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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/295853967 Ortodontia Preventiva e Interceptora: Mito ou Realidade Article in Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial · November 1999 CITATIONS 10 READS 3,950 5 authors, including: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Normal occlusion View project Artigo View project Renata Rodrigues de Almeida Pedrin Universidade do Sagrado Coração 62 PUBLICATIONS 352 CITATIONS SEE PROFILE Daniela Gamba Garib University of São Paulo 163 PUBLICATIONS 1,815 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Renata Rodrigues de Almeida Pedrin on 25 February 2016. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/295853967_Ortodontia_Preventiva_e_Interceptora_Mito_ou_Realidade?enrichId=rgreq-ea349f37a4d30745cead693f5b40bc59-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTg1Mzk2NztBUzozMzI5ODUxNjY1MTYyMjRAMTQ1NjQwMTI2MDc0OQ%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/295853967_Ortodontia_Preventiva_e_Interceptora_Mito_ou_Realidade?enrichId=rgreq-ea349f37a4d30745cead693f5b40bc59-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTg1Mzk2NztBUzozMzI5ODUxNjY1MTYyMjRAMTQ1NjQwMTI2MDc0OQ%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Normal-occlusion?enrichId=rgreq-ea349f37a4d30745cead693f5b40bc59-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTg1Mzk2NztBUzozMzI5ODUxNjY1MTYyMjRAMTQ1NjQwMTI2MDc0OQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Artigo?enrichId=rgreq-ea349f37a4d30745cead693f5b40bc59-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTg1Mzk2NztBUzozMzI5ODUxNjY1MTYyMjRAMTQ1NjQwMTI2MDc0OQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-ea349f37a4d30745cead693f5b40bc59-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTg1Mzk2NztBUzozMzI5ODUxNjY1MTYyMjRAMTQ1NjQwMTI2MDc0OQ%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Renata_Almeida_Pedrin?enrichId=rgreq-ea349f37a4d30745cead693f5b40bc59-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTg1Mzk2NztBUzozMzI5ODUxNjY1MTYyMjRAMTQ1NjQwMTI2MDc0OQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Renata_Almeida_Pedrin?enrichId=rgreq-ea349f37a4d30745cead693f5b40bc59-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTg1Mzk2NztBUzozMzI5ODUxNjY1MTYyMjRAMTQ1NjQwMTI2MDc0OQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Universidade_do_Sagrado_Coracao?enrichId=rgreq-ea349f37a4d30745cead693f5b40bc59-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTg1Mzk2NztBUzozMzI5ODUxNjY1MTYyMjRAMTQ1NjQwMTI2MDc0OQ%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Renata_Almeida_Pedrin?enrichId=rgreq-ea349f37a4d30745cead693f5b40bc59-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTg1Mzk2NztBUzozMzI5ODUxNjY1MTYyMjRAMTQ1NjQwMTI2MDc0OQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Daniela_Garib?enrichId=rgreq-ea349f37a4d30745cead693f5b40bc59-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTg1Mzk2NztBUzozMzI5ODUxNjY1MTYyMjRAMTQ1NjQwMTI2MDc0OQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Daniela_Garib?enrichId=rgreq-ea349f37a4d30745cead693f5b40bc59-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTg1Mzk2NztBUzozMzI5ODUxNjY1MTYyMjRAMTQ1NjQwMTI2MDc0OQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/University_of_Sao_Paulo?enrichId=rgreq-ea349f37a4d30745cead693f5b40bc59-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTg1Mzk2NztBUzozMzI5ODUxNjY1MTYyMjRAMTQ1NjQwMTI2MDc0OQ%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Daniela_Garib?enrichId=rgreq-ea349f37a4d30745cead693f5b40bc59-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTg1Mzk2NztBUzozMzI5ODUxNjY1MTYyMjRAMTQ1NjQwMTI2MDc0OQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Renata_Almeida_Pedrin?enrichId=rgreq-ea349f37a4d30745cead693f5b40bc59-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5NTg1Mzk2NztBUzozMzI5ODUxNjY1MTYyMjRAMTQ1NjQwMTI2MDc0OQ%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf Tópico Especial RESUMO Este trabalho visou discutir os aspec- tos concernentes ao tratamento precoce das más oclusões, para nortear as atitu- des do odontólogo diante de irregulari- dades desenvolvidas durante a dentadu- ra decídua e mista. Para tanto, foram ex- postas as vantagens e desvantagens da ortodontia preventiva e interceptora, as- sim como os casos que devem, os que po- dem e os que não devem ser tratados pre- cocemente. INTRODUÇÃO Qual é a época ideal para se iniciar o tratamento das más oclusões? Após aproximadamente um século de desenvolvimento e evolução da Ortodon- tia enquanto ciência, passando pela di- fusão mundial dos procedimentos de Or- topedia Facial, chegamos às vésperas do 3º Milênio sem um consenso unânime a respeito desta questão. Assunto em pauta na literatura con- temporânea, pesquisas, opiniões e expe- riências clínicas relacionadas ao trata- mento precoce das más oclusões4,6,11,13,22, 30,32,35,37 têm divulgado as vantagens e des- vantagens da abordagem preventiva e interceptora, buscando alcançar uma res- posta para a questão acima. As pretensões do tratamento precoce parecem claras, incluindo a eliminação dos fatores etiológicos da má oclusão, e a prevenção da progressão das desarmo- nias esqueléticas, dentárias e funcionais. Obtendo-se um ambiente dentofacial mais favorável, guiando a irrupção dentária para posições normais nos arcos, e reduzindo as discrepâncias esqueléticas por meio do redirecionamento do cresci- mento facial, pode-se minimizar ou até mesmo eliminar a necessidade de trata- mentos complexos durante a dentadura permanente. Este artigo objetiva discutir o trata- mento ortodôntico precoce, com vistas a fundamentar as atitudes profissionais com relação à época de tratamento das más oclusões. Renato Rodrigues de Almeida A Daniela Gamba Garib B José Fernando Castanha Henriques C Márcio Rodrigues de Almeida D Renata Rodrigues de Almeida E A Professor Assistente Dr. da Disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Bauru – USP, Professor responsável pela disciplina de ortodontia e coordenador do curso de Especialização em Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Lins – UNIMEP e Professor Associado da Universidade da Cidade de São Paulo - UNICID. B Aluna de pós-graduação, ao nível de Mestrado, da Disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Bauru - USP. C Professor Titular e coordenador do curso de Doutorado da Disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Bauru – USP. D Especialista, Mestre e Doutorando em Ortodontia, pela Faculdade de Odontologia de Bauru – USP e Professor de Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Lins – UNIMEP ao nível de Graduação e Especialização. E Aluna de pós-graduação, ao nível de Mestrado, da Disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Bauru – USP, Especialista em Radiologia pela Faculdade de Odontologia de Bauru – USP e Professora da Disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Lins – UNIMEP. Ortodontia Preventiva e Interceptora: Mito ou Realidade? Preventive and Interceptive Orthodontic Treatment: Myth or Reality? Renata Rodrigues de Almeida José Fernando Castanha Henriques Renato Rodrigues de Almeida Daniela Gamba Garib Unitermos: Ortodontia; Má- oclusão; Dentadura decídua; Dentadura mista; Tratamento precoce; Ortodontia preventiva e interceptora; Época de tratamento. Márcio Rodrigues de Almeida Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 8 7 VANTAGENS DO TRATAMENTO PRECOCE - Simplifica ou elimina a necessida- de de tratamento corretivo na den- tadura permanente A essência do tratamento precoce, indiscutivelmente, consiste no aprovei- tamento do crescimento dos pacientes jovens para favorecer a correção das de- formidades dentoesqueléticas. Na den- tadura permanente, a pequena ou au- sente quantidade de crescimento resi- dual,limitam as opções de tratamento. Segundo MOYERS, RIOLO18, os ortodontistas devem evitar tratamen- tos prolongados e complexos, como ocorria no passado, quando não podi- am melhorar as discrepâncias esquelé- ticas severas em crianças, e realizavam a correção da má oclusão apenas na dentadura permanente completa, por meio de compensações ou camuflagem ortodôntica. Os autores enfatizaram que, nos dias atuais, considera-se mais lógico e de bom senso, realizar o trata- mento em duas etapas. Durante a pri- meira fase, controla-se o crescimento do esqueleto facial, melhorando a morfologia geral, para que o posicionamento dentário seja facilita- do na segunda fase do tratamento (me- cânica corretiva). A abordagem ortopédica precoce atenua a complexidade da correção ortodôntica das más oclusões, uma vez que na dentadura permanente, a boa relação entre as bases apicais, maxila e mandíbula, favorecerá o correto posicionamento dentário e a estética facial resultante6, 11. Além disso, se a se- gunda fase do tratamento ortodôntico for necessária, consumirá um menor pe- ríodo de tempo, devido à limitada quan- tidade de movimentação dentária requerida. - Redução do número de casos com extrações de dentes per- manentes Na dentadura permanente, o trata- mento compensatório de discrepâncias sagitais entre as bases apicais, como a Classe II e III esqueléticas, muitas ve- zes exige a extração de pré-molares su- periores e inferiores, respectivamente, para possibilitar a normalização da re- lação interarcos e do trespasse horizon- tal e vertical entre os incisivos. Obvia- mente, a intervenção ortopédica preco- ce, corrigindo a origem do problema, ou seja, a relação ântero-posterior altera- da entre maxila e mandíbula, restrin- girá a necessidade de extrações dentárias6. Ademais, o controle de espaço du- rante o período de transição ou denta- dura mista, com a manutenção e a re- cuperação de espaço para os dentes per- manentes em irrupção, encerra funda- mental importância na prevenção de extrações futuras. - Redução da necessidade de cirur- gia ortognática Muitas discrepâncias esqueléticas severas, como o prognatismo mandibu- lar e a face excessivamente longa, de- formidades de difícil manipulação or- topédica, têm na cirurgia ortognática a única opção de tratamento satisfató- rio. Por outro lado, a abordagem orto- pédica em casos de Classe II, Classe III por deficiência maxilar e de atresias esqueléticas da maxila, pode descartar a necessidade de cirurgia corretiva, fin- da a fase de crescimento6. As vantagens são indiscutíveis, não apenas devido a aspectos financeiros e relacionados aos riscos da própria cirurgia, mas também ao aspecto emocional dos pacientes. Atravessar a árdua fase da adolescên- cia apresentando uma severa deformi- dade facial, a espera da maturidade esquelética para se realizar a cirurgia ortognática, implica em incômodos psi- cológicos para o jovem32. - Aumento da estabilidade da corre- ção morfológica As alterações morfológicas conse- qüentes à correção precoce, provêm em grande parte, do próprio potencial de crescimento e desenvolvimento da cri- ança, o que possui uma conotação am- bígua em termos de estabilidade. Ao mesmo tempo em que favorece a adap- tabilidade e uma maior manutenção dos resultados conseguidos6, em mui- tos casos, a correção ortopédica dos maxilares exige uma contenção, ou pelo menos um monitoramento longitudinal até o final do crescimento37. - Redução do custo biológico: o de- senvolvimento de reabsorções ra- diculares e de problemas perio- dontais O tratamento ortodôntico realizado na dentadura permanente, em uma só fase, apresenta um custo biológico mai- or quando exige maiores quantidades de movimentação dentária e um maior tempo de tratamento corretivo. Estes fatores estão intimamente relacionados com a ocorrência de reabsorções radi- culares. Além disso, os movimentos or- todônticos compensatórios, tendem a transportar os dentes para além dos li- mites do osso alveolar, aumentando as chances de ocorrer fenestrações ósseas e recessões gengivais. - Diminuição da vulnerabilidade dos incisivos superiores a fraturas e traumas A protrusão dos incisivos supe- riores, na má oclusão de Classe II, 1ª divisão, mantida durante toda a infân- cia, aumenta as chances de ocorrer traumas e fraturas destes dentes em acidentes e quedas35. - Maior cooperação do paciente Na decisão da época mais oportu- na para o início do tratamento, a co- laboração do paciente na infância ou na adolescência, constitui um fator de importância. Muitos autores citam que pacientes mais jovens são mais coo- peradores e atenciosos com o trata- mento ortodôntico que a maioria dos adolescentes, principalmente em rela- ção ao uso de aparelhos extrabu- cais5,6,18,32,37. - Benefícios psicológicos A estética facial possui implicações significantes na socialização do ser hu- mano. A percepção de beleza influen- cia o desenvolvimento psicológico des- de a infância até a fase adulta. Pesqui- sas revelaram que crianças aos 6 anos Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 8 8 toda má oclusão tardiamente (na den- tadura permanente) ignora as poten- cialidades biológicas inerentes ao pro- cesso de crescimento e desenvolvimen- to do ser humano. Equiparamos a odontologia à medicina, a medida que valorizamos a atitude médica ao tra- tar uma doença antes que ela se agra- ve e comprometa, reversível ou irre- versivelmente, a saúde do paciente. Portanto, louvamos a filosofia de tra- tamento precoce, quando bem indica- da, pelos incontestáveis benefícios funcional, estético e psicológico pro- porcionados à criança em desenvolvi- mento, como veremos a seguir. CASOS QUE DEVEM SER TRATA- DOS PRECOCEMENTE - Perda precoce de dentes decíduos (Manutenção e recuperação de espaço) Na Ortodontia, a preocupação com a perda precoce de dentes decíduos se fundamenta na perda de espaço que pode ocorrer no arco dentário, com a inclinação dos dentes adjacen- tes em direção ao espaço originado. Deste modo, o sucessor permanente, sem espaço disponível, desvia sua trajetória de irrupção, irrompendo fora do arco dentário, por vestibular de idade já incutiram valores culturais de atratividade física. Aos 8 anos, seus critérios de atratividade se equiparam ao do adulto. Crianças mais belas são mais sociáveis, mais aceitas por seus iguais, e ainda consideradas mais in- teligentes, o que contribui enormemen- te para o desenvolvimento da auto-es- tima32. Baseando-se nestes preceitos, vis- lumbra-se o valor do tratamento preco- ce contribuindo para a auto-imagem da criança em desenvolvimento. DESVANTAGENS DO TRATA- MENTO PRECOCE - Dificuldades em prever o rumo do processo de crescimento e desenvol- vimento craniofacial O tratamento precoce requer do ortodontista uma previsão da morfolo- gia futura na dentadura permanente, a partir da avaliação da dentadura decídua ou mista11,30. Esta tarefa com- plexa, necessita do conhecimento so- bre o crescimento e desenvolvimento da face e da dentição, assim como da pluralidade de eventos, genéticos e ambientais, que interferem em todo este processo. Desta forma, a dúvida quanto ao rumo do desenvolvimento craniofacial, assim com a carência de conhecimentos, podem inibir o profis- sional de intervir precocemente. - Menor domínio da manipulação or- topédica dentofacial, quando compa- rado à biomecânica da movimenta- ção dentária As tradicionais aparelhagens com bráquetes, utilizados na dentadura per- manente durante a mecânica corretiva, permitem o controle tridimensional da movimentação dentária. O conheci- mento da biomecânica apoia-se em con- ceitos exatos da física, e portanto, os profissionais possuem um grande do- mínio do tratamento com estes dispo- sitivos. Por outro lado, os efeitos dos aparelhos ortopédicos, principalmente os funcionais, baseiam-se essencial- mente na resposta biológica do pacien- te, o que não demonstra a mesma exa- tidão matemática. - Prolongamento do período cronoló- gico de tratamento De acordo com MOYERS; RIOLO18, contabiliza-seo tempo de tratamento pelo número de horas gastos na cadei- ra do dentista, e não pelo período cro- nológico do início ao término do trata- mento. Portanto, a ortodontia realiza- da em duas fases dispende menos ho- ras clínicas, e um maior “período do ca- lendário”. No entanto é notório que, durante um tratamento prolongado, a coope- ração do paciente decresce, o que exi- ge do profissional a racionalização e o bom senso para se intervir precoce- mente. Conclui-se que para cada tipo de má oclusão, e em cada caso individualmen- te, há que se avaliar a relação custo-be- nefício da intervenção precoce, a fim de se decidir a época mais oportuna para o início do tratamento. O diagnóstico de inconvenientes estéticos e funcionais as- sociados à má oclusão, aliado a uma vi- são futura de como a irregularidade vai evoluir para a dentadura permanente, conduzem o profissional a optar pelo tra- tamento precoce quando suas vanta- gens superam as desvantagens. O pensamento simplista de tratar FIGURA 1- Perda de espaço proveniente da inclinação mesial do primeiro molar in- ferior. FIGURA 2- A insuficiência de espaço para irrupção do segundo pré-molar foi ocasio- nada pela inclinação mesial do primeiro molar e pela inclinação distal do primeiro pré-molar, após a perda precoce do se- gundo molar decíduo. FIGURA 3 e 4 - As radiografias panorâmicas evidenciam a perda de espaço para cani- nos e pré-molares, tanto no arco superior quanto no inferior. Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 8 9 ou lingual, ou ainda permanece impactado (FIG. 1, 2, 3 e 4). Com a má oclusão instalada, principalmente no arco inferior, não resta outra opção de tratamento senão a extração de pré- molares associado à mecânica orto- dôntica, para, respectivamente, pro- porcionar o espaço necessário e posicionar os dentes corretamente no arco dentário. Diante da perda precoce de dentes decíduos e no intento de evitar o es- tabelecimento da má oclusão, deve-se recorrer aos mantenedores de espaço, pois impedem a migração dos dentes adjacentes para o espaço futuramen- te ocupado pelo sucessor permanen- te. Há diversos tipos de mantenedo- res, removíveis ou fixos, funcionais e não funcionais (FIG. 5, 6, 7, 8 e 9), se- lecionados de acordo com a coopera- ção do paciente, o número de dentes ausentes, e a região do arco dentário. Os mantenedores funcionais apresen- tam dentes de acrílico, o que acrescenta vantagens estéticas a este tipo de apa- relho, muito utilizado em perdas múl- tiplas de dentes decíduos, principal- mente na região anterior (FIG. 7, 8 e 9). Deve-se salientar que a perda pre- coce de incisivos decíduos, em condi- ções normais, não causa perda de es- paço, mas exige, do mesmo modo, o uso de mantenedores de espaço (fun- cionais) para evitar hábitos de inter- posição de língua e restabelecer a dic- ção e a estética da criança, garantin- do seu bem-estar psicológico (FIG. 7, 8 e 9). No entanto, após algum tempo da extração precoce dos dentes decíduos, quando constata-se a ocorrência de perda de espaço (FIG. 10A e 11A), os mantenedores perdem sua função e os aparelhos mais indicados nestes casos passam a ser os recuperadores de es- paço. Estes aparelhos, que também po- dem ser removíveis ou f ixos, verticalizam os dentes adjacentes, de- volvendo o espaço no arco dentário para o dente permanente, antes de sua irrupção (FIG. 10 e 11). O aparelho re- movível com a mola de Benac (FIG. 10B) mostra-se eficiente apenas an- A B C D FIGURA 7A, B - Perda precoce dos incisivos centrais superiores decíduos; C, D: Restabelecimento da estética por meio de um mantenedor de espaço funcional re- movível. FIGURA 5A, B - Mantenedor de espaço fixo, tipo banda-alça, indicado para perda pre- coce de um único dente decíduo na região posterior do arco. BA BA FIGURA 6A, B - Mantenedor de espaço fixo, denominado arco lingual de Nance, indica- do para perdas múltiplas na região posterior do arco inferior. Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 9 0 tes da irrupção dos segundos molares permanentes, os quais dificultam so- bremaneira a recuperação de espaço. - Hábitos Bucais Os hábitos bucais deletérios alte- ram as funções exercidas pela muscu- latura peri e intrabucal, contribuindo negativamente para o desenvolvimen- to normal da oclusão26. Destacam-se em importância e freqüência, os hábi- tos persistentes de sucção de dedo e chupeta (FIG. 12 e 13), o pressiona- mento lingual atípico (FIG. 14) e a res- piração bucal (FIG. 15). Todos estes hábitos constituem fa- tores etiológicos das más oclusões, uma vez que ocasionam um desequi- líbrio entre as forças musculares que atuam sobre os arcos dentários. É cer- to que nem todas as crianças com há- bitos bucais deletérios desenvolvem más oclusões, porém inúmeros estudos comprovaram o grande vínculo cau- sa-efeito existente entre estes dois fa- tores25, 27. Na presença do hábito, o de- senvolvimento de alterações morfoló- gicas dependerá de sua freqüência, intensidade e duração (Tríade de Graber), assim como da predisposição individual relacionada ao padrão de crescimento facial de cada criança1 (FIG. 16). Desta maneira, evidencia-se a ne- cessidade de intervenção precoce do hábito, numa ação conjunta do den- tista com o otorrinolaringologista, o fonoaudiólogo e o psicólogo, para a remoção dos fatores etiológicos (hábi- tos) e correção das irregularidades mor- fológicas causadas. Neste contexto de abordagem mult idiscipl inar, o otorrinolaringologista trata as obstru- ções das vias aéreas superiores, o or- todontista, o odontopediatra ou o clí- nico geral restabelecem a morfologia dentoesquelética alterada, e posterior- mente, o fonoaudiólogo realiza a ree- ducação da função muscular, garan- tindo, assim, a estabilidade do trata- mento precoce. Nas mãos do odontó- logo fica ainda a responsabilidade de identificar o hábito e encaminhar o pa- ciente para os demais profissionais. A B FIGURA 8A,B,C,D - Mantenedor de espaço fixo funcional. C D A B FIGURA 9A,B,C,D - O dente de acrílico, associado ao expansor fixo tipo arco palatino, funciona como mantenedor de espaço funcional. C D A B FIGURA 10A, B,C,D - Recuperador de espaço removível com mola de Benac para verticalização dos primeiros molares permanentes. DC Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 9 1 Particularmente nos casos de respiração bucal, o diagnóstico deve ser baseado em sinais morfológicos clínicos e radiográficos, como a síndrome da face longa (FIG. 15), a presença de amígda- las hipertróficas (FIG. 17) e a obstrução da nasofaringe pela adenóide (FIG. 18), condições que ditam a necessidade de avaliação por um especialista, o otorri- nolaringologista. A persistência dos hábitos bucais de- letérios durante todo o processo de cres- cimento e desenvolvimento da criança, agrava paulatinamente os desequilíbri- os estruturais e funcionais do sistema estomatognático, dificultando sobre- maneira tanto o tratamento da má oclusão quanto da função neuromus- cular alterada, em idades mais tardias. As más oclusões mais comuns, con- seqüentes aos hábitos bucais deletéri- os, incluem a mordida aberta anterior (FIG. 13, 14 e 19), a atresia maxilar com mordida cruzada posterior (FIG. 20), a protrusão maxilar e a retrusão mandibular, a vestibuloversão dos in- cisivos superiores com ou sem diastemas generalizados na região anterior (FIG. 12 e 14), a linguover- são dos incisivos inferiores (nos hábi- tos de sucção digital), e a sobressaliên- cia excessiva (FIG. 12). - Mordida Aberta Anterior A mordida aberta anterior pode ser definida como a presença de um tres- A B C D FIGURA 11A,B,C,D - Recuperador de espaço fixo, com mola de secção aberta comprimi- da entre os bráquetes colados nos dentes vizinhos ao espaço a ser ampliado. FIGURA 12A,B,C - O hábito de sucção de polegar e a má oclusão conseqüente com a vestibuloversão dos incisivos superiores. A B C FIGURA 13A,B- O hábito de sucção de chupeta ocasionando a mordidaaberta anterior. A B FIGURA 14 - Mordida aberta anterior cau- sada pelo hábito de interposição lingual. Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 9 2 FIGURA 15A,B - A síndrome da face longa associada à respiração bucal. A B FIGURA 16- Padrões faciais: A- Dolicofacial: a altura facial predomina sobre a largura, e o padrão de crescimento predominantemen- te vertical, neste paciente, o torna mais susceptível às más oclusões na presença dos hábitos bucais deletérios, quando comparado aos padrões meso e braquifaciais; B- Mesofacial: observa-se um equilíbrio entre a largura e a altura faciais; C- Braquifacial: a largura da face apresenta-se maior que a altura; A C FIGURA 17- Amígdalas palatinas hiper- tróficas: A- Aspecto radiográfico; B- As- pecto clínico.A B Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 9 3 B passe vertical negativo entre os dentes anteriores superiores e inferiores1,3. Seu principal fator etiológico inclui obstá- culos mecânicos da irrupção dentária e do desenvolvimento alveolar vertical, como os hábitos de sucção e interposição lingual, que determinam a mordida aberta anterior dentária ou dentoalveolar. Em menor freqüência, podem advir ainda de uma discrepân- cia esquelética vertical, onde o padrão de crescimento excessivamente vertical, não acompanhado pelo desenvolvimen- to dentoalveolar nas mesmas propor- ções, ocasiona a mordida aberta ante- rior esquelética18. A interceptação da mordida aberta anterior dentária ou dentoalveolar deve ser realizada, preferencialmente, antes da irrupção dos incisivos perma- nentes, época em que a remoção do hábito de sucção poderá redundar na auto-correção desta má oclusão, sem, no entanto, causar prejuízos psicoló- gicos à criança. Porém, o abandono do hábito nem sempre implicará na auto- correção da mordida aberta, principal- mente quando já estiverem instalados hábitos secundários, como a interpo- sição lingual e/ou labial, e o paciente realizar a respiração bucal. Nestes ca- sos, a má oclusão deve ser intercepta- da adequadamente, evitando o seu agravamento. Para tanto, o clínico geral, o odon- topediatra ou o ortodontista, após identificar os hábitos bucais envolvi- dos na etiologia da mordida aberta, deverá corrigir a morfologia oclusal FIGURA 18 - Exame cefalométrico da nasofaringe: A- Nasofaringe com largura normal; B- Presença da adenóide obstruindo parcial- mente a nasofaringe; C- Obstrução completa da nasofaringe pela adenóide. A B C A B C D E F FIGURA 19 - Interceptação da mordida aberta anterior: A- Vista intrabucal da mordida aberta anterior; B, C- Instalação da placa com grade palatina; D- Após 7 meses de tratamento, a melhora no quadro morfológico; E, F- Na dentadura permanente, a presença de trespasse vertical positivo e relação molar normal descartaram a necessidade de tratamento corretivo. Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 9 4 FIGURA 20 - Mordida cruzada posterior unilateral funcional e o tratamento empre- gando-se a expansão lenta com a placa removível com parafuso. A B C D E alterada, e posteriormente encaminhar o paciente para um tratamento fonoau- diológico, que normalizará a função, as- segurando a estabilidade da correção precoce. O aparelho de eleição para a corre- ção precoce da mordida aberta anterior é a placa com grade palatina, removível ou fixa, que não exerce força alguma sobre as estruturas dentárias, funcio- nando apenas como um obstáculo me- cânico que impede a sucção de dedo ou chupeta, e mantém a língua retruída, não permitindo sua interposição durante a fala e a deglutição (FIG. 19). Deste modo, permite que os incisivos continu- em a irromper até alcançarem uma rela- ção de trespasse vertical adequado1,3. Como a grade palatina age passivamen- te, o tratamento conta com o próprio crescimento facial, e removido os fato- res etiológicos, garante-se a estabilida- de da correção da má oclusão. A expe- riência clínica nos assegura a asserção de que o tratamento precoce das mordi- das abertas anteriores apresenta um óti- mo prognóstico. Na dentadura permanente, não é mais possível a correção da mordida aberta com o emprego da placa com gra- de palatina, uma vez que o potencial de crescimento e desenvolvimento vertical dentoalveolar apresenta-se muito redu- zido. Nesta fase, a mecânica corretiva com o uso de elásticos intermaxilares, ou a cirurgia ortognática, constituem as únicas alternativas para o fechamento da mordida, apresentando uma menor estabilidade quando comparadas à in- tervenção precoce. - Mordida Cruzada Posterior A mordida cruzada posterior, má oclusão caracterizada por uma deficiência nas dimensões transver- sas do arco dentário superior, desenvol- ve-se precocemente, principalmente em decorrência de hábitos bucais deletéri- os, e não se auto-corrige durante o cres- cimento15, mesmo diante do abandono do hábito. A mordida cruzada posterior uni- lateral funcional (MCPUF) constitui o padrão mais freqüente, encontrada em aproximadamente 90% dos casos23. O paciente com MCPUF apresenta um desvio lateral da mandíbula, o que de- termina diferenças no aspecto intra- bucal quando em máxima intercuspi- dação habitual (MIH) e quando em re- lação cêntrica (RC). Em MIH, observa- se a mordida cruzada posterior unila- teral, com a linha média inferior des- viada para o lado alterado e conse- qüentemente, uma relação molar assimétrica entre o lado normal e o lado da mordida cruzada (FIG. 20A, B e C). No entanto, ao posicionar a man- díbula em RC, nota-se que a deficiên- cia transversa do arco superior é si- métrica, pois visualiza-se uma mordi- da de topo bilateralmente, responsável pela instabilidade oclusal e pelo desvio funcional da mandíbula para uma po- sição mais estável (MIH). Com o desvio lateral da mandíbula, os côndilos não ficam concentricamente posicionados nas respectivas fossas articulares, exi- gindo um funcionamento assimétrico da musculatura mastigatória23. Este diagnóstico aclara a necessidade de tra- tamento precoce das mordidas cruza- das, pois a persistência do desvio fun- cional, além de poder ocasionar dores musculares, culmina, após a fase de crescimento, numa assimetria estrutu- ral, cujo tratamento torna-se bem mais complexo15. SILVA FILHO, VALLADARES NETO, ALMEIDA23 preconizam a intervenção precoce nas mordidas cruzadas poste- riores, valendo-se das seguintes justi- ficativas: 1) Aproveita a maior bioplasticidade óssea da criança, obtendo-se respostas mais favoráveis com mecânicas mais simplificadas; 2) Redireciona os germes dos dentes permanentes para uma posição normal sem interferir na odontogênese; 3) Proporciona um melhor relaciona- mento entre as bases ósseas apicais, em casos de mordida cruzada posterior esquelética; 4) Elimina as posições desfavoráveis Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 9 5 da articulação temporomandibular, es- tabelecendo uma relação simétrica da posição do côndilo na fossa articular; 5) Proporciona uma trajetória de fechamento mandibular normal, sem desvios da relação cêntrica; 6) Contribui para uma auto-ima- gem mais favorável da criança, nos ca- sos com comprometimento estético. Portanto, a correção das mordidas cruzadas posteriores deve ser realiza- da em idades precoces, assim que di- agnosticada, contanto que a criança possua maturidade suficiente para re- ceber o tratamento. O tratamento con- siste no aumento das dimensões trans- versas do arco dentário superior, em- pregando aparelhos expansores que liberam forças laterais e promovem a inclinação vestibular dos dentes pos- teriores, a abertura da sutura palatina mediana, ou ambas. De um modo ge- ral, os aparelhos de expansão lenta produzem essencialmente o efeito or- todôntico (FIG. 20 e 21), enquanto os aparelhos de expansão rápida causam maior efeito ortopédico23. - Mordida Cruzada Anterior Dentoalveolar A mordida cruzada anterior carac- teriza-se por um relacionamento ves- tibulolingual anormalentre os incisi- vos superiores e inferiores, onde os pri- meiros apresentam-se posicionados por lingual em relação aos últimos (FIG. 22 e 23). Esta relação de trespas- se negativo espelha alterações den- toalveolares ou esqueléticas21. A mor- dida cruzada anterior dentoalveolar origina-se quando os incisivos supe- riores apresentam-se retroinclinados e/ou os incisivos inferiores inclinados para vestibular, em pacientes com pa- drão basal de Classe I. A mordida cru- zada anterior esquelética, presente nos pacientes com padrão basal de Classe III , advém do retrognatismo B D CA E F G H FIGURA 21 - Mordida cruzada posterior bilateral e o tratamento empregando-se a expansão lenta com o aparelho fixo bihélice. I J Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 9 6 maxilar, do prognatismo mandibular, ou de ambos29. Parece coerente a indicação de tratamento precoce nestes casos, uma vez que as mordidas cruzadas anteriores podem causar desgastes da face vestibular dos dentes supe- riores envolvidos, recessões gengi- vais nos incisivos inferiores, e ain- da podem alterar o crescimento nor- mal dos maxilares no sentido ântero-posterior, causando princi- palmente um hipodesenvolvimento maxilar15. A mordida cruzada anterior den- toalveolar deve ser corrigida empre- gando-se a placa removível ou o arco palatino com molas digitais, que exer- cem forças sobre a superfície lingual dos incisivos superiores, inclinando- os para vestibular (FIG. 22 e 23). An- tes da correção, o profissional deve certificar-se que existe espaço sufici- ente no arco dentário para reposicio- nar os dentes em mordida cruzada, assim como da presença de sobremor- dida adequada para a estabilidade da correção. A mordida cruzada anterior esque- lética será discutida mais adiante, pois constitui característica integrante das más oclusões de Classe III. Ressalta-se ainda que a anquilose dos dentes decíduos, a irrupção ectó- pica dos primeiros molares permanen- tes, e a presença de odontomas ou de dentes supranumerários que interfe- rem na irrupção dos dentes permanen- tes, também constituem casos que de- vem ser tratados precocemente. CASOS QUE PODEM SER TRATADOS PRECOCEMENTE - Discrepância Dente-Osso Negativa Denomina-se discrepância dente- osso negativa a anormalidade em que as dimensões do arco dentário são insuficientes para o alinhamen- FIGURA 22 - Mordida cruzada anterior dentoalveolar: A, B, C- Mordida cruzada ante- rior envolvendo os incisivos centrais superiores, que apresentavam-se inclinados para lingual; D- Instalação da placa removível com mola dupla; E, F, G- Ao final do tratamen- to, o estabelecimento do trespasse horizontal positivo. A B C D E F G A B C FIGURA 23 - Mordida cruzada anterior dentoalveolar envolvendo um único dente, e o tratamento empregando-se um aparelho fixo com mola simples. Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 9 7 to de todos os dentes permanentes. O apinhamento dentário, uma das má oclusões mais comuns, expressa clinicamente a diferença negativa entre o espaço disponível no períme- tro do arco alveolar e o somatório da dimensão mesiodistal de todos os dentes permanentes por mesial dos primeiros molares. Na dentadura permanente comple- ta, o apinhamento dentário pode ser tra- tado, mediante uma mecânica corretiva, com a expansão dos arcos dentários, com desgastes interproximais nos dentes per- manentes, ou por meio de extrações dentárias. A última opção requer um longo período de tratamento e conten- ção, devido à grande quantidade de mo- vimentação dentária realizada. No entanto, os profissionais podem interceptar os problemas relacionados à falta de espaço para os dentes per- manentes, durante o desenvolvimen- to da oclusão. No início da dentadura mista, com a esfoliação dos incisivos decíduos e irrupção dos incisivos per- manentes, aproximadamente 50% das crianças desenvolvem o apinhamento primário24. O desafio do profissional nesta fase consiste em identificar os casos com deficiências de espaço ver- dadeiras, que necessi tam de interceptação, daqueles casos em que o apinhamento possui caráter tempo- rário e faz parte do desenvolvimento normal da oclusão21,24. Os incisivos laterais inferiores po- dem irromper suavemente deslocados para lingual ou rotados, mas acomo- dam-se no arco dentário à medida que se processam os mecanismos de com- pensação da oclusão, principalmente o aumento da distância intercaninos. Deste modo, discrepâncias pequenas, de 2 a 3 milímetros, corrigem-se espon- taneamente e não merecem interven- ção profissional21,24. Os casos com discrepâncias maio- res podem ser tratados precocemen- te, mas exigem um rico conhecimen- to acerca dos eventos biológicos que ocorrem durante todo o processo de crescimento e desenvolvimento da oclusão. Destaca-se no arsenal inter- ceptor, o programa de extrações seri- adas, que permite-nos direcionar a ir- rupção dos dentes permanentes para posições mais favoráveis no arco den- tário, evitando o estabelecimento de uma má oclusão mais grave. Por meio de extrações programadas de dentes decíduos e permanentes, selecionados em determinada sequência e em perí- odos estratégicos, os dentes perma- nentes podem irromper e alinharem- se no arco dentário espontaneamen- te, sem a aplicação de forças19 (FIG. 24). Muitos casos, mesmo subseqüen- temente às extrações seriadas, reque- rem o tratamento com aparelhos fixos na dentadura permanente, para fe- char espaços remanescentes, corrigir a A B C D E F G H Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 9 8 subremordida e as angulações dentá- rias. Na realidade, o tratamento preco- ce das discrepâncias dente-osso nega- tiva não substitui o tratamento corre- tivo. As vantagens de um programa de extrações seriadas consistem sim na simplificação do tratamento corretivo; no favorecimento da estética, desde uma idade precoce; na redução das se- quelas periodontais determinadas pelo mau posicionamento dentário, como as recessões gengivais; e na maior estabi- lidade dos casos tratados. Segundo DALE5, parece lógico que se a formação radicular dos dentes permanentes já se completar numa posição mais favorá- vel, o tratamento apresentará estabili- dade superior. - Classe II Esquelética A má oclusão de Classe II esquelé- tica caracteriza-se por uma posição distal do arco inferior em relação ao superior, resultante de um deficiente relacionamento ântero-posterior entre as bases apicais. Esta discrepância es- quelética reflete as seguintes altera- ções estruturais: a deficiência ou re- trognatismo mandibular, o prognatis- mo maxilar, ou uma associação de ambas16,20. O componente vertical, re- presentado pela altura facial ântero- inferior, pode encontrar-se aumenta- do ou diminuído, evidenciando ou mascarando a desarmonia sagital, res- pectivamente16. Diante de uma discrepância esque- lética, o tratamento mais coerente e ide- al resume-se na modificação do cresci- mento das estruturas ósseas envolvi- das, ou seja, busca-se a correção do fator primário que está determinando a má oclusão. Deste modo, os apare- lhos ortopédicos devem ser empregados durante a fase de crescimento no in- tuito de reduzir ou eliminar o proble- ma esquelético, para que em uma se- gunda fase do tratamento, na denta- dura permanente, a mecânica correti- va realize apenas pequenos movimen- tos dentários, alcançando-se uma oclu- são favorável e uma estética facial agra- dável. Na realidade, a primeira fase do tratamento, essencialmente ortopédi- ca, não deve ser realizada muito pre- cocemente, pois até o jovem alcançar a maturidade esquelética, a continui- dade do crescimento dentro dos pa- drões originais ocasionará grandes re- cidivas morfológicas. As opiniões dos autores são diversificadas quanto à época mais adequada para o tratamen- to ortopédico da Classe II7,16,18,20,34. Em geral, advoga-se que o tratamento da Classe II suave ou moderada deve ser postergado para a fase tardia ou se- gundo período transitórioda dentadu- ra mista. Desta maneira, imediata- mente após o tratamento ortopédico segue-se a mecânica com aparelhos fi- xos, quando todos os dentes perma- nentes apresentarem-se irrompidos na I J L M N O FIGURA 24A-O - Programa de extração seriada: a extração dos caninos decíduos du- rante o primeiro período transitório da dentadura mista concedeu espaço para o alinha- mento dos quatro incisivos, tanto no arco superior quanto no inferior; a extração dos primeiros molares inferiores decíduos acelerou a irrupção dos pré-molares sucessores, permitindo que fossem extraídos antes da irrupção dos caninos; os caninos permanen- tes irromperam alinhados no arco dentário, e o tratamento com aparelho fixo foi implementado apenas para realizar o ajuste final da oclusão. Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 9 9 A B F G C D E H I Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 100 e desenvolvimento vertical dentoal- veolar; 2) Muitas vezes, esta fase coincide com o período de maior ace- leração na velocidade de crescimen- to corporal e facial, ou seja, a por- ção ascendente e o pico da curva de crescimento da adolescência; 3) O tratamento ortopédico-ortodôntico, principalmente nas meninas, se com- pletará aproximadamente no final do período de crescimento, garantin- do a estabilidade dos resultados ob- tidos. PROFFIT20; VAN DER LINDEN, BOERSMA34; McNAMARA16 defendem o início do tratamento mais preco- cemente apenas em casos de discre- pâncias muito graves, com relação de Classe II completa entre os arcos dentários e grandes desequilíbrios funcionais. A seleção do aparelho ortopédico mais adequado depende do diagnós- tico estrutural individual, realizado por meio da análise facial, do exa- me clínico, dos modelos de gesso, e complementado pela avaliação cefa- lométrica. Os aparelhos extrabucais são in- dicados nos casos de protrusão ma- xilar, pois a força por eles geradas, influencia a atividade nas suturas da face média, restringindo o deslo- camento anterior da maxila duran- te o período de tratamento. Como a mandíbula continua a crescer nor- malmente, a relação de Classe II cor- rige-se gradualmente8,16,20 (FIG. 25). Na interceptação da deficiência mandibular, componente mais comum nas más oclusões de Classe II16, utili- za-se os aparelhos ortopédicos funcio- nais, como o Ativador, o Bionator, ou o regulador funcional de Fränkel, que apresentam a característica comum de manter a mandíbula em uma posição protruída, normalizando a função da musculatura intra e extrabucal7,9,16 (FIG. 26). A possibilidade destes aparelhos estimularem o crescimento mandibular constitui assunto contro- verso e muito discutido na literatura atual. Aceita-se que os efeitos esquelé- ticos e dentoalveolares, ocasionados J L M N O P FIGURA 25A, B, C, D, E - Má oclusão de Classe II com prognatismo maxilar e mordida aberta anterior; F, G - Instalação do AEB conjugado com grade palatina para interceptação da má oclusão; H, I, J, L - Ao término da 1ª fase do tratamento, obser- va-se uma melhora na estética facial assim como na relação sagital interarcos; M, N, O, P, Q, R - A 2ª fase do tratamento com aparelhos fixos permitiu a obtenção de uma oclusão estável. Q R cavidade bucal, não obstante os apa- relhos ortopédicos sejam mantidos como contenção durante esta segun- da fase do tratamento. A indicação do tratamento orto- pédico durante o segundo período transitório da dentadura mista alicerça-se em três justificativas im- portantes16,18,20,34: 1) Constitui um pe- ríodo ativo de irrupção dentária, po- dendo o profissional tirar proveito do grande potencial de crescimento Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 101 A B C D E F HG I J FIGURA 26 - Classe II, 1ª divisão com no- tável deficiência mandibular e o tratamen- to ortopédico funcional empregando-se o aparelho Bionator. tanto na mandíbula como também na maxila pelos aparelhos ortopédicos fun- cionais, contribuam conjuntamente para a correção da má oclusão de Classe II36. Ressalta-se ainda que, não só a época de tratamento, mas também o padrão de crescimento facial desempenha um impor- tante papel no êxito do tratamento. O padrão braqui e mesofacial apresentam melhores resultados que o padrão dolicofacial. Indica-se a associação dos aparelhos funcionais com forças extrabucais no tra- tamento da Classe II, em pacientes que apresentam tanto uma protrusão maxi- lar e/ou uma protrusão do arco dentário superior, como um retrognatismo mandi- bular9. Alguns profissionais podem questio- nar as vantagens do tratamento interceptor da má oclusão de Classe II, uma vez que muitos casos exigem a mecanoterapia com aparelhos fixos na dentadura permanente de qualquer for- ma. A maior estética e estabilidade a lon- go-prazo, assim como a redução do nú- mero de extrações, a simplificação da movimentação ortodôntica exigida e a menor necessidade de cirurgias ortognáticas, nos casos tratados ortope- dicamente, fundamentam a opção de tra- tamento precoce. - Falsa Classe III A má oclusão denominada falsa Classe III caracteriza-se pela presença de uma relação de topo entre os incisi- vos superiores e inferiores, que provo- ca o deslizamento da mandíbula para anterior, determinando uma mordida cruzada anterior funcional15. Desta maneira, em máxima intercuspidação habitual (MIH), o paciente apresenta uma relação dentária de classe III com mordida cruzada anterior, enquanto Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 102 que, em relação cêntrica, evidencia-se uma relação interarcos de classe I, com relação de topo entre os incisivos su- periores e inferiores (FIG. 27). A inclinação dos incisivos supe- riores para lingual e/ou dos incisivos inferiores para vestibular são as prin- cipais responsáveis pela interferência oclusal que levam o paciente a ocluir com a mandíbula projetada para an- terior. A persistência deste desvio fun- cional durante todo o período de cres- cimento e desenvolvimento pode im- primir alterações estruturais perma- nentes, uma vez que inibe o cresci- mento anterior da maxila e consolida o deslocamento anterior da mandíbu- la devido à adaptação condilar. O aparelho de Eschler é indicado no tratamento precoce da pseudoclas- se III, pois possibilita a correção das inclinações dentárias, e ao mesmo tempo, um correto posicionamento dos côndilos, normalizando a postu- ra mandibular (FIG. 27). Bimler de- senvolveu este aparelho para a cor- reção da Classe III incipiente, consis- tindo numa placa de acrílico com um arco vestibular, apresentado pela pri- meira vez por Eschler2,31. Trata-se de um arco vestibular que mantém contato com os incisivos inferiores, impedin- do a protrusão mandibular, e quando A B C D E F G H I FIGURA 27 - Falsa Classe III caracteriza- da pelo desvio anterior da mandíbula de RC (G) para MIH (D, E, F). O aparelho progênico (H, I) mantém a mandíbula em uma posição retruída por meio do arco ves- tibular de Eschler. (continua na próxima página). Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 103 ativado, ainda inclina os incisivos para lingual. Se os incisivos superio- res apresentam-se inclinados para lin- gual, pode-se utilizar as molas digitais para vestibularizá-los. O efeito ortodôntico do uso desse aparelho resume-se na inclinação lin- gual dos incisivos inferiores e inclina- ção vestibular dos incisivos superiores. Os efeitos esqueléticos demonstram um reposicionamento mandibular (de MIH para RC), com diminuição do ân- gulo SNB; e o deslocamento anterior do ponto A, devido à liberação do cres- cimento maxilar após a correção da mordida cruzada anterior2. A normali- zação precoce do trespasse horizontal entre os incisivos possibilita que a face continue a crescer normalmente, sus- tentando os resultados da correção precoce. - Classe III por Deficiência Maxilar Inúmeros estudos sobre as carac- terísticas morfológicas da Classe III apontamque esta má oclusão com- J L M N O P FIGURA 27 - (Continuação) Após o tratamento, observa-se a melhora no perfil facial (J, L, M) e o estabelecimento de uma oclusão estável (N, O, P). põe-se pelo prognatismo mandibular, retrognatismo maxilar ou uma asso- ciação de ambos29. O crescimento man- dibular, grandemente controlado por fatores genéticos, pouco pode ser al- terado por meio de aparelhos ortopé- dicos, o que conduz ao pobre prognós- tico de tratamento precoce da Classe III determinada essencialmente pelo prognatismo mandibular. Felizmente, o componente esquelético maxilar res- ponde melhor aos fatores extrínsecos como a aplicação de forças ortopédi- cas12,14, 16,20,28. Neste contexto, ressalta-se o im- prescindível valor de um diagnóstico exato, associando-se a análise clíni- ca do perfil facial com a interpreta- ção das grandezas cefalométricas, no intento de distinguir os componentes esqueléticos principais que delineiam a má oclusão de Classe III. Quando evidencia-se uma retrusão maxilar, o tratamento precoce deve ser indica- do. A expansão rápida da maxila, jun- tamente com o uso de máscaras de protração maxilar, constitui a terapia mais indicada nestes casos12,14, 16,20,28 (FIG. 28). Os efeitos deste tratamen- to incluem o avanço anterior da ma- xila, a protrusão do arco dentário su- perior, e a rotação mandibular para baixo e para trás, imprimindo altera- ções positivas na estética facial e na relação sagital entre os arcos dentá- rios12,28. Quanto menor a idade, mais efetivo os resultados desta interven- ção ortopédica para a retrusão maxi- lar12. Após a correção ortopédica, a con- tenção (uso norturno da máscara de protração, da mentoneira, do apare- lho de Fränkel para Classe III, ou do aparelho progênico) e o acompanha- mento clínico são imprescindíveis para a manutenção dos resultados obtidos. Os pais devem estar cientes de que a resposta individual, neste tipo de má oclusão, não nos permite garantir que tratamentos futuros serão desneces- sários. No entanto, sem dúvida alguma, a intervenção precoce, no mínimo, ame- niza a complexidade da má oclusão estabelecida na dentadura permanente. Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 104 CASOS QUE NÃO DEVEM SER TRATADOS PRECOCEMENTE E IRREGULARIDADES TEM- PORÁRIAS Finalmente, deve ficar claro que, em alguns casos, tratamentos pre- coces não são necessários ou apro- priados. O bom senso profissional deve exc lu i r casos em que a ortodontia preventiva e intercepto- ra apenas aumentaria o tempo e o custo do tratamento, desgastando o paciente, em troca de um benefí- cio mínimo. MOYERS17 contra-in- dica a intervenção precoce quando não existe segurança de que os re- sultados serão mantidos; quando um melhor resultado pode ser con- seguido, com menor esforço, numa outra época; ou quando a imaturi- dade da criança torna o tratamento impraticável. - Fase do “Patinho Feio” Na dentadura mista, o diastema interincisivos centrais e a inclina- ção distal das coroas dos incisivos laterais permanentes, no arco su- perior, são condições transitórias, pertencentes ao quadro de desenvol- vimento normal da oclusão10. Com a irrupção dos caninos superiores permanentes, durante o segundo pe- ríodo transitório da dentadura mis- ta, fecha-se o diastema e normali- za-se a angulação dos incisivos la- terais (FIG. 29 e 30). Portanto, a intervenção precoce, nesse caso, além de desnecessária, pode ocasio- nar a reabsorção radicular dos inci- sivos laterais, quando são pressio- n a d a s c o n t r a o f o l í c u l o pericoronário dos caninos perma- nentes em processo de irrupção. Como toda regra apresenta suas ex- ceções, o diastema interincisivos cen- trais pode ser fechado precocemente quando um ou ambos os incisivos la- terais superiores permanecem retidos por falta de espaço10. Neste caso, o movimento mesial dos incisivos cen- trais proporciona espaço e possibilita a irrupção espontânea dos incisivos la- terais. A B C D E F G H I J FIGURA 28A - J - Tratamento precoce da Classe III por deficiência maxilar empregando-se a expansão rápida da maxila seguida pela protração maxilar com a máscara facial. Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 105 A B C D FE FIGURA 29 - A, B, C) fase do patinho feio caracterizada pela inclinação distal dos incisivos laterais superiores devido ao posiciona- mento dos germes dos caninos permanentes em irrupção; D, E, F) com a irrupção dos caninos permanentes no arco dentário, a inclinação dos incisivos normaliza-se e os diastemas fecham-se. FIGURA 30 - Esquema representativo dos processos de desenvolvimento ocorridos durante a fase do patinho feio. Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.4, n.6, p.87-108 - nov./dez. - 1999 106 - Classe III por prognatismo mandibular A Classe III caracterizada por um prognatismo mandibular apresenta um pobre prognóstico de tratamento precoce. O emprego da mentoneira al- tera o vetor de crescimento mandibu- lar, diminuindo a expressão horizon- tal do mento às custas do aumento da altura facial ântero-inferior16,20 . Além disso, seus efeitos se limitam ao período de tratamento, sem altera- ções definitivas no padrão de cresci- mento mandibular. Aliado ao limitado controle que os aparelhos podem exercer sobre o crescimento mandibular, o fato da má oclusão de Classe III agravar-se ao longo do crescimento29, compro- mete ainda mais os resultados de um tratamento precoce. O surto de crescimento puberal, dado ao au- mento da velocidade de crescimen- to mandibular, pode condenar o êxito de uma intervenção ortodôn- tica prévia. Portanto, em casos mais severos, a correção do prognatismo mandibu- lar deve ser postergada para a fase final da adolescência, quando a mai- or parte do crescimento já se mani- festou. A mecanoterapia com apare- lhos fixos associada à cirurgia ortognática constituem a forma de tratamento mais adequada para es- tes casos, principalmente sob o pon- to de vista estético e funcional. - Classe II com Severa Defici- ência Mandibular A má oclusão de Classe II esque- lética, com marcante deficiência man- dibular, não apresenta bom prognós- tico de tratamento precoce. Estes ca- sos demonstram resultados mais sa- tisfatórios, principalmente em rela- ção à estética, quando tratados cirur- gicamente. - Classe I com Biprotrusão Nos pacientes que apresentam má oclusão de Classe I com biprotrusão dentária, alcança-se uma melhora na estética facial por meio da retração dos incisivos superiores e inferiores, me- diante a mecânica corretiva com ex- trações de quatro primeiros pré-mola- res. Desta maneira, contra-indica-se a abordagem precoce nestes casos. CONCLUSÕES A presente discussão sobre o tra- tamento precoce confirma a citação de CHARLES TWEED33, nos idos de 1960, de que “o conhecimento irá, gra- dualmente, substituir a mecânica se- vera, e em um futuro muito próximo, a grande maioria dos tratamentos or- todônticos será executada durante o período da dentição mista, do cresci- mento e desenvolvimento craniofa- cial, antes da difícil idade da adoles- cência”. A abordagem preventiva e inter- ceptora das más oclusões tem de- monstrado vantagens indiscutíveis, e apenas o comodismo ou o desconhe- cimento são capazes de ignorá-la. preventive and interceptive treatment advantages and disadvantages were shown, as long as the cases that should, that may and that shouldn’t be early treated. Abstract This article aimed to discuss the aspects related to malocclusions early treatment, for guiding the dentist actions concerning the primary and mixed dentition irregularities. Thus the Uniterms: Orthodontics; Malocclusion; Primary dentition; Mixed dentition; Early treatment; Preventive and interceptive treatment; Treatment time. dez. 1997. 08 - HENRIQUES, J.F.C.; FREITAS, M.R.; SANTOS-PINTO, C.C.M. Correção de uma má oclusão de Classe II, div. 1, com protrusão maxilar, utilizan- do o arco facial conjugado a um aparelho removível (AEB conjuga- do). Ortodontia, v.24, n.3, p.14-8, 1991.09 - HENRIQUES, J.F.C.; FREITAS, M.R.; SCAVONE JUNIOR, H. 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