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METODOLOGIA DE PESQUISA AULA 1 Profª Carla Andréia Alves da Silva Marcelino CONVERSA INICIAL Costuma-se afirmar que o senso comum é oposto à ciência. Que ciência é conhecimento verdadeiro, e que senso comum, como o nome já diz, é conhecimento comum, não real. Ciência é verdade; senso comum, talvez. Mas será que essas afirmações encontram respaldo na realidade? Será que a ciência é de fato a produtora de verdades absolutas? Nesta aula introdutória sobre metodologia de pesquisa, refletiremos um pouco sobre essas questões, fazendo um alinhamento conceitual entre ciência, pesquisa, método e métodos, para só, então, iniciarmos a nossa jornada no foco real desta disciplina: os métodos e as técnicas de pesquisa. Nesta aula, além dos conteúdos introdutórios já citados, faremos uma síntese dos principais quadros referenciais teóricos mais utilizados nas pesquisas em ciências sociais, visto que o serviço social, como ciência social aplicada, faz uso de grande parte dos métodos e referenciais epistemológicos dessas ciências. Faremos, ainda, uma passagem por dois tipos essenciais de pesquisa em nossa área: a pesquisa-ação e a pesquisa participativa. TEMA 1 – A CIÊNCIA PRODUZ VERDADES? NOÇÕES SOBRE CIÊNCIA, PESQUISA E MÉTODOS A pergunta que inaugura esta seção é recorrentemente feita no meio acadêmico, visto que há uma ilusão de que a ciência produz verdades absolutas. Tende-se a acreditar que o conhecimento gerado pela sabedoria popular, chamado de senso comum, não é conhecimento. Mas seria isso verdade? A ciência é, sim, produtora de conhecimento, mas as experiências vivenciadas pelos sujeitos também é produtora de conhecimento. Então, qual seria a diferença? Carlos Gil (1999, p. 20) irá nos explicar que: Pode-se considerar a ciência como uma forma de conhecimento que tem por objetivo formular, mediante linguagem rigorosa e apropriada [...] leis que regem os fenômenos. [...] essas leis apresentam vários pontos em comum: são capazes de descrever séries de fenômenos, são comprováveis por meio da observação e da experimentação, são capazes de prever – pelo menos de forma probabilística – acontecimentos futuros. Isto posto, ciência então é esse tipo de conhecimento gerado com base em pesquisas que criam regras e leis que são possíveis de serem replicadas depois, comprovando e explicando, supostamente, como os fenômenos 2 3 acontecem. No nosso caso, como os fenômenos sociais acontecem. A ciência então, segundo o mesmo autor (Gil, 1999), produz um tipo de conhecimento que pretende ser mais objetivo, sistemático, verificável e falível. Como dito, as nossas pesquisas no serviço social têm como escopo as ciências sociais, as quais têm como objeto de pesquisa as relações sociais, as relações entre seres humanos e outros seres humanos e também a relação dos seres humanos com as coisas. A ciência se faz por meio da pesquisa, as quais são processos de produção de conhecimento. E como se faz pesquisa? Por meio do uso de métodos, os quais nos permitem fazer investigações, verificações e controles, visando a objetivar o conhecimento, conforme afirmam Bastos e Keller (2011). Nesse sentido, Gil (1999, p. 26) define método como “o caminho para se chegar a determinado fim. E método científico como o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento”. Cabe, aqui, fazer uma distinção entre método e métodos, no plural. Lakatos e Marconi (1994) fazem bem tal diferenciação, afirmando que método científico são esses caminhos, formas e atividades sistemáticas e racionais utilizados para produzir conhecimento, sendo que os principais deles você poderá ver na disciplina de Pesquisa em Serviço Social. Já os métodos de pesquisa focam especificamente nos procedimentos, nas etapas e fazeres concretos do processo de investigação científica, compostos por conhecimentos teóricos e também por técnicas a serem empregadas no processo de pesquisa. É nesse método no plural que esta disciplina se foca. TEMA 2 – TEORIAS E QUADROS DE REFERÊNCIA EM CIÊNCIAS SOCIAIS – PARTE 1 Neste item e no item três, apresentaremos algumas bases epistemológicas para o desenvolvimento de pesquisas, mostrando algumas linhas que podem ser entendidas tanto como método, quanto como teoria, que nos serve de “lente” para fazer as análises e compreender os resultados das pesquisas que fazemos. Em resumo, nos servem para compreender os dados e informações coletadas, mas, antes disso, a escolha por uma linha epistemológica influenciará diretamente nos métodos e procedimentos de pesquisa que iremos adotar, por isso a importância de compreender do que se trata cada um deles, lembrando que trabalharemos o empirismo/positivismo, muito usado nas ciências naturais, e outras linhas correntes nas ciências 4 humanas, especialmente as sociais, das quais nos valemos no serviço social: estruturalismo, sociologia compreensiva, funcionalismo e método dialético. 2.1 Empirismo, positivismo lógico ou ciência positiva Esta é a corrente epistemológica que aposta na experimentação, na construção do conhecimento com base na experiência, no concreto. Muito usada pelas ciências naturais, caracteriza-se normalmente pelas testagens em laboratórios, repetições de testes e reprodução de resultados. Richardson (1999) nos conta que o positivismo é uma “ciência prática”, focada na resolução de problemas. Isto é, o objeto de pesquisa surge com base nos problemas reais e a pesquisa é realizada no sentido de apontar soluções para esses problemas. Por ser comumente uma ciência experimental, analisa objetos e casos individuais, dados normalmente isolados, não havendo espaço para a imaginação, subjetividade ou argumentações. O resultado científico é subordinado integralmente à observação da experiência prática. Seus adeptos não costumam relativizar seus resultados, visto que, por se basear na experimentação, defendem a produção de verdades científicas, as quais somente podem ser refutadas quando outro experimento demonstrar o contrário. É um tipo de ciência apolítica e a-histórica; a grande crítica feita a esse modelo é que não chega à raiz dos problemas, ficando circunscrita ao âmbito das aparências, do imediato. Nas ciências humanas, o positivismo foi introduzido pelo filósofo francês Auguste Comte. 2.2 Estruturalismo O estruturalismo nas ciências sociais tem como precursor o antropólogo belga Claude Lévi-Strauss, e a ideia central se baseia na tese de que as sociedades são regidas por estruturas exteriores aos sujeitos, as quais exercem força sobre ele e “moldam” seus comportamentos. Os sujeitos não percebem essas estruturas, pois elas são inconscientes e suas regras estão já introjetadas, apreendidas por meio da cultura. Tais estruturas, para Strauss, são a-históricas, temporais e organizadas por binários opostos: homem x mulher, certo x errado, sagrado x profano, cru e cozido. Para estudar uma estrutura e construir um modelo, é necessário desvelar três níveis de relações: 5 a. as relações visíveis na realidade empírica; b. As relações não visíveis que estão presentes e organizam a estrutura; c. o nível teórico do modelo. Lévi-Strauss busca a construção de modelos mentais que permitem descrever e explicar um grupo de fenômenos. A análise da estrutura faz aparecer um modelo e o conteúdo cultural que produz aquele modelo. Os modelos a serem construídos devem ser tão completos que consigam explicar todos os fatos e fenômenos dentro daquela estrutura. 2.3 Sociologia compreensiva ou tipológica Esse método é característico das ciências sociais e tem como precursor o sociólogo alemão Max Weber, considerado o “pai da sociologia” moderna. Nesse modelo de construir conhecimento, diferentemente do estruturalismo, do funcionalismo e do marxismo, parte-se do pressuposto de que a sociedade é a soma da ação dos sujeitos. Portanto,sempre que estivermos trabalhando com a sociologia compreensiva, devemos chamar o indivíduo de agente, visto que este age racionalmente, com uma finalidade, dentro da sociedade. A ideia dessa sociologia é compreender a racionalidade das ações sociais e o sentido produzido pelo agente ao agir, bem como os valores e motivações das ações. Segundo Lakatos e Marconi (1994), na epistemologia da sociologia compreensiva, o pesquisador observa os agentes e cria “tipos ideais” para classificá-los, encontrando afinidades entre eles. A exemplo, ao estudar as formas de dominação, Weber criou três tipos ideais delas, com base nos seus estudos e observações dos sistemas que estudou: dominação carismática, legal- racional e tradicional. Com base nisso, passou a estudar os sistemas de dominação, encaixando-os nesses tipos ideais. Algo muito importante a se ressaltar nesse quadro epistemológico é que, para Weber, a neutralidade axiológica é algo fundamental. Isto é, os valores e ideias do pesquisador devem ser integralmente anulados ao realizar suas pesquisas, sob pena de contaminar os resultados. 6 TEMA 3 – TEORIAS E QUADROS DE REFERÊNCIA EM CIÊNCIAS SOCIAIS – PARTE 2 3.1 Sociologia funcionalista O funcionalismo nas ciências sociais tem como seus principais precursores Émile Durkheim e Bronislaw Malinowski. Este método compreende a sociedade como um organismo vivo, no qual cada órgão tem a sua parte, a sua função dentro do todo. Quando uma dessas partes está agindo em desacordo com a sua função, isso prejudica o todo. É considerada por muitos uma teoria bastante conservadora, pois há uma compreensão de que o indivíduo que está destoando do grupo social está em desajuste com a máquina. Porém, enquanto epistemologia, pode ser bastante útil para analisar casos isolados sobre a função que alguma coisa exerce sobre um sujeito ou sobre um grupo, especialmente sobre os efeitos de instituições sociais sobre as pessoas ou as funções desta instituição na sociedade, a exemplo: a prisão. Nesse modelo, a sociedade também é exterior aos sujeitos e se impõe de forma coercitiva a eles. Isto é, a ação social é moldada e determinada pelo corpo social. Em seu livro As regras do método sociológico, Durkheim (2003) descreve o seu método de pesquisa, sendo que os alunos que se interessarem por essa linha epistemológica têm tal obra como leitura obrigatória. 3.2 Materialismo histórico-dialético Essa teoria e esse método são construídos com base na obra de Karl Marx e seus contemporâneos marxistas, a qual tem como premissa que a sociedade é exterior aos indivíduos e se organiza sob o ponto de vista da economia, ou seja, o modo de produção é fator determinante das relações sociais, tudo se inicia com base no mundo material, na realidade concreta dos sujeitos, que são determinados socialmente, produtos de suas histórias e das classes às quais pertencem. Portanto, cuidado! Ao utilizar este método, não podemos querer explicar ações individuais e isoladas, visto que, para Marx, a sociedade é histórica, inter-relacionada e regulada pela economia – no nosso caso, pelo modo capitalista de produção. Para Marx, a sociedade está em permanente conflito (dominantes x dominados) e nessa epistemologia não há 7 espaço para análises de indivíduos, pois, nesse caso, o sujeito é coletivo, o agente é a classe social e não cada homem/mulher que compõe essas classes. Ao analisarmos nossos objetos com base nesta teoria, precisamos lançar mão do que autores como Lakatos e Marconi (1994) chamam de quatro leis: a. tudo se relaciona; b. tudo se transforma; c. mudança qualitativa; e, d. luta dos contrários. Explicaremos melhor cada uma dessas leis em nossa videoaulas. Nesta tese, ao contrário da de Weber, a ciência jamais será neutra, pois, se produzida pela classe dominante, servirá como meio de dominação e se pelos revolucionários, terá caráter de desvelamento da realidade entre dominantes e dominados. TEMA 4 – NOÇÕES SOBRE PESQUISA-AÇÃO Nos nossos próximos tópicos, veremos sobre as chamadas pesquisas ativas, as quais, diferentemente das pesquisas tradicionais, propõem desvelar um objeto científico e agir sobre ele no sentido de causar mudanças numa realidade dada. O primeiro tipo de pesquisa ativa é a pesquisa-ação, que ganha esse nome porque a pesquisa, obrigatoriamente, será finalizada com uma ação, uma intervenção e a avaliação dos resultados dessa intervenção. Esse tipo de pesquisa pressupõe a participação, em fases específicas da pesquisa, das pessoas que precisam superar algum tipo de situação, a qual será pesquisada. Chizzotti (2008, p. 79) afirma que a pesquisa-ação é uma pesquisa para a ação e uma pesquisa em ação, asseverando que essa modalidade é “um meio auxiliar de superação das condições adversas, todas visando fazerem um diagnóstico fundamentado dos fatos para se alcançar uma mudança intencional [...] e propor a ação saneadora ao problema enfrentado”. O desenvolvimento desse tipo de pesquisa se dá numa espécie de espiral, pois quando se chega ao fim da ação, ela é avaliada e, se o problema não tiver sido sanado, pode-se pensar em novas estratégias para fazê-lo e aplicá-las à realidade. O levantamento de dados e a avaliação são feitos em conjunto com o público-alvo, de forma democrática. Gil (1996) explica que a pesquisa-ação é 8 executada por meio dos seguintes passos: fase exploratória, formulação do problema, construção de hipóteses, realização do seminário, seleção da atmosfera, coleta de dados, análise e interpretação dos dados, elaboração do plano de ação e divulgação dos resultados. Trabalharemos cada uma dessas fases em nossas videoaulas. TEMA 5 – NOÇÕES SOBRE PESQUISA PARTICIPANTE Este é o outro tipo de pesquisa ativa, menos usual que a pesquisa-ação, mas bastante utilizada na área social, especialmente no trabalho com comunidades; é também chamada por alguns autores de pesquisa participativa. Seu modus operandi é muito similar ao da pesquisa-ação, com a essencial diferença de que o pesquisador não é o protagonista do processo, nem o chefia ou manipula; é apenas o organizador, sendo que o protagonismo é assumido pelos participantes da pesquisa, alvos da ação a ser implementada. Ademais, na pesquisa-ação, o pesquisador já tem o objeto de pesquisa e intervenção predefinido, enquanto na pesquisa participante o problema é formulado na coletividade, com os interessados. Chizzotti (2008, p. 90) afirma que a pesquisa participante “tem como pressuposto a democratização do conhecimento e da sociedade, e o desenvolvimento social”. Por contar com a participação popular, Gil (1991) afirma que ela não segue o mesmo rigor científico ou metodológico das outras modalidades de pesquisa. Em vez de um grande rol de métodos e técnicas, essa modalidade foca sua ação na ética e numa solidariedade entre os envolvidos, visando a uma transformação social, tanto de comportamento, quanto de uma realidade específica, focando numa práxis transformadora, como assevera Chizzotti (2008, p. 91), no sentido de que “o conhecimento é produzido pelos sujeitos e em favor deles”, agindo pela melhoria de suas próprias condições de vida. Apesar de não ter etapas tão definidas como a pesquisa- ação, Chizzotti (2008) e Gil (1991) concordam que há ao menos uma sequência na execução, a qual é composta pela montagem da pesquisa, estudo preliminar da região e da população pesquisada, análise crítica dos problemas e elaboração do plano de ação. Abordaremos essas etapas em nossas videoaulas. 9 NA PRÁTICA Após termos visto as duas principais modalidades de pesquisas ativas, insira, no quadro a seguir, os pontos da pesquisa-ação e pesquisa participante que se contrapõem aos pontos dos modelos clássicos de pesquisa. Essa atividade foi inspirada em atividade proposta por Gil (1991), em sua obra Comoelaborar projetos de pesquisa. Pesquisas clássicas Pesquisas ativas O fenômeno a ser investigado é claro, preciso e bem definido. As etapas são rigorosamente delimitadas. Baixo ou nenhum envolvimento do pesquisador com os pesquisados Amostra selecionada segundo princípios probabilísticos Busca pela objetividade Exclusiva preocupação com o conhecimento do fenômeno estudado FINALIZANDO Nesta aula, vimos algumas noções introdutórias sobre ciência e pesquisa, relativizando a ideia de que a ciência é a grande produtora de verdade em nossa sociedade contemporânea. Em seguida, vimos, de forma breve, os principais quadros referenciais teóricos utilizados nas ciências sociais e que nos oferecem perspectivas e “lentes” para enxergarmos e analisarmos os nossos objetos de pesquisa. No serviço social, o materialismo histórico-dialético acaba sendo utilizado em grande parte das pesquisas, visto que alguns dos quadros estão associados a teorias mais conservadoras, como o positivismo/empirismo e o funcionalismo, enquanto outros sofrem de excesso de determinismo e não dão nenhum lugar de agência aos sujeitos, como o estruturalismo. Porém, não podemos eliminar tais quadros do rol de teorias possíveis, visto que nem todos os objetos de pesquisa podem ser explicados a partir da teoria marxista e, muitas 10 vezes, precisamos lançar mão de outros quadros explicativos para termos sucesso em nossas análises. Por fim, trabalhamos as duas modalidades mais usuais de pesquisas ativas, sendo elas a pesquisa-ação e a pesquisa participante, as quais surgem como contraposição aos modelos tradicionais de pesquisa que visam a estudar fenômenos, sem, no entanto, intervir sobre os problemas que encontram e apontam. Vale lembrar que a linha que distingue a pesquisa-ação da pesquisa participante é bastante tênue, sendo a principal distinção a participação dos sujeitos da pesquisa como protagonistas do processo, em todas as fases de desenvolvimento desta. 11 REFERÊNCIAS BIANCHETTI, L.; MEKSENAS, P (Org.). A trama do conhecimento: teoria, método e escrita em ciência e pesquisa. Campinas/SP: Papirus, 2008. BARROS, A. J. S.; LEHFELD, N. A. S. Fundamentos de metodologia: um guia para a iniciação científica. São Paulo: McGraw Hill, 1986. BASTOS, C. L.; KELLER, V. Aprendendo a aprender: introdução à metodologia científica. 23. ed. Petrópolis: Vozes, 2011. CHIZZOTTI, A. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais. 2. ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 2008. DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. São Paulo: Martin Claret, 2003. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991. _____. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. LAKATOS, E. M; MARCONI. M. A. Fundamentos de metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1994. MINAYO, M. C. S. (Org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 19. ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 2001. RICHARDSON, R. et al. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999. SETUBAL, A. A. Pesquisa em serviço social: utopia e realidade. São Paulo: Cortez, 1995.
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