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CONVERSÃO DE ENERGIA AULA 6 Prof. Samuel Polato Ribas 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, vamos estudar os principais circuitos eletrônicos que são utilizados nos processos de geração de energia elétrica e no condicionamento de energia. Vamos estudar técnicas para que a energia gerada possa ser condicionada e conectada à rede elétrica. Ainda, serão mostrados circuitos de condicionamento de energia elétrica, cuja função é melhorar a qualidade de energia, proporcionando mais qualidade à eletricidade gerada e que circula pelas redes elétricas. CONTEXTUALIZANDO Em muitas áreas da engenharia elétrica, a eletrônica tem ganhado espaço e se desenvolvido rapidamente. À medida que ela evolui, os componentes eletromecânicos, como relés de proteção e contatores, estão sendo substituídos por dispositivos eletrônicos que possuem um desempenho superior. Os elementos eletromecânicos de geração de energia não podem ser substituídos por eletrônica, porém existem fontes de energia que já se mostraram viáveis (como a fotovoltaica) e são dependentes de circuitos eletrônicos. Por esse motivo, o conhecimento de circuitos de conversão de formas de energia, de corrente alternada para contínua, e de corrente contínua para alternada é fundamental, além de saber como melhorar a qualidade desta energia. Problematizando Cada vez mais, as gerações eólica e fotovoltaica vão crescer e ganhar espaço. Essas duas fontes de energia estão entre as que necessitam circuitos eletrônicos para tornar a energia possível de ser utilizada e interligada com o sistema elétrico. Por isso, além de conhecer as formas de geração, conhecer os circuitos e entender o seu funcionamento é de extrema importância para saber como deixar essa energia pronta para utilização. 3 Pesquise Além das energias eólica e fotovoltaica, quais outras fontes de geração de energia elétrica necessitam de circuitos eletrônicos para condicionar a energia elétrica gerada? TEMA 1 – CIRCUITOS RETIFICADORES Circuitos retificadores são circuitos que convertem corrente alternada em corrente contínua. O seu princípio de funcionamento consiste em bloquear a passagem do semiciclo negativo de uma corrente alternada, permitindo apenas a passagem do semiciclo positivo. Podem também inverter a polaridade do semiciclo negativo, dobrando a frequência da forma de onda e mantendo o valor eficaz. Para impedir a passagem do semiciclo negativo ou para sua polaridade, o circuito semicondutor mais simples que pode ser utilizado são os diodos. A Figura 1 apresenta a topologia mais simples de um circuito retificador e as formas de onda de entrada e saída. Trata-se de um retificador monofásico de meia onda. Figura 1 – Circuito de um retificador monofásico de meia onda (a) e formas de onda da tensão de entrada, Ve, e da tensão de saída, Vs Nota-se nesta topologia que a tensão de saída, Vs, possui apenas o semiciclo positivo da tensão de entrada. O diodo, D, fica inversamente polarizado durante o semiciclo negativo, fazendo com que a tensão Vs vá para zero. Outra topologia bastante utilizada é a do retificador de onda completa. Nela, além de permitir que o semiciclo positivo fique diretamente aplicado à carga, o circuito inverte a polaridade do semiciclo negativo, fazendo com que a 4 tensão na carga possua dois semiciclos positivos. Portanto, a frequência da tensão de saída será o dobro da frequência da tensão de entrada. A Figura 2 mostra a topologia deste circuito e as formas de onda da tensão de entrada e da tensão de saída. Este circuito recebe o nome de retificador de onda completa. Figura 2 – Circuito de um retificador monofásico de onda completa (a) e formas de onda da tensão de entrada, Ve, e da tensão de saída, Vs O mesmo retificador da Figura 2 pode ser implementado utilizando apenas dois diodos, porém é necessária a inclusão de um transformador isolador com duas derivações centrais no enrolamento secundário. Essa topologia apresenta algumas vantagens, como a diminuição do número de diodos, a isolação galvânica entre a entrada e a saída do circuito e a possibilidade de alteração da tensão de saída em função da relação de transformação. Entretanto, também apresenta desvantagens, como o aumento de custo e de volume do circuito. Essa topologia é mostrada na Figura 3. Os circuitos retificadores podem ser acompanhados de um filtro capacitivo na saída. Dessa forma, a ondulação da tensão de saída é atenuada, fazendo com que a forma de onda se aproxime mais de uma fonte de corrente contínua pura. 5 Figura 3 – Circuito de um retificador monofásico de onda completa com transformador Do ponto de vista do conceito dos circuitos retificadores, isso é muito vantajoso. Já que o objetivo é converter corrente alternada em corrente contínua, a utilização do filtro capacitivo é uma boa opção para que esse objetivo seja alcançado. A Figura 4 apresenta um retificador de onda completa com filtro capacitivo e as formas de onda de tensão de entrada e de saída. Figura 4 – Circuito de um retificador monofásico de onda completa com filtro capacitivo (a) e formas de onda da tensão de entrada, Vê, e da tensão de saída, Vs Nota-se na Figura 4 que a tensão de saída Vs apresenta uma ondulação bem menor em relação à tensão de saída da Figura 2. Isso é devido à energia que se acumula no capacitor, que mantém a tensão de saída na carga. 6 Os circuitos retificadores podem ser aplicados a sistemas trifásicos. Um exemplo desse tipo de aplicação é em geração de energia eólica. Existem duas topologias possíveis para essa aplicação. A primeira delas consiste em ligar um diodo a cada fase da fonte trifásica. A Figura 5 apresenta um retificador trifásico com três diodos e as formas de onda de tensão de entrada e saída. Figura 5 – Circuito de um retificador trifásico a três diodos (a) e formas de onda das tensões de entrada, V1, V2 e V3, e da tensão de saída, Vs Note que a tensão de saída Vs apresentou uma ondulação bem menor do que a tensão de saída do retificador monofásico apresentado na Figura 2. Na segunda topologia de um retificador trifásico, com seis diodos, chamada de ponte de Graetz, a ondulação se torna menor ainda, praticamente não sendo necessária a utilização de filtro capacitivo. Na Figura 6 é apresentada topologia da ponte de Graetz, as tensões de entrada e a tensão de saída. 7 Figura 6 – Circuito da ponte de Graetz (a) e formas de onda das tensões de entrada, V1, V2 e V3, e da tensão de saída, Vs Perceba que a ondulação da tensão de saída Vs na Figura 6 é menor que a ondulação na Figura 5, ou seja, à medida que se aumenta o número de diodos em um circuito retificador, a ondulação da tensão de saída diminui, aproximando- se de uma forma de onda contínua pura. Na geração de energia, a principal aplicação desses circuitos é em energia eólica, pois há configurações em que é necessário converter a energia em corrente alternada na saída do aerogerador, em corrente contínua, antes de conectá-lo a rede. TEMA 2 – CORREÇÃO ELETRÔNICA DO FATOR DE POTÊNCIA Neste tema da aula, vamos estudar os conversores estáticos, ou conversores CC-CC, que convertem um nível de tensão em corrente contínua (CC) em outro nível CC, e também falaremos sobre como esses conversores podem ser utilizados para realizar a correção de fator de potência. Os conversores estáticos possuem três topologias, que são a base para as outras topologias existentes. Estas topologias permitem abaixar, aumentar, ou abaixar e aumentar a tensão da entrada. Esses circuitos utilizam chaves semicondutoras de potência totalmente controladas (IGBTs ou MOSFETs) operando em frequências na faixa de dezenas de kHz, utilizando modulação por largura de pulso (PWM – Pulse Width Modulation).8 O primeiro conversor que estudaremos é o conversor CC-CC abaixador de tensão, chamado de conversor Buck. Ele tem como principal objetivo abaixar o nível da tensão de entrada. A topologia desse circuito é mostrada na Figura 7. Figura 7 – Conversor CC-CC abaixador de tensão Note que o único elemento que é possível de controlar é a chave S, que possui dois estados, aberta e fechada. O estado da chave dependerá do sinal PWM. Quando o PWM estiver em nível alto, a chave estará fechada, e quando estiver em nível baixo, a chave estará aberta. O seu funcionamento inicia-se com a chave fechada, e a energia da fonte de tensão E carrega o indutor L e o capacitor C, além de alimentar o resistor de carga R. Enquanto a chave permanecer fechada, a fonte de entrada fica diretamente ligada em paralelo com o diodo DRL, que fica inversamente polarizado. Quando a chave S se abre, a energia armazenada no indutor e no capacitor mantém o nível de tensão e corrente na carga. Como a corrente armazenada no indutor precisa de um caminho por onde possa circular, o diodo DRL entra em condução proporcionando este caminho. Após o fechamento da chave há novamente acumulo de energia no indutor e no capacitor, portanto o início de um novo ciclo. Vale ressaltar que neste circuito a tensão de saída VO é sempre menor que a tensão de entrada E. A Figura 8 mostra o circuito de um conversor estático CC-CC elevador de tensão, conhecido por conversor Boost. 9 Figura 8 – Conversor CC-CC elevador de tensão O funcionamento do conversor Boost consiste em carregar indutor L enquanto a chave S estiver fechada, ou seja, o PWM em nível alto. Como o diodo DRL fica bloqueado durante esta etapa, o capacitor C fornece energia para a carga R, mantendo o nível de tensão e corrente. Quando a chave S se abre, então a fonte E e o indutor L fornecem energia para a carga R e carregam o capacitor C, por meio do diodo DRL. Assim que a chave for fechada novamente, inicia-se um novo ciclo de operação. No caso do conversor Boost, a tensão de saída VO é sempre maior que a tensão de entrada E. O terceiro conversor CC-CC, chamado de conversor Buck-Boost, pode funcionar como abaixador ou elevador de tensão. A sua topologia é apresentada na Figura 9. Figura 9 – Conversor CC-CC abaixador-elevador de tensão No conversor abaixador-elevador de tensão, o nível da tensão de saída VO é definido pelo tempo em que a chave S permanece fechada. Se ela permanecer fechada mais da metade de um ciclo de chaveamento, a tensão de saída será maior que a da entrada, e se ela permanecer fechada por menos da metade do período de chaveamento, a tensão de saída será menor que a da entrada. 10 O funcionamento do conversor Buck-Boost consiste em armazenar energia no indutor, L, enquanto a chave estiver fechada. Durante esse período, o diodo, DRL, fica bloqueado, e o capacitor, C, fornece energia para o resistor de carga, R. Quando a chave se abre, a energia que estava armazenada no indutor, por meio do diodo, carregando o capacitor mantendo o nível de tensão e corrente na carga. Note ainda que a tensão de saída, VO, possui a polaridade invertida em relação à tensão de entrada, E. Além dessas topologias básicas, existem outras, como os conversores Sepic, Cük, Zeta, Flyback e Foward, cada um deles com características próprias. Qualquer uma das topologias pode ser empregada para a correção de fator de potência. Algumas delas são mais propícias e outras são menos para esse fim. Os conversores mais eficientes para a correção de fator de potência são os que possuem a fonte de entrada em série com o indutor, o que caracteriza o comportamento de uma fonte de corrente. Para aplicarmos esses conversores à correção do fator de potência, a tensão de entrada do conversor deve ser a saída de um retificador de onda completa. Devido à sua configuração, o conversor Boost é um dos mais utilizados para efetuar a correção do fator de potência. O circuito do conversor Boost aplicado à correção do fator de potência é apresentado na Figura 10. O circuito da Figura 10 atua de forma a eliminar a defasagem entre a tensão de entrada, Ve, e a corrente que esta fonte fornece. Como o fator de potência pode ser medido pelo cosseno do ângulo de defasagem, à medida que o ângulo se aproxima de zero, o valor do seu cosseno se aproxima de um. Ao mesmo tempo, a tensão de saída, Vo, deve ser igual à tensão de referência, VREF. 11 Figura 10 – Conversor Boost aplicado para correção do fator de potência O circuito funciona da seguinte forma: a tensão de saída do retificador amostrada é enviada para o sinal de entrada do bloco central como “A”. A tensão de saída do retificador ainda passa por um filtro passa baixas, representado pelo bloco FPB. A saída deste filtro será o valor eficaz da tensão, que entra no bloco central como a variável “C”. A tensão de saída, Vo, é amostrada e comparada com a tensão de referência, VREF. O valor de VREF é o valor que se deseja que Vo possua. O sinal com diferença entre Vo e VREF é enviado para o bloco regulador de tensão, que normalmente é um controlador PI (Proporcional-Integral), e saída a deste controlador será a entrada “B” do bloco central. Na sequência é realizada a operação do bloco central. As variáveis “A” e “B” são multiplicadas, e o resultado dividido pelo quadrado da variável “C”. A saída do bloco será a corrente de referência, IREF. O valor de IREF é comparado com o valor da corrente no indutor do conversor, cuja amostra é obtida por um sensor de corrente. A diferença entre IREF e a corrente no indutor é a entrada do regulador de corrente, que, assim como o regulador de tensão, consiste em um controlador PI. 12 Por fim, a saída do controlador PI será a entrada do modulador PWM, que vai regular a largura do pulso corretamente, de modo que a corrente e a tensão de entrada estejam em fase. O desempenho deste sistema está diretamente relacionada com a sintonia dos reguladores de tensão e corrente. A corrente no indutor também tem influência no desempenho. À medida que a corrente aumenta, a correção do fator de potência se torna mais eficiente. Por isso, os corretores de fator de potência eletrônicos devem operar o mais próximo possível da potência nominal. Caso isso não ocorra, o desempenho pode ser prejudicado, resultando em uma correção pouco efetiva. O circuito corretor de fator de potência baseado na topologia do conversor Boost é um dos mais utilizados. Ele pode ser aplicado no estágio de entrada de sistemas ininterruptos de energia de alto desempenho, contes de alimentação de potência. Trazendo para o contexto da conversão de energia, pode ser utilizado como o estágio de entrada do conversor que ligará a saída de um gerador eólico ao sistema elétrico. Vale ressaltar que qualquer outra topologia de conversores CC-CC pode ser utilizada para a correção do fator de potência. Além disso, embora o circuito apresentado seja monofásico, é possível adaptá-lo para a aplicação em sistemas trifásicos, utilizando o mesmo princípio. TEMA 3 – CIRCUITOS CONVERSORES CC-CA Os conversores CC-CA são circuitos que têm como objetivo converter corrente contínua em corrente alternada. Esses circuitos também são chamados de circuitos inversores. São largamente empregados em aplicações que necessitam injetar potência na rede a partir de um nível CC. Esses sistemas de geração de energia são utilizados em sistemas eólicos e obrigatoriamente em sistemas fotovoltaicos, pois a geração é em corrente contínua. Assim como os retificadores e os conversores CC-CC, existem várias topologias distintas, com operações semelhantes, porém sempre realizando a conversão CC para CA. Vale ressaltar ainda que os inversores são circuitos que podem sintetizar na saída uma tensão CA monofásica ou trifásica.Vamos iniciar nosso estudo com o conversor CC-CA em ponte completa. Esta topologia é apresentada na Figura 11, alimentando uma carga RL, 13 juntamente com as formas de onda da tensão e a corrente na carga, Vo e Io, respectivamente. Figura 11 – Conversor CC-CA em ponte completa (a) e formas de onda da tensão de saída, Vo, e da corrente de saída, Io (b) O conversor da Figura 11 apresenta dois braços, formados por chaves semicondutoras com diodos em antiparalelo. Essa topologia é indicada para aplicações em alta potência devido aos pequenos esforços a que os semicondutores ficam sujeitos. As chaves são comandadas em pares, S1 com S4 e S2 com S3, o que torna o circuito de comando relativamente simples. O funcionamento deste circuito consiste de quatro etapas. Na primeira etapa, as chaves S1e S4 entram em condução, e a corrente da carga, Io, flui através delas. A tensão na carga é igual à tensão da entrada, E. Durante essa etapa, a fonte fornece a corrente Io para a carga. Pelo fato de ser uma carga RL, a corrente cresce de forma exponencial. Na segunda etapa as chaves S1 e S4 são bloqueadas, e os diodos em antiparalelo das chaves S2 e S3 entram em condução. Nessa etapa, a tensão na carga passa a ser menos a tensão da fonte (–E). Note que durante essa etapa nenhuma das chaves está em condução. A terceira etapa se inicia quando a corrente Io chega a zero. Nesse instante, as chaves S2 e S3 entram em condução. A corrente da carga, Io, aumenta de forma exponencial em sentido oposto ao da primeira etapa, e a tensão na carga continua sento –E. Na quarta etapa, as chaves S2 e S2 entram no modo de bloqueio, e os diodos em antiparalelo com S1 e S4 entram em condução, fornecendo um caminho para a circulação da corrente Io, que decresce linearmente. Esta etapa 14 termina quando a corrente Io chega a zero e as chaves S1 e S4 entram em condução, voltando ao estado da primeira etapa. Outra topologia bastante atrativa é a do conversor CC-CA meia ponte, também chamado de conversor com ponto médio. A grande vantagem dessa topologia é a redução do número de chaves semicondutoras. Essa topologia é recomendada para aplicações em baixa potência. Isso é devido ao fato de a tensão na saída ter a metade da amplitude da tensão de saída do inversor em ponte completa. Isso acontece porque nessa topologia é necessária a utilização de uma fonte CC com ponto médio. Essa fonte pode ser obtida por meio de circuitos RC conforme mostrado na Figura 12. Esta figura mostra o circuito de um inversor meia ponte e as formas de onda de tensão e corrente na carga, Vo e Io, respectivamente. Figura 12 – Conversor CC-CA em meia ponte (a) e formas de onda da tensão de saída, Vo, e da corrente de saída, Io (b) Comparando a Figura 11 com a Figura12, fica evidente a diferença entre as tensões e correntes de saída. A tensão e a corrente da Figura 12 são a metade da corrente e da tensão da Figura 11. Os resistores R1 e R2 devem ter elevada resistência, na faixa de MΩ, e os capacitores C1 e C2 normalmente são eletrolíticos de elevada capacitância para dividir igualmente a tensão de entrada, E. As etapas de operação são as mesmas do inversor em ponte completa, porém agora o procedimento ocorre entre as chaves S1 e S2. Perceba que os inversores vistos até agora geram uma tensão CA alternada e com uma corrente alternada, mas não senoidal. Se nosso objetivo 15 for realizar a conversão de CC para CA para interligar um sistema de geração com a rede elétrica, seja ele eólico ou fotovoltaico, deve-se optar por um inversor com modulação PWM senoidal. A topologia é a mesma do inversor em meia ponte ou em ponte completa. O que se altera é o comando das chaves. Além disso, para tornar a forma de onda de tensão e corrente senoidais, deve ser empregado um filtro LC na saída, antes de a carga ser conectada. Na Figura 13, é apresentado um inversor em ponte completa com modulação PWM senoidal, alimentando uma carga resistiva, além das formas de onda de tensão e corrente na carga. Figura 13 – Conversor CC-CA em ponte completa com filtro LC (a) e formas de onda da tensão de saída, Vo, e da corrente de saída, Io,para carga resistiva (b) Note que neste caso a tensão de saída, Vo, e a corrente de saída, Io, são senoidais. O filtro LC faz com que a tensão e a corrente geradas pelo inversor sejam senoidais. Para a interligação de um inversor com modulação PWM como o da Figura 4(a), alguns requisitos devem ser atendidos. São eles: A tensão de saída do inversor deve ter a mesma frequência e a mesma amplitude da tensão da rede. No caso de inversores trifásicos, a sequência de fases deve ser respeitada. Se os requisitos acima citados forem atendidos, basta retirar o resistor R do circuito e conectar o capacitor, C, diretamente em paralelo com a rede. Vale ressaltar que para que os requisitos de rede sejam atendidos, deve haver controladores destinados ao ajuste de frequência, e a monitoração 16 constante da rede deve ser realizada, para que o inversor possa se ajustar a suas oscilações. Ainda é importante mencionar que o capacitor C deve ser de corrente alternada. Como ele estará sujeito a níveis de tensão positivos e negativos, um capacitor com polaridade definida vai ser danificado. TEMA 4 – FILTRO ATIVOS Os filtros ativos são dispositivos eletrônicos de potência que têm a função de melhorar a qualidade da energia elétrica, atuando sobre distúrbios que ocorrem na rede. Por distúrbios na rede entendem-se distorções na tensão e na corrente da linha, circulação de correntes de neutro elevadas, correntes de cargas não lineares, como retificadores, afundamentos de tensão, correntes reativas, entre outros. Entre as causas que ocasionam maior perda da qualidade de energia, estão as correntes harmônicas. Essas correntes sempre existiram no sistema elétrico, porém, com o aumento da utilização de cargas e equipamentos eletrônicos, elas aumentaram consideravelmente. A maior preocupação é com as correntes que esses equipamentos absorvem da rede, que na grande maioria são correntes com elevado conteúdo harmônico. As harmônicas de uma corrente são correntes em frequências múltiplas da frequência fundamental, que resultam em uma forma de onda diferente da senoidal e que causam distorção na forma de onda de tensão. Neste caso dizemos que se tem uma corrente com alto conteúdo harmônico. Um equipamento que absorve correntes harmônicas da rede possui um fator de potência baixo. Portanto, a concessionária deve fornecer uma alta quantidade de potência reativa, o que causa sobrecarga na rede. Outro problema relacionado à qualidade de energia são as variações que a tensão pode sofrer. Umas das principais causas de afundamentos ou elevações de tensão é a entrada e a saída de cargas muito elevadas no sistema elétrico. Os filtros ativos têm como objetivo eliminar ou minimizar os efeitos de distúrbios na rede que causam variação no valor e na forma de onda da tensão de um sistema elétrico. 17 Existem basicamente dois tipos de filtros ativos, o série e o paralelo. A Figura 14 apresenta os dois tipos de filtros ativos. Figura 14 – Filtro ativo série paralelo (a) e filtro ativo série (b) O filtro ativo paralelo, mostrado na Figura 14 (a), utiliza um indutor para realizar a conexão com a rede. Já o filtro ativo série, mostrado na Figura 14(b), utiliza um capacitor e um transformador para conexão com a rede. Os blocos com transistores que recebem o sinal de modulação caracterizam a estrutura de semicondutores que formam o filtro ativo. Na realidade possuem a mesma estrutura que inversores em ponte completa, alterando apenas o comando das chaves em relação ao inversor convencional. O princípio do filtro ativo paralelo da Figura 14 (a) é funcionar como uma fonte de corrente. O seu funcionamento consiste em injetarna rede uma corrente, IF, de forma que, quando somada com a corrente da linha,IL, resultará em uma corrente senoidal, IC. Explicando mais detalhadamente, a corrente IL é uma corrente que possui componentes na sua frequência fundamental e também componentes harmônicas. Na corrente IC, deseja-se que exista apenas a componente fundamental. Para isso, é necessário eliminar as componentes harmônicas. Assim, a corrente injetada pelo filtro ativo paralelo, IF, possui as componentes harmônicas da corrente IL, com defasagem de 180º, de modo que se anulem quando somadas, resultando apenas a componente fundamental. Assim, obtém- se uma corrente praticamente senoidal pura e, consequentemente, uma forma de onda de tensão livre de distorções. Já o filtro ativo paralelo atua como uma fonte de tensão. Em vez de injetar uma corrente na rede, o princípio do filtro ativo série consiste em obter uma tensão, VF, no secundário do transformador, que, quando somada à tensão VPC, 18 resulte em uma tensão senoidal. Portanto, esse filtro atua diretamente sobre a forma de onda de tensão, resultando em uma tensão VC praticamente livre de distorções. Entretanto, para realizar os procedimentos de correção, tanto o filtro ativo paralelo quanto o série necessitam detectar quais harmônicas estão causando a perturbação para então poder corrigi-las. Para isso, os filtros ativos utilizam um algoritmo para detectar as harmônicas. Este algoritmo recebe o nome de algoritmo para geração de referências e normalmente é implementado em um processador digital de sinais. TEMA 5 – CONTROLE DE CONVERSORES Conhecidas as formas de converter CA em CC, CC em CC e CC em CA e as topologias que podem ser utilizadas para estes fins, é importante conhecer alguns tipos de controladores utilizados e como eles atuam sobre os circuitos. Vale ressaltar que o objetivo aqui não é detalhar o procedimento de projeto de controladores, mas sim apresentar sua equação característica e o seu funcionamento. Especificamente, vamos tratar de controladores para os circuitos de conversores CC-CC e CC-CA. Nos conversores CC-CC, o objetivo é manter constante o valor da tensão de saída frente a variações de carga e na tensão de entrada. Nestas aplicações, os controladores mais utilizados são os controladores P (proporcional), PI (proporcional-integral) e PID (proporcional-integral-derivativo). Como o circuito possui uma resposta rápida, não é usual utilizar o controlador PID, porém nada impede que seja utilizado. Neste primeiro momento, vamos entender um pouco mais sobre cada controlador. O controlador proporcional tem como um dos objetivos tornar o circuito menos susceptível a variações de carga e outros distúrbios, aumentando a sua estabilidade. Entretanto, ele não elimina o erro em regime permanente, ou seja, a tensão de saída nunca atingirá o valor desejado. Se a parcela integral for adicionada, então o controlador passará a ser um PI. A parcela integral tem por objetivo anular o erro, ou seja, a tensão de saída do conversor será exatamente igual ao valor desejado, porém ao custo de uma resposta mais lenta. Ainda pode ser integrada ao controlador uma parcela derivativa, tornado o controlador um PID. Assim, o conversor vai demorar menos tempo para 19 alcançar a tensão desejada. Além disso, a tensão de saída é exatamente a mesma que se deseja obter. Para se ter uma ideia do efeito de um controlador P, PI e PID, a Figura 15 apresenta a tensão de saída de um conversor Buck. O valor desejado é de 50V. Figura 15 – Tensão de saída de um conversor Buck com controlador proporcional (vermelho), com controlador proporcional-integral (azul) e com controlador proporcional-integral-derivativo (verde) Pela Figura 15, nota-se que a forma de onda em vermelho, referente a tensão de saída com um controlador proporcional, fica um pouco abaixo de 50V, evidenciando a característica do controlador proporcional. Na forma de onda em azul, que é a tensão de saída referente ao controlador proporcional-integral, nota-se claramente que a ondulação da tensão de saída permanece por mais tempo. Porém, se o tempo do gráfico fosse maior, veríamos uma acomodação da tensão de saída em exatamente 50V. Da mesma forma, a tensão de saída referente ao controlador com o controlador PID, em verde, há uma estabilização da forma de onda em 50V, conforme esperado. Além disso, perceba que o tempo para a estabilização do sinal é consideravelmente menor que a tensão de saída com os controladores proporcional e integral. Eventualmente outros controladores podem ser utilizados para controlar a tensão de saída de conversores CC-CC. 20 Para o controle de conversores CC-CA e filtros ativos, existem outros controladores que resultam em um bom desempenho. Em controladores para conversores CC-CA senoidais e em filtros ativos, é necessário um controlador que reproduza na saída uma senoide com o mínimo de distorção possível. Para esse fim, é necessário um controlador que atue como filtro, rejeitando as harmônicas que causam distorção da tensão. Primeiro, é possível citar o controlador ressonante. Nesse controlador, é possível definir a frequência da senoide que o controlador “permite” passar para a saída e quais frequências devem ser rejeitadas. A Figura 16 mostra um diagrama desse controlador. Nela, os “s” indicam que a função está no domínio da frequência. A variável ωo indica a frequência em que o controlador está sintonizado, em rad/s. As frequências ωo e seus múltiplos (2ωo, 3ωo,.....,nωo) indicam as frequências múltiplas de ωo que serão rejeitadas pelo controlador. O bloco GP(s) representa o modelo matemático do inversor, y(s) a senoide no domínio da frequência livre de harmônicos. Figura 16 – Diagrama de blocos do controlador ressonante com múltiplos controladores A Figura 17 faz a comparação de uma forma de onda de tensão de saída de um inversor monofásico com e sem controladores ressonantes. 21 Figura 17 – Tensão e corrente de saída de um inversor monofásico sem controle (a) e tensão e corrente de saída de um inversor com controladores ressonantes Outro controlador que tem um desempenho semelhante ao dos controladores ressonantes é o controlador repetitivo. A diferença é que o controlador repetitivo possui todas as frequências no seu modelo, portanto, teoricamente, ele tem a capacidade de rejeitar todos os distúrbios causados por harmônicas na tensão de saída, resultando em uma senoide perfeita. Esses controladores são utilizados normalmente em controladores CC- CA e também podem ser empregados em filtros ativos monofásicos e trifásicos. NA PRÁTICA Pesquise outras topologias de retificadores, conversores CC-CC e inversores e verifique como podem ser aplicados em sistemas de geração de energia eólica e energia fotovoltaica. FINALIZANDO Nesta aula, foram apresentadas algumas topologias de retificadores, conversores CC-CC e inversores e suas aplicações em sistemas de geração de energia eólica e fotovoltaica. Além disso, uma breve introdução sobre filtros ativos foi realizada com o objetivo de levar ao estudante a existência desse equipamento. Por fim, alguns dos sistemas de controle utilizados nessas topologias foram abordados, além de suas características. 22 REFERÊNCIAS RASHID, M. H. Eletrônica de Potência: Dispositivos, circuitos e aplicações. 4. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014.
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