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BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA E-Book BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA Sumário Unidade 1 ................................................................................................................................................ 4 1. FATOS HISTÓRICOS DA EPIDEMIOLOGIA ................................................................................... 4 1.1. PRIMÓRDIOS DA EPIDEMIOLOGIA ...................................................................................... 4 1.2. EPIDEMIOLOGIA CLÁSSICA .................................................................................................. 8 1.3. EPIDEMIOLOGIA MODERNA .............................................................................................. 10 1.4. CONCEITOS DA EPIDEMIOLOGIA ....................................................................................... 11 1.5. A EPIDEMIOLOGIA NO BRASIL E SEUS PRINCIPAIS USOS .................................................. 15 Unidade 2 .............................................................................................................................................. 18 2. FERRAMENTAS DA EPIDEMIOLOGIA ........................................................................................ 18 2.1. CONCEITOS EPIDEMIOLÓGICOS ........................................................................................ 18 2.2. SAÚDE X DOENÇA .............................................................................................................. 20 2.3. HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA ...................................................................................... 25 2.4. PRINCÍPIOS DA CAUSALIDADE E INDICADORES DE SAÚDE ............................................... 27 2.5. EPIDEMIA, ENDEMIA, PANDEMIA E SURTO ...................................................................... 34 Unidade 3 .............................................................................................................................................. 38 3. INTRODUÇÃO À ESTATÍSTICA ................................................................................................... 38 3.1. MODA, MEDIANA E MÉDIA ............................................................................................... 40 3.1.1. Moda ......................................................................................................................... 40 3.1.2. Mediana .................................................................................................................... 40 3.1.3. Média ........................................................................................................................ 41 3.2. DESVIO PADRÃO, VARIÂNCIA E CURVA DE DISTRIBUIÇÃO ............................................... 41 3.2.1. Desvio Padrão ............................................................................................................ 41 3.2.2. Variância ................................................................................................................... 43 3.2.3. Curva de Distribuição ................................................................................................ 44 3.3. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DOS DADOS E TIPOS DE ESTUDOS ......................................... 46 3.4. ESTUDO TRANSVERSAL, ESTUDO DE OBSERVAÇÃO E ESTUDO ECOLÓGICO .................... 50 3.4.1. Estudo de Observação ............................................................................................... 50 3.4.2. Estudo de Observação ............................................................................................... 50 3.4.3. Estudo Ecológico ........................................................................................................ 51 3.5. ESTUDO CASO CONTROLE, ESTUDO DE COORTE E ESTUDO EXPERIMENTAL ................... 52 Unidade 4 .............................................................................................................................................. 57 4. EPIDEMIOLOGIA NO BRASIL ..................................................................................................... 57 4.1. SAÚDE PÚBLICA X SAÚDE COLETIVA E SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL ................................. 57 4.2. A CRIAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) ............................................................. 59 BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 4.3. DATASUS ............................................................................................................................ 61 4.4. TICS .................................................................................................................................... 63 4.5. EPIDEMIOLOGIA NUTRICIONAL ......................................................................................... 64 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 69 BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 4 Unidade 1 Unidade 1 1. FATOS HISTÓRICOS DA EPIDEMIOLOGIA É de praxe e muito importante entendermos o conceito, significado e a história da epidemiologia, principalmente para entendermos atualmente o que houve ou não de mudança com essa ciência. Utilizamos a epidemiologia a muitos séculos e, desde o seu surgimento, basicamente, utilizamos os mesmos conceitos, porém com mudanças tecnológicas, o que simplificou e agilizou os métodos de avaliação epidemiológica. Mas qual o significado da palavra epidemiologia, esta palavra vem do grego onde epi significa sobre, demo significa população (demografia) e logia significa estudo, em termos mais amplos podemos descrever a epidemiologia como o estudo sobre a população, o que já caracteriza bem o que ela significa que nada mais é o estudo de um grupo populacional, portanto a epidemiologia não vê o indivíduo e sim a população como um todo. A epidemiologia é dividida em três partes distintas de atuação no tempo e anos de conhecimento e nessas partes distintas existiram grandes nomes que mudaram a epidemiologia até chegar ao que conhecemos nos tempos atuais. A epidemiologia é dividida em primórdios da epidemiologia (ou tempo inicial), epidemiologia clássica e epidemiologia moderna. 1.1. PRIMÓRDIOS DA EPIDEMIOLOGIA Os primórdios da epidemiologia são basicamente o início de tudo, neste tempo podemos dizer que se iniciou com Hipócrates (médico grego) e se originou das suas observações feitas há mais de 2000 anos na Grécia antiga durante o século VI a.C. Nesta época, a epidemiologia era fortemente ligada à Medicina em que Asclépio, Deus da Medicina, tinha duas filhas Higéia que era ligada ao conceito de medicina preventiva (higiene) e Panacéia ligada ao conceito de medicina curativa e, através destes conceitos, principalmente ligada à Higéia, surgem as bases científicas da Medicina ligadas a epidemia e endemia. BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 5 Unidade 1 Hipócrates 460 A.C. – 377 A.C. Hipócrates determinou que fatores ambientais influenciavam na ocorrência de doenças. Diferentemente dos tempos atuais, neste período, utilizava-se uma epidemiologia observacional, de modo que as descobertas eram feitas somente por observação da população, não existia como hoje, um processo um pouco mais invasivo para descoberta das doenças. Com suas observações, Hipócrates criou os “Enunciados das Teorias Hipocráticas” que basicamente eram distribuídas em 6 pontos; Cada doença tem uma causa natural; Um efeito similar pode ser provocado por diferentes causas; A doença é um desiquilíbrio do estado natural do corpo; Os fatores causais das doenças podem ser de forma internos (dieta e exercício) ou externo (ar, vento, calor e frio); Definiu que o equilíbrio do corpo era basicamente constituído por fluidos corporais e determinou que este equilíbrio era causado pelos humores corpóreos (sangue, fleugma ou muco, bile amarelae bile negra e um desiquilíbrio desses fluidos causavam algum tipo de doença; Relação sexual, feridas e ferimentos podem causar doenças. Já, Galeno (129 – 199), nesse mesmo período, revisou a teoria humoral e ressaltou também a importância dos quatro temperamentos no estado de saúde. Galeno via como uma BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 6 Unidade 1 das causas da doença sendo um fator endógeno, ou seja, estaria no próprio indivíduo, em sua constituição física ou em hábitos de vida que levassem ao desequilíbrio corporal. Na Roma antiga, ainda nos primórdios da epidemiologia, esses postulados tanto de Hipócrates como de Galeno começaram a ser mais difundidos e estudados nesse período e é onde surgem os princípios da medicina curativa e individual, sendo os primeiros médicos de Roma. Em geral, escravos gregos que trabalhavam para a corte, exército ou para famílias nobres. Os governantes viam a cura através de fluidos como a água, nessa época era muito comum a construção de saunas curativas, tanto a sauna seca como a sauna úmida, eles acreditavam que poderiam curar as pessoas com o calor e as doenças saiam pelos poros através do suor. Neste período, também foram criadas as realizações de censos e registros compulsórios de nascimento e óbito (o quem se utiliza até hoje), houve se a preocupação de se ter um registro populacional e sabemos que isto ocorria principalmente devido à arrecadação de fundos aos governantes, hoje se utiliza para controle populacional. Além dessas contribuições, foi nesse período também, começaram as construções de aquedutos e esgotos, tornando o que é hoje uma infraestrutura sanitária importante para a não propagação de doenças. Outro fator histórico e importante nos primórdios da epidemiologia foi na idade média, com a queda do Império Romano o domínio da Igreja veio forte ocorrendo uma hegemonia BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 7 Unidade 1 da igreja católica e os cuidados da saúde eram realizados por ordem religiosa, pois a salvação da alma era muito mais importante. O domínio do cristianismo determinou o retorno a práticas de saúde “mágico-religiosa”, de modo que foram “perdidos” alguns contextos de Hipócrates e Galeno. A Igreja acreditava que as doenças eram acometidas em indivíduos devido a alguma heresia acometida como resultado do pecado e a cura como questão de fé; o cuidado de doentes estava, em boa parte, entregue a ordens religiosas, que administravam inclusive os hospitais, instituição que o cristianismo desenvolveu muito, não como um lugar de cura, mas de abrigo e de conforto para os doentes, neste contexto a pessoa era curada pela oração ou pela “Mão de Deus”. Surge paralelo neste período a Medicina Árabe quando um médico muito respeitado chamado Avicena compartilhou a filosofia individual e coletiva, precursora, hoje, do pensamento científico moderno da Epidemiologia. Neste período, os médicos muçulmanos preservavam os textos hipocráticos paralelo às práticas religiosas e adotavam os princípios de higiene e saúde pública com alto grau de organização social. A medicina Árabe estabeleceu registros de informações demográficas e sanitárias e até sistemas de vigilância epidemiológica, óbvio que não tão tecnológico como nos tempos atuais mais com princípios basicamente utilizados até nos tempos de hoje. BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 8 Unidade 1 1.2. EPIDEMIOLOGIA CLÁSSICA No século XV, Paracelsus (1493–1541) afirmava que as doenças eram provocadas por agentes externos e não por agentes internos ao organismo. Neste período e, pegando o caminho da alquimia, a química começava a se desenvolver e tinha uma influência na medicina. Paracelsus dizia que, se os processos que ocorrem no corpo humano são químicos, os melhores remédios para expulsar a doença seriam também químicos, e passou então a administrar aos doentes, pequenas doses de minerais e metais, notadamente o mercúrio, empregado no tratamento da sífilis, doença que, em função da liberalização sexual, tinha-se tornado epidêmica na Europa. Paracelsus 1493 – 154 Já o desenvolvimento da mecânica influenciou as ideias de René Descartes, no século XVII começando o paradigma da ciência, junto com Francis Bacon publicaram as obras que introduzem o método científico. Descartes postulava uma dualidade mente–corpo, o corpo tinha um funcionamento como uma máquina. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento da anatomia, também consequência da modernidade, afastou a concepção de Hipócrates sobre a teoria humoral da doença, que passou a ser localizada diretamente nos órgãos. Descartes compõe um manual que introduz a um método até naquele momento científico, este manual era composto de 4 regras: ➢ Aceitar como verdadeiro somente o que se conhece de modo evidente, excluindo qualquer dúvida. BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 9 Unidade 1 ➢ Cada problema pode ser solucionado, dividindo-o em quantas partes seja possível (dividir significa conhecer o problema). ➢ Conduzir o pensamento em ordem, começando pelo mais simples até o conhecimento mais composto. ➢ Fazer sempre inventários tão completos e exaustivos que se fique certo de nada ter sido omisso, para que qualquer outro possa repetir. René Decartes - 1596 – 1650 Com o surgimento destes métodos, o homem saí da condição de observador e passa a intervir na natureza das doenças, quando surgem as clínicas. Antes do surgimento das clínicas, a população doente era colocada em um mesmo espaço, portanto, um grupo de indivíduos com uma doença infecto contagiante, permanecia no mesmo local com indivíduos com doenças mais simplistas. A partir do surgimento das clínicas, houve a intenção de separar estes indivíduos e tratá-los conforme as suas doenças não ocasionando o que conhecemos atualmente como infecções cruzadas. Mas a ciência continuava avançando e, no final do século XIX, registrou-se aquilo que depois seria conhecido como a revolução pasteuriana. No laboratório de Louis Pasteur e, em outros laboratórios, o microscópio descoberto no século XVII, mas, até, então, não muito valorizado, estava revelando a existência de microrganismos causadores de doenças e possibilitando a introdução de soros e vacinas. Era uma revolução porque, pela primeira vez, fatores etiológicos desconhecidos estavam sendo identificados; doenças, agora, poderiam ser prevenidas e curadas. BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 10 Unidade 1 1.3. EPIDEMIOLOGIA MODERNA Em meados dos anos 1838 ou no século XIX, surge a epidemiologia moderna. Neste período, já tinham muitas ferramentas importantes para a constituição e análise da epidemiologia. Porém, faltavam alguns dados importantes para melhorar este processo e, é neste período, que se começam a introduzir a estatística com a epidemiologia em 1825, Alexandre Louis (1787 – 1872), médico e matemático publica em Paris um estudo estatístico de 1960 casos de tuberculose. Sendo também o percursor da avaliação de eficácia dos tratamentos clínicos utilizando os métodos estatísticos. Nesta época, surge também a Revolução Industrial e sua economia política trazem o fato e a ideia da força de trabalho. A formação de um proletariado urbano, submetido a intensos níveis de exploração, causa um desgaste da classe trabalhadora deteriora profundamente as suas condições de saúde principalmente pelo uso constante de tabaco e álcool, pois os trabalhadores passam a usar estas substâncias para conseguir superar horas de trabalho a fio gerando diversas doenças como as respiratórias, stress, depressão, etc. A revolução industrial de 1760 Na epidemiologia moderna, tendo esses conhecimentos impulsionando a chamada medicina tropical. O trópico atraía a atenção do colonialismo, mas os empreendimentos comerciais eram ameaçados pelas doenças transmissíveis endêmicas e epidêmicas. Daí a necessidade de estudar, prevenire curar. Nessa época, nascia também a epidemiologia, baseada no estudo pioneiro do cólera em Londres, feito pelo médico inglês John Snow (1813– 1858). Ele identificou o local de moradia de cada pessoa que morreu por cólera em Londres BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 11 Unidade 1 entre 1848 – 49 e 1853 – 54 e notou uma evidente associação entre a origem da água utilizada para beber e as mortes ocorridas. A partir disso, Snow comparou o número de óbitos por cólera em áreas abastecidas por diferentes companhias e verificou que a taxa de morte foi mais alta entre as pessoas que consumiam água fornecida pela companhia Southwark, devido a isso John Snow é considerado o pai da epidemiologia moderna. Baseado nessa sua investigação, Snow construiu a teoria sobre a transmissão das doenças infecciosas, em geral e, sugeriu que a cólera era disseminada através da água contaminada. Dessa forma, foi capaz de propor melhorias no suprimento de água, mesmo antes da descoberta do micro-organismo causador da cólera; além disso, sua pesquisa teve impacto direto sobre as políticas públicas de saúde. Graças a essas medidas adotadas em 1850 é fundada a primeira sociedade de epidemiologia em Londres, e John Snow é considerado até hoje o pai da epidemiologia moderna. No século XX, desenvolvem-se os conceitos de riscos e as técnicas estatísticas. A abordagem epidemiológica que compara os coeficientes (ou taxas) de doenças em subgrupos populacionais, tornou-se uma prática comum no final do século XIX e início do século XX. Após a II guerra, o foco da epidemiologia é também nas doenças não transmissíveis, até, então, só utilizada para doenças transmissíveis quando esses métodos foram aplicados para doenças crônicas não transmissíveis tais como doença cardíaca e câncer, sobretudo nos países industrializados. 1.4. CONCEITOS DA EPIDEMIOLOGIA Graças a estes conceitos podemos determinar que a epidemiologia é uma ciência fundamental para a saúde pública e tem dado grande contribuição à melhoria da saúde das populações sendo essencial no processo de identificação e mapeamento de doenças emergentes. Podemos considerar também a epidemiologia como uma ciência que utiliza métodos quantitativos para o estudo dos problemas de saúde, isto graças a estatística, e é um ramo das ciências da saúde que estuda, na população, a ocorrência, a distribuição e os fatores determinantes dos eventos relacionados a saúde. (PEREIRA, 1995). Entendendo estes conceitos, até este momento, podemos mostrar o que cada indivíduo na área da saúde faz. Isto, quando falamos de médico e epidemiologista. O médico investiga alterações no organismo, realiza exames clínicos, solicita exames complementares, BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 12 Unidade 1 chega a um diagnóstico e indica prescrição. Já o epidemiologista investiga o agravo na população, frequência e distribuição da doença, informações com dados adquiridos, cria hipóteses de fatores determinantes, realiza associação fator-doença e profilaxia. Sendo assim, qual o objetivo da epidemiologia? Os principais objetivos são contribuir para a compreensão da doença, conduzir a métodos de prevenção, forma de transmissão e determinantes da doença, circunstâncias: microbiológicos, toxicológicos e fatores genéticos, sociais ou ambientais. Tem como objeto de estudo populações humanas, saúde e doença. A partir do que já se estudou, viu-se que a epidemiologia é como uma ferramenta de “ajuda” no entendimento das doenças e auxílio à medicina, mas por um longo período, houve a discussão do que seria a saúde, não havia ainda um conceito universal. Para tal, seria necessário um consenso entre as nações, possível de obter somente num organismo internacional. A Liga das Nações, surgida após o término da Primeira Guerra, não conseguiu esse objetivo. Foi necessário haver uma Segunda Guerra e a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), para que isto acontecesse. O conceito da OMS, divulgado na carta de princípios de 7 de abril de 1948 (desde então o Dia Mundial da Saúde), implicando o reconhecimento do direito à saúde e da obrigação do Estado na promoção e proteção da saúde, diz que "Saúde é o estado do mais completo bem- estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade". Este conceito refletia, de um lado, uma aspiração nascida dos movimentos sociais do pós-guerra: o fim do colonialismo, a ascensão do socialismo. Saúde deveria expressar o direito a uma vida plena, sem privações. Um conceito útil para analisar os fatores que intervêm sobre a saúde e, sobre os quais, a saúde pública deve, por sua vez, intervir, é o de campo da saúde (health field), formulado em 1974 por Marc Lalonde, titular do Ministério da Saúde e do Bem-estar do BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 13 Unidade 1 Canadá – país que aplicava o modelo médico inglês. De acordo com esse conceito, o campo da saúde abrange: A biologia humana, que compreende a herança genética e os processos biológicos inerentes à vida, incluindo os fatores de envelhecimento; O meio ambiente, que inclui o solo, a água, o ar, a moradia, o local de trabalho; O estilo de vida, do qual resultam decisões que afetam a saúde: fumar ou deixar de fumar, beber ou não, praticar ou não exercícios; A organização da assistência à saúde. A assistência médica, os serviços ambulatoriais, hospitalares e os medicamentos são as primeiras coisas em que muitas pessoas pensam quando se fala em saúde. No entanto, esse é apenas um componente do campo da saúde e, não necessariamente, o mais importante; às vezes, é mais benéfico para a saúde ter água potável e alimentos saudáveis do que dispor de medicamentos. É melhor evitar o fumo do que se submeter a radiografias de pulmão todos os anos. É claro que esses fatos não são excludentes, mas a escassez de recursos na área da saúde obriga, muitas vezes, a selecionar prioridades. A amplitude do conceito da OMS (visível também no conceito canadense) acarretou críticas, algumas de natureza técnica (a saúde seria algo ideal, inatingível; a definição não pode ser usada como objetivo pelos serviços de saúde), outras de natureza política, libertária: o conceito permitiria abusos por parte do Estado, que interviria na vida dos cidadãos, sob o pretexto de promover a saúde. Em decorrência da primeira objeção, surge o conceito de Christopher Boorse (1977) de que saúde é ausência de doença. A classificação dos seres humanos como saudáveis ou doentes seria uma questão objetiva, relacionada ao grau de eficiência das funções biológicas, sem necessidade de juízos de valor. BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 14 Unidade 1 Uma resposta a isto, foi dada pela declaração final da Conferência Internacional de Assistência Primária à Saúde realizada na cidade Alma–Ata (no atual Cazaquistão), em 1978, promovida pela OMS. A abrangência do tema foi, até certo ponto, uma surpresa. A par de suas tarefas de caráter normativo e classificação internacional de doenças, elaboração de regulamentos internacionais de saúde, de normas para a qualidade da água, a OMS havia desenvolvido programas com a cooperação de países-membros, mas esses programas tiveram como alvo inicial duas doenças transmissíveis de grande prevalência: malária e varíola. A Conferência enfatizou as enormes desigualdades na situação de saúde entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos; destacou a responsabilidade governamental na provisão da saúde e a importância da participação de pessoas e comunidades no planejamento e implementação dos cuidados à saúde. Trata-se de uma estratégia que se baseia nos seguintes pontos: ➢ As ações de saúde devem ser práticas, exequíveis e socialmente aceitáveis; ➢ Devem estar ao alcance de todos, pessoas e famílias, portanto, disponíveis em locais acessíveis à comunidade; ➢ A comunidade deve participar ativamente na implantaçãoe na atuação do sistema de saúde; O custo dos serviços deve ser compatível com a situação econômica da região e do país. Estruturados dessa forma, os serviços que prestam os cuidados primários de saúde representam a porta de entrada para o sistema de saúde, do qual são, verdadeiramente, a base. O sistema nacional de saúde, por sua vez, deve estar inteiramente integrado no processo de desenvolvimento social e econômico do país, processo este do qual saúde é causa e consequência. BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 15 Unidade 1 Os cuidados primários de saúde, adaptados às condições econômicas, socioculturais e políticas de uma região deveriam incluir pelo menos: educação em saúde, nutrição adequada, saneamento básico, cuidados maternos-infantis, planejamento familiar, imunizações, prevenção e controle de doenças endêmicas e de outros frequentes agravos à saúde, provisão de medicamentos essenciais. Deveria haver uma integração entre o setor de saúde e os demais, como agricultura e indústria. O conceito de cuidados primários de saúde tem conotações. É uma proposta racionalizadora, mas é também uma proposta política; em vez da tecnologia sofisticada oferecida por grandes corporações, propõe tecnologia simplificada, "de fundo de quintal". No lugar de grandes hospitais, ambulatórios; de especialistas, generalistas; de um grande arsenal terapêutico, uma lista básica de medicamentos enfim, em vez da "mística do consumo", uma ideologia da utilidade social. Ou seja, uma série de juízos de valor, que os pragmáticos da área rejeitam. A pergunta é: como criar uma política de saúde pública sem critérios sociais, sem juízos de valor? Por causa disso, nossa Constituição Federal de 1988, artigo 196, evita discutir o conceito de saúde, mas diz que a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação. Este é o princípio que norteia o SUS, Sistema Único de Saúde. No princípio que está colaborando para desenvolver a dignidade aos brasileiros, como cidadãos e como seres humanos. 1.5. A EPIDEMIOLOGIA NO BRASIL E SEUS PRINCIPAIS USOS Já que estamos falando de Brasil, como se inicia a epidemiologia em nosso país? A história da epidemiologia começa em 1903 com Oswaldo Cruz, nomeado pelo presidente da República Rodrigues Alves, sendo nomeado para Diretor-geral de Saúde Pública. Neste cargo, Oswaldo Cruz institui a polícia Sanitária do Rio de Janeiro tendo um caráter autoritário, pois eles intervinham nos domicílios, mesmo sem o consentimento dos proprietários e moradores, sua principal tarefa era sanear o Rio de Janeiro em conter as principais epidemias da época que eram febre-amarela, peste bubônica e varíola. Para termos uma ideia do caráter autoritário da Polícia Sanitária, a campanha contra a febre-amarela era BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 16 Unidade 1 estruturada em moldes militares, sendo impostas medidas rigorosas como aplicação de multas, intimação aos proprietários de imóveis insalubres para reformar ou demolir. Após Oswaldo Cruz, no comando da Diretoria Geral de Saúde Pública, entra em cena seu sucessor Carlos Chagas em meados dos anos 1920. Ele reestruturou o Departamento Nacional de Saúde e introduziu as propagandas e educação sanitária. Além disso, criou os órgãos especializados na luta contra a tuberculose, a lepra e as doenças venéreas, criou também a assistência hospitalar infantil e a higiene industrial individualizado, expandindo as atividades de saneamento para outros Estados fora do Rio de Janeiro. Após analisarmos os fatos históricos, podemos compreender quais são os principais usos da epidemiologia. Análise da situação da saúde: conhecer a situação de saúde da população e suas tendências com vistas a implementar ações de saúde adequadas, efetivas e oportunas através de inquéritos de saúde, monitoramento das condições de saúde e diagnóstico das necessidades de saúde. Avaliação de programas, serviços ou tecnologias: avaliar o impacto dos diversos serviços, programas e tecnologias disponíveis em modificar a situação de saúde ou prevenir a ocorrência de agravos e doenças em uma dada população através de estudos analíticos experimentais ou observacionais de avaliação. Planejamento e organização de serviços: definição de prioridades e melhor uso dos recursos através de subsídio ao planejamento para indicação de ações que aprimorem a atenção à saúde, modificando, assim, as condições de saúde da população. A epidemiologia em serviços de saúde é uma ciência com condições de contribuir com a capacidade dos serviços de saúde para transformar as condições de vida e a situação de saúde da população e se baseia através de dados e informações dos serviços de saúde, informações clínico- laboratoriais, ciências básicas da saúde, demografia, estatística, ciências sociais e ciências humanas, política, administração e gestão de serviços, informática e tecnologia da informação. Com isto, podemos determinar variáveis epidemiológicas que são baseadas por características da população através de dados como: idade, gênero e nascimentos, morbidade e mortalidade, determinantes sociais como educação, saneamento, habitação, emprego, transporte, cultura, organização social e política. Serviços de saúde através de rede de unidades: características, instalações e equipamentos, oferta de serviços, cobertura, acesso e distribuição, e outros interesses como recursos humanos, orçamento e custos, tecnologia e BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 17 Unidade 1 processos de trabalho. Na epidemiologia, há uma questão denominada problema epidemiológico que é quando o problema tem origem quando doenças acometem grupos humanos. É a necessidade de remover fatores ambientais contrários à saúde ou de criar condições que a promovam, que determina a problemática própria da epidemiologia. BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 18 Unidade 2 Unidade 2 2. FERRAMENTAS DA EPIDEMIOLOGIA 2.1. CONCEITOS EPIDEMIOLÓGICOS Como já foi estudado, a história da epidemiologia levou a diversos fatores modificáveis e atuantes na saúde pública. Então, temos que ter uma definição definitiva do que é epidemiologia e ter em mente que a epidemiologia tem como objetivo a pesquisa quantitativa, e não qualitativa. Expressa desfechos clínicos, sintomas e incapacidades de um grupo populacional e existem alguns princípios que a regem como os da probabilidade. Neste, os desfechos são incertos, por isso, não podemos predizer com certeza que é um desfecho clínico. É através da probabilidade que podemos determinar os riscos epidemiológicos, sendo que o risco é a probabilidade de um indivíduo desenvolver uma mudança no seu status de saúde, ao longo de um determinado período de tempo. A probabilidade é expressa em decimais sendo 0 impossível e 1 certeza. A experiência anterior em que se tem a observação de grupos similares e os erros sistemáticos são conhecidos como vieses, podem invalidar uma pesquisa. Assim, dizemos que toda a epidemiologia e toda observação clínica está sob a influência do acaso e as observações são baseadas em princípios científicos sólidos. Fonte: Depositphotos BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 19 Unidade 2 No que se refere a Viés, é qualquer situação, em qualquer estágio da inferência, que tende a produzir resultados e conclusões, que diferem sistematicamente da verdade e ocasiona a distorção de uma estimativa de uma determinada variável. O Viés pode ser classificado como: Viés de Seleção: que é uma amostra não representativa na população e pode ocorrer um erro sistemático, devido à manipulação da amostra à solução. Para que isto não aconteça, deve-se realizar uma aleatorização ou randomização das amostras. Viés de Aferição: quandoos métodos de medida diferem entre os grupos. Viés Confusão (Confounding): quando não há comparabilidade entre os grupos estudados, acontece quando variáveis que produzem os desfechos clínicos, estão desigualmente distribuídas entre os grupos. Um fator importante de se analisar em Epidemiologia é a população e amostra. Neste contexto, população é um grupo de indivíduos que vive num determinado contexto ou que tem características em comum. A amostra é uma parte desta população, isto é importante pelo fator de que, por exemplo: em uma pesquisa epidemiológica na qual se estudarão indivíduos obesos, ao se analisar em um contexto não muito amplo como indivíduos obesos do estado de São Luís do Maranhão, é um pouco improvável tanto no fator custo quanto no fator logístico fazer esta pesquisa. Sendo assim, analisa-se uma parte desta população que terão as mesmas características da doença para representar este grupo populacional. Para designar esta amostra populacional, seguem-se alguns critérios específicos, a amostra é classificada em amostra por conveniência, amostra aleatória e amostra consecutiva. Na amostra por conveniência não é possível se determinar quais foram os reais critérios de sua seleção e tem-se ainda suspeita de viés. Nesta, os indivíduos são inclusos na amostra sem probabilidade previamente especificada ou conhecida de eles serem selecionados, por isso, este tipo de amostra, não tem valor científico. Porém, tem a vantagem de permitir que a escolha de amostras e a coleta de dados sejam relativamente fáceis de acordo com o que for conveniente para quem está realizando a pesquisa. Este tipo de amostra é excelente para se realizar um teste piloto de um questionário que será utilizado depois em uma pesquisa posterior. BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 20 Unidade 2 Em se tratando de Amostra aleatória, esta tira do investigador o poder de definir, de antemão, quem fará parte da amostra evitando o viés de seleção. Já a Amostra consecutiva é feita de acordo como que aparecer. Fonte: Depositphotos 2.2. SAÚDE X DOENÇA Quando pensamos em saúde logo vem à mente que é simplesmente ausência da doença. Mas há que se ir além. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), nas Diretrizes de 1984 confere que saúde é um estado de bem-estar físico, mental e social e não apenas a mera ausência de doença. Considerando esta diretriz, você se considera uma pessoa com saúde? Se você estiver com algum tipo de problema social, por exemplo, desempregado, porém seu bem-estar físico e mental estão em condições ideias, você é considerado uma pessoa doente e este processo evolutivo entre saúde e doença depende de cada pessoa e sempre segue cursos diferentes de evolução. Para se determinar estes estados de saúde e doença são necessários alguns critérios de diagnósticos que basicamente pertencem à área médica detalhados como sinais e sintomas, história clínica e resultado de testes (passíveis de modificação), agregado a isto, há alguns determinantes que influenciam o processo saúde e doença que são divididos em: fatores biológicos que podem ser determinados por idade, gênero e fatores genéticos, fatores sociais e econômicos que representa a posição social, o emprego, a pobreza, a exclusão social, fatores culturais determinados pelo acesso aos serviços como educação, saúde, serviços sociais, transportes, lazer e fatores ambientais. Estes últimos, determinados pela qualidade do ar e da água. BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 21 Unidade 2 Um dos pontos que podem influenciar estes aspectos são os padrões de evolução da doença e, através dela, pode-se entender o estado e o que pode acontecer ao indivíduo. O padrão da evolução da doença segue 5 princípios que serão determinados pelas letras A, B, C, D e E. Figura 1: Padrão de Evolução de Doenças Fonte: Google Este padrão de evolução é determinado por evoluções e por linhas. Sendo a linha a baixo da linha de recuperação de saúde, quando os indivíduos se recuperam, a linha pontilhada é denominada limiar clínico que é quando a população necessita de ajuda profissional da área da saúde e a linha superiora representa o óbito da população. A partir disso temos as evoluções da doença. • A: evolução aguda e fatal: este determinante, mostra aquelas doenças fatais, as quais, em um determinado momento, não têm cura como infarto agudo do miocárdio. • B: evolução aguda clinicamente evidente com recuperação: neste determinante, mostra aquelas doenças em que o paciente tem assistência de um profissional de saúde e se recupera, a exemplo da gripe. • C: evolução subclínica: esta evolução é aquela não manifesta sinais e sintomas da doença, pois o próprio corpo a “combate” sem apresentá-la. • D: evolução crônica progressiva com óbito em curto e longo prazo: este determinante mostra as doenças não têm cura e, em algum período do tempo, leva os indivíduos a óbito, a exemplo do câncer. • E: evolução crônica com períodos assintomáticos e exacerbações: este determinante mostra as doenças em que os indivíduos têm uma doença crônica que se apresenta BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 22 Unidade 2 em períodos específicos e o indivíduo convive com esta doença gerando mais cronicidade ou não, por exemplo, a asma. Baseado nos conceitos, pode-se afirmar que a doença também segue um fluxo determinado por fatores de risco, pode ser adquirida por hábitos pessoais ou de exposição ambiental, que está associado ao aumento da probabilidade da ocorrência de alguma doença e utilizados para predizer que a ocorrência das doenças pode ser modificada. Outro fator que tem uma influência no processo saúde e doença são os fatores etiológicos, processos que agem nas origens da doença. Este fator é importante para determinar os aspectos envolvidos nas doenças e identificar suas causas, facilitam a interpretação e aplicação de ações saneadoras. Um detalhe importante é que os fatores etiológicos diferem da história natural da doença não levando em consideração os pontos negativos e positivos dela. Nos fatores etiológicos, uma estratégia importante para mostrar a disseminação das doenças são as cadeias de eventos que são um modelo linear da doença, representa uma forma de sequência de acontecimentos. Através da sequência, podemos determinar a saúde ou a doença, lembrando que o foco da cadeia de eventos é no agente causador da doença e, a partir do momento que se descobre o foco, o processo fica preciso. Os agentes da cadeia de eventos ou dos fatores etiológicos são determinados por ser agentes do tipo biológico (bactérias e vírus), genéticos, por exemplo, a translocação de cromossomo na síndrome de Down, os agentes químicos como os nutrientes, drogas ilícitas e lícitas, a poluição entre outros. Os agentes físicos como a radiação, os psíquicos também entram nestes agentes, pois o estresse derivado de algum distúrbio acaba deixando a população doente. BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 23 Unidade 2 Figura 2: Cadeia de transmissão de doenças Uma das grandes utilidades de reconhecer os agentes é compreender a relação destes com o homem e a transformação fisiológica que eles causam, além de se ter noção de prevenção pelos rompimentos dos elos na cadeia de eventos acabando com as doenças. Um modelo muito importante para compreendermos como romper o elo deste agente e ajudar a população na melhoria da condição de saúde, é compreender os modelos de estudos ecológicos. Dentre estes, temos dois modelos importantes, a tríade e dupla ecológica. Para uma fácil compreensão destes modelos podemos simplificar que a tríade ecológica é perfeita para entendermos as doenças transmissíveis e a dupla ecológica para as doenças não transmissíveis. A tríade ecológica representada pela Figura 3, representa a cadeia de eventos entre o Hospedeiro que,neste caso, é o homem, o agente já visto anteriormente e, o ambiente representado pelo meio que vive. Agente infeccioso Reservatório Porta de saída Via de transmissão Porta de entrada Hospedeiro suscetível Identificar e eliminar ou controlar o local de reservatório Eliminar a via de transmissão Bloquear a colonização da infecção Modificar o risco do hospedeiro BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 24 Unidade 2 Figura 3: Cadeia de eventos entre o hospedeiro, o agente e o meio ambiente Imagine-se, por exemplo, se há um agente agressor como o vírus do Sars Cov2, até o presente momento, sabemos que este vírus é transmitido ao hospedeiro e até, então, está no meio que este hospedeiro vive. O maior desafio é saber onde se quebra este elo. Na maioria dos vírus, a quebra do elo se dá no hospedeiro, mas como fazer isso? Se o agente não pode ser erradicado como a dengue, a melhor forma de romper o elo, no caso da Sars Cov2, é imunizando o hospedeiro para que ele não transmita o vírus pelo meio ambiente e que este agente não ganhe mais força. Outro modelo importante para compreender esta cadeia e saber como quebrar o elo da transmissão das doenças, é o modelo da dupla ecológica. Ressalta-se que este modelo é importante para entender principalmente as doenças adquiridas. AGENTE MEIO AMBIENTE HOSPEDEIRO AMBIENTEFÍSICO AMBIENTEBIOLÓGICO AMBIENTE SOCIAL HOMEM HERANÇA GENÉTICA ANATOMIA FISIOLOGIA ESTILO DE VIDA BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 25 Unidade 2 Este modelo representa o homem envolvido ao meio ambiente, este meio pode sofrer modificações através do meio social, biológico e físico. Esta mudança pode influenciar a anatomia e fisiologia, a herança genética e o estilo de vida desse homem. Em termos práticos, podemos exemplificar o homem que tem um estilo de vida sedentária, ele será uma pessoa obesa que mudará sua anatomia e fisiologia. Automaticamente, transformará o seu ambiente social, biológico e físico. Para quebrar este elo, neste caso, há que modificar o homem, mudando seu estilo de vida, fazendo com que ele tenha uma condição de vida mais saudável com atividades físicas ou mudanças de hábitos alimentares melhorando sua condição. Porém, qual a utilidade, vantagens e desvantagens desses processos ecológicos? Uma das utilidades é a análise do processo da doença, verificando se o agente etiológico se encontra no hospedeiro ou no ambiente, a localização racional das intervenções e impedir ou interromper o processo de doença, relacionadas ao meio ambiente ou ao indivíduo. 2.3. HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA Outro fator importante e uma ferramenta para o processo de saúde e doença é a denominada história natural da doença. Esta difere da história da doença, ao se falar de história da doença, refere-se aos fatos históricos como o ano de aparição dos primeiros casos, onde e como apareceu. Já a história natural da doença é a base para se entender tudo que acontece de modificação da doença, desde o agente causador, as modificações fisiológicas até o que ele causa na população e se refere aos estágios da doença. A história natural da doença é dividida em 4 fases. A primeira é chamada de inicial, quando a doença ainda não está na população ou no indivíduo, mas existem condições propensas para ela adentrar no sistema fisiológico como crianças que convivem com fumantes têm propensão a adquirir doenças respiratórias. A segunda é denominada fase pré-clínica ou patológica, nesta, a doença já está instalada no sistema fisiológico, mas ela não se manifesta clinicamente como sinais e sintomas. É nesta fase que a doença está fazendo alterações no organismo dos indivíduos. Por exemplo, indivíduos que usam tabaco por um longo período de tempo promovem a redução de células ciliares que são células especializadas em retirar as impurezas do sistema respiratório inferior, provocando uma maior inflamação neste sistema. BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 26 Unidade 2 A terceira fase é denominada fase clínica, pois a doença já realizou modificações importantes no sistema fisiológico e os indivíduos apresentam sinais clínicos. Em resumo, nesta fase, existe a necessidade de uma intervenção do profissional da saúde, no caso de pessoas com o câncer, apresentam sinais clínicos evidentes. A última fase é denominada de incapacidade residual, quando a doença causa algum tipo de sequela nos indivíduos que necessitem de um acompanhamento. Nesta fase, a doença não evolui para o óbito e nem foi curada. Neste conhecimento da história natural da doença, existem as medidas de prevenção, são classificadas em três ações: primárias, secundárias e terciárias. Um detalhe importante é que a fase patológica ou pré-clínica não tem uma ação de prevenção, uma vez que não se sabe se os indivíduos estão “alojando” a doença. Salienta-se que, na fase pré-clínica, a doença não se manifesta clinicamente, por isso, não há como fazer ações de prevenção. A fase primária diz respeito à fase inicial da história natural da doença. Nesta fase, o objetivo é prevenir doenças ou manter a saúde. A utilização de máscaras ou a higienização das mãos, por exemplo, evitam a propagação de doenças transmitidas por vírus como o Sars Cov2. A fase secundária diz respeito à fase clínica, na qual necessita de intervenção do profissional de saúde. Esta ação é utilizada após a instalação da doença, visam curar ou impedir a progressão para o óbito ou evitar o surgimento de sequelas como de qualquer doença que necessita de algum tipo de intervenção e ou medicamento. A fase terciária refere-se à incapacidade residual, nesta fase, procura-se minimizar os danos já ocorridos com a doença, por exemplo um câncer benigno de mama. Neste caso, é feita a cirurgia para retirada do nódulo. INICIAL PATOLÓGICA /PRÉ CLÍNICA CLÍNICA INCAPACIDADE RESIDUAL BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 27 Unidade 2 2.4. PRINCÍPIOS DA CAUSALIDADE E INDICADORES DE SAÚDE Outra ferramenta importante para auxílio e informações das doenças se chama causalidade, cujo objetivo é orientar na prevenção e controle de doenças, promoção de saúde, identificando as causas e as formas de evitá-las. Esta ferramenta é muito importante para o diagnóstico e tratamento. A motivação para entender os efeitos da causa ou causalidade é a necessidade de conhecer a causa e a motivação dos pesquisadores para isso acontecer. Na ferramenta causalidade, há dois princípios que são a causa suficiente e a causa necessária. Apesar de gerar alguma confusão, é de fácil entendimento, a causa necessária, por exemplo, o próprio nome diz que existe a necessidade de algo para que ocorra a causa de alguma coisa. Nesse caso, a doença (já que estamos falando de epidemiologia). Em termos técnicos, dizemos que a causa necessária existe quando a doença só se desenvolve na presença de um agente causador. Como já visto anteriormente, existem diversos tipos de agentes como biológico, químico, etc. Já, na causa suficiente, é um conjunto de ações ou eventos mínimos que produzem ou dão início a uma doença. Nesta causa, ela é composta por diversos componentes e, dificilmente, conhecem-se todos os componentes. Uma causa suficiente contém causas necessárias como um dos seus componentes, ficou confuso? Ver Figura 4. Prevenção Primária Prevenção Secundária Prevenção Terciária Promoção de Saúde Diagnóstico e Tratamento Precoce Reabilitação Proteção Específica Limitação da Invalidez BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 28 Unidade 2 Figura 4: Causa da Tuberculose No caso, a causa necessária para se adquirir a tuberculose é o agente biológico Bacilo de Koch. Se este bacilo não existisse, os indivíduos não teriam tuberculose. No entanto, existem causassuficientes que fazem o micro-organismo se instalar e prejudique ainda mais o indivíduo. Algumas dessas causas são o fator nutricional e as condições adversas de trabalho, como as dos profissionais de saúde sem a proteção necessária assim como a aglomeração dentre outras. Ressalta-se que até aqui, abordamos apenas a causalidade de doenças transmissíveis. Ao se falar de doenças crônicas, como podemos tratar da causalidade nestes casos? Quando falamos de doenças crônicas, além de serem degenerativas são mais complexas. Uma doença como o infarto agudo do miocárdio, pode ter diferentes causas suficientes como uma combinação de diabetes + hipertensão arterial sistólica + tabagismo + sedentarismo + obesidade, não necessariamente, todos eles em conjunto, mas, pelo menos, dois fatores destes. Pode ser também o mesmo fator causal para diferentes doenças a exemplo da obesidade a qual pode gerar uma diabete, hipertensão, artrose, dentre outras. Sendo assim, são múltiplos fatores que merecem ser estudados para compreensão das doenças. Dessa forma, a investigação epidemiológica parte de uma doença ou a busca das suas causas, porém, é possível investigar uma causa potencial como os efeitos da poluição no organismo. Uma vez identificados todos os componentes, podem ser tomadas medidas BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 29 Unidade 2 preventivas como a remoção do efeito causador prevenido os indivíduos do agravo ou da doença. Podemos entender também a cadeia causal das doenças em que existe uma sequência de acontecimentos que conduz a um efeito final que pode ser a cura, o óbito ou a sequela da doença. Normalmente, a cadeia causal existe por doenças multifatoriais, necessitando a prevenção para mais de um fator, existindo também sinais e sintomas que confundem o seu diagnóstico e podem ser conectadas, ou seja, um fator leva ao outro. Para os fatores, na causalidade, há o fator predisponente que diz respeito à idade, gênero ou traço genético dos indivíduos. O fator incapacitante que se trata da dieta insuficiente, pobreza ou condições sociais dos indivíduos; o fator capacitante que são os determinantes sociais e econômicos populacionais; o fator precipitante que nada mais é a exposição a um agente específico causador de algum dano e fator reforçador que seria a exposição repetida a um agente e que, pode ser uma exposição laboral ou ambiental. Os indicadores de saúde são uma ferramenta indispensável e importante para determinarmos o estado de saúde das pessoas em uma comunidade, utilizando variáveis que podem ser medidas diretamente, que são os indicadores de saúde. Estes indicadores permitem comparar populações e refletem o panorama da saúde populacional. Um dos indicadores que refletem de forma significantes a estes parâmetros e utilizado pela Organização Mundial de Saúde e é o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que dá três dimensões de como anda a saúde populacional que são: Vida longa e saudável: este parâmetro afere a longevidade populacional, ou seja, se este grupo populacional tem a promoção e desenvolvimento humano, oportunidade para as pessoas evitarem as mortes prematuras, garantia de um ambiente saudável e acesso a saúde de qualidade. Acesso ao conhecimento: este parâmetro afere a educação populacional, verifica se este grupo populacional tem acesso ao conhecimento. Padrão de vida: este parâmetro afere a renda populacional sendo essencial para as necessidades básicas como água, comida e moradia. O IDH é medido em uma escala que vai de < 0,48 a > 0,88 sendo este último, o melhor lugar para se viver seguindo os parâmetros de longevidade, conhecimento e renda. BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 30 Unidade 2 Quadro 1: Países com maiores e piores IDHs Posição País IDH 2019 IDH ajustado por Pressões Planetárias 1 Noruega 0.957 0.781 2 Irlanda 0.955 0.833 2 Suíça 0.955 0.825 4 Hong Kong (China) 0.949 - 4 Islândia 0.949 0.768 6 Alemanha 0.947 0.814 84 Brasil 0.765 0.710 185 Burundi 0.433 0.431 185 Sudão do Sul 0.433 0.430 187 Chade 0.398 0.396 188 República Centro- Africana 0.397 0.393 189 Níger 0.394 0.390 Fonte: El País Salienta-se que não existe somente este indicador de saúde, somente a OMS possui mais de 50 indicadores que refletem sobre a condição de vida populacional. No Brasil também não é uma exceção seguir alguns padrões de indicadores de saúde, os mais conhecidos são: mortalidade/sobrevivência, morbidade/gravidade/incapacidade funcional, nutrição/crescimento e desenvolvimento, aspectos demográficos, condições socioeconômicas, saúde ambiental, serviços de saúde dentre outros. A Morbidade/Gravidade/Incapacidade: é um termo genérico utilizado para designar o conjunto de casos de uma afecção ou a soma dos agravos à saúde ao qual atinge um grupo de indivíduos, mais abrangente é a mensuração da frequência populacional e sensível para expressar mudanças a curto prazo e pouco letais. Os índices de morbidade têm influência nos índices de mortalidade sendo afetado através da mudança do padrão de morbidade e letalidade. Isto acontece devido à redução da incidência (prevenção) e à redução da letalidade (melhorias nos tratamentos). As medidas de morbidade variam em função do aspecto, o qual é levado em consideração na aferição dos índices de morbidade. Desse modo há dois tipos de aferição, a morbidade referida, influenciada por aspectos sociais, culturais e percebida pelo relato dos indivíduos (entrevista) como sintomas, incapacidades físicas, uso dos serviços de saúde, automedicação, dentre outros. A morbidade observada influenciada por critérios de anormalidade empregados, é percebida por um examinador independente (um examinador técnico, profissional da saúde com nível superior), utilizando métodos apropriados de BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 31 Unidade 2 avaliação desta morbidade, como os sinais e sintomas, alterações de exames laboratoriais, diagnóstico clínico, dentre outros. Os índices de mortalidade/sobrevivência dizem respeito ao número de óbitos em relação aos habitantes. Para este índice, utilizamos os coeficientes de mortalidade geral, mortalidade materna, mortalidade infantil, mortalidade específica, dentre mais inúmeros coeficientes para determinar o limiar de mortalidade populacional. Mortalidade geral: este coeficiente representa o risco de óbito geral de uma comunidade, seus principais usos dizem respeito às condições de saúde populacional, a uma investigação epidemiológica, à avaliação de ações, representa a probabilidade de morte em uma dada população, região ou ano e é representada para cada 1000 habitantes. Taxas elevadas podem ser associadas a baixas condições socioeconômicas ou um número elevado de idosos em uma comunidade. O coeficiente de mortalidade geral é representado desta forma: CMG*= N°de óbitos /período X constante (nesse caso 1000 habitantes) População total/período *CMG = Coeficiente de mortalidade geral. Em regra, o coeficiente de mortalidade geral é o cálculo do número de óbitos durante um período dividido pela população total da comunidade no mesmo período de tempo, vezes a constante que é determinada para cada 1000 habitantes (no caso de coeficiente de mortalidade). Exemplo: em dado de 10 mortes em janeiro de 2019 em uma população de 10.000 habitantes, qual seria o coeficiente de mortalidade geral desta comunidade? CMG = 10/janeiro (2019) X 1000 10.000 /janeiro de 2019 CMG = 0,001/janeiro (2019) para cada 1000 habitantes Mortalidade infantil: este coeficiente representa o nível de saúde populacional de uma comunidade. Ela afere o número de óbitos durante o primeiro ano de vida, dividido pelo número de nascidos vivos do mesmo ano. O resultado deste coeficiente dá parâmetro conforme os índices estipulados pela OMS, são classificadas em: • Altas: 50 óbitos para cada 1000 habitantes ou maisBIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 32 Unidade 2 • Média: 20 a 49 óbitos para cada 1000 habitantes • Baixa: menos de 20 óbitos para cada 1000 habitantes Altas taxas de mortalidade infantil refletem, de maneira geral, baixos níveis de saúde e de desenvolvimento socioeconômico, já as taxas reduzidas também podem encobrir para más condições de vida em segmentos sociais específicos. CMI= N° de óbitos no primeiro ano de vida /período X 1000 N° nascidos vivos / período Coeficiente de mortalidade materna: diz respeito à morte de uma mulher durante a gestação ou até 42 dias após o término gestacional, isto, devido a qualquer causa relacionada com a gravidez ou agravada por ela, porém não a causas acidentais ou incidentais. CMM = n° de óbitos durante a gestação ou 42 dias após/ período x 1000 N° de gestante / período Coeficiente de mortalidade específica: diz respeito ao número de óbitos de algo específico como acidente de trânsito, acidentes por queimaduras dentre outros. Este coeficiente é importante para determinar ações de promoção de saúde. CME = n° de óbitos específico / período X 1000 N° habitante total comunidade/período Outros dois coeficientes muito importantes são os de natalidade e fecundidade. O primeiro se refere ao coeficiente de nascidos, é importante para determinar o tamanho da população. Há alguns anos, tem ocorrido um decréscimo desses índices, o que reflete um panorama no qual as mulheres estão mais ativas em relação ao trabalho, deixando de ser mães. CN = nascidos vivos em determinada área/ período x constante População da mesma área / período Coeficiente de fecundidade: diz respeito ao número médio de filhos que uma mulher teria ao final de sua idade reprodutiva. CF = nascidos vivos em uma determinada área/período x constante Mulheres de 15 a 49 anos na mesma área/ período BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 33 Unidade 2 Outros índices muito importantes nos coeficientes de mortalidade e morbidade são as taxas de incidência e prevalência. Esta taxa reflete quantas pessoas (entre sadios) tornam-se pessoas doentes em um determinado período e quantas pessoas (entre doentes) apresentam uma dada complicação ou morrem. Taxa de incidência = n° de “casos novos” em um determinado período x constante N° de pessoas expostas ao risco, no mesmo período Já a taxa de prevalência diz respeito ao número de casos existentes encontrados em uma população definida em um determinado ponto de tempo. Taxa de prevalência: n° de “casos existentes” x constante N° de pessoas na população Fonte: Pereira (2005). Fonte: Pereira (2005). BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 34 Unidade 2 Segundo Pereira (2005), os critérios para seleção de indicadores são: • Validade: afere ou representa o fenômeno considerado. • Reprodutilidade: obtém resultados semelhantes quando a medida é repetida. • Representatividade: maior cobertura populacional. • Questão ética: não acarreta malefícios ou prejuízos a pessoa investigada e preserva a confidencialidade dos dados. • Oportunidade, simplicidade, facilidade e obtenção a custo compatível. 2.5. EPIDEMIA, ENDEMIA, PANDEMIA E SURTO Nos últimos anos, muito se ouviu essas palavras, porém precisamos saber qual o significado real delas. Para isso, é preciso entender que a epidemiologia é a distribuição de doenças no espaço e tempo e, para estabelecer, se o que está ocorrendo é um surto, como uma endemia, epidemia ou uma pandemia, necessita-se responder 3 perguntas básicas: quem? Quando? Onde? • Quem: características pessoais como gênero, Idade, etnia, condição socioeconômica, hábitos alimentares e hábitos culturais. • Quando: avalia as tendências e os períodos de maior ocorrência das doenças, a velocidade da ocorrência e a evolução temporal. Pode-se predizer sua ocorrência futura. • Onde: analisa a possibilidade de haver padrões espaciais na distribuição de doenças e as áreas específicas para manifestação das doenças. Respondendo estas 3 perguntas pode-se ter um melhor conhecimento do processo saúde-doença, definição de grupos mais vulneráveis, determinar as áreas de risco para intervenção em saúde, avaliar o impacto das intervenções de saúde e planejamento: onde e como empregar recursos públicos. Um determinante importante para a distribuição das doenças no espaço é determinar as tendências no espaço como a distribuição geográfica e as suas características naturais, além das características e os processos sociais dos indivíduos desta comunidade. Desta maneira, “o principal objetivo do estudo das variações geográficas das doenças é a formulação de hipóteses etiológicas através da análise conjunta das variações nos fatores ambientais.” (MEDRONHO, 2009). BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 35 Unidade 2 Tendo a relação geográfica estabelecida e determinada, podemos perfazer uma análise espacial em saúde, ou seja, um estudo quantitativo da distribuição das doenças ou serviços de saúde, de Lmodo que o objeto de estudo está referenciado geograficamente. Esta análise é utilizada para identificar padrões espaciais de morbidade ou mortalidade e seus fatores associados como descrever os processos de difusão das doenças; gerar conhecimento sobre etiologia de doenças e visualizar o padrão de distribuição de eventos em um mapa. Figura 5: Situação Epidemiológica Zika, 2016 Fonte: Sinan-NET (10/03/2016) Quais são os métodos para análise espacial? • Visualização: onde o mapeamento de eventos de saúde é a ferramenta primária. • Análise Exploratória de Dados: utilizada para descrever padrões espaciais e relações entre mapas. • Modelagem: utilizada quando se pretende testar formalmente uma hipótese ou estimar relações. E pré-determinando todas essas variantes, é possível realizar estudo de transição epidemiológica como o estudo dos migrantes. Este estudo determinar se o risco de adoecer entre migrantes oriundos de uma região com alto (ou baixo) risco muda após a migração para uma região de baixo (ou alto) risco. Isto quer dizer em termos práticos que, normalmente, as pessoas transitam entre cidades ou estados e podem levar ou trazer algumas doenças provenientes destes locais que elas utilizam para trabalhar, estudar, etc. Já a distribuição de BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 36 Unidade 2 doenças no tempo, fornece informações para compreensão, previsão, busca etiológica, prevenção de doenças e avaliação do impacto de intervenções de saúde e obedece a padrões. Exemplo: aumento da ocorrência de dengue no verão. É preciso verificar tendências a longo prazo para avaliar se há uma elevação acima da frequência habitual da doença em um determinado período do tempo, o que poderia indicar a presença de uma epidemia. Existem quatro tipos principais de aspectos relacionados à evolução temporal das doenças: Tendência secular: análise das mudanças na frequência de uma doença por um longo período (geralmente décadas). Variações cíclicas: flutuações na incidência de uma doença ocorrida em um período maior que um ano. Grandes populações suscetíveis, a incidência de sarampo tende a aumentar a cada três anos. (Sucessivo nascimento de crianças suscetíveis). Variações sazonais: variação na incidência de uma doença, cujos ciclos coincidem com as estações do ano. Esta variação ocorre no período de um ano. Doenças infecciosas agudas são exemplos típicos, mas também podem ocorrer com doenças crônicas. (maior número de acidentes de trabalho durante época de colheita agrícola). Depende de fatores como radiações solares, temperatura, umidade do ar, precipitação, etc. Um conglomerado de pessoas no inverno pode favorecer o aparecimento de diversas doenças respiratórias como a gripe. Maior consumo de água no verão pode favorecer a transmissão feco-oral (diarreias infecciosas). Variações irregulares:alterações inusitadas na incidência das doenças, diferente do que seria esperado. Incidência esperada baseada em dados históricos: Endemia. Não esperado: epidemia. Qual o significado destas palavras em seu contexto? Endemia: presença usual de uma doença, nos limites esperados, em uma determinada área geográfica, por um período ilimitado. É uma doença habitual, presente entre membros de um determinado grupo, em uma população definida como malária, doença de chagas, esquistossomose. Epidemia: elevação brusca, temporária e significativamente acima do esperado da incidência de uma determinada doença. Alteração nos fatores relacionados ao agente, BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 37 Unidade 2 hospedeiro e/ou ambiente. Ela não representa a ocorrência de muitos casos, a exemplo da Poliemielite, não ocorre no Rio de Janeiro desde 1989, logo um único caso autóctone já representaria uma epidemia. Caso autóctone: é o caso oriundo do mesmo local onde ocorreu. Caso alóctone: é o caso importado de outra localidade. A epidemia pode ser de dois fatores: Epidemia por fonte comum: pode ser veiculada por água, alimentos, ar, não havendo em geral, a transmissão de pessoa para pessoa, é de rápida progressão no número de casos, o pico de incidência em curto período e há indícios de contaminação por uma única fonte. Curto espaço de tempo – Fonte pontual, espaço de tempo mais longo – Fonte persistente. Epidemia progressiva ou propagada: normalmente, é lenta, geralmente de pessoa para pessoa e ocorre em comunidades suscetíveis e isoladas (aldeias indígenas) pode provocar epidemias explosivas. Pandemia: ocorrência epidêmica caracterizada por uma larga distribuição espacial, atingindo várias nações. Uma série de epidemias localizadas em diferentes países que ocorrem ao mesmo tempo. Exemplo: Epidemia de AIDS no mundo, H1N1, Covid 19. Surto: quando há o aumento repentino do número de casos de uma doença em uma região específica. Para ser considerado surto, o aumento de casos deve ser maior do que o esperado pelas autoridades. BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 38 Unidade 4 Unidade 3 3. INTRODUÇÃO À ESTATÍSTICA Vimos que esta ciência foi determinante no período clássico principalmente para determinar quantidade de indivíduos em uma comunidade doente, ou para calcular óbitos, nascimentos. A estatística é um ramo da matemática para coleta de dados, é uma ciência que tem por objetivo, planejar, coletar, tabular, analisar e interpretar informações. Através dela podemos extrair conclusões que permitam a tomada de decisões acertadas mediante incerteza. No período moderno foi institucionalizado a bioestatística que é um ramo da estatística, porém, é aplicada nos campos relacionados à saúde, biologia, biotecnologia dentre outras. Para realizar uma pesquisa importante para a saúde, há dois princípios de coleta a população e a amostra. A população é quando há um total de pessoas que, como estamos falando de saúde, estão doentes, é a população geral doente e amostra é uma parte desta população que irá representar a população como um todo. Para calcular a amostra populacional, existem alguns critérios como os de exclusão, inclusão e cálculo do tamanho da amostra. • Critérios de inclusão: são os elementos que serão incluídos no estudo que são as principais características da população alvo do estudo. • Critérios de exclusão: são outras características que podem alterar o resultado do estudo como outras doenças daquelas estudadas, paciente mais graves, dentre outras características. • Cálculo do tamanho da amostra: este cálculo é muito importante para que não se tenha um viés de seleção dos indivíduos e para que o estudo seja elegível e tenham critérios de validade. O tamanho da amostra depende da frequência da doença estudada, tamanho da população, desenho do estudo. Este cálculo da amostra é representado pela seguinte equação: BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 39 Unidade 4 N= Z² x P x Q E² Sendo: N: o número de indivíduos selecionados Z: o nível de confiança de 95% = 1,98* P: Prevalência estimada Q: I – P (incidência menos a prevalência) E: Precisão desejada * O nível de confiança sempre dever ser de 95%, sendo os outros 5% considerados os erros que podem ocorrer nos estudos. Para análise estatística existem alguns parâmetros, ou seja, uma medida numérica que descreve algumas características da população. Através deles, podemos coletar por meio de dois objetos, os dados secundários e os dados primários. Os dados primários são os dados coletados pelo próprio pesquisador e pela sua equipe, são os dados conseguidos por entrevistas ou medidas diretas. Os dados secundários são os coletados, obtidos de fontes oficiais como artigos e periódicos, institutos de pesquisa como o DataSus, o IBGE, OMS dentre outros oficiais. Com a tecnologia, hoje, as pesquisas e, consequentemente, as análises são feitas em softwares como o GraphPad Prism, Bioestat, Sigmata, dentre inúmeros que existem. A escolha dos softwares depende do conhecimento do pesquisador a respeito destes programas. Mas devemos entender de estatística básica, principalmente, para entendermos como os softwares funcionam. Sendo assim, 3 cálculos são fundamentais para análise estatística, a moda, média e mediana. BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 40 Unidade 4 3.1. MODA, MEDIANA E MÉDIA 3.1.1. Moda A moda é o conjunto de dados com os elementos repetidos, é o valor que ocorre com maior frequência ou o valor mais comum em um conjunto de dados. Tabela 1: Período de incubação de gripe em 11 crianças Crianças 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Dias 19 16 37 15 16 32 15 16 20 16 15 Fonte: elaboração própria O que mais se repete, denomina-se – moda. Neste caso, temos o número 16. A moda é: 16. Observação: quando dois valores ocorrem com a mesma frequência, é chamado de BIMODAL. Se mais de dois valores ocorrem com a mesma frequência máxima, é chamado de MULTIMODAL. Quando nenhum valor é repetido o conjunto não tem moda. 3.1.2. Mediana Mediana é o valor que separa a metade maior e a metade menor de uma amostra, uma população ou uma distribuição de probabilidade. Para calcular a mediana, primeiro precisamos ordenar os dados em ordem crescente. Tabela 2: O mesmo número de crianças em um período de incubação de 11 dias. Crianças 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Dias 19 16 37 15 16 32 15 16 20 16 15 Fonte: elaboração própria Ordenar em ordem crescente: 15,15,15,16,16,16,16,19,20,32,37. O valor que se encontra no meio é uma mediana, no caso, o 16 é o número do meio. Se o valor for par, são 12 crianças: 15,15,15,16,16,16,16,19,20,32,37,39. Pode se observar que não existe um valor central. Logo, para calcular a mediana somam-se os dois valores centrais (16 e 16) e divide o resultado por 2. 16 + 16= 32 / 2 = 16 BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 41 Unidade 4 Não é afetada por valores extremos e é indicada quando existem valores discrepantes. Numa distribuição assimétrica ela é muito mais representativa do que a média. 3.1.3. Média A média é a soma dos valores divididos pela quantidade calculada. Tabela 3: Soma de valores Crianças 1 2 3 4 5 6 Dias 19 16 37 15 32 20 Fonte: elaboração Pegamos os valores e somamos: 19 + 16 + 37 + 15 + 32 + 20 = 139 139/6 = 23,16 23,16 é a média Adequado quando a distribuição dos dados obedece à distribuição normal. À medida que o tamanho da amostra aumenta, há maior chance de aparecer um valor extremo e deslocar a média. Não se aplica a dados nominais. 3.2. DESVIO PADRÃO, VARIÂNCIA E CURVA DE DISTRIBUIÇÃO 3.2.1. Desvio Padrão Um outro processo muito importante na estatística é o que chamamos de desvio padrão que indica os limites prováveis dentro dos quais se situam certas proporções de observações no caso se a dispersão é biológica (clínica) use o desvio padrão, se a dispersão é técnica, mostre a médiae o erro padrão. Em termos gerais e mais simplificado o desvio padrão é uma medida de dispersão, ou seja, é uma medida que indica o quanto o conjunto de dados é uniforme. Quando o desvio é baixo quer dizer que os dados do conjunto estão mais próximos da média, um dado muito importante é que quanto mais próximo de 0 o desvio padrão, mais homogêneo são os dados. A fórmula do desvio-padrão pode aparentar ser um pouco complexa, mas se desmembrarmos ela, ficará mais fácil de entender. Assim, siga os passos que vamos te mostrar e calcule corretamente o desvio padrão de uma amostra de dados numéricos. • Primeiro passo: calcule a média aritmética do conjunto de dados numéricos. BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 42 Unidade 4 • Segundo passo: calcule o quadrado da diferença entre cada valor e a média calculada no primeiro passo. • Terceiro passo: some os valores obtidos no segundo passo da Etapa 2. • Quarto passo: dívida pela quantidade de dados do conjunto numérico. • Quinto passo: calcule a raiz quadrada do valor obtido no passo anterior. Vamos a fórmula do desvio padrão: Sendo: DP = o desvio padrão Xi = valor qualquer no conjunto de dados na posição i MA = Média aritmética do conjunto dos dados n = quantidade total dos dados do conjunto Vamos a um exemplo para facilitar nossa compreensão: Em uma avaliação de adultos de um bairro temos as seguintes alturas na anamnese desses indivíduos: 1,80; 1,95; 1,98; 1,88; 2,04. Qual a altura média destes indivíduos? Qual o desvio padrão de altura deles? M (média) = (1,80 + 1,95 + 1,98 + 1,88 + 2,04) = 1,93 5 Na sequência se calcula o desvio padrão: DP = √ (1,80 – 1,93)² + (1,95 – 1,93)² + (1,98 – 1,93)² + (1,88 – 1,93)² + (2,04 – 1,93)² = 5 DP= 0, 082946 (lembre-se se estiver próximo a 0 mais homogêneo são os dados). BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 43 Unidade 4 3.2.2. Variância O cálculo da variância igual ao desvio também é uma medida de dispersão que indica a regularidade de um conjunto de dados em torno da média. Ela é semelhante ao próprio desvio padrão, uma vez que um deriva do outro. A variância é calculada como o quadrado do desvio padrão, que resulta basicamente na exclusão da raiz quadrada da fórmula do desvio padrão, assim a variância é dada por: Vimos o que é variância e desvio padrão, mas quando utilizamos o desvio padrão em uma amostra ou uma população? Amostra é uma parte da população e população é um todo. Normalmente, estamos interessados em saber o desvio padrão de uma população, ou seja, de uma quantidade muito grande de dados. Isso porque, a população é o nosso objeto de interesse. Portanto, normalmente, calcular-se-ia desvio da população se: Tiver toda a população ou uma amostra de uma população maior, mas só se interessa nesta amostra e não se deseja generalizar descobertas para a população. No entanto, em estatística, geralmente, utiliza-se com uma amostra da qual desejamos estimar (generalizar para) uma população e o desvio padrão não é uma exceção para isso. Portanto, se tudo o que se tem é uma amostra, mas deseja uma declaração sobre o desvio da população a partir da amostra, usa-se o desvio padrão da amostra. Por exemplo, para calcular a média de altura das crianças de um colégio de 1000 alunos (população) não precisa medir a altura de todos. Pega-se uma amostra da população, ou seja, 100 alunos e a partir disso estima a altura média. Porém, um problema pode acontecer, logo é preciso atentar, caso essa amostra seja de alunos muito baixos ou muito altos, o que não seria uma boa representação da sua população. A sacada aqui é estimar um tamanho de amostra que represente de fato a sua população. BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 44 Unidade 4 3.2.3. Curva de Distribuição Outra medida muito importante na estatística é a distribuição Gaussiana ou conhecida também como distribuição normal, esta distribuição se correlaciona com a média e o desvio padrão, em termos práticos e mais simples distribuição gaussiana é uma curva simétrica em torno do seu ponto médio, apresentando assim seu famoso formato de sino. Como interpretar uma curva gaussiana? Conseguimos desenhar uma curva de distribuição normal tendo apenas dois parâmetros: média e desvio padrão. Considerando a probabilidade de ocorrência de um fenômeno, a área sob a curva representa 100%. Isso quer dizer que a probabilidade de uma observação assumir um valor entre dois pontos quaisquer, é igual à área compreendida entre esses dois pontos. O ponto mais alto na curva, representa o valor com a maior moda do processo, ou seja, o valor que mais aparece na base de dados. Esse é representado na curva pelo corte central deste diagrama. Os outros cortes verticais, representam o desvio padrão em relação à média, ou seja, temos uma faixa de valores que significa a soma ou subtração de um desvio padrão em relação à média. Outro detalhe importante e conhecido da curva de distribuição normal é que cada faixa de valores representa uma certa probabilidade de ocorrência. Neste exemplo, na primeira faixa, de menos 1 desvio padrão até 1 desvio padrão, está compreendido 68, 26% da base de dados. Se ampliarmos um pouco mais e pegar a faixa que vai de mais até menos 2 sigma, já teremos 95,44% de possibilidade de ocorrência. Por fim, se pegarmos a faixa mais ampla dessa distribuição, ou seja, mais ou menos 3 sigmas. Essa faixa já representa 99, 74% dos dados. Essa região é chamada de faixa natural de variação do BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 45 Unidade 4 processo. A estatística entende que um processo possui uma certa variabilidade, ou seja, trabalha dentro de uma faixa de valores, com determinada variação. Se esse processo é um processo estável, significa que a sua variação vai acontecer nesta faixa de valores. Caso tenha algum problema ou perturbação maior no processo, pode ser que ele produza um resultado que não é o esperado, ou que não era provável, um resultado muito acima ou muito abaixo do normal. Esse resultado seria um ponto fora dessa faixa de variação natural do processo, ou seja, o famoso ponto fora da curva. Um ponto cuja probabilidade é tão baixa de acontecer que o denominamos de outlier. Com esse conceito de distribuição normal contextualizado para um processo, é possível comparar e entender, que quando se tem uma base de dados representada pela curva de Gauss compreendida entre uma faixa de mais ou menos 3 sigma, esse processo é considerado estável. Para melhor explicar como montar uma curva de distribuição normal, imagine que, em uma sala de aula, o professor anotou a idade de cada um de seus quarenta alunos presentes. Após coletar os dados, ele percebeu que a distribuição da idade dos alunos possuía o formato de uma distribuição normal com média e desvio padrão respectivamente de, μ= 23 e σ= 2. O objetivo é projetar a curva de distribuição normal correspondente aos valores de média e desvio padrão da idade dos alunos. Além de determinar qual é o percentual de alunos com idade entre 21 e 25 anos. E qual o percentual de alunos com idade entre 19 e 27 anos. De antemão, já sabemos que o valor de média igual a 23 anos, estará no centro da nossa distribuição. Que ao mesmo tempo é o ponto de valor mais alto da curva. Como a distribuição normalmente começa próximo do menos 3 sigma e termina próximo do mais 3 sigma, sabemos que a curva irá começar próximo ao valor de 23-3*2, ou seja 17 anos, e vai ter o decaimento próximo de 23+3*2, ou seja, 29 anos. BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 46 Unidade 4 Os alunos com idade entre 21 e 25 anos representam exatamente ± 1σ, ou seja, 68,26% dos alunos. Já os alunos que possuem idade entre 19 e 27 anos, representam a variação de ± 2σ, representando assim 95,44% do total de alunos. Isso representa aproximadamente 38 alunos. 3.3. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DOS DADOS E TIPOS DE ESTUDOS
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