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1 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 OBJETIVOS 1. Descrever a etiopatogenia da Púrpura trombocitopênica idiopática (PTI). 2. Caracterizar as manifestações clínicas e laboratoriais da PTI aguda e crônica. 3. Identificar possíveis diagnósticos diferenciais. 4. Discutir sobre a indicação de mielograma e descrever os achados esperados. 5. Descrever aspectos gerias do tratamento do paciente com PTI. REFERÊNCIAS HOFFBRAND, A V.; MOSS, P. A H. Fundamentos em hematologia de Hoffbrand. 7ª. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018. ZAGO, Marco Antônio; FALCÃO, Roberto Passetto; PASQUINI, Ricardo. Tratado de hematologia. São Paulo: Atheneu, 2013. DEFINIÇÃO É uma doença autoimune IDIOPÁTICA caracterizada pela produção de autoanticorpos anti-plaqueta que opsonizam e aceleram a remoção das plaquetas circulantes pelo baço. ETIOPATOGÊNIA Os principais alvos desses autoanticorpos são principalmente as glicoproteínas GPIIb-IIIa, GPIb-IX e GPIa-IIa, o que leva à sensibilização das plaquetas que são fagocitadas por macrófagos. Além do ataque à membrana plaquetária, parece que os autoanticorpos da PTI também são capazes de inibir a liberação de novas plaquetas pela medula óssea, interferindo na função dos megacariócitos numa espécie de bloqueio à “trombopoiese compensatória”, que seria a resposta fisiológica esperada em consequência à menor meia-vida das plaquetas... CLASSIFICAÇÃO Com base no comportamento clínico e na resposta ao tratamento podem ser definidos 3 tipos distintos de PTI: PTI do adulto/crônica: afeta pacientes entre 20 a 40 anos, predominantemente do sexo feminino, e que não está associada a infecção prévia, e que apresenta curso crônico e geralmente benigno PTI de criança/ aguda: que tem maior incidência na infância, afeta igualmente ambos os sexos, e quase sempre é precedida de infecção viral ou vacinação. Esta tem curso limitado e não é recorrente; PTI associada a outras doenças: geralmente de natureza autoimune ou neoplásica, caracterizadas por distúrbio do sistema imunológico — o curso desse tipo de PTI é semelhante ao da PTI crônica clássica; as doenças mais comumente associadas são o LES, doenças autoimunes da tireoide, doenças linfoproliferativas, HIV, após radio ou quimioterapia e após transplante de medula óssea. QUADRO CLÍNICO De acordo com o grau de plaquetopenia, o paciente pode apresentar sangramento. Consiste na instalação abrupta de sangramento cutâneo (petéquias e equimoses) podendo se acompanhar de sangramento mucoso ( epistaxe, gengivorragia, menorragia), além de hematúria, sangramento em trato gastrintestinal e até em SNC. Com frequência o paciente permanece assintomático até que a contagem plaquetária caia abaixo de 20.000/ml. Plaquetopenias extremas (< 5.000/ml), no entanto, são capazes de justificar sangramentos teciduais profundos, incluindo hemorragia cerebral (< 1% dos pacientes). Obs: Bolhas hemorrágicas na mucosa oral e/ou hemorragias retinianas no exame de fundo de Púrpura Trombocitopênica Idiopática (PTI) Problema 07 2 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 olho são prenúncios de uma possível hemorragia cerebral em curto prazo!!! DIAGNÓSTICO O hemograma mostra intensa trombocitopenia, usualmente menor do que 5.000/μL, com prolongamento importante do tempo de sangramento. A determinação direta ou indireta da presença de autoanticorpos contra proteínas da membrana plaquetária não é obrigatória para o diagnóstico, mas ocorre em cerca de 70 a 80% dos casos, geralmente dirigidos contra as glicoproteínas IIb/IIa e Ib/IX. A PTI é um diagnóstico de exclusão! 1°: Esfregaço de sangue periférico: certificar de que não se trata de pseudotrombocitopenia. 2°: Afastar a existência de fatores associados à trombocitopenia “secundária" como: • Uso de certos medicamentos • infecção pelo HIV e/ou HCV • Doenças autoimunes, como o LES • neoplasias linfoproliferativas (linfomas). Para rastreio dessas possibilidades etiológicas sempre deve ser solicitada (ex.: sorologia anti-HIV e anti-HCV, dosagem de FAN). 3°: Afastadas tais condições, pode-se estabelecer um diagnóstico presuntivo de PTI no paciente jovem que apresenta plaquetopenia isolada, não acompanhada de outras citopenias ou alterações clínicas, como hepatoesplenomegalia, linfadenopatia, febre, perda ponderal. Exceção: se um portador de PTI apresentar sangramento importante (agudo ou crônico), ele pode acabar ficando anêmico!!! Deve-se ter atenção para não confundir o quadro clínico com o de uma leucemia aguda (frequentemente apresenta anemia + plaquetopenia). aspirado/biópsia de medula óssea: indicado diante de um quadro suspeito de PTI nas seguintes situações: (1) idade > 60 anos (devido ao maior risco de mielodisplasia nesta faixa etária, doença que pode cursar com plaquetopenia isolada, mimetizando a PTI); (2) presença de outras citopenias inexplicadas; (3) ausência de resposta ao tratamento da PTI. TRATAMENTO PTI AGUDA (CRIANÇAS) Contagem de plaquetas abaixo de 50.000 e superior a 20.000 sem sangramento: apenas conduta expectante Contagem de plaquetas abaixo de 30.000 com sangramento: glicocorticoide Contagem de plaquetas abaixo de 20.000 sem sangramento: glicocorticoide Obs: Toda ocasião de sangramento, deve-se tratar, independente do número de plaquetas O esquema posológico é controverso, mas pode- se fazer uma dose relativamente alta por curto período (ex.: prednisona 3-5 mg/kg/dia VO por 3- 7 dias, seguido de interrupção abrupta). Assim como no adulto, pode-se associar IVIG ou anti-D à corticoterapia, visando uma resposta terapêutica mais rápida. Deve-se orientar o paciente e seus familiares quanto à adoção de medidas preventivas do sangramento, como o uso de capacetes e a abstenção da prática de atividades físicas com risco de trauma. Além disso, deve-se evitar o uso de drogas com potencial de interferir na hemostasia, como AAS, AINEs e anticoagulantes. Se o quadro de hemorragia recidiva, costuma-se prescrever o glicocorticoide na menor dose efetiva (geralmente entre 2,5-5 mg VO/2x dia) até resolução espontânea da PTI ou desmame. PTI CRÔNICA (ADULTOS) Contagem de plaquetas abaixo de 50.000 e superior a 30.000 sem sangramento: apenas conduta expectante Contagem de plaquetas abaixo de 30.000 sem sangramento: glicocorticoide Obs: Toda ocasião de sangramento, deve-se tratar, independente do número de plaquetas 3 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 A base terapêutica consiste na corticoterapia (ex.: prednisona) de 2 a 4 semanas com desmame progressivo (a cada semana reduz 50% da dose), além do acompanhamento da contagem de plaquetas. O corticoide pode ou não ser associado à imunoglobulina humana intravenosa (1g/kg/dia IV por 2 dias) ou à imunoglobulina anti-D (75 mcg/kg IV dose única – indicado somente para pacientes com fator Rh positivo). A resposta ao corticoide costuma ser observada dentro de 3-5 dias. Já a resposta à IVIG ou ao anti- D costuma ser observada em apenas 24-36h, logo, a principal vantagem destes últimos é sua capacidade de promover um aumento mais rápido na contagem plaquetária (ex.: cirurgia de emergência)! A transfusão de plaquetas NÃO deve ser feita de rotina na PTI!!! As plaquetas transfundidas são opsonizadas pelos autoanticorpos antiplaqueta presentes no sangue do paciente, o que faz com que elas sejam prontamente removidas da circulação... Não obstante, SE O PACIENTE APRESENTAR SANGRAMENTO AGUDO GRAVE, RECOMENDA-SE TRANSFUNDIR PLAQUETAS!!! Se o paciente não responder ao tratamento (corticorefratário), ou se ele recidivar após a tentativa de desmame (corticodependente),indica-se uma abordagem de segunda linha, sendo as principais medidas desta etapa o uso de Rituximab, um anticorpo monoclonal anti-CD20 (375 mg/m2 IV, 1x por semana, durante 4 semanas) e o uso de Agonistas do Receptor de Trombopoietina, como o Romiplostim (1 mcg/kg SC 1x semana) ou o Eltrombopag (50 mg/dia VO). Se ainda assim o paciente continuar refratário, indica-se a esplenectomia, de preferência pela via videolaparoscópica. Vale lembrar que duas semanas antes de uma esplenectomia eletiva o paciente deve ser vacinado contra pneumococo, Haemophilus influenzae tipo b e meningococo. CRITÉRIO DE CURA: contagem de plaquetas acima de 100.000 por mais de 6 meses após tratamento = remissão completa
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