Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Bioquímica do eritrócito A hemácia é o produto final de um complexo processo de diferenciação celular a partir de uma célula-tronco hematopoiética (ou hemocistoblasto) que origina uma célula tronco mieloide, determinante na formação da maioria dos hemócitos. O fenômeno da eritropoiese é estimulado pela eritropoietina, uma glicoproteína sintetizada principalmente nos rins, mas também na medula óssea (onde ocorre a eritropoiese). O principal fator que leva ao aumento da síntese de eritropoietina é a diminuição da oxigenação tecidual, ou seja, hipóxia, que pode ser causada por vários fatores (enumerados na imagem acima de 1-5). Hematopoiese O processo de diferenciação da célula tronco hematopoiética ocorre em duas etapas: 1. Fase de proliferação celular (reprodução): ocorre uma síntese de ácidos nucleicos, já que a célula tronco está se dividindo e há a necessidade de dobrar o conteúdo genético de cada uma. Nesse momento, é essencial a presença das vitaminas B-12 e B-9 (ácido fólico). 2. Fase de maturação celular: nessa fase, o fato mais importante é a síntese de hemoglobina. Quando atinge uma determinada [hemoglobina], a célula é liberada para a corrente sanguínea ainda na forma de reticulócito, mas perde o retículo endoplasmático e completa a maturação. Além dessa, nessa etapa outras organelas são perdidas (núcleo, mitocôndria, etc). Hemácia madura É uma célula composta por uma solução aquosa com alta [hemoglobina], envolta por uma membrana semipermeável. Nos seres humanos possui vida média de 120 dias, mas varia a cada espécie. O formato característico da hemácia (disco bicôncavo) fornece algumas vantagens para a célula, como o aumento da superfície de contato, o que aumenta a capacidade das trocas gasosas. A função da hemácia é transportar oxigênio e CO2 (não é exatamente dentro da hemácia que o dióxido de carbono é carregado, mas precisa passar por ela pra se transformar em bicarbonato e ir para o plasma). A relativa simplicidade estrutural da hemácia com a perda do núcleo, mitocôndria, ribossomo, retículo endoplasmático, etc, acaba sendo acompanhado de uma profunda consequência metabólica e funcional da célula, já que o eritrócito acaba não conseguindo duplicar ou resintetizar enzimas e estruturas que envelhecem com o passar do tempo. Então acaba sendo incapaz de usar o sistema de fosforilação oxidativa (por não ter mitocôndria) e tem capacidade mínima de produzir ATP, contando apenas com as enzimas citosólicas da via glicolítica. Estrututa da hemoglobina Principal ptn presente no citoplasma do eritrócito A Hb é composta pela parte globínica (parte proteica) e pelo grupamento heme (indicado em laranja na figura acima), que contém o ferro como elemento central da estrutura, conferindo a cor vermelha ao sangue. Saturação da Hb Na imagem acima é possível observar que a hb é formada por um tetrâmero, com duas subunidades alfa e duas beta, e cada uma delas pode se ligar a um oxigênio. Desse modo, na cinética, o gráfico apresenta um perfil hiperbólico. Metabolismo energético nos eritrócitos Embora as necessidades energéticas da hemácia sejam pequenas, (já que o transporte de gases é energeticamente passivo), ela precisa de energia para a: 1) Manutenção da integridade estrutural e funcional da membrana da célula: esse processo compreende a manutenção da forma da célula; a capacidade de deformar reversivelmente (a passagem pelos capilares menores ocasiona na deformação do eritrócito, que precisa voltar ao tamanho normal após voltar a um vaso de maior calibre); a manutenção da bomba de cátions (Na+/K+ ATPase) que garante o volume e o potencial elétrico celular; proteção de suas proteínas contra a desnaturação oxidativa; 2) Manutenção do ferro hemoglobínico em estado ferroso (Fe2+): pois a oxidação do ferro hemoglobínico do estado ferroso para o férrico (Fe2+ Fe3+) converte a hemoglobina em metaemoglobina, que não tem a capacidade de transportar O2; 3) Manutenção das vias metabólicas de produção de energia utilizável: as vias acontecem no citoplasma e a única fonte energética para essa cél. é a glicose. Cerca de 90% é oxidada na via glicolítica, tendo como produto final o lactato, já que faz a via anaeróbica. Quando o piruvato da via glicolítica é transformado em lactato, o NADH produzido na via glicolítica volta a ser NAD+, então o piruvato é o aceptor final de elétrons, pois ganha os elétrons do NADH e é reduzido a lactato. Outra via utilizada pelos eritrócitos para obtenção de energia é a via das pentoses, cujo fluxo metabólico é bem menor (os outros 10% de glicose que não são metabolizados pela via glicolítica). Nela, cada molécula de glicose produz 2 moléculas de NADH, tornando-se cíclica, já que as duas fases (oxidativa e não oxidativa) estão ativas. Isso porque quando ribulose 5-fosfato é formada, as enzimas da fase não-oxidativa transforma esse composto em glicose-6-fosfato. É importante lembrar que o NADPH gerado na via das pentoses é essencial para a produção dos grupos tiol da hemoglobina e de ptnas de membrana contra a oxidação. Essa função protetora é exercida indiretamente pela manutenção dos níveis celulares de glutatião reduzidos. Portanto, a via glicolítica e a via das pentoses são as vias geradoras de moléculas energéticas dos eritrócitos, o ATP, o NADH e o NADPH. Via de Rapport-Luebering Dé uma via de desvio da via glicolítica e de gasto energético. O 1,3 bifosfoglicerato (1,3 DPG) sofre ação da mutase, que troca o fosfato do carbono para o dois, formando o 2,3-DPG. Por último, o fosfato é removido por uma fosfatase, formando o 3- fosfoglicerato, intermediário na via glicolítica. Na via glicolítica, essa reação renderia a síntese de 1 ATP, mas com o desvio isso deixa de acontecer, o que motiva a consideração desse desvio como despendioso de energia. Porém, é muito importante que ocorra, pois o 2,3-BPG se integra com a hb de forma a reduzir a afinidade da hb pelo oxigênio. O gráfico acima mostra a saturação em função da pO2. É ilustrado que numa situação em que nos tecidos, quando a Hb está sem BPG, continua 100% saturada, ou seja, nenhum oxigênio é desprendido para o tecido. Enquanto que, numa [BPG/DPG] normal a Hb é capaz de liberar uma quantidade desse gás (38%). Desse modo, sem o 2,3-BPG, é impossível oxigenar o tecido, levando- o à morte. Síntese do Glutatião É uma outra via de consumo, pois produz e mantém o glutatião/glutationa no estado reduzido. Essa molécula é formada por três aa’s, o glutamato, a cisteína e a glicina. São gastas 2 moléculas de ATP para que ocorra a ligação dos aa’s. Para que uma ponte de enxofre seja formada, esse tripeptídeo que forma a glutationa reduzida se liga a outra glutationa, com ambos sofrendo redução, formando a glutationa (GSSG) oxidada. É interessante para a fisiologia celular que o glutatião fique reduzido, pois pode reduzir outras proteínas. A enzima glutationa redutase usa o NADPH formado na via das pentoses, que tem poder redutor, para promover a mudança da glutationa do estado oxidado para o estado reduzido. Em contrapartida, a glutationa peroxidase usa o poder redutor desse glutatião para reduzir o peróxido de hidrogênio a água (quero entender onde fica a passagem de elétrons de quem pra quem aqui), o que impede vários danos oxidativos que poderiam acontecer a lipídeos e proteínas. Por isso é importante ter baixos fatores de peróxido de hidrogênio e de outras espécies reativas de oxigênio nessa célula, para evitar o estresse oxidativo lipídico e proteico. Desse modo, a glutationa é responsável por amenizar os sintomas do envelhecimento, prolongando a vida das cél. Via da Metaemoglobina redutase Utiliza do poder redutor no NADHe do NADPH para transformar a metaemoglobina em hemoglobina (Fe+3 > Fe+2). A importância está no fato de que na ausência dessa via, não seria possível transportar oxigênio e, por isso, é tão necessário que ocorra essa redução. A deficiência de vitamina B-12 pode levar à anemia perniciosa por levar à redução da eritropoese;
Compartilhar