além de estimular o fechamento do dossel da cultura facilitando o manejo de plantas daninhas. Para os padrões atuais de produtividade média na segunda safra, o fornecimento de dose total acima de 100 kg ha-1 de N deve ter sua efetividade técnica e econômica aferidas localmente, devido a variações de resposta que sempre ocorrem em função de in- terferências climáticas, diferenças de créditos do nutriente no siste- ma e perdas por volatilização e/ou lixiviação. Com frequência, doses totais de 90 a 120 kg/ha de N têm promo- vido produtividades superiores às médias estaduais e se mostrado economicamente viáveis para o milho segunda safra no Centro- Oeste. Entretanto, têm-se tornado cada vez mais comuns os rela- tos de lavouras com rendimento maior que 150 sc/ha. Nesses am- bientes, a adubação indicada aci- Tabela 2. Índices de absorção/acúmulo na parte aérea do milho até o estádio de pendoa- mento e de translocação para os grãos, conforme o nutriente. Tabela 3. Exportação de nutrientes em cada tonelada colhida de grãos de soja e de milho. 26 Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 ma deve ser reforçada em 14 kg/ha de N para cada tonelada a mais de grãos que se espera produzir (aci- ma de 150 sc/ha). É preciso também maior atenção e eventual reforço na adu- bação nitrogenada para o milho em consórcio com gramíneas for- rageiras (por exemplo, braquiá- rias). A insuficiência de N acentua a competição intra e interespecí- fica. Nos plantios consorciados, a falta do nutriente retarda o de- senvolvimento do milho e favorece os capins, que mostram-se mais robustos e agressivos ao recebe- rem maior incidência de radiação solar. Assim, o correto posiciona- mento do momento de realização da adubação de cobertura, para privilegiar o arranque do milho e o rápido fechamento do dossel, é uma estratégia de manejo para travar o crescimento do capim, de forma que a competição não preju- dique o rendimento de grãos (Re- sende et al., 2019b). Há grande interesse na prá- tica de inoculação do milho com bactérias diazotróficas, a exemplo de espécies do gênero Azospirillum, capazes de realizar o processo de fixação biológica de nitrogê- nio (FBN), além de estimularem a produção de determinadoshor- mônios com efeitos promotores do crescimento de plantas. Alguns pesquisadores acreditam que esse segundo aspecto seja de fato o mais relevante. É preciso ponde- rar que a FBN no milho, diferen- temente da simbiose soja-rizóbio, não permite suprimir integral- mente a adubação nitrogenada. A economia de fertilizantes ou os ganhos de rendimento pela inocu- lação do milho com bactérias dia- zotróficas são bastante variáveis entre locais/cultivos e inconstan- tes ao longo do tempo. Os benefí- cios esperados nem sempre são perceptíveis, sobretudo quando se trabalha com doses mais elevadas de N na adubação. Além de ser determinante da produtividade do milho, o nível de fertilização nitrogenada afeta o saldo do nutriente após a colhei- ta. Assim, a adubação deve fazer parte de um programa de reposi- ção em que se busca considerar as reservas e ciclagem de N, permi- tir suprimento suficiente ao bom desenvolvimento e produtividade daquele cultivo e realimentar o es- toque do sistema. De modo geral, a adubação nitrogenada do milho no Centro-Oeste vem sendo dimen- sionada em níveis insuficientes para cobrir sequer as quantidades exportadas nas colheitas. Em que pesem as respostas nem sempre compensatórias em termos eco- nômicos devido às questões mer- cadológicas, cabe sensibilizar os produtores de que cultivos recor- rentes de milho deixando déficits de N no sistema acabam por forçar a degradação da MOS, com ine- vitável prejuízo ao seu papel pri- mordial para a sustentabilidade da agricultura em ambientes de cerrado. Mais informações aplicáveis ao manejo da fertilidade do solo e adubação do milho no Centro- Oeste podem ser acessadas no ar- tigo técnico “Manejo de nutrientes no cultivo de milho segunda safra na região do Cerrado”, publicado na Revista Plantio Direto e Tecno- logia Agrícola, edição 166 de nov/ dez 2018. 5 Considerações finais Os investimentos na cons- trução da fertilidade, mesmo que realizados da melhor maneira possível, normalmente não dis- pensam ajustes posteriores no uso de corretivos e fertilizantes. O pro- dutor deve fazer o monitoramento das condições de suprimento de nutrientes no sistema de culturas, por meio do balanço de entradas via adubação e saídas via colheita, aferindo periodicamente as reser- vas do solo com análises de rotina para detecção de oscilações dos atributos de fertilidade. Proceden- do assim, é possível identificar a necessidade de redefinir as quan- tidades de fertilizantes para corri- gir desbalanços entre requerimen- to/fornecimento de nutrientes às culturas ou nos níveis de disponi- 27Revista Plantio Direto - Edição Especial Centro-Oeste - Outubro de 2020 bilidade no solo ao longo do tem- po. Ainda é comum encontrar la- vouras com déficit significativo de determinados nutrientes e sobra de outros quando se calcula o ba- lanço, indicando oportunidades de aperfeiçoar o gerenciamento para uso mais eficiente de fertilizantes, com reflexos na produtividade e na rentabilidade das lavouras. Os produtores do Centro- Oeste já usufruem da flexibilida- de de manejo proporcionada pelo fato de grande parte das áreas de cultivo se encontrar com alta fer- tilidade, apresentando boa reserva de nutrientes no perfil do solo, seja em formas inorgânicas retidas na matriz mineral ou em formas or- gânicas na palhada e MOS. Nesse cenário, o manejo nutricional das culturas anuais avança para con- solidar a adubação de sistema e a técnica de restituição dos nutrien- tes exportados como procedimen- tos rotineiros para maior eficiên- cia. Mas muitos aperfeiçoamentos poderão ser acrescentados à me- dida que se utilizarem meios de integrar informações e critérios baseados no conhecimento deta- lhado do comportamento do solo e das culturas em cada talhão, com melhor quantificação dos fluxos de entrada, saída e ciclagem de nutrientes. Isso se tornará cada vez mais factível com a evolução da Agricultura 4.0 ou Agricultura Digital. Por fim, resta ainda um de- safio, talvez o maior atualmente constatado para o binômio soja/ 7 Referências BENDER, R.R.; HAEGELE, J.W.; RU- FFO, M.L.; BELOW, F.E. Nutrient uptake, partitioning, and remobili- zation in modern, transgenic insect- protected maize hybrids. Agronomy Journal, v.105, n.1, p.161-170, 2013. BENITES, V.M.; CARVALHO, M.C.S.; RESENDE, A.V.; POLIDORO, J.C.; BERNARDI, A.C.C.; OLIVEIRA, F.A. Potássio, cálcio e magnésio. In: PRO- CHNOW, L.I.; CASARIN, V.; STIPP, S.R. (Org.). Boas práticas para uso eficiente de fertilizantes: Nutrien- tes. Piracicaba: IPNI Brasil, 2010, v.2, p.133-204. COELHO, A.M.; FRANÇA, G.E. Seja o doutor do seu milho: nutrição e adu- bação. Informações Agronômicas, n.71, p.1-9, 1995. CONAB. Série histórica das safras. Disponível em: https://www.conab. gov.br/info-agro/safras/serie-histo- rica-das-safras?limitstart=0 Acesso em: 30/06/2020. DUARTE, A.P.; CANTARELLA, H.; KAPPES, C. Adubação de sistemas produtivos: milho safrinha e soja. 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