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Brasília-DF. Controle de doenças, GenétiCa e MelhoraMento avíCola Elaboração Ana Maria de Souza Almeida Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8 UNIDADE I DOENÇAS BACTERIANAS ..................................................................................................................... 11 CAPÍTULO 1 SALMONELOSES ..................................................................................................................... 11 CAPÍTULO 2 MICOPLASMOSE .................................................................................................................... 25 CAPÍTULO 3 COLIBACILOSE ....................................................................................................................... 33 CAPÍTULO 4 CÓLERA AVIÁRIA .................................................................................................................... 43 CAPÍTULO 5 CORIZA INFECCIOSA DAS GALINHAS ...................................................................................... 47 CAPÍTULO 6 CLOSTRIDIOSES ...................................................................................................................... 50 CAPÍTULO 7 SEPTICEMIA DOS PATOS .......................................................................................................... 56 UNIDADE II DOENÇAS VIRAIS ................................................................................................................................. 59 CAPÍTULO 1 HEPATITE COM CORPÚSCULOS DE INCLUSÃO ......................................................................... 59 CAPÍTULO 2 CIRCOVIROSE ........................................................................................................................ 64 CAPÍTULO 3 INFLUENZA AVIÁRIA ................................................................................................................. 67 CAPÍTULO 4 HEPATITE VIRAL DOS PATOS...................................................................................................... 72 CAPÍTULO 5 ENTERITE VIRAL DOS PATOS ..................................................................................................... 74 CAPÍTULO 6 NEWCASTLE ........................................................................................................................... 76 CAPÍTULO 7 DOENÇAS DE MAREK ............................................................................................................. 82 UNIDADE III DOENÇAS MICÓTICAS ........................................................................................................................ 86 CAPÍTULO 1 ASPERGILOSE ......................................................................................................................... 86 CAPÍTULO 2 CANDIDÍASE .......................................................................................................................... 97 UNIDADE IV GENÉTICA E MELHORAMENTO AVÍCOLA ............................................................................................ 102 CAPÍTULO 1 GENÉTICA E CARACTERÍSTICAS DAS AVES ............................................................................. 102 CAPÍTULO 2 GENÉTICA MOLECULAR À SEQUÊNCIA DO GENOMA ............................................................ 117 CAPÍTULO 3 SISTEMA DE CRIAÇÃO DE FRANGOS DE CORTE .................................................................... 128 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 133 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução Atualmente, o Brasil é o maior exportador e o segundo maior produtor de carne de frango. Para agintir status tão relevante no comércio internacional, a avicultura brasileira teve que investir em tecnologia no sistema de produção, genética, manejo e programas de biosseguridade. Estes programas, por sua vez, estão voltados à prevenção da introdução de patógenos nos plantéis. Na avicultura moderna, aves são criadas em ambientes com elevada densidade populacional. Com isso, a introdução de quaisquer patógeno no galpão pode resultar em grandes prejuízos. Nem sempre doenças causam mortalidade, mas as perdas econômicas relacionadas à diminuição do ganho de peso ou da taxa de postura, aos custos com medicamentos e ao descarte de carcaças em abatedouros podem ser ainda maiores. A prevenção e o controle de enfermidades na criação de aves são fundamentais para a economia associada à avicultura brasileira, e essas medidas também estão associadas ao bem-estar animal. Para elaboração de medidas profiláticas adequadas e implantaçãode planos para controle e erradicação de doença, é necessário conhecimento sobre as principais enfermidades que ocorrem no Brasil e no mundo. Aves de diferentes espécies podem ser acometidas por doenças de origem bacteriana, viral, fúngica e parasitária. Enfermidades bacterianas e virais são as mais frequentes, porém as demais também são importantes para a saúde avícola. Estudos epidemiológicos são constantemente realizados em plantéis comerciais, de fundo de quintal e também em aves silvestres para controlar a disseminação de agente ou até a introdução de patógenos exóticos no país. Assim como o controle de doenças, investimentos em genética e melhoramento avícolas também são importantes aspectos para manter o Brasil como um dos principais países envolvidos com a comercialização de carne de frangos. Diversas pesquisas são realizadas em instituições e universidades brasileiras a fim de alcançar melhores padrões produtivos na avicultura de corte e de postura. O Brasil possui quase todos os seguimentos reprodutivos para produzir frangos de corte, como matrizeiros, avoseiros e bisavoseiros. Entretanto, o país ainda importa genética das linhagens puras (de pedigree) de outros países. Para avançar nesses aspectos, estudos e pesquisas voltados ao melhoramento genéticos são fundamentais. 9 Ao longo dos anos, foi facilmente observada a evolução na avicultura industrial (frangos de corte e galinhas poedeiras) em relação à velocidade de ganho de peso e ao aumento da produção de ovos. Esses parâmetros só foram alcançados devido a pesquisas a repeito de melhoramento genético na avicultura industrial. A respeito dos frangos de corte, especificamente, o avanço na qualidade da carcaça associado à precocidade do animal, a ambiência e o bem-estar das aves são aspectos essenciais, não apenas para o melhor desempenho animal, mas também para atender exigências internacionais e nacionais do consumidor. Objetivos » Conceituar as principais enfermidades avícolas e suas respectivas medidas de controle e prevenção. » Demonstrar panorama retrospectivo e atual sobre parâmetros da genética das aves de produção. » Trazer noções sobre melhoramento avícola voltado a aspectos da ave e do ambiente. 10 11 UNIDADE IDOENÇAS BACTERIANAS A avicultura está entre as maiores potências econômicas na agropecuária, devido ao crescimento do consumo de produtos avícolas em diversos países. O desenvolvimento da cadeia avícola ocorreu com maior intensidade nas últimas décadas, principalmente pelos avanços genéticos e pelas melhorias no manejo, que colaboraram para o desenvolvimento de frangos com maior taxa de crescimento, o que resultou em aves mais pesadas em menor período de tempo. A alta produtividade que se observa na exploração avícola, decorrente do rápido ciclo de criação e da grande demanda por produtos de origem avícola, depende principalmente da obtenção adequada de nutrientes pelo organismo, tendo grande importância na manutenção da sanidade das aves, em especial aos agentes que atuam sobre o trato gastrintestinal, pois se trata da via de entrada dos nutrientes para o desenvolvimento das aves. Para sustentar todo esse desenvolvimento da cadeia produtiva, há anos iniciou-se o uso indiscriminado de antibióticos (promotores de crescimento), a fim de não só aumentar a produtividade como também reduzir a mortalidade causada por infecções clínicas e subclínicas. CAPÍTULO 1 Salmoneloses Entre as enfermidades que afetam a avicultura, a salmonelose é a doença bacteriana mais discutida e relatada no mundo devido, principalmente, ao seu impacto também na saúde pública. Existem sorovares considerados zoonóticos, por isso são preocupação mundial entre as autoridades sanitárias. Tal fato fez com que alguns sorovares se tornassem uma barreira para o comércio de alimentos. A ampla distribuição de Salmonella entre os animais e sua 12 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS capacidade de sobreviver por longos períodos no meio ambiente contribuem para seu destacado papel em saúde pública. Figura 1. Classificação de Salmonella em relação ao habitat natural. Habitat natural (especificidade do hospedeiro) altamente adaptadas ao homem altamente adaptadas aos animais zoonóticas homens e animais Fonte: Elaborada pela autora. As salmoneloses aviárias são enfermidades provocadas por bactérias do gênero Salmonella. Existem mais de 2.610 sorovares dessa bactéria, potencialmente patogênicos para diferentes espécies animais. Os sorovares Salmonella enterica sorovar Typhimurium e Salmonella enterica sorovar Enteritidis são os mais importantes, pois são potencialmente patogênicos para os humanos. As aves têm sido alvos de diversas pesquisas sobre salmonelose em muitos países do mundo, com o enfoque em aves de produção com o objetivo de produzir alimentos seguros para humanos, pois esses agentes podem determinar quadros de toxinfecção no homem. Aves aparentemente saudáveis podem portar a Salmonella em seu organismo se estabelecendo o estado de portadoras. Aves portadoras de Salmonella podem excretar o patógeno de forma intermitente. Aves de vida livre também estão associadas como potenciais carregadoras da bactéria para criações comerciais. Entre elas, as aves sinantrópicas são consideradas importantes nessa cadeia de transmissão devido à grande proximidade com as atividades humanas. A transmissão da salmonela é bastante diversificada. Alguns sorovares podem ser transmitidos por via horizontal e vertical, de forma direta e indireta, porém a forma indireta oro-fecal é a de maior importância. A ave também pode adquirir a bactéria pelo contato indireto com outros animais infectados ou superfícies contaminadas, pela água ou alimento, ou aerossóis. Insetos roedores e alguns helmintos podem servir como carreadores da Salmonella sp. Animais com infecções crônicas são fontes de contaminação, assim como aves de vida livre. Estes podem ser carreadores ou servirem como reservatórios para animais mantidos em cativeiro. 13 DOENÇAS BACTERIANAS │ UNIDADE I O tratamento inadequado de esgoto ou excretas, associado a grandes aglomerações de animais, favorece a manutenção e disseminação de salmonelas no ambiente. Tal fato também eleva o risco de infecção de animais de vida livre. Existe, portanto, uma correlação direta entre a prevalência de Salmonella no trato intestinal de diversas espécies de aves silvestres e a proximidade destas com pessoas e animais de produção. Fato relatado em gaivotas e pombos, que frequentemente se aproveitam da proximidade com humanos e animais domésticos e acabam se expondo a diferentes patógenos, inclusive à Salmonella. Essa forma de exposição de aves silvestres à Salmonella raramente envolve doença clínica; e a eliminação da bactéria pelas fezes é de curta duração na maioria dos casos. Pinguins já foram diagnosticados como portadores de Salmonella enterica sorotipo Enteritidis. A fonte de infecção provavelmente foi por resíduos deixados por navios. Portanto, a prevalência da Salmonella no meio ambiente está relacionada ao nível de contaminação por material fecal de hospedeiros infectados. Salmonelose é a doença mais comum em galinhas e perus e também é uma das principais em aves aquáticas (Anseriformes). Existe uma maior diversidade de Salmonellas em criatórios de patos do que nos de gansos. Salmonella Potsdam também é importante para anseriformes, já que existem espécies específicas tanto em gansos quanto em patos em três genótipos distintos, sugerindo a evolução dessa Salmonella nessas aves. Além disso, a Salmonella Potsdam é frequentemente isolada de incubatórios de ovos de anseriformes, sendo um dos principais sorotipos que causam morte em recém-nascidos e morte embrionária. Em um estudo feito na Coreia do Sul sobre a prevalência e susceptibilidade antimicrobiana de Salmonella em patos, a bactéria foi isolada em 43,4% das amostras obtidas de patos selvagens e 65,2% de patos domésticos, das quais os sorogruposidentificados foram Salmonella Typhimurium, Salmonella Enteritidis e Salmonella London. A maior prevalência foi detectada em patos de até uma semana de vida, diminuindo significativamente em patos com três semanas de idade. Todos os isolados eram resistentes no mínimo a um antimicrobiano, e 27% dos isolados foram resistentes de cinco a dezesseis antimicrobianos. A maior prevalência de Salmonella em anseriformes do que em aves terrestres pode ser explicada pelos locais frequentados por essas aves, como lagoas contaminadas por esgoto. A detecção de sorotipos potencialmente patogênicos para humanos indica anseriformes como importante fonte de patógenos para o homem pelos alimentos (carne e ovos de patos) e sugerem que um programa de monitoramento em criatórios dessas aves é necessário para assegurar a saúde pública. 14 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS Figura 2. Principais derivados de aves relatados como veiculadores de doenças alimentares. Derivados de aves associados a veiculação de Salmonella Ovos Carne Fonte: Elaborada pela autora. A identificação de Salmonella sp. em gansos e patos é maior quando utilizado o método de PCR multiplex do que o isolamento e a identificação tradicionais, sugerindo que este último método pode ter resultados falso-negativos. O método de ampliação isotérmica de ácidos nucleicos (LAMP) também é uma alternativa eficaz para detecção do agente, já que, em algumas situações, foi mais sensível do que a PCR. Além disso, esse método é realizado em menor tempo do que o PCR, podendo ser usado a campo e em investigações epidemiológicas. Entretanto, o risco de contaminação durante a realização do método LAMP é alto, pois aerossóis podem contaminar a amostra durante a abertura da tampa do tubo para a análise de eletroforese. Em 16 de maio de 2019, as autoridades do CDC e da saúde pública em vários estados investigaram surtos multiestados de infecções por Salmonella Braenderup e Salmonella Montevidéu ligadas ao contato com aviculturas de fundo de quintal. Investigadores de saúde pública usaram o sistema PulseNet para identificar doenças que podem fazer parte desses surtos. PulseNet é a rede nacional de subtipagem de laboratórios de saúde pública coordenada pelo CDC. As impressões digitais de DNA são realizadas em bactérias Salmonella isoladas de pessoas doentes usando técnicas chamadas eletroforese em gel de campo pulsado (PFGE) e sequenciamento genômico completo (WGS). O CDC PulseNet gerencia um banco de dados nacional dessas impressões digitais de DNA para identificar possíveis surtos. O WGS fornece uma impressão digital de DNA mais detalhada do que a PFGE. WGS realizado em Salmonella de pessoas doentes nesse surto 15 DOENÇAS BACTERIANAS │ UNIDADE I mostrou que eles estão intimamente relacionados geneticamente. Isso significa que as pessoas doentes são mais propensas a compartilhar uma fonte comum de infecção. Em 10 de maio de 2019, foi relatado um total de 52 pessoas infectadas com as cepas de surto de Salmonella em 21 estados. Uma lista dos estados e o número de casos em cada um deles estão no mapa da página de casos relatados. As doenças começaram nas datas de 12 de janeiro de 2019 a 29 de abril de 2019, em pessoas com idade variando de menos de um ano a 60 anos, uma idade mediana de 21 anos. Cinquenta e seis por cento são do sexo feminino. Das 27 pessoas com informações disponíveis, 5 (19%) foram internadas. Nenhuma morte foi relatada. A análise de WGS de quatro isolados de pessoas doentes previu resistência antibiótica ao ácido amoxicilina-clavulânico, ampicilina, cefoxitina, ceftriaxona ou tetraciclina. Outros cinco isolados de pessoas doentes não mostraram evidências de resistência a antibióticos. O teste de isolados de surtos usando o teste padrão de sensibilidade aos antibióticos pelo Laboratório do Sistema Nacional de Monitoramento da Resistência Antimicrobiana do CDC (NARMS) está atualmente em andamento. Essa resistência pode afetar a escolha do antibiótico usado para tratar algumas pessoas. Em entrevistas, pessoas doentes responderam a perguntas sobre contato com animais na semana anterior à doença. Das 33 pessoas entrevistadas, 23 (70%) relataram contato com aves de quintal antes de adoecerem. Pessoas doentes relataram comprar aves de várias fontes, incluindo lojas agrícolas, sites e incubatórios. Aves de fundo de quintal de vários criadouros foram a fonte provável desses surtos. Independentemente de onde as aves são compradas, essas aves podem transportar Salmonella, que podem deixar as pessoas doentes. Proprietários de aves de quintal devem sempre seguir os passos para manter suas aves saudáveis. Essa investigação está em andamento, e o CDC fornecerá atualizações quando mais informações estiverem disponíveis (CDC, 2019). Pulorose A Pulorose é um tipo de salmonelose aviária causada por Salmonella Pullorum. É uma doença septicêmica de galinhas e perus, também podendo acometer outras espécies de aves, como canários, papagaios, codornas e faisões. Aves leves 16 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS parecem ser mais resistentes ao agente que as pesadas. As mortes geralmente ocorrem em aves entre duas e três semanas de vida, e a transmissão ocorre tanto via horizontal como por via vertical. A alta taxa de mortalidade embrionária ou de natimortos é um dos principais sinais da doença, além de depressão, amontoamento próximo às fontes de aquecimento, hiporexia e empastamento de cloaca com fezes esbranquiçadas aderidas à penugem pericloacal. Em aves adultas, pode-se observar diarreia, perda de peso, depressão, queda na postura e diminuição da taxa de eclodibilidade. Os achados macroscópicos são pontos esbranquiçados no fígado, baço associado a aumento de volume e nódulos esbranquiçados no pulmão e coração em aves jovens. Em aves adultas, as lesões são mínimas, caraterizadas por flacidez de folículos ovarianos e formação de abscessos. Os achados microscópicos são principalmente presença de fibrina e infiltrado heterofílico no parênquima hepático, necrosa das fibras miocárdicas com infiltração de heretófilos, linfócitos e células plasmáticas (REVOLLEDO, 2009, p. 126). Purolose: » Etiologia: › Salmonella Pullorum. » Aspectos epidemiológicos: › animais contaminados introduzidos no plantel; › aves jovens mais sensíveis. » Sinais clínicos: › amontoamento próximo às fontes de calor; › diarreia esbranquiçada; › cloaca empastada; › apatia. » Necropsia: › pontos esbranquiçados multifocais no coração, no fígado, no baço etc. 17 DOENÇAS BACTERIANAS │ UNIDADE I Tifo aviário Tifo aviário (Salmonella enterica subespécie enterica sorotipo Gallinarum) é também uma doença septicêmica que afeta principalmente galinhas e perus, mas outras aves, como patos, gansos, codornas, pavões e faisões, também são afetadas. Salmonella Gallinarum é altamente patogênica para aves em qualquer idade. No entanto, a ocorrência da doença é maior em animais adultos. A susceptibilidade de patos e gansos a Salmonella Gallinarum tem sido variável, mas a maioria das linhagens estudadas parece ser resistente a esse patógeno. Os patos podem ser refratários naturais a Salmonella Gallinarum devido à incapacidade inerente das bactérias de se multiplicarem no seu sistema fagocítico mononuclear (SFM). Por isso, devido à capacidade de a Salmonella Gallinarum se multiplicar no SFM de galinhas e perus, é provável que a imunidade mediada a essas bactérias em patos possa ser transferida para outras aves por meio de plasmídeos, por exemplo, desempenhando papel importante na resistência da infecção em galinhas e perus. A transmissão de Salmonella Gallinarum pode ocorrer pela via horizontal. A bactéria pode se disseminar por todo o corpo do animal durante as fases da doença, principalmente durante a fase terminal. Contato entre ave doente e susceptível, carcaças de aves e canibalismo são fatores importantes na transmissão da bactéria.A permanência de carcaça de aves na granja é um importante fator de disseminação do agente, pois já foi comprovado que aves que morrem e permanecem nas gaiolas por horas provocam a morte de um número expressivo de aves sadias que estavam em contato direto com as mortas. Os sinais clínicos mais frequentes em patos jovens são, principalmente, tremores musculares, dificuldade respiratória, e a morte ocorre mais lentamente do que em patos adultos. As lesões decorrentes de tifo aviário em adultos e jovens são semelhantes às das galinhas, sendo caracterizadas por hepato e esplenomegalia (figura 5), fígado com aspecto de bronzeado a esverdeado, presença de pontos necróticos no fígado (figura 6), interferência na absorção do saco da gema, saco da gema com conteúdo cremoso ou caseoso, nódulos esbranquiçados nos pulmões e coração, ceco com conteúdo caseoso, intestino com conteúdo fluido viscoso e amarelado, hiperemia e hemorragia em mucosa (figura 7) (SHIVAPRASAD; BARROW, 2008, p. 637), compactação do reto e flacidez de folículos ovarianos em aves adultas (figura 8) (FRIEND; FRANSON, 2001, p. 438). 18 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS Figura 3. Baço da esquerda normal. Baços do meio e direita apresentam-se aumentados, com evidenciação de folículos hiperplásicos (pontos esbranquiçados). Fonte: The Poultry Site (2018). Figura 4. A – Fígado com aspecto bronzeado e pontos necróticos com distribuição multifocal. B – Hepatomegalia caracterizada por fígado com bordos arredondados. Fonte: The Poultry Site (2018). Figura 5. Porção anterior do intestino delgado hiperêmico, hemorrágico e com discretas ulcerações. Fonte: The Poultry Site (2018). 19 DOENÇAS BACTERIANAS │ UNIDADE I Figura 6. Folículos ovarianos flácidos e pedunculados. Fonte: The Poultry Site (2018). Tifo aviário: » Etiologia: › Salmonella Gallinarum. » Aspectos epidemiológicos: › Aves adultas mais sensíveis. » Sinais clínicos: › diarreia esverdeada; › cloaca empastada; › apatia; › perda de peso. » Necropsia: › fígado aumentado de volume, coloração esverdeada ou bronzeada associada a focos de necrose multifocal. Paratifo aviário Diferentes sorovares de Salmonella estão vinculados como agentes causais do Paratifo aviário. No entanto Salmonella enterica sorovar Enteritidis é o sorovar mais relatado mundialmente associado ao Paratifo aviário. Durante a 20 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS década de 1980, a Salmonella Enteritidis emergiu como importante causador de doenças em humanos nos Estados Unidos. Os ovos têm sido a principal fonte alimentar de veiculação do agente. Desde o ínicio de 2000, sabe-se que os frangos também são fontes de infecção para esse patógeno (CDC, 2010). O primeiro relato de ocorrência de Salmonella Enteritidis em aves no Brasil foi realizado por pesquisadores da USP em 1990, e, anteriormente a esse período, seu isolamento em centros de sorotipagem de salmonela no país era insignificante. Em um levantamento realizado entre 1991 a 1995, notou-se um aumento progressivo dos isolamentos de Salmonella . Em um estudo, Duarte et al. (2009, p. 19) analisaram amostras de 260 carcaças de frango coletadas de cinco plantas de processamento na região Nordeste do Brasil. Foram isoladas 20 estirpes de Salmonella, sendo a Salmonella Enteritidis o sorovar mais predominante (25%). Carcaças de frango resfriadas adquiridas em varejos da região Nordeste do Rio Grande do Sul apresentaram também índices significativos do agente. Houve 12,2% de ocorrência de Salmonella, sendo que Salmonella Enteritidis foi a mais frequentemente encontrada, em 31,8% dos isolamentos. Anseriformes são susceptíveis a infecções por Salmonella Enteritidis e, em pesquisas realizadas para avaliar a progressão da salmonelose por meio da inoculação de cepas por via nasal em patos jovens, pode-se associar que a quantidade de inóculo e a rápida replicação e disseminação nos órgãos têm estreita relação com a evolução da doença, e diferentes regiões do intestino diferem na susceptibilidade de invasão e colonização da Salmonella Enteritidis. Antes da década de 1980, a Salmonella Enteritidis raramente era isolada de aves domésticas, e a maioria dos isolados pode ter sido derivada de alimento contaminado. Recentemente, no entanto, a incidência de infecção por Salmonella Enteritidis em criações de aves tem aumentado na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos e em outros países. Concomitantemente, um aumento dramático no número de surtos de intoxicação alimentar devido a Salmonella Enteritidis no homem também foi relatado. Estudos epidemiológicos atribuem os surtos de intoxicação alimentar por Salmonella Enteritidis ao consumo de ovos ou derivados de ovos contaminados. Assim, Salmonella Enteritidis tornou-se o patógeno mais sério para o homem. É importante analisar o comportamento do organismo em frangos para a prevenção e eliminação de intoxicações alimentares. A maioria das infecções por Salmonella em frangos surge da ingestão desses organismos. Os organismos ingeridos passam pelo trato alimentar, no qual podem interagir com a superfície da mucosa nas 21 DOENÇAS BACTERIANAS │ UNIDADE I placas de Peyer e podem aderir e penetrar nas células epiteliais do intestino. Depois de passar pela parede intestinal e entrar em tecidos mais profundos, algumas Salmonellas podem invadir, sobreviver e se multiplicar no sistema reticuloendotelial e disseminar para outros tecidos, causando graves doenças sistêmicas. Recentemente, alguns relatos sobre os fatores de virulência associados à Salmonella foram publicados. Esses fatores de virulência são necessários para que as bactérias invadam, colonizem, sobrevivam e se multipliquem nas células e superem os sistemas de defesa do hospedeiro. Em alguns estudos, os organismos foram detectados no coração, saco vitelino, ceco e/ou gema de pintos de corte naturalmente infectados até o momento do abate. Como no caso de aves naturalmente infectadas, os organismos persistiram nas vísceras de galinhas com administração oral experimental a partir de 70 dias até 22 semanas após a infecção. Em pintos infectados pelo contato via ovo com Salmonella Enteritidis, dentro de 24 horas de incubação, os organismos colonizam as vísceras e o saco da gema e podem ser eliminados intermitentemente pós eclosão pelo menos até 28 semanas após a exposição. Variações nas taxas de mortalidade são descritas em infecções experimentais em pintos. A presença de diferenças significativas nas taxas de mortalidade (14,5-89,5%) em frangos de um dia inoculados oralmente com oito isolados de Salmonella Enteritidis já foi descrita Em contraste, nenhum dos mutantes resistentes ao ácido nalidíxico de isolados Salmonella Enteritidis foi letal para os pintos. Embora a maioria das aves infectadas não apresente sinais clínicos, algumas inoculações experimentais de cepas de Salmonella Enteritidis podem causar depressão, anorexia, diarreia, redução na produção de ovos e/ou mortalidade em poedeiras sugerindo a existência de variações significativas na patogenicidade das cepas. Como indicado na mortalidade entre os pintos, também pode haver diferenças significativas na produção de ovos entre as galinhas após a infecção com cepas de Salmonella Enteritidis de diferentes origens ou tipos, bem como na virulência para poedeiras entre os isolados do homem ou ovos e do ovário de uma galinha. Isso sugere que, além da idade das aves, a seleção de cepas bacterianas e tipos de fagos pode ser um fator importante que afeta o resultado da infecção por Salmonella Enteritidis. Salmonella Typhimurium e Salmonella Enteritidis são os dois principais sorovares associados ao Paratifo aviário. Em 2010, a Salmonella Typhimurium foi o sorovar mais comumente notificado, com 5.241 (44%) casos de todas as infecções notificadas por Salmonella na Austrália (OZFOODNET WORKING GROUP, 2012, p. 350). Aves podem permanecer infectadas por Salmonella Typhimurium por tempoindeterminado, e a disseminação do agente pode ocorrer, principalmente, em 22 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS criações de aves submetidas a fatores estressantes como: vacinação, ambiência inadequada e superlotação. Contudo, um estudo mostrou que, em alguns casos, a densidade de aves não parece afetar a taxa de contaminação de carcaça de frangos por Salmonella Typhimurium (WALDROUP et al., 1992, p. 846). Já a prática de jejum para a indução de muda forçada em galinhas poedeiras infectadas por via oral com Salmonella Enteritidis aumenta a incidência inflamação do epitélio e da lâmina própria do cólon e do ceco, promove a disseminação do agente e aumenta a suscetibilidade do hospedeiro. Salmonella Typhimurium é um sorovar bastante associado a avicultura de postura e comumente veiculado por ovos. Relatórios de Health Protection Agency (HPA, 2010) revelaram que a contaminação de ovos por Salmonella Typhimurium vem aumentando ao passar dos anos, e a por Salmonella Enteritidis, diminuindo. Porém, é importante ressaltar que o isolamento de Salmonella Typhimurium a partir de amostras do tecido ovariano de galinhas não está relacionado à ocorrência de surtos. Salmonella Typhimurium, em comparação com outros sorovares, é capaz de causar patogênese em ampla gama de hospedeiros. Aves de criações de subsistência geralmente são assintomáticas, assim como algumas aves provenientes de aviculturas industriais, aumentando, assim, o risco de veiculação do agente por carne e ovos cansando doença em humanos. Salmonella Typhimurium e Salmonella Enteritidis são os sorovares mais comuns existentes nos alimentos de origem animal e são responsáveis por 50% da salmonelose. As doenças causadas por Salmonella Typhimurium têm significado na saúde pública, pois estão associadas à intoxicação alimentar em humanos. A salmonelose em humanos é causada principalmente por Salmonella Typhimurium. A capacidade desse sorovar para infectar aves e contaminar ovos faz dele um potente agente de infecção para humanos. Salmonella Typhimurium demonstra a patogênese alimentar, é importante entender como ele pode afetar os ovos e quais estratégias são necessárias para melhorar o controle da infecção. Salmonella Typhimurium e Salmonella Enteritidis prevalecem entre os demais sorovares de importância na saúde pública na infecção por fezes em galinhas. A contaminação por Salmonella Typhimurium em ovos pode se tornar mais significativa se a tendência atual da infecção por enterite continuar. Existem cepas invasivas de Salmonella Typhimurium. Apesar de recuperar Salmonella Typhimurium do tecido ovariano de galinhas velhas, descobriu-se que essa contaminação não estava relacionada com surtos de salmonelose. Salmonella Typhimurium, em comparação com outros soropositivos, é capaz de causar patogênese em ampla gama de hospedeiros. Geralmente assintomática 23 DOENÇAS BACTERIANAS │ UNIDADE I em frangos, a infecção de carne e ovos provoca grave doença humana. As incubadoras são os primeiros locais onde as salmonelas podem entrar na cadeia alimentar por meio de aves. Muitas medidas estratégicas, como desinfecção de ovos com produtos químicos, ozônio, irradiação UV, carga eletrostática, luz pulsada e plasma de gás, têm sido empregadas para erradicar a contaminação por Salmonella em incubadoras. A introdução de portadores de salmonela, como aves, roedores, moscas e insetos, diminui somente quando se empregam programas de biosseguridade sofisticados, armadilhas e iscas. Água potável tratada adequadamente com produtos de limpeza eficazes e filtrada usando protocolos osmóticos deve ser usada para reduzir a exposição à salmonela. A compostagem adequada do lixo gasto pode minimizar a contaminação por salmonela em criações de aves. As caixas usadas durante o transporte das aves também devem ser desinfectadas adequadamente e secas para evitar a contaminação cruzada. Além disso, usar medidas preventivas usuais, estratégias baseadas no sistema imunológico que incluem respostas imunes passivas e ativas, e manejo da alimentação pode ajudar a reduzir a suscetibilidade da infecção de aves. Uma alimentação adequada acelera o desenvolvimento do intestino delgado e melhora o funcionamento das células epiteliais, e pode ser uma ferramenta eficiente para minimizar as infecções por Salmonella. Por quase vinte anos, o uso de moduladores de alimentação de microflora, como antibióticos, prebióticos e simbióticos, mostrou ser efetivo contra a salmonela. Estratégias de controle recentes, como produtos clorados e bacteriófagos, também foram estudadas. Em relação à doença em aves, a transmissão do agente se dá tanto por via vertical como por via horizontal, sendo que a via vertical ou transovariana ocorre pela contaminação do ovo no trato reprodutivo ou na passagem pela cloaca, em contato direto com as fezes. A sintomatologia é mais evidente em aves jovens do que em animais adultos. Mortalidade embrionária e natimortos também são alterações observadas no plantel. Os sinais clínicos são mais evidentes durante as duas primeiras semanas de vida, em que as aves apresentam apatia, asas caídas, anorexia, penas arrepiadas, cegueira e diarreia intensa. Aves adultas podem apresentar diarreia e queda na produção de ovos. Os achados macroscópicos são tiflite, caracterizado por espessamento da mucosa cecal com conteúdo caseoso; hepato e esplenomegalia; hemorragia; congestão e necrosa hepática; perihepatite; pericardite; persistência do saco da gema; artrite e aerossaculite. Em aves adultas, podem apresentar também degeneração ovariana, caracterizada por folículos ovarianos hemorrágicos e flácidos. 24 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS O diagnóstico de salmonelose de forma geral é realizado mediante cultura e isolamento bacterianos. Além do exame bacteriológico, a sorotipificação é necessária para identificar qual sorovar está acometendo a criação. Medidas de biosseguridade como controle de vetores, vazio sanitário, controle de aves migratórias, manejo sanitário nos núcleos de reprodução e incubatórios também são informações importantes para estabelecimento de diagnóstico. A vacinação com cepas homólogas de Salmonella promove redução da colonização intestinal e excreção fecal. No Brasil, vacinas inativadas de Salmonella Enteriditis têm sido utilizadas em alguns plantéis. Essa vacina diminui a transmissão transovariana, a contaminação da casca do ovo e o isolamento de Salmonella Enteriditis em aves devidamente vacinadas. O uso de vacinas de Salmonella Gallinarum vivas ou inativas (bacterinas) também é uma das principais medidas de prevenção de Tifo aviário. Porém, muitas vezes, as bacterinas não conseguem produzir proteção satisfatória. Paratifo aviário: » Etiologia: › diversos sorovares de Salmonella, exceto Pullorum e Gallinarum. » Aspectos epidemiológicos: › aves de diferentes idades. » Sinais clínicos: › geralmente assintomático. » Necropsia: › distensão dos cecos associado a material caseoso na luz. 25 CAPÍTULO 2 Micoplasmose A Micoplasmose é uma das enfermidades de maior impacto mundial. Entre as 25 espécies de Micoplasma isoladas de diferentes espécies de aves, somente quatro possuem interesse econômico para saúde aviária. Galinhas e perus podem ser acometidos por Mycoplasma gallisepticum, Mycoplasma synoviae, Mycoplasma iowa, Mycoplasma meleagridis. As perdas econômicas relacionadas a Micoplasmose em frangos e perus estão relacionadas a mortalidade, infecções secundárias, baixo ganho de peso, conversão alimentar ruim, aumento do índice de condenação de carcaças, imunossupressão e gasto com tratamento. Micoplasmas são bactérias Gram-negativas que não possuem parede celular, e, por isso, as cepas podem se apresentar com diferentes formas. Esses microrganismos são considerados os menores procariontes (bactérias) conhecidos, que se assemelham, em tamanho, aos grandes vírus (cerca de 300nm). São organismos sensíveis aosdetergentes e resistentes a determinados antimicrobianos, como a penicilina, por não possuírem parede celular. Além disso, essas bactérias formam colônias bem peculiares com aspecto de “ovo frito”, que crescem para o interior do meio de cultura. Esses microrganismos têm predileção pelas membranas mucosas do trato reprodutivo e respiratório. Alterações articulares, respiratórias e urogenitais estão associadas a infecções por micoplasmas. A Doença Respiratória Crônica (DCR) das galinhas causada por Mycoplasma gallisepticum, a Sinuvite Infecciosa dos Perus causada por Mycoplasma synoviae, a Sinovite Infecciosa e a Aerossaculite das Aves causada por Mycoplasma gallisepticum e Mycoplasma synoviae são as principais doenças. Mycoplasma gallisepticum Mycoplasma gallisepticum é a espécie de maior importância entre os demais micoplasmas por causar doença tanto em galinhas quanto em perus, além de promover o desenvolvimento de dois quadros clínicos distintos. Tanto a sinusite infecciosa em perus quanto a doença respiratória crônica em galinhas são provocadas por infeções de Mycoplasma gallisepticum. Perus geralmente apresentam quadro infeccioso mais grave do que frangos. 26 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS A infecção por esse agente geralmente está associada a infecção concomitante por outros patógenos respiratórios. A infecção por Mycoplasma spp. torna o ambiente propício para a proliferação de outros microrganismos, tal como Escherichia coli, sendo que a infecção mútua por esses patógenos pode levar a quadros de aerossaculite grave. Os hospedeiros naturais de Mycoplasma gallisepticum são galinhas e perus. Porém, o patógeno já foi isolado de outras espécies de aves. O desenvolvimento da doença depende da virulência da cepa, da dose infectante, do estado e idade do hospedeiro e da via de infecção. A taxa de morbidade em criações de galinhas e perus é alta, no entanto a taxa de mortalidade geralmente é baixa. A transmissão ocorre por via horizontal, diretamente de ave para ave ou indiretamente. Os sinais clínicos que caracterizam infecções por Mycoplasma gallisepticum são apatia, sonolência, coriza, espirros, estertores úmidos, e, em perus, é frequente a sinusite infraorbital com aumento de volume local. Sinais oculares são frequentemente observados em infecções por Mycoplasma gallisepticum, que podem incluir conjuntivite, inchaço periorbital e edema palpebral. A infecção por Mycoplasma gallisepticum aumenta a taxa de condenação de carcaças, prejudica a conversão alimentar e diminui a postura e a taxa de eclodibilidade. Mycoplasma gallisepticum: » Sensíveis: › galinhas e perus. » Sinais clínicos: › espirros, coriza, dificuldade respiratória, crista e barbela cianóticas. » Lesões: › aerossaculite; › conjuntivite; › edema e congestão em órgãos do trato respiratório. » Associação a infecção por outros patógenos: › tríade de condenação. Os achados macroscópicos do trato respiratório podem ser discretos ou inaparentes ou podem-se detectar acúmulo de muco e exsudato caseoso na cavidade nasal, na traqueia e no pulmão, e opacidade dos sacos aéreos. A 27 DOENÇAS BACTERIANAS │ UNIDADE I aerossaculite pode ocorrer em diferentes graus, desde opacidade discreta associada a material espumoso e opacidade difusa de sacos aéreos associada a deposição de cáseo. Em casos crônicos, e geralmente associados a outros patógenos, observa-se aderência de órgãos associados a deposição de exsudato caseoso em vísceras. Na microscopia, há descamação do epitélio ciliado, perda de cílios, infiltrado inflamatório mononuclear e hiperplasia glandular em vias respiratórias. Para controle de infecções de Mycoplasma gallisepticum, existem vacinas utilizadas para a proteção. A vacina reduz as perdas na produção de ovos, contudo o seu uso é limitado devido ao risco de reversão vacinal em perus e frangos de corte jovens. Vacinas inativadas são mais seguras, porém não conferem proteção adequada em alguns casos. Em relação ao tratamento tanto de ovos no incubatório quanto das aves, a escolha do antimicrobiano deve ser feita com cautela. A escolha de antimicrobianos que inibam a síntese da parede celular microbiana tornará o tratamento ineficaz, pela ausência da parede celular na bactéria. Por isso, são indicados antimicrobianos macrolídeos (tilosina, espiramicina, quintamicina), gentamicina, tetraciclina, tiamulim e as fluorquinolonas (enrofloxacina e danofloxacina). Como medidas de controle e prevenção, recomenda-se quarentena, evitar possíveis veiculadores (incluindo funcionários da granja), controle de trânsito de pessoas e veículos, boas práticas nos incubatórios, entre outros. Mycoplasma synoviae A infecção por Mycoplasma synoviae é geralmente subclínica e acomete principalmente o trato respiratório superior. Infecções sistêmicas são incomuns, porém, quando ocorrem, resultam em sinovite infecciosa, doença infeciosa aguda e crônica de frangos e perus, envolvendo principalmente as membranas sinoviais das articulações e bainhas de tendões e bursite. Como resultado das alterações respiratórias apresentadas pelos animais infectados, ocorre queda na produção de ovos e diminuição da taxa de crescimento. A transmissão de Mycoplasma synoviae pode ocorrer tanto por via horizontal como por via vertical. A disseminação da infecção por via horizontal é rápida entre aves do mesmo galpão. Em poucas semanas, até 100% das aves podem ter se infectado. A transmissão vertical em aves de criações comerciais é um dos principais motivos do difícil controle e da erradicação dessa doença. Normalmente, as matrizes no estágio agudo da doença transmitem altas concentrações do agente para o embrião. 28 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS Em galinhas, nem sempre sinais clínicos podem ser observados devido ao caráter subclínico da doença. Porém, quando presentes, podem-se observar estertores, apatia, emagrecimento, desidratação, alta taxa de refugagem e retardo no crescimento. Os sinais se tornam mais graves na forma septicêmica da doença, e é possível visualizar alterações locomotoras, como claudicação devido ao processo inflamatório presente nas estruturas sinoviais. O quadro clínico de perus é semelhante ao de galinhas, no entanto o edema em região articular e a claudicação são mais frequentes naqueles do que nestas. Nos achados macroscópicos, a sinovite infecciosa se caracteriza por deposição de exsudato acinzentado viscoso a cremoso sobre as membranas sinoviais das articulações (figura 7). Além da sinovite, também pode haver hepato e esplenomegalia, rins aumentados de tamanho e pálidos, e aerossaculite. À microscopia, nota-se infiltrado inflamatório heterofílico e franjas de fibrina nas superfícies articulares e membranas tendinosas, e membranas hiperplásicas e com deposição de linfócitos e macrófagos. No trato respiratório, há infiltração de heterofilos e linfócitos em mucosa traqueal, nos brônquios e nos sacos aéreos; edema, proliferação capilar e acúmulo de heterofilos. Em casos mais graves, pode haver também hiperplasia de células epiteliais, infiltrado mononuclear difuso e necrosa caseosa nos órgãos do trato respiratório superior. Figura 7. Coxin plantar edemaciado e articulação do jarrete inchado em galinha com sinovite infecciosa (infecção por Mycoplasma synoviae). Fonte: David (2018). O diagnóstico presuntivo baseia-se no edema em região articular e claudicação apresentada pelos animais, como palidez de crista, emagrecimento, hepato e esplenomegalia e aumento de volume dos rins. Já o diagnóstico definitivo ocorre pelo isolamento e pela identificação do agente ou por técnicas moleculares. 29 DOENÇAS BACTERIANAS │ UNIDADE I Mycoplasma synoviae » Sensíveis: › galinhas e perus. » Sinais clínicos: › sinovite; › dificuldade respiratória; » Lesões: › sinovite; › hepato e esplenomegalia; › rins aumentados de tamanho e pálidos; › aerossaculite. » Características do agente: › os mais patogênicos podem alcançaras articulações. O tratamento, assim como as medidas de controle e prevenção, é semelhante ao indicado para infeções por Mycoplasma gallisepticum. Contudo, a transmissão vertical desempenha um papel importante na disseminação de Mycoplasma synoviae em galinhas, por isso o método de controle mais eficaz é monitorar regularmente os rebanhos e também eliminar lotes positivos de matrizes. Mycoplasma iowae Perus são os hospedeiros preferenciais de Mycoplasma iowae, mas tem sido isolada em galinhas frequentemente. Mycoplasma iowae tem sido associado com redução da eclosão e mortalidade embrionária em perus. Sob condições experimentais, a bactéria pode causar mortalidade de embriões de perus e de galinha, e também leva a aerossaculite moderada e anormalidades nas pernas em galinhas e perus inoculados. Mycoplasma iowae é um dos quatro micoplasmas importantes para a avicultura. Essa importância tem sido associada a morte embrionária e queda 30 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS de eclodibilidade em criações de peru. Lotes infectados por Mycoplasma iowae diminuíram significativamente a taxa de eclodibilidade. A bactéria pode diminuir a eclodibilidade em até 5%. Aerossaculite leve também pode ser observada em perus e galinhas, porém a infecção é geralmente assintomática em aves adultas. Alterações locomotoras, como deformidade nas pernas (figura 8), estão associadas a síndrome da má absorção desenvolvida por alguns perus naturalmente infectados. Em embriões mortos pela infecção por Mycoplasma iowae, pode-se observar hepatite e esplenomegalia. Em perus, é encontrada aerossaculite muito semelhante à causada pelas demais espécies de micoplasma. Figura 8. A – Pernas normais versus condrodistróficas de perus de 28 dias. Embora os pesos fossem comparáveis, o peru condrodistrófico (esquerda) tem dentes curtos e grossos e dedos dos pés em comparação com o peru não afetado (direita). B – Pernas de um peru de 42 dias mostrando condrodistrofia bilateral. As pernas afetadas são curtas, grossas, com jarretes aumentados, e há inclinação medial acentuada de ambas as pernas, o que resultou em deformidade em varo bilateral. Fonte: David (2018). Mycoplasma iowae » Sensíveis: › galinhas e perus. » Sinais clínicos: › alterações locomotoras; › dificuldade respiratória. 31 DOENÇAS BACTERIANAS │ UNIDADE I » Lesões: › alterações locomotoras como deformidade nas pernas; › aerossaculite. » Características do agente: › espécie de Mycoplasma em ascensão. Mycoplasma meleagridis A bactéria Mycoplasma meleagridis também é um patógeno de importância na avicultura entre os demais micoplasmas. Todavia, Mycoplasma meleagridis é considerado um patógeno específico para perus, mas já houve isolamento de embriões de frango e de aves de rapina. Esse agente é amplamente difundido pelo mundo como agente causal de aerossaculite. Perdas econômicas estão ligadas aos baixos índices zootécnicos e condenações de carcaças por aerossaculite. A transmissão de Mycoplasma meleagridis ocorre tanto por via horizontal como por via vertical. A transmissão vertical se inicia pela infecção do trato reprodutivo das fêmeas por inseminação artificial com sêmen contaminado. Os ovos se contaminam no oviduto, principalmente nos seguimentos denominados magno e área da fímbria. No embrião Mycoplasma meleagridis, replica-se principalmente em sacos aéreos, mas também em penas, pele, seios, traqueia, bursa de Fabricius, pulmão, cloaca, intestinos e articulações. Os sinais clínicos estão associados a aerossaculite, porém sem alterações clínicas de caráter respiratório. As aves também podem desenvolver anormalidades esqueléticas, como encurvamento, torção e encurtamento do osso metatarsiano, edema em região de articulações tibiotarsiana e deformação das vértebras cervicais. Os achados macroscópicos se caracterizam por aerossaculite em sacos aéreos torácicos nos perus de um dia de idade, com espessamento e deposição de exsudato caseoso. As lesões esqueléticas estão relacionadas com aerossaculite grave (figura 9). 32 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS Figura 9. Aerossaculite leve em um peru de quatro semanas infectado por Mycoplasma meleagridis. Fonte: David (2018). O diagnóstico ocorre por isolamento e identificação do agente, além de testes sorológicos e moleculares. Para tratamento, é indicado tratamento com antimicrobianos, tais como tilosina, tetraciclina, gentamicina, tiamulina, entre outros. Para controle e prevenção, os programas de biosseguridade são essenciais, pois infecções por Mycoplasma meleagridis são consideradas sexualmente transmissíveis, por isso medidas de controle na extração do sêmen e na inseminação são necessárias para evitar a doença. Mycoplasma meleagridis » Sensíveis: › perus. » Sinais clínicos: › deformidades ósseas; › dificuldade respiratória. » Lesões: › aerossaculite; › lesões esqueléticas. » Características do agente: › aerossaculite em sacos aéreos torácicos nos perus de um dia de idade. 33 CAPÍTULO 3 Colibacilose Colibacilose aviária é um termo genérico atribuído a qualquer infecção, localizada ou sistêmica. Todas as espécies aviárias são susceptíveis a colibacilose, porém a doença clínica é mais frequente em frangos, perus e patos. Escherichia coli (E.coli) é o agente causador da colibacilose, e essa bactéria pode ser classificada quanto aos seus patotipos, porém o patotipo patogênico para aves é denominado Escherichia coli patogênica para aves (Apec), caracterizado por causar lesões extraintestinais. Figura 10. Classificação de Escherichia coli patogênica para aves. Escherichia coli ExPEC APEC Fonte: Elaborada pela autora. E.coli é um importante patógeno, tanto como causa de doença na avicultura quanto como pelo seu provável risco à segurança alimentar. Diferente da colibacilose em mamíferos, as lesões em aves são predominantemente extraintestinais. As estirpes de E.coli que causam lesões fora do trato intestinal de qualquer espécie compartilham características comuns e são chamadas de E.coli patogênicas extraintestinais (ExPEC). Animais com colibacilose e outros agentes concomitantes podem desenvolver doenças mais graves, aumentando a taxa de morbidade. Entre os agentes mais relatados, estão Mycoplasma gallisepticum, Pasteurella multocida, Staphylococcus sp e Streptococcus sp. Em aves, a colibacilose é considerada uma das principais enfermidades bacterianas, envolvida com o aumento da mortalidade em uma criação. A taxa de mortalidade em aves com colibacilose é variável, pois fatores como idade, imunocompetência, patógenos agravantes e patogenicidade do agente podem interferir diretamente na severidade da doença. Oh et al. (2011, p.1950) observaram que há maior taxa de mortalidade (9,22%) em galinhas poedeiras com até 20 semanas de idade do que em aves mais velhas (3,99%), demonstrando a influência da idade no número de indivíduos mortos. As diferentes formas anatomopatológicas de colibacilose (onfalite, doença respiratória crônica, salpingite, síndrome da cabeça inchada), em conjunto, são 34 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS consideradas como uma das doenças bacterianas mais comuns em frangos, perus e patos. Essa é responsável por perdas econômicas significativas, e frequentemente está entre as doenças mais relatadas em inquéritos epidemiológicos de saúde de aves ou em condenações em abatedouros. O desenvolvimento dos diferentes quadros anatomopatológicos pode estar envolvido com condições ambientais, manejo, características de virulência das cepas, via de infecção e sistema imunológico do hospedeiro. Figura 11. Principais sistemas acometidos por infecções por Escherichia coli patogênica para aves. Escherichia coli patogênica para aves (Apec) Transtornos respiratórios Transtornos reprodutivos Alterações tegumentares Lesões extraintestinais Fonte: Elaborada pela autora. A onfalite decorre da contaminação do ovo por fezes oupela presença de aves reprodutoras infectadas, em que acontece a penetração de E.coli por meio da casca do ovo.8 Essa forma de colibacilose acomete galinhas, perus e patos, e é caracterizada por saco gema com parede edemaciada, conteúdo com coloração acastanhada e massas caseosas (figura 12). E.coli envolvidas com infecções via ovo normalmente são avirulentas. Porém, o comportamento oportunista das cepas comensais possibilita a infecção do embrião. Figura 12. Pintos onfalite e persistência do saco da gema. A – Cavidade celomática distendida com hiperemia acentuada em região de umbigo. B – Saco da gema persistente e como coloração alterada, ocupando grande parte da cavidade celomática Fonte: The Poultry Site (2018). 35 DOENÇAS BACTERIANAS │ UNIDADE I Onfalite. » Características do agente: › muitas vezes não patogênico ou de baixa patogenicidade. » Epidemiologia: › penetração na casca, atingindo o embrião. » Patologia: › penetração no umbigo; › morte do embrião ou nascimento de pintos com onfalite. » Lesões: › umbigo edemaciado e avermelhado; › persistência do saco da gema. Síndrome da cabeça inchada é uma forma de colibacilose que ocorre em galinhas. Edema facial, celulite no tecido subcutâneo da cabeça, conjuntivite (figura 13 e 14) e presença de exsudato caseoso de coloração amarelada no espaço aéreo dos ossos do crânio são os achados macroscópicos desse tipo de colibacilose. Figura 13. Galinhas com síndrome da cabeça inchada. A – Edema de pálpebras e conjuntiva avermelhada (conjuntivite). B – Acentuado edema em seios peri e infraoculares impedindo a abertura dos olhos. Há também acúmulo de exsudato na região ocular. Fonte: The Poultry Site (2018). 36 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS Figura 14. Galinhas com Síndrome da cabeça inchada. A – Acúmulo de material gelatinoso e brancacento em seios peri e infraoculares. B – Congestão e edema em região de barbela. Fonte: The Poultry Site (2018). Síndrome da cabeça inchada. » Características do agente: › cepas patogênicas; › infecção concomitante com Pneumovírus. » Epidemiologia: › penetração via aerógenas. » Patologia: › penetração trato respiratório superior. » Lesões: › edema facial; › celulite no tecido subcutâneo da cabeça; › conjuntivite; › presença de exsudato caseoso de coloração amarelada no espaço aéreo dos ossos do crânio. Doença respiratória crônica ocorre em galinhas com quatro a nove semanas de idade e tem como complicação o desenvolvimento de processos septicêmicos. Traqueíte, aerossaculite (figura 15), pericardite e perihepatite são lesões observadas. Pneumonia, pleuropneumonia e peritonite podem ocorrer em casos mais graves. 37 DOENÇAS BACTERIANAS │ UNIDADE I Doença respiratória crônica complicada. » Características do agente: › cepas patogênicas; › infecção concomitante com Mycoplasma gallisepticum. » Epidemiologia: › replicação no tecido/órgão lesionado por Mycoplasma gallisepticum. » Patologia: › replicação inicial no trato respiratório superior. » Lesões: › traqueíte; › aerossaculite; › pericardite; › perihepatite são lesões observadas; Figura 15. Sacos aéreos de galinha apresentando opacidade difusa e deposição multifocais de material caseoso (aerossaculite caseosa). Fonte: Poultry Hub (2018). Salpingite é a inflamação do oviduto por infecções de APEC que resulta na diminuição da produção de ovos em galinhas, patas e gansas. As rotas de infecção 38 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS são por via ascendente ou por extensão da lesão pela proximidade do oviduto com os sacos aéreos. Ozaki et al. (2009, p. 1.687) referem que essas rotas podem ser determinadas pelo perfil de virulência das estirpes. Em infecções ascendentes, da cloaca para o oviduto, as cepas isoladas do lúmen do oviduto não são geneticamente semelhantes aos isolados de outros órgãos (fígado e coração, principalmente). A complicação mais grave da salpingite é a peritonite. Já em lesões que decorrem da extensão de infecções sistêmicas, os isolados de fígado, coração e do trato reprodutivo possuem combinações similares de genes. Poedeiras jovens, no início do período de postura e com 30 semanas de idade, são geralmente as mais suscetíveis a essa forma de colibacilose. Porém, poedeiras mais velhas também podem ser acometidas, causando taxa de mortalidade até mesmo elevada. Knöbl et al. (2012, p. 437) relataram que, em uma avicultura de postura com 27.000 aves, a taxa de mortalidade em poedeiras jovens, 62 semanas de idade, foi menor (0,28%) do que nas aves de 68 semanas de idade (0,89%), reforçando a relação entre a idade e a severidade da doença. Salpingite » Características do agente: › cepas patogênicas. » Epidemiologia: › contaminação ambiental ou aves infectadas. » Patologia: › penetração do agente por via ascendente (via cloaca) ou extensão de lesões respiratórias. » Lesões: › material caseoso na luz do oviduto. Celulite aviária é uma das principais causas de condenação de carcaças no Brasil, podendo atingir valores significativos como 51,20% do total de condenações em um abatedouro. Estirpes de E.coli podem estar envolvidas como agente etiológico em até 85% dos casos de celulite em frangos de corte, atribuindo essa bactéria como a principal causa da lesão. Essa forma de colibacilose é descrita principalmente em frangos de corte de criação intensiva. As lesões ocorrem no tecido subcutâneo, com predomínio da região abdominal e apresentam acúmulo de exsudato caseoso (figura 16). 39 DOENÇAS BACTERIANAS │ UNIDADE I A celulite aviária em frangos de corte, especialmente nas coxas e na parede abdominal, tem sido observada com maior frequência nos últimos anos. Em estudo feito durante o período de um ano, 98 carcaças de frango com celulite foram diagnosticadas em matadouro. As lesões foram caracterizadas por espessamento e descoloração marrom da pele. Um exsudato fibrinopurulento com alguma caseação foi visto nos tecidos subcutâneos. Microscopicamente, hiperceratose, espessamento da derme, infiltração de células mononucleares e heterófilos, juntamente com exsudatos fibrinocósicos, foram presentes. Em 90 das 98 (91,8%) amostras bacterianas de frangos de corte, E. coli foi isolado, e, em 82 (91,1%) dessas amostras, foi a única espécie bacteriana encontrada. Os resultados de serotipagem revelam que os isolados de E. coli foram distribuídos entre seis sorotipos diferentes. O sorotipo mais prevalente foi O78 (52,2%). Além disso, Staphylococcus aureus e Actinomyces pyogenes foram isolados de 12 e 2 casos, respectivamente. Esse estudo confirma a frequente associação de E. coli com lesões de celulite em frangos de corte, juntamente com o isolamento de S. aureus e A. pyogenes. Estes últimos não foram relatados nos estudos anteriores. O aumento da incidência da celulite pode estar associado a erros de manejo, como superlotação. A septicemia é uma das complicações mais graves dessa enfermidade e é relatada principalmente em frangos infectados nos primeiros dias de vida. Essa forma de colibacilose também está associada a cepas de E.coli multirresistentes. Tal fato é preocupante tanto para a saúde animal como para a humana, posto que a presença de estirpes de E.coli multirresistentes originárias de frangos com lesões no tecido subcutâneo podem se tornar um risco de veiculação de resistência a partir de carcaças de frangos. Celulite. » Características do agente: › cepas patogênicas; › característica de multirresistência. » Epidemiologia: › laceração cutânea e penetração do agente; › geralmente associada a superlotação; › ocorrência em surtos de colibacilose. 40 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS » Patologia: › penetração do agente via cutânea, atingindo a gordura subcutânea. » Lesões: › material caseoso no tecido subcutâneo, resultando em aspecto repugnante. Figura 16. Carcaça de frango apresentando processo inflamatório em tecido subcutâneo.A – Celulite focalmente extensa, com coloração amarelada, em região dorsal de carcaça. B – Pele amarelada irregular, caracterizando infecção bacteriana. Fonte: The Poultry Site (2018). O proventrículo negro é uma apresentação rara de colibacilose. Esta é decorrente de infecções por Apec de um sorogrupo incomum, o O142. A taxa de mortalidade é elevada, podendo chegar a 100%, e as matrizes jovens são as mais sensíveis. As lesões macroscópicas são: fígado aumentado de volume e escuro, deposição de fibrina na superfície do fígado, pericárdio edemaciado, opaco e com presença de franjas de fibrina, sacos aéreos opacos e espessados, além do proventrículo com coloração enegrecida. 41 DOENÇAS BACTERIANAS │ UNIDADE I Doença do proventrículo negro. » Características do agente: › escherichia coli sorotipo O142. » Epidemiologia: › matrizes jovens são mais sensíveis. » Patologia: › o patógeno alcança o proventrículo por meio da corrente sanguínea. » Lesões: › fígado aumentado de volume e escuro; › deposição de fibrina na superfície do fígado; › pericárdio edemaciado, opaco e com presença de franjas de fibrina; › sacos aéreos opacos e espessados; › proventrículo com coloração enegrecida. Em patos, a colibacilose é comumente caracterizada por aerossaculite, pericardite, peritonite ou septicemia. Entre as diferentes espécies aviárias, a forma septicêmica ou colisepticemia é comum em aves aquáticas. Patos e gansos jovens são os mais acometidos, e os surtos estão geralmente relacionados a criações sem manejo adequado ou que tenham acesso a água contaminada. Deposição de material úmido, granular, com aspecto de coalhada e odor característico nos sacos aéreos, pericárdio e superfície do fígado são os principais achados macroscópicos encontrados em patos com septicemia por infecções de Apec. Entre os quadros específicos de colibaciloses de caráter sistêmico está a Coligranuloma ou doença de Hjarre, forma rara de colibacilose sistêmica, que acomete galinhas e perus, caracterizada por múltiplos granulomas no parênquima hepático, mesentério, ceco e duodeno. Perus podem desenvolver uma forma mais grave com presença de hepatite e tiflite piogranulomatosa. Lotes atingidos podem apresentar taxas de mortalidade de até 75%. Perus ainda podem apresentar outra forma especial de septicemia, a chamada septicemia hemorrágica aguda. Essa doença é caracterizada por lesões septicêmicas 42 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS com distúrbios circulatórios generalizados, descoloração da gordura subserosa, hepatomegalia, esplenomegalia, rins aumentados de tamanho, acúmulo de sangue e edema dos pulmões, e acúmulo de exsudato serohemorrágico nas superfícies serosas. Além da septicemia hemorrágica, existe também a colisepticemia de origem entérica, que é um quadro de colibacilose frequente em perus. Essa doença necessita de um agente predisponente, como o vírus da enterite hemorrágica, para causar a injúria primária. Congestão ou coloração esverdeada no fígado, baço congesto e aumentado de tamanho, além de musculatura congesta, caracterizam esse quadro. O complexo de osteomielite dos perus é uma forma de colibacilose comum à espécie, resultante de inflamações ósseas, articulares e nos tecidos moles periarticulares. E.coli relacionada a esse complexo também possuem combinações de genes relacionadas a estirpes altamente patogênicas. A poliserosite fibrinosa acomete principalmente galinhas, perus e patos. Pericardite, perihepatite e aerossaculite fibrinosas são as lesões encontradas nessa forma de colibacilose. Lesões graves em casos de septicemia e poliserosite fibrinosa podem estar associadas à morte súbita, em que as aves infectadas não apresentam nenhum sinal clínico prévio. 43 CAPÍTULO 4 Cólera aviária A cólera aviária é uma doença de caráter agudo e septicêmico, causada por bactérias do gênero Pasteurella multocida (P.multocida), que afeta galinhas, perus, codornas, pombos, patos, gansos, entre outros. Patos e gansos são aves aquáticas domésticas altamente susceptíveis à doença, e animais com mais de quatro semanas de idade são os mais acometidos (principalmente entre quatro a oito semanas de idade. A fase aguda é a forma mais comum da doença em patos e gansos, que é caracterizada por CID (coagulação intravascular disseminada) ou trombose. Pasteurella multocida é um bastonete Gram negativo, imóvel, não formador de esporos. A patogenicidade da bactéria está relacionada à morfologia das colônias e à presença do antígeno capsular. Existem 16 antígenos somáticos e cinco capsulares (A, B, D, E e F). A tipificação capsular da P.multocida pode ser importante para prevenção de surtos de aves, já que essa enfermidade causa perdas econômicas consideráveis. Com mais de 100 espécies de aves selvagens infectadas naturalmente, é evidente que P. multocida tem uma diversidade de hospedeiros, entre eles animais em cativeiro, zoológicos e aves domésticas. Provavelmente, a maioria das espécies de aves é suscetível a Cólera sob determinadas circunstâncias. No entanto, não há relatos da infecção entre os abutres (Cathartidae). A cólera aviária é uma doença de distribuição mundial, porém países de climas temperados são mais acometidos. É uma enfermidade de caráter sazonal, e a maioria dos surtos ocorre durante o verão, devido à temperatura ser mais elevada. Todas as aves domésticas e silvestres são consideradas susceptíveis, com maior ocorrência em patos, gansos, perus e faisões; galinhas são menos susceptíveis. A idade mais associada à doença é de 20 a 24 semanas, durante a maturidade sexual – aves jovens raramente desenvolvem a doença. A transmissão é horizontal, a água e o alimento com a presença de secreções das aves doentes podem veicular o agente. A morbidade e mortalidade são elevadas, podendo alcançar 80% a 100%. Em patos aparentemente saudáveis, foi detectada uma frequência de 25,9% dessa bactéria. A contaminação cruzada entre galinhas e patos pode acontecer, e esses animais podem atuar como portadores sadios. O manuseio e transporte para comercialização dessas aves pode explicar a considerável porcentagem de isolados de P.multocida, aumentando, assim, o número de animais portadores, facilitando a disseminação da doença. 44 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS Artrópodes, inalação e ingestão do agente estão associados à infecção. O carrapato mole, Argas persicus, pode transmitir P.multocida entre aves domésticas. P.multocida sobrevive por 33 dias a 30 ºC ou 100 dias a 4 ºC em Argas persicus. Ácaros de aves domésticas, como Dermanyssus gallinae, também são reservatórios de P. multocida. Dermanyssus gallinae pode portar P. multocida de 42 a 64 dias, dependendo da temperatura ambiente. Muitos sinais associados à cólera aviária são causados por uma endotoxina produzida por P. multocida. Em muitos casos, sinais clínicos não são observados devido à morte rápida dos animais. Apenas as aves mortas são encontradas. Então, na forma aguda, a doença é fulminante. As aves podem apresentar sonolência, inapetência, apatia, febre, cianose de barbela e crista, estertores e secreção oral e ocular. No estágio agonal, convulsões e torcicolos podem ocorrer. A forma crônica pode ser uma evolução da fase aguda ou proveniente da infecção por uma cepa menos virulenta. As aves podem apresentar fraqueza e diminuição da taxa de postura devido a hemorragia, congestão folicular e formação de abscessos no oviduto. Edema de barbela é um sinal clínico comum em machos durante a fase crônica. Artrite, otite, torcicolo, osteomielite, sinusite, pneumonia e aerossaculite também podem ser observados. Descarga nasal grossa rica em P. multocida é frequentemente encontrada em aves infectadas após a morte. As lesões macroscópicas na forma aguda variam porque, quando as aves morrem rapidamente, elas muitas vezes parecem estar em boa condição física. Petéquias e equimoses ocorrem comumente no miocárdio, no coração na gordura, no pulmão e em serosas deórgãos. Há necrosa focal no fígado e em outros órgãos. A enterite mucoide é frequentemente encontrada, e esse material mucoide pode conter grande número de P. multocida. Já na forma crônica, as lesões são de caráter fibrinoso, supurativo e necrosante. Nas vias aéreas, é observado exsudato catarral, exsudato ou massa caseosa nas articulações, pneumonia, edema de face e meningite. O diagnóstico da doença fundamenta-se no quadro clínico, taxa de mortalidade e lesões de caráter hemorrágico, exsudativo, fibrinoso, supurativo e necrosante. Entretanto, para diagnóstico definitivo, é necessário isolamento e identificação do agente a partir de amostras de órgãos ou da descarga nasal das aves. Como prevenção da doença, recomenda-se reduzir a exposição de aves suscetíveis e redução da contaminação ambiental por P. multocida. Um programa regular de monitoramento para a mortalidade de aves selvagens é importante para identificar uma epizootia no estágio mais precoce possível. Isso proporciona a maior oportunidade para evitar perdas elevadas e diminuir os gastos com o controle. 45 DOENÇAS BACTERIANAS │ UNIDADE I Há pouca informação disponível sobre o tratamento de aves selvagens que sofrem de cólera aviária. Penicilina é um dos antimicrobianos indicados para o tratamento, assim como 50 mg de oxitetraciclina por via intramuscular ou 500 g/ton de tetraciclina na ração. As doenças infecciosas podem ser particularmente críticas para a conservação de espécies ameaçadas de extinção. Um exemplo notável são os surtos recorrentes que ocorrem nas aves marinhas na Ilha de Amsterdã nos últimos 30 anos, ameaçando as populações de três espécies de aves marinhas ameaçadas de extinção e do endêmico albatroz, em perigo crítico. A bactéria Pasteurella multocida (agente causador da cólera aviária) e, em menor escala, Erysipelothrix rhusiopathiae (agente causador da erisipela), foram ambas suspeitas de serem responsáveis por essas epidemias. Apesar dessa situação crítica, as tendências demográficas não estavam disponíveis para estas populações ameaçadas, e a ocorrência e caracterização de potenciais agentes causadores de epizootias permanecem pouco conhecidas. A situação demográfica piorou substancialmente em três espécies de aves marinhas na última década, com baixíssimo sucesso reprodutivo e declínio populacional de albatrozes-de-cara- roxa Thalassarche carteri, albatrozes fuligem Phoebetria e pinguins-do-norte Eudyptes moseleyi. Pasteurella multocida ou E. rhusiopathiae foram detectadas por PCR em aves vivas de todas as cinco espécies investigadas, enquanto os resultados foram negativos para oito agentes infecciosos adicionais. Uma única cepa de P. multocida foi repetidamente cultivada a partir de aves mortas, enquanto nenhuma E. rhusiopathiae pôde ser isolada. Esses resultados destacam o significado de P. multocida neste sistema ecoepidemiológico particular como o principal agente responsável pelas epizootias. O estudo enfatiza a necessidade urgente de implementar medidas de mitigação para alterar o curso de surtos de cólera aviária que ameaçam a persistência das populações de aves marinhas na Ilha de Amsterdã. Para realização desse estudo, foram colhidas na Ilha de Amsterdã, de novembro de 2011 a janeiro de 2012, amostras de sangue de aves aparentemente escolhidas aleatoriamente a partir das cinco espécies de aves marinhas. Os resultados mostraram que a situação demográfica da comunidade de aves marinhas na ilha de Amsterdã piorou na última década, com um baixo índice reprodutivo e declínio na população de albatrozes-de-nariz-amarelo, fuligem e pinguim-do-norte. Análises moleculares e bacteriológicas sugerem fortemente que a P. multocida ST61 é responsável por surtos significativos e recorrentes em pintos albinos de nariz amarelo e fuligem, mas não para o pinguim-do-norte, para o qual são necessárias investigações adicionais. Nenhum pinguim morto foi encontrado no campo durante nossa permanência na ilha, e a necessidade de controlar uma doença em populações de vida livre 46 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS é frequentemente justificada por preocupações de conservação. A identificação de P. multocida como a causa de várias epizootias abre caminho para futuras investigações e posterior implementação de ações específicas de controle. Os mecanismos de manutenção inter-sazonal bacteriana e a elucidação das vias de transmissão durante as estações de reprodução devem ser urgentemente avaliados (JAEGER et al., 2018). Cólera aviária. » Características do agente: › Pasteurella multocida. » Epidemiologia: › galinhas, perus, codornas, pombos, patos, gansos; › patos e gansos são altamente susceptíveis à doença. » Patologia: › o agente atinge a corrente sanguínea e causa endotoxemia. » Forma aguda: › sonolência; › inapetência; › apatia; › febre; › cianose de barbela e crista; › estertores e secreção oral e ocular. » Forma crônica: › fraqueza e diminuição da taxa de postura; › hemorragia e congestão folicular; › formação de abscessos no oviduto; › edema de barbela – machos; › artrite, otite, torcicolo, osteomielite, sinusite; › pneumonia e aerossaculite. 47 CAPÍTULO 5 Coriza infecciosa das galinhas Coriza infecciosa das galinhas é causada pela bactéria Avibacterium paragallinarum que atinge o sistema respiratório superior das aves. Avibacterium paragallinarum é uma bactéria Gram-negativa que pertence à família Pasteurelaceae e é um bacilo curto ou cocobacilo imóvel. Essa bactéria possui diferentes sorovares, porém esses sorovares não induzem imunidade cruzada entre eles, o que explica o aparecimento da doença em lotes vacinados. No Brasil, a Coriza Infecciosa tem sido comumente relatada. É considerada uma das enfermidades bacterianas de importância devido a sua prevalência nos plantéis brasileiros, ocasionando elevadas perdas econômicas. Existem relatos de surtos da doença em alguns estados da região Sul e Sudeste do país, principalmente em regiões com concentração de aviculturas de postura comercial. É uma doença de transmissão horizontal por via direta ou indireta, por aerossóis, vetores, fômites ou água e ração contaminadas com exsudato proveniente do corrimento nasal das aves doentes. A taxa de mortalidade geralmente é baixa, exceto em casos de infecção por estirpes altamente patogênicas. As galinhas são os únicos hospedeiros naturais de Avibacterium paragallinarum conhecidos até hoje. Em aviculturas industriais, surtos são mais relatados em poedeiras comerciais, porém também podem ocorrer em criações de frangos e reprodutoras de corte. O principal sinal clínico é a descarga nasal, podendo variar de gravidade, intensidade e permanência se apenas Avibacterium paragallinarum estiver causando as lesões ou se existir outro agente concomitante. Na fase aguda, a descarga nasal possui um aspecto seroso e claro, que se torna denso e amarelado em casos mais longos de infecção. Além da descarga nasal, as aves também podem apresentar edema de barbela, edema da cabeça, edema de pálpebra, estertores, hiporexia, perda de peso e refugagem. Lotes com indivíduos na fase crônica podem apresentar um odor característico, fétido e ácido. Os achados macroscópicos são caracterizados por edema e congestão do tecido subcutâneo da face, conjuntivite, conteúdo caseoso em seios nasais e infraorbitais e, em alguns casos, traqueíte e aerossaculite. Os achados microscópicos são hiperplasia necrosa do epitélio glandular e da mucosa, hiperemia e edema associados a infiltrado heterofílico em seios nasais e infraorbitais e traqueia. 48 UNIDADE I │ DOENÇAS BACTERIANAS Dezessete surtos na Argentina de coriza infecciosa complicada em frangos de corte foram estudados. Nos surtos de bandos de poedeiras, foram observadas quedas na produção de ovos de até 35%. Nos lotes de frangos e em vários rebanhos, as perdas por mortalidade persistente e/ou abate variaram
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