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LITERATURA-PORTUGUESA-COMPLETA-Salvo-Automaticamente

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LITERATURA PORTUGUESA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 3 
2 A LITERATURA PORTUGUESA - DA ORIGEM A EXPANSÃO .......................... 4 
3 A FORMAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA E SUAS RELAÇÕES COM A 
LITERATURA .............................................................................................................. 9 
4 PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA LITERATURA PORTUGUESA ................. 12 
5 LITERATURA E SOCIEDADE NO SÉCULO XIX ............................................... 15 
6 A LITERATURA COMPARADA E O COSMOPOLITISMO ................................ 18 
7 A IDEIA DE COMPARATIVIDADE NA HISTORIOGRAFIA LITERÁRIA ............ 20 
8 LITERATURA COMPARADA E HISTORIOGRAFIA LITERÁRIA ...................... 23 
9 DEFINIÇÕES DE PERÍODOS E MOVIMENTOS ............................................... 26 
10 PERÍODOS E MOVIMENTOS NO BRASIL ...................................................... 30 
11 CONSOLIDAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA COMO CONSEQUÊNCIA DA 
LITERATURA ............................................................................................................ 33 
12 OS PERÍODOS LITERÁRIOS E SUAS RESPECTIVAS CARACTERÍSTICAS 36 
12.1 Trovadorismo .................................................................................................... 37 
12.2 Humanismo ....................................................................................................... 39 
12.3 Classicismo ....................................................................................................... 40 
12.4 Barroco ............................................................................................................. 41 
12.5 Arcadismo ......................................................................................................... 42 
12.6 Romantismo ...................................................................................................... 43 
12.7 Realismo ........................................................................................................... 44 
12.8 Simbolismo ....................................................................................................... 46 
12.9 Modernismo ...................................................................................................... 46 
13 CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA PORTUGUESA EM TEXTOS 
LITERÁRIOS ............................................................................................................. 48 
14 CAMÕES E OS LUSÍADAS .............................................................................. 51 
14.1 Renascimento ................................................................................................... 53 
14.2 Classicismo português e Luís Vaz de Camões ................................................. 53 
14.2.1 Camões Lírico .............................................................................................. 54 
14.2.2 Camões épico ............................................................................................... 54 
14.3 O Classicismo em Os Lusíadas ........................................................................ 55 
 
 
 
14.4 A influência camoniana na literatura portuguesa .............................................. 57 
14.4.1 A influência de Os Lusíadas na literatura portuguesa moderna ................... 57 
14.4.2 Influência que não cessa .............................................................................. 58 
15 A ORIGEM DA LÍRICA TROVADORESCA ...................................................... 58 
15.1 Os tipos de poesia trovadoresca ....................................................................... 62 
15.1.1 Cantiga lírico-amorosa .................................................................................. 62 
15.1.2 Cantiga satírica ............................................................................................. 63 
16 PÓS-MODERNISMO LITERÁRIO PORTUGUÊS ............................................. 64 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 72 
 
 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
2 A LITERATURA PORTUGUESA - DA ORIGEM A EXPANSÃO 
Relativamente à literatura portuguesa, há que considerar desde o início que, 
face ao sofrimento causado pela ocupação geográfica, uma pessoa dedicada à 
literatura portuguesa opta por fugir ou recorrer à terra, sua fonte de inspiração e 
esperança, a todas as angústias e angústias de um lugar confidente. Portanto, a 
literatura portuguesa oscila entre posições consideradas extremas, e é certo que uma 
posição irá compensar-se. 
Existem dois grandes consensos na literatura portuguesa: o poder lírico e épico 
de Luís de Camões e Fernando Pessoa, dois poetas que viveram em épocas 
diferentes. Participou pela primeira vez neste glorioso momento, o apogeu da grande 
vela de Portugal. A segunda parte compôs um poema crítico e revisionista, 
descrevendo as limitações dessas grandes conquistas do século XX. As obras dos 
dois escritores se confundem com a história Língua da portuguesa pela força e 
dinâmica da sua criação literária. No entanto, a literatura portuguesa não se limita a 
estas duas grandes figuras. (GOMES; RAMALHO ,2009) 
Em diferentes períodos, as obras criadas por outros escritores não só 
consolidam a identidade do povo português, mas também têm desenvolvimento 
estético. Porém, essa mudança aconteceu aos poucos. Por enquanto, no contexto da 
primeira etapa da história da literatura portuguesa, vale destacar a introdução de 
temas e formas das canções de amor provençais no sul da França, durante o período 
dos trovadores, e dos sonetos franceses, como novo padrão de medida. Pela 
Renascença Sáde Miranda. (GOMES; RAMALHO ,2009) 
Do primeiro momento, vale destacar, entre tantos: os textos literários de D. 
Dinis (1265-1325), o primeiro rei alfabetizado de Portugal, considerado o grande 
trovador; as crônicas de Fernão Lopes, o primeiro cronista oficial (1434) e sua 
capacidade de descrever o povo português; o teatro alegórico de Gil Vicente (1502) e 
sua tipologia humana inconfundível; e a grandiosidade da poesia épica Os Lusíadas 
(1572), de Luís de Camões. Esses e outros tantos autores que você estudará neste 
curso introdutório aos estudos portugueses. (GOMES; RAMALHO ,2009) 
Já em outros semestres, entre muitas obras, autores e autoras, você poderá se 
deslumbrar com as narrativas realistas de Eça de Queirós e sua denúncia do atraso e 
da hipocrisia da sociedade portuguesa no século XIX; com a força lírica do simbolismo 
 
5 
 
de Florbela Espanca; com as alegorias do universo de José Saramago, que teve seu 
romance Ensaiosobre a cegueira adaptado para o cinema em 2008. Vale lembrar que 
Saramago foi o primeiro ganhador do Nobel de Literatura para textos escritos em 
língua portuguesa (1999). (GOMES; RAMALHO ,2009) 
Com Saramago, a literatura portuguesa foi considerada uma das mais 
importantes literaturas do mundo ocidental. Voltando à questão “O que é a literatura 
portuguesa? ”, primeiro percebemos que o universo é muito maior do que uma 
pequena aparência. Um país com mais de 90.000 quilômetros quadrados, mas possui 
patrimônio histórico e cultural essencial, pode ser melhor compreendido depois do 
colonialismo, o padrão político do mundo Portugal é afetado pelo seu expansionismo 
geográfico e linguístico muitos outros documentos até se tornaram Literatura formada 
em muitos países. Essa constatação, contudo, não significa que seja impossível falar 
da produção literária restrita à terra portuguesa propriamente dita, mas indica que a 
Literatura Portuguesa pode ser compreendida por uma ótica mais abrangente, que 
incluiu nações, como o Brasil, por exemplo, onde a história literária guarda laços 
importantes com a cultura portuguesa. Assim, só para citar e exemplificar a 
complexidade do termo “Literatura Portuguesa”, lembramos que, com as novas 
abordagens sobre a cultura africana, temos ainda muitas “literaturas portuguesas” 
para descobrir nas ex-colônias portuguesas Cabo Verde, Angola, Moçambique, Guiné 
Bissau, São Tomé e Príncipe. (GOMES; RAMALHO ,2009) 
Para nós, brasileiros, a língua portuguesa e literatura é um patrimônio 
inseparável da cultura brasileira, pois embora tenhamos autonomia, nossa língua e 
cultura eram as mesmas, por isso a necessidade de entender melhor a literatura 
portuguesa, que foi absorvida por escritores brasileiros em diferentes momentos da 
nossa história. Portanto, o diálogo entre a literatura brasileira e portuguesa também 
deve ser levado em conta um a vez que um a literatura enriquece a outra. (GOMES; 
RAMALHO ,2009) 
Podemos afirmar que a tradição lírica portuguesa, por exemplo, está presente 
na literatura oral de cordel, nas canções da MPB, nos autos natalinos, e em obras de 
grandes poetas brasileiros, com o os simbolistas Alfonsus de Guimaraens a Cecília 
Meirelles. Podemos mesmo afirmar que a lírica portuguesa é extraordinariamente 
reverenciada pelo escritor brasileiro, que além de respeitar esse passado cultural de 
nossas literaturas, incorpora temas, imagens e técnicas que dão à Literatura Brasileira 
 
6 
 
uma autonomia respeitosa em relação à herança cultural deixada pela Literatura 
Portuguesa. No processo, eles dedicaram a última aula ao diálogo entre dois tipos de 
literatura: a portuguesa e a brasileira. (GOMES; RAMALHO ,2009) 
Além desses diálogos com as literaturas nascidas após a expansão marítima, 
a Literatura Portuguesa, em sua origem, também apresenta um problema de fronteira, 
pois não podem os separar os textos escritos em galego-português, ou em castelhano, 
ou em galego, ou até em português no primeiro momento da formação dessa literatura 
do conjunto cultural da Península Ibérica. O Reino da Península Ibérica está 
intimamente conectado politicamente. O Reino Ibérico Galiza, Leão, Castela, Portugal, 
Aragão e outros países eram muito próximos. Portanto, é difícil identificar textos 
pertencentes a apenas um desses reinos. As fronteiras nacionais e culturais desses 
reinos são, assim, muito confusas na primeira fase da Idade Média. (GOMES; 
RAMALHO ,2009) 
 
 
Fonte: www.i.ytimg.com 
 
Portugal nasceu do casamento do rei Leão e do rei Alfonso VI de Castela com 
Henrique Conde da Borgonha. O primeiro rei de Portugal, Afonso Henriques é neto 
deste grande monarca castelhano. Aos poucos, você vai se familiarizando com os 
laços estreitos entre esses reinos, o que torna difícil identificar claramente a literatura 
portuguesa. A primeira manifestação especificamente portuguesa só irá acontecer 
quando Fernão Lopes é nomeado Cronista-mor de Portugal (1434), o primeiro escritor 
a valorizar a força do povo português. (GOMES; RAMALHO ,2009) 
 
7 
 
Para facilitar o nosso pensamento, vamos adotar a seguinte hipótese: nos 
primeiros anos de língua portuguesa e de integração cultural existia uma literatura 
peninsular, não apenas uma cultura portuguesa, porque o texto produzido nesse 
período também fazia parte de outra literatura. A língua mais utilizada na primeira fase 
da literatura ibérica é o galego-português. Esta língua é muito prestigiada e é a língua 
mais usada para escrever poesia por poetas da península. É por isso que muitas obras 
pertencem a diferentes reinos ibéricos. (GOMES; RAMALHO ,2009) 
Portanto, é evidente que na Idade Média as fronteiras da literatura portuguesa 
eram muito frágeis. A vontade de nacionalizar o idioma dos textos literários só vai 
acontecer depois de 1385, isto é, depois da Revolução de Avis. Assim, em suma, 
podemos afirmar que com as mudanças económicas, a produção literária vai 
ganhando corpo, ora incorporando elementos fora do Reino de Portugal, ora tendo o 
português como marco nacional. Conforme, António Saraiva, a Literatura Portuguesa 
assimila aportações milenares, influências das grandes literaturas europeias e está 
integrada a uma unidade cultural e literária peninsular que vão além do uso do galego-
português ou do espanhol como marca de nacionalidade de um autor (SARAIVA, 
2008, p. 11). 
Os problemas sociais e políticos estão presentes nos textos de Fernão Lopes, 
Gil Vicente e Luís de Camões, que tentam contar a história do povo português de 
diferentes ângulos ideológicos, como veremos no desenvolvimento deste curso. Como 
todos sabemos, a história da literatura procura além de estética e conteúdo de 
linguagem, abrange também ideologias historicamente determinadas, mudanças 
tecnológicas, tensões sociais e expectativas. Mesmo assim, ao estudar a história da 
literatura, encontramos muitos elementos universais nos textos literários, que podem 
escapar essas fronteiras históricas, no entanto, não podem ser descartadas por 
exemplo, análise estética. A Literatura Portuguesa não foge dessa dualidade 
(nacional/universal). (GOMES; RAMALHO ,2009) 
Entenderemos por “Literatura Portuguesa” a produção literária da era medieval 
e renascentista feita por escritores nascidos em Portugal, sem entrarmos nos limites 
dessa nacionalidade da obra analisada. Voltemos, assim, ao início: “Era uma vez uma 
nação destinada ao mar”. O “Era uma vez...”, aludindo aos contos de fadas, assinala 
outro aspecto importante para que cheguemos a uma compreensão mais completa da 
Literatura Portuguesa: a face mítica de Portugal. O “rosto da Europa”, imortalizado na 
 
8 
 
poesia de Fernando Pessoa, e muito discutido por críticos e historiadores, pela 
dimensão laudatória que essa imagem traz, marca a intensidade dos sentimentos 
portugueses em relação a seu “estar no mundo”. Considerando a Europa como o 
“velho mundo” e a “origem de todas as coisas” no mapa do Ocidente (ainda que 
também isso seja discutível), temos, em Portugal, como já dissemos, uma força 
contundente para o expansionismo europeu pelos outros continentes. Essa presença, 
aliada à questão do mar e seus mistérios, originou, na cultura portuguesa, um teor 
mítico embasado em dois fatores principais: a “predestinação” e o “expansionismo”. 
(GOMES; RAMALHO ,2009) 
A “predestinação”, que a imagem do “rosto europeu” certamente ratifica, 
presentifica-se, na Literatura Portuguesa, como tema reincidente, reforçado por outro 
aspecto importante da cultura portuguesa: a arraigada religiosidade cristã. O mito só 
pode vir de História e ficção. Assim, se a História de Portugal, somada à sua geografia, 
relata o pioneirismo português e sua competência para explorar mares “nunca dantes 
navegados”, o imaginário religioso desse povo aderiu aos fatos históricos uma aura 
simbólica, em que Portugal, mais que o rosto da Europa, era a nação que profetizaria 
os destinosdo Ocidente. O declínio político e económico de Portugal, outro facto 
histórico, acrescenta um carácter difícil e um desejo de salvação a esta imagem 
profética. Portanto, além da finalidade pretendida, o sofrimento causado pela 
decadência e o desejo irresistível de renascer também marcarão esta cultura e suas 
obras literárias sobre o assunto. (GOMES; RAMALHO ,2009) 
O “expansionismo”, por sua vez, promoverá uma abertura da cultura 
portuguesa, bastante encerrada na ideologia cristã e na filosofia medieval, à sedução 
do novo. Esse “novo”, representado pelo mar e seus desafios, ganhará materialidade 
nas terras encontradas e nos necessários processos de mestiçagem, gerados pela 
política colonialista. De outro lado, se a sedução leva Portugal ao mar e a novas terras, 
deixa, como efeito, um sentimento de apego à terra natal que só pode viver quem dela 
se exila, voluntária ou involuntariamente. Por essa razão, o expansionismo português 
possui duas faces: a da sedução e a da saudade, temas que também constroem a 
identidade dessa literatura. (GOMES; RAMALHO ,2009) 
No entanto, a história de Portugal começou antes da grande era náutica. 
Curiosamente, outro país será a origem daquele país sua marca temática: Letras 
cheias de amor. Porém, à medida que nos aproximamos da Idade Média, em especial 
 
9 
 
o Trovador e suas canções líricas e satíricas, que representam o amor e os costumes 
da época. (GOMES; RAMALHO ,2009) 
Para encerrar essa “navegação” pelas temáticas que compõem o panorama da 
produção literária portuguesa, lembremos ainda que, a contra face tanto do 
nacionalismo construído à base do caráter de predestinado como do próprio lirismo 
amoroso, muitas vezes piegas (como veremos adiante), sempre repousa na crítica a 
essas posturas. Desse modo, somadas às temáticas já abordadas, encontraremos, 
na cultura portuguesa, um pendor forte para a crítica e a sátira, que, muitas vezes, 
preencherão com o risível um “estar-no-mundo” ambivalente, já que Portugal, vivendo 
um processo de decadência política e econômica, passou de “rosto europeu” a “lixeira 
da Europa”, imagem igualmente consagrada, não pela poesia, mas pela língua ferina 
de críticos que definem uma cultura a partir de seu status econômico. Essa questão 
da decadência por que passou a cultura portuguesa depois das grandes navegações, 
você entenderá melhor nos próximos semestres do estudo da literatura portuguesa. 
Por enquanto, vamos nos apaixonar pelo período de formação e consolidação da 
identidade literária portuguesa. (GOMES; RAMALHO ,2009) 
 
3 A FORMAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA E SUAS RELAÇÕES COM A 
LITERATURA 
 
O português origina-se de expressões idiomáticas latinas. A forma como os 
soldados romanos falavam, misturada às línguas presentes na península ibérica e 
principalmente às línguas dos invasores, os bárbaros e os mulçumanos em diferentes 
épocas da Idade Média proporcionaram a evolução da língua portuguesa. A princípio, 
essa “língua falada” apresentava uma mistura de múltiplas línguas e teve o 
reconhecimento literário da língua galego-portuguesa. Depois, devido à necessidade 
de consolidação do estado português (1385), a língua portuguesa passou a ser 
valorizada como uma importante marca nacional. Nessa fase, foram feitas pesquisas 
e sugestões sobre as mudanças linguísticas e gramaticais responsáveis pela 
consolidação do português moderno. Portanto, há muitas coisas em comum entre a 
formação da linguagem e a importância cultural e histórica da literatura. (GOMES; 
RAMALHO ,2009) 
 
 
10 
 
 
Cruzadas. 
Fonte: www.rechavia.files.wordpress.com 
 
Como visto até aqui, no início, por volta do século XII, a identidade portuguesa 
não apresenta elementos hegemônicos, pois o que é português, nos primeiros anos, 
também pertence à cultura peninsular. A retomada da Europa do domínio dos árabes 
aconteceu aos poucos. Cada guerra vencida significava terras retomadas a serem 
divididas. Foi assim que surgiu Portugal: de uma conquista e como prêmio, o Rei 
Afonso deu de presente o Condado Portucalense a D. Henrique de Borgonha por ter 
se casado com sua filha D. Teresa. Depois da morte do conde D. Henrique, seu filho, 
Afonso Henriques, passou a liderar lutas contra Castela para conseguir a autonomia 
e independência para o Estado Português, considerado o primeiro país europeu a 
conseguir essa independência. (GOMES; RAMALHO ,2009) 
Na literatura portuguesa, a língua é de vital importância na construção do 
conceito de país. Mas a data exata desse treinamento é muito complicada. Os 
primeiros textos aparecem entre os séculos IX e XIII, todavia, essas afirmações ficam 
restritas ao campo hipotético e comparativo, pois não há documentos que comprovem 
uma identidade portuguesa antes de Afonso Henriques, o primeiro rei. O nome 
Portugal deriva do "condado portucalense", território que inicialmente começou a se 
 
11 
 
expandir, e agora é denominado o atual território português. A falta de documentos 
mais precisos que comprovem que o surgimento e desenvolvimento do português é 
um dos obstáculos para localizar com precisão os detalhes desta pista. (GOMES; 
RAMALHO ,2009) 
Hoje sabemos que muito antes dos primeiros textos trovadorescos escritos, 
havia uma cultural oral muito forte na região, mas que não era registrada, por isso 
quase nada chegou aos nossos dias dessa fase do português arcaico. Muitos dos 
textos que você analisará aqui fazem parte de Cancioneiros, compilados séculos 
depois. (GOMES; RAMALHO ,2009) 
Entre o século XII até o XVI, temos a primeira fase da língua portuguesa, 
considerada arcaica com uma influência maior do galego, depois a língua portuguesa 
tem uma rápida evolução fonética até sua forma moderna (cf. Saraiva, Lopes, 2008, 
p. 23-27). Vale lembrar que são vários idiomas que convivem e se cruzam nesse 
momento histórico com o português, além dos idiomas da península ibérica, há os 
falares moçárabes, mistura de português com árabe, fruto do contato dos invasores 
muçulmanos com o galego-português. Dentro desse período arcaico, há duas fases: 
a primeira que vai até por volta de 1385 e a segunda da nacionalização do português, 
que passa a ser usado nos documentos oficiais do reino (a partir de D. Dinis) até o 
surgimento dos primeiros gramáticos da língua portuguesa por volta de 1540. 
Destaca-se que, na primeira fase, o galego era a língua de mais prestígio para os 
textos literários. (GOMES; RAMALHO ,2009) 
Com a ideia da padronização e uniformização da língua, já no século XVI, 
Lisboa, como centro político e econômico do reino, proporciona uma fusão e evolução 
linguística com base nos dialetos meridionais de Portugal. Como curiosidade, veja 
como os dialetos da região vão se transformando em língua portuguesa, destacamos 
dois fenômenos: um fonético, como o surgimento do ditongo nasal o “ão” marca da 
língua portuguesa, assim “manum” passa ser escrito como mão e “pane” passa a ser 
escrito como pão; e o outro morfológico como a biformização do gênero de palavras 
como “senhor”, “espanhol”, que antes podiam ser empregados como biformes, isto é, 
usados tanto no masculino como no feminino: “mia senhor”. Este fenómeno de criação 
de feminilidade para “o Senhor” não se aplica a textos escritos antes da tradição 
galego-portuguesa, pelo que, mesmo que o termo seja utilizado para exprimir devoção 
às mulheres, não é surpreendente. (GOMES; RAMALHO ,2009) 
 
12 
 
Segundo Saraiva (2008, p. 26), podemos afirmar que a língua portuguesa 
desde o século XVI está concluída. Claro que esse aspecto serve apenas para a 
norma padrão do português usado em Portugal, uma vez que o contato com novos 
povos deu a língua portuguesa um repertório de vocábulos e pronúncias que 
enriqueceram ainda mais a língua lusitana. É necessário ressaltar que a língua escrita 
é muito importante para a consolidação da língua, portanto, a tabela de preços da 
gramática e do texto literário é um parâmetrode padronização e disseminação dessa 
unidade linguística. Também é valioso ressaltar que o português literário representa o 
idioma de certa camada social que detém o poder, no caso do trovadorismo e 
humanismo, principalmente a nobreza e o clero. (GOMES; RAMALHO ,2009) 
Raramente os dialetos das populações rurais ou gírias conseguiram entrar no 
texto literário, como veremos. Quando isso acontece é para causar o riso como a 
linguagem da população rural de Lisboa, presente nos textos de Gil Vicente, por 
exemplo. Diante disso, a relação espaço-temporal de um texto deve ser sempre 
lembrada para melhor ser explorada na análise textual. (GOMES; RAMALHO ,2009) 
4 PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA LITERATURA PORTUGUESA 
A ideia de nacionalidade como uma marca portuguesa, possivelmente, só se 
concretiza a partir da Revolução de Avis (1383-85), momento em do qual o povo 
participou como agente. Desse período, Fernão Lopes pode ser considerado o 
primeiro historiador a reconhecer tal fato e a narrar com precisão a participação do 
povo para a chegada de D João ao Trono Português. O historiador da Literatura 
Portuguesa, António José Saraiva, destaca os momentos em que essa literatura 
começa a se delinear, reunindo obras e nomes que compõem um panorama bem 
diversificado. (GOMES; RAMALHO ,2009) 
Como já destacado antes, Saraiva (2008) lembra que na Península Ibérica, um 
conglomerado de falares desenhava uma face plurilinguística, ainda que o castelhano 
e o galego-português já se destacassem como forças de irradiação e influência. A 
expansão desse galego-português teve como divulgadores os cavaleiros galegos que, 
combatendo os muçulmanos, expandiram sua língua em direção ao sul. De outro lado, 
no âmbito da cultura clerical, é o Mosteiro de Alcobaça, fundado em 1152 por Afonso 
Henriques, que se tornará o centro divulgador de uma literatura eminentemente 
 
13 
 
religiosa na qual vão se unir práticas líricas que circulavam na corte real. Esses 
núcleos de produção e irradiação contribuem igualmente para a ampliação territorial 
da cultura portuguesa, ainda que esteja a cultura clerical presa ao uso do latim. Assim, 
Saraiva distingue dois grupos de produção: a “cultura clerical” e a “cultura jogralesca”. 
 
 
Fonte:www.i1.wp.com 
 
A primeira produção reúne “obras de caráter teológico, místico e didático: 
comentários dos Santos Padres, tratados de teologia, gramática, retórica e dialética, 
coleções de direito canônico, vidas de santos, sermões, livros litúrgicos, hinos e 
poesia religiosa” (SARAIVA, 2008). No entanto, dadas as condições limitadas de 
reprodução dos manuscritos, a distribuição dessas obras está limitada ao campo 
religioso. As características deste conjunto de obras não definem a identidade de 
Portugal, mas enquadram-se na cosmovisão católica, pelo que não tem valor regional. 
De outro lado, a “cultura jogralesca”, por estar vinculada à dimensão popular 
da cultura portuguesa, teve papel essencial na formação dessa literatura, uma vez 
que fez uso do galego-português para tornar comunicativos textos romanescos e 
líricos, destinados “à diversão e ao recreio, às romarias ou às festas palacianas” 
(SARAIVA, 2008) e geralmente divulgados por meio de jograis, em que artistas 
itinerantes assumiam a função de levar seu repertório literário a quaisquer eventos 
públicos dos quais pudessem extrair sua sobrevivência. Essa oralidade inicial foi, aos 
 
14 
 
poucos, sendo substituída pelo registro escrito desse repertório, sob a forma de 
cancioneiros e romances de cavalaria. Saraiva registra a existência de “cancioneiros 
primitivos” e vestígios de uma poesia épica (encontrados em Crônicas Breves de 
Santa Cruz de Coimbra). 
Estará, contudo, na lírica a origem de toda essa história literária. Atribui-se a 
Paio Soares de Taveirós, um trovador, a autoria do primeiro texto lírico português, a 
cantiga de amor “A Ribeirinha”, também conhecida como “Cantiga de Guarvaia”, 
datada de 1189 (ou 1198, segundo estudos mais recentes). Apesar de escrita em 
galego-português, podemos entender grande parte do texto medieval. Façamos uma 
leitura do texto mais antigo que foi conservado desse período: 
 
Cantiga 
 
No mundo non me sei parelha, 
mentre me for’ como me vai 
ca já moiro por vos e ai! 
mia senhor branca e vermelha, 
queredes que vos retraia 
quando vos eu vi en saia! 
Mau dia me levantei, 
que vos enton non vi fea! 
E, mia senhor, des aquel di’ai! 
me foi a mi mui mal, 
e vós, filha de don Paai 
Moniz, e ben uus semelha 
d’ aver eu por vós guarvaia 
pois eu, mia senhor, d’ alfaia 
nunca de vós ouve nem hei 
valia d’üa correa. 
(In MOISÉS, 2006, p. 20) 
 
Esse poema apresenta um eu lírico consumido de amor, um homem perdido 
pelo amor que uma senhora da corte despertou nele. Há muitas contradições em torno 
 
15 
 
desse texto. Só sabemos que se trata do texto mais antigo de que temos notícia do 
reino de Portugal, mas, com certeza, não é, de fato, o mais antigo, pois, infelizmente, 
grande parte do que era produzido fora da corte ficou sem registro para a posteridade. 
Você pode observar que há referência a uma mulher da corte, pois o vocábulo 
“guarvaia” aponta o espaço da corte como o ideal para esse tipo de texto. Notamos 
também a presença do sofrimento do eu lírico. Mas tudo isso você estudará na 
próxima aula, quando passará a classificar os tipos de cantigas trovadorescas. 
(GOMES; RAMALHO ,2009) 
5 LITERATURA E SOCIEDADE NO SÉCULO XIX 
Como você sabe, a literatura e seu papel nas sociedades se transformaram ao 
longo dos séculos em que se reconhece sua existência. De expressão oral, na 
antiguidade, e mesmo nos primórdios da humanidade, a literatura passa a ser registro 
escrito, controlado pelas classes dominantes. Aos que não tinham acesso à leitura, 
ela permanecia como tradição oral. (FERREIRA ,2017) 
A partir do século XVIII, entretanto, esse status se modifica. A literatura começa 
a se difundir para além da elite, mas seu papel também passa a ser secundário. Ela 
não tem mais, naquele momento, função para o sistema econômico e político; não 
tem mais valor utilitário (SAMUEL, 2011). Frente a uma realidade cada vez mais 
tecnológica, ela se volta a uma problematização desse real como forma de protesto. 
A obra literária percebe a vida humana, a individualidade e reflete o caos da 
sociedade, das guerras que se sucedem e da pobreza resultante. 
Entre o século XVII e o XVIII, se inicia o processo de revolução industrial. Como 
uma espécie de resposta a essa evolução, há obras que lutam contra o mecanicismo 
da vida. O entendimento que se tem sobre a cultura também se revoluciona. 
Antigamente, havia uma unidade artística que integrava filosofia, política e técnicas. 
Na sociedade moderna, ao contrário, a produção industrial cria uma divisão de 
diversas áreas de conhecimento. A literatura é diferenciada das outras artes, da 
filosofia, da política. Com intensidade cada vez maior, a obra literária é considerada 
produto, mercadoria a ser consumida. A literatura não se resume a um veículo da 
ideologia dominante. (FERREIRA ,2017) 
 
16 
 
Quando a literatura “ascende” como literatura, em sua significação moderna, 
como observa Michel Foucault (2000), ocorre, pois, uma separação entre as 
disciplinas. Isso se dá, para teóricos como Benedito Nunes e Niklas Luhmann, no final 
do século XVIII (KORFMANN, 2002). Com a proposta de pensamento sistêmico de 
Niklas Luhmann, você pode perceber como a literatura, na “pré-modernidade”, se 
encontrava ainda inserida em uma sociedade estratificada e restrita a noções de 
representação ou imitação. Desse ponto de vista, quando a sociedade moderna passa 
a se constituir em sistemas funcionais que se diferenciam e especificam, esse 
movimento possibilita uma definição da literatura como área autônoma, com sua 
linguagem própria (KORFMANN, 2002). 
 
 
Fonte: www.sohistoria.com.br 
 
Foucault (2000) também nota que,no século XIX, a literatura aparece como 
algo que deve ser pensado e interrogado, pelos teóricos, a partir de sua forma e 
significados na cultura ocidental. Nessa transição para a sociedade moderna, o 
discurso representativo perde a dominância que tinha antes. Começam a se 
questionar as origens do discurso, da verdade e das formas de ser. Ao longo desse 
século e até os dias atuais, Foucault argumenta que a literatura só existiu em sua 
autonomia ao se afastar de outras linguagens. Porém, é por causa dessa autonomia 
e da rebeldia do período romântico que se pensa também nas conexões que a 
literatura nunca deixou de ter com as outras linguagens. 
 
17 
 
Para Rogel Samuel (2011), essa época vê artistas como o romântico, que ainda 
era ajudado pelas musas; o naturalista, que criava um mundo desencantado; e o 
impressionista, que via e buscava a infância perdida. Os homens de letras presentes 
durante a primeira revolução industrial foram substituídos pelos economistas, como 
Marx. Surge o pensamento sobre o capital, sobre o valor de uso, de troca, e da 
produção. No Brasil, em fins de século XIX até a primeira metade do XX, a classe 
econômica criticada por escritores como Machado de Assis, José Lins do Rego e 
Jorge Amado era “a burguesia” de classe média e das grandes plantações. 
 
Com o Romantismo dos anos 1800, desaparecem alguns estilos de época, que 
são substituídos por um sentimento de fragmentação e pela necessidade de 
evoluções. Esse objetivo é visto, por exemplo, na art nouveau, ou “arte nova”, que 
mostra a relação entre a arte e a indústria. No século XVIII, o poder do conhecimento 
científico cresce, assim como o poder da razão, da fábrica, da técnica, do método e 
da exploração do trabalho humano. O sentimento individualista do Romantismo, 
portanto, surge como refúgio. A literatura se torna, por um tempo, um “passatempo”, 
forma de escapar a realidade. 
O Naturalismo, por outro lado, contribui de forma um tanto diferente para a cena 
literária, apesar de inicialmente ter público e produção em menor quantidade, além de 
receber diversas críticas. A ideia de perseguição aos artistas, que você ainda pode 
 
Você pode ler críticas como a de Mário de Andrade, na obra Pauliceia 
Desvairada, de 1922, em que se encontra o famoso poema “Ode ao 
Burguês”. Veja um trecho (ANDRADE, 2013): 
Eu insulto o burgês! O burguês-níquel, o burguês-burguês! 
A digestão bem feita de São Paulo! 
O homem-curva! o homem-nádegas! 
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, 
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! 
 
18 
 
perceber hoje, já ocorria nessa época. Nesse contexto, o processo e o escândalo 
desencadeados pela publicação de Madame Bovary, publicada em 1857 por Gustave 
Flaubert, se destacam. A obra, também uma crítica à burguesia, coloca em cena a 
protagonista adúltera e “desapaixonada” e acaba por interessar ao público leitor 
(SAMUEL, 2011). 
No século XIX também aparecem os grandes jornais e o folhetim, que faz parte 
de uma maior democratização da leitura e da popularização do romance- -folhetim. A 
literatura se torna “de massa”. Há conservadores, nesse meio, porém, que pregam a 
arte pela arte, difundindo a ideia de que a arte deve ser separada ou estar acima da 
política. 
Escritores como Balzac, Stendhal, Flaubert, Dickens, Tolstoi e Dostoievski 
publicam romances “sociais”. Eles são considerados por alguns teóricos como 
“historiadores modernos” por essa razão. Além de críticos, eles utilizam e refletem 
sobre técnicas, em processos de escrita, reescrita e rasura. Essas técnicas são 
estudadas, mais tarde, por pesquisadores como Roland Barthes. 
Com os naturalistas, como Aluísio Azevedo, as investigações científicas 
também aparecem na literatura. Você vê, em obras como O cortiço, de 1890, o lado 
animalesco do ser humano, e o papel do contexto social em seu desenvolvimento e 
em sua vida. A técnica, nesse período, se mistura, portanto, com a arte literária, da 
qual surgem as caracterizações e problematizações humanas no mundo. (FERREIRA 
,2017) 
6 A LITERATURA COMPARADA E O COSMOPOLITISMO 
No século XIX, como você viu, há uma tensão, no campo cultural, entre a 
produção literária e a sociedade – seja pela contraposição de seus ideais ou por meio 
da utilização de suas técnicas. O campo da Literatura Comparada, por sua vez, 
também surge a partir da tendência de comparar estruturas ou fenômenos análogos, 
com a finalidade de extrair leis gerais, o que dominou as ciências naturais daquele 
momento (CARVALHAL, 2010). Essa abordagem científica se vinculou à corrente de 
pensamento cosmopolita que caracterizou esse século. 
 
19 
 
 
Se você pensar em experimentos científicos do século XIX, como a frenologia, 
perceberá esse pensamento cosmopolita. Essa ciência, hoje bastante criticada, 
afirmava ser capaz de descobrir, pela anatomia do crânio, o caráter de diferentes 
indivíduos e sua propensão para a criminalidade. Isso também gerou ideias da 
distinção entre raças a partir da anatomia dos sujeitos, relacionando sua 
predisposição biológica ao seu comportamento. 
Logo, nesse período se diferenciam as diversas disciplinas ou campos de 
estudos, e isso também acontece com a Literatura Comparada. A relação entre 
literatura e história se estreita ao longo de todo o século XIX. Também surgem muitas 
investigações das literaturas nacionais que são, então, comparadas. Por isso a 
confusão do emprego do termo “comparado”, aplicado à relação entre elementos 
diferentes. 
O termo “comparado” é utilizado por estudiosos como Cuvier, em sua obra 
Lições de anatomia comparada, de 1800, assim como na História comparada dos 
sistemas de filosofia, de Degérand, de 1804, e na Fisiologia comparada, de 1833, de 
Blainville (CARVALHAL, 2010). A comparação se torna uma técnica frequente na 
época e se transfere para os estudos literários. 
Cosmopolitismo é um pensamento filosófico que rejeita as fronteiras 
geográficas impostas e considera a humanidade (ou a parcela culta) como 
uma unidade, uma única nação, atrelada a leis universais. O 
cosmopolitismo pode ser traçado desde a antiguidade grega, no sentido de 
que todos os homens compartilhariam a mesma natureza humana. Esse 
sentido de unidade segue presente na cultura ocidental e se torna, na 
Modernidade do século XVIII, um pensamento do ser humano como sujeito 
de direitos e obrigações universais. Com o pós-estruturalismo de Michel 
Foucault, o cosmopolitismo passa a ser criticado, pois poderia gerar 
opressão de visões de mundo diferentes em nome da unificação dos 
pontos de vista. 
Cosmopolitismo é um pensamento filosófico que rejeita as fronteiras 
geográficas impostas e considera a humanidade (ou a parcela culta) como 
uma unidade, uma única nação, atrelada a leis universais. O 
cosmopolitismo pode ser traçado desde a antiguidade grega, no sentido de 
que todos os homens compartilhariam a mesma natureza humana. Esse 
sentido de unidade segue presente na cultura ocidental e se torna, na 
Modernidade do século XVIII, um pensamento do ser humano como sujeito 
de direitos e obrigações universais. Com o pós-estruturalismo de Michel 
Foucault, o cosmopolitismo passa a ser criticado, pois poderia gerar 
opressão de visões de mundo diferentes em nome da unificação dos 
pontos de vista. 
 
20 
 
Na Literatura Comparada praticada na França, nessa época, a literatura já era 
também considerada um conjunto de obras de qualquer área ou ciência. Além disso, 
aparecem antologias de diversas literaturas no início de 1800, como a de Noël e 
Laplace, sem que se confrontem os textos, no entanto. O termo “literatura comparada” 
passa a ser tomado quase como sinônimo de “panoramas comparados”, de “estudos 
comparados” e de “história comparada”. 
Assim, os ideais cosmopolitas do século XIX envolvem os conceitos de 
“evolução”, de “continuidade”, de “derivação” e de “nação”. Com o Romantismo que 
prevalecia, essas ideias ganham aindamais força, pela busca do exótico e pelo 
interesse em diferentes literaturas. 
Nesse contexto, Literatura Comparada e historiografia literária se aproximam. 
A literatura, na perspectiva histórica, faz com que a Literatura Comparada se torne um 
ramo da história literária. Além disso, entram em voga as noções de empréstimo, ou 
de fontes e influências, que caracterizam os estudos comparados clássicos. Esse tipo 
de prática defendia a importância de se verificar o contato real e comprovado entre 
autores e obras ou autores e países, um método considerado, talvez, mais “científico” 
naquele momento, ou positivista. (FERREIRA ,2017). 
7 A IDEIA DE COMPARATIVIDADE NA HISTORIOGRAFIA LITERÁRIA 
Como a Literatura Comparada era parte da história da literatura, a comparação 
era tomada como uma abordagem metodológica dessa perspectiva histórica. Poderia, 
ainda, ser tomada como um tipo de estudo comparativo que permitiria fazer, por 
exemplo, um panorama de uma literatura nacional ao longo de um período. 
Um dos embates da historiografia literária, desde o Romantismo, era delimitar 
seu objeto de estudo específico. É aí que o sentido de “literatura” entra em discussão 
novamente. Se literatura for entendida como um conjunto de textos, isso indica que a 
historiografia literária deve investigar todos os escritos que representem uma 
determina cultura. Se o sentido de literatura for mais específico, como “ficção”, ou 
“arte”, deveria então a historiografia se dedicar ao que for literatura strictu sensu. Mas 
você sabe o que determina o que é literário, especificamente? Essa pergunta nunca 
foi satisfatoriamente respondida, porque vai depender dos parâmetros e conceitos 
adotados. 
 
21 
 
Levantados esses problemas, segue-se a questão metodológica, diretamente 
vinculada aos objetivos da disciplina. Como abordar a literatura? Ela pode ser 
considerada um reflexo dos motivos sociais, políticos e culturais. Mas também pode 
ser compreendida a partir de suas características próprias, individuais, ao mesmo 
tempo em que é inserida em um contexto histórico e cultural. 
Durante o século XIX, os historiadores acreditavam na reconstituição imparcial e 
objetiva dos fatos históricos a partir do exame das fontes. Essa operação, contudo, 
seria seguida por um estudo que fazia a transposição dos fatos à narrativa. As “fontes 
comprovadas”, então, eram comparadas à obra para que se observassem resultados, 
o que revela essa abordagem como historicista. (FERREIRA ,2017) 
 
Aos poucos, passam a ser questionados conceitos muito utilizados no século 
XIX, como literatura nacional, e por isso mesmo “nação”, “identidade”, “representação” 
e “sociedade”. A partir da metade do século XX, a disciplina é repensada e seus 
métodos reavaliadas, considerando sua importância e produtividade no campo dos 
estudos comparados. Um dos principais paradigmas criticados é o do modelo 
sociológico positivista que se encontra em obras como História da literatura brasileira, 
de Silvio Romero. 
Há pesquisas atuais que apontam historiadores brasileiros cujas práticas 
eram diferentes, durante o século XIX, como Francisco Adolfo de 
Varnhagen (1816-1878). Ele é um exemplo de escritor que misturava a 
dimensão histórica e a ficcional, e que esboça a figuração do narrador 
enquanto historiador nacional. Por essa razão, ele é considerado por 
alguns estudiosos da literatura, atualmente, como um dos fundadores da 
“historiografia literária brasileira”. Para saber mais sobre esse assunto, 
acesse o artigo de Temístocles Cezar (2007). 
 
22 
 
Na década de 1950, aparecem contribuições historiográficas importantes, 
como as de Otto Maria Carpeaux e Antonio Candido. De cunho sociológico, a obra de 
Candido, intitulada Formação da Literatura Brasileira, de 1957, distingue as 
manifestações literárias da própria literatura, que seria um sistema orgânico. A 
especificidade da literatura não estará mais na sua estrutura ou linguagem interna 
(imanente), como consideravam os formalistas, mas na sua relação com a sociedade. 
Por ser um sistema, a obra literária está em articulação com o autor, o público e a 
tradição. (FERREIRA ,2017) 
 
 
Fonte:www.d1pkzhm5uq4mnt.cloudfront.net 
 
Você percebe como essa proposta também implica comparativismo? Para 
definir o que é literatura e o que é manifestação literária, ou seja, o que faz ou não 
parte do sistema, é necessário avaliar a produção artística em um contexto maior. Ou 
seja: em sua conexão com as outras obras, que vieram antes e depois, e em relação 
ao seu impacto no público leitor. Deve-se considerar também sua própria forma e 
linguagem. Na historiografia, portanto, essa prática de “comparar” é essencial, assim 
como na literatura comparada. No século XX, os pesquisadores abrem mão da 
comparação entre literaturas nacionais. Contudo, continuam se interessando por 
estudar o conceito de nação e de sociedade, e em descobrir como a literatura se 
encaixa nessa problemática. (FERREIRA ,2017) 
 
23 
 
Nessas perspectivas, o texto é percebido em diálogo com o contexto. Para 
Candido (2000), isso quer dizer um movimento dialético entre arte e realidade. Para 
Flávio Leal (2007), historiadores atuais, como Alfredo Bosi, renovam nesse campo 
quando se afastam do historicismo nacionalista romântico e do historicismo 
sociologizante positivista, evolucionista e naturalista do passado. Nessa perspectiva, 
o cerne da história da literatura se encontra em escrever sobre a história das obras 
literárias, as individuações dos textos e seus reflexos, como variações, diferenças e 
rupturas das convenções dominantes no seu tempo. Esse gesto é praticado por 
teóricos como Carpeaux, que identifica nos grandes textos literários não só o papel 
de representação da cultura hegemônica, mas também o seu contraponto, o sinal de 
mudança, de dissidência e de contradição. (FERREIRA ,2017) 
Assim, ocorrem transformações, na historiografia literária, conectadas à 
perspectiva comparativista e transcultural da literatura que é adotada e reforçada ao 
longo do século XX. O diálogo, nesse momento, é central para a discussão, seja ele 
entre presente e passado, ou entre texto e sociedade. As noções de linearidade 
histórica e de evolução são criticadas e tomam seu lugar as propostas de diálogo, 
portanto. “Nação” também é um termo que sofre revisões, porque implica fronteiras 
rígidas entre os povos e as culturas. Ela é uma construção discursiva frágil, sustentada 
apenas por interesses de culturas hegemônicas (LEAL, 2007). Você lerá, em vez 
disso, sobre as relações entre diferentes “regiões culturais” e sobre a “pluralidade” e 
a “heterogeneidade” das comunidades, nessa perspectiva. 
8 LITERATURA COMPARADA E HISTORIOGRAFIA LITERÁRIA 
Assim como a historiografia literária, a literatura comparada também 
problematiza seu objeto de estudo desde suas origens. Segundo Tania Carvalhal 
(1994), a denominação dessa disciplina é considerada por vezes imprecisa. Outros 
termos propostos revelam justamente a falta de precisão de seu domínio: 
comparativismo literário, literaturas comparadas, crítica comparada, poética 
comparada, estudos literários comparados, etc. A pesquisadora argumenta que essa 
dificuldade terminológica se deve à própria natureza desse campo de conhecimento 
e ao seu objeto – a literatura –, como você viu anteriormente. 
 
24 
 
Lecionada por historiadores literários, como Ferdinand Brunetière, no século 
XIX, a literatura comparada se envolvia em questões próprias da historiografia, como 
os movimentos literários no ocidente e seus pressupostos, com base na comparação 
entre eles. Investigações dessa época são, por exemplo, a influência da literatura 
espanhola nas letras clássicas francesas e as relações causais entre obras e autores 
(CARVALHAL, 2010). 
Mesmo quando há uma cisão entre a escola francesa e a americana, já no 
século XX, o historicismo permanece nessas abordagens. Há, porém, maior 
ecletismo,nos estudos americanos, que criticam a causalidade nessas investigações 
e admitem estudos de uma mesma literatura (não entre literaturas nacionais). A escola 
soviética, por outro lado, vê a literatura como produto da sociedade e quer distinguir 
entre analogias tipológicas e importações culturais (ou influências). 
Para Coutinho (2006), a literatura comparada tem desde o início a marca 
fundamental da transversalidade, seja com relação às fronteiras entre nações ou 
idiomas, ou aos limites entre as áreas do conhecimento. Isso dá amplitude à disciplina 
e leva à ideia de que a divisão dos saberes, ou sua compartimentalização, não é 
adequada. Por vezes, entretanto, isso pode tornar as fronteiras entre literatura 
comparada, historiografia, entre outras, de difícil delimitação. 
Por focar-se na comparação, a literatura comparada era vista, anteriormente, 
como área de estudos “internacionais”, o que tornava necessário que o intelectual 
soubesse mais de uma língua para ter acesso à literatura. Além disso, se percebe 
desde cedo a necessidade de se aproximar a literatura de outras áreas do 
conhecimento, como história, crítica e filosofia, para que se pudesse interpretá-la. 
Com a abertura da escola americana, passam a estudar-se tendências e 
movimentos em várias culturas nacionais. Fica claro, a partir daí, que a disciplina não 
se resume a um método, mas tem diversos métodos de abordagem. Fica também 
evidente seu caráter intrínseco de interdisciplinaridade. Ou seja, a literatura 
comparada é um campo amplo que se utiliza de várias técnicas para desenvolver 
reflexões sobre obras, descrevendo, interpretando e avaliando esses textos. Pode ser 
seu objetivo, além disso, organizar essas obras ou movimentos em conjuntos ou 
séries espaço-temporais que as distinguem ou aproximam (COUTINHO, 2006). 
 
 
 
25 
 
 
 
 
A partir de um estudo historiográfico e dos gêneros literários, você poderia 
observar, por exemplo, que a comparação ou relação entre as artes fez surgir 
gêneros mistos, como a poesia épica, o romance histórico e a biografia 
ficcionalizada, como aponta Coutinho (2006). 
 
 
Assim, a conexão entre literatura comparada e historiografia se torna uma das 
áreas de investigação da literatura comparada como campo interdisciplinar e 
transversal. Outras áreas podem ser: os estudos de gêneros ou formas; de 
movimentos ou eras; de temas ou mitos; a inter-relação da literatura com outras 
formas de expressão artística ou áreas de conhecimento; e a relação da literatura com 
discursos da teoria, da crítica e da já citada historiografia literária. Em todas essas 
práticas, o ponto comum é o estudo do texto ou dos textos literários. Além disso, se 
parte de uma reflexão comparativa para chegar a uma formulação ou sistematização. 
Considerando esses pontos, a comparatividade passou por algumas 
transformações, a partir também de contribuições de outras correntes teóricas, como 
os estudos culturais e pós-coloniais. A ênfase que deveria ser mais sobre o literário 
deixa de ser tão necessária, assim como a comparação entre áreas deixa de ser tão 
oposicionista, como tradicionalmente, e a dívida entre elas também é refutada. A 
literatura e a literatura comparada passam a ser vistas como manifestações 
independentes que dialogam com os outros saberes e linguagens. 
Por isso os estudos comparativos entre literatura, teoria, crítica e historiografia 
são tão importantes atualmente. Assim como a teoria e o comparatismo se 
complementam, é indispensável que você reconheça que o discurso é sempre situado 
historicamente em um contexto específico. Nesse movimento, surge a necessidade 
de construir histórias não oficiais, com outros pontos de vista menos privilegiados, e 
por isso a análise, seja do viés comparatista ou historiográfico, deve considerar essas 
transformações. (FERREIRA ,2017) 
 
26 
 
9 DEFINIÇÕES DE PERÍODOS E MOVIMENTOS 
Nos campos da literatura comparada e da historiografia, a abordagem por 
movimentos, eras, estilos de época ou escolas foi bastante frequente e gerou 
contribuições ainda hoje consideradas. Essa abordagem se concentrou 
principalmente no estudo de períodos ou movimentos da história literária, que foram 
analisados a partir de seus temas, cânones e estilos. Como explica Coutinho (2006), 
essa área foi o foco de muitos cursos acadêmicos, como os centrados em movimentos 
ou eras (Renascimento, Romantismo, Barroco, Era Vitoriana, etc.) e em escolas ou 
gerações (Geração Beat, Escola de Frankfurt, etc.). 
Essas abordagens ainda estão presentes nos estudos literários, porém também 
se modificaram, a partir da refutação da orientação historicista. Nos anos 1980, no 
Brasil, por exemplo, ainda existia a disciplina Evolução da Literatura em cursos 
acadêmicos, que depois foi substituída por Literatura Comparada. Essa troca de 
nomenclatura, na verdade, é uma mudança de perspectiva. Antes os períodos eram 
dispostos progressivamente no tempo, e era comum estudar as transformações de 
um conceito como o “realismo” ao longo da literatura ocidental, assim como os estilos 
e épocas (HELENA, 1994). 
Teóricos como Eduardo Coutinho examinam essa questão de enfoque e 
metodologia a partir dos resultados que obtinham. Os problemas enfrentados nesses 
estudos seriam maiores que as respostas que conseguiam, já que as investigações 
por vezes eram infrutíferas. Como explicar satisfatoriamente, por exemplo, casos 
como os de Sousândrade e Machado de Assis, quando considerados a partir de 
períodos ou movimentos? 
Houve estudos, ainda, sobre a existência de movimentos criados por uma figura 
como Shakespeare – que atravessa séculos –, que ainda geram discussões hoje e, 
portanto, são bastante proveitosos. A partir dessas diversas contribuições dos estudos 
de períodos e movimentos, na literatura, Massaud Moisés (1982) procura definir esses 
termos. Em seu Dicionário de termos literários, no entanto, vincula o vocábulo 
“período” à palavra “geração”, dando maior ênfase a esta última. 
 
 
27 
 
 
Esse teórico propõe uma definição bem específica de alguns termos da 
historiografia, como você pode ver a seguir (MOISÉS, 1982): 
 Era é o lapso maior de tempo em uma história literária. 
 Época é uma subdivisão de era. 
 Período é uma subdivisão de época. 
 Fase é um momento dentro de um período ou na biografia de um escritor. 
Os termos listados vão da maior à menor abrangência. A literatura brasileira 
tem duas eras, segundo os historiadores, a colonial e a nacional. Na perspectiva mais 
tradicional, a era colonial tem três épocas, que incluem suas origens, o barroco e o 
arcadismo. A época romântica tem três períodos, que Moisés (1982) identifica como 
em torno de Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu e Castro Alves. O primeiro período 
do Modernismo, por fim, tem duas fases, separadas por datas diferentes (anos 1920, 
e dos anos 1920 até os anos 1940). 
A geração, portanto, pode ser relacionada ao período e à fase. A época e a era 
são sucessões de gerações. A escolha pelo investimento na caracterização da 
geração se explica pelo fato de que, para alguns pesquisadores, os recursos nos 
períodos e movimentos são falaciosos e a noção de geração é mais teoricamente 
válida e utilizável. Todos esses termos, porém, são esforços de delimitação e 
conceituação que, apesar de problemáticos, ainda auxiliam a demarcar fronteiras 
entre os diferentes momentos artísticos. 
Para Massaud Moisés (1982), Machado de Assis, que nasceu em 
1839, e Aluísio Azevedo, nascido em 1857, são considerados da 
mesma geração. Porém, Machado de Assis poderia ser um exemplo 
de escritor que projeta suas aspirações no futuro, sendo considerado, 
por isso, “vanguardista”, como foi o caso também de Mário de 
Andrade e dos modernistas da década de 1920. Ou seja, nessa visão 
histórica, nem todos que pertencem à mesma época são da mesma 
geração, pois podem ter visões de mundo distintas. 
 
28 
 
Tradicionalmente,a ideia de “geração” remonta à história pré-cristã, embora o 
vocábulo seja mais recente. Historiadores antigos, como Heródoto e Hesíodo, assim 
como a própria Bíblia, já apresentavam a ideia de que cada século teria três gerações. 
Apesar de ausente das discussões historiográficas durante séculos, o termo “geração” 
volta a ser discutido durante o século XIX, em especial na França, na Alemanha e na 
Espanha. Escritores como Comte e Balzac, entre outros, fizeram considerações sobre 
esse problema. Porém foi só no final desse século que o termo começou a ser usado 
na prática na historiografia, em títulos de livros e propostas de estudo. Passam a usar-
se expressões como “romance de uma geração”, por exemplo. Friedrich Schlegel foi 
um escritor alemão de destaque, pesquisando sobre a história da literatura antiga e 
moderna e dividindo os escritores alemães do século XVIII em três gerações. Porém, 
foi Dilthey, especialmente, quem introduziu esse como conceito histórico. 
Ao longo do tempo, a ideia de geração, para atribuir uma unidade a grupos de 
escritores e artistas “homogêneos”, ou similares, foi se tornando mais nítida. 
Acreditava-se que existiria uma relação entre vida, referências, experiência e 
formação de ideias, o que vincularia indivíduos de um círculo, formando valores e 
elaborando propostas. Ortega y Gasset, um historiador espanhol, trabalha com o 
conceito de geração como um corpo social íntegro, uma variedade humana, que vem 
ao mundo com caracteres típicos e fisionomia comum, diferentes da geração anterior 
(MOISÉS, 1982). 
O tempo de uma geração é também estabelecido por esses estudiosos: ela 
teria uma extensão próxima a 15 anos. Durante esse tempo, certas ideias ou formas 
de pensar e de ser são vigentes. Essa afinidade, entretanto, não surge dos próprios 
indivíduos, mas do mundo no qual estão inseridos. Julius Petersen, outro pesquisador 
desse assunto, identifica fatores que formam uma geração: a herança; a data de 
nascimento; a educação; a comunidade; as experiências de geração (como guerras e 
revoluções); as expectativas de uma geração, ou ideais; a linguagem; e as críticas à 
geração anterior. 
A geração, portanto, não é um conceito biológico, mas histórico, já que o que a 
distingue é a inserção do indivíduo em uma determinada configuração de mundo. 
Essa é uma ideia próxima à do naturalismo, segundo a qual os homens são 
condicionados pelo contexto em que nascem. O conceito histórico de geração, 
entretanto, reconhece indivíduos que destoam como parte de um mesmo grupo, já 
 
29 
 
que sempre haverá diferenças de ideias, o que não invalida o pertencimento a esse 
círculo. 
Moisés (1982) reconhece que, apesar da importância e validade do conceito de 
geração, essa perspectiva histórica não está em voga nas últimas décadas do século 
XX. Essa noção se torna polêmica, na historiografia literária, principalmente a partir 
das décadas de 1930 e 1940. Porém você poderá observar também que a abordagem 
historiográfica se modificou pouco a pouco e hoje já encontra novos horizontes, 
apesar de muitas vezes não adotar os mesmos conceitos. 
Movimento, por sua vez, é um vocábulo de contorno ainda menos definível. 
Ele substitui a noção de “escola literária”, que era mais estanque e limitante. 
Movimento sugere a ação de mover-se e por isso dá ideia de progresso e 
transformação das manifestações literárias. É sinônimo, ainda, de processo, e se 
refere a um momento histórico em que certas ideias ou valores prevaleceram. É 
similar, nesse sentido, a “tendência”. As datas passam a ser pontos de referência e 
não definem exatamente quando um momento ocorreu. 
Nesse sentido, você pode falar, então, nos movimentos romântico, realista, 
modernista, entre outros, nos quais um estilo ou padrão estético domina durante um 
tempo. É claro, porém, que as datas de início e fim de um movimento não são 
precisas. Não há como determinar exatamente quando um estilo iniciou, e esse tipo 
de investigação é criticada porque busca uma verdade que por vezes não é possível 
comprovar. O início de um movimento é aproximado e, por isso, esse termo é vago. 
Moisés (1982) critica ainda a expressão “escritores de transição”, por vezes 
empregada, porque os escritores não se encaixam sempre em um só desses termos 
e quanto maior sua obra, menor sua redutibilidade a apenas uma “escola”. Há, além 
disso, a diferença entre “moda” e “atitude” literária. As atitudes existiram desde 
sempre, por isso é possível que você identifique uma inclinação realista em vários 
momentos literários. Realismo (com maiúscula), porém, se refere ao movimento 
realista do final do século XIX. Assim, a “moda” é mais ou menos equivalente ao 
movimento, mas diferente de “atitude”, que pode estar presente em diferentes épocas. 
O escritor e teórico E. M. Forster (2013), originalmente publicado em 1927 
considera, de forma similar, que os escritores não pensam conscientemente em que 
“período” ou “movimento” se encontram enquanto produzem. Ele propõe uma divisão 
 
30 
 
das literaturas e artes a partir de espíritos de época, e não de idiomas ou espaços 
geográficos. Essa noção é próxima, portanto, à de geração. (FERREIRA ,2017) 
10 PERÍODOS E MOVIMENTOS NO BRASIL 
No Brasil, a obra História da literatura brasileira, publicada em 1888 por Sílvio 
Romero, é um divisor de águas. Após esse marco, surgem histórias literárias mais 
orgânicas, com maior sistematização metodológica e número de autores incluídos 
(LAJOLO, 1993). Hoje, porém, termos como período ainda têm uma certa 
plurivocidade (ou múltiplo sentido) na historiografia literária. 
Alfredo Bosi (2006), por exemplo, utiliza a expressão “período romântico”, 
enquanto Massaud Moisés (1982) prefere “época romântica” em seu Dicionário de 
Termos Literários. Porém, “movimento” é também usado por outros escritores, de 
forma quase intercambiável. Essas escolhas podem revelar que não há um só sentido 
aceito para essas noções ou uma abrangência maior desses conceitos na 
historiografia de finais do século XX. Podem ainda indicar uma percepção de que a 
divisão tradicional dessas categorias não é produtiva. Isso nem sempre fica claro ou 
é explicitado pelos autores dessas “histórias” e pelos críticos. 
Logo, a separação tradicional em épocas, períodos e movimentos facilita o 
trabalho do historiador e dos estudiosos de literatura em geral. Porém, além de ser 
trabalhada de formas distintas por diferentes estudiosos da literatura, o que causa 
confusão, envolve o problema da generalização. No esforço em serem didáticos, 
estudiosos acabam esquecendo diversos escritores e obras, em nome das linhas 
divisórias que organizam a literatura “mais conhecida” ou de “maior valor” como 
prioritária nessa história literária. Os artistas menos conhecidos (seja pelo mercado 
editorial ou por outros fatores sociais, econômicos e culturais) têm um espaço menor 
de discussão reservados a eles nesses livros, ou não são mencionados. 
 
31 
 
 
Você deve ter em mente que essas histórias literárias, ou essa forma de 
organizá-la em períodos e movimentos, são formuladas a partir de pontos de vista de 
quem faz a sistematização. Ou seja, há sempre a importante decisão de incluir ou 
excluir outros escritores, obras e mesmo movimentos. Por isso, nem sempre a opção 
de sistematização cronológica, por exemplo, é eleita como a melhor. No esforço de 
ser mais abrangente, ou lógico, elementos significativos sempre podem ficar de fora. 
Um caso muito comentado pelos críticos e pela historiografia é o da exclusão 
do Barroco como manifestação artística nacional. Há autores que não deixam muito 
claro como consideram a divisão entre as eras coloniais ou nacionais em suas 
histórias literárias. Para Bosi (2006), a colônia é um momento de grandes 
consequências econômicas e culturais que se alastraram ao longo do tempo. Nesse 
momento, nosso país era o “outro” para a metrópole, para o colonizador, uma terraa 
ser ocupada e explorada. O Brasil só passa a ser nação, nesse sentido, quando se 
torna sujeito da própria história. Bosi (2006) considera que ainda no século XVII nossa 
produção refletia correntes de gosto recebidas de “segunda mão” da Europa, 
reduzindo nosso país à condição de subcolônia. Esse pesquisador também distingue 
entre “condição colonial” e “ecos do barroco”. Não chama o Barroco no Brasil de 
“movimento” também, mas usa outros termos, como “estilo”. Para ele, Gregório de 
Há historiadores que defendem a importância da divisão entre o que é 
literatura e o que não é. Isso contribuiria para a seleção de alguns textos 
que constituem o cânone de um gênero, um período ou uma comunidade. 
Dessa forma, a constituição do objeto da história não se faria pela eleição 
dos textos “legítimos” e a exclusão dos “falsos”. Todos corresponderiam a 
uma visão fragmentada de real. Outros críticos, no entanto, condenam os 
critérios utilizados para a seleção dos cânones, considerados como os 
“centros” da literatura enquanto outros autores ficam à “margem”, e 
procuram reavaliar essa escolha. 
 
32 
 
Matos, por exemplo, repete motivos e formas do barroquismo ibérico e italiano. 
Aleijadinho, por outro lado, já faz parte do Barroco brasileiro, na segunda metade do 
século XVIII. 
De acordo com a conhecida sistematização organizada por Antonio Candido 
(2000), originalmente publicado em 1959, o Barroco faz parte da era colonial, ainda 
não nacional. Nessa obra, ele explica que a literatura brasileira é um “galho” 
secundário da literatura portuguesa. Para Candido (2000), é dever do crítico-
historiador, portanto, considerar essa literatura e sua trajetória, desde as origens até 
o presente, a partir da perspectiva histórica. Assim, ele se coloca no lugar dos 
primeiros românticos e de críticos estrangeiros, que viram na fase arcádica a primeira 
literatura verdadeiramente brasileira, devido aos temas, como o Indianismo. Sua 
proposta é rever essa concepção em perspectiva atual, a partir da qual a literatura é 
expressão da realidade local e elemento na construção nacional. 
Em sua análise da literatura como sistema, Candido (2000) propõe entendê-la 
a partir de três fatores: produção (produtor, artista), recepção (público) e transmissão 
(um mecanismo transmissor que liga uns aos outros; uma linguagem traduzida em 
estilos). Com esses três fatores, pode se formar um sistema articulado e uma literatura 
nacional. O problema é que, no Brasil, o público, em termos quantitativos, ainda era 
relativo, isto é, o grupo de receptores era esparso. 
Em O sequestro do Barroco na formação da literatura brasileira: o caso 
Gregório de Matos, Haroldo de Campos (1989) identifica um problema na 
historiografia literária brasileira: a questão da origem. Ele critica a proposta de 
Candido, que considera que Gregório de Matos “não existiu literariamente” (em 
perspectiva história) até o Romantismo, apesar de ter permanecido na tradição local 
da Bahia. Para Campos (1989), é a definição de história que está em jogo, nesse 
caso, enquanto valor “formativo” na literatura. 
Ele defende que essa história literária é homogênea, que trata evoluções de 
forma linear. Para Campos (1989), o Barroco é sequestrado, nessa perspectiva, 
porém não deveria ser. Isso se dá não apenas pela linearidade dessa noção histórica, 
mas também por seu caráter comunicativo e integrativo que distingue entre literatura 
como sistema e “manifestação literária”, o que faz Gregório ficar fora desse sistema. 
Esse investigador, por fim, argumenta que o público de Gregório, mesmo reduzido, 
existiu e o afetou, e que sua produção era representativa de um estilo, o Barroco, 
 
33 
 
transcendendo-a e permitindo reconstruir um retrato da sociedade brasileira do século 
XVII. 
Marisa Lajolo (1993) observa como, em trabalhos posteriores, Candido, porém, 
toma essa mesma proposta de um ponto de vista mais latino-americana, 
aprofundando sua reflexão sobre as relações entre literatura, sociedade e 
subdesenvolvimento. Essa pesquisadora também reconhece a importância de 
reescrever a história tradicional como história alternativa, a partir das tendências mais 
atuais, para se chegar à conclusão de que não há uma única história literária 
verdadeira. 
11 CONSOLIDAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA COMO CONSEQUÊNCIA DA 
LITERATURA 
Para entender a consolidação da língua portuguesa, é preciso, primeiro, 
conhecer o início da atividade literária em Portugal. A literatura portuguesa, conforme 
destaca Moisés (2006), nasceu em consequência de uma conjuntura histórico-cultural, 
quase simultaneamente com a Nação em que se enquadra. Dessa forma, faz-se 
necessário conhecer um pouco dos primórdios da história de Portugal, com seus reis, 
rainhas, sucessores e batalhas, a fim de compreender o início da consolidação de 
Portugal, ao mesmo tempo que surgem os primeiros movimentos literários na 
Península Ibérica. 
Em 1904, Afonso VI, rei de Leão, sendo este um dos reinos em que se dividia 
a Península Ibérica (os outros são: Castela, Aragão e Navarra), casa suas filhas — 
Urraca com o Conde Raimundo de Borgonha, e Teresa com Dom Henrique. Para o 
primeiro genro, o rei doa uma extensão de terra correspondente à Galiza; para o outro, 
entrega o território compreendido entre o rio Minho e o Tejo, este último denominado 
“Condado Portucalense” (MOISÉS, 2006). Após a morte do rei, D. Teresa assume o 
comando do governo e aproxima relações com os galegos, principalmente com o 
Conde Fernão Peres de Trava. O infante, Afonso Henrique, se revolta contra a mãe e 
inicia uma revolução que culmina em 24 de junho de 1128, na denominada batalha de 
S. Mamede. Os revoltos vencem e determinam o Infante como seu soberano. Todavia, 
isso não era tudo, ainda faltava o reconhecimento de Leão e Castela, o que ocorreu 
 
34 
 
em outubro de 1143 (MOISÉS, 2006). Afonso VII reconhece Afonso Henriques como 
rei, na conferência de Samora. 
O país, então, se tornava autônomo, porém a batalha pela consolidação levaria 
muito tempo ainda. A data que se utiliza como registro do início da atividade literária 
em Portugal é a de 1198 (ou 1189), quando o trovador Paio Soares de Taveirós 
compõe uma cantiga (denominada Cantiga de Guarvaia, vocábulo que designava um 
luxuoso vestido da corte) direcionada para Maria Pais Ribeiro, a favorita de D. Sancho 
I (MOISÉS, 2006) 
No entanto, a cantiga referida é considerada como pioneira por ser o primeiro 
documento literário. Ou seja, o primeiro registro, uma vez que, via de regra, os 
trovadores memorizavam as composições que interpretavam e, em poucos casos, as 
transcreviam em cadernos de notas. Por isso, toda a atividade anterior à 1198 não 
pode ser desconsiderada. Apenas se considera a cantiga de Paio Soares de Taveirós 
como marco inicial da Literatura Portuguesa por uma questão de registro, mas, de 
forma alguma, nega-se a existência de uma intensa atividade poética anterior. 
(CASTRO, 2019) 
Ao se dispor a estudar os fundamentos da literatura, portanto, faz-se necessário 
entender, resumidamente, como a literatura portuguesa se inicia. Contudo, para além 
desse saber, lembre-se de que não se pode deixar de perceber as relações existentes 
entre a crítica e a história do gosto literário, entre a história da literatura e a história 
geral e nacional e, sobretudo, foco deste texto, entre a literatura e a língua. Assim, 
questione-se: que deverá, então, entender-se por obra literária? E que obras devemos 
estudar para entender a história da literatura portuguesa? 
Conforme defendem Saraiva e Lopes (1996), a resposta mais aceitável para 
esses dois questionamentos é a de que uma obra pode ser considerada literária 
quando, além do pensamento lógico, discursivo, abstratamente conceitual, adequado 
a problemas científicos, filosóficos e, em geral, doutrinários, estimular também os 
impulsos mais afetivos e menos conscientes, os gostos, as atitudes e osvalores que 
se enraizaram por meio do aprendizado, decisivamente formativo, da língua materna 
e de uma dada vida social. Nesse ponto, está a relação importante entre língua e 
literatura e a importância desta para o reconhecimento daquela. (CASTRO, 2019) 
 
35 
 
 
É importante destacar que, entre o uso vulgar e o uso literário de um idioma, 
não é possível fazer diferenciação clara. Lembre-se de que a arte literária já se esboça 
na fala corrente. Os estudos de estilística consistem nessa observação. No entanto, é 
na obra de ficção que os recursos linguísticos são mais bem estruturados (SARAIVA; 
LOPES, 1996), de modo que se percebe com mais evidência uma forma ou um estilo, 
como, por exemplo, na consolidação da literatura portuguesa. 
Como tal, a evidência de uma forma ou um estilo próprio de certa obra ou autor 
resulta em uma ordem ou organização geral dos temas, por exemplo, mas também 
dos ritmos das frases, e, portanto, não se pode dissociar do valor literário que lhe é 
atribuído. Pense, por exemplo, em um relatório científico. O estilo, nesse caso, é 
secundário. Agora, para uma obra de ficção, sobre tudo um poema lírico, a falta de 
estilo significa a não realização. Traduzir um poema, por exemplo, equivale a conferir-
lhe equivalência por meio de recursos linguísticos e referências culturais. Nesse 
ponto, tem-se a relação de consolidação das literaturas por meio da língua. (CASTRO, 
2019) 
O estilo, no contexto da literatura, pressupõe duas questões: o individual de 
cada autor e o período de produção, ou seja, o estilo da época. Portanto, o estilo do 
autor faz referência aos usos que ele faz dos recursos disponíveis em determinada 
 
36 
 
língua. Quem escreve utiliza esses recursos para obter resultados estéticos que 
estejam alinhados ao contexto de produção. Esse contexto, então, faz referência aos 
procedimentos estéticos que caracterizam determinado período literário, por exemplo. 
Assim, à medida que se conhece os períodos literários em Portugal, pode-se 
identificar os estilos da época de produção e os estilos próprios de cada autor. Esse 
conjunto determina as escolar literárias e as suas respectivas características. 
(CASTRO, 2019) 
Por mais que um estilo se individualize, não é possível deixar de fazer alusão 
à experiência humana de determinado grupo. Nenhuma obra literária poderia se 
comunicar se a maior parte de suas expressões não tivesse significado no contexto 
de produção (SARAIVA; LOPES, 1996). Até certo ponto, são significados que 
emergem do uso corrente da língua respectiva, em dada fase de sua evolução. 
Portanto, lembre-se de que toda obra literária apresenta certa forma autônoma, 
mas o ponto de partida (ou matéria) de todas elas está relacionado com uma dada 
experiência social, sobre a qual se pode permitir reconhecer um estilo adequado às 
características de cada idioma, bem como os estilos próprios de cada camada social, 
de cada época e de cada escola e período literário. (CASTRO, 2019) 
No contexto da literatura portuguesa, alguns períodos são definidos, de acordo 
com o que foi detalhado anteriormente, ou seja, estilos adequados a características 
emergentes do contexto social e histórico. A seguir, serão apresentados os períodos 
literários e suas respectivas características. (CASTRO, 2019) 
12 OS PERÍODOS LITERÁRIOS E SUAS RESPECTIVAS CARACTERÍSTICAS 
A literatura portuguesa, e a sua consolidação como tal, está diretamente 
relacionada com o percurso histórico de defi nição de território e organização do 
Estado. Ao longo de seus períodos, a literatura portuguesa atravessou a Idade Média 
e percorreu os séculos XVI, XVII, XVIII, XIX e XX, até atingir a contemporaneidade. 
Em cada uma dessas etapas, destacam-se características singulares. A seguir, serão 
apresentados brevemente os períodos da literatura portuguesa e as suas respectivas 
características. (CASTRO, 2019) 
 
37 
 
12.1 Trovadorismo 
O Trovadorismo, como gênero dos primórdios da literatura portuguesa, data do 
período de 1198 a aproximadamente 1418. As primeiras décadas dessa época 
transcorreram durante a guerra de reconquista do solo português, que ainda estava, 
em parte, sob o domínio mourisco. Apenas em 1249, quando Afonso III domina 
Albufeira, Faro, Loulé, Alzejur e Porches, bate-se definitivamente os últimos baluartes 
sarracenos em Portugal (MOISÉS, 2006). 
 
 
Fonte:www.beduka.com 
 
Apesar de ser um período violento, com prática guerreira durante os anos de 
consolidação política e territorial, a atividade literária foi beneficiada e pôde se 
desenvolver. Deve-se considerar que, cessada a contingência bélica, houve o 
aumento de manifestações sociais características de períodos de paz, entre elas a 
literatura. (CASTRO, 2019) 
O poeta é denominado trovador (Figura 1), do qual derivam trovadorismo e 
trovadoresco. Este deveria ser capaz de compor, achar sua canção, cantiga ou cantar, 
e o poema implicava o canto e o acompanhamento musical (MOISÉS, 2006) 
Dois tipos principais representam a poesia desse período: a poesia lírico- -
amorosa e a satírica. A primeira se divide em cantiga de amor e cantiga de amigo; a 
segunda, em cantiga de escárnio e cantiga de maldizer. É interessante considerar que 
o idioma predominante era o galego-português, isso em virtude da então unidade 
linguística entre Portugal e Galiza (MOISÉS, 2006). 
 
38 
 
 
 
Como principais trovadores, destacam-se: João Soares de Paiva, Paio Soares 
de Taveirós, D. Dinis, Aires Nunes, entre outros. 
Apesar de uma aparência primitiva e espontânea, e de ser composta com 
atenção para a música, a poesia medieval utilizava requintados recursos formais, 
sobretudo na cantiga de amor. Mesmo que nos dias atuais esteja ultrapassada para o 
gosto do leitor moderno (evidentemente que alguns ainda valorizam a produção dessa 
época), é preciso cautela, a fim de não supor que tudo que caracterizou a lírica 
trovadoresca esteja fadado ao esquecimento, pois seu primitivismo, com a 
naturalidade de um lirismo que parece surgir exclusivamente da sensibilidade, 
constitui uma nota viva e permanente (MOISÉS, 2006). 
 
39 
 
12.2 Humanismo 
Historicamente, o Humanismo se evidencia na época em que Fernão Lopes é 
nomeado Guarda-Mor da Torre do Tombo por D. Duarte, em 1418. Esse fato denuncia 
a mudança de mentalidade que se processava em Portugal, desde a ascensão de D. 
João I. É, então, inaugurada a dinastia de Avis, a qual se prolongou até 1580 
(MOISÉS, 2006). 
 
 
Fonte:www.ateliedehumanidadesblog.files.wordpress.com 
 
A etapa inaugurada nesse período é uma das mais importantes da história de 
Portugal, visto que essa virada veio a constituir uma profunda renovação na cultura 
portuguesa. D. João I era um rei culto, determinado e empreendedor. Por isso, 
entendeu a importância do desenvolvimento das letras. Neste período, que vai de 
1418 a 1527, aparece a figura de Fernão Lopes, um dos responsáveis pelo início da 
nova época da literatura portuguesa. 
Essa época se caracteriza por um processo de humanização da cultura 
(MOISÉS, 2006). O século XV português corresponde, em consonância com o resto 
da Europa, ao nascimento do mundo moderno, na medida em que inaugura um tipo 
de cultura que estava preocupada com o homem, encarado, nesse período, como 
 
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indivíduo, mas também como integrante de uma coletividade. A concepção teocêntrica 
de vida ainda permanece, evidentemente, mas já começam a surgir atitudes 
contraditórias diretamente centradas no homem (MOISÉS, 2006). A cultura torna-se 
laica, em grande parte, e a educação do homem, sobretudo fidalgo, é o objetivo da 
literatura moralista que passa a ser produzida. 
Nas crônicas de Fernão Lopes, principal nome do período, o povo, a massa 
popular, surge pela primeira vez. Identifica-se uma onda de realismo, de apego à 
natureza física, que se eleva para se contrapor ao transcendentalismo anterior. 
12.3 Classicismo 
O grande nome

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