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Apostila Diversidade Étnico racial e de gênero (1)

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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL DE GÊNERO 
 
1 
 
 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E 
DE GÊNERO 
BELO HORIZONTE / MG 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL DE GÊNERO 
 
2 
 
Sumário 
CONTEXTO E DEFINIÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS........................................... 4 
NORMAS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS .......................................... 5 
TRATADOS ................................................................................................................ 5 
COSTUME ................................................................................................................. 6 
DECLARAÇÕES, RESOLUÇÕES ETC. ADOTADAS PELOS ÓRGÃOS DAS 
NAÇÕES UNIDAS ................................................................................................................. 6 
PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DOS DIREITOS HUMANOS .................................... 7 
O Iluminismo .......................................................................................................................... 7 
Revolução Francesa .............................................................................................................. 8 
O término da Segunda Guerra Mundial ................................................................................. 8 
DOCUMENTOS IMPORTANTES PARA A FORMAÇÃO E RECONHECIMENTO DAS 
LIBERDADES ...................................................................................................................... 10 
ORIGEM DOS DIREITOS HUMANOS ..................................................................... 13 
AS DECLARAÇÕES DE DIREITOS ......................................................................... 15 
ARTIGOS DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS: ............... 15 
A ORIGEM E FORMAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS INDIVIDUAIS NO 
BRASIL ................................................................................................................................ 20 
A Origem Do Conceito De Cidadania E Sua Importância Para O Advento Dos Estados 
Modernos............................................................................................................................. 22 
A INEXISTÊNCIA DE REVOLUÇÕES BURGUESAS NO BRASIL E SUAS 
CONSEQUÊNCIAS ............................................................................................................. 23 
MOVIMENTOS SOCIAIS E CIDADANIA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO ............ 27 
SOCIEDADES MULTICULTURAIS .......................................................................... 28 
Cenário Pós-Colonial ........................................................................................................... 29 
CONCEITOS DE CULTURA, IDENTIDADE E DIFERENÇA .................................... 31 
Identidade Cultural ............................................................................................................... 32 
Igualdade E Diferença ......................................................................................................... 34 
Universalismo e Relativismo ................................................................................................ 35 
QUESTÕES E TENSÕES NO COTIDIANO: GÊNERO, RAÇA, ORIENTAÇÃO 
SEXUAL E RELIGIÃO ......................................................................................................... 38 
ETNOCENTRISMO, ESTEREÓTIPO E PRECONCEITO ......................................... 40 
EDUCAÇÃO MULTICULTURAL ............................................................................... 47 
CURRÍCULO E INTERCULTURALIDADE ................................................................ 49 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL DE GÊNERO 
 
3 
 
Origem da Atenção à Multiculturalidade............................................................................... 50 
A Educação Intercultural na renovação de um currículo que concretize o Princípio da “Escola 
para Todos” ......................................................................................................................... 51 
A Educação nas Respostas ao Multiculturalismo ................................................................. 52 
Estratégias Pedagógicas e Perspectiva Intercultural ........................................................... 55 
DIREITOS HUMANOS, CIDADANIA E DEMOCRACIA ............................................ 58 
CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS E SUA RELAÇÃO COM O 
ESPAÇO ESCOLAR ............................................................................................................ 60 
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) ............................................ 63 
OS DIREITOS HUMANOS NA HISTÓRIA ................................................................ 65 
Conquista da Babilônia ........................................................................................................ 66 
O Império Romano .............................................................................................................. 67 
Idade Média ......................................................................................................................... 69 
Idade Moderna..................................................................................................................... 71 
Revolução Gloriosa e a Petition Of Rights ........................................................................... 71 
Declaração dos Povos da Virgínea ...................................................................................... 72 
Declaração de Independência dos EUA............................................................................... 73 
Revolução Francesa ............................................................................................................ 74 
Idade Contemporânea ......................................................................................................... 75 
Constituição Mexicana de 1917 e a Constituição de Weimar ............................................... 75 
Liga das Nações e a Criação da ONU ................................................................................. 75 
DOCUMENTOS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO E SUA RELAÇÃO ................ 76 
Quais os princípios da ONU? ............................................................................................... 79 
Por que a ONU foi criada? ................................................................................................... 80 
Como é a estrutura da ONU ................................................................................................ 80 
Onde a ONU está sediada ................................................................................................... 81 
Como são as reuniões da ONU? ......................................................................................... 81 
A Assembleia-Geral da ONU ............................................................................................... 81 
O Conselho de Segurança da ONU ..................................................................................... 82 
CONSELHO ECONÔMICO E SOCIAL ..................................................................... 84 
CONSELHO DE TUTELA ......................................................................................... 84 
CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA ................................................................. 85 
SECRETARIADO ..................................................................................................... 86 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA .......................................................................................... 86 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL DE GÊNERO 
 
4 
 
CONTEXTO E DEFINIÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 
 
 
Os direitos humanos são comumente compreendidos como aqueles direitos inerentes 
ao ser humano. O conceito de Direitos Humanos reconhece que cada ser humano pode 
desfrutar de seus direitos humanos sem distinção de raça, cor, sexo, língua,religião, opinião 
política ou de outro tipo, origem social ou nacional ou condição de nascimento ou riqueza. 
Os direitos humanos são garantidos legalmente pela lei de direitos humanos, 
protegendo indivíduos e grupos contra ações que interferem nas liberdades fundamentais e 
na dignidade humana. 
Estão expressos em tratados, no direito internacional consuetudinário, conjuntos de 
princípios e outras modalidades do Direito. A legislação de direitos humanos obriga os 
Estados a agir de uma determinada maneira e proíbe os Estados de se envolverem em 
atividades específicas. No entanto, a legislação não estabelece os direitos humanos. Os 
direitos humanos são direitos inerentes a cada pessoa simplesmente por ela ser um humano. 
Tratados e outras modalidades do Direito costumam servir para proteger formalmente 
os direitos de indivíduos ou grupos contra ações ou abandono dos governos, que interferem 
no desfrute de seus direitos humanos. 
Algumas das características mais importantes dos direitos humanos são: 
• Os direitos humanos são fundados sobre o respeito pela dignidade e o valor de cada 
pessoa; 
• Os direitos humanos são universais, o que quer dizer que são aplicados de forma igual 
e sem discriminação a todas as pessoas; 
• Os direitos humanos são inalienáveis, e ninguém pode ser privado de seus direitos 
humanos; eles podem ser limitados em situações específicas. Por exemplo, o direito à 
liberdade pode ser restringido se uma pessoa é considerada culpada de um crime diante 
de um tribunal e com o devido processo legal; 
Fonte: www.significados.com.br 
 
http://www.un.org/en/sections/issues-depth/human-rights/index.html
http://www.un.org/en/sections/issues-depth/human-rights/index.html
http://www.un.org/en/sections/issues-depth/human-rights/index.html
 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO 
5 
 
• Os direitos humanos são indivisíveis, inter-relacionados e interdependentes, já que é 
insuficiente respeitar alguns direitos humanos e outros não. Na prática, a violação de 
um direito vai afetar o respeito por muitos outros; 
• Todos os direitos humanos devem, portanto, ser vistos como de igual importância, 
sendo igualmente essencial respeitar a dignidade e o valor de cada pessoa. 
 
NORMAS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS 
A expressão formal dos direitos humanos inerentes se dá através das normas 
internacionais de direitos humanos. Uma série de tratados internacionais dos direitos 
humanos e outros instrumentos surgiram a partir de 1945, conferindo uma forma legal aos 
direitos humanos inerentes. 
A criação das Nações Unidas viabilizou um fórum ideal para o desenvolvimento e a 
adoção dos instrumentos internacionais de direitos humanos. Outros instrumentos foram 
adotados a nível regional, refletindo as preocupações sobre os direitos humanos particulares 
a cada região. 
A maioria dos países também adotou constituições e outras leis que protegem 
formalmente os direitos humanos básicos. Muitas vezes, a linguagem utilizada pelos Estados 
vem dos instrumentos internacionais de direitos humanos. 
As normas internacionais de direitos humanos consistem, principalmente, de tratados 
e costumes, bem como declarações, diretrizes e princípios, entre outros. 
 
TRATADOS 
Um tratado é um acordo entre os Estados, que se comprometem com regras 
específicas. Tratados internacionais têm diferentes designações, como pactos, cartas, 
protocolos, convenções e acordos. Um tratado é legalmente vinculativo para os Estados que 
tenham consentido em se comprometer com as disposições do tratado – em outras palavras, 
que são parte do tratado. 
Um Estado pode fazer parte de um tratado através de uma ratificação, adesão ou 
sucessão. 
A ratificação é a expressão formal do consentimento de um Estado em se 
comprometer com um tratado. Somente um Estado que tenha assinado o tratado 
anteriormente – durante o período no qual o tratado esteve aberto a assinaturas – pode 
ratificá-lo. 
A ratificação consiste de dois atos processuais: a nível interno, requer a aprovação 
pelo órgão constitucional apropriado – como o Parlamento, por exemplo. A nível internacional, 
de acordo com as disposições do tratado em questão, o instrumento de ratificação deve ser 
formalmente transmitido ao depositário, que pode ser um Estado ou uma organização 
internacional como a ONU. 
https://treaties.un.org/
https://treaties.un.org/
 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO 
6 
 
A adesão implica o consentimento de um Estado que não tenha assinado 
anteriormente o instrumento. Estados ratificam tratados antes e depois de este ter entrado em 
vigor. O mesmo se aplica à adesão. 
Um Estado também pode fazer parte de um tratado por sucessão, que acontece em 
virtude de uma disposição específica do tratado ou de uma declaração. A maior parte dos 
tratados não são auto executáveis. Em alguns Estados tratados são superiores à legislação 
interna, enquanto em outros Estados tratados recebem status constitucional e em outros 
apenas certas disposições de um tratado são incorporadas à legislação interna. 
Um Estado pode, ao ratificar um tratado, formular reservas a ele, indicando que, 
embora consinta em se comprometer com a maior parte das disposições, não concorda com 
se comprometer com certas disposições. No entanto, uma reserva não pode derrotar o objeto 
e o propósito do tratado. 
Além disso, mesmo que um Estado não faça parte de um tratado ou não tenha 
formulado reservas, o Estado pode ainda estar comprometido com as disposições do tratado 
que se tornaram direito internacional consuetudinário ou constituem normas imperativas do 
direito internacional, como a proibição da tortura. Todos os tratados das Nações Unidas estão 
reunidos em treaties.un.org. 
 
COSTUME 
O direito internacional consuetudinário – ou simplesmente “costume” – é o termo usado 
para descrever uma prática geral e consistente seguida por Estados, decorrente de um 
sentimento de obrigação legal. 
Assim, por exemplo, enquanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos não é, 
em si, um tratado vinculativo, algumas de suas disposições têm o caráter de direito 
internacional consuetudinário. 
 
DECLARAÇÕES, RESOLUÇÕES ETC. ADOTADAS PELOS ÓRGÃOS DAS NAÇÕES 
UNIDAS 
Normas gerais do direito internacional – princípios e práticas com os quais a maior 
parte dos Estados concordaria – constam, muitas vezes, em declarações, proclamações, 
regras, diretrizes, recomendações e princípios. 
Apesar de não ter nenhum feito legal sobre os Estados, elas representam um consenso 
amplo por parte da comunidade internacional e, portanto, têm uma força moral forte e inegável 
em termos na prática dos Estados, em relação a sua conduta das relações internacionais. 
O valor de tais instrumentos está no reconhecimento e na aceitação por um grande 
número de Estados e, mesmo sem o efeito vinculativo legal, podem ser vistos como uma 
declaração de princípios amplamente aceitos pela comunidade internacional. 
https://treaties.un.org/
https://treaties.un.org/
https://treaties.un.org/
 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO 
7 
 
A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, por exemplo, 
recebeu o apoio dos Estados Unidos em 2010, o último dos quatro Estados membros da ONU 
que se opuseram a ela. 
Ao adotar a Declaração, os Estados se comprometeram a reconhecer os direitos dos 
povos indígenas sob a lei internacional, com o direito de serem respeitados como povos 
distintos e o direito de determinar seu próprio desenvolvimento de acordo com sua cultura, 
prioridades e leis consuetudinárias (costumes). 
 
PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DOS DIREITOS HUMANOS 
Não há dúvidas de que os direitos humanos são dotados de indeclinável e inegável 
importância; eles são base de todos os ordenamentos jurídicos, requisito indispensável para 
se qualificar, verdadeiramente, um Estado como democrático. 
Como já restou assentado pelo SupremoTribunal Federal, em mais de uma 
oportunidade, no Estado de Direito democrático “devem ser intransigentemente respeitados 
os princípios que garantem a prevalência dos direitos humanos”[1]. 
Dessa ideia inicial extrai-se uma das justificativas para o desenvolvimento de uma 
Teoria Geral dos Direitos Humanos. Um dos tópicos mais relevantes para compreensão da 
Teoria é a leitura dos direitos dos homens partindo-se de diferentes perspectivas históricas. 
Dessa forma, almeja-se no presente artigo vislumbrar a historicidade dos direitos 
partindo-se de pontos não iguais, embora conectados. Tais perspectivas são: os marcos mais 
citados, os pensamentos mais significativos e os documentos mais relevantes. 
É importante sublinhar que aqui se campeia em terrenos de suma imprescindibilidade 
dentro da supracitada Teoria Geral, cujo enfoque atende a uma das principais características 
dos direitos humanos, qual seja: a sua historicidade. Esta vem sempre acompanhada de 
tantas outras características citadas pela mais vasta doutrina (v.g.: universalidade, 
essencialidade, irrenunciabilidade, inalienabilidade, indisponibilidade, inesgotabilidade, 
inexauribilidade, imprescritibilidade, efetividade, inviolabilidade, complementaridade, 
limitabilidade, vedação ao retrocesso, indivisibilidade e inter-relacionaridade). 
Adentra-se, então, no estudo da evolução histórica dos direitos humanos partindo-se 
da perspectiva relacionada aos marcos mais citados. 
Podem ser destacados três marcos históricos fundamentais, quais sejam: o 
Iluminismo, a Revolução Francesa e o término da Segunda Guerra Mundial. 
 
O Iluminismo 
O Iluminismo (ou Era da Razão) configurou revolução intelectual que se efetivou no 
continente europeu, particularmente na França, durante o século XVIII. Esse movimento 
representou o auge das transformações culturais iniciadas no século XIV pelo movimento 
renascentista, e colocou em destaque os valores da burguesia, favorecendo o aumento dessa 
camada social. 
http://unicrio.org.br/docs/declaracao_direitos_povos_indigenas.pdf
http://unicrio.org.br/docs/declaracao_direitos_povos_indigenas.pdf
 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO 
8 
 
O Iluminismo procurava uma explicação por meio da razão para todos os 
acontecimentos; rompendo, assim, com as formas de pensar que até o momento eram 
aceitas. Alguns princípios podem ser destacados como norteadores da sociedade à época, 
quais sejam: a busca da felicidade; a garantia dos direitos, da liberdade individual e da livre 
posse de bens pelo governo; a tolerância para a expressão de ideias; e a igualdade perante 
a lei[5]. 
Entre os principais filósofos do movimento, podem ser citados: John Locke (1632-
1704); Voltaire (1694-1778); Jean-Jacques Rousseau (1712-1778); Montesquieu (1689-
1755); Denis Diderot (1713-1784); e Jean Le Rond d´Alembert (1717-1783). 
Cabe, nessa altura, também fazer referência ao movimento do Humanismo. Tal 
movimento exaltava o valor humano como meio e finalidade. O Humanismo difundiuse por 
toda a Europa e caracterizou o início da cultura moderna. Para o pensamento humanista o 
valor fundamental de uma doutrina é o homem, seu sentimento, sua originalidade e sua 
superioridade sobre os outros animais. O homem passa a ser visto como um ser que pode 
construir seu próprio destino. 
 
Revolução Francesa 
Eis que ganha importância a Revolução Francesa, que foi um movimento político e 
social que questionava os privilégios da nobreza e do clero, bem como o poder absoluto do 
monarca. Por volta de 1789, a França enfrentava uma grave crise econômica, sendo que a 
maioria dos trabalhadores rurais pagava excessiva carga tributária. Já a indústria funcionava 
de forma muito artesanal e o comércio também enfrentava dificuldades. 
Dentre as principais vitórias dos revoltosos franceses, está a proclamação da 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, documento dos mais 
indispensáveis para a evolução concreta dos direitos humanos. Ele assegura, dentre outros 
direitos, a liberdade, a igualdade e a propriedade. A Declaração, inspirada em ideias 
iluministas, serviu de base para a construção de diversas Constituições de Estados 
Democráticos. A Revolução Francesa incentivou muitos outros movimentos revolucionários 
nas décadas seguintes, marcando a luta pelo fim dos privilégios sociais e pela promoção da 
dignidade humana. 
O lema da Revolução Francesa era: liberdade, igualdade e fraternidade. Tais ideias 
representam as três primeiras e clássicas gerações ou dimensões de direitos. 
Nessa conjuntura, calha sublinhar a doutrina de Immanuel Kant, exposta em suas 
obras Crítica da Razão Pura (1781), Crítica da Razão Prática (1788) e a Crítica do Juízo 
(1790). Com arrimo em uma vertente racionalista, Kant definiu o Estado como instrumento de 
produção das leis, representando os cidadãos, sendo a liberdade o principal fundamento para 
se valorizar a dignidade humana. 
 
O término da Segunda Guerra Mundial 
Por fim, o terceiro marco histórico que merece destaque é o término da Segunda 
Guerra Mundial, em 1945. O período pós-guerra instaurou uma nova lógica planetária, 
exaltando a importância do indivíduo como um dos novos sujeitos do Direito Internacional. O 
https://jus.com.br/tudo/posse
https://jus.com.br/tudo/posse
https://jus.com.br/tudo/posse
https://jus.com.br/tudo/posse
 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO 
9 
 
Estado não é mais o único ator internacional, o instituto da soberania é flexibilizado e o Direito 
Internacional dos Direitos Humanos emerge. Este é materializado pelo sistema global de 
proteção aos direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), posteriormente 
complementado pelos sistemas regionais (europeu, americano e africano). 
Dos marcos históricos mais citados lança-se, a partir de agora, ao estudo dos 
pensamentos mais significativos. 
Findada a Segunda Guerra em 1945 exalta-se uma nova corrente de pensamento, a 
qual normalmente é aprofundada nas obras de Direito Constitucional. Todavia, merece aqui 
destaque, porque além de fortemente influenciar a salvaguarda interna dos direitos 
(fundamentais), também respingou suas balizas nas normativas internacionais (direitos 
humanos). Trata-se do pós-positivismo. 
Transpassados o jus naturalismo e o positivismo, ocupou lugar o pós positivismo. 
Todavia, entender os dois primeiros pensamentos é premissa para se chegar à compreensão 
do terceiro. 
Conforme Barroso, o jus naturalismo está fundado na existência de um Direito natural, 
sua concepção consiste no reconhecimento de que há valores e pretensões humanas 
legítimas que não decorrem de uma norma jurídica emanada do Estado, i.e., independem do 
Direito positivo. Esse Direito natural tem validade em si, legitimado por uma ética superior que 
estabelece limites à própria norma estatal[11]. 
Já o positivismo “foi fruto de uma idealização do conhecimento científico, uma crença 
romântica e onipotente de que os múltiplos domínios da indagação e da atividade intelectual 
pudessem ser regidos por leis naturais, invariáveis, independentes da vontade e da ação 
humana. (...) O positivismo comportou algumas variações e teve seu ponto culminante no 
normativismo de Hans Kelsen”. 
 Ainda de acordo com a doutrina do professor Barroso, a “superação histórica do jus 
naturalismo e o fracasso político do positivismo abriram caminho para um conjunto amplo e 
ainda inacabado de reflexões acerca do Direito, sua função social e sua interpretação. O pós-
positivismo é a designação provisória e genérica de um ideário difuso, no qual se incluem a 
definição das relações entre valores, princípios e regras, aspectos da chamada nova 
hermenêutica e a teoria dos direitos fundamentais”. 
Com o pós-positivismo, distinguem-se dois institutos: o princípio e a regra. Ambos são 
espécies do termo norma e, ambos, possuem normatividade. Na linha desse pensamento, 
Canotilho refere-se ao sistema jurídicodo Estado Democrático português como um “sistema 
normativo aberto de regras e princípios”. A mudança “de paradigma nessa matéria deve 
especial tributo às concepções de Ronald Dworkin e aos desenvolvimentos a ela dados por 
Robert Alexy. A conjugação das ideias desses dois autores dominou a teoria jurídica e passou 
a constituir o conhecimento convencional da matéria”. 
Em complemento, e já em fase conclusiva, levando em conta sua importância para a 
compreensão evolutiva dos direitos dos seres humanos, calha abordar a perspectiva histórica 
dos direitos partindo do estudo sobre os documentos mais relevantes indicados pela doutrina 
especializada. Por derradeiro, o rol não é taxativo, meramente exemplificativo, contudo, o 
arcabouço de fontes a seguir delineado ocupa papel de realce para a consolidação de direitos 
básicos, garantidores de um mínimo existencial. 
https://jus.com.br/tudo/direitos-humanos
https://jus.com.br/tudo/direitos-humanos
https://jus.com.br/tudo/direitos-humanos
https://jus.com.br/tudo/jusnaturalismo
https://jus.com.br/tudo/jusnaturalismo
https://jus.com.br/tudo/jusnaturalismo
 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO 
10 
 
 
DOCUMENTOS IMPORTANTES PARA A FORMAÇÃO E RECONHECIMENTO DAS 
LIBERDADES 
Como outrora indiciado, a historicidade também pode ser representada pela cronologia 
dos documentos importantes para a formação e reconhecimento das liberdades. 
 
Magna Carta 
O primeiro documento majoritariamente referido pela doutrina quanto aos direitos 
humanos é a Magna Carta, de 1215. Trata-se de um acordo entre reis e barões revoltados. 
Ela direciona-se à proteção dos direitos dos ingleses, originários da law of the land (lei da 
terra). Embora restrita aos ingleses, ela é o nascedouro dos direitos, tendo influenciado 
inúmeros outros documentos. Seu principal desiderato é a limitação do poder do rei. A 
judicialidade é um dos princípios do Estado de Direito. 
Prevê, v.g., direito de ir e vir, propriedade privada e graduação da pena do delito. 
 
Petition of Rights 
Em 1628 adota-se a Petition of Rights. Ela reafirmou os direitos da Magna Carta, dando 
ênfase à, v.g., propriedade e à proibição da detenção arbitrária. 
 
Habeas Corpus Act 
O Habeas Corpus Act data de 1679, remete ao habeas corpus, uma das mais 
relevantes garantias aos direitos humanos já criadas na história da Humanidade. Este 
documento foi fortemente influenciado pela Magna Carta e almejava, principalmente, garantir 
o direito de ir e vir. 
 
Bill of Rights 
A Declaração de Direitos de 1689, ou Bill of Rights, submete a monarquia inglesa à 
soberania popular. Ela limita a autoridade real. Ao rei não mais é permitido suspender leis ou 
as descumprir, muito menos pode cobrar tributos sem o consentimento do Parlamento. 
Assegura-se a supremacia do Parlamento. Neste momento, são dados passos importantes 
para a definição da separação de poderes. 
 
Rule of Law 
Os quatro documentos citados (Magna Carta, Petition of Rights, Habeas Corpus Act e 
Bill of Rights) exaltam a regra da Rule of Law, que dispõe sobre a necessidade de todos se 
sujeitarem ao Direito (Estado de Direito), inclusive os detentores do poder. 
 
https://jus.com.br/tudo/propriedade
https://jus.com.br/tudo/propriedade
https://jus.com.br/tudo/propriedade
https://jus.com.br/tudo/separacao
https://jus.com.br/tudo/separacao
https://jus.com.br/tudo/separacao
https://jus.com.br/tudo/habeas-corpus
https://jus.com.br/tudo/habeas-corpus
https://jus.com.br/tudo/habeas-corpus
https://jus.com.br/tudo/habeas-corpus
 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO 
11 
 
Declaração de Virgínia 
Uma noção mais clara de direitos individuais é instaurada com a Declaração de 
Virgínia, de 1776, a qual abre caminho para a independência dos Estados Unidos. Ela 
preceitua sobre o direito de igualdade, o poder emanado do povo, o direito à felicidade, a 
separação de poderes, o direito geral ao sufrágio e o direito à propriedade. Em 04 de julho de 
1776 há também a Declaração Americana da Independência. 
 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 
No ano de 1789, aprova-se a, importante é já citada, Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão, proclamada na França. É a mais famosa de todas as Declarações. É 
curioso ressaltar que ela ainda está em vigor na França e integra o bloco de 
constitucionalidade daquele país. Sua finalidade principal é proteger os direitos dos homens 
contra os atos do governo. Seu objetivo imediato é instruir os indivíduos de seus direitos 
fundamentais; possuindo, para tanto, interessante caráter pedagógico. Como é uma 
Declaração, os direitos nela são apenas recordados, pois preexistem a ela. A igualdade 
perante a lei é o elemento essencial da Declaração, conforme seu art. 6º. O presente 
documento, decorrente da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade), foi a 
base para a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, de 1948. 
 
 
Constituição Francesa 
Outra fonte histórica dos direitos humanos é a Constituição Francesa, de 
1848, fundamental para a futura consagração dos direitos econômicos e sociais 
(segunda geração) nas Leis Fundamentais dos demais países. 
 
Constituição do México 
Mais recente, mas mesmo assim influenciadora, foi a Constituição do México, de 1917. 
Ela constitucionalizou de forma expressa os direitos econômicos, sociais e culturais[17] e 
exaltou a função social da propriedade. O seu art. 123 tratava de vários assuntos inéditos em 
âmbito constitucional, tais como a limitação da jornada de trabalho, a disciplina do trabalho de 
menores, bem como a limitação de horas diárias para os menores, a limitação de horas de 
jornada de trabalho noturno, o descanso semanal, o salário mínimo, a igualdade salarial, o 
direito de greve e outros institutos inovadores que vieram proteger os hipossuficientes 
integrantes das relações de trabalho. 
 
Declaração Russa dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado 
A Declaração Russa dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado, de 1918, merece 
destaque, já que visava, conforme seu Capítulo II, “precipuamente a suprimir toda exploração 
do homem pelo homem, a abolir completamente a divisão da sociedade em classes, a 
esmagar implacavelmente todos os exploradores, a instalar a organização socialista da 
sociedade e a fazer triunfar o socialismo em todos os países (...)”. 
https://jus.com.br/tudo/jornada-de-trabalho
https://jus.com.br/tudo/jornada-de-trabalho
https://jus.com.br/tudo/jornada-de-trabalho
 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO 
12 
 
 
Constituição alemã de Weimer 
A Constituição alemã de Weimer, de 1919, surgiu como fruto da Primeira Guerra 
Mundial. O Estado Democrático Social, cujos parâmetros já haviam sido delineados pela 
Constituição mexicana de 1917, adquiriu com a Constituição alemã uma melhor estruturação. 
E, tal como a Constituição do México, os direitos trabalhistas e previdenciários ganharam o 
status de direitos fundamentais. Ela estabeleceu um novo modelo constitucional para os 
direitos sociais e influenciou muitas outras, como a Constituição brasileira de 1934. 
 
Tratado de Versailles, Carta da ONU, e a Declaração Universal dos Direitos Humanos 
É possível, por fim, realçar outros documentos, como o Tratado de Versailles, de 1919 
(que criou a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho – OIT), a Carta da 
ONU, de 1945, e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. 
As atrocidades resultantes da Primeira Grande Guerra (1914-1918) geraram um 
sentimento de necessidade de pacificação mundial. Dessa forma, celebrou-se o Tratado de 
Versailles, em 28 de junho de 1919. Em anexo a esse documento foi aprovado o Pacto da 
Sociedade das Nações ou Liga das Nações. 
Além da Liga das Nações foi criada a Organização Internacional do Trabalho, em 1919, 
também pelo Tratado de Versailles, ou Tratado de Paz, resultado da Conferência da Paz. 
Esse documentoentrou em vigor em 10 de janeiro de 1920. A disciplina da OIT constava, 
mais especificamente, na Parte XIII do Tratado. 
 
Carta de São Francisco ou Carta da ONU 
Em razão do fracasso da Sociedade das Nações em evitar a Segunda Grande Guerra, 
celebrou-se a Carta de São Francisco ou Carta da ONU, de 1945. A atual Organização das 
Nações Unidas veio substituir a combalida Liga. 
 
Declaração Universal de 1948 
Além da Carta da ONU merece referência a Declaração Universal de 1948. Entretanto, 
aconselha-se sua compreensão dentro da noção de Carta Internacional dos Direitos Humanos 
ou Declaração Internacional de Direitos (International Bill of Rights)[19]. 
 
Carta Internacional dos Direitos Humanos 
A Carta Internacional dos Direitos Humanos é constituída por três documentos, os 
mais importantes do sistema global, de alcance generalizado, ou seja, integram o sistema 
homogêneo[20] ou geral do sistema global da ONU. 
Analisar a Carta internacional coincide com a análise de três grandes instrumentos 
internacionais de salvaguarda aos direitos humanos em escala global: a Declaração Universal 
dos Direitos Humanos, de 1948; o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, de 1966; 
e o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966. Nessa 
 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO 
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tessitura, gize-se que o processo “universal dos direitos humanos teve início com a 
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, (...) afirmando serem os direitos 
humanos (...) universais, indivisíveis, interdependentes, inter-relacionados e dotados de 
unidade (....)”, e se consolidou com os dois Pactos de Nova York, ambos de 1966. 
A despeito da perspectiva adotada (marcos, pensamentos ou documentos), o estudo 
da evolução histórica dos direitos humanos conduz à conclusão de que eles estão em 
constante processo de enriquecimento, haja vista que a “conquista e a ampliação do rol de 
direitos é uma imperativa e constante necessidade mundana, sob pena de a figura humana, 
com o passar do tempo, ser relegada a segundo plano; o que é inconcebível”. 
 
ORIGEM DOS DIREITOS HUMANOS 
O movimento contemporâneo pelos direitos humanos teve origem na reconstrução da 
sociedade ocidental ao final da segunda guerra mundial. Neste sentido, a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, de 1948, é um marco que veio responder às atrocidades que 
aconteceram durante a segunda guerra mundial. Na verdade, os direitos humanos não 
surgiram com a declaração universal dos direitos humanos. Duas histórias podem ser 
contadas a respeito da sua origem. 
A primeira história associa a ideia de direitos humanos a um certo consenso cultural e 
religioso. De acordo com essa abordagem, há uma ética ou uma moral comum a todas as 
culturas e religiões e que pode ser expressa em termos de direitos. 
A segunda história considera os direitos humanos como o resultado de um longo 
processo de evolução, que implica numa promessa de progresso e almeja a um futuro feliz. 
Esta ideia de progresso inevitável da sociedade humana ganhou força com o debate filosófico 
que precedeu e inspirou a Revolução Francesa e resultou na primeira grande declaração de 
direitos. 
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi promulgada em 26 de agosto 
de 1789, na França. Ela está intimamente relacionada com a Revolução 
Francesa. Para ter uma ideia da importância que os revolucionários atribuíam ao tema 
dos direitos, basta constatar que os deputados passaram uma semana reunidos na 
Assembleia Nacional francesa debatendo os artigos que compõem o texto da declaração. Isso 
com o país ainda a ferro e a fogo após a tomada da Bastilha em 14 de julho daquele mesmo 
ano. Havia urgência em divulgar a declaração para legitimar o governo que se iniciava com o 
afastamento do rei Luís XVI, que seria decapitado quatro anos depois, em 21 de janeiro de 
1793. Era preciso fundamentar o exercício do poder, não mais na suposta ligação dos 
monarcas com Deus, mas em princípios que justificassem e guiassem legisladores e 
governantes daquele momento em diante. No dia 20 de agosto de 1789, a Assembleia 
Nacional francesa começou a discutir os 24 artigos rascunhados por um grupo de quarenta 
deputados. Após seis dias de debates intensos, os deputados haviam aprovado somente 17 
artigos. Diante das medidas urgentes a serem tomadas, no dia 27 de agosto de 1789 os 
deputados decidiram encerrar a discussão e adotar os artigos já aprovados como a 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Sem mencionar o rei, a nobreza ou o clero, 
https://jus.com.br/tudo/processo
https://jus.com.br/tudo/processo
https://jus.com.br/tudo/processo
 
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14 
 
a declaração afirmava que “os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem são a 
fundação de todo e qualquer governo”. Quem passa a deter a soberania é a nação, e não o 
rei. Todos são proclamados iguais perante a lei, eliminando todos os privilégios de 
nascimento. Termos como “homens”, “homem”, “todo homem”, “todos os homens”, “todos os 
cidadãos”, “cada cidadão”, “sociedade”, e “todas as sociedades”, asseguram a universalidade 
dos direitos afirmados naquele documento. A reação à sua promulgação foi imediata, 
chamando a atenção da opinião pública nos países vizinhos para a questão dos direitos. A 
reação do inglês Edmund Burke em Reflections on the Revolution in France, de 1790, constitui 
inclusive o texto fundador do conservadorismo. 
A importância desse documento nos dias de hoje é ter sido a primeira declaração de 
direitos e fonte de inspiração para outras que vieram posteriormente, como a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos aprovada pela ONU (Organização das Nações Unidas), em 
1948. Prova disso é a comparação dos primeiros artigos de ambas: 
 
• O Artigo primeiro da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, diz: “Os 
homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos. As distinções sociais só 
podem fundar-se na utilidade comum”. 
• O Artigo primeiro da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 proclama: 
“Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão 
e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”. 
 
 
 
Ambas as declarações de direitos acima mencionadas ecoam a fórmula solene de 
Thomas Jefferson na Declaração de Independência de 1776: 
“Tomamos estas verdades como auto evidentes, de que todos os 
homens foram criados iguais, e que foram dotados pelo Criador de 
certos direitos inalienáveis, dentre os quais estão a Vida, a Liberdade 
e a busca pela 
Felicidade. ” 
 
 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO 
15 
 
AS DECLARAÇÕES DE DIREITOS 
As declarações de direitos se apresentam de maneira parecida: após um preâmbulo 
que introduz a temática geral do texto, segue uma lista de artigos que explicitam vários 
direitos. Faz-se necessário ressaltar, contudo, que uma declaração de direitos é muito mais 
do que uma enumeração de direitos. O preâmbulo da Declaração dos Direitos do Homem e 
do Cidadão, de 1789, revela a intenção dos seus autores: eles “expõem”, “declaram”, 
“lembram”. » à Declaração é um ato de reconhecimento: não se trata de um ato criador. Os 
direitos por ela enunciados existem, são inerentes à natureza humana. Seria, portanto, 
absurdo pretender criá-los. Basta constatar a sua existência. 
Este fato é importante porque estabelece a diferença clara entre as declarações de 
direitos e os textos legais: uma lei pode ser revogada pela mesma autoridade que a 
promulgou, enquanto que um direito não pode ser eliminado porque ninguém é responsável 
pela sua criação. 
O que podemos fazer é constatar a sua existência e reconhecê-los. » à Declaração 
tem um caráter pedagógico: estes direitos foram esquecidos ou ignorados. Faz-se necessário 
torná-los incontestáveis. Para este efeito,um simples enunciado não basta, é preciso uma 
exposição que forneça explicações que convençam o leitor. 
A Declaração propõe uma sistematização das relações entre o homem e a sociedade. 
O seu caráter doutrinal, sua intenção pedagógica, contrasta com o empirismo característico 
dos documentos mais recentes. » Nesta declaração de direitos constata-se a ausência de um 
caráter efetivador: os constituintes sabiam perfeitamente que a constatação dos direitos 
humanos não basta para assegurar o seu respeito. Depois de declará-los, é ainda preciso 
garanti-los. Trata-se, contudo, de duas etapas distintas. 
A Declaração indica os direitos que implicam numa garantia, mas a efetivação dessa 
garantia incumbe à Constituição, de acordo com a fórmula do artigo 16 da própria Declaração: 
“Toda sociedade na qual (…) a garantia dos direitos não é assegurada não tem constituição. 
” Constata-se aqui que um certo paradoxo cerca a ideia de direitos humanos tal qual 
explicitada pelas declarações de direitos. 
Com efeito, se por um lado trata-se de uma ideia bastante utópica e sonhadora, por 
outro lado, a efetivação dos direitos remete a várias questões práticas que têm influência 
direta na nossa vida cotidiana. Além disso, como conciliar a ideia filosófica de que os direitos 
humanos existem desde sempre, pois estão inevitavelmente associados à própria existência 
do ser humano, e a possibilidade de progresso das condições e da consequente libertação do 
gênero humano da opressão e das injustiças que os direitos humanos podem promover na 
medida em que passam a ser reconhecidos? Este paradoxo explica porque os direitos 
humanos foram considerados por muito tempo como um capricho de sonhadores incorrigíveis. 
 
ARTIGOS DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS: 
Artigo 1° 
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados 
de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. 
 
 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO 
16 
 
Artigo 2° 
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na 
presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de 
língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de 
nascimento ou de qualquer outra situação. 
Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou 
internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território 
independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. 
 
Artigo 3° 
Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. 
 
Artigo 4° 
Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos 
escravos, sob todas as formas, são proibidos. 
 
Artigo 5° 
 Ninguém será submetido à tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou 
degradantes. 
 
Artigo 6° 
Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua 
personalidade jurídica. 
 
Artigo 7° 
Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual proteção da lei. 
Todos têm direito a proteção igual contra qualquer discriminação que viole a presente 
Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. 
 
Artigo 8° 
Toda a pessoa tem direito a recurso efetivo para as jurisdições nacionais competentes 
contra os atos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela 
lei. 
 
Artigo 9° 
Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado. 
 
Artigo 10° 
 
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17 
 
Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e 
publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos 
e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja 
deduzida. 
 
Artigo 11° 
1- Toda a pessoa acusada de um ato delituoso presume-se inocente até que a sua 
culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que 
todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas. 
2- Ninguém será condenado por ações ou omissões que, no momento da sua prática, não 
constituíam ato delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, 
não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o ato 
delituoso foi cometido. 
 
Artigo 12° 
 Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu 
domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contrastais 
intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a proteção da lei. 
 
Artigo 13° 
1- Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior 
de um Estado. 
2- Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, 
e o direito de regressar ao seu país. 
 
Artigo 14° 
1- Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo 
em outros países. 
2- Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente 
por crime de direito comum ou por atividades contrárias aos fins e aos princípios das 
Nações Unidas. 
 
Artigo 15° 
1- Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. 
2- Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de 
mudar de nacionalidade. 
 
Artigo 16° 
 
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1- A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, 
sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na 
altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais. 
2- O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros 
esposos. 
3- A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção 
desta e do Estado. 
 
Artigo 17° 
1- Toda a pessoa, individual ou coletiva, tem direito à propriedade. 
2- Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade. 
 
Artigo 18° 
Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; 
este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim em público como 
em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos. 
 
Artigo 19° 
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que 
implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e 
difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de 
expressão. 
 
Artigo 20° 
1- Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas. 
2- Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. 
 
Artigo 21° 
1- Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direção dos negócios públicos do seu 
país, quer diretamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. 
2- Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas 
do seu país. 
3- A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-
se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, 
com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de 
voto. 
 
Artigo 22° 
 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO 
19 
 
Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode 
legitimamente exigir a satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis, 
graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e 
os recursos de cada país. 
 
Artigo 23° 
1- Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha dotrabalho, a condições 
equitativas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego. 
2- Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. 
3- Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita 
e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se 
possível, por todos os outros meios de proteção social. 
4- Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em 
sindicatos para defesa dos seus interesses. 
 
Artigo 24° 
Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação 
razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas. 
 
Artigo 25° 
1- Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua 
família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao 
alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e 
tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice 
ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes 
da sua vontade. 
2- A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as 
crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma proteção social. 
 
Artigo 26° 
1- Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a 
correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O 
ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores 
deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. 
2- A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos 
direitos do Homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a 
tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, 
bem como o desenvolvimento das atividades das Nações Unidas para a manutenção 
da paz. 
 
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20 
 
3- Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o gênero de educação a dar aos 
filhos 
 
Artigo 27° 
1- Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, 
de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste 
resultam. 
2- Todos têm direito à proteção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer 
produção científica, literária ou artística da sua autoria. 
 
Artigo 28° 
Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma 
ordem capaz de tornar plenamente efetivos os direitos e as liberdades enunciadas na 
presente Declaração. 
 
Artigo 29° 
1- O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e 
pleno desenvolvimento da sua personalidade. 
2- No exercício deste direito e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às 
limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o 
reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer 
as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade 
democrática. 
3- Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente e aos 
fins e aos princípios das Nações Unidas. 
 
Artigo 30° 
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a 
envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma 
atividade ou de praticar algum ato destinado a destruir os direitos e liberdades aqui 
enunciados. 
 
A ORIGEM E FORMAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS INDIVIDUAIS NO BRASIL 
No Brasil, o Estado nacional foi um projeto implantado pelas elites políticas, desde o 
Brasil Reinado, passando pelo Brasil Imperial, até a instalação da República. O povo brasileiro 
não teve participação direta nesse processo de formação do Estado nacional. Assim, os 
direitos fundamentais, tal como aparecem pela primeira vez na Constituição Imperial de 1824, 
foram outorgados pelas elites políticas e adquiriram pouca efetividade. 
 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO 
21 
 
Nesse contexto histórico, a cidadania foi privilégio de poucos e ainda hoje se encontra 
em um processo de formação que se dá em decorrência dos movimentos sociais e populares 
que fazem surgir os direitos fundamentais. 
No Brasil, desde seu nascimento como Estado independente, foram os movimentos 
sociais que deram sentido e efetividade aos direitos fundamentais e à cidadania. 
Verificou-se, em nosso processo histórico, uma inversão, pela qual os direitos 
fundamentais criados nos textos constitucionais, doados de cima para baixo pelas elites, 
nunca foram conhecidos pela população e adquiriram muito pouca efetividade. Somente na 
atualidade os movimentos sociais geram e tornam efetivos alguns direitos fundamentais 
existentes no País. 
Essa inversão, aparentemente contrária a quase tudo o que se tem dito e ensinado 
sobre direitos fundamentais da pessoa humana no Brasil, procura denunciar a teoria 
individualista dos direitos humanos, a qual, sob a roupagem da subjetividade, banalizou 
conquistas históricas da população brasileira, esvaziando os direitos humanos em seu 
significado político e jurídico. Quando um povo não produz os movimentos revolucionários ou 
perde a memória histórica de movimentos populares que geraram direitos fundamentais, 
pode-se dizer que perdeu parte de sua soberania e cidadania. 
Quando os direitos fundamentais não decorrem de conquistas sociais e populares, 
mas são concedidos em Cartas Constitucionais, num movimento vertical de normatização que 
não conta com a efetiva participação popular no processo legiferante, como ocorreu no Brasil, 
eles tornam-se meras ideologias, que banalizam os significados dos direitos fundamentais e 
ocultam seu significado jurídico e político. A possibilidade de tal reflexão só foi possível ao 
nos depararmos com a situação histórica e atual dos direitos fundamentais da pessoa humana 
no Brasil. Trata-se de se admitir uma dura realidade: a cidadania e os direitos fundamentais 
no Brasil jamais alcançaram o sentido histórico, político e jurídico que representaram nos 
países europeus ou nos Estados Unidos da América do Norte. E isso se deve, por um lado, à 
habilidade de nossas elites políticas de protagonizar um processo civilizatório patrimonialista 
e patriarcal e, por outro, à baixa adesão da população a movimentos sociais, quase sempre 
derrotados e apagados ou desfigurados em sua importância histórica e política. 
Nos estados nacionais europeus ou mesmo nos Estados Unidos da América do Norte, 
as revoluções burguesas foram decorrência do efetivo exercício da cidadania e fizeram surgir 
declarações de direitos. 
No Brasil, onde o projeto de Estado nacional foi criado artificialmente por uma elite 
política imperial, não se verificou o efetivo exercício da cidadania em seus primeiros séculos 
de existência. Dessa forma, não houve no País uma revolução burguesa e os direitos 
fundamentais foram importados de constituições e declarações de direitos de nações 
europeias ou norte-americana. 
A ideia de cidadania possui uma origem muito antiga, mas que foi reconstruída e 
aperfeiçoada em diferentes momentos da história da civilização ocidental, até tornarse um 
conceito fundamental na luta pela reconstrução dos Estados absolutistas em Estados 
democráticos, nos séculos XVII e XVIII. 
 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO 
22 
 
A Origem Do Conceito De Cidadania E Sua Importância Para O Advento Dos Estados 
Modernos 
A origem do conceito de cidadania é grega. Foi em Atenas, aproximadamente no VIII 
século a. C., que surgiu no Mediterrâneo uma experiência singular: a ideia de polis, espécie 
de cidade autônoma, independente e soberana queera governada, em última instância, por 
uma Assembleia de Cidadãos (politai). É verdade que essa Assembleia de Cidadãos não 
contava com a participação de todos, mas apenas dos homens livres e nascidos na própria 
polis. Daí decorria que cidadão entre os gregos antigos era o homem livre, senhor de si e que 
tinha direito de participar da Assembleia de Cidadãos. Esse direito de participar da politai, 
portanto, não era extensivo aos escravos, mulheres e crianças, mas apenas aos homens livres 
que exerciam a prática do direito de decidir sobre os destinos políticos, culturais e econômicos 
da Polis. A esse direito de participar da politai e influenciar nos destinos políticos, culturais e 
econômicos da cidade se podia compreender como cidadania na Polis grega antiga. Então, 
como foi possível que uma invenção tão antiga como a cidadania, nascida na Grécia há mais 
de 2.500 anos, chegou até os dias atuais, adquirindo características próprias e assumindo 
importância sine qua non para a vida dos Estados democráticos modernos? Como esse 
instituto da cidadania foi fundamental para a construção dos Estados nacionais e dos Estados 
modernos? 
A resposta para a primeira questão deve ser encontrada na historicidade dos 
movimentos sociais dos povos europeus, e que, mais tarde, estendeu-se por todo o mundo 
ocidental. Ocorre que a experiência grega de cidadania, entre outras descobertas do povo 
grego antigo, influenciou Roma. Os romanos, depois de terem vivenciado experiências de 
reinados por um longo período de sua história, fizeram de Roma uma cidade poderosa 
belicamente a qual expandiu seus domínios para além de seu território peninsular. Contudo, 
ao conquistarem a Grécia, os romanos foram por ela conquistados, porquanto, apesar de seu 
grande poderio militar, sob o aspecto cultural, filosófico e político encontravam-se muitos 
séculos de atraso em relação aos gregos. 
Os romanos logo perceberam essa verdade e passaram a receber significativa 
influência do mundo grego em sua vida cultural, política e filosófica. A elite romana enviava 
os filhos para estudarem filosofia, oratória e retórica em Atenas. E não era só isso: a arte da 
medicina, da arquitetura, da pedagogia, tudo era estudado em Atenas ou contava com a 
participação de mestres gregos. Esse encontro da cultura greco-romana ficou conhecido 
como helenismo. 
Roma tornou-se, sob vários aspectos, uma extensão do mundo grego antigo e, em 
decorrência da expansão do Império, introduziu entre os povos europeus (então denominados 
bárbaros) muitos de seus valores culturais, jurídicos e econômicos. O cidadão romano 
possuía um status diferenciado dos demais povos conquistados. Adquirir cidadania romana 
implicava em transitar livremente por todo o Império Romano sem ser detido ou molestado. 
Esse processo histórico, como se sabe, perdurou por vários séculos, até a queda de Roma, 
no século V d. C. e o início da Idade Média. 
Com o advento da Idade Média, a ideia de cidadania quase desapareceu, porquanto 
o fim do Império Romano significou também um período de fragmentação política e cultural, 
propiciando o predomínio político gradual da Igreja Católica. 
 
DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO 
23 
 
Nos períodos da alta à média Idade Média, as vilas e cidades europeias formaram-se 
aos pés dos mosteiros e igrejas. A vida dos homens ilustres e letrados formava-se sob a 
influência das ordens religiosas. Os destinos políticos das cidades já não eram decididos pelas 
Assembleias dos Cidadãos, mas pela autoridade religiosa e pelo poder secular, exercido por 
um príncipe ou rei coroado pelo Papa. Nesse cenário, a ideia de cidadania foi substituída pela 
ideia de súdito, que representava o homem livre submetido ao poder político do Rei. Contudo, 
a ideia de cidadania ressurgiria por volta do século XIV com o Renascimento. 
Como se sabe, este representou um retorno de muitos dos valores culturais, jurídicos 
e filosóficos que eram próprios ao mundo greco-romano. A partir de então, as cidades e vilas 
europeias deram início a um lento e gradual processo de emancipação política em relação ao 
poder exercido pela Igreja Católica. Ora, esse processo emancipatório das cidades e vilas 
europeias deu-se por meio dos movimentos sociais, entre os quais um de grande importância 
foi a Reforma Protestante, verificada no início de 1517 a partir das teses de Martinho Lutero. 
Para a resposta à segunda indagação, isto é, de que forma esse instituto da cidadania foi 
fundamental para a construção dos Estados nacionais e dos Estados modernos, é preciso 
destacar a importância da Reforma Protestante e o modo pelo qual contribuiu para muitos dos 
fundamentos do surgimento do Estado moderno. 
Ocorre que a Reforma Protestante foi um marco histórico que inaugurou valores éticos 
e políticos inovadores: o fim do domínio político da Igreja Católica; o surgimento de liberdades 
políticas; liberdade de culto e de religião; liberdade de imprensa, liberdade de pensamento e, 
principalmente, liberdade de cátedra nas universidades. Evidentemente o fim do predomínio 
político da Igreja Católica foi conquista de uma cidadania efetiva que propiciou um movimento 
social de grande importância. Lutero jamais esteve só! Com ele a população alemã enfrentou 
o poder da Igreja Católica de sua época e as reformas religiosas deram causa a muitas 
reformas políticas, as quais influenciaram outros povos e Estados, como a Inglaterra e a 
França. Ora, nesse momento histórico da civilização ocidental, a liberdade de cátedra nas 
universidades foi fundamental para o surgimento de novas ideias jurídicas e políticas. Dentre 
elas, talvez a mais importante tenha sido a que se propôs a reconstruir o conceito de 
cidadania, o qual passou a ser discutido direta ou indiretamente em inúmeras obras 
acadêmicas que se popularizaram entre os jovens e acadêmicos de então. Merece ser 
mencionadas aquelas de autores iluministas, como Montesquieu, Locke, Rousseau e Kant, 
entre outros, que influenciaram no surgimento das revoluções burguesas e, 
consequentemente, no aparecimento dos Estados modernos fundados na cidadania, na 
democracia constitucional e nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. As ideias 
jurídico-filosóficas que propiciaram a Revolução Americana e a Revolução Francesa 
propagaram-se por todo o mundo e pelo novo mundo. 
 
A INEXISTÊNCIA DE REVOLUÇÕES BURGUESAS NO BRASIL E SUAS 
CONSEQUÊNCIAS 
No Brasil não se verificou uma Revolução Burguesa nos moldes como se deu na 
América do Norte ou na Europa. A primeira revolta com significado de natureza semelhante 
às revoluções burguesas ocorridas na Europa foi a Inconfidência Mineira (1790). Todos os 
demais movimentos sociais anteriores, como a Confederação dos 
 
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Tamoios (1562), a formação do Quilombo de Palmares (1602), a Guerra dos Bárbaros 
(1682), a Insurreição Pernambucana (1645), a Revolta do Maranhão (1684) ou mesmo a 
Guerra dos Mascates (1710), não objetivavam a construção da cidadania e de um Estado 
independente nos moldes dos movimentos sociais e revolucionários europeus e norte-
americanos. 
A Inconfidência Mineira trouxe em sua base ideológica ideias semelhantes àquelas 
divulgadas pelos filósofos iluministas e concretizadas pela Revolução Francesa e pela 
Americana, mas seus líderes foram presos e deportados e as iniciativas não foram vitoriosas. 
Não caberia aqui uma análise aprofundada das razões que levaram à derrota dos insurgentes 
ou as teses sobre a ausência de uma classe burguesa no Brasil de então. Os fatos 
significativos decorrentes do movimento inconfidente foram a construção artificial dos 
primeiros valores inerentes à ideia de cidadania moderna e de aspirações por um país 
independente, republicano, sem que esse Estado fosse construído sobre fundamentos 
constitucionais democráticos. Contudo, a Inconfidência Mineira foi um marco histórico 
significativo,pois a ela se sucederam a Conjuração Baiana (1798) e a Revolução 
Pernambucana (1817). Esse último movimento defendia a independência de Portugal e reuniu 
religiosos, comerciantes e militares que conseguiram prender o governador e constituir o 
primeiro governo republicano no Brasil. O movimento se estendeu à Paraíba, Rio Grande do 
Norte e parte do Ceará, mas durou menos de três meses. Os revoltosos foram presos e 
condenados à morte pelo fuzilamento. 
Durante o Império, outros movimentos sociais ocorreram, mas todos saíram 
derrotados e desmantelados e seus líderes fuzilados ou enforcados. O primeiro deles f icou 
conhecido como a Confederação do Equador (1824) e verificou-se novamente em Recife. 
Logo que os insurgentes conquistaram o poder estabeleceram um governo republicano, que 
deveria inaugurar um Estado independente, democrático e constitucional. Todavia, no dia 19 
de setembro do mesmo ano os revolucionários já estavam derrotados e receberam penas 
diversas: fuzilamento, forca ou prisão perpétua. A partir desse movimento, outros irromperam 
ao longo do período Imperial, como a Cabanagem (1833) no Pará, a Revolução Farroupilha 
(1835) no Rio Grande do Sul, a Sabinada (1837) na Bahia, a Balaiada (1838) no Maranhão e 
parte do Piauí e Ceará, e a Revolução Praieira (1848) que se estendeu por vários estados 
brasileiros e exigia voto livre e democrático, liberdade de imprensa e trabalho para todos. 
Contudo, todos foram derrotados e poucos contribuíram para a formação de um Estado 
nacional fundado em valores modernos de cidadania. Em vez disso, o que se viu foi a 
construção de um Estado Imperial fundado numa economia escravista e numa elite formada 
por bacharéis de tradição coimbrã, que era o oposto dos ideais revolucionários vitoriosos na 
França Bonapartista ou na América de George Washington. 
Proclamada a República, outros tantos movimentos sociais se instalaram no Brasil, 
como a Revolta Armada de 1893 e a Revolução Federalista, ocorrida no mesmo ano, no Rio 
Grande do Sul. Contudo, o movimento social mais radical e que abalou a nascente República 
brasileira foi Canudos, no interior da Bahia, onde viviam, em 1896, cerca de 20 mil pessoas 
sob o comando do beato Antônio Conselheiro. Ele iniciou-se em novembro de 1896 e a derrota 
se deu em outubro de 1897. Foram necessárias quatro expedições militares para sufocar 25 
mil revoltosos. Canudos contribuiu para denunciar a grande exclusão social existente no 
Nordeste brasileiro, mas foi compreendido e classificado pelas elites brasileiras como um 
 
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movimento messiânico, comandado por um fanático religioso, sem qualquer fundamentação 
iluminista ou revolucionária burguesa. 
Outros movimentos sociais menores ocorreram durante os primeiros anos da 
República Velha, como a Revolta da Vacina, de 1904 e a Revolta da Chibata, de 1910, ambas 
ocorridas na cidade do Rio de Janeiro. Ainda, a Revolta de Juazeiro, de 1914, em Juazeiro 
do Norte, interior do estado do Ceará, sob a liderança do padre Cícero, em que sertanejos 
pegaram em armas para derrubar o interventor do Estado. O governo cedeu, devolvendo o 
poder ao grupo político que antes controlava o Ceará. A Guerra do Contestado, entre 1912 e 
1916, na região dos estados do Paraná e Santa Catarina, foi um movimento messiânico, com 
milhares de mortos. Todos esses movimentos populares, derrotados e desmantelados, 
possuíam na verdade uma natureza messiânica reacionária. Todos esses movimentos sociais 
verificados na história colonial, imperial e republicana do Brasil não foram decisivos para a 
construção da cidadania no Brasil. E não o foram porque não se fundavam em pressupostos 
teóricos e revolucionários semelhantes àqueles que inauguraram os estados burgueses 
modernos, como se deu na Inglaterra, com a Revolução Gloriosa; na França, com a 
Revolução de 1789; ou nos Estados Unidos da América em sua Revolução da Independência. 
Assim sendo, as ideias e ideais de cidadania e de direitos fundamentais no Brasil foram 
importados e transladados do continente europeu diretamente para a Constituição Imperial de 
1824, que inaugurou um capítulo próprio para os Direitos e Garantias Individuais, e que, no 
entanto, em outros capítulos de seu texto consolidava um Estado monárquico, patrimonialista 
e escravagista. 
Essa contradição inexorável contribuiu para que os direitos e garantias individuais 
fossem compreendidos no ideário nacional como uma ideologia liberal sem qualquer efeito 
concreto sobre a vida política e social do Brasil Imperial. O problema maior foi que essa 
ideologia liberal prosseguiu na vida política do País e passou a constar em todas as 
Constituições Republicanas, mesmo naquelas elaboradas sob regimes políticos totalitários, 
como se deu com a Carta Constitucional de 1937 e a Carta Constitucional de 1967, com a 
Emenda Constitucional de 1969. 
A cidadania no Brasil, portanto, pode ser compreendida como um fenômeno de 
formação recente decorrente de movimentos sociais e sindicais iniciados na primeira década 
do século XX e que, sob lideranças anarquistas, exigiram jornadas de trabalho de oito horas, 
descanso semanal remunerado, pagamento de horas extras e outras conquistas trabalhistas 
que, posteriormente, seriam incorporadas na CLT. Além desses movimentos sociais das 
classes trabalhadoras, ocorreram também levantes militares nas três primeiras décadas do 
século XX, primeiro no Rio de Janeiro (1922) e depois em São Paulo (1924). Foi o movimento 
tenentista, que exigia reformas profundas no sistema político republicano. Parte desse 
movimento originou a famosa Coluna Prestes, que até 1927 foi causa de revoltas por todo o 
País. Por onde passava, ateava fogo em Cartórios de Registro de Imóveis, para pôr fim à 
propriedade privada injusta, e organizava triagens nos presídios para colocar em liberdade 
parte dos detentos que eram considerados vítimas de um sistema capitalista desigual e 
excludente. 
Foram os movimentos sociais, em suas várias modalidades e categorias, que 
propiciaram em outubro de 1930 a Revolução de 30. Para alguns historiadores e cientistas 
políticos, foi a primeira Revolução Burguesa ocorrida no Brasil. Apenas dois anos depois, no 
 
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dia 9 de julho de 1932, as oligarquias cafeeiras do estado de São Paulo se rebelaram contra 
a ditadura Vargas, organizando um movimento popular conhecido como Revolução de 1932. 
Apesar da derrota, o movimento representou um marco nas lutas pelos direitos fundamentais 
no Brasil e fez que o País construísse a segunda Constituição Republicana, a Constituição de 
1934. 
Nas décadas de 1940 e 1950 o Brasil viu florescer seu período de ouro. Na economia, 
nas artes, na música e nos esportes surgiu uma geração que construía uma sociedade justa 
e igualitária, procurando diminuir as desigualdades sociais existentes nos segmentos de 
classes, intensificando a luta para extirpar o analfabetismo, instituindo um salário mínimo que 
buscava concretizar a ideia de direitos mínimos aos menos favorecidos. 
O avanço dos movimentos sociais urbanos e o aparecimento das Ligas Camponesas, 
no início da década de 1960 exerceram forte pressão política por reformas de base na 
sociedade brasileira, como a exigência de reforma agrária, erradicação do analfabetismo e 
fim da desigualdade entre homens e mulheres nas relações trabalhistas, dentre outras 
reivindicações políticas. Como reação a esses movimentos sociais crescentes, as elites 
políticas, em conjunto com a Igreja Católica, organizaram o evento denominado “Marcha da 
família com Deus pela liberdade”, o qual significou o sinal verde para que as forças militares 
levassem a termo um golpe de Estado ocorrido no dia 1º de abril de 1964, fazendo com que 
o presidente João Goulart abandonasse o poder e se exilasse no Uruguai. 
Após o golpe de Estado, os movimentos sociais foramproibidos e duramente 
reprimidos, e as lideranças camponesas e sindicais perseguidas e presas. A Lei de Segurança 
Nacional foi utilizada para prender as forças oposicionistas e as lideranças dos movimentos 
sociais que se erguiam contra a ditadura militar. Milhares foram assassinados e 
desaparecidos, mas os movimentos sociais nunca desapareceram totalmente na luta pela 
redemocratização do País. 
Na década de 1980, a sociedade civil brasileira reorganizou-se em seus diversos 
segmentos e deu início a um processo de manifestações políticas que exigiam o fim do 
governo militar e a redemocratização. Importante foram os papéis desempenhados pela OAB 
(Ordem dos Advogados do Brasil) que, em suas reuniões anuais, fazia publicar documento 
exigindo a normalização da vida política do País e denunciando os abusos praticados pelo 
regime militar. De igual importância foram as atuações da ABI (Associação Brasileira de 
Imprensa) pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e pelo Sindicato dos 
Metalúrgicos do ABC. 
Por fim, em 1984 o governo militar viu-se amplamente derrotado nas eleições gerais 
para governadores, deputados federais e senadores. Era o fim da ditadura militar e o início da 
redemocratização do Estado brasileiro. Esse momento da história brasileira foi marcado pela 
construção de uma nova Constituição Federal, a Constituição de 1988, a mais democrática e 
representativa Carta Constitucional do Estado brasileiro. Contudo, um dos efeitos nefastos do 
período de governo militar no Brasil foi a desmobilização dos movimentos sociais existentes 
no Brasil. 
 
 
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MOVIMENTOS SOCIAIS E CIDADANIA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO 
Na semana de 21 a 24 de janeiro de 1984 ocorreu na cidade de Cascavel, Paraná, o 
Primeiro Encontro Nacional de Trabalhadores Sem Terra. O MST, como ficou conhecido, 
surgia com objetivos bem definidos: lutar pela terra, pela reforma agrária e pela construção 
de uma sociedade justa e igualitária. Até dezembro de 2010 o MST contabilizava 
aproximadamente 350 mil famílias assentadas e 90 mil famílias acampadas em todo o Brasil. 
Além disso, o MST já registra 108 cooperativas de trabalhadores e trabalhadoras sem-terra, 
65 unidades agroindustriais e uma história de luta contra a fome e a mortalidade infantil. 
Destaca-se também que cerca de 120 mil crianças e adolescentes frequentam escolas 
construídas em terras que antes pertenciam a latifúndios improdutivos. O MST tem contribuído 
para a questão da cidadania no Brasil lutando pela terra, pois quanto maior for o número de 
famílias assentadas, menor será o êxodo rural e o número de famílias morando em favelas 
nas cidades. Ademais, ao combater o latifúndio e ao assentar famílias sem-terra, o MST 
propicia o surgimento de cooperativas para sustentar o trabalho dessas famílias e a 
escolaridade para crianças e adolescentes, contribuindo para a questão dos direitos humanos 
e da cidadania no Brasil. 
O MST é um movimento social que trabalha com populações excluídas, procurando 
assentar famílias em propriedades rurais improdutivas, criando cooperativas e propiciando 
trabalho para milhares de trabalhadores rurais. 
Em 1997 surgiu no seio da sociedade brasileira o Movimento dos Trabalhadores Sem 
Teto (MTST) com o objetivo de garantir o direito à moradia e construir uma cidade justa e 
igualitária. O movimento não visa somente àqueles que não têm moradia, mas alcança 
também os desprovidos de condição humana digna e que vivem em estado de miserabilidade. 
A falta de moradia é o principal fator contrário a uma vida com dignidade. 
Desde 1940 o problema da moradia tornou-se muito grave no Brasil, pois as 
habitações dos grandes centros urbanos tornaram-se insuficientes para abrigar a população 
expulsa do campo no processo de êxodo rural. Historicamente o MTST iniciou suas atividades 
em 1997, quando 5.200 famílias construíram casas em um terreno desapropriado na cidade 
de Campinas/SP. Esse movimento foi considerado a maior ocupação em área urbana da 
América Latina, conhecido como Parque Oziel. 
Em 1998, o MTST passou a realizar ocupações nas cidades de Guarulhos, Diadema, 
Itapevi e também no Nordeste e no Rio de Janeiro, e as ocupações chegaram a representar 
a conquista de 10 mil casas populares. 
Entre os anos de 2001 a 2003 a atuação estendeu-se a todo o Brasil. Em 
Guarulhos/SP, próximo da Rodovia Presidente Dutra, houve a ocupação conhecida como 
Anita Garibaldi, que teve a participação de 10 mil pessoas. Em Osasco/SP, ocorreu a 
ocupação Carlos Lamarca, onde ficava o antigo Lar Consolador da Verdade; e, em São 
Bernardo do Campo/SP foi feita a ocupação Santo Dias, localizada num terreno de 
propriedade da Volkswagen, porém no dia 9 de agosto do mesmo ano a Tropa de Choque da 
Polícia Militar invadiu o terreno e expulsou os ocupantes sem-teto. Atualmente, o MTST vem 
contribuindo para um dos mais importantes direitos fundamentais: o direito à moradia que é 
condição sine qua non para a cidadania. 
 
 
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SOCIEDADES MULTICULTURAIS 
 
 
O multiculturalismo é conhecido como um fenômeno que estabelece a coexistência de 
várias culturas em um mesmo espaço territorial e nacional. Ele é muito comum em nossa 
época, pois graças aos importantes avanços tecnológicos, ao desenvolvimento das 
comunicações e da interligação de diferentes partes do mundo, todas as sociedades podem 
receber informação sobre outras. Ao mesmo tempo, o crescimento das migrações e a 
travessia legal das fronteiras colaboram com a mistura de culturas e sociedades. 
As relações entre esses ‘’grupos’’ podem ser de aceitação e tolerância ou de conflito 
e rejeição. Isso vai depender da história da sociedade em questão, das políticas públicas 
propostas pelo Estado e, principalmente, do modo específico como a cultura dominante do 
território é imposta ou se impõem para todas as outras. A convivência entre culturas diferentes 
não é uma questão nova, mas que se se intensificou nos últimos anos devido a 
acontecimentos marcantes. 
Não é possível entender o multiculturalismo fora do contexto do fenômeno da 
globalização. O desenvolvimento acelerado dos meios de transporte e das tecnologias de 
comunicação aproximaram diferentes regiões do mundo, criando redes industriais e 
financeiras complexas e uma economia multinacional, interdependente e insubmissa às 
fronteiras nacionais. Com o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos passam a hegemonizar 
culturalmente todo o planeta. Seus produtos, filmes, músicas e formas de ver as coisas se 
espalham globalmente gerando o que se chama de “americanização” do mundo. 
Frente a esse fenômeno de hegemonização dos padrões culturais globais, as culturas 
tradicionais se fortaleceram, reagindo contra a massificação dos modos de ser. Por outro lado, 
apesar da massificação, vemos que essas comunidades culturais locais são capazes de se 
apropriar de partes da cultura americana, transformando-as em uma algo novo e diferente do 
original. No Brasil, o funk e rap são um exemplo claro dessa possibilidade. 
Outros processos importantes que influenciam no surgimento das sociedades 
multiculturais, são as lutas pela independência que ocorrem nas colônias europeias da 
segunda metade do século XX, especialmente na África e na Ásia. 
Fonte: www.diegobrandao.jusbrasil.com.br 
 
 
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Cenário Pós-Colonial 
 
 
 
O cenário pós-colonial gera um processo de resgate das culturas tradicionais locais e, 
ao mesmo tempo, pela ligação histórica, desencadeia um movimento migratório para os 
países colonizadores. Também os conflitos de ordem étnica, religiosa e política, além das 
deficiências econômicas, são fatores que aumentam o fluxo migratório. Incentivado por tudo 
isso e pelo próprio cenário criado pela globalização, esse movimento migratório transforma

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