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RESUMO DE IESC GO M1

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Resumo de IESC - Duda Valio 
Conhecer os princípios e diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher 
(PNAISM): 
Comentar sobre a Apresentação e a Introdução deste documento (PNAISM); 
O Ministério da Saúde, considerando que a saúde da mulher é uma prioridade deste governo, elaborou o 
documento “Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher – Princípios e Diretrizes”, em parceria 
com diversos setores da sociedade, em especial com o movimento de mulheres, o movimento negro e o de 
trabalhadoras rurais, sociedades científicas, pesquisadores e estudiosos da área, organizações não 
governamentais, gestores do SUS e agências de cooperação internacional. Nesse sentido, reflete o 
compromisso com a implementação de ações de saúde que contribuam para a garantia dos direitos 
humanos das mulheres e reduzam a morbimortalidade por causas preveníveis e evitáveis. 
Este documento incorpora, num enfoque de gênero, a integralidade e a promoção da saúde como princípios 
norteadores e busca consolidar os avanços no campo dos direitos sexuais e reprodutivos, com ênfase na 
melhoria da atenção obstétrica, no planejamento familiar, na atenção ao abortamento inseguro e no combate 
à violência doméstica e sexual. Agrega, também, a prevenção e o tratamento de mulheres vivendo com 
HIV/aids e as portadoras de doenças crônicas não transmissíveis e de câncer ginecológico. Além disso, 
amplia as ações para grupos historicamente alijados das políticas públicas, nas suas especificidades e 
necessidades. 
A Política Nacional proposta considera a diversidade dos 5.561 municípios, dos 26 estados e do Distrito 
Federal, que apresentam diferentes níveis de desenvolvimento e de organização dos seus sistemas locais 
de saúde e tipos de gestão. É, acima de tudo, uma proposta de construção conjunta e de respeito à 
autonomia dos diversos parceiros – entes fundamentais para a concretização das políticas – enfatizando a 
importância do empoderamento das usuárias do SUS e sua participação nas instâncias de controle social. 
Discutir sobre a Saúde da Mulher e o Enfoque de Gênero; 
Encontram-se na literatura vários conceitos sobre saúde da mulher. Há concepções mais restritas que 
abordam apenas aspectos da biologia e anatomia do corpo feminino e outras mais amplas que interagem 
com dimensões dos direitos humanos e questões relacionadas à cidadania. Nas concepções mais restritas, 
o corpo da mulher é visto apenas na sua função reprodutiva e a maternidade torna-se seu principal atributo. 
A saúde da mulher limita-se à saúde materna ou à ausência de enfermidade associada ao processo de 
reprodução biológica. Nesse caso estão excluídos os direitos sexuais e as questões de gênero (COELHO, 
2003). 
Em 1994, na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, a saúde reprodutiva foi definida 
como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social em todas as matérias concernentes ao 
sistema reprodutivo, suas funções e processos, e não apenas mera ausência de doença ou enfermidade. A 
saúde reprodutiva implica, por conseguinte, que a pessoa possa ter uma vida sexual segura e satisfatória, 
tendo a capacidade de reproduzir e a liberdade de decidir sobre quando e quantas vezes deve fazê-lo” 
(CIPD, 1994). 
Nessa definição, toma-se como referência o conceito de saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), 
e são incorporadas dimensões da sexualidade e da reprodução humana numa perspectiva de direitos. No 
entanto, apesar do avanço em relação a outras definições, o conceito da CIPD fica restrito à saúde 
reprodutiva e não trata a saúde-doença como processo na perspectiva da epidemiologia social, o que vem 
sendo bastante discutido desde o final dos anos 60. 
Resumo de IESC - Duda Valio 
A saúde e a doença estão intimamente relacionadas e constituem um processo cuja resultante está 
determinada pela atuação de fatores sociais, econômicos, culturais e históricos. Isso implica em afirmar que 
o perfil de saúde e doença varia no tempo e no espaço, de acordo com o grau de desenvolvimento 
econômico, social e humano de cada região (LAURELL, 1982). As desigualdades sociais, econômicas e 
culturais se revelam no processo de adoecer e morrer das populações e de cada pessoa em particular, de 
maneira diferenciada. De acordo com os indicadores de saúde, as populações expostas a precárias 
condições de vida estão mais vulneráveis e vivem menos. O relatório sobre a situação da População Mundial 
(2002) demonstra que o número de mulheres que vivem em situação de pobreza é superior ao de homens, 
que as mulheres trabalham durante mais horas do que os homens e que, pelo menos, metade do seu tempo 
é gasto em atividades não remuneradas, o que diminui o seu acesso aos bens sociais, inclusive aos serviços 
de saúde. 
Levando em consideração que as históricas desigualdades de poder entre homens e mulheres implicam 
num forte impacto nas condições de saúde destas últimas (ARAÚJO, 1998), as questões de gênero devem 
ser consideradas como um dos determinantes da saúde na formulação das políticas públicas. O gênero, 
como elemento constitutivo das relações sociais entre homens e mulheres, é uma construção social e 
histórica. É construído e alimentado com base em símbolos, normas e instituições que definem modelos de 
masculinidade e feminilidade e padrões de comportamento aceitáveis ou não para homens e mulheres. 
O gênero delimita campos de atuação para cada sexo, dá suporte à elaboração de leis e suas formas de 
aplicação. Também está incluída no gênero a subjetividade de cada sujeito, sendo única sua forma de reagir 
ao que lhe é oferecido em sociedade. O gênero é uma construção social sobreposta a um corpo sexuado. 
É uma forma primeira de significação de poder (SCOTT, 1989). 
Gênero se refere ao conjunto de relações, atributos, papéis, crenças e atitudes que definem o que significa 
ser homem ou ser mulher. Na maioria das sociedades, as relações de gênero são desiguais. Os 
desequilíbrios de gênero se refletem nas leis, políticas e práticas sociais, assim como nas identidades, 
atitudes e comportamentos das pessoas. As desigualdades de gênero tendem a aprofundar outras 
desigualdades sociais e a discriminação de classe, raça, casta, idade, orientação sexual, etnia, deficiência, 
língua ou religião, dentre outras (HERA, 1995). 
Da mesma maneira que diferentes populações estão expostas a variados tipos e graus de risco, mulheres 
e homens, em função da organização social das relações de gênero, também estão expostos a padrões 
distintos de sofrimento, adoecimento e morte. Partindo-se desse pressuposto, é imprescindível a 
incorporação da perspectiva de gênero na análise do perfil epidemiológico e no planejamento de ações de 
saúde, que tenham como objetivo promover a melhoria das condições de vida, a igualdade e os direitos de 
cidadania da mulher. 
Discutir a evolução das Políticas de Atenção à Saúde da Mulher; 
No Brasil, a saúde da mulher foi incorporada às políticas nacionais de saúde nas primeiras décadas do 
século XX, sendo limitada, nesse período, às demandas relativas à gravidez e ao parto. Os programas 
materno-infantis, elaborados nas décadas de 30, 50 e 70, traduziam uma visão restrita sobre a mulher, 
baseada em sua especificidade biológica e no seu papel social de mãe e doméstica, responsável pela 
criação, pela educação e pelo cuidado com a saúde dos filhos e demais familiares. 
Há análises que demonstram que esses programas preconizavam as ações materno-infantis como 
estratégia de proteção aos grupos de risco e em situação de maior vulnerabilidade, como era o caso das 
crianças e gestantes. Outra característica desses programas era a verticalidade e a falta de integração com 
outros programas e ações propostos pelo governo federal. As metas eram definidas pelo nível central, sem 
qualquer avaliação das necessidades de saúde das populações locais. Um dos resultados dessa prática é 
a fragmentação daassistência (COSTA, 1999) e o baixo impacto nos indicadores de saúde da mulher. 
Resumo de IESC - Duda Valio 
No âmbito do movimento feminista brasileiro, esses programas são vigorosamente criticados pela 
perspectiva reducionista com que tratavam a mulher, que tinha acesso a alguns cuidados de saúde no ciclo 
gravídico-puerperal, ficando sem assistência na maior parte de sua vida. Com forte atuação no campo da 
saúde, o movimento de mulheres contribuiu para introduzir na agenda política nacional, questões, até então, 
relegadas ao segundo plano, por serem consideradas restritas ao espaço e às relações privadas. Naquele 
momento tratava-se de revelar as desigualdades nas condições de vida e nas relações entre os homens e 
as mulheres, os problemas associados à sexualidade e à reprodução, as dificuldades relacionadas à 
anticoncepção e à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e a sobrecarga de trabalho das 
mulheres, responsáveis pelo trabalho doméstico e de criação dos filhos (ÁVILA; BANDLER, 1991). 
As mulheres organizadas argumentavam que as desigualdades nas relações sociais entre homens e 
mulheres se traduziam também em problemas de saúde que afetavam particularmente a população 
feminina. Por isso, fazia-se necessário criticá-los, buscando identificar e propor processos políticos que 
promovessem mudanças na sociedade e consequentemente na qualidade de vida da população. 
Posteriormente, a literatura vem demonstrar que determinados comportamentos, tanto dos homens quanto 
das mulheres, baseados nos padrões hegemônicos de masculinidade e feminilidade, são produtores de 
sofrimento, adoecimento e morte (OPAS, 2000). 
Com base naqueles argumentos, foi proposto que a perspectiva de mudança das relações sociais entre 
homens e mulheres prestasse suporte à elaboração, execução e avaliação das políticas de saúde da mulher. 
As mulheres organizadas reivindicaram, portanto, sua condição de sujeitos de direito, com necessidades 
que extrapolam o momento da gestação e parto, demandando ações que lhes proporcionassem a melhoria 
das condições de saúde em todas os ciclos de vida. Ações que contemplassem as particularidades dos 
diferentes grupos populacionais, e as condições sociais, econômicas, culturais e afetivas, em que 
estivessem inseridos. 
Em 1984, o Ministério da Saúde elaborou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), 
marcando, sobretudo, uma ruptura conceitual com os princípios norteadores da política de saúde das 
mulheres e os critérios para eleição de prioridades neste campo (BRASIL, 1984). 
O PAISM incorporou como princípios e diretrizes as propostas de descentralização, hierarquização e 
regionalização dos serviços, bem como a integralidade e a eqüidade da atenção, num período em que, 
paralelamente, no âmbito do Movimento Sanitário, se concebia o arcabouço conceitual que embasaria a 
formulação do Sistema Único de Saúde (SUS). 
O novo programa para a saúde da mulher incluía ações educativas, preventivas, de diagnóstico, tratamento 
e recuperação, englobando a assistência à mulher em clínica ginecológica, no pré-natal, parto e puerpério, 
no climatério, em planejamento familiar, DST, câncer de colo de útero e de mama, além de outras 
necessidades identificadas a partir do perfil populacional das mulheres (BRASIL, 1984). 
O processo de construção do SUS tem grande influência sobre a implementação do PAISM. O SUS vem 
sendo implementado com base nos princípios e diretrizes contidos na legislação básica: Constituição de 
1988, Lei n.º 8.080 e Lei n.º 8.142, Normas Operacionais Básicas (NOB) e Normas Operacionais de 
Assistência à Saúde (NOAS), editadas pelo Ministério da Saúde. Particularmente com a implementação da 
NOB 96, consolida-se o processo de municipalização das ações e serviços em todo o País. A 
municipalização da gestão do SUS vem se constituindo num espaço privilegiado de reorganização das ações 
e dos serviços básicos, entre os quais se colocam as ações e os serviços de atenção à saúde da mulher, 
integrados ao sistema e seguindo suas diretrizes. 
O processo de implantação e implementação do PAISM apresenta especificidades no período de 84 a 89 e 
na década de 90, sendo influenciado, a partir da proposição do SUS, pelas características da nova política 
de saúde, pelo processo de municipalização e principalmente pela reorganização da atenção básica, por 
Resumo de IESC - Duda Valio 
meio da estratégia do Programa Saúde da Família. Estudos realizados para avaliar os estágios de 
implementação da política de saúde da mulher demonstram a existência de dificuldades na implantação 
dessas ações e, embora não se tenha um panorama abrangente da situação em todos os municípios, pode-
se afirmar que a maioria enfrenta ainda dificuldades políticas, técnicas e administrativas. 
Visando ao enfrentamento desses problemas, o Ministério da Saúde editou a Norma Operacional de 
Assistência à Saúde (NOAS 2001), que “amplia as responsabilidades dos municípios na Atenção Básica, 
define o processo de regionalização da assistência, cria mecanismos para fortalecimento da gestão do SUS 
e atualiza os critérios de habilitação para os estados e municípios” (BRASIL, 2001). 
Na área da saúde da mulher, a NOAS estabelece para os municípios a garantia das ações básicas mínimas 
de pré-natal e puerpério, planejamento familiar e prevenção do câncer de colo uterino e, para garantir o 
acesso às ações de maior complexidade, prevê a conformação de sistemas funcionais e resolutivos de 
assistência à saúde, por meio da organização dos territórios estaduais (COELHO, 2003). 
A delimitação das ações básicas mínimas para o âmbito municipal é resultante do reconhecimento das 
dificuldades para consolidação do SUS, e das lacunas que ainda existem na atenção à saúde da população. 
Porém, essa proposta não abrange todo o conjunto de ações previstas nos documentos que norteiam a 
Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher, que passa a contemplar, a partir de 2003, a atenção a 
segmentos da população feminina ainda invisibilisados e a problemas emergentes que afetam a saúde da 
mulher (BRASIL, 2003d). 
O nível federal de administração também apresentou, na última década, dificuldades e descontinuidade no 
processo de assessoria e apoio para implementação do PAISM, observando-se mudanças a partir de 1998, 
quando a saúde da mulher passa a ser considerada uma prioridade de governo. 
O balanço institucional das ações realizadas no período de 1998 a 2002, elaborado por Correa e Piola, 
indica que, nesse período, trabalhou-se na perspectiva de resolução de problemas, priorizando-se a saúde 
reprodutiva e, em particular, as ações para redução da mortalidade materna (pré-natal, assistência ao parto 
e anticoncepção). Segundo os autores, embora se tenha mantido como imagem-objetivo a atenção integral 
à saúde da mulher, essa definição de prioridades dificultou a atuação sobre outras áreas estratégicas do 
ponto de vista da agenda ampla de saúde da mulher. Essa perspectiva de atuação também comprometeu a 
transversalidade de gênero e raça, apesar de se perceber um avanço no sentido da integralidade e uma 
ruptura com as ações verticalizadas do passado, uma vez que os problemas não foram tratados de forma 
isolada e que houve a incorporação de um tema novo como a violência sexual (CORREA; PIOLA, 2002). 
Nesse balanço são apontadas ainda várias lacunas como atenção ao climatério/menopausa; queixas 
ginecológicas; infertilidade e reprodução assistida; saúde da mulher na adolescência; doenças crônico-
degenerativas; saúde ocupacional; saúde mental; doenças infecto-contagiosas e a inclusão da perspectiva 
de gênero e raça nas ações a serem desenvolvidas. 
Em 2003, a Área Técnica de Saúde da Mulher identifica ainda a necessidade de articulação com outras 
áreas técnicas e da proposição de novas ações, quais sejam: atenção às mulheres rurais, com deficiência, 
negras, indígenas, presidiárias e lésbicase a participação nas discussões e atividades sobre saúde da 
mulher e meio ambiente. 
Realizar um breve diagnóstico da Situação da Saúde da Mulher no Brasil; 
Considerando a heterogeneidade que caracteriza o País, seja em relação às condições socioeconômicas e 
culturais, seja em relação ao acesso às ações e serviços de saúde, compreende-se que o perfil 
epidemiológico da população feminina apresente diferenças importantes de uma região a outra do País. 
Essas diferenças não serão abordadas em profundidade neste documento, porém salienta-se que, no 
processo de implantação e implementação da Política Nacional para Atenção Integral à Saúde da Mulher, 
Resumo de IESC - Duda Valio 
elas devem ser consideradas, possibilitando uma atuação mais próxima da realidade local e portanto com 
melhores resultados. 
As estatísticas sobre mortalidade são bastante utilizadas para a análise das condições de saúde das 
populações. É importante considerar o fato de que determinados problemas afetam de maneira distinta 
homens e mulheres. Isso se apresenta de maneira marcante no caso da violência. Enquanto a mortalidade 
por violência afeta os homens em grandes proporções, a morbidade, especialmente provocada pela 
violência doméstica e sexual, atinge prioritariamente a população feminina. Também no caso dos problemas 
de saúde associados ao exercício da sexualidade, as mulheres estão particularmente afetadas e, pela 
particularidade biológica, têm como complicação a transmissão vertical de doenças como a sífilis e o vírus 
HIV, a mortalidade materna e os problemas de morbidade ainda pouco estudados. 
No Brasil, as principais causas de morte da população feminina são as doenças cardiovasculares, 
destacando-se o infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular cerebral; as neoplasias, principalmente o 
câncer de mama, de pulmão e o de colo do útero; as doenças do aparelho respiratório, marcadamente as 
pneumonias (que podem estar encobrindo casos de aids não diagnosticados); doenças endócrinas, 
nutricionais e metabólicas, com destaque para o diabetes; e as causas externas (BRASIL, 2000). 
Segundo Laurenti (2002), em pesquisa realizada nas capitais brasileiras e no Distrito Federal, analisando 
óbitos em mulheres de 10 a 49 anos (ou seja, mulheres em idade fértil), as dez primeiras causas de morte 
encontradas foram as seguintes, em ordem decrescente: acidente vascular cerebral, aids, homicídios, 
câncer de mama, acidente de transporte, neoplasia de órgãos digestivos, doença hipertensiva, doença 
isquêmica do coração, diabetes e câncer de colo do útero. 
A mortalidade associada ao ciclo gravídico-puerperal e ao aborto não aparece entre as dez primeiras causas 
de óbito nessa faixa etária. No entanto, a gravidade do problema é evidenciada quando se chama atenção 
para o fato de que a gravidez é um evento relacionado à vivência da sexualidade, portanto não é doença, e 
que, em 92% dos casos, as mortes maternas são evitáveis. 
Discutir sobre Humanização e Qualidade da atenção de saúde da Mulher; 
A humanização e a qualidade da atenção em saúde são condições essenciais para que as ações de saúde 
se traduzam na resolução dos problemas identificados, na satisfação das usuárias, no fortalecimento da 
capacidade das mulheres frente à identificação de suas demandas, no reconhecimento e reivindicação de 
seus direitos e na promoção do autocuidado. 
As histórias das mulheres na busca pelos serviços de saúde expressam discriminação, frustrações e 
violações dos direitos e aparecem como fonte de tensão e mal-estar psíquico-físico. Por essa razão, a 
humanização e a qualidade da atenção implicam na promoção, reconhecimento, e respeito aos seus direitos 
humanos, dentro de um marco ético que garanta a saúde integral e seu bem-estar. 
Segundo Mantamala (1995), a qualidade da atenção deve estar referida a um conjunto de aspectos que 
englobam as questões psicológicas, sociais, biológicas, sexuais, ambientais e culturais. Isso implica em 
superar o enfoque biologicista e medicalizador hegemônico nos serviços de saúde e a adoção do conceito 
de saúde integral e de práticas que considerem as experiências das usuárias com sua saúde. 
Humanizar e qualificar a atenção em saúde é aprender a compartilhar saberes e reconhecer direitos. A 
atenção humanizada e de boa qualidade implica no estabelecimento de relações entre sujeitos, seres 
semelhantes, ainda que possam apresentar-se muito distintos conforme suas condições sociais, raciais, 
étnicas, culturais e de gênero. 
A humanização da atenção em saúde é um processo contínuo e demanda reflexão permanente sobre os 
atos, condutas e comportamentos de cada pessoa envolvida na relação. É preciso maior conhecimento de 
Resumo de IESC - Duda Valio 
si, para melhor compreender o outro com suas especificidades e para poder ajudar sem procurar impor 
valores, opiniões ou decisões. 
A humanização e a qualidade da atenção são indissociáveis. A qualidade da atenção exige mais do que a 
resolução de problemas ou a disponibilidade de recursos tecnológicos. E humanização é muito mais do que 
tratar bem, com delicadeza ou de forma amigável. 
Para atingir os princípios de humanização e da qualidade da atenção deve-se levar em conta, pelo menos, 
os seguintes elementos: 
 – acesso da população às ações e aos serviços de saúde nos três níveis de assistência; 
– definição da estrutura e organização da rede assistencial, incluindo a formalização dos sistemas de 
referência e contra-referência que possibilitem a continuidade das ações, a melhoria do grau de 
resolutividade dos problemas e o acompanhamento da clientela pelos profissionais de saúde da rede 
integrada; 
– captação precoce e busca ativa das usuárias; – disponibilidade de recursos tecnológicos e uso apropriado, 
de acordo com os critérios de evidência científica e segurança da usuária; 
– capacitação técnica dos profissionais de saúde e funcionários dos serviços envolvidos nas ações de saúde 
para uso da tecnologia adequada, acolhimento humanizado e práticas educativas voltadas à usuária e à 
comunidade; – disponibilidade de insumos, equipamentos e materiais educativos; 
– acolhimento amigável em todos os níveis da assistência, buscando-se a orientação da clientela sobre os 
problemas apresentados e possíveis soluções, assegurando-lhe a participação nos processos de decisão 
em todos os momentos do atendimento e tratamentos necessários; 
– disponibilidade de informações e orientação da clientela, familiares e da comunidade sobre a promoção 
da saúde, assim como os meios de prevenção e tratamento dos agravos a ela associados; 
– estabelecimento de mecanismos de avaliação continuada dos serviços e do desempenho dos profissionais 
de saúde, com participação da clientela; 
– estabelecimento de mecanismos de acompanhamento, controle e avaliação continuada das ações e 
serviços de saúde, com participação da usuária; 
– análise de indicadores que permitam aos gestores monitorar o andamento das ações, o impacto sobre os 
problemas tratados e a redefinição de estratégias ou ações que se fizerem necessárias. 
Discutir sobre as Diretrizes da Política Nacional de Atenção à Saúde da Mulher; 
– O Sistema Único de Saúde deve estar orientado e capacitado para a atenção integral à saúde da mulher, 
numa perspectiva que contemple a promoção da saúde, as necessidades de saúde da população feminina, 
o controle de patologias mais prevalentes nesse grupo e a garantia do direito à saúde. 
– A Política de Atenção à Saúde da Mulher deverá atingir as mulheres em todos os ciclos de vida, 
resguardadas as especificidades das diferentes faixas etárias e dos distintos grupos populacionais 
(mulheres negras, indígenas, residentes em áreas urbanas e rurais, residentes em locais de difícil acesso, 
em situação de risco, presidiárias, de orientação homossexual, com deficiência, dentre outras). 
– A elaboração, a execução e a avaliação das políticas de saúde da mulher deverãonortear-se pela 
perspectiva de gênero, de raça e de etnia, e pela ampliação do enfoque, rompendo-se as fronteiras da saúde 
sexual e da saúde reprodutiva, para alcançar todos os aspectos da saúde da mulher. 
Resumo de IESC - Duda Valio 
– A gestão da Política de Atenção à Saúde deverá estabelecer uma dinâmica inclusiva, para atender às 
demandas emergentes ou demandas antigas, em todos os níveis assistenciais. – As políticas de saúde da 
mulher deverão ser compreendidas em sua dimensão mais ampla, objetivando a criação e ampliação das 
condições necessárias ao exercício dos direitos da mulher, seja no âmbito do SUS, seja na atuação em 
parceria do setor Saúde com outros setores governamentais, com destaque para a segurança, a justiça, 
trabalho, previdência social e educação. 
– A atenção integral à saúde da mulher refere-se ao conjunto de ações de promoção, proteção, assistência 
e recuperação da saúde, executadas nos diferentes níveis de atenção à saúde (da básica à alta 
complexidade). 
– O SUS deverá garantir o acesso das mulheres a todos os níveis de atenção à saúde, no contexto da 
descentralização, hierarquização e integração das ações e serviços. Sendo responsabilidade dos três níveis 
gestores, de acordo com as competências de cada um, garantir as condições para a execução da Política 
de Atenção à Saúde da Mulher. 
– A atenção integral à saúde da mulher compreende o atendimento à mulher a partir de uma percepção 
ampliada de seu contexto de vida, do momento em que apresenta determinada demanda, assim como de 
sua singularidade e de suas condições enquanto sujeito capaz e responsável por suas escolhas. 
– A atenção integral à saúde da mulher implica, para os prestadores de serviço, no estabelecimento de 
relações com pessoas singulares, seja por razões econômicas, culturais, religiosas, raciais, de diferentes 
orientações sexuais, etc. O atendimento deverá nortear-se pelo respeito a todas as diferenças, sem 
discriminação de qualquer espécie e sem imposição de valores e crenças pessoais. Esse enfoque deverá 
ser incorporado aos processos de sensibilização e capacitação para humanização das práticas em saúde. 
– As práticas em saúde deverão nortear-se pelo princípio da humanização, aqui compreendido como 
atitudes e comportamentos do profissional de saúde que contribuam para reforçar o caráter da atenção à 
saúde como direito, que melhorem o grau de informação das mulheres em relação ao seu corpo e suas 
condições de saúde, ampliando sua capacidade de fazer escolhas adequadas ao seu contexto e momento 
de vida; que promovam o acolhimento das demandas conhecidas ou não pelas equipes de saúde; que 
busquem o uso de tecnologia apropriada a cada caso e que demonstrem o interesse em resolver problemas 
e diminuir o sofrimento associado ao processo de adoecimento e morte da clientela e seus familiares. 
– No processo de elaboração, execução e avaliação das Política de Atenção à Saúde da Mulher deverá ser 
estimulada e apoiada a participação da sociedade civil organizada, em particular do movimento de mulheres, 
pelo reconhecimento de sua contribuição técnica e política no campo dos direitos e da saúde da mulher. 
– Compreende-se que a participação da sociedade civil na implementação das ações de saúde da mulher, 
no âmbito federal, estadual e municipal requer – cabendo, portanto, às instâncias gestoras – melhorar e 
qualificar os mecanismos de repasse de informações sobre as políticas de saúde da mulher e sobre os 
instrumentos de gestão e regulação do SUS. 
– No âmbito do setor Saúde, a execução de ações será pactuada entre todos os níveis hierárquicos, visando 
a uma atuação mais abrangente e horizontal, além de permitir o ajuste às diferentes realidades regionais. 
– As ações voltadas à melhoria das condições de vida e saúde das mulheres deverão ser executadas de 
forma articulada com setores governamentais e não-governamentais; condição básica para a configuração 
de redes integradas de atenção à saúde e para a obtenção dos resultados esperados. 
Conhecer objetivos Gerais e Específicos e Estratégias de Política Nacional de Atenção Integral à 
Saúde da Mulher. 
Resumo de IESC - Duda Valio 
Discutir sobre os tipos de violência contra a mulher 
Formas de violência contra a mulher 
Segundo o artigo 7º da Lei nº 11.340/2006 são formas de violência doméstica e familiar contra a 
mulher, entre outras: 
I – a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde 
corporal; 
II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e 
diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise 
degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, 
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição 
contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou 
qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; 
III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter 
ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da 
força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça 
de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à 
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o 
exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; 
IV – a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, 
destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, 
valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; 
V – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. 
Tipos de violência: 
Violência contra a mulher – é qualquer conduta – ação ou omissão – de discriminação, agressão 
ou coerção, ocasionada pelo simples fato de a vítima ser mulher e que cause dano, morte, 
constrangimento, limitação, sofrimento físico, sexual, moral, psicológico, social, político ou 
econômico ou perda patrimonial. Essa violência pode acontecer tanto em espaços públicos como 
privados. 
Violência de gênero – violência sofrida pelo fato de se ser mulher, sem distinção de raça, classe 
social, religião, idade ou qualquer outra condição, produto de um sistema social que subordina o 
sexo feminino. 
Violência doméstica – quando ocorre em casa, no ambiente doméstico, ou em uma relação de 
familiaridade, afetividade ou coabitação. 
Violência familiar – violência que acontece dentro da família, ou seja, nas relações entre os 
membros da comunidade familiar, formada por vínculos de parentesco natural (pai, mãe, filha etc.) 
ou civil (marido, sogra, padrasto ou outros), por afinidade (por exemplo, o primo ou tio do marido) 
ou afetividade (amigo ou amiga que more na mesma casa). 
Resumo de IESC - Duda Valio 
 
Violência física – ação ou omissão que coloque em risco ou cause dano à integridade física de uma 
pessoa. 
Violência institucional – tipo de violência motivada por desigualdades (de gênero, étnico-raciais, 
econômicas etc.) predominantes em diferentes sociedades. Essas desigualdades se formalizam e 
institucionalizam nas diferentes organizações privadas e aparelhos estatais, como também nos 
diferentes grupos que constituem essas sociedades. 
Violência intrafamiliar/violência doméstica – acontece dentro de casa ou unidade doméstica e 
geralmente é praticada por um membro da família que viva com a vítima. As agressões domésticas 
incluem: abuso físico, sexual e psicológico, a negligência e o abandono. 
Violência moral – ação destinada a caluniar, difamar ou injuriar a honra ou a reputação da mulher. 
Violência patrimonial– ato de violência que implique dano, perda, subtração, destruição ou 
retenção de objetos, documentos pessoais, bens e valores. 
Violência psicológica – ação ou omissão destinada a degradar ou controlar as ações, 
comportamentos, crenças e decisões de outra pessoa por meio de intimidação, manipulação, 
ameaça direta ou indireta, humilhação, isolamento ou qualquer outra conduta que implique prejuízo 
à saúde psicológica, à autodeterminação ou ao desenvolvimento pessoal. 
Violência sexual – acão que obriga uma pessoa a manter contato sexual, físico ou verbal, ou a 
participar de outras relações sexuais com uso da força, intimidação, coerção, chantagem, suborno, 
manipulação, ameaça ou qualquer outro mecanismo que anule ou limite a vontade pessoal. 
Considera-se como violência sexual também o fato de o agressor obrigar a vítima a realizar alguns 
desses atos com terceiros. 
Consta ainda do Código Penal Brasileiro: a violência sexual pode ser caracterizada de forma física, 
psicológica ou com ameaça, compreendendo o estupro, a tentativa de estupro, o atentado violento 
ao pudor e o ato obsceno. 
Pesquisar os indicadores sobre a saúde da mulher no Brasil atualizados: expectativa de vida, 
mortalidade materna, relação de partos normais e cesarianas, cobertura de gestantes que 
realizaram acompanhamento pré-natal (impacto na mortalidade infantil), violência 
doméstica, violência sexual, principais causas de morte, sexualidade, etc) 
Mortalidade Materna 
A mortalidade materna é um bom indicador para avaliar as condições de saúde de uma população. A partir 
de análises das condições em que e como morrem as mulheres, pode-se avaliar o grau de desenvolvimento 
de uma determinada sociedade. Razões de Mortalidade Materna (RMM) elevadas são indicativas de 
precárias condições socioeconômicas, baixo grau de informação e escolaridade, dinâmicas familiares em 
que a violência está presente e, sobretudo, dificuldades de acesso a serviços de saúde de boa qualidade. 
Resumo de IESC - Duda Valio 
Estudo realizado pela OMS estimou que, em 1990, aproximadamente 585.000 mulheres em todo o mundo 
morreram vítimas de complicações ligadas ao ciclo gravídico-puerperal. Apenas 5% delas viviam em países 
desenvolvidos (COELHO, 2003). 
Nas capitais brasileiras, para o ano de 2001, a RMM corrigida2 foi de 74,5 óbitos maternos por 100 mil 
nascidos vivos. As principais causas da mortalidade materna são a hipertensão arterial, as hemorragias, a 
infecção puerperal e o aborto, todas evitáveis (BRASIL, 2003). 
No Brasil, a RMM, no período de 1980 a 1986, apresentou uma tendência de queda, provavelmente 
relacionada à expansão da rede pública de saúde e ao aumento da cobertura das ações obstétricas e de 
planejamento familiar. De 1987 a 1996, a RMM manteve-se estável. Em 1996, houve a inclusão na 
Declaração de Óbito (DO) de uma variante que permite identificar as mulheres grávidas por ocasião do óbito 
e até um ano após o parto (morte materna tardia). Nesse período, o MS investiu na implantação de Comitês 
Estaduais de Morte Materna. Em 1997 e 1998, aumentou a razão de mortalidade materna, principalmente, 
devido a causas obstétricas indiretas, óbitos de difícil registro, sugerindo uma melhoria desse registro 
(BRASIL, 2003). 
A queda da mortalidade materna de 1999 a 2001 pode estar associada a uma melhoria na qualidade da 
atenção obstétrica e ao planejamento familiar. Nesse período, a mortalidade materna foi considerada uma 
prioridade do governo federal e vários processos estaduais e municipais foram deflagrados para reduzi-la. 
A partir do ano de 1998, diminuíram os óbitos em internações obstétricas no SUS, passando de 34,8 óbitos 
por 100.000 internações em 1997, para 28,6 óbitos por 100.000 internações em 2001. Nesse período, 
também caiu o número de mulheres que morreram no parto em relação ao número de partos realizados, 
passando de 32,48 para 24 óbitos em 100.000 partos em 2001 (BRASIL, 2003). 
Considerando que 70% das mulheres são usuárias do SUS e que cerca de 65% dos óbitos maternos 
ocorrem no momento do parto, é provável que, apesar do sub-registro e da subinformação, a queda na razão 
de mortalidade materna calculada com base nos dados do Siste ma de Informação em Mortalidade (SIM) e 
do Sistema de Informação Sobre Nascidos Vivos (SINASC), observada a partir de 1999, seja real. Ainda 
assim, os números atestam que a situação atual está aquém do aceitável, pois, em países desenvolvidos, a 
RMM filhos por mulher oscila de 6 a 20 óbitos por 100 mil nascidos vivos (BRASIL, 2003). 
Precariedade da Atenção Obstétrica 
Segundo a última Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) (BENFAM, 1996) aproximadamente 
13% das mulheres que tiveram filhos nos cinco anos que antecederam a pesquisa não haviam realizado 
nenhuma consulta de pré-natal. Dessas, 9% eram residentes nas regiões urbanas e 32% no meio rural. A 
menor cobertura de prénatal foi encontrada no Nordeste (75%) e a maior no Estado do Rio de Janeiro (96%). 
Essa pesquisa demonstra que o acesso à assistência pré-natal é um problema significativo para a população 
rural, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. 
Desde a implantação do Sistema de Informação Ambulatorial (AIH), registra-se uma tendência de aumento 
do número de consultas de pré-natal, especialmente a partir de 1997. Em 1995, foram registradas 1,2 
consultas de pré-natal para cada parto realizado no SUS. Em dezembro de 2002, essa razão era de 4,4 
consultas de pré-natal para cada parto (Tabnet SIA-Datasus e TabwinAIH-Datasus, 2003). 
Apesar do aumento do número de consultas de pré-natal, a qualidade dessa assistência é precária, o que 
pode ser atestado pela alta incidência de sífilis congênita, estimada em 12 casos/1.000 nascidos vivos, no 
SUS (PN-DST/AIDS, 2002), pelo fato da hipertensão arterial ser a causa mais freqüente de morte materna 
no Brasil, e também porque apenas 41,01% das gestantes inscritas no Programa de Humanização no Pré-
Natal e Nascimento (PHPN) receberam a 2.a dose ou a dose de reforço ou a dose imunizante da vacina 
antitetânica, segundo o sistema de informação do Programa (BRASIL, 2002). 
Resumo de IESC - Duda Valio 
Os indicadores do SISPRENATAL (2002) demonstram que somente 4,07% das gestantes inscritas no PHPN 
realizaram o elenco mínimo de ações preconizadas pelo Programa (BRASIL, 2001) e que somente 9,43% 
realizaram as seis consultas de pré-natal e a consulta de puerpério. 
Os dados também evidenciam que a atenção no puerpério não está consolidada nos serviços de saúde. A 
grande maioria das mulheres retorna ao serviço de saúde no primeiro mês após o parto. Entretanto, sua 
principal preocupação, assim como a dos profissionais de saúde, é com a avaliação e vacinação do recém-
nascido. Isso pode indicar que as mulheres não recebem informações suficientes para compreenderem a 
importância da consulta puerperal. 
A atenção ao parto e nascimento é marcada pela intensa medicalização, pelas intervenções desnecessárias 
e potencialmente iatrogênicas e pela prática abusiva da cesariana. Ocorre ainda o isolamento da gestante 
de seus familiares, a falta de privacidade e o desrespeito à sua autonomia. Tudo isso contribui para o 
aumento dos riscos maternos e perinatais (BRASIL, 2001). 
De uma maneira geral, rotinas rígidas são adotadas sem a avaliação crítica caso a caso. Ao mesmo tempo, 
práticas adequadas para um bom acompanhamento do trabalho de parto, como o uso do partograma, não 
são realizadas (BRASIL, 2001). 
A assistência ao parto no Brasil não é homogênea. A maioria dos partos é realizada em ambiente hospitalar, 
mas, em muitas regiões do País, especialmente nas zonas rurais, ribeirinhas e lugares mais distantes, a 
única opção que existe para a mulher é o parto domiciliar assistido por parteiras tradicionais. Deve-se 
ressaltar que o parto domiciliar, em alguns casos, é uma opção da mulher. A última PNDS (1996) mostra a 
variação de partos hospitalares nas diversasregiões do País. Encontrou-se um percentual de 81,9% na 
Região Norte e 97.4% na Região Sul, respectivamente, a menor e a maior proporção de partos hospitalares 
em relação aos partos domiciliares. Essa pesquisa revelou também uma incidência de 20% de partos 
domiciliares nas áreas rurais. 
As parteiras tradicionais enfrentam inúmeras dificuldades na realização do seu trabalho. Em geral, atuam 
de forma isolada, sem contar com o apoio dos serviços de saúde. A maioria não recebeu nenhuma 
capacitação, tendo aprendido a fazer partos com outras parteiras ou sozinhas, levadas pela necessidade de 
ajudar as mulheres de sua comunidade. Elas não dispõem de materiais básicos para assistência ao parto e 
ganham pouco ou quase nada pelo seu trabalho. 
Como conseqüência desse isolamento, a maioria dos partos domiciliares ocorre em condições precárias e 
não são notificados aos sistemas de informação em saúde. Tampouco se tem um registro preciso do número 
de parteiras atuantes no País. 
Deve-se destacar que na zona rural as mulheres têm maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde. 
Segundo a PNDS de 1996, no meio rural: 
– 32% das gestantes não tiveram nenhum atendimento pré-natal; 
– o acesso ao parto hospitalar foi menor na área rural, sobretudo entre as mulheres com nenhum ou poucos 
anos de estudo e entre aquelas que não tiveram assistência pré-natal; 
– a taxa de mortalidade infantil entre os filhos das mulheres que não tiveram nenhuma assistência ao pré-
natal e ao parto nas áreas urbanas foi de 42 por mil nascidos vivos e na rural chegou a 65 por mil nascidos 
vivos. 
O acesso da população rural aos serviços de saúde ainda é um grande desafio do SUS. A dificuldade de 
acesso às ações de saúde, imposta às mulheres rurais, está relacionada, entre outros fatores, às 
desigualdades das relações de gênero e de trabalho, às grandes distâncias entre residência ou trabalho e 
Resumo de IESC - Duda Valio 
os serviços de saúde, à maior precariedade dos serviços locais e à precária capacitação dos gestores e 
profissionais de saúde para lidar com a especificidade dos agravos decorrentes do trabalho no campo. 
O Ministério da Saúde vem adotando estratégias para a formulação de uma política de atenção à população 
trabalhadora e residente no campo. 
Violência Doméstica e Sexual 
A violência sexual é um dos principais indicadores da discriminação de gênero contra a mulher. Pesquisa 
coordenada pela OMS (2002), em oito países, retrata o perfil da violência sofrida pelas mulheres na faixa 
etária de 15 a 49 anos. No Brasil, o estudo foi realizado em São Paulo e na zona da mata de Pernambuco. 
Nesses municípios, 29% das mulheres relataram violência física e/ou sexual por parte do companheiro. Em 
Pernambuco, 34% das mulheres relataram algum episódio de violência cometido pelo parceiro ou ex-
parceiro. Dentre as mulheres agredidas, foram relatados problemas de saúde: dores ou desconforto severo, 
problemas de concentração e tontura. Nesse grupo também foi mais comum a tentativa de suicídio e maior 
freqüência do uso do álcool. 
Os dados dessa pesquisa confirmam que a violência sexual e/ou doméstica é um grave problema de saúde 
pública. Porém, entre as mulheres que relataram violência, apenas 16% em São Paulo e 11% em 
Pernambuco buscaram hospitais ou centros de saúde (OMS, 2002). Considerando-se que São Paulo 
concentra a maior parte dos serviços de referência no Brasil (BRASIL, 2002a), esses percentuais indicam 
pouca divulgação e dificuldades de acesso aos serviços. 
A avaliação realizada pelos gestores municipais do programa de atendimento à mulher vítima de violência 
em Curitiba demonstra que, ao longo do primeiro ano, houve um aumento crescente da busca pelo serviço, 
o que é atribuído à estratégia de divulgação dos serviços e à articulação entre os diferentes setores que 
prestam assistência às vitimas de violência (PARANÁ, 2003). 
A média de atendimentos em Curitiba, em 2002, passou de 18 casos/mês, no primeiro trimestre, para 48 
casos/mês no último trimestre. Durante o ano, foram registrados 455 casos, sendo que 56,51% foram de 
residentes na capital e 41,88% na região metropolitana. Na maioria dos casos, as vítimas tinham até 29 
anos de idade. No grupo das crianças agredidas sexualmente, com até 12 anos, 83,65% dos agressores 
eram pais, padrastos, parentes próximos, amigos ou conhecidos. Em maiores de 12 anos, 59,43% das 
vítimas foram agredidas por desconhecidos. Outro aspecto importante da divulgação do programa é a 
chegada precoce na rede de saúde, em que 80% das vítimas chegaram até 72 horas após a violência, 
permitindo a profilaxia das DST/HIV/ aids e da gravidez pós-estupro conforme a necessidade e escolha de 
cada um/a (PARANÁ, 2003). 
A avaliação do Programa de Combate à Violência contra a Mulher, implantado em Campo Grande, além de 
confirmar a elevada prevalência do problema da violência contra a mulher, também demonstra que uma boa 
divulgação facilita o acesso das mulheres aos serviços de saúde. Nos dois primeiros meses, foram atendidas 
aproximadamente 700 mulheres no Centro de Atendimento à Mulher em Situação de Violência (BRASIL, 
2001). 
A atenção às mulheres em situação de violência apresenta uma tendência progressiva de expansão nos 
últimos quatro anos, ainda que os serviços estejam concentrados nas capitais e regiões metropolitanas. Em 
1999, 17 serviços hospitalares estavam preparados para atender às mulheres vítimas de estupro. Em fins 
de 2002, esse número chega a 82, sendo que o aborto pós-estupro é realizado em 44. Observa-se maior 
investimento dos gestores na rede, porém, apesar dos esforços, a maior parte das mulheres agredidas ainda 
não têm acesso a esse tipo de atenção (BRASIL, 2002a). 
Resumo de IESC - Duda Valio 
Pesquisar e discutir sobre Violência Doméstica e Mortalidade Materna durante a Pandemia 
de Covid-19 
Lesão corporal dolosa decorrente de violência doméstica 
Todas as Unidades da Federação acompanhadas apresentaram redução nos registros de lesão corporal 
dolosa entre março e maio de 2020 em comparação com o mesmo período no ano anterior. Houve uma 
queda de 27,2% no período acumulado, com as maiores reduções nos estados do Maranhão (84,6%), Rio 
de Janeiro (40,2%) e Ceará (26%). 
É possível observar a redução nos registros de lesão corporal dolosa em todos os meses do período 
analisado na comparação com 2019: em março a queda foi de 16,2%; em abril de 35,4%; e em maio, de 
26,1%. No mês de maio de 2020, 7 das 10 Unidades da Federação com dados disponíveis apresentaram 
queda nos registros de lesão corporal em relação a maio de 2019, com exceção do Pará (que teve um 
aumento de 97,2%), do Rio Grande do Norte (cujos registros cresceram 25,8%) e do Amapá (com um 
pequeno aumento de 8%). As maiores reduções foram observadas nos estados do Rio de Janeiro (45,9%), 
Maranhão (34,5%) e São Paulo (27,1%). 
 
Feminicídios 
No período entre março e maio de 2020 houve um pequeno aumento de 2,2% nos casos de feminicídios 
registrados em comparação com o mesmo período de 2019 – foram 189 casos este ano, contra 185 no ano 
passado. No período acumulado, o estado do Acre apresentou um aumento de 400% nos registros, que 
Resumo de IESC - Duda Valio 
passaram de 1 em 2019 para 5 em 2020. No Mato Grosso, esse aumento de 157,1% nos registros, passando 
de 7 para 18. O Maranhão foi de 11 casos para 20, aumento de 81,8% nos registros. Já o Pará teve um 
crescimento de 75% nos registros – de 8 para 14. Alguns estados, por outro lado, apresentaram reduções 
nos registros de feminicídios no mesmo período. É o caso dos estados do Amapá (100%), Rio de Janeiro 
(44%) e Espírito Santo (42,9%). 
 
 
Diferentemente do que observamos nos meses anteriores, em maio de 2020 houve uma queda de 27,9% 
nos registros de feminicídios nos estados analisados em relação a 2019 – os dados de março apresentaram 
38,9% de aumento nos registros, enquanto os de abril mostraram um crescimentode 3,2%. 
Os homicídios dolosos com vítimas do sexo feminino, por outro lado, aumentaram 7,1% no mês de maio, 
passando de 127 em 2019 para 136 em 2020. Os aumentos mais expressivos foram o do Ceará (208,3%), 
do Acre (100%) e do Rio Grande do Norte (75%). No acumulado entre março e maio, houve apenas um 
pequeno crescimento nos registros, que foram 382 vítimas em 2019 para 386 em 2020. 
Estudar as ações de promoção e prevenção (níveis de prevenção) em saúde das 
IST’s no nível da atenção primária à saúde: prática sexual segura, 
rastreamento, diagnóstico precoce, medidas de controle de parcerias sexuais; 
Resumo de IESC - Duda Valio 
Prevenção Combinada e sexo seguro 
A percepção dos riscos de adquirir uma IST varia de pessoa para pessoa, e sofre mudanças ao longo da 
vida. A prevenção dessas infecções impulsiona a continuidade de projetos pessoais, como relacionamentos, 
filhos(as) e vida sexual saudável. Para que a prevenção ocorra com maior eficácia, deve-se usufruir de todos 
os avanços científicos existentes. A seguir, será detalhado o que é Prevenção Combinada e sexo seguro 
como ferramentas colaboradoras para a gestão de risco de cada pessoa. É papel do profissional de saúde 
oferecer orientações centradas na pessoa com vida sexual ativa e em suas práticas, com o intuito de ajudá-
la a reconhecer e minimizar seu risco. 
O que é Prevenção Combinada? 
O termo “Prevenção Combinada” remete à conjugação de diferentes ações de prevenção às IST, ao HIV e 
às hepatites virais e seus fatores associados. Assim, sua definição está relacionada à combinação das três 
intervenções: biomédica, comportamental e estrutural (marcos legais), aplicadas ao âmbito individual e 
coletivo. A união dessas diferentes abordagens não encerra, contudo, todos os significados e possibilidades 
da Prevenção Combinada (BRASIL, 2017e). 
A mandala representa a combinação e a ideia de movimento de algumas das diferentes estratégias de 
prevenção, tendo sido inicialmente proposta para a infecção pelo HIV (Figura 1). Não há hierarquização 
entre as estratégias. Essa combinação de ações deve ser centrada nas pessoas, nos grupos a que 
pertencem e na sociedade em que estão inseridas, considerando as especificidades dos sujeitos e dos seus 
contextos. 
Os profissionais de saúde devem usar a mandala na orientação sobre prevenção às pessoas sob risco de 
IST, HIV e hepatites virais. Utiliza-se a mesma lógica empregada em relação à saúde reprodutiva. Quando 
uma pessoa/casal chega ao serviço de saúde em busca de anticoncepção, oferecem-se várias opções, 
como: 
anticoncepcional oral 
ou injetável, DIU com 
cobre, preservativo, 
vasectomia etc. Até 
métodos com menor 
eficácia pode ser 
utilizados pelas 
pessoas/casais a 
depender de sua 
indicação, como 
preservativos e 
tabelinha. Portanto, a 
pessoa/casal é quem 
identifica o método 
que melhor se 
enquadre à sua 
rotina, com auxílio do 
profissional de 
saúde. Da mesma 
maneira, pensa-se a 
Prevenção 
Combinada (Figura 
1). 
Resumo de IESC - Duda Valio 
 
O que é sexo seguro? 
Geralmente, o termo “sexo seguro” é associado ao uso exclusivo de preservativos. Por mais que o uso de 
preservativos seja uma estratégia fundamental a ser sempre estimulada, ele possui limitações. Assim, outras 
medidas de prevenção são importantes e complementares para uma prática sexual segura, como as 
apresentadas a seguir: 
› Usar preservativo; 
› Imunizar para HAV, HBV e HPV; 
› Conhecer o status sorológico para HIV da(s) parceria(s) sexual(is); 
› Testar regularmente para HIV e outras IST; › Tratar todas as pessoas vivendo com HIV – PVHIV 
(Tratamento como Prevenção e I=I1 ); 
› Realizar exame preventivo de câncer de colo do útero (colpocitologia oncótica); 
› Realizar Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), quando indicado; 
› Conhecer e ter acesso à anticoncepção e concepção; 
› Realizar Profilaxia Pós-Exposição (PEP), quando indicado. 
Nesse sentido, é essencial ampliar as possibilidades de prevenção e tornar o cenário mais completo e efetivo 
Oferta de preservativos 
O preservativo masculino ou feminino deve ser oferecido às pessoas sexualmente ativas como um método 
eficaz para a redução do risco de transmissão do HIV e de outras IST, além de evitar gravidez. 
Deve-se ofertar e promover a utilização do preservativo feminino como uma possibilidade de prevenção que 
está sob o controle da mulher, pois lhe permite maior autonomia em relação ao seu corpo e às suas práticas 
preventivas. Esse insumo é essencial em situações nas quais existe a dificuldade de negociar o uso do 
preservativo masculino com as parcerias, contribuindo, assim, para o enfrentamento de vulnerabilidades e 
iniquidades entre as relações. 
A oferta do preservativo masculino e feminino deve ser realizada sem restrições de quantidade de retirada 
e sem exigência de documentos de identificação. A distribuição deve ser feita como parte da rotina de 
atendimento, conforme a necessidade de cada pessoa. 
As orientações adequadas para a conservação e o uso correto e regular dos preservativos masculino e 
feminino devem fazer parte da abordagem realizada pelos(as) trabalhadores(as) da saúde. 
O uso regular de preservativos enseja o aperfeiçoamento da técnica de utilização, reduzindo a frequência 
de ruptura e escape e aumentando sua eficácia. Esses insumos devem ser promovidos e disponibilizados 
como parte da rotina de atendimento. 
Rastreamento de IST 
O rastreamento é a realização de testes diagnósticos em pessoas assintomáticas a fim de estabelecer o 
diagnóstico precoce (prevenção secundária), com o objetivo de reduzir a morbimortalidade do agravo 
rastreado (GATES, 2001; WILSON; JUNGNER, 1968). 
Diferentemente de outros rastreamentos, como a mamografia para câncer de mama, o rastreamento das 
IST não identifica apenas uma pessoa; ao contrário, estará sempre ligado a uma rede de transmissão. 
Resumo de IESC - Duda Valio 
Quando não identificado e tratado o agravo na(s) parceria(s), este se perpetua na comunidade e expõe o 
indivíduo à reinfecção, caso não se estabeleça a adesão ao uso de preservativos. 
O Quadro 5 descreve o rastreamento de IST recomendado por subgrupo populacional, respeitando o limite 
estabelecido pela prevenção quaternária (GÉRVAS; PÉREZ FERNÁNDEZ, 2006). 
Os dois principais fatores de risco para IST são práticas sexuais sem uso de preservativos e idade mais 
baixa (CANTOR et al., 2016; JALKH et al., 2014). Em relação à sífilis, por exemplo, as notificações no Brasil 
vêm apresentando tendência de aumento na população mais jovem, de 13 a 29 anos (BRASIL, 2017c). Por 
esse motivo, foram incluídas no rastreamento anual as pessoas de até 30 anos de idade com vida 
sexualmente ativa. Caso a pessoa de 30 anos ou mais pertença a algum outro subgrupo populacional, deve-
se optar pelo que for mais representativo. 
Para o restante da população, a testagem para sífilis e demais IST não inclusa no Quadro 5 dependerá da 
avaliação de risco, devendo fazer parte da abordagem de gerenciamento de risco. 
 
Resumo de IESC - Duda Valio 
 
Resumo de IESC - Duda Valio 
 
O sítio de rastreamento para clamídia e gonococo irá depender da prática sexual realizada pela pessoa. Por 
exemplo: sexo oral sem preservativo – coleta de material de orofaringe; sexo anal receptivo sem preservativo 
– coleta de swab anal; sexo vaginal receptivo sem preservativo – coleta de material genital; sexo insertivo 
sem preservativo – coleta de material uretral. 
Imunização 
Vacina HPV 
A imunização para HPV é realizada por meio de vacina quadrivalente (tipos 6, 11, 16 e 18), estando indicada 
para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. O esquema é composto de duas doses, com 
intervalo de seis meses. 
Para PVHIV, pessoas transplantadas de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos, a faixa 
etária indicada para imunização é de 9 a 26 anos, sendo o esquema de vacinação composto portrês doses 
(0, 2 e 6 meses) (BRASIL, 2017h). Para mais informações, consultar o “Informe técnico da ampliação da 
oferta das vacinas papilomavírus humano 6, 11, 16 e 18 (recombinante)” (BRASIL, 2018f) e a página do 
Ministério da Saúde (http://portalms.saude.gov.br/). Mesmo após a vacinação, o exame preventivo de colo 
uterino segue indicado, conforme as diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero 
(BRASIL, 2016d). 
Vacina HBV 
No Brasil, desde 2016, a vacinação contra a hepatite B está indicada para todas as faixas etárias. Três doses 
de vacina contra a hepatite B induzem títulos protetores de anticorpos (anti-HBs maior ou igual a 10 UI/mL) 
em mais de 90% dos adultos e dos jovens sadios, e em mais de 95% dos lactentes, das crianças e dos 
adolescentes. 
A vacinação é a principal medida de prevenção contra a hepatite B, sendo extremamente eficaz e segura. 
A gestação e a lactação não representam contraindicações para imunização. 
 Se possível, a primeira dose da vacina deve ser administrada no momento do primeiro atendimento. 
Vacina HAV 
O principal mecanismo de transmissão do vírus da hepatite A (HAV) é o fecal-oral. 
A transmissão sexual desse vírus é infrequente. No entanto, recentemente, diversos casos de transmissão 
sexual do vírus da hepatite A foram confirmados em países da Europa e no Brasil (BRASIL, 2019). A maioria 
dos casos parece ocorrer entre homens que fazem sexo com outros homens, embora essa forma de 
transmissão também tenha sido observada entre mulheres. A magnitude da transmissão da hepatite A por 
via sexual é provavelmente subestimada (WERBER et al., 2017; FREIDL et al., 2017, CHEN et al., 2018, 
BEEBEEJAUN et al., 2017). 
A transmissão sexual do HAV provavelmente limita o benefício da prevenção por meio do uso exclusivo de 
preservativos, devendo-se complementar a prevenção com outras medidas, como a higienização das mãos, 
genitália, períneo e região anal antes e depois do ato sexual; o uso de barreiras de látex durante o sexo oral-
anal e de luvas de látex para dedilhado ou “fisting”; a higienização de vibradores e outros acessórios/ 
brinquedos eróticos. 
A vacinação se constitui como a principal medida de prevenção contra a hepatite A, sendo extremamente 
eficaz e segura. 
Resumo de IESC - Duda Valio 
Caso seja possível, deve-se verificar a susceptibilidade do paciente exposto por meio da pesquisa de exame 
sorológico específico (anti-HAV IgM e anti-HAV IgG). A presença de anti-HAV IgM reagente sugere episódio 
agudo de infecção por esse vírus. Já a presença de anti-HAV IgG reagente demonstra imunidade definitiva 
da pessoa exposta e, portanto, nenhuma medida adicional se faz necessária (BRASIL, 2017h). 
Caso a pesquisa dos anticorpos seja não reagente, deve-se observar a indicação de vacinação da pessoa 
exposta, obedecendo-se aos critérios de vacinação do Programa Nacional de Imunizações – PNI, 
disponíveis na página do Ministério da Saúde (http:// portalms.saude.gov.br/) e do “Manual dos Centros de 
Referência para Imunobiológicos Especiais” – CRIE (BRASIL, 2014c). 
Em 7 de junho de 2018, foi publicada a Nota Informativa nº 15/2018-COVIG/CGVP/ DCCI/SVS/MS (BRASIL, 
2018e), que amplia a indicação do uso da vacina de hepatite A para pessoas que tenham prática sexual 
com contato oral-anal (com priorização de gays e HSH). Inicialmente, essa ampliação está prevista para o 
município de São Paulo, devido ao aumento do número de casos, dos quais alguns evoluíram para hepatite 
fulminante e óbito. A vacinação está disponível em Centros de Testagem e Aconselhamento – CTA e nos 
serviços que ofertam PEP, PrEP e/ou atendimento para IST, e que tenham sala de vacina. 
Além disso, atualmente, no SUS, a vacina para hepatite A está indicada para crianças de 15 meses a cinco 
anos incompletos (quatro anos, 11 meses e 29 dias), e nos CRIE, para pessoas de qualquer idade que 
apresentem as seguintes situações: hepatopatias crônicas de qualquer etiologia (incluindo os portadores do 
HCV e do HBV), coagulopatias, PVHIV, portadores de quaisquer doenças imunossupressoras ou doenças 
de depósito, fibrose cística, trissomias, candidatos a transplante de órgãos, doadores de órgãos cadastrados 
em programas de transplantes e pessoas com hemoglobinopatias. Nesse contexto, toda a população HSH 
vivendo com HIV deve ser vacinada. 
Resumo de IESC - Duda Valio 
 
Abordagem às parcerias sexuais 
Para que se interrompa a cadeia de transmissão das IST, é fundamental que os contatos sexuais das 
pessoas infectadas sejam tratados. Portanto, essa informação deve ser repassada à pessoa com IST ao 
mesmo tempo que se fornecem instrumentos para comunicação e todo apoio até o final do processo. 
Uma pessoa com IST nunca é só uma pessoa. É uma rede de parcerias sexuais que estão infectadas. 
Comunicação por cartão 
O profissional de saúde que estiver atendendo o paciente deve obter o nome, endereço e outras informações 
de identificação da parceria sexual para o preenchimento do cartão de comunicação (Anexo A). O cartão 
consiste de duas partes: a parte A fica retida na unidade que a preencheu, e a parte B é entregue ao caso-
índice que, por sua vez, a entregará à parceria. Deve ser preenchido um novo cartão para cada parceria 
identificada. 
A parte A do cartão deve conter: código da Classificação Internacional das Doenças (CID-10); número do 
prontuário; nome do caso-índice; dados da parceria (nome, endereço); data do preenchimento e assinatura 
do profissional de saúde que preencheu o cartão. 
A parte B deve conter o mesmo CID-10, número do prontuário, dados da parceria sexual (nome, endereço), 
mensagem com solicitação de comparecimento ao serviço de saúde, nome e endereço da unidade de saúde 
para o atendimento, data do preenchimento e assinatura do profissional de saúde. Quando a parceria 
apresentar a parte B, o profissional de saúde identificará a IST que ocasionou a comunicação e a unidade 
que emitiu o cartão. Procede-se então ao tratamento, de acordo com as orientações deste Protocolo. 
O atendimento a portadores de cartões emitidos por outras unidades de saúde deve ser informado à unidade 
de origem. Todos os cartões devem ser mantidos em regime de confidencialidade e guardados em locais 
de acesso controlado pelo profissional responsável pelo sistema de comunicação. 
Comunicação por correspondência e outros meios 
Caso as parcerias sexuais não atendam à comunicação por cartão em um prazo de até 15 dias, ou o caso-
índice não queira entregar os cartões (mas forneça dados de identificação das parcerias), deve-se realizar 
a comunicação por meio de correspondência ou outros meios de comunicação que garantam a 
confidencialidade da informação, como contato telefônico e/ou eletrônico. 
Comunicação por busca ativa 
Essa modalidade só poderá ser executada quando se esgotarem todos os recursos disponíveis, havendo 
acesso ao endereço. Cada unidade deve implementar as atividades do sistema progressivamente, conforme 
a disponibilidade local. Por exemplo, pode-se realizar a comunicação por profissionais habilitados, equipe 
de vigilância epidemiológica ou Estratégia de Saúde da Família da área de abrangência. Ao chegar ao 
serviço de saúde, a parceria deve ser considerada portadora da mesma infecção que acometeu o caso-
índice, mesmo que não apresente sinal ou sintoma, e receber o mesmo tratamento recomendado para a 
condição clínica. As parcerias sexuais de gestantes com IST e as gestantes parceiras de pessoas com IST 
que não atenderem à comunicação para tratamento devem ser priorizadas para busca ativa. 
Princípios para comunicação das parcerias sexuais 
Qualquer método utilizado na comunicação das parcerias sexuais deve basear-se nos princípios de 
confidencialidade, ausência de coerção, proteção contra discriminação e legalidade da ação. 
Resumo de IESC - Duda Valio 
Confidencialidade: o profissional de saúde explicará que a informação sobre um pacientenão pode ser 
transmitida a outro. Há menor resistência em utilizar o serviço de saúde quando as pessoas percebem que 
há garantia de confidencialidade. 
Ausência de coerção: a comunicação às parcerias sexuais pelo caso-índice deve ser voluntária, e este 
deve continuar tendo acesso aos serviços, mesmo que não coopere com o procedimento. Pode acontecer 
de o caso-índice se recusar a fazer a comunicação ou impedir que o profissional de saúde o faça; por isso, 
essa decisão deve ser tomada após orientação na consulta, de acordo com princípios éticos. Se o 
profissional perceber que o risco à saúde da parceria e/ou outros (como um concepto) é tão elevado que 
seria antiético deixar de realizar a comunicação, poderá fazê-lo, em último caso, esgotadas todas as 
possibilidades. 
Proteção contra discriminação: a comunicação às parcerias sexuais deverá ser feita respeitando os 
direitos humanos e a dignidade dos envolvidos, principalmente nos ambientes em que o estigma e a 
discriminação possam se seguir ao diagnóstico, tratamento ou notificação. É necessário lembrar que a 
discriminação dentro do próprio serviço de saúde é antiética e profissionalmente inaceitável, repercute 
negativamente na adesão e compromete o trabalho de toda a equipe. Discussões com todos os profissionais 
são essenciais para homogeneizar as ações. 
Compreender o manejo integral nas IST’s sintomáticas promoção, prevenção, 
diagnóstico, tratamento: corrimento vaginal e uretral, úlceras genitais e 
Doença Inflamatória Pélvica (DIP); 
As principais manifestações clínicas das IST são: corrimento vaginal, corrimento uretral, úlceras genitais e 
verrugas anogenitais. Embora possam sofrer variações, essas manifestações têm etiologias bem 
estabelecidas, o que facilita a escolha e a realização dos testes para o diagnóstico e tratamento. 
As amostras para os exames laboratoriais indicados devem ser colhidas no momento da primeira consulta; 
caso os resultados não estejam disponíveis imediatamente, a conduta terapêutica não deve ser postergada 
até a entrega destes. A consulta clínica se completa com a prescrição e orientação para tratamento, além 
do estabelecimento de estratégia para seguimento e atenção às parcerias sexuais e o acesso aos insumos 
de prevenção, como parte da rotina de atendimento. 
Na situação em que não há rede laboratorial disponível, ocorre menor especificidade das condutas, existindo 
a possibilidade de tratamento desnecessário. A resistência da Neisseria gonorrhoeae é preocupação 
mundial (ALIROL et al., 2017; KAHLER, 2018), constando na lista de “patógenos prioritários” resistentes aos 
antibióticos preconizados pela OMS (TACCONELLI et al., 2018). 
No Brasil, a realidade não é diferente. A rede nacional de vigilância para monitorar a resistência 
antimicrobiana da N. gonorrhoeae, o Projeto SenGono, constatou alta resistência desse patógeno à 
penicilina, à tetraciclina e ao ciprofloxacino; emergência de resistência à azitromicina; e total sensibilidade 
(de acordo com os critérios do Clinical and Laboratory Standards Institute - CLSI) às cefalosporinas de 
terceira geração (ceftriaxona, cefixima) (BAZZO, 2018). Diante disso, é fundamental melhorar nossa rede 
laboratorial para o diagnóstico da Neisseria gonorrhoeae, pois a correta identificação do patógeno 
proporciona o tratamento adequado. Outro ponto importante é o diagnóstico e tratamento da parceria sexual 
para a eliminação da bactéria em toda a rede sexual da pessoa, reduzindo assim, o risco de reinfecção 
(JENNESS et al., 2017). 
O manejo das IST parte da premissa do conhecimento sobre a frequência dos agentes etiológicos das 
diferentes manifestações clínicas. Esses estudos de etiologia – componentes fundamentais e necessários 
da vigilância epidemiológica das IST – devem ser realizados regularmente em cada região. 
Existem situações, como o corrimento vaginal, em que o exame especular e testes mínimos são 
recomendados, sem os quais é impossível o adequado manejo do caso. Por outro lado, no manejo de 
Resumo de IESC - Duda Valio 
doença inflamatória pélvica (DIP), considerando-se a urgência da intervenção, a conduta mais indicada é a 
instituição de tratamento imediato. 
A infecção pelos diferentes agentes etiológicos causadores das manifestações clínicas também pode se 
apresentar de forma assintomática. Por essa razão, a atenção integral às pessoas com IST deve, 
idealmente, incluir também o rastreamento e o diagnóstico de infecções assintomáticas, discutidas no 
capítulo 2. 
As condutas baseadas apenas na impressão clínica não são recomendadas, por causa de sua baixa 
sensibilidade e especificidade. As ações clínicas complementares têm tanta importância quanto o 
diagnóstico e o tratamento adequados. 
O manejo das IST sintomáticas segue condutas baseadas em fluxogramas (com e sem a utilização de testes 
laboratoriais), conforme a Figura 2. No seguimento das etapas do fluxograma, é indispensável aprofundar 
cada item, especialmente a anamnese acurada e o exame físico detalhado. 
 
A DIP é uma síndrome clínica atribuída à ascensão de microrganismos do trato genital inferior, espontânea 
ou devida à manipulação (inserção de DIU, biópsia de endométrio, curetagem, entre outros), 
comprometendo o endométrio (endometrite), tubas uterinas, anexos uterinos e/ou estruturas contíguas 
(salpingite, miometrite, ooforite, parametrite, pelviperitonite). 
Constitui uma das mais importantes complicações das IST e um sério problema de saúde pública, sendo 
comum em mulheres jovens com atividade sexual desprotegida. Está associada a sequelas importantes em 
longo prazo, causando morbidades reprodutivas que incluem infertilidade por fator tubário, gravidez ectópica 
Resumo de IESC - Duda Valio 
e dor pélvica crônica. As taxas variam na literatura entre 9% e 20% e aumentam com o número de episódios. 
Estima-se um caso de DIP para cada oito a dez casos de pacientes com cervicite por algum dos patógenos 
elencados a seguir (HAGGERTY et al., 2010). 
A maioria dos casos de DIP (85%) é causada por agentes patogênicos sexualmente transmitidos ou 
associados à vaginose bacteriana. Classicamente reconhecidas como as principais etiologias de DIP, a 
Chlamydia trachomatis e a Neisseria gonorrhoeae têm mostrado incidência decrescente, sendo 
encontradas, em alguns estudos, em 1/3 dos casos (TRENT et al., 2011; SHORT et al., 2009; SWEET, 
2012). 
Menos de 15% dos casos agudos de DIP não são transmitidos sexualmente, mas associados a germes 
entéricos (ex.: Peptococcus, Peptoestreptococcus, Bacteroides Escherichia coli, Streptococcus agalactiae e 
Campylobacter spp.), patógenos respiratórios (ex.: Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae, 
streptococos do Grupo A e Staphylococcus aureus) ou Mycoplasma e Ureaplasma que colonizam o trato 
genital inferior (BRUNHAM et al., 2015; HAGGERTY; TAYLOR , 2011; WEINSTEIN; STILES, 2011; 
MCGOWIN; ANDERSON-SMITS, 2011; CDC, 2010). 
Entender os critérios diagnósticos, tipos de testes e interpretação diagnóstica da 
sífilis segundo o Manual Técnico do Ministério da Saúde 2020. 
Definição e etiologia da sífilis 
A sífilis é uma infecção bacteriana sistêmica, crônica, curável e exclusiva do ser humano. Quando não 
tratada, evolui para estágios de gravidade variada, podendo acometer diversos órgãos e sistemas do corpo. 
Trata-se de uma doença conhecida há séculos; seu agente etiológico, descoberto em 1905, é o Treponema 
pallidum, subespécie pallidum. Sua transmissão se dá principalmente por contato sexual; contudo, pode ser 
transmitida verticalmente para o feto durante a gestação de uma mulher com sífilis não tratada ou tratada 
de forma não adequada (BRASIL, 2017g). 
A maioria das pessoas com sífilis são assintomáticas; quando apresentam sinais e sintomas, muitas vezes 
não os percebem ou valorizam, e podem, sem saber, transmitir a infecção às suas parcerias sexuais. 
Quando não tratada, a sífilis pode evoluir para formas mais graves,comprometendo especialmente os 
sistemas nervoso e cardiovascular (ROLFS et al., 1997; WORKOWSKI; BOLAN, 2015; PEELING et al., 
2017). 
Na gestação, a sífilis pode apresentar consequências severas, como abortamento, prematuridade, 
natimortalidade, manifestações congênitas precoces ou tardias e/ou morte do recém-nascido (RN). O 
Capítulo 6 abrange importantes informações sobre sífilis congênita. 
O Brasil, assim como muitos países, apresenta uma reemergência da doença. Diante disso, os profissionais 
de saúde devem estar aptos a reconhecer as manifestações clínicas, conhecer os testes diagnósticos 
disponíveis, e, principalmente, saber interpretar o resultado do exame para diagnóstico e controle de 
tratamento. 
Transmissão da sífilis 
A transmissibilidade da sífilis é maior nos estágios iniciais (sífilis primária e secundária), diminuindo 
gradualmente com o passar do tempo (sífilis latente recente/ tardia). Vale a pena ressaltar que, no primeiro 
ano de latência, 25% dos pacientes apresentam recrudescimento do secundarismo e, portanto, pode haver 
a transmissão. Essa maior transmissibilidade explica-se pela riqueza de treponemas nas lesões, comuns na 
sífilis primária (cancro duro) e secundária (lesões muco-cutâneas). As espiroquetas penetram diretamente 
nas membranas mucosas ou entram por abrasões na pele (PEELING et al., 2017). Essas lesões se tornam 
raras ou inexistentes a partir do segundo ano da doença. 
Resumo de IESC - Duda Valio 
Em gestantes, a taxa de transmissão vertical de sífilis para o feto é de até 80% intraútero. Essa forma de 
transmissão ainda pode ocorrer durante o parto vaginal, se a mãe apresentar alguma lesão sifilítica. A 
infecção fetal é influenciada pelo estágio da doença na mãe (maior nos estágios primário e secundário) e 
pelo tempo em que o feto foi exposto. Tal acometimento fetal provoca entre 30% a 50% de morte in utero, 
parto pré-termo ou morte neonatal. 
Classificação clínica da sífilis 
A sífilis é dividida em estágios que orientam o tratamento e monitoramento, conforme segue (WORKOWSKI; 
BOLAN, 2015): 
› Sífilis recente (primária, secundária e latente recente): até um ano de evolução; 
› Sífilis tardia (latente tardia e terciária): mais de um ano de evolução. 
Sífilis primária: o tempo de incubação é de dez a 90 dias (média de três semanas). A primeira manifestação 
é caracterizada por uma úlcera rica em treponemas, geralmente única e indolor, com borda bem definida e 
regular, base endurecida e fundo limpo, que ocorre no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, 
colo uterino, ânus, boca, ou outros locais do tegumento), sendo denominada “cancro duro”. A lesão primária 
é acompanhada de linfadenopatia regional (acometendo linfonodos localizados próximos ao cancro duro). 
Sua duração pode variar muito, em geral de três a oito semanas, e seu desaparecimento independe de 
tratamento. Pode não ser notada ou não ser valorizada pelo paciente. Embora menos frequente, em alguns 
casos a lesão primária pode ser múltipla. 
Sífilis secundária: ocorre em média entre seis semanas a seis meses após a cicatrização do cancro, ainda 
que manifestações iniciais, recorrentes ou subentrantes do secundarismo possam ocorrer em um período 
de até um ano. Excepcionalmente, as lesões podem ocorrer em concomitância com a manifestação primária. 
As manifestações são muito variáveis, mas tendem a seguir uma cronologia própria. 
Inicialmente, apresenta-se uma erupção macular eritematosa pouco visível (roséola), principalmente no 
tronco e raiz dos membros. Nessa fase, são comuns as placas mucosas, assim como lesões acinzentadas 
e pouco visíveis nas mucosas. As lesões cutâneas progridem para lesões mais evidentes, papulosas 
eritematoacastanhadas, que podem atingir todo o tegumento, sendo frequentes nos genitais. Habitualmente, 
atingem a região plantar e palmar, com um colarinho de escamação característico, em geral não pruriginosa. 
Mais adiante, podem ser identificados condilomas planos nas dobras mucosas, especialmente na área 
anogenital. Estas são lesões úmidas e vegetantes que frequentemente são confundidas com as verrugas 
anogenitais causadas pelo HPV. Alopecia em clareiras e madarose são achados eventuais. O secundarismo 
é acompanhado de micropoliadenopatia, sendo característica a identificação dos gânglios epitrocleares. São 
comuns sintomas inespecíficos como febre baixa, mal-estar, cefaleia e adinamia. 
A sintomatologia desaparece em algumas semanas, independentemente de tratamento, trazendo a falsa 
impressão de cura. Atualmente, têm-se tornado mais frequentes os quadros oculares, especialmente 
uveítes. A neurossífilis meningovascular, com acometimento dos pares cranianos, quadros meníngeos e 
isquêmicos, pode acompanhar essa fase, contrariando a ideia de que a doença neurológica é exclusiva de 
sífilis tardia. Há que se considerar esse diagnóstico especialmente, mas não exclusivamente, em pacientes 
com imunodepressão. 
Toda erupção cutânea sem causa determinada deve ser investigada com testes para sífilis. 
Sífilis latente: período em que não se observa nenhum sinal ou sintoma. O diagnóstico faz-se 
exclusivamente pela reatividade dos testes treponêmicos e não treponêmicos. A maioria dos diagnósticos 
ocorre nesse estágio. A sífilis latente é dividida em latente recente (até um ano de infecção) e latente tardia 
(mais de um ano de infecção). Aproximadamente 25% dos pacientes não tratados intercalam lesões de 
secundarismo com os períodos de latência. 
Resumo de IESC - Duda Valio 
Sífilis terciária: ocorre aproximadamente em 15% a 25% das infecções não tratadas, após um período 
variável de latência, podendo surgir entre 1 e 40 anos depois do início da infecção. A inflamação causada 
pela sífilis nesse estágio provoca destruição tecidual. É comum o acometimento do sistema nervoso e do 
sistema cardiovascular. Além disso, verifica-se a formação de gomas sifilíticas (tumorações com tendência 
a liquefação) na pele, mucosas, ossos ou qualquer tecido. As lesões podem causar desfiguração, 
incapacidade e até morte. 
 
Métodos diagnósticos de sífilis 
Os testes utilizados para o diagnóstico de sífilis são divididos em duas categorias: exames diretos e testes 
imunológicos. 
Exames diretos de sífilis 
Os exames diretos são aqueles em que se realiza a pesquisa ou detecção do T. pallidum em amostras 
coletadas diretamente das lesões, e estão descritos no Quadro 12. 
Resumo de IESC - Duda Valio 
 
Testes imunológicos de sífilis 
Os testes imunológicos são, certamente, os mais utilizados na prática clínica. Caracterizam-se pela 
realização de pesquisa de anticorpos em amostras de sangue total, soro ou plasma. Esses testes são 
subdivididos em duas classes, os treponêmicos e os não treponêmicos (Quadro 13). 
Testes treponêmicos: são testes que detectam anticorpos específicos produzidos contra os antígenos de 
T. pallidum. São os primeiros a se tornarem reagentes, podendo ser utilizados como primeiro teste ou teste 
complementar. Em 85% dos casos, permanecem reagentes por toda vida, mesmo após o tratamento e, por 
isso, não são indicados para o monitoramento da resposta ao tratamento. 
Existem vários tipos de testes treponêmicos1 : › Os testes rápidos (TR) utilizam principalmente a metodologia 
de imunocromatografia de fluxo lateral ou de plataforma de duplo percurso (DPP). São distribuídos pelo 
Ministério da Saúde para estados e Distrito Federal, sendo os mais indicados para início de diagnóstico; 
Os TR são práticos e de fácil execução, com leitura do resultado em, no máximo, 30 minutos. Podem ser 
realizados com amostras de sangue total colhidas por punção digital ou venosa. Têm a vantagem de serem 
realizados no momento da consulta, possibilitando tratamento imediato. 
Resumo de IESC - Duda Valio 
› Testes de hemaglutinação (TPHA, do inglês T. Pallidum Haemagglutination Test) e de aglutinação de 
partículas (TPPA, do inglês T. Pallidum Particle Agglutination

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