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1 DIREITO DO TRABALHO I – 17/08/2015 AULA 02 – CONCEITO, AUTONOMIA, FONTES E PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO 1. DENOMINAÇÃO, CONCEITO E AUTONOMIA DO DIREITO DO TRABALHO A. DENOMINAÇÃO 1) DIREITO INDUSTRIAL O Direito do Trabalho recebeu diferentes denominações conforme sua evolução ao longo dos tempos. A primeira delas surgiu logo após a Revolução Industrial, no início do século XIX, na Inglaterra e EUA, sendo assim denominado de Direito Industrial, pois regulava as relações entre o capital e o trabalho na indústria. Atualmente o Direito Industrial integra o Direito Comercial que estuda as relações jurídicas inerentes às marcas, patentes e invenções. O Direito do Trabalho tem por objeto estudar as relações de trabalho subordinado. 2) LEGISLAÇÃO DO TRABALHO Essa terminologia foi utilizada na Constituição Federal de 1934 (art. 121, § 1º). A Justiça do Trabalho só foi instituída em 1º de maio de 1939, porém ainda não possuía autonomia, pois atuava como órgão administrativo subordinado ao Poder Executivo. Somente em setembro de 1946 é que a Justiça do Trabalho vinculou-‐se ao Poder Judiciário, tornando-‐se autônoma em relação ao do poder executivo. Tal nomenclatura se deu ao fato de que existiam muitas leis tratando do tema, porém sem existir um sistema, uma autonomia da matéria. 3) DIREITO OPERÁRIO Vários autores utilizavam-‐se dessa denominação, principalmente na França. A Constituição Federal de 1937 (art. 16, XVI) empregava essa expressão referindo-‐se aos operários (trabalhadores braçais das fábricas), buscando proporcionar uma maior proteção a eles. Mais tarde o Direito do Trabalho, viria a abranger qualquer espécie de trabalhador, não se limitando a estudar apenas os operários, mas também os patrões e os outros trabalhadores. S U M Á R I O 1. DENOMINAÇÃO, CONCEITO E AUTONOMIA DO DIREITO DO TRABALHO. 2. RELAÇÕES DO DIREITO DO TRABALHO COM OUTROS RAMOS DO DIREITO. 3. FONTES DO DIREITO DO TRABALHO. 4. HIERARQUIA, CLASSIFICAÇÃO E APLICAÇÃO DAS NORMAS TRABALHISTAS. 5. PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO. 2 4) DIREITO CORPORATIVO Denominação usada em Portugal e na Itália, países com regime fascista. O corporativismo italiano visava unificar produção e trabalho e relacionava-‐se às ações do Estado de forma a desenvolver a economia. No Brasil o corporativismo floresceu durante o Estado Novo, a partir de 1937, no governo Vargas. Nesse período foi criado o imposto sindical e atribuiu-‐se um poder normativo à Justiça do Trabalho. O corporativismo relacionava-‐se à organização sindical, suas corporações ou associações, destinando-‐se a unificar toda a economia nacional. 5) DIREITO SOCIAL Esta denominação relacionava-‐se à proteção dos hipossuficientes, abrangendo não só questões de direito do trabalho, mas também às questões do direito coletivo, assistencial e previdenciário. A denominação de Direito Social foi atribuída justamente porque havia prevalência do interesse coletivo sobre o individual. Direitos sociais são garantias estabelecidas às pessoas para a proteção de suas necessidades básicas, visando possibilitar uma vida com um mínimo de dignidade. A Constituição Federal estabelece em seu art. 6° os seguintes direitos sociais: educação, saúde, moradia, trabalho, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados. No entanto tal denominação é genérica e vaga, pois o Direito, por sua própria natureza já é social e todos os seus ramos já possuem essa peculiaridade. 6) DIREITO SINDICAL O uso desta expressão também não serve para justificar a denominação da matéria, pois diz respeito apenas ao sindicato. A denominação da matéria ora estudada como Direito Sindical a restringe apenas a um dos segmentos abordados pelo Direito do Trabalho. 7) DIREITO DO TRABALHO Tal denominação surgiu na Alemanha, por volta de 1912. Abrange as relações de trabalho em geral e não apenas alguns segmentos como o trabalho na indústria ou às relações sindicais. A CF de 1946 e as que se seguiram passaram a utilizar a expressão Direito do Trabalho. No Brasil, a Lei 2.724/56 mudou a denominação da cadeira nas faculdades, determinando a incorporação do Direito Industrial ao Direito Comercial e passando a empregar a expressão Direito do Trabalho. B. CONCEITO DIREITO DO TRABALHO é o conjunto de PRINCÍPIOS, REGRAS E INSTITUIÇÕES, que regulam às RELAÇÕES DE TRABALHO SUBORDINADO e SITUÇÕES ANÁLOGAS DE TRABALHO, que visem ASSEGURAR AO TRABALHADOR MELHORES CONDIÇÕESDE TRABALHO, de acordo com as MEDIDAS DE PROTEÇÃO que lhes são destinadas. Regras são as instruções normativas (dispositivos legais) que versam sobre a matéria. A maioria delas encontram-‐se na CLT. 3 Princípios são proposições genéricas das quais se derivam as demais normas. Ao se reconhecer que existem princípios que norteiam a disciplina, verifica-‐se que a ela foi atribuído um tratamento científico e autonomia. Instituições são as entidades que criam e aplicam o referido ramo do Direito. A expressão situações análogas relaciona-‐se às situações que guardem certa semelhança com o trabalho subordinado. O OBJETIVO do Direito do Trabalho é o estudo do trabalho subordinado. Daí o emprego de duas teorias para conceituar a matéria em estudo: subjetiva e objetiva. A TEORIA SUBJETIVA relaciona-‐se ao tipo de trabalhadores a que se aplica o Direito do Trabalho. Porém, nem todos os trabalhadores serão amparados pelo Direito do Trabalho, como ocorre com o servidor público e o trabalhador autônomo, que são espécies de trabalhadores, não sendo, portanto, assistidos pelo Direito do Trabalho. A TEORIA OBJETIVA parte do tipo da matéria a ser analisada e não das pessoas. O Direito do Trabalho estuda não o trabalho autônomo, mas sim o trabalho subordinado. O trabalhador temporário e o empregado doméstico também possuem vínculo de subordinação. Já o trabalhador avulso apesar de não ser subordinado, também será estudado pelo Direito do Trabalho. A finalidade do Direito do Trabalho é assegurar não apenas melhores condições de trabalho, mas também, condições sociais satisfatórias aos trabalhadores. A melhoria das condições de trabalho e sociais do trabalhador será feita por meio da legislação que tem por objetivo proteger o trabalhador (hipossuficiente), que é considerado o pólo mais fraco da relação com o seu patrão, que, normalmente, é economicamente mais forte. No Direito do Trabalho a lei fixa um mínimo, mas as partes podem convencionar direitos superiores a esse mínimo. C. AUTONOMIA DO DIREITO DO TRABALHO 1) Introdução Muito se discutiu sobre a autonomia do Direito do Trabalho em relação ao Direito Civil. O Direito do Trabalho nasceu a partir do momento em que começaram a ser reguladas as antigas locações de serviço que eram previstas na legislação civil. O Código Civil brasileiro trata da prestação de serviços nos arts. 593 a 609 e da empreitada nos arts. 610 a 626. O contrato de prestação de serviço subordinado foi uma evolução da locação de serviços. Com o aprimoramento da locação de serviços surgiu o contrato de trabalho, que passou a ser tratado em normas especiais. Para se caracterizar a autonomia de uma ciência é necessário que: (a) seja vasta a ponto de merecer um estudo particular; (b) contenha doutrinas homogêneas dominadas por conceitos gerais comuns e distintos dos conceitos gerais das outras disciplinas; e (c) possua método próprio empregando processos especiais para o conhecimento das verdades que constituem o objeto de suas investigações. 4 2) Critérios Relativos à Autonomia do Direito do Trabalho Haverá AUTONOMIA de um ramo do Direito se os seus princípios e regras tiverem identidade própria e, ao mesmo tempo, apresentem diferenças em relação aos demais ramos. Esses aspectos devem ser examinados em relação ao desenvolvimento didático, legal e doutrinário. E sob os aspectos jurisdicional e científico. 1) Autonomia Científica à o Direito do Trabalho tem institutos próprios, traduzidos por um conjunto de normas e regras específicas que pertencem a seu sistema. Possui ainda princípios próprios, somente a ele aplicado, tais como: -‐ continuidade do contrato de trabalho; e irrenunciabilidade de direitos trabalhistas e proteção ao trabalhador. 2) Autonomia Jurisdicional à consagrada a partir da edição da CLT (1943) e dos julgamentos dos pleitos trabalhistas por órgãos especializados da Justiça do Trabalho que tornou-‐se autônoma e independente do Poder Executivo a partir da CF de 1946, quando passa a integrar o Poder Judiciário. 3) Desenvolvimento Legal à as normas do Direito do Trabalho são encontradas no art. 7°/CF que estabelece os direitos dos trabalhadores urbanos, rurais, domésticos entre outros. A CLT comporta as principais normas trabalhistas, porém existem outras leis que abordam as relações trabalhistas: -‐ Lei 605/49 que dispõe sobre o repouso semanal remunerado; -‐ Lei 5.859/72, que dispõe sobre os empregados domésticos; -‐ Lei 5.889/73 que dispõe sobre os trabalhadores rurais; -‐ Lei 6.019/74 que dispõe sobre o trabalhador temporário; -‐ Lei 7.418/85, que dispõe sobre o vale-‐transporte; e -‐Lei 8.036/80 que regulamenta o FGTS. 4) Desenvolvimento Didático à todas as faculdades de Direito têm, em seus currículos, a disciplina de Direito do Trabalho em pelo menos dois semestres. Os exames da OAB exigem conhecimentos do Direito do Trabalho e da prática processual nos exames. 5) Desenvolvimento Doutrinário à várias são as obras de renomados autores, nacionais ou estrangeiros, que dão sustentação à autonomia do Direito do Trabalho. Dentre os principais doutrinadores do direito do Trabalho podem ser citados Amauri Mascaro do Nascimento, Maurício Godinho, Sérgio Pinto Martins, Orlando Gomes, Evaristo de Moraes Gustavo Garcia e Renato Saraiva, entre outros. 2. RELAÇÕES DO DIREITO DO TRABALHO COM OUTROS RAMOS DO DIREITO a. DIREITO CONSTITUCIONAL Previsão de cinco artigos na CF/88 dispondo sobre regras relacionadas ao Direito do Trabalho (arts. 7º ao 11). O art. 7º da CF garante direitos mínimos aos trabalhadores urbanos e rurais, especificando em 34 incisos. Empregado doméstico tem alguns direitos reconhecidos: salário mínimo; 13º salário; irredutibilidade salarial (salvo disposto em convenção ou acordo coletivo); repouso semanal remunerado e férias; licença à gestante e licença paternidade; aviso prévio e aposentadoria. 5 b. DIREITO CIVIL O contrato de trabalho originou-‐se no Direito Civil, como uma espécie do gênero dos contratos. O Direito do Trabalho utiliza-‐se, subsidiariamente, do Direito Civil, principalmente da parte de obrigações e contratos previstos no Código Civil, pois o § único do art. 8º da CLT, que determina que o Direito comum será fonte subsidiária do Direito do Trabalho. As normas do Direito Civil são fontes integrativas das lacunas do Direito do Trabalho. Para aplicação subsidiária é preciso que não haja incompatibilidade com o Direito do Trabalho e haja omissão da norma trabalhista. c. DIREITO INTERNACIONAL O Direito Internacional Público do Trabalho relaciona-‐se as normas de ordem pública, de âmbito internacional, como as Convenções, Recomendações e Resoluções editadas pela OIT, que dependem, ou não, de ratificação dos seus Estados-‐membros. Convenções Internacionais são normas jurídicas emanadas da Conferência Internacional da OIT, destinadas a constituir regras gerais e obrigatórias para os Estados deliberantes, que as incluem no seu ordenamento interno, observadas as respectivas prescrições constitucionais dos seus ordenamentos jurídicos internos. d. DIREITO COMERCIAL O Direito Comercial regula as várias formas de sociedades mercantis, sendo que a empresa é uma das partes do contrato de trabalho. Mesmo nos casos de falência, recuperação judicial ou extrajudicial do empregador, o trabalhador terá direito de reivindicar as verbas que lhe são devidas. Em casos de mudança na estrutura jurídica e propriedade da empresa, os direitos dos trabalhadores serão assegurados (art. 10 e 448/ CLT). e. DIREITO PENAL A prática de algum delito na esfera penal pode influir no campo trabalhista podendo provocar a demissão por justa. O Código Penal também regula alguns tipos penais relacionados aos crimes contra a organização do trabalho (arts. 197 a 207). -‐ Atentado contra a liberdade de trabalho e do contrato de trabalho (arts 197/198 -‐ CP). -‐ Atentado contra a liberdade de associação (arts. 199 e 200). -‐ Paralisação de trabalho de interesse coletivo (art. 201). -‐ Invasão de estabelecimento trabalhista (art. 202). -‐ Frustração de direito trabalhista (art. 203). -‐ Aliciamento de trabalhadores (art. 206 e 207). f. DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL Esse ramo do Direito está previsto nos arts. 194 a 204 da CF: proteção à maternidade, (art. 201, II da CF); assistência social, quando menciona o amparo a infância e à adolescência (CF, art. 203, II); e promoção da integração ao mercado de trabalho (art. 203, III da CF). g. DIREITO ADMINISTRATIVO As normas de medicina e segurança do trabalho, como também as de fiscalização do trabalho podem ser consideradas atinentes à atividade administrativa do Estado, sendo aplicadas e fiscalizadas por meio das Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego -‐ SRTE (antigas Delegacias Regionais do Trabalho, órgãos vinculados ao Ministério do Trabalho). O próprio Estado contrata servidores sob o regime da CLT ou regime temporário, aproximando esses dois ramos do Direito. 6 h. DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Este ramo do Direito vem a ser a forma de se assegurar o cumprimento dos direitos materiais do empregado,sendo que as controvérsias surgidas sobre a aplicação da legislação serão apreciadas pela Justiça do Trabalho. A CLT dispõe de regras atinentes ao processo do trabalho (arts. 643 a 910), estabelecendo normas de competência, para a propositura da ação, recursos e etc. Todas essas regras visam assegurar o direito material do obreiro. i. DIREITO TRIBUTÁRIO As relações do Direito Tributário com o Direito do Trabalho são relevantes quando se refere ao fato gerador, incidência de tributos, ou contribuições sobre certas verbas trabalhistas, base de cálculo das referidas verbas, contribuintes. As contribuições do FGTS e do PIS-‐PASEP realçam ainda mais essa relação, pois o FGTS incide sobre diversas verbas trabalhistas e o PIS-‐PASEP que é pago pela empresa concede certos direitos aos empregados que recebem baixos salários. Por fim, o IR incide sobre salários, remuneração e outras verbas de natureza trabalhista. j. DIREITO ECONÔMICO A relação como o Direito do Trabalho ocorre quando se verifica a obtenção de uma política econômica de pleno emprego (art. 170, VIII/CF) e a valorização do trabalho humano (art. 170 da CF), que são, entre outros, os objetivos a serem assegurados pela ordem econômica. A própria política econômica e salarial terá grandes reflexos na relação de emprego, ao se ter em vista o desenvolvimento geral do país e a garantia do bem-‐estar da nação. Um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil é dar respaldo aos “valores sociais do trabalho e da livre iniciativa”. 3. FONTES DO DIREITO DO TRABALHO Dispõe o art. 8°/CLT: “as autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, analogia, eqüidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público”. Os Princípios Gerais de Direito são formas de interpretação das regras jurídicas, já Analogia e Eqüidade são métodos de integração da norma jurídica. A Jurisprudência também não pode ser considerada como fonte do Direito do Trabalho, porque não se configura como obrigatória, não vinculando o juiz que é livre para decidir. O estudo das fontes do Direito pode ter várias acepções, como sua origem, o fundamento de validade das normas jurídicas, as formas de exteriorização do Direito e a vontade das pessoas. a. Quanto ao FUNDAMENTO DE VALIDADE as fontes são classificadas em: FONTES FORMAIS à são formas de exteriorização do Direito, decorrentes das espécies legislativas previstas no art. 59 da CF, ou mesmo dos costumes. FONTES MATERIAIS à constituem os fatores (sociais, psicológicos, econômicos e históricos) que propiciam o surgimento de normas envolvendo fatos e valores. 7 b. Quanto às FORMAS DE EXTERIORIZAÇÃO as fontes são classificadas em: FONTES HETERÔNOMAS à são as impostas por agentes externos. Ex: constituição, leis, decretos sentenças normativas, regulamentos unilaterais. FONTES AUTÔNOMAS à são as elaboradas por agentes internos. Ex: costumes, convenções, acordos coletivos, contrato de trabalho e regulamentos bilaterais. c. Quanto à ORIGEM as fontes podem ser: FONTES ESTATAIS à quando provêm do Estado, como a constituição, leis e decretos. FONTES EXTRA-‐ESTATAIS OU PROFISSIONAISà quando emanadas de certos grupos de pessoas e não do Estado, como o regulamento de empresa, os costumes, convenção, acordo coletivo e contrato de trabalho. d. Quanto à VONTADE DAS PESSOAS as fontes podem ser: FONTES VOLUNTÁRIAS à dependem da vontade das partes para sua elaboração. Ex.: contrato de trabalho, convenção e acordo coletivo. FONTES IMPERATIVAS à alheias a vontade das partes, como leis e sentenças normativas. 1) FONTES FORMAIS DO DIREITO DO TRABALHO a) CONSTITUIÇÃO A Constituição de 1934 foi a primeira a tratar de normas de Direito do Trabalho. A atual CF dedica o Cap. II do Título II – Dos Direitos Sociais para tratar de normas de proteção ao trabalhador. O art. 22, I da CF/88 determina que é de competência privativa da União legislar sobre Direito do Trabalho. b) LEISA CLT apenas organizou e sistematizou a legislação trabalhista que se encontrava esparsa. Além da CLT, há várias leis esparsas que tratam das relações trabalhistas. c) ATOS DO PODER EXECUTIVO Anteriormente, o Poder Executivo podia expedir decretos-‐leis que tinham força de lei, como foi o caso da própria CLT, editada pelo DL 5452/43. Desde a CF/88 que os DL foram substituídos pelas MP, que tem força de lei e validade de 60 dias, prorrogáveis por igual período. O Poder Executivo também tem competência para expedir decretos e regulamentos (art. 84, IV da CF). O Ministério do Trabalho também expede portarias e ordens de serviço. Como exemplo a Portaria 3.214/78 que especifica questões sobre medicina e segurança do trabalho. d) SENTENÇA NORMATIVA É a decisão dos Tribunais Regionais do Trabalho (TRT) ou do TST no julgamento dos dissídios coletivos. O art. 114, caput, e seu § 2°, da CF dão competência à Justiça do Trabalho para estabelecer normas e condições de trabalho. 8 É, portanto, por meio da sentença normativa em dissídio coletivo que serão criadas, modificadas ou extintas as normas e condições aplicáveis ao trabalho, garantindo direitos e obrigações a empregados e empregadores. Terá efeito erga omnes, valendo para todas as pessoas integrantes da categoria econômica e profissional envolvidas no dissídio coletivo. e) CONVENÇÕES E ACORDOS COLETIVOS Exteriorizam a autonomia privada dos sindicatos nas negociações coletivas. O art. 7°, XXVI/CF reconhece os acordos e as convenções coletivos do trabalho. As regras que forem estabelecidas em convenções e acordos coletivos serão de observância nas respectivas categorias. Acordos Coletivos à são os pactos celebrados entre uma ou mais de uma empresa e o sindicato da categoria profissional a respeito de condições de trabalho (§ 1° do art. 611 da CLT). Convenções Coletivas à são os pactos firmados a respeito das condições de trabalho da categoria (art. 611 da CLT), entre dois ou mais sindicatos, estando de um lado o sindicato patronal e do outro lado o sindicato profissional dos trabalhadores. f) REGULAMENTOS DE EMPRESA O regulamento da empresa disciplina as relações entre os sujeitos do contrato de trabalho, vinculando não só os empregados atuais da empresa, como também aqueles que forem sendo admitidos posteriormente em seus quadros. g) DISPOSIÇÕES CONTRATUAIS As disposições inseridas no contrato de trabalho darão origem aos direitos e deveres entre empregado e empregador. O art. 444/CLT dispõe que as relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre estipulação das partes, desde que não se contraponham às disposições de proteção ao trabalho, às convenções e aos acordos coletivos e às decisões das autoridades competentes. h) USOS E COSTUMES Em muitas ocasiões a utilização reiterada pela sociedade dos usos e costumes dá origem a uma norma legal. Como exemplo, tem-‐se a gratificação natalina que é um pagamento feito pelo empregador que tem por natureza costume. De tanto os empregadores pagarem uma gratificação natalina aos empregados ela passou a ser compulsória, dando origem ao atual 13° salário (Lei 4.090/62). Outro caso típico foram as horas extras que passaram a integrar outras verbas remuneratórias (férias, 13 salário, aviso prévio, FGTS, etc.) A CLT prevê no art. 443 que o próprio contrato de trabalho não precisa ser necessariamente feito por escrito, podendo ser regido por regras do costume. i) NORMAS INTERNACIONAIS As normas internacionais são fontes de direitos e obrigações, como ocorre com os tratados e as convenções da OIT, que obrigam seus signatários. O inciso VIII do art. 84 da CF determina que: “compete privativamente ao Presidente da República celebrar tratados, convenções e atos internacionais”. 9 A Convenção da OIT tem natureza de lei ordinária, tanto que o Congresso tem competência exclusiva para resolver definitivamente, sobre tratados internacionais (art. 49, I da CF), o que é feito por intermédio de decreto legislativo, que também tem natureza de lei federal (art. 59, VI /CF). Recentemente, o STF já entendeu que os tratados concluídospelo Estado Federal possuem, em nosso sistema normativo, o mesmo grau de autoridade e de eficácia das leis mencionadas, não havendo necessidade de aprovação de uma lei ordinária para que o tratado tenha validade interna. O § 3° do art. 5°/CF estabelece que os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. 4. HIERARQUIA, CLASSIFICAÇÃO E APLICAÇÃO DAS NORMAS TRABALHISTAS a. HIERARQUIA A hierarquia entre as normas somente ocorre quando a norma inferior tem seu fundamento de validade em regra superior. Isso significa que a validade de determinada norma dependa diretamente de outra, como é o caso de um decreto em relação a uma lei ordinária e desta em relação à Constituição. O art. 619 da CLT dispõe que nenhuma disposição do contrato individual de trabalho que contrarie normas de convenção ou acordo coletivo de trabalho poderá prevalecer na execução do mesmo, sendo considerada nula de pleno direito. b. CLASSIFICAÇÃO CONSTITUIÇÃO FEDERAL LEIS ORDINÁRIAS DECRETOS PORTARIAS, CIRCULARES E ORDENS DE SV PROVIMENTOS E INSTRUÇÕES NORMATIVAS ACORDO OU CONVENÇÃO COLETIVA CONTRATO DE TRABALHO LEIS COMPLEMENTARES TRATADOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS DECRETOS LEGISLATIVOS NORMAS TRABALHISTAS NORMAS DE ORDEM PÚBLICA ABSOLUTAS RELATIVAS NORMAS DISPOSITIVAS NORMAS AUTÔNOMAS INDIVIDUAIS COLETIVAS 10 1) AS NORMAS DE ORDEM PÚBLICA ABSOLUTA à são aquelas que não podem ser derrogadas por convenções das partes, uma vez que preponderam o interesse público sobre o particular. São as regras de natureza protetiva, indisponíveis por parte do obreiro e que não podem deixar de ser cumpridas pelo empregador, sob pena de multa. São normas que tratam de medicina e segurança do trabalho, da fiscalização trabalhista, do salário mínimo, das férias e do repouso semanal remunerado. 2) AS NORMAS DE ORDEM PÚBLICA RELATIVA à embora haja interesse do Estado, em ver cumpridas as determinações, podem ser flexibilizadas. Por exemplo, a possibilidade de redução de salários por meio de convenções ou acordos coletivos (art. 7, II/CF); da compensação e redução da jornada de trabalho mediante acordo ou convenção coletiva (art. 7, XIII /CF); e do aumento da jornada nos turnos ininterruptos (art. 7, XIV/CF). 3) AS NORMAS DISPOSITIVAS à são aquelas que o Estado tem interesse em tutelar os direitos do empregado, porém esse interesse é menor, podendo haver autonomia da vontade das partes em estabelecer outras regras. Pode-‐se dizer que a legislação apenas estabelece um mínimo, que pode ser complementado pelas partes. Não dispondo as partes de modo diverso, prevalece o mínimo estabelecido em lei. Ex. adicional noturno e adicional de hora extra. 4) AS NORMAS AUTÔNOMAS à são aquelas em que o Estado não interfere estabelecendo regras de conduta no campo trabalhista. As partes é que estabelecem preceitos, fruto do entendimento direto entre elas. No campo coletivo, seria a hipótese do acordo ou a convenção coletiva estabelecer regras não previstas na lei. No campo individual, seria a contratação mediante cláusula inserida no contrato de trabalho. c. APLICAÇÃO DAS NORMAS TRABALHISTAS Aplicabilidade tem o sentido de pôr a norma em contato com fatos e atos. Realiza-‐ se por meio da interpretação, integração e execução das normas trabalhistas. 1) Interpretação a) Gramatical ou Literal à visa verificar qual o sentido literal do texto. b) Lógica à conexão entre vários textos legais. c) Teleológica ou Finalística à a interpretação será dada de acordo com o fim pretendido pelo legislador. d) Sistemática à a interpretação decorre da análise do sistema jurídico. e) Extensiva ou Ampliativa à atribui-‐se um sentido mais amplo à norma. f) Restritiva ou Limitativa à busca-‐se restringir o sentido da norma. g) Histórica à decorre de um processo evolutivo, analisando-‐se a história. h) Autêntica à realizada pelo próprio órgão que editou a norma, que irá declarar seu sentido, alcance e conteúdo, por meio de outra norma jurídica. i) Sociológica à verifica-‐se a realidade e necessidade social na elaboração e na aplicação da lei. 2) Integração O intérprete fica autorizado a suprir as lacunas existentes na norma jurídica por meio da utilização da analogia, eqüidade, princípios gerais do direito e doutrina. Analogia consiste na utilização de uma regra similar para o caso concreto. Eqüidade é a possibilidade de suprir a imperfeição da lei ou torná-‐la mais branda moldando-‐a à realidade. Só é possívelnas hipóteses autorizadas por lei (art. 127 do CPC). 11 d. EFICÁCIA E VIGÊNCIA DA NORMA TRABALHISTA Eficácia significa aplicação ou execução da norma jurídica. É a produção de efeitos jurídicos concretos que não se confunde com a validade da lei. A eficácia relaciona-‐se ao tempo e ao espaço. A eficácia no tempo refere-‐se à entrada da lei em vigor, normalmente na data de sua publicação. Inexistindo disposição expressa na lei, esta começa a vigorar 45 dias depois de oficialmente publicada (art. 1° da LICC). A eficácia da lei trabalhista no espaço diz respeito ao território em que vai ser aplicada a norma. Validade da lei se refere a sua força imponível, isto é, a possibilidade de ser observada. A vigência da norma diz respeito ao seu tempo de atuação. 5. PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO O Princípio é o primeiro passo na consecução de uma regulação científica, alberga uma diretriz ou norte magnético, muito mais abrangente que uma simples regra. Além de estabelecer certas limitações ao poder normativo, fornece diretrizes que embasam uma ciência visando à sua correta compreensão e interpretação. Violar um princípio é muito mais grave do que violar uma regra. Assim, pode-‐se dizer que os princípios possuem uma tríplice função: Uma função interpretativa, servindo como um elemento de apoio na interpretação das normas jurídicas estudadas. Uma outra função de elaboração, uma vez que auxiliam o legislador na elaboração das normas. E, por fim, uma função de aplicação do direito, na medida em que serve de base para o juiz sentenciar. a. PRINCÍPIOS COMUNS APLICÁVEIS AO DIREITO DO TRABALHO 1) AUTONOMIA DAS VONTADES Este princípio também está presente nas relações de trabalho, porém com uma interferência mais ampla da lei. Enquanto no Direito Civil as disposições legais em matéria contratual têm caráter supletivo ou subsidiário, no Direito do Trabalho têm caráter principal, funcionando a autonomia da vontade de forma complementar. A CLT corrobora a aplicação desse princípio ao estabelecer, em seu art. 444, que é livre a estipulação das condições de trabalho em tudo o que não contrariar a ordem pública, as decisões judiciais e as convenções coletivas de trabalho. 2) FORÇA OBRIGATÓRIA DOS CONTRATOS (pacta sunt servanda) Este princípio estabelece que o contrato deva ser executado pelas partes de acordo com os termos ajustados. As convenções coletivas valem pelo prazo da sua vigência, sendo inviável a sua modificação a não ser em casos extremos. 3) EXCEPTIO NON ADIMPLETI CONTRACTUS Nenhum dos contratantes pode exigir o implemento da obrigação do outro contratante, antes de cumprida a sua obrigação. 4) BOA-‐FÉ NOS CONTRATOS Confere ao juiz o poder de interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-‐fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento leal dos contratantes. 12 b. PRINCÍPIOS UNIVERSAIS DO DIREITO DO TRABALHO 1) LIBERDADE DE TRABALHO O trabalho deve ser prestado de forma livre, por escolha do trabalhador, não se admitindo o trabalho forçado do trabalhador por atentar contra a dignidade humana. 2) DIREITO DE ORGANIZAÇÃO SINDICAL Qualquer que seja o regime político ou econômico todo trabalhador tem o direito de filiar-‐se a uma organização sindical. 3) MÍNIMAS GARANTIAS DE TRABALHO Em todos os países há direitos trabalhistas mínimos que devem ser respeitados. Corroborando com este princípio existe a OIT. 4) MULTINORMATIVIDADE DO DIREITO DO TRABALHO A norma trabalhista emana não apenas do Estado, mas também de outras fontes, como da própria empresa, por seus regulamentos e dos sindicatos, em sua atividade negocial com as empresas. 5) NORMA FAVORÁVEL AO TRABALHADOR A norma jurídica, ao ser elaborada, deve voltar-‐se à proteção do trabalhador e, ao ser interpretada, no caso de dúvida, deve-‐se ser escolhido o sentido da norma mais benéfico ao trabalhador, salvo lei proibitiva. 6) IGUALDADE SALARIAL Trabalhos semelhantes devem ser remunerados de maneira semelhante, sem qualquer tipo de discriminação. 7) JUSTA REMUNERAÇÃO É função do Direito do Trabalho promover medidas destinadas a garantir aos trabalhadores adequada retribuição pelos serviços prestados. 8) DIREITO AO DESCANSO Assegura a inserção de normas voltadas para a obrigatoriedade de descansos diários, semanais e anuais no exercício das atividades profissionais. 9) CONDIÇÃO MAIS BENÉFICA No Direito do Trabalho encontra sustentação no art. 5°, XXXVI da CF/88. 10) DIREITOAO EMPREGO Também conhecido como o princípio do direito ao trabalho, em razão do qual o Estado tem o dever de promover medidas econômicas destinadas à abertura de frentes de trabalho em dimensão suficiente para absorver a mão-‐de-‐obra que ingressa na ordem trabalhistas e de impedir o desemprego em massa. 11) DIREITO À PREVIDÊNCIA SOCIAL É dever do Estado organizar sistemas previdenciários que estabeleça proteção ao trabalhador diante dos riscos a que se sujeita, fornecendo-‐lhe encontre o devido amparo. 13 c. PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS DO DIREITO DO TRABALHO 1) PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO É uma forma de compensar a superioridade econômica do empregador em relação ao empregado, atribuindo a este último uma superioridade jurídica. Este princípio é desmembrado em outros três: in dubio pro operario; aplicação da norma mais favorável ao trabalhador; aplicação da condição mais benéfica ao trabalhador. a) In dubio pro operario Na dúvida deve se aplicar a regra mais favorável ao trabalhador ao se analisar um preceito que encerra um regra trabalhista. Não se aplica integralmente ao Processo do Trabalho, devido ao ônus da prova no caso concreto (art. 33/CPC e art. 818/CLT), que, em certos casos, poderá ser do empregado. b) Aplicação da norma mais favorável ao trabalhador Regra implícita no art. 7°/CF que prescreve “além de outros que visem à melhoria de sua condição social”, subdividi-‐se em outras três: O art. 620/CLT dispõe que “as condições estabelecidas em convenção, quando mais favoráveis, prevalecerão sobre as estipuladas em acordo”. c) Aplicação da condição mais benéfica ao trabalhador Deve ser entendida como o fato de que as vantagens já obtidas anteriormente, que são mais benéficas ao trabalhador, não podem ser modificadas para pior. É a aplicação da regra do direito adquirido (art. 5, XXXVI da CF). Vide Súmula 51 do TST. 2) PRINCÍPIO DA IRRENUNCIABILIDADE DE DIREITOS O art. 9° da CLT é claro ao dizer que serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir, ou fraudar a aplicação dos preceitos trabalhistas. Em regra, os direitos são irrenunciáveis por parte dos trabalhadores, quando diante do empregador. No entanto, o trabalhador poderá renunciar a seus direitos se estiver em juízo, diante do juiz do trabalho, nesse caso não se pode afirmar que o empregado esteja sendo forçado pelo seu patrão, pois não se encontrará em posição de inferioridade. Também é possível ao trabalhador transigir, fazendo concessões recíprocas. A transação pressupõe incerteza do direito (dúvida) para que possam ser feitas concessões mútuas. Não se pode falar em transação quanto ao direito de verbas rescisórias. A Súmula 276 do TST mostra que aviso prévio é irrenunciável pelo trabalhador. 3) PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DA RELAÇÃO DE EMPREGO Presume-‐se que o contrato de trabalho terá validade por tempo indeterminado, ou seja, haverá continuidade da relação de emprego. A exceção à regra são os contratos por prazo determinado, inclusive o contrato temporário. 14 A Súmula 212 do TST adota essa ideia ao estabelecer: “o ônus de provar o término do contrato de trabalho, quando negados a prestação de serviço e o despedimento, é do empregador, pois o princípio da continuidade da relação de emprego constitui presunção favorável ao empregado”. 4) PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA REALIDADE No Direito do Trabalho os fatos são muitos mais importantes do que os documentos. Por exemplo, se um empregado é rotulado de autônomo pelo empregador, possuindo contrato escrito de representação com o último, o que deve ser observado realmente são as condições fáticas que demonstrarem a existência do contrato de trabalho. São privilegiados, portanto, os fatos, a realidade, sobre a forma ou a estrutura empregada. REFERÊNCIAS CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 8ª ed., 2013. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTR, 12ª ed., 2013. GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 8ª ed., 2014 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2014. MARTINEZ, Luciano. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 6ª ed. 2015. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2012. COMPLEMENTE SEUS ESTUDOS FAZENDO A LEITURA DA BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA! PROFESSOR JOÃO PRIÁTICO
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