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PROBLEMA 3 TROMBOCITOPENIA OU PLAQUETOPENIA ❖ Trombocitopenia é definida como a contagem de plaquetas abaixo de 150.000/µL, cifra que é válida desde o recém-nascido até o indivíduo idoso. ❖ A plaquetopenia é definida como uma redução na contagem plaquetária em valores inferiores a 150 x 109 plaquetas/L. ❖ Existem três mecanismos básicos responsáveis pela sua ocorrência: diminuição de produção, aumento de destruição ou alteração de sua distribuição. FISIOPATOLOGIA / CAUSAS ❖ São muitas e diversas as causas de trombocitopenia: ❖ O diagnóstico deve se basear em uma pesquisa sistemática com base na anamnese, exame físico e finalmente nos testes laboratoriais → Hemograma e exame da medula óssea. ❖ Deve ser pesquisada a exposição a drogas na forma de medicamentos ou de drogas de abuso, e ainda o contato acidental ou profissional com agentes tóxicos. INSUFICIÊNCIA NA PRO DUÇÃO DE PLAQUETAS ❖ Geralmente associada a uma insuficiência global da MO; - Os distúrbios que provocam lesão da célula-tronco podem comprometer a diferenciação megacariocítica e levar à trombocitopenia; - Nestes casos, observamos com frequência anemia e/ou granulocitopenia associadas; - Citamos como exemplo as mielodisplasias e a anemia aplásica; - A leucemia ocupa espaço na medula e produz substâncias que inibem a hematopoiese, sendo a plaquetopenia um achado comum no momento do diagnóstico ❖ Trombopoiese ineficaz; - Análoga à eritropoiese ineficaz da anemia megaloblástica por carência de vitamina B12 ou ácido fólico, a trombopoiese ineficaz também pode ocorrer pelo mesmo mecanismo e pelas mesmas causas; - A medula contém aumento do número de megacariócitos, apesar de produzirem pouca plaqueta, por um problema de maturação nuclear (síntese de DNA). Por isso, é comum encontrarmos trombocitopenia (bem como granulocitopenia) na anemia megaloblástica. ❖ Uma depressão seletiva de megacariócitos pode resultar de toxicidade a fármaco ou de infecção viral; ❖ Em casos raros a trombocitopenia é congênita: - Mutação do receptor c-MPL de trombopoetina ou do gene RBM8A, associada à ausência dos rádios; - Anomalia de May-Hegglin, com grandes inclusões nos granulócitos e; - Síndrome de Wiskott-Aldrich (WAS), associada a eczema e deficiência imunológica. A WAS é causada por mutação no gene WASP, a proteína reguladora de sinalização das células hematopoéticas. ❖ Muito mais raramente a trombocitopenia será causada por falta de produção decorrente de doenças congênitas da medula óssea como: - Hipoplasia megacariocítica; - Síndrome da trombocitopenia e ausência do rádio; - Aplasia; - Leucemia; - Osteopetrose → caracteriza-se por esclerose óssea e resulta de um desequilíbrio entre formação e reabsorção ósseas decorrente de uma disfunção dos osteoclastos. A ausência de espaço para a medula óssea resulta em hematopoiese extramedular com consequente alterações hematológicas severas, associadas à atrofia óptica e 2 surdez por compressões nervosas, assim como retardo mental. - Anemia de Fanconi → é uma doença hereditária da reparação do ADN caracterizada por pancitopenia progressiva com falência da medula óssea, malformações congênitas variáveis e predisposição para tumores hematológicos ou sólidos. AUMENTO DA DESTRUIÇÃO DE PLAQUETAS ❖ As plaquetas têm vida média de 7 a 10 dias e o aumento de sua destruição periférica pode ocorrer por mecanismos imunológicos ou não imunológicos. ❖ As causas autoimunes da trombocitopenia incluem a púrpura trombocitopênica imunológica (PTI), o lúpus eritematoso sistêmico, doenças linfoproliferativas ou infecções virais, como o HIV e o vírus da hepatite C; - Aloanticorpos também podem causar a trombocitopenia neonatal e a púrpura pós-transfusional. Muitas drogas podem causar trombocitopenia por destruição periférica das plaquetas por meio de diferentes mecanismos. ❖ A trombocitopenia do recém-nascido em bom estado geral faz pensar em mecanismo imunológico: - Mediada por autoanticorpos maternos, como na púrpura trombocitopênica imunológica ou; - Por aloanticorpos maternos, no caso de mães sensibilizadas a antígenos plaquetários. Esta última condição deve ser identificada precocemente, pois traz risco de hemorragia grave; - Infecções virais congênitas também podem causar trombocitopenia nessa fase da vida. ❖ Os envolvidos no mecanismo não imunológico: - CIVD → síndrome caracterizada por excessiva geração de trombina, que ativa a coagulação de maneira patológica; - Sepse → Pacientes com sepse podem apresentar graus variáveis de plaquetopenia, geralmente secundária a múltiplos fatores causais, como CIVD, supressão medular, uso de medicações e destruição imune inespecífica. - PTT; - SHU. ALTERAÇÃO DA DISTRIB UIÇÃO E PERDA DILUCIONAL ❖ Aumento da retenção esplênica: - O principal fator responsável pela trombocitopenia na esplenomegalia é a retenção, ou “represamento”, de plaquetas no baço; - Em grandes esplenomegalias, até 90% das plaquetas podem estar sequestradas no baço, que normalmente contém cerca de um terço da massa total de plaquetas; - A sobrevida das plaquetas é normal e, na ausência de defeitos hemostáticos adicionais, a trombocitopenia da esplenomegalia não costuma estar associada a sangramento. - O aumento do baço decorrente de hipertensão portal (esplenomegalia congestiva) ou doenças infiltrativas (leucemia mieloide crônica, metaplasia mieloide agnogênica, linfomas, doença de Gaucher) pode levar a um maior sequestro de plaquetas nos cordões esplênicos e causar trombocitopenia; - Faz parte da síndrome do hiperesplenismo. ❖ Síndrome da transfusão maciça: - As plaquetas são instáveis no sangue armazenado a 4°C, e a contagem de plaquetas cai rapidamente no sangue armazenado por mais de 24 horas; - Os pacientes transfundidos com quantidades maciças de sangue armazenado (mais de 10 unidades em um período de 24 horas) apresentam, com frequência, coagulação anormal e trombocitopenia, as quais podem ser corrigidas com uso de transfusão de plaquetas e plasma fresco congelado. - Entretanto a resposta fisiológica do organismo costuma compensar este efeito dilucional, não sendo necessária a reposição rotineira de plaquetas e plasma em pacientes. APROFUNDANDO... TROMBOCITOPENIA INDUZIDA POR DROG AS (TID); ❖ É uma condição de alta prevalência, especialmente em pacientes hospitalizados, e nem sempre é de diagnóstico e manejo fáceis; ❖ Alguns critérios devem ser satisfeitos para que se possa atribuir a trombocitopenia a uma determinada droga: 1) a trombocitopenia deve ter ocorrido após o início do tratamento com a droga em questão; 2) não deve haver outra causa plausível para a ocorrência da trombocitopenia, relacionada à doença de base do paciente; 3) a contagem de plaquetas deve retornar ao normal, ou pelo menos deve se elevar aos níveis basais, com a suspensão da droga; Aloanticorpo é o nome dado a qualquer anticorpo surgido em um membro de uma espécie contra um antígeno alotípico de outro membro da mesma espécie. Exemplificando... A presença de anticorpos antieritrocitários (aloanticorpos) secundários à gravidez, transfusão sanguínea ou transplante de órgãos pode comprome ter transfusões subsequentes e, em algumas situações, até uma futura gravidez. 3 4) o diagnóstico deve ser confirmado in vitro, na presença da droga. ❖ Nem sempre é possível aplicar todos esses critérios em um determinado caso clínico. ❖ Diuréticos tiazídicos: - Podem causar trombocitopenia, habitualmente moderada, que se recupera rapidamente após a suspensão do medicamento, reaparecendo com sua reintrodução. ❖ Heparina : - A Trombocitopenia Induzida pela Heparina (TIH) é uma complicação rara, mas grave, do tratamento anticoagulante com heparinanão fracionada; - Habitualmente ocorre após 7 a 10 dias de tratamento com heparina por via intravenosa em dose alta e acompanha-se de trombose venosa e mais raramente de trombose arterial; - O manejo consiste em suspender a heparina e administrar outros tipos de anticoagulante, como a ancrod, a hirudina ou heparinoides. ❖ Quinidina: - Pode causar trombocitopenia grave, de origem imunológica, com frequência menor apenas que a heparina; - Ocorre dentro de 2 semanas de tratamento e torna-se intensa, acompanhada de manifestações hemorrágicas dentro de 8 semanas de uso da droga, em média; - Entretanto, uma segunda exposição pode causar trombocitopenia grave em algumas horas. ❖ Sulfas: - Existe uma forma em que ocorre grave redução da contagem de plaquetas algumas semanas após a ingestão do medicamento, com manifestações hemorrágicas; - O mecanismo é a produção de anticorpos antiplaquetas dependentes da droga; - O tratamento pode requerer uso de corticoide, além da suspensão do medicamento. ❖ Antibióticos b-lactâmicos: - Antibióticos como a penicilina, meticilina, ampicilina e uma série de cefalosporinas, podem causar TID em raras situações; - O modo de instalação da trombocitopenia é variável, podendo ocorrer após semanas de exposição; - O mecanismo também é imunomediado e o manejo requer apenas a suspensão da droga ❖ Ácido valproico: - O tratamento com ácido valproico pode causar trombocitopenia que, em geral, resolve-se espontaneamente, mesmo na continuidade da droga; - Ocorre uma redução moderada da contagem de plaquetas e pode haver também comprometimento da função plaquetária; - O mecanismo é pouco conhecido, mas parece haver redução da trombopoese e o efeito é proporcional à dose administrada; - A dose da medicação pode ser apenas reduzida, especialmente nos pacientes que estavam recebendo dose elevada, ou em associação com outros anticonvulsivantes, mas ela deve ser suspensa quando existe trombocitopenia grave. ❖ Álcool: - O etanol pode causar trombocitopenia, habitualmente após ingestão aguda de grandes quantidades, com redução moderada da contagem de plaquetas, em geral acima de 50.000 plaquetas/µL; - O quadro regride em 3 a 10 dias apenas com a abstinência; - O mecanismo mais provável é a trombopoese ineficaz. ❖ Cocaína: - O consumo de cocaína pode levar a trombocitopenia acentuada, provavelmente por mecanismo imunológico. Ocorre em geral após o uso intravenoso da droga; - O tratamento em geral requer hospitalização com suspensão da droga e administração de corticoide e imunoglobulina, com recuperação da contagem de plaquetas; - A reincidência no uso da droga pode requerer tratamento a longo prazo com corticoide ou até esplenectomia. 4 ❖ Antipsicóticos: - Drogas antipsicóticas podem causar trombocitopenia, embora o efeito mais frequente seja a leucopenia com neutropenia; - Apesar da frequência relativamente baixa, é prudente a realização de hemogramas seriados em pacientes tratados com esses medicamentos, como a clozapina, por exemplo ❖ Ácido Acetilsalicílico (AAS): - Sabemos que apenas uma dose de 300 mg desta droga é suficiente para inibir, de maneira irreversível, a cicloxigenase plaquetária; - O efeito, portanto, dura o tempo da meia-vida das plaquetas (5-7 dias); - Em indivíduos normais, este efeito não traz consequências clínicas importantes (a não ser em procedimentos cirúrgicos); - Entretanto, em pacientes com doença de von Willebrand ou defeitos herdados de proteínas da coagulação, um simples comprimido de AAS pode ser grave; - O sangramento pode ser controlado pela transfusão de plaquetas, pois após 24h da última administração, não há mais salicilato circulante. ❖ Anti-Inflamatórios Não Esteroides (AINE): - Eles inibem a função plaquetária de forma reversível, bloqueando a síntese de prostaglandinas; - O efeito dessas drogas sobre a função da plaqueta dura cerca de 48 horas. PÚRPURA PÓS-TRANSFUSIONAL ❖ É uma intrigante forma de púrpura alo-imune, que ocorre em pacientes que desenvolveram um aloanticorpo contra o antígeno plaquetário comum, o PLA-1, que é parte da glicoproteína IIIa da membrana plaquetária; ❖ Esse aloanticorpo ocorre em indivíduos PLA-1 negativos como resposta à exposição a plaquetas contendo esse antígeno, seja por gravidez ou por transfusão; ❖ Esse aloanticorpo fica quiescente por anos e seu nível se eleva após nova exposição ao antígeno, desencadeada pela transfusão; ❖ O quadro clínico é o desenvolvimento de trombocitopenia intensa, geralmente acompanhada de síndrome hemorrágica grave; ❖ A trombocitopenia ocorre por destruição periférica das plaquetas do indivíduo e postula-se que o antígeno PLA-1 solúvel trazido pela transfusão ligar-se-ia às plaquetas do receptor transformando-as no alvo do aloanticorpo; ❖ O corticoide e a transfusão de plaquetas são ineficazes, mas a administração de imunoglobulina em alta dose e a plasmaférese são eficazes para elevar a contagem de plaquetas. INFECÇÕES ❖ A trombocitopenia pode ocorrer em associação a infecções especialmente em pacientes em unidades de terapia intensiva e no período neonatal; ❖ Pode haver tanto depressão do setor megacariocítico da MO como aumento do consumo das plaquetas em processo de CIVD; ❖ Entretanto, nem todos os pacientes com sépsis têm ativação da coagulação e podem, na realidade, apresentar trombocitopenia mediada imunologicamente, conseguindo até se beneficiar com infusão de imunoglobulina. QUADRO CLÍNICO / ANA MNESE E EXAME FÍSICO ❖ As manifestações hemorrágicas habitualmente relacionadas à trombocitopenia são as petéquias, equimoses e sangramento de mucosas; ❖ O exame físico pode revelar, além das sufusões hemorrágicas, sinais de doenças associadas como esplenomegalia, adenomegalia, lesões cutâneas ou articulares, presentes em síndromes linfoproliferativas e doenças autoimunes. A avaliação clínica deve abordar: 1) Manifestações hemorrágicas; 2) Localização e gravidade do sangramento; 3) Presença de sintomas sistêmicos que sugiram causas secundárias (neoplasias, colagenoses,infecções); 4) Presença de esplenomegalia; 5) Uso de medicações e álcool; 6) História familiar de plaquetopenia e sangramentos; 7) Histórico transfusional; 8) Fatores de risco para infecção por HIV e hepatites; 9) Antecedentes de neoplasias hematológicas e não- hematológicas. ❖ Muitos pacientes com plaquetopenia podem ser assintomáticos; ❖ Em geral, indivíduos com plaquetometria superior a 50 x 109/L não apresentam manifestações hemorrágicas espontâneas; ❖ Os fenômenos hemorrágicos característicos na trombocitopenia ocorrem em território cutâneo-mucoso, diferentemente de pacientes com distúrbios da coagulação, que cursam com sangramentos profundos (músculos e articulações); - Assim, observam-se púrpuras e petéquias, equimoses superficiais, menorragia e metrorragia, epistaxes e, mais raramente, sangramento do trato gastrintestinal. 5 DIAGNÓSTICO ❖ Na avaliação laboratorial, o primeiro passo é a confirmação da trombocitopenia, detectada pelo contador automático de células, com base na análise do esfregaço do sangue periférico, de preferência realizado na ausência de anticoagulante. PSEUDOPLAQUETOPENIA ❖ Diante de um paciente com plaquetopenia, a confirmação da plaquetometria é necessária, já que, em alguns indivíduos, esta pode ser secundária à pseudoplaquetopenia,ou plaquetopenia espúria. ❖ A pseudoplaquetopenia ou plaquetopenia espúria é uma condição não-patológica na qual a contagem de plaquetas está falsamente reduzida em contadores automáticos; - Pode ser reconhecida por meio da análise das plaquetas na distensão de sangue periférico. ❖ É causada, na maioria dos casos, por auto-anticorpos naturais contra o complexo GPIIb/IIIa,exposto in vitro na superfície plaquetária pelo anticoagulante ácido tetraacético etilenodiamina (EDTA),levando a uma aglutinação plaquetária secundária à ligação desses auto- anticorpos; - Esses agregados podem ser interpretados pelo conta dor automático como leucócitos,levando à falsa impressão de plaquetopenia. ❖ Vários estudos demonstram uma incidência entre 0,09 e 0,21%, o que corresponde aaproximadamente 1 em cada mil exames (hemograma). ❖ Uma estratégia para a obtenção da plaquetometria real é a coleta da amostra em tubo com um anticoagulante alternativo,como a heparina ou o citrato de sódio; - A manutenção da amostra em temperatura de 37ºC também pode reduzir a formação de agregados de plaquetas em alguns casos. ❖ A pseudoplaquetopenia também pode ser secundária à presença de plaquetas gigantes,observadas em algumas trombocitopenias hereditárias, e de macroplaquetas. ❖ O satelitismo plaquetário é outro exemplo de pseudoplaquetopenia; - Mais raro (1/10.000), é causado por anticorpos IgG contra GPIIb-IIIa, que reagem simultaneamente com o receptor III leucocitário (FcgamaIII), formando uma imagem característica de roseta – as plaquetas se localizam ao redor da superfície dos neutrófilos ou monócitos. ACHADOS IMPORTANTES ❖ Na investigação da trombocitopenia, alguns achados são importantes para orientar no diagnóstico; ❖ A presença de grumos plaquetários, especialmente com distribuição não uniforme das plaquetas no esfregaço → pseudotrombocitopenia. ❖ O aumento do volume plaquetário, que pode ser constatado pela presença de macroplaquetas no esfregaço, ou pela medida do volume plaquetário feita por alguns contadores automáticos → aumento do “turnover” plaquetário, isto é, ao aumento da produção de plaquetas pela medula óssea em resposta à sua destruição periférica aumentada → PTI e CIVD; ❖ A presença de sinais de hemólise, como anemia, reticulocitose e policromasia, faz pensar em determinadas doenças; - O achado de esquizócitos sugere a PTT ou SHU; - Na ausência de esquizócitos, a hemólise pode ser secundária à presença de autoanticorpos, característica da síndrome de Evans, ou ser de natureza não imune, como na hemoglobinúria paroxística noturna. ❖ Nas trombocitopenias por aumento da destruição de plaquetas, o mielograma mostra riqueza do setor megacariocítico, o que não é específico de nenhuma das causas associadas, sendo pouco útil no diagnóstico diferencial das trombocitopenias por aumento de destruição; ❖ Alterações da série vermelha e de leucócitos auxiliam no diagnóstico de aplasia de medula, leucemia, infiltração da medula óssea por linfoma e de síndrome mielodisplásica; - Nesses casos, a análise da medula óssea é fundamental para que se estabeleça o diagnóstico. 6 EXAMES LABORATORIAIS ❖ O diagnóstico laboratorial inicia-se com a contagem plaquetária automatizada e a confirmação posterior por meio da contagem manual de plaquetas em amostras com EDTA e citrato de sódio; ❖ É importante a realização da distensão de sangue periférico para a exclusão de pseudoplaquetopenia, além da análise da morfologia plaquetária e dos outros componentes celulares do sangue. ❖ O exame da medula óssea é útil na avaliação da plaquetopoese, já que pode revelar alterações no número e morfologia dos megacariócitos; ❖ Outros testes laboratoriais podem auxiliar no diagnóstico da etiologia da plaquetopenia, como a análise do coagulograma na suspeita de CIVD, sorologias para HIV e hepatites B e C, assim como a análise de auto-anticorpos na suspeita de plaquetopenias secundárias a colagenoses. 7 TRATAMENTO ❖ O tratamento da trombocitopenia depende evidentemente de sua etiologia; ❖ Nos processos de destruição periférica da plaqueta, como se observa, por exemplo, na CIVD, na PTT, nas vasculites e na circulação extracorpórea, é fundamental que se controle o processo de base que causou o consumo de plaquetas; - Nesses casos, a transfusão de plaquetas, embora de eficácia reduzida, é importante para a manutenção da contagem de plaquetas em níveis seguros. ❖ A trombocitopenia induzida por drogas é habitualmente revertida após a suspensão do medicamento; ❖ Quando houver trombocitopenia muito intensa, a administração de corticoide e de imunoglobulina intravenosa pode estar indicada, e será benéfica nos casos em que houver participação de anticorpos interagindo com a plaqueta, na presença da droga; - A transfusão de plaquetas também pode ser necessária nos casos mais graves. ❖ Os pacientes com trombocitopenia por falta de produção vão se beneficiar com o tratamento da doença de base, mas a transfusão de plaquetas é a principal estratégia no manejo desses casos até o restabelecimento da função da medula óssea; ❖ Agentes estimuladores da trombopoese como o Eltrombopag e o Romiplostin poderão ser úteis aos pacientes que receberam drogas citotóxicas para tratamento de neoplasias, sendo eficazes em reduzir a duração da trombocitopenia e a necessidade transfusional nesses indivíduos. TROMBOMIMÉTICOS ❖ São fármacos que aumentam a produção de plaquetas por ativação do receptor de trombopoetina nos megacariócitos; ❖ Dois deles são romiplostim (uso subcutâneo, uma vez por semana) e eltrombopag (uso oral, diário); ❖ Eles são utilizados no tratamento de PTI e estão sendo testados em outras condições (p. ex., após quimioterapia, mielodisplasia, anemia aplástica). ❖ Podem causar disfunção hepática e aumentar a reticulina da medula óssea; ❖ O uso a longo prazo pode causar fibrose medular, reversível com a parada do tratamento. TRANSFUSÃO DE PLAQUETAS ❖ Transfusões de concentrados de plaquetas são indicadas nas seguintes circunstâncias: 1) Trombocitopenia ou função anormal de plaquetas, quando houver sangramento ou antes de procedimentos invasivos, sem disponibilidade de tratamento alternativo (p. ex., corticosteroides e imunoglobulina em altas doses); - A contagem de plaquetas deve estar acima de 50 × 103/mL antes de, por exemplo, biópsia hepática ou punção lombar. 2) Profilaticamente, em pacientes com contagem de plaquetas < 5 a 10 × 103/mL; - Se houver infecção, sítios potenciais de sangramento ou coagulopatia, a contagem deve ser mantida acima de 20 × 103/mL. ❖ Essas indicações poderão ser modificadas com o uso mais amplo de fármacos trombomiméticos. Protocolo de encaminhamento da Atenção Básica: – Condições clínicas que indicam a necessidade de encaminhamento para serviços de urgência/emergência (preferencialmente com hematologista): pessoa com trombocitopenia (<20.000 /μL) e manifestação hemorrágica; ou pessoa assintomática e valor de plaquetas inferior a 10.000 /μL; ou citopenias com critérios de gravidade. – Condições clínicas que indicam a necessidade de encaminhamento para hematologia: trombocitopenia com contagem plaquetária <50.000 /μL em pacientes assintomáticos, sem necessidade de repetir hemograma; ou trombocitopenia persistente após exclusão de pseudoplaquetopenia e causas secundárias na Atenção Primária à Saúde/Atenção Básica (APS/AB). 8 PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA IDIOPÁTICA (PTI) ❖ A PTI é uma patologia que se caracteriza pela ocorrência de plaquetopenia adquirida, frequentemente observada na forma crônica ou recorrente em adultos; - Em crianças, geralmente, o quadro é agudo e autolimitado após um evento infeccioso. ❖ A PTI caracteriza-se por trombocitopenia isolada sem outras condições clinicamente aparentes que a justifiquem. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA ❖ A Púrpura Trombocitopênica Imunológica ou autoimune (PTI) é uma doença hematológica frequente, que se caracteriza pela produção de autoanticorpos dirigidos contra proteínas da membrana plaquetária, principalmente os complexos GPIIb-IIIa, GPIb-IX e GPIa-IIa, o que leva à sensibilização das plaquetas que são fagocitadas por macrófagos, por meio de seus receptores para a fração constante da imunoglobulina associada à plaqueta. ❖ Classicamente, do ponto de vista fisiopatológico, a PTI é secundária à remoção prematura de plaquetas sensibilizadas por auto-anticorpos através do sistema reticuloendotelial; ❖ Entretanto, estudos mais recentes demonstram que a etiologia da PTI não é claramente conhecida ❖ A patogênese parece estar associada à destruição plaquetária e/ou inibição da produção plaquetária via anticorpos específicos; - Os autoanticorpos antiplaquetas (em geral, IgG) causam remoção prematura das plaquetas da circulação pelos macrófagos do sistema reticuloendotelial, sobretudo no baço. ❖ A sobrevida normal das plaquetas é de 9 a 10 dias, mas na PTI diminui para poucas horas; ❖ A massa total de megacariócitos e a reciclagem de plaquetas aumentam paralelamente em cerca de cinco vezes acima do valor normal. CLASSIFICAÇÃO PTI AGUDA ❖ As formas agudas predominam em crianças com menos de 5 anos, e desaparecem em poucos meses, não necessitando, na maioria das vezes, de interferência terapêutica. ❖ Cerca de 70% das crianças apresentam a forma recentemente diagnosticada; ❖ Recuperação das contagens de plaquetas (>150.000/mm3) em até 6meses, mesmo com ausência de tratamento específico; ❖ A terapia medicamentosa é direcionada para controle precoce dos sintomas e redução do risco de sangramentos graves, não afetando o prognóstico a longo prazo. PTI CRÔNICA ❖ É uma doença relativamente comum; ❖ A maior incidência parecia ser em mulheres com idade entre 15 e 50 anos, porém alguns relatos recentes sugerem haver aumento da incidência com o passar dos anos; - É a causa mais comum de trombocitopenia sem anemia ou neutropenia. ❖ Em geral, é idiopática, mas pode ser vista associada a outras doenças, como lúpus eritematoso sistêmico, infecções por vírus (HIV, HCV) ou Helicobacter pylori, leucemia linfocítica crônica, linfoma de Hodgkin e anemia hemolítica autoimune (síndrome de Evans). ❖ As formas crônicas (95% dos casos em adultos) melhoram temporariamente com imunossupressão, mas a maioria permanece indefinidamente em níveis baixos de plaquetas, apesar das intervenções terapêuticas, e em vida normal, com mínima incidência de hemorragias importantes. ❖ As remissões espontâneas são infrequentes, ocorrendo em menos de 10% dos casos. MANIFESTAÇÕES CLÍNIC AS ❖ Existe uma variabilidade significativa na apresentação clínica de PTI.O início do quadro pode ser abrupto e agudo ou insidioso. De maneira similar, o sangramento em pacientes sintomáticos pode variar de grave a apenas petéquias e equimoses espontâneas. - O início quase sempre é insidioso, com petéquias, equimoses fáceis e, em mulheres, menorragia. ❖ Os sinais clínicos da PTI são consequência da destruição plaquetária prematura, e sua gravidade é reflexo do equilíbrio entre a produção plaquetária pelos 9 megacariócitos e a remoção,através do sistema retículo endotelial, de plaquetas ligadas a autoanticorpos; - A hemostasia, portanto, é prejudicada em sua fase inicial (hemostasia primária). Os pacientes apresentam-se com acometimento cutâneo-mucoso prevalente. ❖ Os sinais típicos são petéquias (principalmente em membros inferiores) e equimoses espontâneas; - Epistaxe,gengivorragia e hipermenorragia ou metrorragia são comuns. ❖ Os sinais/sintomas mais raros: - Sangramento de TGI; - Hemorragia conjuntival e; - Hematúria macroscópica. ❖ Sangramento das mucosas, como epistaxe ou sangramento gengival, ocorre em casos graves; ❖ A hemorragia intracraniana é rara; ❖ Algumas vezes, o quadro clínico ocorre após um episódio de infecção viral, principalmente em crianças; - Nos adultos, essa característica é menos frequente. ❖ O baço não é palpável, salvo se houver doença associada que cause esplenomegalia. ❖ Na PTI não há evidência de outros sinais e sintomas de acometimento sistêmico. ❖ Muitos casos assintomáticos são descobertos em hemogramas de rotina; - Atualmente,30 a 40% dos pacientes adultos com PTI são assintomáticos. ❖ As manifestações clínicas ocorrem habitualmente naqueles indivíduos com contagem plaquetária inferior a 30 mil/mm3,sendo mais evidentes e graves em níveis plaquetários inferiores a 10 mil plaquetas/mm3,ou quando há uma redução abrupta da plaquetometria; - Isso ocorre porque as plaquetas circulantes nos pacientes com PTI são mais jovens e com maior poder hemostático; - As manifestações clínicas nesses indivíduos são menos graves quando comparadas a pacientes com plaquetopenia equivalente, porém com etiologia alternativa, como aquelas secundárias à insuficiência medular (p. ex., na aplasia de medula óssea idiopática ou induzida por quimioterapia). ❖ As manifestações clínicas de trombocitopenia também variam de acordo com a idade do paciente; - Os mais idosos apresentam manifestações de sangramento mais graves com níveis plaquetários similares a indivíduos mais jovens,como sangramento de TGI e em sistema nervoso central. DIAGNÓSTICO ❖ O diagnóstico de PTI é de exclusão das demais causas de trombocitopenia por consumo periférico das plaquetas, tais como: - Hiperesplenismo, hepatopatia ou CIVD, condições estas de fácil reconhecimento pelo clínico, daí serem raras as situações de dúvida no diagnóstico. ❖ Não existe um teste padrão de referência que estabeleça o diagnóstico de PTI; - A trombocitopenia isolada é sua alteração essencial. ACHADOS ❖ A contagem de plaquetas geralmente está em 10 a 100 × 103/mL, e o volume plaquetário médio (VPM), um pouco aumentado, - A hemoglobina e o leucograma são normais, salvo se houver anemia ferropênica causada por perdas re- petidas de sangue. ❖ A distensão sanguínea mostra a diminuição do número de plaquetas e a presença de plaquetas grandes; - Não há alterações nas demais séries. ❖ A medula óssea mostra número normal ou aumentado de megacariócitos, geralmente com desvio para formas mais imaturas e com menor poliploidia nuclear e de produção plaquetária. - A morfologia da medula óssea é normal; - A mielopoese e a eritropoese estão normais; - O exame da medula óssea não é necessário na maioria dos pacientes. ❖ Testes sensíveis são capazes de demonstrar a presença de anticorpos específicos antiglicoproteínas GPIIb/IIIa ou GPIb na superfície das plaquetas, ou no soro, da maioria dos pacientes; - A dosagem de IgG associada às plaquetas é menos específica; 10 - As pesquisas de anticorpos não são difundidas na prática clínica. TESTES RECOMENDADOS ❖ Os únicos testes recomendáveis para os pacientes com suspeita clínica de PTI são: - Testes para HIV e HCV em pacientes com fatores de risco associados; - Teste de função tireoidiana para exclusão de hipertireoidismo e/ou hipotireoidismo não manifestados clinicamente,previamente a esplenectomia eletiva; - Mielograma em pacientes com mais de 60 anos, para descartar síndrome mielodisplásica,e nos menores de 18,para exclusão de leucemias agudas.Também deve ser realizado em pacientes não responsivos a terapia e previamente a esplenectomia, com o objetivo de reavaliação/confirmação do diagnóstico inicial de PTI. TRATAMENTO ❖ Na doença crônica, o objetivo do tratamento deve ser a manutenção da contagem de plaquetas acima do nível no qual ocorrem equimoses ou sangramento espontâneo, com um mínimo de intervenção; ❖ Em geral, com uma contagem de plaquetas acima de 20 × 103/mL, um paciente assintomático não requer tratamento; ❖ Indica-se o tratamento da PTI em adultos quando as plaquetas caem abaixo de 20.000-30.000/ ml, mesmo na ausência de sintomas, ou então quando o paciente apresentasangramento significativo, independentemente da contagem plaquetária. CORTICOIDES ❖ O tratamento inicial da PTI é a prednisona na dose de 1 a 2 mg/kg/dia; - Ex.: prednisona 1 mg/kg/dia por 7-10 dias, seguido de desmame progressivo ou; - dexametasona 40 mg/dia durante 4 dias a cada 2 semanas, repetindo por 4 ciclos. ❖ A droga pode ser mantida até um nível seguro de plaquetometria ser atingido, quando o desmame deverá ser iniciado e completado em aproximadamente 4 a 6 semanas; ❖ A maioria dos adultos com PTI respondem a essa abordagem em 2 semanas (grande parte na primeira semana); ❖ O corticoide pode ou não ser associado à imunoglobulina humana intravenosa (1g/kg/dia IV por 2 dias) ou à imunoglobulina anti-D (75 mcg/kg IV dose única – indicado somente para pacientes com fator Rh positivo). ❖ Os efeitos colaterais da corticoterapia incluem o ganho de peso, com facies cushingoide , o aparecimento de acne e de estrias, que podem ser problema estético grave; - Aparecimento de diabetes melito, que deve ser controlado, hipertensão arterial, osteoporose, que pode ser importante em alguns pacientes, insônia e psicose. ❖ Alguns pacientes apresentam dores musculares e astenia intensa quando da suspensão da droga, mesmo que de maneira progressiva. IMUNOGLOBULINA INTRAVENOSA (IGIV) E ANTI- RH (ANTI-D) ❖ Esses agentes são uma terapia apropriada para atingir uma elevação rápida e temporária da contagem plaquetária,ideal para o manejo de sangramentos gravesou pré-procedimentos cirúrgicos; - A resposta à IVIG ou ao anti-D costuma ser observada em apenas 24-36h. ❖ .As doses preconizadas são: - IGIV – 1 g/kg/d EV por 2 dias ou 400 mg/kg/d por 5 dias; - Anti-D – 50 a 75 mcg/kg/d EV. ❖ A IGIV é particularmente útil em pacientes com hemorragias que colocam a vida em risco, na PTI refratária a corticosteroides, durante a gravidez e antes de cirurgia; - É contra-indicada em pacientes com deficiência seletiva de IgA; - A maioria dos efeitos colaterais está associada à velocidade de infusão (dor torácica,cefaléia e anafilaxia) ❖ A imunoglobulina anti-D pode ser utilizada em pacientes Rh positivos, e parece ser eficaz naqueles que não foram submetidos à esplenectomia; - Pode desencadear hemólise aloimune, através da sua ligação aos eritrócitos Rh positivos com posterior remoção pelo sistema retículo endotelial. ESPLENECTOMIA ❖ A esplenectomia é um tratamento efetivo para a PTI, levando a remissão completae durável em dois terços dos pacientes; ❖ É terapia de segunda linha, já que 9% dos indivíduos apresentam PTI aguda e entram em remissão espontaneamente; ❖ Deve ser considerada após 6 meses de evolução naqueles pacientes com plaquetopenia persistente e grave, após falha de resposta com corticosteróides,ou mais precocemente em alguns casos graves e refratários; 11 ❖ Os principais efeitos da esplenectomia são a eliminação do maior sítio de destruição de plaquetas ligadas a anticorpos; ❖ As complicações cirúrgicas não são comuns em mãos experientes, especialmente com as técnicas laparoscópicas atuais; ❖ É associada a um pequeno risco (não desprezível) de complicações infecciosas por germes encapsulados por toda a vida do indivíduo; - É recomendado que todos os pacientes sejam imunizados com a vacina pneumocócica polivalente, vacina para Hemophilus influenzae b e vacinação antimeningocócica. ❖ A esplenectomia também está associada a um risco trombótico, tais como AVC, IAM e hipertensão pulmonar,muitas décadas após o procedimento. TRANSFUSÃO DE PLAQUETAS ❖ A transfusão de plaquetas NÃO deve ser feita de rotina na PTI; ❖ Concentrados de plaquetas são indicados para pacientes com sangramento agudo que coloque a vida em risco, mas o efeito benéfico dura apenas algumas horas; - Por mais que as novas plaquetas venham a ser opsonizadas, na vigência de sangramento agudo parte delas será imediatamente aproveitada na criação de um tampão hemostático. OUTROS TRATAMENTOS ❖ Anticorpos monoclonais como o rituximabe (anti-CD20) produz respostas, em geral duradouras, em cerca de 50% dos casos, e atualmente é tentado antes de indicar-se esplenectomia; ❖ Fármacos imunossupressores, como vincristina, ciclofosfamida, azatioprina, micofenolato de mofetil ou ciclosporina, isoladamente ou em combinação; - Em geral são reservados para pacientes que não respondem de maneira satisfatória ao tratamento com corticosteroides e rituximabe. ❖ Agonistas da trompoetina como o romiplostim (subcutâneo) e eltrombopag (oral) são agonistas não peptídicos do receptor de trombopoetina (trombomiméticos); - Eles estimulam a trombopoese e são indicados para pacientes com contraindicação ou refratários a corticoides. PTI CRÔNICA REFRATÁR IA ❖ Os casos de PTI crônica refratária são considerados aqueles com persistência de trombocitopenia após 6 meses de terapia inicial, incluindo esplenectomia, com necessidade de tratamento ativo para manter nível plaquetário seguro e sem sangramentos; ❖ O danazol,s upressor de LH/FSH, parece atuar através da redução de receptores Fc em macrófagos esplênicos; - É utilizado inicialmente na dose de 200 mg, VO, 2 vezes/dia. ❖ As estratégias descritas abaixo devem ser restritas àqueles casos com plaquetopenia grave e sintomática: - Vincristina: dose de 1 a 2 mg, EV, a cada 4 a 6 semanas. Aproximadamente 2/3 dos pacientes apresentam uma elevação rápida na contagem plaquetária,porém com duração de 1 a 3 semanas. A resposta sustentada ocorre em menos de 10% dos indivíduos. Tem como principais efeitos colaterais a neurotoxicidade e o íleo paralítico; - Azatioprina: quando administrada isoladamente na dose de 2 mg/kg/dia pode induzir alguma resposta em um período de 6 meses. Em alguns casos, induz imunossupressão exagerada ou neoplasia secundária; - Rituximabe (anti-CD20) pode levar à remissão completa em até 30% dos casos. Só que possui muitos efeitos adversos. SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA ❖ Define-se como emergência a presença de sangramento intracraniano ou mucoso (digestivo, geniturinário ou respiratório) com instabilidade hemodinâmica ou respiratória, em pacientes com PTI. ❖ O tratamento é baseado em consenso internacional e em o pinião de especialistas consistindo de: ‐ Transfusões de plaquetas com ou sem IVIg: recomenda-se 3 vezes mais do que o usual, em vista da destruição rápida das plaquetas que ocorre na PTI (3 uni dades para cada 10 kg de peso); ‐ Corticosteroide em altas doses: 15 a 30 mg/kg de metilprednisolona por 3 dias em crianças e 1 g/dia por 3 dias em adultos; ou ‐ IVIg: 0,8 a 1 g/kg por 1‐2 dias (repete- se a dose no segundo dia se a contagem de plaquetas perm anecer abaixo de 50.000/mm3). ❖ Em casos selecionados é possível combinar tratamentos a adicionar a transfusão de plaquetas. PTI NA GESTAÇÃO ❖ Muitas vezes, a PTI durante a gestação é motivo de grande preocupação no momento do parto e para o recém-nascido pela possibilidade de ocorrência de trombocitopenia no feto; ❖ O parto deve ser realizado conforme a indicação obstétrica,e a contagem plaquetária materna deve ser mantida acima de 25 x 109/L a 50 x 109/L; ❖ Pacientes grávidas, no segundo e terceiro trimestres, com plaquetas abaixo de 50.000/µL devem se tratadas, no sentido de prevenir sangramento materno e reduzir a possibilidade de trombocitopenia fetal; - O tratamento de escolha é a imunoglobulina intravenosa, que provoca menos efeitos colaterais que o corticoide, que também pode ser usado. 12 ❖ A contagem de plaquetas do recém-nascido deve ser monitorizada por 3 a 7 dias após o nascimento, pois ela pode se reduzir ainda mais, fato provavelmente relacionado à maturidade esplênica; - A criança com trombocitopenia abaixo de 30.000/µL deve ser avaliada no sentido de diagnosticar hemorragiaintracraniana, mesmo na ausência de sintomas neurológicos; - Quando há trombocitopenia com menos do que 20.000 plaquetas/µL ela deve ser tratada com imunoglobulina intravenosa e corticoides. ❖ A trombocitopenia gestacional, uma causa comum de trombocitopenia durante a gestação,deve ser diferenciada da PTI; - Ocorre em aproximadamente 5% das mulheres, próximo ao final da gestação não complicada; - Os critérios diagnósticos para trombocitopenia gestacional incluem: 1) trombocitopenia assintomática, tipicamente > 70 x 109/L; 2) ausência de plaquetopenia prévia; 3) ocorrência no final da gestação; 4) ausência de trombocitopenia fetal; 5) resolução espontânea após o parto. PTI NA INFÂNCIA ❖ Na PTI aguda da infância, a incidência de remissão espontânea é frequente, e em muitos casos nenhum tratamento é indicado; ❖ Entretanto, para crianças com quadro mais grave, caracterizado por sangramento mucoso, o tratamento com corticoide deve ser instituído, mas somente após a realização do mielograma; - Com o objetivo de se afastar a possibilidade do diagnóstico de leucemia linfoide aguda. ❖ Prednisona: 1mg/kg/dia, por via oral, com redução progressiva da dose após adequada resposta terapêutica; ❖ Dexametasona: 20mg/m2/dia (até 40mg/dia), por via oral ou intravenosa, durante 4‐8 dias; ❖ Outra modalidade de tratamento útil nessa faixa etária é a administração de imunoglobulina intravenosa, que pode induzir boa resposta, mesmo que temporária, adiando o momento da esplenectomia. - 0,8 a 1g/kg por dia, por via intravenosa, durante 1‐ 2 dias (repetir no segundo dia se a plaquetometria estiver a baixo de 20.000 plaquetas/mm3 ). PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA TROMBÓTICA (PTT) ❖ A Púrpura Trombocitopênica Trombótica (PTT) é uma doença caracterizada pela presença de Microangiopatia Trombótica (MAT); ❖ O pico de incidência ocorre entre 30 e 50 anos de idade, e parece afetar mais os afro-descendentes e as mulheres, numa razão de aproximadamente 3:1; ❖ A PTT é uma patologia rara, caracterizada por trombocitopenia, anemia hemolítica microangiopática, de causa não elucidada. MICROANGIOPATIA TROMBÓTICA ❖ A microangiopatia trombótica é definida pela presença de trombocitopenia e de hemólise microangiopática; - A hemólise microangiopática pode ser reconhecida pela presença de hemácias fragmentadas (esquizócitos) no esfregaço do sangue periférico. ❖ Histologicamente, observa-se edema da parede dos capilares e arteríolas, separação entre as células endoteliais edemaciadas e a membrana basal e acúmulo de fibrina e proteínas plasmáticas no espaço subendotelial, resultando numa diminuição do lúmen vascular, onde pode ocorrer a trombose; ❖ Além da PTT, a microangiopatia trombótica é encontrada na Síndrome Hemolítico-Urêmica (SHU) → presente em outras doenças como na pré-eclâmpsia/síndrome HELLP, nas doenças autoimunes (LES), nas infecções sistêmicas, nos cânceres disseminados e na hipertensão maligna. - Apesar de compartilharem do mesmo substrato morfológico, essas doenças apresentam mecanismos fisiopatológicos distintos. FISIOPATOLOGIA ❖ A púrpura trombocitopênica trombótica (PTT) ocorre nas formas hereditária e adquirida; ❖ Há deficiência da metaloprotease ADAMTS13, que cliva multímeros de peso molecular “ultragrande” do fator von Willebrand (ULVWF) ❖ A fisiopatologia implicada na PTT idiopática envolve a inibição,por autoanticorpos, da atividade de uma metaloprotease – a disintegrin and metalloprotease thrombospondin (ADAMTS 13), responsável pela clivagem dos multímeros de peso molecular “ultragrande” do fator de von Willebrand (ULVWF); ❖ Em condições fisiológicas, os polímeros do FVW (secretados pelos corpúsculos de Weibel-Palade) são clivados pela protease ADAMTS13 ao ingressarem na microcirculação, tornando-se multímeros progressivamente menores; - Na ausência dessa protease, a proteólise dos multímeros e polímeros não ocorre e, dessa maneira, essas extensas moléculas de FVW, ao passarem pela microcirculação, onde são expostas à tensão de cisalhamento, são 13 “desdobradas” e transformadas em formas alongadas e ativas, predispondo à agregação plaquetária e trombose; ❖ A trombose plaquetária intravascular contribui para o aumento da tensão de cisalhamento na microcirculação, o que favorece o desdobramento e alongamento de mais moléculas de FVW, com consequente trombose adicional. Na síndrome hemolítico-urêmica (SHU), estreitamente relacionada, os níveis de ADAMTS13 são normais. CLASSIFICAÇÃO PTT CONGÊNITA ❖ A forma congênita, também conhecida como Síndrome de Upshaw-Schulman, é rara e pode-se manifestar em qualquer idade; ❖ Muitas vezes é recorrente e desencadeada por algum fator como infecção, cirurgia, gestação, constipação intestinal, pancreatite, entre outros; ❖ A fisiopatogênese está associada à deficiência da ADAMTS13 decorrente de mutações no gene ADAMTS13; ❖ Quando o primeiro episódio de PTT acomete o indivíduo na fase adulta, torna-se difícil a distinção entre essa forma e a forma adquirida da doença. PTT ADQUIRIDA ❖ Pode ser definida como idiopática quando a anemia hemolítica microangiopática e a trombocitopenia ocorrem na ausência de uma etiologia alternativa; ❖ Etiologias alternativas: hemólise autoimune, coagulação intravascular disseminada, câncer, eclâmpsia, drogas (como inibidores da calcineurina), transplante de células- tronco hematopoéticas ou hipertensão maligna; - Caso alguma dessas condições esteja presente, é uma PTT secundária. ❖ Na maioria dos casos de PPT idiopática, encontra-se uma diminuição da atividade da ADAMTS13, enquanto na PTT secundária raramente isso acontece. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ❖ A PTT tem sido tradicionalmente descrita como um quinteto composto de: - Trombocitopenia; - anemia hemolítica microangiopática; - Alterações neurológicas; - Comprometimento renal e; - Febre. ❖ A PTT pode se apresentar de forma súbita ou insidiosa em indivíduos previamente normais; ❖ Classicamente, a PTT afeta o sistema nervoso central, o coração, o sistema hematopoético e os rins; ❖ O paciente se apresenta com sinais e sintomas neurológicos de grande heterogeneidade e, eventualmente, de características transitórias e frustras, que confundem o médico-assistente; - Esse quadro pode variar de leve cefaleia até o coma; - As crises convulsivas são relativamente comuns. ❖ Os pacientes podem apresentar hemorragia cutânea, gengivorragia e epistaxe; - Sangramento grave é incomum. ❖ Cerca de metade dos pacientes tem febre à apresentação; ❖ A função renal costuma estar alterada, mas a insuficiência renal é rara na PTT clássica; ❖ A maioria dos pacientes apresenta palidez e icterícia, em razão da hemólise microangiopática; ❖ A deterioração clínica pode ser muito rápida. DIAGNÓSTICO ❖ Laboratorialmente, a PTT é caracterizada por: - Trombocitopenia, geralmente inferior a 100 x 109/L; - Anemia hemolítica microangiopática → presença de anemia normocrômica e normocítica, com aumento do número de reticulócitos; - Presença de esquizócitos → a fragmentação eritrocitária é mecânica e ocorre após colisão com trombos plaquetários e depósitos de fibrina presentes nas arteríolas e capilares do órgão afetado. - DHL (desidrogenase láctica) elevado → origina-se tanto das células teciduais isquêmicas ou necróticas como nas da hemólise; - Bilirrubina indieta elevada; - Coagulograma normal. ❖ A ADAMTS13 está ausente ou significativamente reduzida no plasma; ❖ Na PTT, A mortalidade em pacientes não tratados pode atingir 90%, refletindo a importância do diagnóstico e do tratamento precoces. Na prática clínica corrente, trombocitopenia e esquizócitos no hemograma e uma elevação expressiva da desidrogenase láctica (LDH) são suficientespara sugerir o diagnóstico. TRATAMENTO ❖ Antes da introdução da troca plasmática automatizada (plasmaférese terapêutica), a PTT era fatal em cerca de 90% dos pacientes por ela acometidos; 14 - A morte costumava ocorrer nos primeiros 10-15 dias, em geral, por insuficiência de múltiplos órgãos. PLASMAFERESE ❖ O tratamento eficaz é a troca de plasma, usando-se plasma fresco congelado ou criossobrenadante; - Isso remove os multímeros de alto peso molecular e o anticorpo e supre ADAMTS13. ❖ O mecanismo terapêutico da plasmaferese provavelmente reflete a retirada dos multímeros do fvW de alto peso, dos fatores pró-agregantes e de imunocomplexos circulantes. ❖ A plasmaférese terapêutica com reposição de Plasma Fresco Congelado (PFC) deve ser iniciada tão logo seja possível, de preferência nas primeiras horas após a internação hospitalar e, frequentemente, antes mesmo da exclusão de outras formas de microangiopatia trombótica, em razão do caráter muitas vezes fulminante da PTT; - A transfusão simples de PFC se justifica caso não seja possível iniciar a plasmaférese nos primeiros dois ou três dias do diagnóstico, ou até a transferência do paciente com PTT a hospital que realiza esse procedimento. ❖ Recomenda-se a realização de plasmaférese diária, com o processamento de 1 a 1,5 volemia plasmática, até alguns dias depois do controle da doença; ❖ A plasmaferese deve ser realizada retirando-se diariamente todo o plasma do paciente (40 ml/ kg), trocando-o por unidades de plasma fresco congelado; ❖ O período médio é de dez dias; ❖ Não há esquema terapêutico universalmente estabelecido; - A sugestão da Sociedade Americana de Aférese é que a plasmaférese seja realizada até que a contagem plaquetária atinja níveis superiores a 150.000/µL e haja o restabelecimento de valores normais de DHL por 2 a 3 dias consecutivos. ❖ Melhora clínica significativa: - Normalização da contagem de plaquetas.; - redução significativa dos sinais laboratoriais de hemólise microangiopática e; - dos níveis da DHL. ❖ Mesmo nos pacientes críticos, a plasmaferese apresenta efeitos dramáticos; - As manifestações neurológicas desaparecem em poucas horas; CORTICOIDES ❖ Muitos médicos também administram corticosteroides em doses imunossupressoras em conjunto com a plasmaferese, cujo objetivo é reduzir a formação de anticorpos patogênicos, como o anti-ADAMST 13. - Prednisona: 2 mg/kg/dia ❖ Tão logo o paciente responda devemos reduzir a dose de corticoterapia! TTO DA REFRATARIEDADE E RECIDIVA ❖ A refratariedade ao tratamento foi definida como a persistência de trombocitopenia (< 150.000/µL) ou desidrogenase lática em níveis elevados depois de pelo menos 7 dias de plasmaférese diária; ❖ Reavaliar o paciente quanto à presença de infecção oculta, por exemplo, em cateter central, ou a presença de doença subjacente, como neoplasia e infecção pelo HIV; - Excluídas essas possibilidades, recomenda-se intensificar a troca de plasma, aumentando de 1 para 1,5-2,0 volemias de troca plasmática, e administrar corticosteroides aos pacientes que ainda não o estiverem usando. ❖ Se depois de 2-3 semanas de plasmaférese terapêutica → sem melhora clínica consistente → tratamento de segunda linha; ❖ Em casos refratários e em casos crônicos recidivantes são usados: - Corticosteroides em altas doses, vincristina, imunoglobulina intravenosa, rituximabe e tratamento imunossupressor com azatioprina ou ciclofosfamida. ❖ Recidivas são frequentes ESPLENECTOMIA ❖ Na PTT, a esplenectomia tem papel considerado subsidiário, reservado em geral aos casos em que ocorre mais de um episódio de recidiva; ❖ Seu índice de sucesso é de mais de 80%; - Mortalidade associada a esse procedimento é baixa quando o paciente está em boas condições clínicas. ❖ Num caso de recidiva, iniciar o tratamento convencional com a plasmaférese até a estabilização clínica do paciente, para só então proceder à esplenectomia. PTT CONGÊNITA (SÍND. DE UPSHAW- SCHULMAN) ❖ Como nesse tipo de PTT não existe anticorpo inibidor da ADAMTS13, não há a necessidade de procedimento de troca plasmática; ❖ A suplementação da enzima pode ser conseguida com a transfusão simples de plasma; - Dose de 10-15 mL/Kg, geralmente a cada 2 a 3 semanas, indefinidamente. A transfusão de plaquetas em geral não está indicada na PTT, até porque o fenômeno patológico mais importante é o da obstrução da microvasculatura e não o do sangramento grave. Além do mais, a transfusão de plaquetas pode precipitar piora da oclusão vascular. 15 SÍNDROME HEMOLÍTICO -URÊMICA (SHU) ❖ A síndrome hemolítica urêmica (SHU) é uma grave doença caracterizada por anemia microangiopática, trombocitopenia e insuficiência renal aguda; ❖ Acomete mais frequentemente crianças de pouca idade e geralmente ocorre em decorrência da infecção pela toxina Shiga, produzida por bactérias como a Escherichia coli, mais comumente o sorotipo O157: H7; ❖ A doença é autolimitada, e a insuficiência renal geralmente se resolve em 2 a 3 semanas; - Mas alguns pacientes podem levar meses para a normalização da função renal. SHU ≠ PTT ❖ Por algum tempo, a SHU e a púrpura trombocitopênica trombótica (PTT) foram tratadas como uma só doença, devido a semelhança das manifestações clínicas ocorridas em ambas; ❖ A diferenciação dessas patologias foi descrita em 1955 por Gasser e colaboradores, onde foi realizada uma descrição detalhada sobre a SHU, definindo as manifestações clínicas cardinais e a ocorrência de duas formas distintas da doença: - SHU clássica e SHU atípica. ❖ Na SHU,a deficiência de ADAMTS 13 é rara; ❖ Tem maior prevalência em crianças com menos de 5 anos sendo rara em adultos; ❖ Diferentemente da PTT, observam-se insuficiência renal e oligúria com necessidade frequente de diálise, além de dor abdominal e diarréia sanguinolenta em alguns casos. DIAGNÓSTICO ❖ A SHU é diagnosticada através da observação das manifestações clínicas e sua confirmação é dada mediante resultados de exames laboratoriais de sangue, que avaliem a função renal e a presença de anemia microangiopática. EXAMES BIOQUÍMICOS - ↑LDH- Desidrogenase láctica (anemia hemolítica); - ↑ BI- Bilirrubina indireta (hemólise intensa); - ↑ Uréia e creatinina – marcadores renais; - Hipercalemia (↓TFG, acidose metabólica e hemólise); - Hiponatremia (dilucional); - Hiperfosfatemia; - Hipoalbuminemia; - Outros: ↑colesterol, triglicerídeos, lipídios totais, ácido úrico, transaminases, lipase e amilase, glicose. OUTROS EXAMES ❖ Coprocultura: - Com amostra de fezes coletadas no início da doença; - Essas amostras devem ser semeadas em meio Agar MacConkey Sorbitol (SMAC) e em algum outro meio para identificação de enterobactérias; - Se não houver crescimento no meio SMAC, isso pode indicar o sorotipo O157: H7, uma vez que estes microorganismos não conseguem fermentá-lo; - Se as características bioquímicas forem compatíveis com E.coli, deverá ser realizado o teste de aglutinação em lâmina com o anti-soro O157. ❖ Sorologia: - Pesquisa de anticorpos anti-LPS dos sorotipos de E.coli que produzem a toxina Shiga, como O157, O26, O103, O111 e O113; - Para isso, duas amostras de sangue deverão ser necessárias. SHU TÍPICA FISIOPATOLOGIA ❖ A maioria dos casos de SHU (90%) é causada pela infecção por uma toxina Shiga-símile produzida pela Escherichia coli O157:H7 (STEC, do inglês: “Shiga-like Toxin Escherichia Coli”); - Nesses casos, a SHU é denominada típica e acomete crianças que apresentam um quadro súbito de diarreia hemorrágica, acompanhada de falência renal. ❖ A fisiopatologia dessa doença está relacionada ao fato de que a toxina Shiga é responsável por causar uma lesão vascular renal, através da ligação da holotina ao globotriaosilceramida(Gb3), um glicopeptídio que se encontra na superfície das células endoteliais renais; - Isso faz com que as células endoteliais dos capilares glomerulares, liberem substâncias vasoativas e agregantes plaquetários, levando a formação de edema e microtrombos. ❖ Isso resulta em uma coagulação intravascular glomerular; - Dessa maneira, os eritrócitos não conseguem passar pelos glomérulos renais e são destruídos, resultando na anemia microangiopática MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ❖ Os pacientes em geral apresentam palidez cutânea, associada à presença de hematúria, edema periférico e hipertensão arterial; ❖ As manifestações neurológicas podem estar presentes e incluem letargia, irritabilidade, convulsão e, nos casos mais graves, paresia, coma e edema cerebral. TRATAMENTO ❖ Não há tratamento específico para a SHU típica; ❖ As medidas de manutenção e de controle da insuficiência renal estão indicadas; 16 ❖ A diálise é frequentemente necessária, assim como a transfusão de hemácias; ❖ A transfusão de plasma ou a sua troca por aférese parecem não trazer benefícios; - No entanto, especialmente nos adultos, em que a distinção da SHU da PTT pode ser muito difícil, a plasmaférese pode ser indicada. ❖ A resolução espontânea do quadro ocorre em aproximadamente 1 a 3 semanas do diagnóstico, com recuperação da função renal em 80-90% dos casos. SHU ATÍPICA ❖ Cerca de 5-10% dos casos de SHU apresentam anemia hemolítica microangiopática, trombocitopenia e insuficiência renal, porém sem história de diarreia hemorrágica ou de infecção prévia por STEC. - Essa forma da doença é denominada SHU atípica, que pode ser familiar ou esporádica. ❖ A forma familiar caracteriza-se por prognóstico ruim, evoluindo para óbito ou doença renal terminal em 50 a 80% dos casos. - Manifesta-se, em geral, na infância e está associada tanto à herança autossômica dominante quanto recessiva. ❖ A SHU atípica esporádica se desenvolve em indivíduos sem história familiar da doença; - Essa forma muitas vezes se associa à presença de um fator desencadeante como a infecção pelo HIV, câncer, transplante de órgão, gestação, uso de drogas antineoplásicas, agentes imunossupressores (como o tacrolimus e a ciclosporina) e antiagregantes plaquetários (como ticlopidina e clopidogrel); - No entanto, aproximadamente 50% dos casos esporádicos parecem ser idiopáticos. FISIOPATOLOGIA ❖ A fisiopatologia da SHU atípica está associada a alterações na regulação da via alternativa do complemento; - Mutações no C3, fator H, fator I e na proteína cofatora de membrana (CD56) foram descritas nesses pacientes. TRATAMENTO ❖ O tratamento da SHU atípica pode incluir a plasmaférese terapêutica; - Entretanto, seu papel ainda não está claramente definido; - Mais comumente, há uma resposta inicial que não se mantém, e os pacientes acabam evoluindo para a insuficiência renal crônica. ❖ Alternativa promissora parece ser o anticorpo monoclonal eculizumabe, dirigido contra a proteína C5 do sistema do complemento; - Esse anticorpo, já usado com sucesso no tratamento da hemoglobinúria paroxística noturna e no transplante de rim, inibiria a ativação da via final do complemento. Hemodiálise e o controle da hipertensão constituem a base do tratamento. Transfusões de plaquetas são contraindicadas na SHU e na PTT.
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