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Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 1 Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física Unidade 3: Epidemiologia Epidemiologia substantivo feminino 1. medicina ramo da medicina que estuda os diferentes fatores que intervêm na difusão e propagação de doenças, sua frequência, seu modo de distribuição, sua evolução e a colocação dos meios necessários à sua prevenção. Origem ⊙ ETIM rad. epidemio- (formado de epidemia) + -logia Como toda história existe um começo, com a epidemiologia também não seria diferente. Imagina-se que ela tenha surgido na Grécia Antiga com Hipócrates, grande pensador que naquela época estudava epidemias e doenças de uma maneira diferente, observando a distribuição delas. Essa ação marcava o início do raciocínio epidemiológico. A partir da apropriação cultural realizada pelo Império Romano, os primeiros médicos surgem como escravos gregos, que se inspiraram em Galeno, e receitavam medicamentos para os doentes. Galeno foi médico particular do Imperador Marco Aurélio e o primeiro a demonstrar que as artérias possuíam sangue. A história nos mostra que o Império Romano deixou um legado para a epidemiologia, principalmente pelo registro compulsório de nascimentos e óbitos e pela realização de censos periódicos. Durante toda a Idade Média predominaram-se as práticas de saúde baseadas em questões mágicas, principalmente em função da força da Igreja Católica na época. Contudo, o tratado clínico desse período revela que um médico Persa, chamado Avicena, foi o responsável por reintroduzir as teorias de Hipócrates e Galeno dentro da medicina ocidental. Neste texto, reflita sobre o juramento de Hipócrates e o quanto ele se relaciona com a Educação Física. “Eu juro, por Apolo médico, por Esculápio, Hígia e Panacea, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: Estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 2 próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê- la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes. Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar danos ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva. Conservarei imaculada minha vida e minha arte. Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam. Em toda casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução, sobretudo dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados. Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça. (CREMESP, [s.d.], [s.p.])” A epidemiologia baseia-se em três eixos principais em sua formação histórica: o saber clínico, a estatística e a medicina social. - O saber clínico tem como principal conceito a história natural das enfermidades. - A estatística, na epidemiologia, tem um fundo político, pois, a partir da implantação da lógica capitalista de produção, havia a necessidade de não apenas contar o povo e o exército, mas também ter a população disciplinada e saudável. Contudo, pensando em conceitos numéricos, a teoria das probabilidades passa a ser adaptada e aperfeiçoada nas análises de grandes números, tentando entender as questões de mortalidade e demais fenômenos em saúde. - Por fim, a medicina social surge em meio à tentativa de resolver os problemas de espaço nas cidades, fazendo com que o vento circulasse nas ruas, isolando áreas miasmáticas. Mesmo com a evolução da medicina social no final do século XIX, a medicina passou a ter um enfoque individualizado e voltado para a pesquisa básica, relacionada, Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 3 principalmente, com doenças infecciosas. Esse modelo é elaborado por Abraham Flexner, o qual reforçou a distinção entre o individual e o coletivo, passando para uma dicotomia de saudável ou não saudável. No início do século XX, surgiu a Escola de Higiene e Saúde Pública de John Hopkins, nos Estados Unidos, financiada pela Fundação Rockefeller, para dar sustentação ao modelo de escolas de saúde pública. Nesse contexto, o Professor Wade Prost se torna o primeiro a lecionar a disciplina de Epidemiologia no mundo, fazendo-se valer de técnicas da estatística para que pudesse observar o comportamento das doenças transmissíveis e avaliar os possíveis determinantes sociais. Ainda no início do século passado, o Professor Major Greenwood se tornou o responsável por introduzir o pensamento estatístico na pesquisa epidemiológica, o que contribuiu para o surgimento da epidemiologia experimental. Esse fato só foi possível graças à junção de duas universidades em Londres, além de Greenwood ter sido aluno do fundador da estatística moderna e do primeiro professor de Epidemiologia da Inglaterra. A crise econômica de 1929 provocou um retardo nas pesquisas das práticas médicas em razão dos custos e da exclusão dos mais pobres ao acesso à assistência à saúde, principalmente no momento em que a população como um todo precisava de acesso aos serviços. Esse fato fez com a epidemiologia, que estava ganhando maior visibilidade e interesse em ser estudada, assumisse cada vez mais o caráter social, por auxiliar no entendimento das doenças sob o contexto social que elas estavam inseridas. Nesse contexto, a epidemiologia buscou privilegiar o conceito coletivo, entendendo que a sociedade não é apenas um conjunto de pessoas, e enxergar as pessoas além das doenças e epidemias. Entender como ocorre a história natural das doenças foi um dos pilares para que a medicina preventiva surgisse, pois durante muito tempo houve a discussão sobre qual seria a ideologia dominante da medicina – paradigma que foi proposto por Jonh Ryle. Deste modo, durante a construção teórico-metodológica da epidemiologia, em sua fase embrionária, não havia dúvidas quanto ao escopo científico, contudo, posteriormente, gerações de pesquisadores deram ênfase às questões metodológicas em detrimento aos conceitos, causando um empobrecimento nos aspectos epistemológicos. Optar por métodos em função dos conceitos fez com que muitos países escolhessem uma das vertentes. Isso ocorreu nas décadas de 1930 e 1940, quando os Estados Unidos optaram por criar alguns conteúdos de prevenção no ensino médico, enquanto os países da Europa estavam realizando uma reforma muito mais profunda no sistema de saúde nos países. Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 4 Ainda na Europa, após a Segunda Guerra Mundial, foram criados estabelecimentos voltados para o bem-estar social, incorporando as questões sociais, fortalecendo o conceito de medicina social, que teve seu maior destaque quando passou a comunicar os artigos voltados para a epidemiologia em revistas cientificas especializadas, como American Journal Epidemiology, que foi criadaem 1964. Podemos notar que novos desenhos metodológicos foram criados, a fim de conseguir identificar o processo evolutivo de uma doença. Por exemplo, os estudos longitudinais de coorte, sendo que o primeiro a ser realizado foi o Estudo de Framingham, nos Estados Unidos. A partir disso, padrões para os indicadores foram estabelecidos, como a prevalência e a incidência, a fim de conseguir estratificar o risco, assim a bioestatística é introduzida como um fundamental instrumento. Além de ter técnicas da matemática inseridas para que seja encontrado o risco relativo de uma doença para determinadas pessoas, houve também a introdução da técnica de regressão logística para tentar entender possíveis associações entre algumas doenças e o comportamento delas. Como em toda sociedade, a epidemiologia também sentiu os efeitos da tecnologia. Nos anos de 1960, tivemos o início da utilização de computadores para auxiliar nesse processo, levando a uma matematização ainda maior. Tal fato se deu em virtude da utilização de bancos de dados e das novas técnicas estatísticas, ampliando ainda mais o campo de possíveis investigações epidemiológicas. Por meio dessas técnicas estatísticas, houve um avanço considerável no campo da investigação da epidemiologia sobre o processo da saúde, a doença e o cuidado. Nas décadas de 1970 e 1980, existiram três grandes tendências da epidemiologia, sendo elas: • Os aprofundamentos das bases matemáticas em epidemiologia. • A proposta da consolidação da epidemiologia clínica, que excluía a questão social em suas abordagens. • A epidemiologia como uma abordagem crítica à dicotomia doente/não doente na saúde pública, não levando em conta o contexto do indivíduo como um todo. Atualmente, a epidemiologia apresenta diversas tendências distintas. Além disso, novas abordagens facilitam o surgimento de novos estudos que levem à reflexão dos conceitos dessa ciência, possibilitando o melhor entendimento de grupos populacionais específicos. Isso leva à ampliação de novas perspectivas de pesquisa, como a farmacoepidemiologia, a epidemiologia dos serviços de saúde e a epidemiologia da atividade física. Estudos descritivos A pesquisa descritiva descreve como as doenças ou os problemas de saúde ocorrem na população com base em certas características, especialmente aquelas relacionadas Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 5 às pessoas, ao lugar e ao tempo. As características humanas incluem fatores demográficos, como idade, sexo, raça, ocupação, estado civil, classe social e nascimento, e variáveis relacionadas ao estilo de vida, como dieta, bebida e certas drogas ilegais, hábitos de fumar e exercícios físicos. As características de localização referem-se à distribuição geográfica das doenças e às diferenças entre países, regiões, cidades ou entre áreas urbanas e rurais. A ocorrência de doenças na população depende da interação de uma série de fatores relacionados ao hospedeiro (o vetor no ambiente). Como o desempenho de cada fator muda ligeiramente, os resultados de vários fatores são diferentes, e a frequência da doença também muda. Quando todos os fatores (especialmente os relacionados) não estão operando com atividades anormais, a doença ocorre na forma de doença endêmica. O número de casos está dentro de um certo intervalo de chance, que é próximo à média, o que é uma característica do nível de epidemia da doença. Para facilitar a compreensão e visualização desse evento, embora essa distribuição de probabilidade seja aplicada à ocorrência da doença na comunidade, ainda é utilizada a distribuição normal ou distribuição gaussiana. Quando as variações no tempo são caracterizadas por irregularidades (ocorridas na população), devido à frequência de ocorrências em anos anteriores, em um determinado período, o número de casos é superior ao esperado, chamamos isso de epidemia. As variações chamadas como sazonais são determinadas quando se distribuem os casos observados de uma doença durante meses e anos e, na maioria das vezes, a distribuição não é uniforme, apresentando variações de acordo com as estações do ano e oscilações casuais maiores do que se poderia esperar. Em epidemiologia, a construção de indicadores é a base para que se verifique a saúde da população. Um desses indicadores é a morbidade, a qual é considerada a partir de diversos eventos em várias ocasiões na vida. Dentre as medidas utilizadas para refletir a morbidade estão a prevalência e a incidência. • A prevalência é definida como o número de casos de doenças existentes em uma população em um período específico dividido pelo número total dessa população no mesmo período. Ela pode ser pensada como uma fotografia instantânea da população. • A incidência é definida como o número de casos novos que ocorrem em um período determinado de tempo em uma população exposta ao risco de adoecer. Esse coeficiente é a proporção de casos novos de uma doença ou fator de risco para uma doença na população que esteve exposta ao risco de adoecer durante o período considerado. Importante salientar que incidência e prevalência são coeficientes diferentes, contudo ambos estão interligados ao ponto de que, quanto maior a incidência, maior a prevalência. A quantidade de pessoas que estiveram doentes durante o período de Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 6 tempo do estudo é a prevalência, pois são contabilizadas as entradas (casos novos) e subtraída a soma das saídas (curas, mortes e perdas de acompanhamento). Os dois coeficientes medem aspectos diferentes de uma doença ou fator de risco, no entanto a incidência é indicada para doenças agudas e de curta duração, enquanto a prevalência é mais recomendada para doenças crônicas de longa duração, pois os pacientes tendem a sobreviver por muitos anos. Algumas doenças têm maior incidência nos meses quentes, como febre tifoide, infecções intestinais, malária e outras enfermidades transmitidas por vetores biológicos (mosquitos e bactérias), enquanto outras doenças se propagam pela via respiratória nos meses mais frios, como gripe e meningite. Ressalta-se que a relação com a temperatura não se limita às doenças infecciosas, visto que também pode ser lembrada em situações de doenças alérgicas (que dependem de mais alérgenos em um determinado ano), vítima de acidente de trânsito durante as férias no verão ou até queimadura em razão dos fogos durante as comemorações juninas. Ao se analisar por vários anos o coeficiente de mortalidade ou morbidade relacionado a determinadas doenças, pode-se observar que seu valor aumenta em intervalos mais ou menos regulares, de modo que é possível prever a recorrência dessa situação no final do ano, aproximadamente na mesma época – essas mudanças são chamadas de cíclicas. Uma explicação razoável para esse fenômeno envolve a concentração de grupos suscetíveis na população. Se a proporção de pessoas suscetíveis for alta, a introdução de patógenos na comunidade resultará em um aumento maciço do número de casos, levando ao processo de imunização dessas pessoas pela produção de anticorpos ou eventualmente ao falecimento decorrente da doença. Dessa forma, há uma tendência ao esgotamento dos indivíduos suscetíveis na medida em que a maioria dos indivíduos fica imune à doença, levando à diminuição de sua incidência. Com o tempo, novos indivíduos suscetíveis podem ser introduzidos à população por meio do nascimento, da migração ou da perda da resistência daqueles que desenvolveram a imunidade. Portanto, quando o número de indivíduos que passam da suscetibilidade à imunidade é menor que o número de novos indivíduos suscetíveis que surgem, sua presença na população tende a aumentar. Quando a proporção de indivíduos suscetíveis atinge um determinado valor crítico, surgirão condiçõespropícias à ocorrência de um grande número de casos, e um novo período de ascensão começará novamente. A falta de populações suscetíveis é causada pela própria doença, podendo ter alterações periódicas, ou pela vacinação. O estado imunológico da população é denominado "imunidade de rebanho ou coletiva", que varia de zero a 100%. Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 7 Obviamente, imunidade coletiva extremamente baixa corresponde a um grande acúmulo de pessoas suscetíveis, o que pode levar a um maior número de casos. Por outro lado, alta imunidade coletiva faz com que se reduza o número de pessoas suscetíveis, dificultando ou impedindo a circulação do agente causador da doença, o qual ser um mosquito ou um vírus. A diminuição de pessoas suscetíveis e a imunidade do rebanho são fundamentais para a sobrevivência de toda a espécie humana. De fato, devido à redução das populações suscetíveis, mesmo no desenvolvimento das epidemias mais devastadoras do passado, estas foram naturalmente incluídas, mesmo em uma época em que não havia conhecimento sobre os seus determinantes. Exemplo disso é quando observamos casos em que uma criança contraía uma doença específica, e os pais isolavam todas as crianças para que elas contraíssem no mesmo período. As variações ou tendências são as formas que as características das doenças ocorrem de forma lenta e gradual, podendo levar longos períodos ou até séculos. O Vigitel faz parte do sistema de vigilância de fatores de risco do Ministério da Saúde para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), e é combinado com outras pesquisas (domiciliares e escolares, por exemplo). É realizado um inquérito telefônico por meio de números de telefone sorteados para participação do Vigitel, sendo questionados fatores de risco entre as doenças mais comuns no Brasil, dentre elas, a inatividade física. A epidemiologia consiste no estudo da distribuição dos determinantes da prevalência da doença em uma população. Com a aplicação das técnicas aprendidas na seção anterior, podemos traçar estratégias para controlar problemas de saúde. Essa forma didática de apresentar a epidemiologia possui duas partes diferentes: os estudos descritos e os estudos analíticos, os quais fazem parte de um tipo de estudo epidemiológico, que é o observacional. Quando falamos nos estudos descritivos, nos referimos ao estudo da distribuição de um evento em uma população, ou seja, determinar a distribuição das doenças e das possíveis condições de saúde, de acordo com tempo, local do evento ou características da população estudada. Os estudos descritivos observam a incidência ou prevalência de doenças ou condições relacionadas à saúde e quais mudanças podem ser observadas de acordo com certas características (sexo, idade, educação, renda, etc.), sendo que a partir dessa condição é possível identificar os grupos de alto risco e traçar a melhor estratégia de prevenção dessa doença, além de levantar novos questionamentos, ou seja, elaborar novas hipóteses para novas pesquisas. Os estudos analíticos como parte do método epidemiológico têm como principal função testar hipóteses de associação entre possíveis causas e efeito. Na medicina, na Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 8 maioria das vezes, esses estudos estão relacionados com a tentativa de estabelecer a relação entre a exposição e um possível fator causal de uma doença. A partir dos estudos descritivos é possível formular uma hipótese, realizar os estudos analíticos e testar, por meio de técnicas, a hipótese de associação entre a possível causa e o efeito. Baseado nos estudos analíticos e nos testes de hipóteses é possível concluir sobre a relação causal e, em algumas vezes, perceber a necessidade de novos estudos descritivos e novas hipóteses a serem formuladas. Quando estudamos a epidemiologia, precisamos definir um delineamento do estudo. Seja qual for esse desenho, é preciso que já esteja definida a hipótese do estudo, que consiste na resposta provisória do estudo, pois, após as análises, essa hipótese inicial pode ser confirmada ou rejeitada. Para se confirmar ou rejeitar a hipótese, é necessário utilizar o teste de hipóteses (abordaremos na próxima unidade). Adota-se o termo hipótese nula para designar a hipótese inicial do estudo. Por exemplo, se um estudo tem como objetivo verificar a associação entre a inatividade física (fator de exposição) e a incidência da hipertensão, então a hipótese nula é: a incidência de hipertensão independe da presença da inatividade física. Se houver rejeição da hipótese nula, a hipótese alternativa deve ser adotada, o que consiste na hipótese considerada verdadeira. Para que as hipóteses se confirmem, é necessário que o desenho do estudo possibilite a observação sistemática dos fenômenos de interesse, além de utilizar métodos estatísticos, a fim de analisar e interpretar os dados. Os delineamentos podem ser divididos em experimentais, que possuem como principal característica o controle da exposição ao fator de interesse, por exemplo, avaliar o quão efetiva e segura é uma intervenção terapêutica (utilização de drogas combinadas) sobre o paciente. No delineamento quasi-experimentais, o controle por parte do investigador está no fator de risco, contudo a distribuição dos grupos de participantes não é aleatória. Um bom exemplo desse delineamento é a comparação de ocorrência de cárie dentária entre duas populações, sendo que em uma a água consumida com a utilização de flúor, e a outra, não. Já em desenhos observacionais, o investigador não controla a exposição e a divisão dos grupos de participantes, observando os resultados. Podemos classificar as investigações epidemiológicas analíticas da seguinte maneira: • Experimentais • Observacionais 2.1 Transversais 2.2 Longitudinais 2.1 Coorte Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 9 Estudos experimentais Os estudos experimentais são também conhecidos como estudos de intervenção e se caracterizam em razão de o investigador determinar um grupo de expostos (a+b) e não expostos (c+d) a um certo fator. A partir disso, o ponto inicial é a variável independente e a distribuição dos participantes nos grupos de expostos e não expostos. Tal fato pode ser representado na tabela a seguir. Doença Presente Doença Ausente Total Exposição Presente a b a+b Exposição Ausente c d c+d Total a+c b+d n Fonte: elaborada pelo autor. Quando se realiza a separação em dois grupos, o objetivo é que se possa realizar o experimento, a fim de compará-los para um determinado possível resultado, podendo ser representado no esquema a seguir. Fonte: elaborada pelo autor. • População de Referência: é o grupo de pessoas em que o resultado pode ser generalizado. • População de Estudo: é o grupo de pessoas retirado da população de referência (amostra). • Participantes: são os indivíduos que farão parte do estudo. • Não participantes: são os indivíduos que fazem parte da população de estudo, mas, por não atenderem aos critérios de inclusão, foram excluídos da pesquisa. • Grupo de Estudo: são os participantes que serão submetidos à exposição de um ou mais fatores. Corresponde ao grupo a+b da tabela. Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 10 • Grupo de Controle: são os participantes que não serão submetidos à exposição dos fatores, representados na tabela como o grupo c+d. Sem o grupo de controle, o estudo seria meramente descritivo. • Resultado 1: são os resultados encontrados no grupo de estudo. • Resultado 2: são os resultados encontrados no grupo de controle. A separação em dois grupos nesse exemplo é para uma melhor visualização, pois pode havermais grupos a serem avaliados. No esquema apresentado, podemos analisar a eficácia de uma nova droga contra uma doença específica, por exemplo. É possível avaliar esse novo produto, que seria ministrado para o grupo de estudo, contra um tratamento padrão, ministrado ao grupo de controle, e comparar os resultados de cada um deles. Há também a possibilidade de o grupo de controle receber placebo. A epidemiologia possibilita estudar como se desenvolve uma doença ou um fator de risco em uma determinada população. Para isso, são utilizados diversos métodos para que o estudo seja o mais próximo da realidade. Nesse sentido, falaremos sobre placebo. Esse recurso é utilizado em muitos casos em pesquisas experimentais, e nada mais é do que uma substância inerte, sem eficácia terapêutica, administrada com o objetivo de avaliar o possível efeito na redução de alguma doença, causado apenas pela ingestão de uma substância que acredita ser o medicamento, gerando “cura” psicológica. Estudos transversais Os estudos transversais são as estratégias de estudos epidemiológicos que se caracterizam pela observação direta de uma determinada quantidade planejada de indivíduos em uma única oportunidade. Outra característica dos estudos transversais é a utilização de amostras de uma determinada população e, posteriormente, a generalização dos resultados para a população de referência. Isso ocorre porque, quando se realiza a observação da população de análise e ela é muito numerosa, o estudo torna-se relativamente caro. Nesse caso, opta-se por realizar uma seleção dos participantes, e assim é construída uma amostra. Ao realizar a observação dos participantes no momento do estudo, os resultados devem estar sempre relacionados ao local e à época demarcados. Basicamente, os estudos transversais estão ligados à necessidade de conhecer como uma ou mais características (individuais ou coletivas) estão distribuídas na população. É um excelente método para descrever as características de uma população em um determinado período. Os estudos transversais não conseguem testar hipóteses sobre causa e efeito, mas ainda é possível testar a associação entre dois eventos, como doença e exposição. Caso utilize uma quantidade de amostra adequada (adquirida pelo cálculo amostral), esse modelo pode se mostrar como uma fotografia de uma população. Deste modo, não é Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 11 possível estabelecer com exatidão se a exposição ocorre antes da doença ou se é resultado dela. Um exemplo dessa situação é a relação entre o indivíduo ser fisicamente inativo e a obesidade. O achado de maior número de pessoas obesas entre os fisicamente inativos pode ser interpretado como uma relação causal, em que o segundo seria o fator determinante do primeiro. Estudo longitudinal Entre os estudos longitudinais, destacam-se os estudos de coorte e caso controle, que possuem a característica de monitorar os participantes ao longo de um determinado tempo. Os estudos de coorte são considerados observacionais. Neles, a situação dos participantes em relação à exposição ao fator de interesse a ser estudado determina o convite para o estudo, sendo esses indivíduos monitorados ao longo do tempo, a fim de verificar a incidência de alguma doença ou desfecho de interesse. A principal característica desse tipo de estudo é que a seleção da população estudada deve ser realizada partindo da variável independente, aproveitando que os diferentes grupos de pessoas se expõem ou não à ação de um fator de risco qualquer naturalmente. Podemos exemplificar com a hipótese de que o tabagismo aumenta o risco de câncer de pulmão. No estudo de coorte, os participantes seriam divididos em dois grupos, sendo um de fumantes (a+b) e um de não fumantes (c+d). Com o acompanhamento padronizado e sistematizado dos dois grupos, eles seriam avaliados e comparados conforme a incidência de câncer de pulmão entre os expostos e não expostos. Os estudos de coorte também podem ser classificados em prospectivos e retrospectivos, sendo o modelo prospectivo caracterizado quando as pessoas expostas e não expostas são selecionadas no momento zero do estudo e acompanhadas ao longo do tempo, verificando-se a incidência de doenças em ambos os grupos. Já no modelo retrospectivo é possível selecionar os indivíduos do estudo com base em uma exposição que já ocorreu, estudando no momento presente as doenças que possivelmente tenham sido ocorridas pela exposição. A hipótese de que a exposição à radiação causada por uma explosão nuclear está associada ao aparecimento de uma determinada alteração cromossômica e através do estudo de coorte retrospectivo, pois bastaria, no momento atual, selecionar o grupo de indivíduos que foram submetidos a essa exposição e verificar a alteração cromossômica. Quanto ao estudo prospectivo, um exemplo são os estudos de coortes que acompanham o indivíduo durante algum tempo, a fim de analisar possíveis doenças que ele possa adquirir durante o período de acompanhamento. Em coorte de Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 12 indivíduos saudáveis que estão acompanhados até o momento que o tiver interesse em participar, e ao longo do tempo o participante desenvolve um câncer de pulmão em virtude do tabagismo durante a vida. Inegavelmente, as pesquisas científicas utilizando seres humanos nos estudos experimentais são muito ricas e trazem benefícios para a sociedade, contudo sempre há o conflito de a pessoa ser submetida a um estudo experimental. Deste modo, reflita sobre a diferença ética em modelo experimental versus estudos observacionais em humanos. A transição demográfica e epidemiológica Segundo previsões, no terceiro milênio, a população deveria chegar à casa dos bilhões. Esse valor foi atingido, porém demorou vários séculos para isso, e apresentou diferentes ritmos de crescimento com o passar dos anos. Há aproximadamente 8 mil anos (a.C.) havia períodos específicos para caça (nômades), e no início da era da agricultura a população mundial correspondia a, aproximadamente, oito milhões de habitantes. Posteriormente, já na era cristã (ano I d.C.), há relatos de que a marca de 300 milhões de pessoas tinha sido alcançada, no entanto foram necessários mais de 1000 anos para que esse valor fosse duplicado. Por volta de 1750, a população mundial estava em 800 milhões de habitantes. Desde esse ponto, foram necessários por volta de 150 anos para que a população fosse dobrada novamente, chegando a 1.700.000 habitantes em 1900; depois de 50 anos, houve nova duplicação, com uma população total chegando a 2,5 milhões de habitantes. Em 2000, a população mundial era de 6.085.572 habitantes (um crescimento de 2,5 vezes em 50 anos), com estimativa de um total 9.075.903 para o ano de 2050. Apesar de esses dados serem predominantemente de países europeus, representam uma forma de referência para uma aproximação geral dos processos demográficos ocorridos na humanidade (BERQUÓ, 1991). A partir do século XVIII, nota-se um aumento acelerado da população mundial, em ritmo e tamanho diferentes de todas as épocas anteriores, o que coincide com a expansão do capitalismo industrial para os países europeus mais desenvolvidos. As razões para esse comportamento demográfico parecem estar ligadas ao desenvolvimento das forças produtivas desencadeado pelo advento do capitalismo, particularmente, o capitalismo industrial e o modelo de sociedade por ele gerado (urbanizada e industrializada), ou ao chamado processo de industrialização. De qualquer modo, esse processo favoreceu o crescimento da produção e da riqueza e o desenvolvimento da técnica e da ciência moderna, com um maior domínio sobre a natureza, incluindo as doenças, as epidemias e a própria fecundidade humana, o que ocasionoutransformações culturais profundas nas sociedades, com reflexos na natalidade, na mortalidade e no ritmo de crescimento populacional (VERMELHO; MONTEIRO, 2006). Teoria da transição demográfica Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 13 A teoria da transição demográfica surgiu no início do século XX, tomando como referência em sua formulação as modificações observadas nos países europeus nos séculos anteriores, especialmente a partir do século XVIII. Procurava relacionar as transformações demográficas, particularmente os coeficientes de natalidade e mortalidade, com o processo de industrialização. Assim, em diversas etapas do desenvolvimento da sociedade pré e pós-industrial, poderiam ser identificados específicos comportamentos da mortalidade e da natalidade, com seus reflexos no tamanho e na composição da população. Nesse processo de transição clássico, foram identificados três períodos principais que tomaram a industrialização como ponto de referência: a fase pré-industrial, caracterizada por um crescimento populacional lento; a fase de industrialização, com crescimento populacional intenso; a fase de consolidação da sociedade industrial, com uma tendência populacional estável ou regressiva (PRATA, 1992; VERMELHO; MONTEIRO, 2006). A teoria da transição demográfica consolidou-se como um modelo explicativo abrangente para mudanças demográficas verificadas no decorrer da história das sociedades e seus determinantes históricos, sociais e econômicos, tanto que, a partir dos anos 1940 e 1950, ela foi relacionada ao desenvolvimento econômico. Era fundamentada na observação de que a taxa de fecundidade era alta em sociedades de base rural, não-industriais, constituindo-se o número elevado de filhos em garantia de mão de obra na agricultura tradicional e seguridade, em uma realidade na qual prevaleciam altas taxas de mortalidade. Defendia que a modernização da sociedade, entendida como industrialização e urbanização, concorria para a redução da fecundidade, pelas mudanças culturais e econômicas decorrentes, promovendo particularmente mudanças nos padrões de família, onde a intervenção de políticas de controle da natalidade tinha um papel relevante (PRATA, 1992; OMRAN, 1996). A população mundial está envelhecendo. Isso ocorre em virtude de a base da pirâmide etária estar se tornando mais estreita em decorrência da baixa taxa de natalidade. Vale a pena refletir sobre o quanto os idosos que já estão se aposentando ainda são muito produtivos, podendo contribuir com a economia do país. Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 14 Fonte: Pena (2015, [s.p.]). De acordo com Vermelho e Monteiro (2006), o conceito de transição demográfica, basicamente, é a passagem de um contexto populacional, no qual prevalecem altos coeficientes de mortalidade e natalidade. Em termos demográficos, uma sociedade passa por quatro fases. Veja, a seguir, um pouco mais sobre cada fase especificamente. • Fase 1: típica das sociedades pré-industriais, caracteriza-se por coeficientes de natalidade e mortalidade (principalmente infantil) elevados, dos quais se gera um crescimento populacional lento (equilíbrio populacional). Esta fase concluiu-se em meados do século XVIII, quando ocorreu a Revolução Industrial e todas as transformações dela decorrentes. • Fase 2: fase intermediária, própria dos países em processo de industrialização. O coeficiente de mortalidade se reduz de forma importante, mas o coeficiente de natalidade continua elevado, gerando um desequilíbrio traduzido pelo grande aumento da população (explosão populacional). Com a Revolução Industrial do século XVIII, os países conhecidos como desenvolvidos passaram para a Fase 2, iniciando o rápido crescimento da população mundial. Alguns países em desenvolvimento iniciaram a transição demográfica para essa fase de modo mais tardio e repentino, especialmente durante o século XX. • Fase 3: o coeficiente de natalidade inicia uma importante redução ao mesmo tempo em que o coeficiente de mortalidade continua com uma tendência decrescente, iniciada no estágio 2. Por essa razão, o crescimento demográfico nesta terceira fase continua sendo relativamente alto. Com isso, a população passa a ficar mais envelhecida, o que é conhecido como envelhecimento populacional. Os países ricos completaram todo o processo de passagem da Fase 2 para a 3 ainda no século XX, momento em que estabilizaram em um Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 15 nível mais baixo seus coeficientes de natalidade e de mortalidade. Já em alguns países da América Latina, Ásia e África, esse processo tende a ocorrer lentamente e mais tardio. • Fase 4: esta fase é típica das sociedades pós-industriais e se caracteriza por coeficientes de mortalidade e natalidade reduzidos. Consequentemente, o crescimento natural da população volta a alcançar um estado de equilíbrio. É reconhecida também como uma fase de pós-transição. A estabilização é representada pela aproximação dos níveis de fecundidade com os de reposição, gerando aumento da expectativa de vida e envelhecimento populacional de uma forma geral. • Fase 5: é representada pela inversão dos níveis de fecundidade com a taxa de mortalidade, ou seja, morrem mais pessoas e não nascem crianças suficientes para haver a reposição. Quanto maior a diferença entre esses níveis, maior será o decréscimo da população. Cabe ressaltar que um estudo de Baena et al. (2013) apontou para disparidades demográficas e epidemiológicas entre as regiões brasileiras. Em regiões mais pobres, como Norte e Nordeste, estariam proporcionalmente na Fase 3 da transição demográficas, enquanto regiões mais ricas, como Sul e Sudeste, já estariam na Fase 4. Fonte: https://bit.ly/3ciXtNQ. Acesso em: 26 dez. 2020. A teoria da transição demográfica vem assumindo um papel importante na elucidação da dinâmica populacional, ao ponto de refletir em outras disciplinas, como a epidemiologia, que criou um conceito parecido: a transição epidemiológica. A população está envelhecendo, com isso cada vez mais haverá uma necessidade de esse público buscar atividade física. Deste modo, aprimorar as aulas baseadas nele pode ser uma ótima oportunidade de promover saúde por meio de uma vida mais ativa. Transição epidemiológica Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 16 A partir da segunda metade do século XIX, os países considerados centrais da economia mundial – por seu desenvolvimento industrial – começaram a apresentar mudanças significativas em seu perfil epidemiológico. De uma forma geral, essas mudanças ocorreram por dois fatores principais: devido às alterações associadas à estrutura etária da população, ocorridas ao longo do processo de transição demográfica, e às alterações de longo prazo nos padrões de morbidade e de mortalidade, do qual houve uma substituição gradual das doenças infecciosas e parasitárias e das deficiências nutricionais pelas doenças crônico-degenerativas e aquelas relacionadas a causas externas e ao comportamento (PRATA, 1992; PEREIRA; ALVES-SOUZA; VALE, 2015) . O Brasil, especialmente, apresenta bons números em relação a alguns fatores que estão relacionados à mortalidade. Por exemplo, houve uma redução de mortalidade precoce entre os anos 2000 a 2010, quando se passou de 12,7% para 7,4%. Da mesma forma, a mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias apresentou queda no mesmo período de 4,7% para 4,3%. Por outro lado, as doenças crônicas representaram 73,9% em 2010, sendo que 80,1% foram em decorrência de doenças cerebrovasculares, câncer, doenças respiratórias e diabetes (BRASIL, 2012). Sistema de vigilância em saúde A vigilância em saúde visa observar e analisar permanentementeo estado de saúde da população, esclarecer um conjunto de ações a serem tomadas e controlar os determinantes, riscos e agravos à saúde da população em determinados territórios, para garantir cuidados em relação à integridade das pessoas, incluindo abordagens individuais e coletivas dos problemas de saúde. As Diretrizes Nacionais da Vigilância em Saúde (BRASIL, 2010) mostram que entre as ações de vigilância há a prevenção, promoção e controle de doenças e seus agravos. Inclui-se também a vigilância e o controle das doenças transmissíveis; a vigilância das doenças e dos agravos não transmissíveis; a vigilância da situação de saúde, vigilância ambiental em saúde, vigilância da saúde do trabalhador e vigilância sanitária. Utiliza-se de ferramentas especificas para desenvolver habilidades de programação e planejamento, a fim de proporcionar o acesso a diferentes atividades e ações de saúde. A integração da vigilância à saúde com a atenção primária à saúde é condição obrigatória para a construção de uma atenção integral à saúde e o alcance dos resultados, e seu fluxo de trabalho de desenvolvimento deve ser condizente com as reais condições locais, preservando as particularidades de cada departamento. Outro aspecto básico do monitoramento da saúde é a proteção abrangente da saúde das pessoas por meio da promoção da saúde. A política visa melhorar a qualidade de vida e permitir que as pessoas reduzam vulnerabilidades e riscos à saúde Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 17 relacionados aos seus determinantes e condições, incluindo estilo de vida, condições de trabalho, moradia, meio ambiente, educação, lazer, cultura e acesso a bens e serviços básicos. Podemos elencar ações específicas voltadas para: alimentação saudável, atividades físicas/esportivas, prevenção e controle do tabagismo, redução da morbimortalidade pelo uso de álcool e outras drogas, redução da morbimortalidade por acidentes de trânsito, prevenção da violência e incentivo à cultura paz, além de promover o desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2010). Indicadores de mortalidade e morbidade As medidas de mortalidade sempre foram utilizadas como indicadores dentro de uma sociedade. A popularidade desses indicadores se dá pelo fato de haver disponibilidade de dados sobre a ocorrência de morte. Inicialmente, essa medição era realizada pela Igreja, pois havia um registro sistemático de fatos vitais, como óbitos e nascimentos. No Brasil, de acordo com a Lei de Registros Públicos (Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973), o sepultamento só pode ser realizado mediante a apresentação da certidão de óbito emitida pelo cartório. Por sua vez, para a emissão dessa certidão, é necessária a apresentação da declaração de óbito assinada pelo médico. Os índices de mortalidade e morbidade não conseguem cobrir o país como um todo. Isso se dá em virtude de ainda existirem regiões muito distantes de cidades, por isso, em alguns desses bancos dados pode haver subnotificação de algum agravo ou óbito. Uma forma de sanar essa situação é padronizando os dados, para, assim, poder ter comparação. Perceba a importância da declaração de óbito, pois esses dados vão para um banco de dados, o SIM (Sistema de Informação de Mortalidade), gerido pelo IBGE e pelo Ministério da Saúde. Além dos dados relativos à ocorrência do óbito nesse sistema, é possível obter informações sobre a causa básica do óbito, unidade de federação e seus municípios, sexo, idade e causa da morte segundo o CID-10. Entre os indicadores, o coeficiente geral de mortalidade é referente a toda a população, resultando na taxa bruta dela, sendo representado na seguinte equação. Diversas fontes de dados são necessárias para os indicadores de morbidade em populações, isso se dá pela natureza multidimensional da morbidade e pelo fato de que o indivíduo possivelmente já foi acometido por mais de um evento mórbido. No Brasil, as fontes dos dados estão nos mais variados sistemas, sendo algum deles: Sistema de Informação de Agravos e Notificações (Sinan); Registro de Câncer de Base Populacional (RCPB); Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílio (PNAD); Pesquisa de Orçamento Familiar (POF). Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 18 Para realizar a construção de um indicador, é necessário associar dados de fontes diferentes, por exemplo, se o interesse é saber a taxa de incidência de Aids: Referências: ALMEIDA FILHO, N. Uma breve história da epidemiologia. In: ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia e Saúde. Rio de Janeiro: Medsi, 1999. BRASIL. Vigitel: o que é, como funciona, quando utilizar e resultados. Brasília, DF: Ministério da Saúde, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3vXUTVe. Acesso em: 10 dez. 2020. BUSS, P. M. Promoção da saúde e qualidade de vida. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.. 5, n. 1, 2000. CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Juramento de Hipócrates. São Paulo: CREMESP, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/31h6ErV. Acesso em: 7 mar. 2021. WORLD HEALTH ORGANIZATION. 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Dispõe sobre os registros públicos e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: https://bit.ly/3srSi3U. Acesso em: 9 mar. 2021. https://bit.ly/3vXUTVe https://bit.ly/31h6ErV https://bit.ly/3srSi3U Bioinformação e Tecnologias Digitais para Educação Física – Educação Física – Pitágoras 19 BRASIL. Diretrizes Nacionais da Vigilância em Saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2010. BRASIL. Saúde Brasil 2011: uma análise da situação de saúde e a vigilância da saúde da mulher. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2012. OMRAN, A. R. The epidemiologic transition in the Americas. Washington: Pan American Health Organization, 1996. PENA, R. F. A. Transição demográfica. Brasil Escola, 2015. Disponível em:https://bit.ly/39he8PP. Acesso em: 8 mar. 2021. PEREIRA, R. A.; ALVES-SOUZA, R. A.; VALE, J. S. O processo de transição epidemiológica no Brasil: uma revisão de literatura. 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