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Introdução à Epidemiologia

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AULA 1 
EPIDEMIOLOGIA 
Profª. Ivana Maria Saes Busato 
 
 
02 
CONVERSA INICIAL 
O conhecimento da história da epidemiologia permitirá compreender a sua 
importância no desempenho dos profissionais de saúde em qualquer área de 
atuação, na gestão, na atenção direta a pacientes, e na organização dos serviços. 
Ao final desta aula objetivamos que você relacione a evolução histórica para o 
desenvolvimento da epidemiologia, sintetize o conceito da epidemiologia e 
conheça aspectos da epidemiologia brasileira. 
CONTEXTUALIZANDO 
O conceito da epidemiologia foi construído historicamente com a evolução 
das ciências e do conhecimento do processo saúde-doença. A epidemiologia está 
presente em qualquer atividade profissional da área de saúde. A investigação 
causal de agravo, doença ou evento de saúde implica o levantamento de 
informações, situações, dados, números que devem ser analisados por meio da 
ciência da epidemiologia. Vamos analisar matéria jornalística: 
Número de casos de zika, dengue e chikungunya caem em 2017 - 
Registros das doenças causadas pelo Aedes do país têm forte queda 
em comparação com o mesmo período de 2016. O número de 
notificações de dengue, zika e chikungunya caiu neste ano em 
comparação com o mesmo período de 2016. Até o dia 18 de fevereiro 
de 2017, as três doenças somavam 60.124 registros, de acordo com o 
Ministério da Saúde, contra 590.380 suspeitas no mesmo período do ano 
passado. A queda é de 89,81% (...). Acordo com o presidente da 
Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses, Artur Timerman, esse 
comportamento é natural para as doenças do Aedes e outros vírus. Ele 
diz que a transmissão da doença tem um ciclo - um início, um pico e uma 
queda. Depois disso, ainda de acordo com Timerman, novas pessoas 
voltam a ser infectadas e novas epidemias da doença voltam a surgir. 
(G1, 2017) 
Na matéria acima é possível identificar os elementos fundamentais que 
definem o conceito da epidemiologia. Vamos aos temas desta aula e ao final 
retomaremos. 
TEMA 1 – CONCEITO DE SAÚDE E O PROCESSO SAÚDE-DOENÇA 
1.1 O que é saúde? 
A Organização Mundial da Saúde – OMS, organismo internacional fundado 
em 1948, define saúde como “estado de completo bem-estar físico, mental e 
 
 
03 
social”. Essa definição foi adotada pela Conferência Sanitária Internacional 
realizada em junho de 1946, Nova York (OMS, 1946). 
O conceito de saúde como ausência de doença reforçava o modelo 
explicativo do processo saúde-doença biomédico, focado na assistência individual 
e unicausal. Quando a OMS aponta que a saúde vai além da ausência de 
enfermidade ou invalidez, influencia os modelos explicativos do processo saúde-
doença, havendo necessidade de ampliar os determinantes e condicionantes da 
saúde. 
Nesse sentido, há necessidade de a epidemiologia e as ciências sociais se 
associarem na busca de explicações para os padrões populacionais de 
distribuição das doenças (Barata, 2005), e o modelo explicativo de Determinação 
Social da Saúde contempla o atual conceito de saúde da OMS, que estudaremos 
mais profundamente. 
O conceito de saúde da OMS influenciou a organização das políticas 
públicas de saúde. No Brasil, a Constituição Federal de 1988, consagrou a saúde 
como direito de todos e dever do Estado, e o conceito de saúde foi regulamentado 
pela Lei Federal n. 8.080/1990, no art. 3º: 
...saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, 
a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o 
trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens 
e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a 
organização social e econômica do País. (Brasil, 1990) 
As condições socioeconômicas e sociais para o processo saúde-doença 
são consideradas na lei ao afirmar que os níveis de saúde são expressões da 
organização social e econômica do País. 
A Lei Federal n. 12.864/2013 (Brasil, 2013) amplia esse conceito de saúde 
para a política pública de saúde acrescentando atividade física, que indica 
claramente a preocupação com a escolha do Estilo de Vida e as Redes Sociais e 
Comunitárias. 
A epidemiologia deve considerar o conceito de saúde e os modelos 
explicativos do processo saúde-doença para ser uma ciência aplicada. Barata 
(2005) aponta que os fenômenos estudados pela epidemiologia pertencem ao 
âmbito coletivo e, portanto, devem remeter ao social. 
 
 
 
04 
1.2 O processo saúde-doença 
A indagação humana – “Por que adoecemos?” – é explicada por meio do 
conhecimento do processo saúde-doença. As sociedades sempre buscaram 
esclarecimentos, o porquê, em uma comunidade, alguns adoecem e outros não 
adoecem. Assim, várias explicações foram se desenvolvendo com a evolução do 
conhecimento científico. 
Busato (2016, p. 47) aponta que os “diversos modelos explicativos têm sido 
estabelecidos para elucidar a complexidade do processo saúde-doença ao longo 
da história da humanidade”. Os modelos explicativos do processo saúde-doença 
têm início no modelo mágico-religioso, que defende que as doenças são 
resultantes dos malfeitos ou dos pecados que vêm em forma de castigo divino ou 
dos deuses. 
A contribuição da medicina hindu e da medicina chinesa trouxe o modelo 
holístico que explicava as doenças por meio do equilíbrio entre os elementos e 
humores que compõem o organismo humano (Busato, 2016). 
A observação das doenças fez surgir o modelo empírico-racional, que 
também explica a ocorrência das doenças por meio da consequência do 
desequilíbrio dos elementos água, terra, fogo e ar. Na Idade Média, com a teoria 
dos humores trazem o mesmo conceito de desequilíbrio do modelo empírico-
racional para determinar a ocorrência de saúde ou de doença (Busato, 2016, p. 
48). 
O desenvolvimento das ciências no período do Positivismo e a 
possibilidade de estudar o corpo humano fizeram desenvolver o modelo 
biomédico. A principal justificativa para a ocorrência das doenças está na 
presença de um agente causal que possibilitava adoção de medidas curativas 
(modelo unicausal) e que influenciou os primeiros conceitos de saúde como 
ausência de doença. 
A História Natural da Doença é um modelo explicativo do processo saúde-
doença inovador, porque considera múltiplas determinações causais. Institui a 
Tríade ecológica, apontando que a doença é resultado da interação entre agente, 
hospedeiro e ambiente. Esse modelo multicausal foi sistematizado por Leavell e 
Clark (1976). O modelo explicativo História Natural das Doenças analisa as 
características das funções de uma doença ou agravo, numa linha de tempo 
apontando sua distribuição e levando em consideração: pessoas, tempo e espaço. 
 
 
05 
Essa linha de tempo para ocorrência da doença tem início antes dos 
primeiros sinais e sintomas, o período pré-patogênico, que leva até a morte. A 
explicação da doença nessa linha de tempo permitiu o desenvolvimento de ações 
de prevenção e de promoção da saúde, além de considerar a possibilidade da 
reabilitação. 
Hoje, entendemos o processo saúde-doença pela Determinação Social da 
Saúde, esse modelo foi proposto por Dahlgren e Whitehead (2007). Os modelos 
anteriores exploram as condições individuais e biológicas para explicar a 
ocorrência de doença ou não, e o modelo de Dahlgren e Whitehead introduz a 
importância dos determinantes sociais. As condições individuais como sexo, idade 
e fatores hereditários não são mais as únicas formas de explicações para as 
pessoas estarem com saúde ou com doença. 
A escolha do Estilo de vida e as redes sociais e comunitárias passam a ser 
consideradas para ocorrência das doenças. As condições socioeconômicas, 
culturais e ambientais gerais como: educação, renda, condições de vida e de 
trabalho, entre outras, são determinantes do processo saúde-doença. 
As determinações sociais da saúde possibilitam evitar as iniquidades em 
saúde. As iniquidades em saúde são diferenças socialmente produzidas,sistemáticas em sua distribuição pela população e injustas (Mendes, 2012). 
TEMA 2 – A EPIDEMIOLOGIA E SUA HISTÓRIA 
2.1 Raízes históricas 
Hipócrates (460 a.C.-370 a.C.) é considerado o pai da epidemiologia, seus 
textos já relacionavam o meio ambiente com epidemia, afirmava também que a 
ocorrência do desequilíbrio entre os elementos da natureza: terra, fogo, ar e água 
era capaz de provocar doenças. Na mitologia grega, Asclépios, deus da saúde, 
tinha duas filhas, Higéia e Higina, a primeira deusa da saúde coletiva e a segunda 
deusa da saúde individual. Hipócrates sofreu mais influência de promover a saúde 
com ações preventivas (Higeia), pelo equilíbrio entre os elementos da natureza: 
terra, fogo, ar e água. 
Claudius Galeno (ca. 130-200), foi um médico grego, e um dos mais 
importantes antiga Roma. Os médicos gregos eram muito valorizados pelos 
romanos e Galeno tornou-se médico das celebridades pelo seu conhecimento e 
06 
arrojo (Busato, 2016). A medicina galena foi importante para o avanço da 
descrição e do conhecimento de doenças. 
A antiga Roma trouxe várias contribuições para a epidemiologia coletiva 
com sua infraestrutura sanitária na construção de aquedutos e esgotos. 
O caráter coletivo da medicina árabe tem em Avicena (980-1037), médico, 
matemático e filósofo persa, seu principal representante. Trouxe para medicina 
ocidental os conceitos epidemiológicos e coletivos de Hipócrates e Galeno. 
Busato (2016, p. 30) aponta que “médicos muçulmanos, baseados na escola 
hipocrática, adotaram uma prática precursora da saúde pública, com grandes 
avanços nos registros de informações demográficas e sanitárias, bem como os 
sistemas de vigilância epidemiológica”. 
Durante um grande período temporal que vai do século XI até meados do 
século XIX os conceitos iniciados por Hipócrates, Galeno e Avicena foram 
substituídos pela Teoria Miasmática, que explicava a má qualidade do ar como 
causa de todas as doenças, retrocedendo aos conceitos epidemiológicos. 
2.2 John Snow – fundador da epidemiologia 
Durante os anos de 1850, a Teoria Miasmática estava perdendo força entre 
os jovens médicos da Inglaterra, e nesse contexto os jovens simpatizantes das 
ideias médico-sociais, com oficiais da saúde pública e membros da Real 
Sociedade Médica, organizaram um grupo de estudos epidemiológicos, a London 
Epidemiological Society. 
Busato (2016, p. 30-31) destaca “a participação de Florence Nightingale 
(1820-1910), fundadora da enfermagem, no London Epidemiological Society, e 
sua importância para a epidemiologia nos estudos pioneiros sobre a mortalidade 
por infecção pós-cirúrgica nos hospitais militares na Guerra da Crimeia”. 
Um dos membros fundadores dessa sociedade foi John Snow (1813-1858), 
que realizou a mais notável investigação da epidemia de cólera de 1854, e por 
esse feito é considerado por muitos o fundador de epidemiologia. Snow mostrou 
a contaminação hídrica da cólera pela metodologia epidemiológica, sem o 
conhecimento da teoria microbiana de Pasteur. 
John Snow é considerado por muitos autores o fundador da epidemiologia, 
e outros indicam Snow como o “pai da epidemiologia”. Aos 14 anos começou a 
ser aprendiz de cirurgião pelo sistema mestre-discípulo, auxiliando um cirurgião 
07 
da época. Graduou-se em medicina em 1844 na cidade de Londres pelo Royal 
College of Physicians, começando a clinicar na capital britânica. 
O estudo de John Snow sobre a cólera teve início no surto de 1831/32, 
quando ainda era aprendiz. Questionando a teoria do miasma para explicar a 
epidemia da cólera, percebeu que os mineiros que trabalhavam no interior da 
terra, longe das regiões miasmáticas, também haviam adoecido, e percebeu a 
influência da água para a ocorrência da doença. Assim, em agosto de 1849, 
publicou um panfleto defendendo a transmissão da cólera pela água. Os médicos 
da época não confirmaram a teoria de Snow. 
“Em Londres, no ano de 1854, a cólera reapareceu com características de 
uma grave epidemia, nos primeiros dias de setembro foram registrados mais de 
616 casos fatais. Nessa época Snow era titular de uma posição equivalente a 
ministro da saúde de Londres” (Busato, 2016, p. 32). 
Várias teorias tentavam explicar o grande número de óbitos em tão pouco 
tempo. John Snow mapeou as 616 mortes mostrando a distribuição espacial do 
surto concentrada nas imediações da bomba de água da Broad Street, indicando 
a possível fonte da contaminação. Anos depois da morte de Snow, Robert Koch 
identificou o Vibrio cholerae como agente causador da cólera em 1884. 
TEMA 3 – CONCEITO DE EPIDEMIOLOGIA 
“A Clínica, a Estatística e Medicina Social compõem os elementos 
conceituais, metodológicos e ideológicos, da epidemiologia” (Busato, 2016). 
Segundo Almeida Filho e Rouquayrol (2013), o termo “epidemia” está nos 
textos hipocráticos. Etimologicamente, a palavra epidemiologia é formada pela 
junção do prefixo epí (“em cima de; sobre”) com o radical demos, significando 
“povo”. O sufixo logos, do grego, é “palavra, discurso, estudo”. Esse sufixo é 
geralmente empregado para designar disciplinas científicas nas línguas ocidentais 
modernas. A palavra Epidemiologia significa etimologicamente “ciência do que 
ocorre (se abate) sobre o povo” (Almeida Filho e Rouquayrol, 2013). 
Last (2001, p. 87, tradução nossa) conceitua a epidemiologia como “o 
estudo da distribuição e dos determinantes de estados ou eventos relacionados à 
saúde em populações específicas, e sua aplicação na prevenção e controle dos 
problemas de saúde”. 
Almeida Filho e Rouquayrol (2013, p. 1) fazem uma conceituação clássica 
da epidemiologia, apontando todos os aspectos que compõem sua dimensão 
 
 
08 
como ciência: “epidemiologia estuda o processo saúde-enfermidade na 
sociedade, analisando a distribuição populacional e fatores determinantes do risco 
de doenças, agravos e eventos associados à saúde”. 
3.1 A clínica 
A clínica contribui com o conhecimento sobre a descrição, diagnóstico e 
tratamento das doenças, eventos e agravos em saúde que acometem as pessoas 
e as comunidades, tendo como alicerce o avanço nas pesquisas e o 
desenvolvimento da tecnologia médica. 
Os séculos XVII e XVIII, especialmente na França e Inglaterra, contribuíram 
para o desenvolvimento da epidemiologia com a prática profissional, baseada na 
observação e descrição minuciosa de sinais e sintomas de pacientes resultando 
numa terapêutica individual, contribuindo para a progresso da clínica médica. 
Um dos fundadores desta clínica moderna foi Thomas Sydenham (1624-
1689), médico e liderança política em Londres, que contribuiu como precursor da 
ciência epidemiológica e no conceito de história natural das enfermidades. 
Na década de 1980, despontou uma epidemiologia clínica, utilizando 
fortemente a metodologia epidemiológica com ênfase na identificação de caso e 
avaliação da eficácia terapêutica, em que foi difundida a medicina baseada em 
evidências, reforçando o uso da clínica no estudo epidemiológico. 
3.2 A estatística 
O império romano contribuiu para a epidemiologia na realização de registro 
periódico de nascimento, óbitos e censos populacionais periódicos, trazendo a 
estatística para o uso epidemiológico. 
No século XVII nascia a estatística, uma disciplina científica de cunho 
mercantil e político, que, com foco nas probabilidades, tornou-se destinada a 
dimensionar as doenças e seus efeitos. A Aritmética Política, de William Petty, 
(1623-1687) e os levantamentos estatísticos de John Graunt (1620-1674) são 
trabalho considerados os precursores da demografia, estatística e epidemiologia. 
Willian Farr (1807-1883) criou o registro anual de morbidade e mortalidade 
para a Inglaterra e País de Gales, promovendo a institucionalização dos sistemas 
de informação em saúde. Outro importante nome da história foi Foucault (1926-
1984), francês, realizou os primeiros registros de contagem de enfermos (ovinos) 
 
 
09visando o controle de uma enfermidade (epizootia), em seus estudos veterinários, 
nos primórdios de uma medicina científica moderna. 
A introdução dos computadores provocou a matematização da 
epidemiologia, promovendo sua expanção na capacidade de investigação e 
possibilitando estudos multicêntricos, com grande número de variáveis e sujeitos 
de pesquisa utilizando a quantificação. 
Destacam-se os estudos para avaliação da eficácia dos tratamentos 
clínicos utilizando a estatística de Pierre-Charles Alexandre Louis (1787-1872), 
que integraram a clínica moderna e a estatística. 
3.3 A medicina social 
A medicina social foi impulsionada no final do século XVIII com a ascensão 
do poder político da burguesia emergente, aumento da urbanização, havendo 
necessidade de iniciativas de intervenção do Estado na saúde das populações, 
para conter as doenças e manter a ordem pública. 
Baseada nos conceitos de higiene, a medicina social trouxe um conjunto 
de normas e preceitos que devem ser aplicados em âmbito individual, e outros 
referentes à saúde coletiva por meio de leis e regulamentos. 
Devemos citar também Louis Villermé (1782-1863) e sua pesquisa sobre o 
impacto da pobreza e das condições de trabalho na saúde das pessoas. O francês 
Guérin, em 1838, cunhou o termo Medicina Social, usado para indicar modos de 
abordar coletivamente a questão da saúde. 
As pesquisas epidemiológicas que relacionam os condicionantes e 
determinantes sociais no processo saúde-doença foram impulsionadas no estudo 
das doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, hipertensão em especial 
o câncer. 
3.4 Aplicações da epidemiologia 
A epidemiologia estuda o processo saúde-doença por meio do modelo 
explicativo, visualizando a distribuição populacional e geográfica. Descrevendo os 
fatores de risco, a epidemiologia possibilita propor medidas de prevenção 
específicas, de promoção da saúde, de recuperação da saúde. A atuação da 
epidemiologia tem alcance individual e/ou coletivo com a responsabilidade de 
produzir informações e conhecimento de saúde. 
 
 
010 
As aplicações da epidemiologia abrangem três grandes áreas de atuação: 
diagnóstico de situação de saúde de populações, investigação etiológica e 
determinação do risco. 
Gomes (2015, p. 12) aponta que “diagnóstico da situação de saúde 
consiste na coleta sistemática de dados sobre a saúde da população, informações 
demográficas, econômicas, sociais, culturais e ambientais, que servirão para 
compor os indicadores de saúde”. O diagnóstico da situação de saúde de uma 
população (cidade, estado, país, vila, território de uma equipe de saúde da família) 
é a base para o planejamento estratégico em saúde, para priorização de ações, 
organização dos serviços. 
A investigação etiológica é a vocação da epidemiologia, na busca dos 
determinantes e condicionantes do processo saúde-doença, na descrição das 
doenças, na proposição de prevenção, promoção e recuperação da saúde. 
A determinação do risco é estudada por meio das medidas de associação, 
com os indicadores de saúde. Esses conceitos serão abordados nas próximas 
aulas. 
TEMA 4 – EPIDEMIOLOGIA NA ATUALIDADE 
A microbiologia teve grande participação na epidemiologia, contribuindo 
com a identificação dos agentes etiológicos e medidas de prevenção e tratamento 
das doenças infectocontagiosas, possibilitando diminuição expressiva da 
morbimortalidade, nos séculos XIX e XX (Gomes, 2015). 
A primeira escola de saúde pública nos Estados Unidos da América, 
baseada no relatório de Abraham Flexner, em 1910, Medical Education in the 
United States and Canada, apontou necessidade de mudanças no ensino superior 
para a medicina, foi inovador e sua importância é reconhecida até os dias atuais. 
Assim com este modelo de “escola de saúde pública” foi difundido para todo o 
mundo por meio da Fundação Rockefeller. 
A epidemiologia tentava ampliar seus conhecimentos para além das 
doenças infectocontagiosas quando o livro The Principles of Epidemiology, do final 
dos anos 1920, focou exclusivamente as enfermidades infecciosas. A crise 
econômica mundial de 1929 trouxe a necessidade de uma abordagem na saúde, 
e nesse cenário redescobriu-se o caráter coletivo da epidemiologia para 
organização da saúde. 
 
 
011 
O estabelecimento dos “estados de bem-estar-social” na Europa Ocidental, 
em especial Inglaterra e França, na organização dos serviços de saúde, uniu a 
assistência à saúde com as políticas sociais, trazendo para a epidemiologia a 
necessidade de inovar nas investigações sociais. 
Nos períodos das guerras mundiais houve grande avanço na realização de 
grandes inquéritos epidemiológicos para avaliar a saúde física e mental das 
tropas, especialmente para enfermidades não infecciosas, fazendo surgir novas 
abordagens de estudos na população. Surgindo na epidemiologia a identificação 
de indicadores básicos de saúde (prevalência e incidência), conceito de risco e 
risco relativo, que estudaremos mais profundamente nas próximas aulas. 
As doenças emergentes e reemergentes impulsionam o estudo 
epidemiológico mundial, no trabalho em cooperação, conduzido pela Organização 
Mundial da Saúde, com as grandes diferenças epidemiológicas entre os países, a 
grande imigração internacional, as transações de produtos e a mobilidade entre 
as pessoas. Esses fatores propiciam o ressurgimento das doenças reemergentes 
(cólera, dengue), e o risco de expansão de doenças emergentes (AIDS, H1N1, 
Ebola) levou a epidemiologia a buscar seu desenvolvimento tentando superar 
esses novos desafios. 
TEMA 5 – EPIDEMIOLOGIA BRASILEIRA 
A epidemiologia brasileira se destaca na atuação nas doenças tropicais e 
na luta pelo Sistema Único de Saúde. 
5.1 Oswaldo Cruz e sua importância para a epidemiologia brasileira 
A epidemiologia brasileira tem suas raízes nos estudos sobre as doenças 
tropicais. As condições sanitárias das cidades portuárias, no início da República, 
eram marcadas pela ocorrência de doenças como: febre amarela, peste bubônica 
e varíola. Essas condições dificultavam as transações comerciais porque as 
grandes companhias não queriam expor seus marinheiros às doenças 
infectocontagiosas. 
Em 1903 foi nomeado o médico Oswaldo Cruz como Diretor-Geral de 
Saúde Pública, com a tarefa de sanear a cidade do Rio de Janeiro. 
Oswaldo Cruz erradicou a febre amarela utilizando medidas rigorosas, 
multas e demolições de imóveis insalubres. Em seguida implantou a notificação 
 
 
012 
compulsória dos casos de peste bubônica e combate aos ratos, que incluiu a 
compra de ratos. 
Oswaldo obteve sucesso com essas medidas, porém com grande 
insatisfação da sociedade. No combate à epidemia de varicela, em 1904, Oswaldo 
Cruz conseguiu aprovar no Congresso a obrigatoriedade da vacinação contra 
varíola. A forma autoritária como essa vacinação foi imposta provocou uma ampla 
oposição da população que resultou na Revolta das Vacinas (BUSATO, 2016). 
Outro grande avanço foi realizado por Carlos Chagas, em 1905, quando 
conseguiu controlar o surto de malária no interior de São Paulo. O protozoário 
causador da doença de chagas foi descoberto por Carlos Chagas, e esse 
protozoário foi nomeado Trypanossoma cruzi, em homenagem a Oswaldo Cruz. 
A Fundação Oswaldo Cruz é um importante espaço de ensino, pesquisa e 
desenvolvimento da epidemiologia brasileira, teve seu início em 1900 como 
Instituto Soroterápico Federal, com a direção técnica de Oswaldo Cruz. Esse 
instituto nasceu com o objetivo de promover estudos sobre as doenças por meio 
da participação dos estudiosos brasileiros da época. 
A Fiocruz tem 17 unidades técnico-científicas, sendo 11 localizadas no 
Rio de Janeiro, 5 localizadas em outros estados brasileiros e uma 
unidade em Maputo capital de Moçambique. Todas as unidades técnico-
científicas da Fiocruz desenvolvem programas de pós-graduação stricto 
sensu, com cursos de doutorado, mestrado acadêmicoou profissional. 
São 32 programas, inseridos em dez áreas de avaliação da 
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) 
e ainda diversos cursos de pós-graduação lato sensu (especialização, 
aperfeiçoamento, atualização e residência); e de educação profissional, 
por meio da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio 
(EPSJV/Fiocruz). A Fundação possui 19 diferentes cursos com foco na 
epidemiologia. (Fiocruz, S.d.) 
5.2 A saúde coletiva brasileira 
A Fundação Rockefeller teve papel importante no avanço da epidemiologia 
no mundo, e no Brasil, como vimos anteriormente, exerceu grande influência na 
formação do pensamento sanitário. Foi formada a primeira geração de 
epidemiologistas, dos quais destacamos: Guilherme Rodrigues da Silva, José da 
Rocha Carvalheiro, Maria Zélia Rouquayrol, Euclides Castilho e Sebastião 
Loureiro, citados e estudados até hoje. 
 A Organização Pan-Americana (OPAS) e a Organização Mundial da 
Saúde (OMS), impulsionadas pelo governo norte-americano, empreenderam 
diversas ações no controle e erradicação de várias doenças. 
 
 
013 
As campanhas de erradicação da varíola na década de 1960 e da 
poliomielite na década de 1970, a grave epidemia da doença meningocócica 
contribuíram para consolidar o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica no 
Brasil (Medronho et al., 2009). 
 A consolidação da epidemiologia no Brasil se mistura com a história da 
Saúde Coletiva, na década de 1970 foram criados diversos núcleos de saúde 
coletiva que abrigaram os primeiros epidemiologistas brasileiros. A Saúde 
Coletiva como campo interdisciplinar engloba a epidemiologia na busca do 
desenvolvimento de atividades de investigação sobre o estado sanitário da 
população, a natureza das políticas de saúde, a relação entre processos de 
trabalho e doenças e agravos, bem como as intervenções de grupos e classes 
sociais sobre a questão sanitária. 
Em 1979 foi implantada a Associação Brasileira de Pós-Graduação em 
Saúde Coletiva (ABRASCO), que pautou questões de temas de pesquisa, como 
também a formação e intervenção da epidemiologia. A preocupação dos 
epidemiologistas passava pela organização do sistema de saúde brasileiro, com 
engajamento no movimento da Reforma Sanitária que teve seu ápice na VIII 
Conferência Nacional de Saúde, marco na criação do Sistema Único de Saúde. 
Ressaltamos que a Constituição Brasileira de 1988 (art. 200, inciso II) 
explicita a aplicabilidade da epidemiologia por meio das ações da vigilância 
epidemiológica como uma das competências do Sistema Único de Saúde, 
mostrando sua importância no contexto da saúde da população e dos sistemas 
de saúde. 
Logo após a promulgação da Constituição Federativa do Brasil de 1988 foi 
elaborado o I Plano Diretor para o Desenvolvimento da epidemiologia no Brasil. O 
marco da epidemiologia no Brasil aconteceu em 1990 na realização do I 
Congresso Brasileiro da Epidemiologia e na criação do Centro Nacional de 
Epidemiologia (CENEPI). 
A Revista Brasileira de Epidemiologia é publicada pela 
ABRASCO, traz artigos originais, incluindo resenhas críticas de 
temas específicos que podem contribuir para o desenvolvimento 
da Epidemiologia e ciências relacionadas, a revista é indexada na 
base de dados da Scielo. (ABRASCO, S.d.) 
 
 
 
014 
FINALIZANDO 
Iniciamos nesta aula o estudo da Epidemiologia. Pudemos estudar sua 
história e seu impacto na construção do saber epidemiológico, da antiguidade até 
os dias de hoje. Tratamos de entender o conceito da epidemiologia. 
Retornando à contextualização, é apresentada uma matéria jornalística 
sobre a queda dos registros das doenças causadas pelo Aedes de um ano para 
outro. Os elementos do conceito da epidemiologia estão presentes na matéria: a 
estatística mostra os números da diminuição das doenças de um ano para outro, 
as notificações de dengue, zika e chikungunya, com a investigação dos casos, em 
que há análise clínica das doenças, e o impacto social, completando assim os três 
elementos da epidemiologia. 
Conhecemos a construção da epidemiologia brasileira e sua relação com a 
construção do Sistema Único de Saúde. 
 
 
 
015 
REFERÊNCIAS 
ABRASCO – Associação Brasileira de Saúde Coletiva. Sobre a Revista 
Brasileira de Epidemiologia. Disponível em: 
<https://www.abrasco.org.br/site/revistas/revista-brasileira-de-epidemiologia/>. 
Acesso em: 3 mar. 2018. 
ALMEIDA FILHO, N.; ROUQUAYROL, M. Z. Introdução à Epidemiologia. 4. ed. 
rev. e ampliada. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. 
BARATA, R. B. Epidemiologia social. Rev Bras Epidemiol. v. 8, n. 1, p. 7-17, 
2005. 
BONITA, R.; BEAGLEHOLE, R.; KJELLSTRÖM, T. Epidemiologia básica 
Tradução e revisão científica: Juraci A. Cesar. 2. ed. São Paulo: Santos, 2010. 
BRASIL. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Diário Oficial da União, Poder 
Executivo, Brasília, DF, 19 set. 1990. 
_____. Lei n. 12.864, de 24 de setembro de 2013. Diário Oficial da União, Poder 
Executivo, Brasília, DF, 25 set. 2013. 
BUSATO, I. M. S. Epidemiologia e processo saúde-doença. Curitiba: 
InterSaberes, 2016. 
CNDSS – Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde. As causas 
sociais das iniquidades em saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2008. 
DAHLGREN, G.; WHITEHEAD, M. Policies and strategies to promote social equity 
in health. Background document to WHO – Strategy paper for Europe. Stockolm: 
Arbetsrapport/ Institutet for Framtidsstudier, 2007. 
FIOCRUZ – FUNDAÇÃO OSVALDO CRUZ. Disponível em: 
<https://portal.fiocruz.br/pt-br/content/cursos>. Acesso em: 3 mar. 2018. 
GOMES, E. C. de S. Conceitos e ferramentas da epidemiologia. Recife: Ed. 
Universitária da UFPE, 2015. 
LAST, J. M. A dictionary of epidemiology, 4th ed. Oxford, Oxford University 
Press, 2001. 
MEDRONHO, R. A. et al. Epidemiologia. São Paulo: Editora Atheneu, 2009. 
 
 
016 
MENDES, E. V. O cuidado das condições crônicas na atenção primária à 
saúde: o imperativo da consolidação da estratégia da saúde da família. Brasília: 
Organização Pan-Americana da Saúde, 2012. 
OMS – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Carta da Organização Mundial 
de Saúde, 1946. Disponível em: 
<http://www.who.int/governance/eb/who_constitution_sp.pdf>. Acesso em: 1 ago. 
2017. 
 
 
http://www.who.int/governance/eb/who_constitution_sp.pdf
AULA 2 
EPIDEMIOLOGIA 
Profª Ivana Maria Saes Busato 
 
 
02 
CONVERSA INICIAL 
Nesta aula vamos estudar a pesquisa epidemiológica iniciando pelos 
conceitos sobre as observações e os registros de indivíduos e populações e a 
distribuição das doenças no espaço e no tempo, importantes para realizar análise 
de situação de saúde de uma população. Os fundamentos de pesquisa 
epidemiológica e os desenhos de estudo epidemiológico serão estudados nesta 
aula, que será finalizada com ética em pesquisa e bioética. 
CONTEXTUALIZANDO 
Kuhlmann Jr. (2015, p. 848) aponta em seu estudo: 
... sobressai o alto índice de artigos submetidos aos periódicos em que 
ocorre a rejeição, ou mesmo de artigos publicados em que se identificam 
problemas quanto a questões teóricas e metodológicas, bem como com 
implicações que ferem os procedimentos éticos. Situação também não 
pouco comum em projetos submetidos a agências de fomento... 
Como buscar a qualidade e a confiabilidade nas pesquisas? 
TEMA 1 – OBSERVAÇÕES E REGISTROS DE INDIVÍDUOS E POPULAÇÕES 
Estudos epidemiológicos observam e registram as pessoas e populações 
por meio de diversas características ou atributos individuais, informações que são 
de interesse à saúde para o conhecimento das pessoas, individualmente ou de 
grupos populacionais. Estudaremos algumas características que se destacam 
para a epidemiologia. 
Os modelos explicativos do processo saúde-doença sempre trabalharam 
com as características específicas ou atributos individuais que são essenciais 
para a observação e o registro de indivíduos e populações, buscando a causa das 
doenças e/ouagravos. 
Estudos epidemiológicos estratificam as pessoas em gênero e sexo. 
Gênero é um construto social que determina como homens e mulheres se 
diferenciam na sociedade na dimensão social. O sexo é um marcador biológico 
de aspectos anatômicos e fisiológicos, masculino e feminino, na dimensão 
biológica. Ambos são importantes para estudos de grupos populacionais e do 
conhecimento das pessoas, têm influência no processo saúde-doença. 
A etnia ou raça é característica importante para a estratificação biológica e 
social e tem profunda implicação na saúde. A idade é um dos principais 
 
 
03 
determinantes do estado de saúde e do perfil de morbimortalidade em uma 
população, situa os sujeitos de pesquisa nos ciclos de vida que impactam no 
processo saúde-doença. Todos os eventos de saúde distribuem diferentemente 
nos ciclos de vida. 
A migração é um dos processos demográficos e sociais de grande 
relevância para o estado de saúde de indivíduos e populações. Estudos de 
migrantes têm como objetivo determinar o risco de adoecer entre os migrantes 
que são oriundos de uma região se há alteração (aumento ou diminuição de risco) 
após a migração para outra região. 
A classe social condiciona o acesso aos recursos produtivos e molda as 
experiências de vida na esfera da produção e do consumo (Barata et al., 2013). 
As variáveis socioeconômicas, isoladas ou combinadas em indicadores, 
classificam as pessoas ou grupos populacionais em posição socioeconômica, as 
variáveis utilizadas geralmente são: renda, ocupação, escolaridade, acesso a 
eletrodomésticos, entre outros. Ambas, classe social e posição socioeconômica, 
apresentam associação com o nível de saúde e são de interesse epidemiológico. 
O estudo dos comportamentos individuais e do estilo de vida são 
fundamentais para a compreensão do processo saúde-doença, e na formulação 
de políticas de promoção da saúde. Alguns comportamentos são bastante 
estudados: consumo de álcool, drogas, hábito de fumar, alimentação saudável e 
atividade física. 
O modelo explicativo do processo saúde-doença da determinação social 
da saúde abrange as principais características ou atributos a serem estudados na 
epidemiologia. 
1.1 Conceitos epidemiológicos 
É importante diferenciar alguns conceitos epidemiológicos para 
compreender a extensão da investigação epidemiológica. Uma epidemia é 
considerada quando há ocorrência de determinada doença ou evento relacionado 
com a saúde que tem uma elevação brusca e temporária, um aumento expressivo 
em relação ao que seria esperado para determinada população, em determinado 
período de tempo e espaço geográfico. O termo pandemia é usado quando uma 
epidemia atinge todo o mundo ou grandes áreas geográficas, atravessando 
fronteiras internacionais e atingindo um grande número de pessoas. 
 
 
04 
A endemia, em oposição à epidemia, é definida como presença usual de 
uma doença, dentro dos limites esperados, em determinada área geográfica, por 
um período de tempo ilimitado, enfim, uma ocorrência contínua e esperada de 
uma doença ou agravo. Epizootia é um termo usado para epidemias em 
populações de animais. 
Surto é a ocorrência epidêmica de uma doença ou agravo, com um número 
baixo de atingidos, em pequena e delimitada área geográfica, como vilas, bairros 
etc., ou para população institucionalizada, como colégios, creches, quartéis e 
outros. 
Importante diferenciar outros conceitos muito usados em epidemiologia: o 
caso autóctone é o caso oriundo do mesmo local do contágio ou no qual foi 
observada sua ocorrência, e acontece no mesmo local em que é diagnosticado 
(apareceu); e o caso alóctone é quando o caso é importado, portanto, o contágio 
ou ocorrência se dá numa localidade e o diagnóstico em outra. 
TEMA 2 – DISTRIBUIÇÃO DAS DOENÇAS NO ESPAÇO E NO TEMPO 
A análise espacial em saúde é o estudo quantitativo da distribuição das 
doenças ou serviços de saúde e deve ser usada para identificar padrões espaciais 
de morbidade e mortalidade, com fatores associados a esses padrões. Objetiva 
mostrar os processos de difusão de doenças, eventos ou agravos, pode gerar 
conhecimento sobre sua etiologia visando sua predição e controle. A análise 
espacial é um instrumento importante na avaliação do impacto de processos e 
estruturas sociais na determinação da saúde. 
A distribuição das doenças no espaço objetiva contextualizar 
territorialmente a ocorrência de uma doença, agravo ou evento de interesse da 
saúde, visando a formulação de hipóteses etiológicas com a associação de fatores 
ambientais, da urbanização, das condições, avaliação em diferentes períodos de 
tempo, entre outros. 
Para o conceito de espaço, devem-se considerar as características 
geográficas, naturais e sociais do lugar, importante também observar a sociedade 
em movimento, construída nos processos históricos. 
2.1 Geoprocessamento 
Uma das primeiras análises de uma doença geograficamente para estudo 
etiológico foi realizada por John Snow, em 1854, em Londres, no mapeamento de 
 
 
05 
óbitos por cólera para análise epidemiológica, já estudada na história da 
epidemiologia. 
Uma ferramenta importante na análise da distribuição das doenças no 
espaço e no tempo é o uso do geoprocessamento. Conforme descrito por Almeida 
Filho e Barreto (2012, p. 146), o geoprocessamento é um “conjunto de técnicas 
computacionais de coleta, tratamento, manipulação e apresentação de dados 
espaciais, visando organizar informações espacialmente referidas num território”. 
O geoprocessamento aplicado à epidemiologia permite o mapeamento de 
doenças, agravos ou eventos de interesse da saúde, na avaliação de riscos, no 
planejamento de ações de saúde e na avaliação de redes de atenção. Tem a 
participação de diversas disciplinas, como Cartografia, Computação, Geografia e 
Estatística. 
O geoprocessamento é realizado com ajuda de tecnologias 
computacionais para o tratamento e manipulação de dados geográficos, 
como o sensoriamento remoto, a digitalização de dados, a automação 
das tarefas cartográficas, a utilização de Sistemas de Posicionamento 
Global (GPS) e os Sistemas de Informação Geográfica (SIG ou GIS de 
Geographic Information System). (Brasil, 2007, p. 15) 
2.2 Distribuição no tempo 
A distribuição das doenças no tempo pode fornecer várias informações 
para compreensão, previsão, busca etiológica, prevenção de doenças e avaliação 
do impacto de intervenções em saúde. Conforme apontado por Almeida Filho e 
Barreto (2012, p. 133), as informações temporais são apresentadas por três 
diferentes períodos temporais ou tempo calendário. 
O primeiro tipo é caracterizado por períodos relativamente curtos como 
horas, dias, meses e anos como observado nas situações epidêmicas. O segundo 
é descrito por longos períodos de tempo chamados de tendência secular ou 
histórica e mostra as variações nas frequências de uma doença por um longo 
período de tempo, em geral anos ou décadas. 
Os autores completam 
O terceiro tipo são apontadas pelas variações cíclicas e variações 
sazonais. As variações cíclicas são caracterizadas por flutuações na 
incidência de uma doença ocorrida em um período maior que um ano. 
Enquanto a variação sazonal mostra a variação na incidência de uma 
doença coincidindo com as estações do ano. (Almeida Filho e Barreto, 
2012, p. 133) 
 
 
 
06 
TEMA 3 – FUNDAMENTOS DE PESQUISA EPIDEMIOLÓGICA 
A ocorrência e distribuição dos eventos relacionados à saúde não se dão 
por acaso, existem fatores determinantes das doenças e agravos da saúde que, 
uma vez identificados, precisam ser eliminados, reduzidos ou neutralizados. O 
fundamento de toda pesquisa é o método científico, que se baseia na elaboração 
de hipótese e a busca de evidências empíricas que possam contribuir para negá-
las ou confirmá-las. 
O método científico é organização de procedimentos racionais utilizados 
para investigar e explicar os fatos e fenômenos danatureza, por meio da 
observação empírica e da formulação de leis científicas. Alguns conceitos são 
fundamentais para o planejamento em pesquisas epidemiológicas: população, 
amostragem, mensuração, variáveis, estimação, objetivos, hipótese e testes de 
hipótese. 
O conceito de população em pesquisa é o número total de pessoas em 
determinado espaço geográfico, no período considerado, e expressa a magnitude 
do contingente demográfico e sua distribuição relativa. 
Amostra é um subconjunto de elementos pertencentes a uma população. 
Para que os resultados retirados da amostra possibilitem inferências válidas, ela 
deve ser representativa da população. Os objetivos do estudo são separados em 
geral e específicos. 
Os objetivos devem estar coerentes com a justificativa e o problema 
proposto. O objetivo geral deve mostrar a síntese do que se pretende 
alcançar, e os objetivos específicos explicitam os detalhes, um 
desdobramento do objetivo geral. Os objetivos informam para que a 
pesquisa será realizada, isto é, quais os resultados que pretende 
alcançar ou qual a contribuição que a pesquisa poderá proporcionar. Os 
enunciados dos objetivos devem começar com um verbo no infinitivo e 
este verbo deve indicar uma ação passível de mensuração. (Busato, 
2016, p. 101-102) 
Variável é uma característica de interesse que se pode medir. Variáveis 
independentes são aquelas manipuladas, enquanto variáveis dependentes são 
apenas medidas ou registradas. Existem dois grandes grupos de variáveis: 
categóricas ou qualitativas e numéricas ou quantitativas. 
Hipótese deve estar fundamentada em uma boa questão de pesquisa, a 
priori, deve ser simples e específica, é uma suposição que se faz a respeito de 
alguma coisa. Ao emitir uma hipótese, o cientista tenta explicar os fatos já 
conhecidos, importante deduzir da hipótese formulada uma série de conclusões 
lógicas e planejar experiências para verificá-las. Para testar a significância 
 
 
07 
estatística, a hipótese de pesquisa deve ser formulada de modo que categorize a 
diferença esperada entre grupos do estudo. 
3.1 Classificação das pesquisas epidemiológicas pelos objetivos 
As pesquisas são classificadas por meio de vários critérios. O primeiro se 
refere aos objetivos gerais da pesquisa, que se divide em: exploratória, descritiva 
e explicativa. 
A pesquisa exploratória visa à descoberta, o achado, a elucidação de 
fenômenos ou a explicação daqueles que não eram aceitos apesar de 
evidentes. A pesquisa exploratória oportuniza a obtenção de patentes 
nacionais e internacionais, a geração de riquezas e a redução da 
dependência tecnológica (Busato, 2016, p. 103) 
Segundo explica Busato (2016, p. 103), na pesquisa descritiva a “finalidade 
é observar, registrar e analisar os fenômenos ou sistemas técnicos, sem, contudo, 
entrar no mérito dos conteúdos”. 
 O pesquisador não interfere, explora a frequência com que o fenômeno 
acontece ou como se estrutura e funciona um sistema, método, processo ou 
realidade operacional. 
A pesquisa explicativa registra fatos, analisa-os, interpreta-os e identifica 
suas causas. Essa prática visa ampliar generalizações, definir leis mais 
amplas, estruturar e definir modelos teóricos, relacionar hipóteses em 
uma visão mais unitária do universo ou âmbito produtivo em geral e gerar 
hipóteses ou ideias por força de dedução lógica. (Busato, 2016, p. 103) 
3.2 Classificação das pesquisas epidemiológicas pela natureza da 
informação e natureza das pesquisas 
“As pesquisas diferenciam-se em qualitativa e quantitativa. A pesquisa 
qualitativa responde a questões específicas em especial nas ciências sociais, 
preocupa-se com a realidade que não pode ser quantificado, trabalha com um 
universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes” 
(Minayo, 2004). As bases do processo de pesquisa qualitativa estão na 
interpretação dos fenômenos e na atribuição de significados, não usa métodos e 
técnicas estatísticas, utiliza-se a descrição dos achados. 
“A pesquisa quantitativa considera que tudo pode ser quantificável, o que 
significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-
las. Requer o uso de recursos e de técnicas estatísticas (percentagem, média, 
 
 
08 
moda, mediana, desvio-padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão, 
etc.)” (Dalfovo; Lana; Silveira, 2008, p. 4). 
Podemos classificar as pesquisas quanto à sua natureza, podendo ser: 
básica e aplicada. Na pesquisa básica o objetivo é gerar conhecimentos 
novos e úteis para o avanço da ciência sem aplicação prática prevista. 
E, na pesquisa aplicada o objetivo é gerar conhecimentos para aplicação 
prática dirigidos à solução de problemas específicos. (Dalfovo; Lana; 
Silveira, 2008, p. 4) 
TEMA 4 – DESENHOS DE ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO 
A pesquisa epidemiológica é realizada por meio de desenhos de estudo, a 
escolha do melhor desenho cabe ao pesquisador diante da necessidade de 
elucidar sua hipótese do estudo e alcançar seus objetivos. Os desenhos de estudo 
podem ser diferenciados por meio de várias características: 
Quanto ao método em descritivos e analíticos. Os descritivos são 
estudos que apresentam a caracterização de aspectos semiológicos, 
etiológicos, fisiopatológicos e epidemiológicos de uma doença. São 
utilizados para conhecer uma nova ou rara doença, ou agravo à saúde, 
estudando a sua distribuição no tempo, no espaço e conforme 
peculiaridades individuais (Hochman et al., 2017, p. 4) 
“Os analíticos são estudos utilizados para verificar uma hipótese. O 
investigador introduz um fator de exposição ou um novo recurso terapêutico, e 
avalia-o utilizando ferramentas bioestatísticas” (Hochman et al., 2017, p. 4). 
Quanto à unidade de observação, podem ser diferenciados em individuado 
e agregado. Os estudos com observação individuada estudam o indivíduo ou 
parte do indivíduo. Os estudos com observação de agregado, estudam 
populações. 
Quanto à manipulação da exposição, são divididos em observacionais e de 
intervenção. Os estudos observacionais são caracterizados pela posição do 
pesquisador de não influenciar os eventos. Há somente a coleta de informações 
sobre os atributos ou medidas de interesse. Estudos de intervenção são aqueles 
nos quais o pesquisador deliberadamente influencia os eventos e investiga os 
efeitos da intervenção. 
Quanto à estratégia de observação, são apresentados em longitudinais e 
transversais. Os longitudinais são aqueles que investigam mudanças no tempo, 
ou seja, indivíduos são observados em mais de uma ocasião ao longo de um 
período de tempo. Os transversais são aqueles em que indivíduos são observados 
apenas uma vez. Quanto ao momento de análise da exposição e do desfecho, em 
prospectivos e retrospectivos. Os estudos prospectivos são aqueles em que os 
 
 
09 
dados são coletados no tempo a partir do início do estudo, e os retrospectivos são 
aqueles em que os dados se referem a eventos passados e podem ser adquiridos 
de fontes já existentes (fontes secundárias). 
4.1 Tipologia dos desenhos de investigação em epidemiologia 
Ensaios clínicos são estudos de intervenção por meio da qual o 
investigador introduz algum elemento crucial para a transformação do estado de 
saúde dos indivíduos do estudo, visa testar hipóteses etiológicas ou avaliar a 
eficácia ou a efetividade de procedimentos diagnósticos, preventivos ou 
terapêuticos. Experimento clínico é um experimento com pacientes e seu objetivo 
é avaliar novos tratamentos para uma doença ou condição. 
Pesquisa experimental são os estudos que envolvem modelos 
experimentais como animais experimentais, cadáver e cultura de células 
e tecidos. Esses desenhos de estudo são diferenciados pelo grau de 
controle experimental. (Hochman et al., 2017, p. 4) 
Nos ensaios clínicos, quando há controle sobre a variável independente, 
podem ser diferenciados em controlados e não controlados, dada a presença ou 
ausênciade um grupo de controle. 
Quando ao controle da composição dos grupos, podem assumir as 
seguintes modalidades segundo Hochman et al. (2017, p. 5-6): 
 Randomizados – são realizados com a inclusão aleatória dos sujeitos da 
pesquisa tanto no grupo de estudo quanto no grupo controle, com identidade 
comum na distribuição de características iniciais relevantes. 
 Não randomizados – consistem na seleção de grupo com determinadas 
características para comporem o grupo de estudo e o grupo controle de forma não 
aleatória. 
 Bloquedo – estudo com grupos formados exclusivamente de uma dada 
categoria da variável de confundimento a se controlar, bloqueando-se o efeito às 
outras classes da variável. 
 Pareado – é constituído por pareamento, garantindo uma composição 
rigorosamente equivalente em termos de algumas variáveis selecionadas. 
 Rotativo – estudo com estrutura baseada na alternância de grupos, num 
dado momento da pesquisa o grupo experimental passa a ser controle. 
Quanto ao controle, vieses de mensuração podem ser: 
 
 
010 
 Duplo-cego – a seleção e a mensuração referente à variável dependente 
(variáveis dependentes são apenas medidas ou registradas) são feitas às 
cegas (nem avaliador nem participantes tem conhecimento da alocação 
dos grupos). 
 Simples – cego, somente o participante não sabe a qual grupo pertence. 
 Aberto – todos têm conhecimento da alocação dos grupos e da variável 
dependente. 
Estudos de caso consistem de um cuidadoso e detalhado relato por um ou 
mais profissionais do perfil de um único caso. E estudos de série de casos 
consistem de um cuidadoso e detalhado relato da experiência de um grupo de 
pessoas com um diagnóstico comum. Relato de casos ou série de casos tipo de 
estudo descritivo é um relato detalhado de um caso ou mais, ou mesmo de uma 
série de casos, minuciosa descrição de uma manifestação da doença, relatando 
em profundidade as características de interesse que podem sugerir hipótese 
etiológica e representam interface entre a clínica e a epidemiologia. 
Os estudos de coorte são os únicos capazes de abordar hipóteses 
etiológicas, consistem na observação de grupos comprovadamente expostos a 
um fator de risco como causa da doença a ser detectada no futuro, ou seja, um 
grupo de indivíduos é selecionado por presença ou ausência de exposição a um 
fator particular e, então, são acompanhados por um período de tempo específico 
(follow-up) para determinar o desenvolvimento de uma doença ou condição, são 
os prospectivos, chamados também de coorte concorrente. 
Outro tipo de coorte é a coorte histórica, com característica retrospectiva, 
envolve grupos selecionados por ter sido expostos a fatores de risco em potencial 
e por dispor de registros sistemáticos da exposição e do efeito são analisados os 
dados disponíveis antes do momento da realização da pesquisa, estudo 
individuado e com grupos de indivíduos com características específicas que 
contêm registros, por exemplo, em prontuários. 
Estudos de caso-controle têm as características de serem observacional, 
longitudinal, retrospectivo, analítico, em que um grupo de casos (indivíduos com 
a doença ou fator protetivo) é comparado quanto à exposição a um ou mais 
fatores, a grupo de indivíduos semelhantes ao grupo de casos, chamado de 
controle (sem a doença ou sem fator protetivo). 
Os estudos ecológicos são estudos em que a observação e a análise são 
feitas sobre determinadas características da população localizada em certas 
 
 
011 
áreas geográficas, abordam áreas geográficas ou blocos de população bem 
delimitados. As unidades de medida não são individuais, mas grupos 
populacionais. 
Os estudos ecológicos analisam dados globais de populações inteiras, 
comparando a frequência de doença entre diferentes grupos populacionais 
durante o mesmo período ou a mesma população em diferentes momentos, 
geralmente correlação entre indicadores de condições de vida e indicadores de 
situação de saúde. Podem ser classificados em subtipos: investigações de base 
territorial (ex.: bairro, município, países); e estudos de agregados institucionais 
(ex.: escolas, fábricas, prisões). 
Estudos de séries temporais são estudos de agregados, observacionais e 
longitudinais, em que uma mesma área ou população é investigada em momentos 
distintos no tempo. Alguns autores classificam os estudos de série temporal como 
uma subdivisão dos estudos ecológicos. 
Experimentos de intervenção comunitária e estudo de intervenção 
envolvem intervenções coletivas, comunidades inteiras ou grupos populacionais 
são selecionados e a exposição é coletiva, ou seja, são investigações com estudo 
de agregados que tomam como unidade de observação e análise de dados os 
agregados ecológicos ou institucionais, e que incorporam alguma intervenção de 
alcance coletiva. 
4.2 Validade em estudos epidemiológicos 
Todo pesquisador, ao realizar um estudo epidemiológico, pode estar sujeito 
a erros que interferem ou alteram seu resultado. Os erros podem ser sistemáticos 
ou aleatórios e deturpar o resultado do estudo. Para dar maior confiabilidade ao 
trabalho, o pesquisador deve estar atento para que não ocorram esses erros, que 
são chamados de vieses. 
Segundo Medronho (2009, p. 282), “o viés refere-se ao tamanho da 
discrepância entre o valor verdadeiro de uma medida na população alvo, e o valor 
de sua estimativa na população real”. 
Os vieses podem ser viés de seleção, de informação e confundimento. 
O Viés de seleção ocorre quando o problema do estudo é causado por 
fatores envolvidos na seleção dos participantes ou por fatores que 
podem influenciar na participação dos selecionados. O viés de 
Informação é referente as distorções nos resultados decorrentes de 
erros na mensuração, ou captação dos dados, ocorrem por erros de 
classificação. E o confundimento refere-se à situação em que exista uma 
falta de condição de comparação entre as populações exposta e não 
 
 
012 
exposta, em relação ao risco de adoecer, decorre da existência de uma 
ou mais variáveis, denominadas variáveis de confundimento, 
confundidoras, ou de confusão. (Medronho, 2009, p. 282) 
Estudos que exijam a participação dos sujeitos de pesquisa por um longo 
período de tempo podem sofrer com problemas de perdas de seguimento e não 
cooperação, resultando no abandono dos sujeitos de pesquisa. 
TEMA 5 – ÉTICA EM PESQUISA E BIOÉTICA 
As pesquisas com seres humanos geram preocupações éticas porque 
podem impor riscos físicos, psicológicos e invasão de privacidade inaceitáveis aos 
participantes da pesquisa. Na elaboração de um estudo ou pesquisa, diversos 
pontos devem ser considerados que envolvem aspectos éticos, morais e legais. 
A ética é um conjunto de normas que regulamentam o comportamento de 
um grupo de pessoas ou de uma sociedade. As categorias profissionais 
regulamentam suas profissões por meio do Código de Ética. A ética é 
fundamentada em três requisitos: o que se pode, o que se deve e o que se quer. 
Os aspectos éticos relacionados às pesquisas devem ser considerados sob 
quatro diferentes perspectivas: o envolvimento de seres humanos, o uso de 
animais, a relação com outros pesquisadores e a relação com a sociedade. 
Pesquisas com seres humanos implicam responsabilidades dos 
pesquisadores para com as pessoas que são objeto de estudo, devem ser 
relevantes cientificamente, ter responsabilidade social e ser moralmente 
justificadas. As pesquisas com animais devem prever sempre tratamento 
humanitário, evitando dor e sofrimento. Nesses projetos deve-se buscar o máximo 
de informação com o mínimo de animais, calculando-se adequadamente o 
número da amostra a ser utilizada. 
5.1 Bioética 
A bioética surgiu no início dos anos 1970, nos Estados Unidos, a partir de 
uma publicação do cancerologista Van Rensselaer Potter, em 1971, cujo livro 
Bioética: Ponte para o Futuro, propiciou a divulgação da Bioética. Rapidamente 
foi reconhecidainternacionalmente, alcançando a Europa e, em seguida, o 
restante do mundo. 
A bioética inicialmente teve suas preocupações voltadas para o futuro do 
planeta, uma bioética global. A partir da constatação de novas descobertas e suas 
implicações nas pessoas, descobriu-se preocupação em vez de benefícios para a 
 
 
013 
espécie humana e para o futuro da humanidade. Após os horrores da II Guerra 
Mundial, a humanidade passou a conviver com outros dilemas no campo da 
tecnologia, do direito e da medicina. 
A bioética tem suas raízes baseadas em quatro princípios: autonomia, 
beneficência, não maleficência e justiça. 
 Princípio da Autonomia visa reconhecer o direito de cada qual em decidir 
acerca da utilização de determinado procedimento ou tratamento médico, livre de 
gerência ou pressão externa, levando em conta seus valores mais íntimos. 
 Princípio da beneficência é aquele em que qualquer intervenção deve ser 
direcionada sempre em benefício do seu paciente. 
 Princípio da justiça consiste em promover, dentro do possível, igualitário 
acesso dos cidadãos aos serviços públicos de saúde de boa qualidade. 
 Princípio da não maleficência assegura que sejam minorados ou evitados 
danos físicos aos sujeitos da pesquisa ou pacientes. 
“A discussão bioética nos países do Hemisfério Sul propõe estudar a ética 
em diferentes situações de vida, ampliando seu campo de influência do âmbito 
biomédico/biotecnológico até o campo ambiental, passando, pelo campo da 
bioética social” (Garrafa et al., 2006). 
Nesse início de século XXI, a questão ética adquire identidade pública na 
responsabilidade do Estado ante os cidadãos, principalmente aqueles sujeitos às 
iniquidades, como também na preservação da biodiversidade e do próprio 
ecossistema. 
5.2 Comissão Nacional de Ética em Pesquisa 
No Brasil, a avaliação das pesquisas que envolvem seres humanos tem 
início no Código de Deontologia Médica de 1984. Em 1988, o Conselho Nacional 
de Saúde elaborou a primeira regulamentação de pesquisas em saúde, a 
Resolução n. 1/1988 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). 
A Resolução CNS n. 1/1988 foi atualizada em 1996 na Resolução CNS n. 
196/1996, tornando-se um marco na bioética brasileira. Essa resolução 
determinou “as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo 
Seres Humanos, e instituiu a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP. 
O CONEP é vinculado ao Conselho Nacional de Saúde e tem a responsabilidade 
de coordenação dos Comitês de Ética em Pesquisa no Brasil”. 
 
 
014 
A Resolução n. 466, de dezembro de 2012 (Brasil, 2012), atualizou essas 
Diretrizes alinhando-as aos documentos internacionais, em especial à Declaração 
de Helsinque, adotada em 1964, e suas diversas versões, até 2000; o Pacto 
Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966; o Pacto 
Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, de 1966; a Declaração Universal 
sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos, de 1997; a Declaração 
Internacional sobre os Dados Genéticos Humanos, de 2003; e a Declaração 
Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, de 2004 (CNS, 2012). 
Os Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) possuem funções de avaliar 
protocolos de pesquisa envolvendo seres humanos, com prioridade nos temas de 
relevância pública e de interesse estratégico da agenda de prioridades do Sistema 
Único de Saúde, com base nos indicadores epidemiológicos, emitindo parecer 
devidamente justificado, além de desempenhar papel consultivo e educativo em 
questões de ética. 
Os CEP vieram para resguardar a integridade e que os direitos dos 
voluntários participantes sejam garantidos, acompanhar o desenvolvimento da 
pesquisa e receber denúncias de abusos ou notificação de fatos adversos que 
possam alterar o curso normal do estudo. 
O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), exigido nas 
pesquisas envolvendo seres humanos, é em sua essência derivado do princípio 
da autonomia, que deve ser respeitado antes de qualquer ou participação como 
voluntário numa pesquisa, mesmo que seja somente com questionário. O respeito 
devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe com 
consentimento livre e esclarecido dos participantes, indivíduos ou grupos que, por 
si e/ou por seus representantes legais, manifestem a sua anuência à participação 
na pesquisa. 
A Resolução n. 466/2012 define que o TCLE como 
documento no qual é explicitado o consentimento livre e esclarecido do 
participante e/ou de seu responsável legal, de forma escrita, devendo 
conter todas as informações necessárias, em linguagem clara e objetiva, 
de fácil entendimento, para o mais completo esclarecimento sobre a 
pesquisa a qual se propõe participar. E, o Termo de Assentimento como 
documento elaborado em linguagem acessível para os menores ou para 
os legalmente incapazes, por meio do qual, após os participantes da 
pesquisa serem devidamente esclarecidos, explicitarão sua anuência 
em participar da pesquisa, sem prejuízo do consentimento de seus 
responsáveis legais. (Brasil, 2012) 
 
 
015 
No caso de realização de pesquisa com dados secundários, há 
necessidade da autorização formal da instituição responsável pela informação, 
sempre respeitando o anonimato. 
FINALIZANDO 
A constatação de Kuhlmann Jr. (2015, p. 848) sobre os problemas 
metodológicos éticos e teóricos de artigos científicos submetidos a publicação, 
perguntamos – como buscar a qualidade e a confiabilidade nas pesquisas? 
A pesquisa epidemiológica que estudamos nesta aula mostra a importância 
de entendermos como acontecem as observações e os registros de indivíduos/ 
populações e a distribuição das doenças no espaço e no tempo. 
Compreendemos que os fundamentos de pesquisa epidemiológica e os 
desenhos de estudo epidemiológico devem respeitar as questões éticas e 
bioéticas, que contemplem o alcance dos objetivos e a conferição da hipótese de 
pesquisa. 
 
 
 
 
016 
REFERÊNCIAS 
ALMEIDA FILHO, N.; BARRETO, M. L. Epidemiologia & Saúde: fundamentos, 
métodos, aplicações. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. 
BARATA, R. B. et al. Classe Social: conceitos e esquemas operacionais em 
pesquisa em saúde. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 47, n. 4, p. 647-655, aug. 
2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s00
34-89102013000400647&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 8 mar. 2018. 
BRASIL. Resolução n. 466, de 12 de dezembro de 2012. Diário Oficial da União. 
Conselho Nacional de Saúde. Disponível em: 
<http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/reso466.pdf>. Acesso em: 8 mar. 
2018. 
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Fundação 
Oswaldo Cruz. SANTOS, S. M.; SOUZA, W. V. (Org.). Introdução à Estatística 
Espacial para a Saúde Pública. Brasília: Ministério da Saúde, 2007. 
BUSATO, I. M. S. Epidemiologia e processo saúde-doença. Curitiba: 
InterSaberes, 2016. 
DALFOVO, M. S.; LANA, R. A.; SILVEIRA, A. Métodos quantitativos e qualitativos: 
um resgate teórico. Revista Interdisciplinar Científica Aplicada, Blumenau, v. 
2, n. 4, p. 113, Sem II. 2008 
GARRAFA, V.; KOTTOW, M.; SAADA, A. Bases Conceituais da bioética: 
enfoque latino-americano. São Paulo: Editora Gaia, 2006. 
HOCHMAN, B. et al. Desenhos de pesquisa. Acta Cir. Bras., São Paulo, v. 20, 
supl. 2, p. 2-9, 2005. 
KUHLMANN JR., M. Produtivismo acadêmico, publicação em periódicos e 
qualidade das pesquisas. Cad. Pesqui., São Paulo, v. 45, n. 158, p. 838-855, dez. 
2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0
100-15742015000400838&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 8 mar. 2018. 
MEDRONHO, R. A. et al. Epidemiologia. São Paulo: Atheneu, 2009. 
MINAYO, M. C. de S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 23. ed. 
Petrópolis: Vozes, 2004. 
 
 
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AULA 3 
EPIDEMIOLOGIA 
Profª Ivana Maria Saes Busato 
 
 
02 
CONVERSA INICIAL 
Estudaremos as medidas de associação entre expostos e não expostos, 
especialmente o conceito de risco e fator de risco para compreender os 
indicadores epidemiológicos. O conhecimento dos indicadores mostrará como 
avaliar o nível de saúde de um indivíduo ou população por meio das medidas de 
frequência de doenças, agravos ou eventos de saúde, nas dimensões: tempo, 
espaço e população. Aprenderemos a importância da transição demográfica e 
epidemiológica. 
CONTEXTUALIZANDO 
Uma população é exposta à poluição de uma fábrica e após determinado 
período de tempo essa população apresenta incidência alta de problemas 
pulmonares. Poderíamos atribuir esse resultado ao efeito da exposição? Qual a 
importância de conhecer a prevalência e a incidência de uma doença? 
TEMA 1 – MEDIDAS DE ASSOCIAÇÃO 
As medidas de associação mostram a quantificação da diferença 
encontrada entre dois grupos populacionais, contrastados pela ocorrência de 
doença, agravo ou evento da saúde, entre grupo exposto e grupo não exposto ao 
fator de risco. 
A epidemiologia contribui para a obtenção das respostas que envolvem o 
conhecimento das doenças nas populações, e essas respostas baseiam-se em 
algum tipo de medida de associação. 
1.1 Risco e fator de risco 
“As medidas de associação podem ser absoluta e relativa. Medidas da 
associação entre exposição (fator de risco) e desfecho (doença, evento ou agravo) 
são utilizadas para expressar quantitativamente as possíveis relações causais” 
(Luiz, Costa, Nadanovsky, 2005, p. 166). 
Almeida Filho e Rouquayrol (2013, p. 73) “definem risco como a 
probabilidade da ocorrência de uma doença, agravo, óbito ou condição 
relacionada à saúde (incluindo cura, recuperação ou melhora), em uma população 
ou grupo, durante um período de tempo determinado”. 
 
 
03 
Risco é a possibilidade de uma pessoa, exposta a determinadas situações, 
desenvolver uma doença, agravo, óbito ou condição relacionada à saúde. Essas 
situações podem desencadear os chamados fatores de risco. O fator de risco é o 
atributo de um grupo da população que pode apresentar maior ocorrência de uma 
doença, agravo ou evento à saúde, em comparação com outros grupos definidos 
pela ausência ou menor exposição a esse atributo. Os fatores de risco podem ser 
ambientais, hereditários ou resultado de escolhas do estilo de vida. 
O desafio da epidemiologia está na identificação de atributos que permitam 
reconhecer grupos menos vulneráveis (ou mais protegidos) em relação a certo 
problema de saúde, que podemos chamar de fatores de proteção, possibilitando 
a implementação de medidas de prevenção e promoção da saúde. 
“As medidas de associação podem ser absolutas, do tipo diferença, ou 
relativas, do tipo razão. A associação absoluta apresenta a diferença quantitativa 
entre grupos quando avaliamos o quanto a frequência de uma doença no grupo 
dos expostos excede (é maior) em relação ao grupo de não expostos” (Luiz, 
Costa, Nadanovsky, 2005, p. 173). 
A relativa é a razão dessas diferenças e baseia-se na força da associação, 
ou seja, quantas vezes o risco é maior em expostos quando comparado ao risco 
nos não expostos. A escolha da medida de associação, absoluta ou relativa, 
depende do objetivo do estudo e da escala de mensuração. 
Os autores completam as medidas de associação relativas são mais 
utilizadas na pesquisa etiológica, buscando as causas, e as medidas absolutas 
são mais utilizadas para o planejamento de ações. 
O risco é estimado sob forma de uma proporção. Matematicamente é uma 
razão (divisão) entre duas grandezas (valores). O numerador está 
obrigatoriamente dentro do denominador. No estudo epidemiológico de uma 
doença, no numerador estão os casos (pessoas) da doença, e no denominador 
está a população a que pertencem esses casos. Considera-se a população o 
número total de pessoas residentes em determinado espaço geográfico, no 
período de tempo que esteja sendo considerado e expressa o total de contingente 
demográfico. 
Risco = casos / população 
O cálculo de risco é pouco utilizado, porém é importante compreender que 
a razão entre esses valores traduz o risco de um grupo em relação à população a 
 
 
04 
que ele pertence. Conhecer esse conceito será importante para compreender as 
medidas de frequência. 
Em estudos que envolvam pessoas com risco e não risco, com e sem fator 
de risco, utilizamos a tabela de contingência 2X2. A tabela de contingência tipo 
2X2 mostra como devemos analisar as medidas de associação. 
Quadro 1 – Tabela de contingência 2X2 
Fator de 
Risco 
Risco 
Sim Não Total 
Sim A B Expostos fator de risco = A + B 
Não C D Não expostos fator de risco = C + D 
Total Risco = A + C Sem risco = B + D População = A + B + C + D 
Analisando a tabela podemos perceber que numa população (A + B + C+ 
D) existem pessoas com risco (A + C) e sem risco (B + D) da ocorrência de uma 
doença, agravo ou evento de interesse à saúde. Nessa população, existe também 
o grupo de expostos ao fator de risco (A + B) e os não expostos ao fator de risco 
(C + D). Outras avaliações podemos extrair da tabela de contingência, como o 
risco de adoecer de uma população com a seguinte fórmula: Risco de adoecer da 
população = A + C / A + B + C + D. Para avaliar o risco com o fator de risco 
utilizamos a seguinte fórmula: Risco com fator de risco = A/ A + B. E o risco sem 
fator de risco é calculado dessa forma: Risco sem fator de risco = C/ C + D. 
O cálculo para o risco de adoecer de uma população é utilizado na 
epidemiologia para prever a ocorrência de uma doença, agravo ou evento de 
interesse à saúde para planejamento de ações de prevenção e promoção de 
saúde, além do planejamento da assistência à saúde. Especificamente, se há 
necessidade de avaliação de um fator de risco, como, por exemplo, fumantes, 
pode-se usar o risco com fator de risco de uma população, também para o 
planejamento de ações de prevenção, promoção e assistência à saúde. 
O Risco Atribuível (RA) ou Diferença de Riscos é uma medida de 
associação do tipo absoluta que calcula a diferença entre risco dos expostos ao 
fator de risco e risco dos não expostos ao fator de risco. Utiliza-se a seguinte 
fórmula de calcular: RA = (A/ A + B) – (C/ C + D). Essa avaliação mostra o quanto 
o risco de expostos é maior que o risco dos não expostos, o que representa a 
diferença que é atribuída à exposição ao fator de risco. 
O Risco Relativo ou Razão de Risco é a comparação do risco de expostos 
com risco de não expostos. Essa é a principal medida de associação da 
 
 
05 
epidemiologia, tipo razão, conhecido pela sigla RR. Calculado desta forma: RR = 
A/(A+B) / C/(C+D). O resultado mostra uma razão entre os expostos em relação 
ao não expostos. 
1.2 Razão de chance 
A chance de adoecer é expressa numa medida de associação do tipo 
razão, em que o numerador (probabilidade de adoecer) não está contido no 
denominador (1 - probabilidade de adoecer). Diferente do conceito de risco, no 
qual o numerador está obrigatoriamente contido no denominador, assim se pode 
observar a diferença entre risco e chance. 
A chance é calculada com a seguinte fórmula: Chance de adoecer = 
(doentes/população) / 1 (doentes/ população). Nessa fórmula utiliza-se o risco 
(doentes/população) dividido por 1 menos o risco (doentes/população). Apesar de 
a chance de adoecer ser pouco utilizada, sua compreensão é importante para 
entender a Razão de Chances ou Odds Ratio (OR), muito utilizada na 
epidemiologia e nos trabalhos científicos quantitativos. Se o objetivo é responder 
se a chance de desenvolver uma doença no grupo deexpostos é maior (ou menor) 
do que no grupo de não expostos, devemos utilizar a razão de chances como 
medida de associação. 
Inicialmente se deve conhecer a chance de adoecer entre o grupo de 
expostos e entre o grupo de não expostos ao fator de risco, utilizando a tabela de 
contingência 2X2. 
Quadro 2 – Tabela de contingência 2X2 
 
Fator de 
Risco 
Risco 
Sim Não Total 
Sim A B Expostos fator de risco = A + B 
Não C D Não expostos fator de risco = C + D 
Total Risco = A + C Sem risco = B + D População = A + B + C + D 
A chance de adoecer entre o grupo de expostos é calculada da seguinte 
forma: A/(A+B) / B/(A+ B) = A/B. A chance de adoecer entre o grupo de não 
expostos utiliza as seguintes informações: C/(C+D) / D/ (C+D) = C/D. 
A razão chance (OR) utiliza a chance de adoecer entre o grupo de expostos 
(A/B) dividido pela chance de adoecer entre o grupo de não expostos (C/D). Pode-
 
 
06 
se afirmar que a razão entre essas duas chances (expostos e não expostos) é a 
razão de chance (OR). A fórmula para esse cálculo é: OR = A/B / C/D que 
matematicamente se resume em OR = A x D / B x C. 
TEMA 2 – MEDIDAS DE FREQUÊNCIA PARA MORBIDADE 
Para obter informações sobre o comportamento das epidemias, sua 
evolução, ou ainda para avaliar as ações de prevenção, utilização de tratamentos 
e outros questionamentos que influenciam a vida das pessoas são utilizadas as 
medidas de frequência. As medidas de frequência devem obrigatoriamente referir 
as dimensões: tempo, espaço e população. 
As medidas de frequência para morbidade são definidas a partir de dois 
conceitos epidemiológicos fundamentais: prevalência e incidência. Além da 
quantificação de doenças ou agravos, essas medidas de frequência podem ser 
aplicadas à mensuração de quaisquer eventos relacionados à saúde, incluindo 
fatores determinantes. 
A prevalência expressa um número de casos acumulados (casos antigos e 
novos) até um dado momento e a incidência representa a frequência com que 
novos casos ocorrem num determinado período de tempo. 
2.1 Prevalência 
A prevalência é definida como frequência de casos existentes de uma 
determinada situação, numa população específica e em um dado momento. 
Casos existentes são aqueles que aconteceram em algum momento do passado 
(casos antigos) somados com os casos novos, excluindo os casos que deixaram 
de existir por qualquer motivo: cura, morte ou erro do diagnóstico. 
Podemos comparar a prevalência com uma fotografia e, portanto, mostrar 
a frequência de casos existentes naquele momento. Mostrar como uma doença 
subsiste na população. 
A prevalência é utilizada por grande parte dos estudos, a quantidade de 
casos existentes naquele instante avaliado em uma população pressiona por 
assistência à saúde. Dessa forma, a prevalência é uma medida relevante para o 
planejamento de ações e para a administração de serviços de saúde, usada em 
estudos em que não se tem precisão do seu início, como doenças crônico-
degenerativas não letais ou doenças com longos períodos de incubação. 
 
 
07 
O cálculo da prevalência é parecido com o cálculo do risco, utiliza a razão 
entre o número de casos conhecidos até aquele período de tempo e a população, 
excluindo cura, erro de diagnóstico e óbitos. Multiplica-se por 10n, e esse valor é 
utilizado para dar homegeneidade à informação da prevalência. Lembrando da 
matemática básica que 102 = 100; 103 = 1000; 104 = 10000, e assim por diante. 
Utiliza-se o 10n que melhor traduza o tamanho da poulação a ser estudada. 
2.2 Incidência 
A frequência com que determinado evento ocorre numa população que, no 
momento inicial do período de observação, estava “livre” do evento e exposta ao 
risco de ocorrência do mesmo é denominada incidência. Medida dinâmica porque 
expressa mudança no estado de saúde dos sujeitos que são avaliados no mínimo 
em duas ocasiões, num determinado período de tempo, observando a prevalência 
inicial e os casos novos detectados, o que representa a incidência, e por isso 
mostra uma mudança do estado. 
A incidência de um evento pode ser medida de diferentes formas. A mais 
simples é o número absoluto de casos incidentes (novos), que pode ser utilizada 
na avaliação de medidas assistenciais. 
A incidência acumulada é calculada por meio de uma razão, calculando a 
proporção dos que adoecem em relação aos que não adoecem. A fórmula da 
incidência acumulada mostra a divisão entre o número de casos novos num 
período de tempo dividido pelo grupo de indivíduos dessa população que estão 
livres da doença, e multiplica-se por 10n, e geralmente é usado o 102= 100, que 
exprime o resultado em percentual. Essa avaliação mostra a probabilidade de um 
indivíduo vir a adoecer ou acidentar-se; num grupo de indivíduos (proporção de 
incidência). 
A taxa de incidência é definida como a razão entre o número de casos 
novos de uma doença que ocorrem num intervalo de tempo determinado e numa 
população delimitada que está exposta ao risco de adquirir a referida doença no 
mesmo período (pessoa-tempo). O conceito de pessoa-tempo é importante e 
significa o período durante o qual um indivíduo esteve exposto ao risco de 
adoecimento e, caso viesse a adoecer, seria considerado um caso novo ou 
incidente. “O cálculo da taxa de incidência é uma razão que no numerador tem-se 
o número de casos novos num período de tempo pelo total de pessoa-tempo 
exposta ao risco no mesmo período de tempo” (Busato, 2016, p. 85). 
 
 
08 
Vimos que os indicadores de prevalência e incidência são utilizados para 
avaliar a morbidade de doenças e agravos, agora vamos aprender um pouco mais. 
Vamos calcular a Prevalência no exemplo hipotético que descrevemos abaixo. 
TEMA 3 – MEDIDAS DE FREQUÊNCIA PARA MORTALIDADE 
A mortalidade é analisada por meio de vários indicadores epidemiológicos. 
Vamos estudar alguns que possuem maior impacto na gestão de serviços de 
saúde. 
A Taxa Bruta de Mortalidade corresponde ao número total de óbitos, por 
mil habitantes, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano 
considerado. Expressa a intensidade com a qual a mortalidade atua sobre 
determinada população. As taxas brutas de mortalidade padronizadas são úteis 
na comparação temporal e entre regiões. 
Método do cálculo = Número total de óbitos de residentes / População total 
residente x 1.000 
 A Mortalidade Proporcional por Causa de Óbito mostra a distribuição 
percentual de óbitos por grupos de causas definidas, na população residente em 
determinado espaço geográfico, no ano considerado. Mostra a ocorrência 
percentual de uma causa de óbito estudada em relação ao total de óbitos 
(excluindo as causas mal definidas). 
Método do cálculo = Número de óbitos de residentes por grupo de causas 
definidas / Número total de óbitos de residentes (excluídas as causas mal 
definidas) x 100 
A Mortalidade Proporcional por Idade mostra a distribuição percentual dos 
óbitos por faixa etária, na população residente em determinado espaço 
geográfico, no período estudado. Mede a participação dos óbitos em cada faixa 
etária, em relação ao total de óbitos. 
Método de cálculo = Número de óbitos de residentes, por faixa etária / 
Número de residentes por faixa etária (excluídos óbitos idade ignorada) x 
100 
 
 
 
09 
3.1 Mortalidade materna e mortalidade infantil 
A Mortalidade Materna mede o número de óbitos maternos, por 100 mil 
nascidos vivos de mães residentes em determinado espaço geográfico, no ano 
considerado. O conceito de morte materna é estabelecido pela Organização 
Mundial de Saúde como a frequência de óbitos femininos, ocorridos até 42 dias 
após o término da gravidez, atribuídos a causas ligadas a gravidez, ao parto e ao 
puerpério, pode ser usado para comparações nacionais e internacionais. O 
número de nascidos vivos é adotado como uma aproximação do total de mulheres 
grávidas. Reflete a qualidade da atenção à saúde da mulher do território

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