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Adoção Internacional

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Adoção internacional
O presente resumo busca conciliar um tema do direito internacional privado e do direito civil, mormente a trazer aspectos referentes à adoção internacional.
CONCEITO:
A adoção pode ser conceituada como o vínculo de parentesco civil existente entre duas pessoas, formalizado por meio da vontade e que não admite revogação. A adoção internacional, espécie mais restrita, ocorre quando a filiação jurídica se concretiza entre pessoas nascidas em países diferentes, estabelecendo, desta forma, um liame legal de paternidade.
REQUISITOS:
Para que o instituto da adoção possa acontecer e produzir efeitos no mundo jurídico, é necessário que os adotantes observem alguns requisitos dispostos na legislação brasileira. Em primeiro lugar, a lei determina que a adoção somente pode ser realizada por maior de 18 anos, independentemente do seu estado civil, contanto que haja uma diferença mínima de dezesseis anos entre ele e o adotado. Além disso, se os adotantes forem casal, devem estar ligados por matrimônio ou união estável, exigindo-se, também, a comprovação de estabilidade familiar. Por fim, a lei impõe que o adotante esteja devidamente inscrito no cadastro estadual e nacional de adoção e devidamente habilitado.
Rayanesantiago
No que tange à adoção internacional, a legislação dispõe restrições ainda mais específicas. Nos termos do art. 51 do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, o adotante deve possuir residência habitual em país-parte da Convenção de Haia, tal como o adotante deve ser residente de outro país-parte da Convenção.
Em que pese haja essa exigência, em certas circunstâncias admite-se a sua flexibilização. Logo, a adoção internacional é permitida, em algumas circunstâncias, ainda que um país não faça parte da Convenção de Haia, como descreve o art. 52-D do ECA: “Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no país de origem porque a sua legislação a delega ao país de acolhida, ou, ainda, na hipótese de, mesmo com decisão, a criança ou o adolescente ser oriundo de país que não tenha aderido à Convenção referida, o processo de adoção seguirá as regras da adoção nacional”.
PROCEDIMENTO:
Diversas são as legislações que regulamentam a adoção. Tem-se, no atual ordenamento jurídico brasileiro, a Lei nº 8.069/1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente, que rege as adoções de crianças e adolescentes. A adoção de maiores, por sua vez, é regida pelo próprio Código Civil, o qual descreve: “a adoção de maiores de 18 anos dependerá da assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva, aplicando-se, no que couber, as regras gerais da Lei n. 8.069 (...)”. Desta maneira, a adoção de maiores será decretada judicialmente, utilizando-se, de forma subsidiária, das normas elencadas no ECA.
A adoção internacional consagra um procedimento bastante burocrático. Tais regras estão descritas no art. 52 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual faz referência a uma série de etapas e critérios que o (s) adotante (s) deve preencher para que possa proceder à referida adoção.
Explicitando brevemente este segmento, o indivíduo ou casal interessado em adotar criança ou adolescente perpassa as seguintes etapas: primeiramente deve-se fazer uma inscrição, solicitando habilitação à adoção. Acolhido o pedido, será expedido laudo de habilitação à adoção internacional, que terá validade por, no máximo, 1 (um) ano, o qual será instrumento formal para que o adotante formalize o pedido de adoção junto ao Juízo da Vara da Infância e Juventude em que está localizada a criança ou adolescente.
Nesse momento, enquanto ainda não estiver transitado em julgado a decisão que concedeu a adoção internacional, não será permitida a saída da criança ou do adolescente do território nacional. Após, todavia, o respectivo trânsito em julgado, estará autorizada a viagem do adotando, juntamente com seu passaporte, devendo obrigatoriamente conter suas características pessoais. Por fim, passadas questões burocráticas e todas as etapas do processo, este será enviado para julgamento da Comissão, que proferirá sua decisão.
Em seguida, a próxima etapa da adoção consiste no estágio da convivência. De acordo com o art. 46 do ECA: “a adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou adolescente, pelo prazo máximo de 90 (noventa) dias, observadas a idade da criança ou adolescente e as peculiaridades do caso.” Desta forma, exige-se, como etapa obrigatória do processo de adoção, a convivência entre o adotante e o adotando, salvo se a criança ou adolescente já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a relação entre eles; Ao final de todas essas etapas e procedimentos, chega o momento da sentença judicial. É por meio dessa decisão que a adoção internacional será, efetivamente, formalizada.
JURISPRUDÊNCIA:
SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. ADOÇÃO. REGULARIDADE FORMAL. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS. HOMOLOGAÇÃO DEFERIDA.
Foram observados os pressupostos indispensáveis ao deferimento do pleito previstos nos artigos 5º e 6º da Resolução n.º 9/05 desta Corte.
Nos termos do artigo 51 do Estatuto da Criança e do Adolescente - que remete ao artigo 2º da Convenção de Haia, de 29.5.93 -, a adoção internacional ocorre quando a pessoa ou casal adotante seja residente ou domiciliado fora do Brasil e haja o deslocamento do adotando para outro Estado. No caso, a despeito de o adotante possuir nacionalidade suíça e o adotando brasileira, à época do pedido de adoção já conviviam há mais de 10 anos no país estrangeiro na companhia de sua genitora.
Para a adoção de menor que tenha pais biológicos no exercício do poder familiar, haverá a necessidade do consentimento de ambos, salvo se, por decisão judicial, forem destituídos desse poder, consoante a regra contida no art. 45 do ECA.
É causa autorizadora da perda judicial do poder familiar, nos termos do art. 1.638, II, do Código Civil, o fato de o pai deixar o filho em abandono. Na hipótese, há nos autos escritura pública assinada pelo pai biológico dando conta
de que houve manifesto abandono de seu filho menor, situação, aliás, expressamente levantada no título judicial submetido à presente homologação bem como no parecer do ministerial.
Excepcionalmente, o STJ admite outra hipótese de dispensa do consentimento sem prévia destituição do poder familiar, quando for observada situação de fato consolidada no tempo que seja favorável ao adotando, como no caso em exame. Precedentes. Homologação de sentença estrangeira deferida.
O acórdão acima elencado trata-se de circunstância excepcional à matéria de adoção internacional. Com fulcro no art. 45 do ECA, é necessário o consentimento dos pais biológicos para a validade do procedimento de adoção, a não ser que estes tenham sido judicialmente destituídos do poder familiar.
Uma das causas justificadoras da destituição do pátrio poder, conforme dispositivo legal, é a comprovação de abandono da criança ou adolescente. Esta, por sua vez, foi demonstrada e confessada pelo próprio pai, que afirmou ter sido a criança vítima de abandono.
O STJ entende, a respeito do tema, que em circunstâncias excepcionais o procedimento da adoção pode ocorrer de forma válida sem o consentimento dos pais, sendo o caso em tela uma das hipóteses possíveis, ou seja, quando for observada situação de fato consolidada no tempo que seja favorável ao adotando.
NACIONALIDADE:
A formalização de uma adoção internacional em nada interfere na nacionalidade do adotando. Ainda que este tenha sido adotado por indivíduos brasileiros e trazido para residir no território brasileiro, continuará sendo
considerado e denominado “estrangeiro residente permanentemente no Brasil”.
Caso o adotando queira adquirir a nacionalidade brasileira, deverá passar pelo processo de naturalização, submetendo-se a preencher todos os critérios do procedimento.
REFERÊNCIAS:
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Privado. 5ª Edição.TIBURCIO, Jacob Dolinger Carmen. Direito Internacional Privado. 15ª Edição.
JAEGER JUNIOR, Florisbal de Souza Del’olmo. Curso de Direito Internacional Privado. 12ª Edição.

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