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8 A PLURALIDADE DA DINÂMICA URBANA E REGIONAL: ANÁLISE DAS CONFIGURAÇÕES TERRITORIAIS DA RMM Lilian Chirnev Ana Lúcia Rodrigues A atual dinâmica urbana e regional resulta de aceleradas transformações, intensi- ficadas nas últimas décadas, pelos fluxos político, econômico e social. O território fixo e flexibilizado, pela ocupação das pessoas e de suas ações, reflete no impacto dessas ocorrências. Nesse sentido, cada geografia existente responde aos seus respectivos padrões de organização territorial. O foco do presente capítulo1 é compreender as principais configurações territoriais da Região Metropolitana de Maringá (RMM), localizada na Região Norte Central do Estado do Paraná, para subsidiar a implementação do planejamento regional no âmbito do Estatuto da Metrópole (Lei Federal nº 13.089/2015). Para alcançar o objetivo geral, desenvolveram-se os seguintes objetivos espe- cíficos: (a) identificação dos principais padrões atuais de organização do território da RMM, padrões esses relacionados a aspectos específicos de caráter institu- cional, funcional e político; (b) descrição de cada um dos padrões selecionados, sendo previamente definidos os de característica institucional (legal), funcional (dos municípios integrados à dinâmica de metropolização dessa região) e político (SEDU/PARANACIDADE); (c) explicação sobre a finalidade e a dimensão espa- cial de cada geografia territorial selecionada (institucional, funcional e política). 1 O presente capítulo, publicado originalmente na Rev. Cad. Metrópole, é fruto de parte do relatório de pesquisa desenvolvida em 2018, no qual há outra versão aprovada para publicação em periódico, no âmbito do INCT/CNPq – Observatório das Metrópoles, Núcleo Região Metropolitana de Maringá da Universidade Estadual de Maringá – RMM/UEM, ocasião em que a pesquisadora Lilian Chirnev atuava na condição de bolsista pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ. UNICESUMAR 9 A identificação e análise dos territórios que correspondem às distintas dinâ- micas de constituição do espaço urbano regional da RMM foram sistematizadas neste estudo, por meio dos mais recentes trabalhos com tal finalidade, e se apre- sentam na estrutura deste texto em seis seções. Na primeira seção, descreve-se a formação institucional da RMM, utilizando como referencial os marcos legais pertinentes a esse processo, bem como a retomada e aprofundamento da análise realizada por pesquisadores do Observatório das Metrópoles - Núcleo Região Metropolitana de Maringá/UEM, relacionada à ausência de critério técnico para formalização da unidade regional (RODRIGUES; SOUZA, 2018). Na segunda seção, o aspecto político está representado por meio do estudo Referências para a Política de Desenvolvimento Urbano e Regional para o Estado do Paraná (2017), desenvolvido pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano (SEDU) e Serviço Social Autônomo-PARANACIDADE. Trata-se de um diagnóstico para a elaboração dos Planos de Desenvolvimento Urbano Integrado (PDUIs), com intuito de referenciar o trabalho técnico das secretarias e orientar as próximas etapas do processo de cumprimento do Estatuto da Metrópole. Para as terceira e quarta seções, será apresentada a composição funcional dessa região, a partir de dois estudos regionais desenvolvidos pelo Instituto Bra- sileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cada qual com suas particularidades metodológicas, sendo, respectivamente, Arranjos Populacionais e Concentrações Urbanas (2016) e a Divisão Regional do Brasil em Regiões Geográficas Imediatas e Regiões Geográficas Intermediárias (2017). Para analisar, também, a funcionalidade, a natureza e as características par- ticulares da RMM, na quinta seção, utiliza-se uma pesquisa (CHIRNEV, 2016). Essa pesquisa classifica a escala de participação dos municípios no fenômeno urbano-metropolitano e resulta no nível de integração intrametropolitano cuja metodologia é do Observatório das Metrópoles (2012). Na última seção, sistematiza-se os estudos que explicitam dinâmicas de con- formação e constituição do espaço urbano regional da RMM bem como o pro- cesso de metropolização e seus consequentes arranjos espaciais, resultantes desse processo plural que compõe as dinâmicas urbanas e regionais desse território. Tal sistematização incorpora dados e análises aos estudos sobre metropolização e de- senvolvimento urbano, no âmbito do INCT/CNPq - Observatório das Metrópoles. 10 RMM Institucional Há um protagonismo do mercado no desenvolvimento dessa região, influencian- do diretamente o modelo de gestão pública efetivado. Isso se deve à peculiaridade de sua implantação, se comparada às demais RMs do país, pois se trata do maior loteamento de terras do planeta, composto por 515 mil alqueires paulistas e rea- lizado na década de 1940 pela Companhia de Terras Norte do Paraná (CMNP). O planejamento e o marketing, fruto desse vultoso empreendimento imobi- liário, fundaram o processo de desenvolvimento regional e permanecem como estratégia utilizada para manter o mercado imobiliário no controle das decisões e ações relacionadas ao metropolitano maringaense (RODRIGUES; SOUZA, 2018). A institucionalização da RMM reflete a manutenção dessa lógica, pois resulta so- mente de ação política e não considera qualquer critério técnico. Mas, tal lógica, também, caracteriza a formalização no Brasil de outras RMs. De acordo com Fir- kowski (2013), tratar a RM como institucionalidade, seria o mesmo que atribuir ao termo um modo mais relacionado à probabilidade de desenvolvimento regional que propriamente um caráter urbano-metropolitano. “ Neste sentido, sua formação não prioriza o processo de metro- polização, mas sim político institucional, ou seja, sua definição é atribuída por força de uma lei. Como resultado, é cada vez maior o número de regiões metropolitanas institucionalizadas no Brasil e por todos os estados da Federação, pois a dinâmica de sua criação não guarda vinculação com a realidade metropolitana (FIRKO- WSKI, 2013, p. 39). Esse é o caso da RMM, que foi institucionalizada por meio da Lei Complemen- tar nº 83 de 1998, com a primeira configuração composta de oito municípios: Maringá, Ângulo, Mandaguari, Iguaraçu, Mandaguaçu, Paiçandu, Marialva e Sarandi. Atualmente, sua composição é de 26 municípios (Figura 1), inseridos por outras quatro leis estaduais (LC nº 13.565/2002; LC nº 110/2005; LC nº 127/2010; LC nº 145/2012). 12 pouco ou nada tem de metropolitano, ou seja, nem todas as unidades institucio- nalizadas, enquanto ‘região metropolitana’, decorrem efetivamente de um legítimo processo de metropolização (CHIRNEV, 2016). Isso derivou, também, da falta de critérios de regulação para definir a condi- ção metropolitana dos municípios, de mecanismos de financiamento que, se não estavam ausentes, eram inexpressivos. O resultado desse processo foi a ausência de qualquer mecanismo de governabilidade metropolitana que, a partir do Es- tatuto da Metrópole, responsabilizou governadores e prefeitos a instituírem e executarem, por meio de critérios técnicos, o planejamento de desenvolvimento urbano e regional nas RMs. Na seção a seguir, apresentamos como o governo do Estado do Paraná avançou nesse quesito, tendo como foco a RMM. Política de Desenvolvimento Regional – Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano (SEDU) A lei que dispõe sobre o funcionamento das RMs do Paraná (LC nº 111, de 11 de agosto de 2005) refreou o avanço da ampliação de municípios em sua composi- ção, sem, todavia, dotar os territórios regionais metropolitanos de governabili- dade. A única efetivação prevista, na LC nº 111/2005, foi a criação, em 2007, da Coordenadoria da Região Metropolitana de Maringá (COMEM), por ato admi- nistrativo do governador. Subordinada à Secretaria Estadual do Desenvolvimento Urbano (SEDU), o objetivo institucional da COMEM é promover a integração das políticas públicas dos municípios que integram a RMM. Suas ações, porém,ficaram restritas a programas e projetos, identificados no site institucional da SEDU até 2018, que não foram concretizados até o momento. Nesses programas e projetos, inclui-se o mais recente, uma ação que visa cumprir o Estatuto da Metrópole (Lei nº 13.089/2015), quanto à elaboração dos Planos de Desenvolvimento Urbano Integrado (PDUIs) das RMs do Estado, para contratar empresas especializadas na elaboração dos PDUIs do Paraná, relativos a três Funções Públicas de Interesse Comum (FPICs): (1) mobilidade urbana, (2) saneamento e (3) uso e ocupação do solo. O edital para contratação (Concorrência Técnica e Preço nº 001/2017) foi pu- blicado em 2017 e a licitação realizada em 27 de novembro do mesmo ano, sendo UNICESUMAR 13 suspensa no mês seguinte por mandado de segurança (Licitação Concorrência Pública nº 5050470-54.2017.4.04.7000) impetrado pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado do Paraná (CREA/PR). A licitação foi cance- lada, em 18 de janeiro de 2018, pela Comissão de Licitação do governo estadual, justificando que o mandado motivou estorno de recursos financeiros. A SEDU, por meio dos seus técnicos, assumiu a execução do projeto. O recente estudo intitulado Referências para a Política de Desenvolvimento Urbano e Regional para o Estado do Paraná (PARANÁ, 2017), desenvolvido pela SEDU e PARANACIDADE, constitui-se em uma referência importante para dar publicidade à política de desenvolvimento urbano e regional do Estado, apesar da ausência de elementos para identificação da metodologia utilizada. Na apresentação da referida publicação, afirma-se que devido à disponibi- lidade parcial dos recursos requeridos, a atuação da SEDU se limitou à etapa de trabalho denominada de Fase 1 cujas atividades foram desempenhadas pela equipe técnica da secretaria, justificando que sua atuação “desenvolveu aquilo que entendia mais urgente e passível de ser realizado com recursos próprios, sobretudo, humanos” (PARANÁ, 2017, p. 12). Segundo o estudo, a RMM se mantém como uma das quatro regiões metro- politanas do Paraná. A justificativa apresentada para a permanência de apenas quatro RMs (Curitiba, Londrina, Maringá, Cascavel), do total de oito criadas e sancionadas (as RMs de Apucarana, Campo Mourão, Toledo e Umuarama), no Paraná, ancora-se nos critérios do Estatuto da Metrópole, “[...] cuja exigência é de que uma RM tenha influência nacional ou sobre uma região que configure, no mínimo, a área de influência de uma Capital Regional” (PARANÁ, 2017, p. 39). Para confirmar as RMs paranaenses com tal configuração (área de influência de uma Capital Regional), a referência principal é o REGIC-Regiões de Influência das Cidades (IBGE, 2008), que classificou Curitiba como Metrópole, e os muni- cípios de Londrina, Maringá e Cascavel como Capital Regional B. Portanto, no Paraná, “apenas as RMs criadas até 2015, das mencionadas Capitais Regionais [...] atendem aos requisitos para implantação do Estatuto da Metrópole. As demais devem compor arranjo de regionalização diferenciado sujeito a estudos técnicos” (PARANÁ, 2017, p. 39). Definida a confirmação das quatro RMs, realiza-se na sequência “a caracteri- zação dos municípios das quatro RMs confirmadas, segundo Degraus Metropo- 14 litanos” (PARANÁ, 2017, p. 12), seu objetivo foi apresentar critérios de integração intrametropolitana, pela necessidade de embasar o esclarecimento sobre qual município tem justificada sua inclusão (ou exclusão) no espaço regional da RM. A inclusão dos municípios nesta hierarquia foi definida por meio das diferenças de intensidade nas relações de dependência com o município polo, visando identifi- car e analisar prioritariamente três Funções Públicas de Interesse Comum-FPICs: Uso e Ocupação do Solo, Saneamento e Meio Ambiente. A definição prévia da secretaria estadual em relação as três FPICs, tem como referência o Estatuto da Metrópole, Art. 1º., “[...] § 2º Na aplicação das disposições desta Lei, serão observadas [...] a política nacional de desenvolvimento regional e as políticas setoriais de habitação, saneamento básico, mobilidade urbana e meio ambiente” (ESTATUTO DA METRÓPOLE, 2015 apud PARANÁ, 2017, p. 71). A partir da lei, o entendimento desse estudo é de que a política setorial de habitação deve estar vinculada a um contexto mais amplo, “que é do Uso e Ocu- pação do Solo, assim como do Saneamento deve inserir-se no de Meio Ambiente” (PARANÁ, 2017, p. 71). Cada uma das três FPICs foi estruturada em indicadores parciais, codificados em uma hierarquia de 1 a 4, sendo o 1 “as situações com menores características metropolitanas e no 4, aquelas nas quais o fenômeno metropolitano é mais evi- denciado, sendo o 2 e 3 níveis mais intermediários” (PARANÁ, 2017, p. 71). O Indicador Final do Degrau Metropolitano foi construído por meio da somatória do total de sete indicadores e, como cada indicador parcial varia de 1 a 4, na hie- rarquia metropolitana final o nível 7 indica o mais baixo degrau metropolitano e o 28 o mais alto (PARANÁ, 2017, p. 71-72). A base para construção dos indicadores de cada uma das FPICs foi “a popu- lação total dos municípios, segundo dados do Censo de 2010, e a área de seus territórios” (PARANÁ, 2017, p. 71), incluindo em cada FPIC dados secundários de acordo com sua especificidade. As variáveis dos movimentos pendulares, por sua vez, compuseram a FPIC Mobilidade, reproduzida no quadro a seguir, conforme a publicação (PARANÁ, 2017), com a descrição que o indicador A foi calculado, utilizando-se o método estatístico quartil e dados censitários (IBGE, 2010). UNICESUMAR 15 Quadro 1 - RMM, Degraus Metropolitanos – Dados municipais de Referência, Dados Municipais FPIC de Referência: Mobilidade Município População Total IBGE 2010 Área do território municipal (km²) Desloca- mento para cidade polo (Maringá) Desloca- mento popula- ção total (%) Indica- dor A Astorga 24641 436.18 530 2.15 1 Bom Sucesso 6495 321.5 115 1.78 1 Cambira 7222 163.35 30 0.42 1 Jandaia do Sul 20133 189.03 368 1.83 1 Lobato 4359 240.58 126 2.88 1 Santa Fé 10410 276.29 273 2.62 1 Atalaia 3913 137.25 189 4.84 2 Floraí 5037 812.17 218 4.32 2 Flórida 2536 83.82 126 4.98 2 Mandaguari 32495 335.46 1364 4.20 2 Munhoz de Mello 3665 137.13 133 3.63 2 Nova Esperança 26510 403.59 1055 3.98 2 Ângulo 2823 105.64 197 6.96 3 Doutor Camargo 5819 117.96 440 7.56 3 Itambé 5748 244.13 620 10.79 3 Ivatuba 3003 94.93 234 7.81 3 Marialva 31535 475.09 2801 8.88 3 16 São Jorge do Ivaí 5484 315.97 468 2.62 3 Floresta 5819 161.65 1048 18.02 4 Iguaraçu 3942 163.78 461 11.71 4 Mandagua- çu 19284 293.7 3483 18.06 4 Maringá 349860 786.63 169 0.05 4 Ourizona 3373 175.42 508 15.05 4 Paiçandu 35307 171.72 10216 28.94 4 Presidente Castelo Branco 4758 155 661 13.89 4 Sarandi 80406 103.49 22791 28.34 4 7045772 5979.1 48624 6.90 Fonte: Paraná (2017, p. 121-122). A FPIC Uso do Solo é representada pelos indicadores B, C, D, E e F cuja compo- sição é a partir de três fontes. A primeira fonte de referência é a mancha metro- politana por ocupação, “aquela decorrente do uso efetivo do solo por atividades urbanas e assim revelado nas imagens de satélite, considerando vazios intersti- ciais aqueles com distância menor que 5Km entre uma parte de mancha e outra” (PARANÁ, 2017, p. 72). A tabela, a seguir, refere-se à descrição dessa primeira fonte, em que estão representados apenas pelos indicadores B e C. Na tabela, também, contém a ob- servação que os indicadores B e C foram calculados, utilizando-se o método estatístico quartil e dados censitários (IBGE, 2010). O que se destaca na tabela é que o município de Ivatuba aparece com nível 4 no indicador C, mesmo apre- sentando 0.00 (zero) em todas as Manchas (PARANÁ, 2017, p. 123). UNICESUMAR 17 Quadro 2 - RMM, Degraus Metropolitanos, Dados Municipais de FPIC de Referência: Uso do Solo Metropolitano Mancha Metropolitana por Ocupação Município Mancha Metropo-litana no municí- pio (km²) Mancha Me- tropolitana no município/ área da mancha metropolitana (%) Indica- dor B Mancha Metrop. na área do municíp./ Área do Município Indica- dor C Ângulo 0.00 0.00 1 0.00 1 Astorga 0.00 0.00 1 0.00 1 Atalaia 0.00 0.00 1 0.00 1 Bom Su- cesso 0.00 0.00 1 0.00 1 Cambira 0.00 0.00 1 0.00 1 Doutor Camargo 0.00 0.00 1 0.00 1 Floraí 0.00 0.00 1 0.00 1 Floresta 0.00 0.00 1 0.00 1 Flórida 0.00 0.00 1 0.00 1 Iguaraçu 0.00 0.00 1 0.00 1 Itambé 0.00 0.00 1 0.00 1 Ivatuba 0.00 0.00 1 0.00 4 Jandaia do Sul 0.00 0.00 1 0.00 1 Lobato 0.00 0.00 1 0.00 1 Manda- guaçu 0.00 0.00 1 0.00 1 Manda- guari 0.00 0.00 1 0.00 1 18 Marialva 33.10 18.91 4 6.97 4 Maringá 108.17 61.80 4 22.23 4 Munhoz de Mello 0.00 0.00 1 0.00 1 Nova Es- perança 0.00 8.84 1 0.00 1 Ourizona 0.00 0.00 1 0.00 1 Paiçandu 15.88 9.07 4 9.24 4 Presidente Castelo Branco 0.00 0.00 1 0.00 1 Santa Fé 0.00 0.00 1 0.00 1 São Jorge do Ivaí 0.00 0.00 1 0.00 1 Sarandi 17.88 10.22 4 17.28 4 175.03 100 Fonte: Paraná (2017, p. 123). Para as segunda e terceira fontes da FPIC Uso do Solo, foram utilizadas como referências a mancha metropolitana por sistema viário municipal, em relação à mancha do sistema viário metropolitano, e a contiguidade ou não dos perímetros urbanos municipais. A observação é que “os indicadores D e F foram calculados utilizando-se o método estatístico quartil, e para o indicador F, com contiguida- de = 4; sem contiguidade = 1” (PARANÁ, 2017, p. 124), todos tendo como fonte dados censitários (IBGE, 2010). No entanto os municípios inseridos na tabela, de acordo com a publicação (PARANÁ, 2017), identificada como RMM, pertencem a RM de Londrina. Nesse sentido, não foi possível verificar na FPIC Uso do Solo a escala (de 1 a 4) de cada município da região de Maringá, representada em todos os seus indicadores (B, C, D, E e F). No caso da FPIC Meio Ambiente, a única menção na publicação (PARANÁ, 2017) em relação à metodologia de sua composição, é que o indicador selecionado para uma análise preliminar dessa função foi a existência de mananciais de captação UNICESUMAR 19 de uso compartilhado por mais de um município. A tabela publicada (PARANÁ, 2017, p. 125) identifica como fonte o IBGE (2000) e insere na observação que, no Indicador G, o “manancial compartilhado = 4; manancial não compartilhado = 1”. Constam como municípios de manancial compartilhado (=4) na RMM: Astorga, Bom Sucesso, Cambira, Jandaia do Sul, Mandaguari, Marialva, Nova Esperança e Santa Fé. Constam como municípios de manancial não comparti- lhado (=1) na RMM: Ângulo, Atalaia, Doutor Camargo, Floraí, Floresta, Flórida, Iguaraçu, Itambé, Ivatuba, Lobato, Mandaguaçu, Maringá, Munhoz de Mello, Ourizona, Paiçandu, Presidente Castelo Branco, São Jorge do Ivaí e Sarandi. Dessa forma, o quadro síntese da RMM, referente aos Degraus Metropolitanos ocupados por cada um dos municípios, com indicador mínimo de 7 e máximo 28, foi apresentado da seguinte forma: Quadro 3 - Hierarquia Metropolitana na RMM Municípios Degrau Metropolitano Sarandi 28 Marialva 27 Paiçandu 25 Maringá Polo Presidente Castelo Branco 22 Mandaguaçu 19 Nova Esperança 17 Mandaguari 11 Astorga, Bom Sucesso, Floresta, Iguara- çu, Jandaia do Sul e Ourizona 10 Ângulo, Doutor Camargo, Itambé, Ivatu- ba, São Jorge do Ivaí e Cambira 9 Atalaia, Floraí, Flórida e Munhoz de Mello 8 Lobato e Santa Fé 7 Fonte: Paraná (2017, p. 238). UNICESUMAR 21 rência, nenhuma dessas ações descritas foi implementada. Avançamos, a seguir, nas seções relacionadas à análise da composição funcional da RMM. Arranjos Populacionais (APs) e Concentrações Urbanas (CUs) O estudo dos Arranjos Populacionais e Concentrações Urbanas do Brasil (IBGE, 2016a) se constitui como uma referência para o planejamento, no país, cujo qua- dro foi desenvolvido a partir de critérios relacionados à integração entre os mu- nicípios e é uma outra referência para compreender a dinâmica de constituição do espaço urbano regional da RMM. O Arranjo Populacional é o “agrupamento de dois ou mais municípios onde há uma forte integração populacional devido aos movimentos pendulares para trabalho ou estudo, ou devido à contiguidade entre as manchas urbanizadas prin- cipais” (IBGE, 2016a, p. 22), e sua formação está fundamentada em três critérios de integração: “i - forte intensidade relativa dos movimentos pendulares para trabalho e estudo [...]; ii - um valor de intensidade absoluta dos movimentos para trabalho e estudo, entre dois municípios, igual ou superior a 10 mil pessoas; iii - contiguidade das manchas urbanizadas principais de dois municípios de até 3 km” (IBGE, 2016a, p. 22). Conforme o citado estudo (IBGE, 2016a), apesar das características seme- lhantes em razão dos critérios de integração e conurbação adotados, os APs pos- suem particularidades que também os distinguem entre si, para além da simples localização de sua região geográfica. Para essa análise específica, foram atribuídas características comuns aos APs, como tamanho populacional (até 100 mil habi- tantes, de 100 mil a 750 mil habitantes, acima de 750 mil habitantes) e localização (litoral, fronteira etc.), resultando em tipologias com as seguintes denomina- ções: Arranjos Populacionais Fronteiriços; Arranjos Populacionais Turísticos e de Veraneio no Litoral; Arranjos Populacionais até 100 mil habitantes; Médias Concentrações Urbanas e Grandes Concentrações Urbanas. O AP de Maringá/PR2 se insere na tipologia de Médias Concentrações Ur- banas (arranjos populacionais acima de 100 mil habitantes a 750 mil habitantes), 2 Um dos critérios de nome do arranjo é que o arranjo leva o nome do município que possui maior popula- ção, desde que esta seja, no mínimo, o dobro da população do segundo maior município (IBGE, 2016, p. 23). UNICESUMAR 23 Regiões geográficas imediatas e intermediárias A publicação Divisão Regional do Brasil em Regiões Geográficas Imediatas e Re- giões Geográficas Intermediárias (2017) é o mais recente estudo disponibilizado pelo IBGE para o planejamento regional do país. A publicação representa o que o Instituto categoriza como um novo quadro de referência para o planejamento regional, com as múltiplas escalas existentes no território nacional, resultantes das dinâmicas produtivas das últimas três décadas socioeconômicas, ambientais e de natureza político-administrativa, que inclui a criação de municípios e regiões metropolitanas, pós-Constituição Federal de 1988. A prioridade do estudo foi as unidades subestaduais, incorporando a dife- renciação do território interno, com a revisão das unidades mesorregionais e microrregionais, denominadas respectivamente de Regiões Geográficas Inter- mediárias e Regiões Geográficas Imediatas. De acordo com esta atualização do quadro regional brasileiro, as Regiões Geográficas Imediatas (RGIs) têm como referência principal a rede urbana, ou seja, essas regiões são estruturadas por meio de centros urbanos mais próximos “para a satisfação das necessidades imediatas das populações, tais como: compras de bens de consumo duráveis e não durá- veis; busca de trabalho; procura por serviços de saúde e educação; e prestação de serviços públicos” (IBGE, 2017, p. 19). As Regiões Geográficas Intermediárias estão relacionadas a uma escala intermediária entre as Unidades da Federação e as Regiões Geográficas Imediatas, delimitando-as com a inclusão de Metrópoles ou Capitais Regionais (IBGE, 2008). Essa mais recente regionalização, sistematizada pelo IBGE (2017), utilizou em suas principais referências diversos estudos regionais feitos anteriormente, articulados de acordo com as premissas e regras da atual proposta de recorte regional, dentre os quais se destaca o REGIC 2007 (IBGE, 2008). A partir da estrutura conceitual-metodológica desenvolvida no REGIC 2007 (IBGE, 2008), outra referência utilizada é o estudo Divisão Urbano-Regional (IBGE, 2013), em razão de ofereceruma perspectiva regional do Brasil, por meio de fluxos articulados por sua rede urbana, culminando na identificação de re- giões em três escalas: (1) Regiões Ampliadas de Articulação Urbana, (2) Regiões 24 Intermediárias de Articulação Urbana e (3) Regiões Imediatas de Articulação Urbana. “Todas as regiões identificadas são formadas a partir de uma cidade que comanda a sua região, estabelecendo-se relacionamentos entre agentes e empresas nos respectivos territórios” (IBGE, 2017, p. 21). O estudo Gestão do Território (IBGE, 2014a) se insere, também, para abordar as redes e fluxos do território, mas com diferencial essencial. Esta dimensão de organização espacial foi construída a partir dos fluxos de gestão, representado pelas instituições públicas federais “que possuem unidades espalhadas pelo Terri- tório Nacional para atender à população, levantar dados e informações e recolher tributos – quanto do lado do mercado – representado pelas empresas privadas multilocalizadas” (IBGE, 2017, p. 21). No novo quadro regional de referência no país (IBGE, 2017), inseriram como referência as principais estruturas de transporte, por meio do estudo Logísticas dos Transportes do Brasil (IBGE, 2014b), que apresenta “[...] rodovias, ferrovias, hidrovias, aeroportos e portos, bem como outros equipamentos associados à logística do transporte de cargas e pessoas no País, como armazéns, estações aduaneiras de interior (chamados portos secos) [...]” (IBGE, 2017, p. 22). Os APs e as Concentrações Urbanas do Brasil (IBGE, 2016a) também cons- tituem a base dessa atualização do quadro de regionalização, fornecendo um arquétipo territorial de representação das relações econômicas e sociais inerentes ao processo de urbanização. “Essas unidades de análise formam um espaço urba- no único, que, para efeito do presente projeto de regionalização, foi considerado indivisível” (IBGE, 2017, p. 22). O desenvolvimento da atual proposta de recorte regional (IBGE, 2017) ini- ciou com a delimitação das Regiões Geográficas Imediatas e Intermediárias. Para cumprir esse objetivo, utilizou-se, em uma primeira fase, a Divisão Urbano-Re- gional (IBGE, 2013), em suas escalas imediata e intermediária, representadas no referido estudo como Regiões Imediatas de Articulação Urbana e Regiões Intermediárias de Articulação Urbana. Conforme o estudo (IBGE, 2017), a Divisão Urbano-Regional (IBGE, 2013) não respeitava o limite das Unidades da Federação, pois fora feita com base no Regic 2007 (IBGE, 2008). Para as Regiões Geográficas Imediatas e Intermediárias, no entanto, a restrição quanto aos limites das Unidades da Federação constitui uma regra. Além disso, para cada escala (imediata e intermediária) foi balizado um número específico de municípios, respeitando “a noção de uma homogenei- UNICESUMAR 25 dade/proporcionalidade territorial e municipal, criando regiões com a mesma hierarquia, porém com extensões territoriais e quantitativos de municípios bas- tante diversos” (IBGE, 2017, p. 22). Para cada Região Geográfica Imediata, a delimitação de composição de mu- nicípios foi de ter no mínimo cinco e no máximo 25, limitado também a um con- tingente populacional mínimo de 50 mil habitantes. Para chegar a essa soma total, utilizaram-se os resultados das Estimativas da População Residente para os Mu- nicípios Brasileiros em 1º de julho de 2016 (IBGE, 2016b). Em termos de hierar- quização, cada Região Geográfica Imediata limitou-se a conter pelo menos uma cidade classificada como Centro de Zona B, conforme o Regic 2007 (IBGE, 2008). De acordo com o estudo (IBGE, 2017), após estruturação dessas regras, suce- deu-se em avaliar município por município, a partir de fluxos de gestão pública e gestão empresarial (IBGE, 2014a), dos deslocamentos para estudo e trabalho (IBGE, 2016a) e das regiões de influência das cidades (IBGE, 2008). Todos esses dados referenciaram a elaboração do atual recorte regional. A obra (IBGE, 2017), ainda, destaca que cada Região Geográfica Imediata tem um polo articulador de seu território. Esse polo cujo nome é concedido à essa região, pode ser um município isolado ou um arranjo populacional. A base das Regiões Geográficas Intermediárias, portanto, são as Regiões Geográficas Imediatas. Assim, primeiro ocorreu a composição de cada Região Geográfica Imediata, a partir dos “dados de fluxo municipais de gestão pública e gestão em- presarial (IBGE, 2014a), de deslocamento para trabalho e estudo (IBGE, 2016a) e das regiões de influência das cidades (IBGE, 2008)” (IBGE, 2017, p. 31). Após estruturadas as Regiões Geográficas Imediatas (Microrregiões), por meio de aglutinação, as Regiões Geográficas Intermediárias (Mesorregiões) fo- ram formadas. Estas últimas precisam respeitar os limites das Regiões Geográ- ficas Imediatas e das UFs bem como ter um número mínimo de duas Regiões Geográficas Imediatas para cada Região Geográfica Intermediária (IBGE, 2017). A Região Geográfica Imediata (microrregião) de Maringá, definida a partir da atual proposta de recorte regional do IBGE (2017) é composta por 23 municípios, a saber: Paiçandu, Ourizona, Nova Esperança, Munhoz de Mello, Maringá, Marialva, Uniflor, Sarandi, São Jorge do Ivaí, Santa Fé, Presidente Castelo Branco, Mandaguari, Mandaguaçu, Ivatuba, Itambé, Iguaraçu, Flórida, Floresta, Floraí, Doutor Camargo, Atalaia, Astorga e Ângulo. UNICESUMAR 27 urbano-metropolitano por meio do nível de integração intrametropolitano4 (CHIRNEV, 2016). Segundo o estudo, o nível de integração intrametropolitano é uma medida para mensurar a escala de integração dos 25 municípios metro- politanos com o polo Maringá. Para a identificação desse nível de integração, as principais fontes foram os microdados do Censo Demográfico do IBGE de 2010. As variáveis selecionadas para classificação seguem a mesma premissa do uso de indicadores que refletem os elementos da dinâmica metropolitana, como: (1) população residente total 2010, (2) Taxa de crescimento populacional geométrico anual no período de 2000 a 2010, (3) Grau de urbanização em 2010 (proporção da população residente em áreas urbanas), (4) Percentual de trabalhadores em ocupações não-agrícolas no município em 2010, (5) Densidade populacional dos setores censitários urbanos (número de habitantes por km²), no conjunto de setores censitários classificados como tipo 1 a 4 (Censo 2010), (6) Produto Interno Bruto (PIB) em 2009, (7) Total de rendimentos das pessoas residentes em 2010 (em R$), (8) Entrada e saída por movimento pendular, ou seja, somatória de entradas e saídas por movimento pendular no município: número de pessoas que procuraram o município para trabalhar ou estudar (entrada) mais o número de pessoas que procuraram outro município para trabalhar ou estudar em 2010 (uma pessoa que “entrou” ou “saiu” no município para realizar as duas atividades foi considerada nos dois tipos de fluxos de entrada ou saída – trabalho e estudo), (9) Porcentagem de entrada e saí- da de movimento pendular, ou seja, percentual de pessoas que “entram” ou “saem” do município para trabalhar ou estudar (item anterior), em relação ao total de pessoas do respectivo município ocupadas ou que frequentavam escola em 2010. O resultado foi o agrupamento de municípios, classificados conforme o nível de integração com o polo, na seguinte escala: Alto, Médio Alto, Médio Baixo e Muito Baixo. Os municípios de Sarandi, Mandaguaçu e Paiçandu, que compõem a área conurbada de Maringá, estão classificados no nível de integração Alto, ou seja, em relação aos demais municípios, participam de maneira efetiva do proces- so de metropolização, compartilhando variáveis afins, como renda, movimento pendular, PIB, perfil não agrícola etc. Os municípios de Nova Esperança, Marialva, Mandaguari e Astorga ocupam a escala de nível de integração Médio Alto, ou seja, mesmo sem estarem interligadas 4 Classificação realizada por Clédina Regina LonardanAcorsi e Ana Lúcia Rodrigues no âmbito do INCT Observatóriodas Metrópoles- Núcleo Região Metropolitana de Maringá, Relatório de Pesquisa (2015). UNICESUMAR 29 identificar quais municípios se integram ou não ao polo e, portanto, contribuir para as análises e discussões sobre a dinâmica regional, definição de FPICs e, por consequência, subsidiar o planejamento efetivo da governança metropolitana. Considerações Finais Para alcançar os objetivos propostos neste estudo, foram identificados distintos padrões de composição da RMM. Cada geografia territorial, selecionada a partir de aspectos específicos de caráter institucional, funcional e político, descreve sua finalidade e dimensão espacial. Em cada território, foi possível identificar as distintas dinâmicas de construção do espaço urbano regional. Na formação institucional da RMM, verifica-se que a composição com 26 municípios está atrelada à força da lei, distante, portanto, de qualquer vínculo com a realidade funcional metropolitana. As leis implementadas, ao longo dos anos, não dotaram o território de qualquer governabilidade e, na obrigatoriedade de outra lei, a partir do Estatuto da Metrópole, delegou aos estados e municípios a responsabilidade de identificar e gerir suas FPICs, ou seja, uma lei para corrigir equívocos relacionados ao indiscriminado e legal processo de institucionalização. O aspecto político de constituição do território foi analisado no presente artigo para atualizar a referência do Estado do Paraná, para a política de desen- volvimento regional. Em seu estudo técnico (PARANÁ, 2017), a SEDU confirma a regional de Maringá como RM e, no estudo de hierarquia, denominado de De- graus Metropolitanos, cuja metodologia foi desenvolvida a partir de três FPICs (Uso e Ocupação do Solo, Meio Ambiente e Mobilidade), confirma a justificativa de inclusão nessa composição regional, além do polo, de mais sete municípios, sendo Sarandi, Mandaguari, Mandaguaçu, Marialva, Nova Esperança, Paiçandu, Presidente Castelo Branco. No aspecto funcional da região de Maringá, destacamos três estudos para demonstrar os territórios integrantes da dinâmica metropolitana nos aspectos funcionais. Dois dos trabalhos foram desenvolvidos pelo IBGE, os Arranjos Po- pulacionais e Concentrações Urbanas (2016) e a Divisão Regional do Brasil em Regiões Geográficas Imediatas e Regiões Geográficas Intermediárias (2017). No estudo regional de 2016 (IBGE, 2016a), o critério de formação de um ar- ranjo populacional foi o agrupamento de municípios, tendo a urbanização como 30 principal processo indutor de integração populacional entre os municípios, em especial com o polo, em razão dos movimentos pendulares para trabalho e/ou estudo bem como a contiguidade entre as manchas urbanizadas principais. Dessa forma, o Arranjo Populacional de Maringá, considerado como Média Concen- tração Urbana (populacionais acima de 100 mil habitantes a 750 mil habitantes), compõe-se pelo polo Maringá, mais os municípios de Floresta, Iguaraçu, Itambé, Mandaguaçu, Marialva, Ourizona, Paiçandu, Presidente Castelo Branco e Sarandi. E, no mais recente estudo do IBGE (2017), incluiu-se como regra a restrição quanto aos limites das Unidades da Federação e se construiu o quadro atual de regionalização do país, utilizando como subsídio para esse processo outras pesquisas anteriores do IBGE (IBGE, 2008; IBGE, 2013; IBGE, 2014a; IBGE, 2014b; IBGE, 2016a; IBGE, 2016b). Esse arcabouço metodológico fundamentou a revisão das unidades mesorregionais e microrregionais do Brasil, denomina- das respectivamente de Regiões Geográficas Intermediárias e Regiões Geográ- ficas Imediatas. O referencial principal das Regiões Geográficas Imediatas é a rede urbana, relacionadas aos centros urbanos mais próximos para satisfação imediata da população, para busca de trabalho, compras de bens de consumo duráveis e não duráveis, acesso à prestação de serviços públicos, acesso a ser- viços de saúde e educação. No quadro atual de regionalização no Estado do Paraná, Maringá identifica uma Região Geográfica Intermediária que tem em sua amplitude mais sete uni- dades de Região Geográfica Imediata, entre as quais a de Maringá, composta por 23 municípios: Paiçandu, Ourizona, Nova Esperança, Munhoz de Mello, Maringá, UNICESUMAR 31 Marialva, Sarandi, São Jorge do Ivaí, Santa Fé, Presidente Castelo Branco, Man- daguari, Mandaguaçu, Ivatuba, Itambé, Iguaraçu, Flórida, Floresta, Floraí, Doutor Camargo, Atalaia, Astorga, Ângulo e Uniflor. O nível de integração intrametropolitano (CHIRNEV, 2016) é o terceiro estu- do no aspecto funcional apresentado, tendo sido elaborado com metodologia do Observatório das Metrópoles (2012). Como resultado, nas escalas mais elevadas, além do polo Maringá, no nível de integração Alto, foi identificado os municípios de Mandaguaçu, Sarandi e Paiçandu e, no nível Médio Alto, os municípios de Astorga, Mandaguari, Marialva e Nova Esperança. Portanto, nas seções delineadas no presente artigo, das principais configura- ções territoriais no contexto da RMM, dos territórios analisados, o padrão insti- tucional não corresponde à dinâmica urbana e regional. O padrão político ainda se encontra estagnado após 21 anos de sua primeira formalização e, apesar de incluir alguns parâmetros técnicos, ainda não é possível verificar se sua proposta poderá contribuir para controle do aprofundamento das desigualdades sociais, ou se beneficiará os modelos de apropriação da cidade. Em relação aos três padrões funcionais sistematizados, esses recortes territoriais são integrados a partir de metodologias e seleção de variáveis. A perspectiva, portanto, refere-se a poder utilizar cada padrão de acordo com o subsídio analítico proposto, seja esse para fundamentar uma pesquisa cientí- fica, debater com autoridades públicas as definições de planejamento regional, suprir os movimentos sociais e a sociedade civil com informações relacionadas à realidade metropolitana. 32 REFERÊNCIAS ACORSI, C. R. L.; RODRIGUES, A. L. Nível de Integração Intrametropolitana da RMM. Relató- rio de Pesquisa. Maringá: Observatório das Metrópoles, 2015. BRASIL. Lei nº 13.089, de 12 de janeiro de 2015. Institui o Estatuto da Metrópole, altera a Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 13 de jan. 2015. p. 2. CHIRNEV, L. Estatuto da Metrópole e o desafio da gestão compartilhada: uma análise do novo marco regulatório sob o viés do atual nível de integração entre os municípios da RMM- -Região Metropolitana de Maringá (PR). Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Universi- dade Estadual de Maringá, Maringá, 2016. FIRKOWSKI, O. Estudo das Metrópoles e Regiões Metropolitanas no Brasil: conciliação ou di- vórcio? In: FURTADO, B. A.; KRAUSE, L.; FRANÇA, K. C. B de (editores). Território Metropoli- tano e políticas municipais: por soluções conjuntas de problemas urbanos no âmbito me- tropolitano. Brasília: IPEA, 2013. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/ PDFs/livros/livros/livro_territoriometropolitano.pdf. Acesso em: 6 jun. 2018. IBGE. Regiões de influência das cidades 2007. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. Disponível em: http://www.ipardes.gov.br/biblioteca/docs/regic_2007.pdf. Acesso em: 15 jun. 2018. IBGE. Censo 2010. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, On-line, [2021]. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/. Acesso em: 15 jan. 2021. IBGE. Gestão do território 2014. Rio de Janeiro: IBGE, 2014a. IBGE. Logística dos transportes 2014. Rio de Janeiro: IBGE, 2014b. IBGE. Arranjos populacionais e concentrações urbanas no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2016a. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv99700.pdf. Acesso em: 07 jun. 2018. IBGE. Estimativas da população residente para os municípios e para as unidades da fe- deração brasileiros com data de referência em 1º de julho de 2016. Rio de Janeiro: IBGE, 2016b. IBGE. Divisão regional do Brasil em regiões geográficas imediatas e regiõesgeográficas intermediárias. Rio de Janeiro: Coordenação de Geografia, 2017. Disponível em: https://bi- blioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv100600.pdf. Acesso em: 15 jun. 2018. 33 REFERÊNCIAS IBGE. Estimativas da população residente no Brasil e unidades da Federação com data de referência em 1º de julho de 2018. Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: https://www.ibge. gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9103-estimativas-de-populacao.html?=&t=downloads. Acesso em: 30 ago. 2019. IBGE. Estimativas da população residente no Brasil e unidades da Federação com data de referência em 1º de julho de 2019. Rio de Janeiro: DPE, COPS, 2019. Disponível em: ht- tps://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/7d410669a4ae85faf4e- 8c3a0a0c649c7.pdf. Acesso em: 30 ago. 2019. OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES. Níveis de integração dos municípios brasileiros em RMs, RIDEs e AUs à dinâmica da metropolização. Relatório de pesquisa. Rio de Janeiro: Observatório das Metrópoles, 2012. PARANÁ. Governo do Estado. Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano (SEDU). Ser- viço Social Autônomo (PARANACIDADE). Referências para a Política de Desenvolvimento Urbano e Regional para o Estado do Paraná. Curitiba, agosto de 2017. PARANÁ. Lei Complementar nº 83 de 17 de julho 1998. Institui a Região Metropolitana de Maringá, constituída pelos Municípios que especifica. Disponível em: http://www.legislacao. pr.gov.br/legislacao/listarAtosAno.do?action=exibir&codAto=8563&codItemAto=81922. Aces- so em: 1 jun. 2018. PARANÁ. Lei Complementar nº 111 de 11 de agosto de 2005. Dispõe sobre o funcionamento das Regiões Metropolitanas do Estado do Paraná. Acesso em: http://www.legislacao.pr.gov. br/legislacao/pesquisarAto.do?action=exibir&codAto=7339&codItemAto=62018. Acesso em: 1 jun. 2018. PARANÁ. Lei Complementar nº 145 de 24 de abril de 2012. Altera o art. 1º da Lei Complemen- tar nº 83/98, incluindo o Município de Nova Esperança na Região Metropolitana de Maringá. Acesso em: http://www.legislacao.pr.gov.br/legislacao/listarAtosAno.do?action=exibir&codA- to=67057&codItemAto=500201#500201. Acesso em: 1 jun. 2018. RODRIGUES, A. L; SOUZA, P. R de. Maringá: a ordem urbana na região metropolitana de Marin- gá: planejamento que produz segregação. In: RIBEIRO, L. C. Q.; RIBEIRO, M. G (org.). Metrópo- les brasileiras: síntese da transformação na ordem urbana 1980 a 2010. 1. ed. Rio de Janeiro: Letra Capital: Observatório das Metrópoles, 2018. UNICESUMAR 35 PRINCÍPIOS DA COMUNICAÇÃO PÚBLICA E O DIREITO À INFORMAÇÃO Lilian Chirnev Antonio Teixeira de Barros Armando Medeiros de Faria O objetivo do presente capítulo é apresentar a comunicação pública (CP) como um instrumento de fortalecimento dos interesses dos cidadãos nas instituições públicas nos três Poderes da União, no Distrito Federal, nos Estados e Municí- pios5. É, ainda, um reconhecimento em torno do direito à informação e do dever do Estado em prestar contas aos cidadãos, de modo a constituir a comunicação pública como instrumento para o fortalecimento da democracia, da cidadania e da eficiência do setor público6. Para cumprir tal proposta e municiar com informações todos os agentes (incluindo profissionais e cidadãos) que atuam e compõem tais instâncias, dis- corremos sobre a temática, a partir de uma pesquisa bibliográfica7 cujos autores são oriundos das diversas disciplinas do saber, em especial comunicólogos, con- siderados referências em torno do debate sobre o conceito de CP, que atualmente está em processo de construção. 5 A comunicação pública como prática também se aplica nas instituições privadas e no terceiro setor, mas, para cumprir o referencial do tema geral do livro Temas contemporâneos de Gestão Pública, opta- mos por dar enfoque na comunicação pública nas instituições públicas ligadas aos três Poderes nos diversos entes federados. 6 Preceito evidenciado pela Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública). 7 Autores de diversos países, pesquisadores, professores, profissionais do setor público e entidades que se apropriaram da comunicação pública têm produzido análises com os mais diversos vieses, desde a definição conceitual de comunicação pública; seus desdobramentos por meio dos princípios de instituição do direito à liberdade de expressão, comunicação e informação; contextos históricos, políticos e sociais da comunicação pública; políticas de comunicação, entre outros. Os referenciais apresentados no capítulo constituem apenas alguns desses estudos. 36 A referida multidisciplinaridade, também, está atrelada a um aspecto impor- tante da CP: os esforços empreendidos nos últimos anos, pelos pesquisadores do tema, são no sentido de instituir a comunicação pública como aparato essencial na prática de atuação de todos os setores cujo vínculo seja o cidadão. Versar sobre a comunicação no setor público, para além dos aspectos tecnicis- tas/mecanicistas8 desse processo instituído e restrito, inicialmente as assessorias de comunicação, vai ao encontro de compreender a mudança na sociedade. Desse modo, a polarização, que deu base para as distinções entre teoria e prática profissio- nal dos profissionais da comunicação9, busca encontrar um caminho para aprimo- rar a ação comunicacional e estar inserida de maneira sistêmica na gestão pública. Esse renovo desencadeado, nos últimos anos, em torno do debate sobre o que seja comunicação pública e como ampliar sua aplicabilidade de maneira efetiva, atende principalmente a uma demanda atual do Estado democrático. O cidadão, agora, também, conta com a possibilidade de acessar e usufruir das novas tecno- logias de informação e comunicação, consciente, cada vez mais, de sua condição de cidadania. Dessa forma, ele intervém em todos os espaços (físicos e virtuais) para fazer valer seus direitos e deveres. Posto isto, iniciamos a apresentação do tema com o contexto histórico da co- municação no setor público, traçando paralelo entre o surgimento dos primeiros serviços de comunicação e das relações públicas; os diversos conceitos relacionados à comunicação realizada no âmbito público bem como a evolução da compreen- são, em relação ao processo de comunicação, para atender apenas os interesses da organização e, mais recentemente, colocando o cidadão como foco de atuação. Em seguida, destacamos o aspecto legal da informação e da comunicação como direito. A definição conceitual de comunicação pública e as relações e prá- ticas comunicacionais, também, compõem nossas discussões. E, por fim, nas con- siderações finais, enfatizamos a necessidade de estabelecer uma agenda pública de debate para avançar na possibilidade de definir parâmetros para referenciar e propagar a prática da comunicação pública nas instituições públicas e na socie- dade brasileira como um todo. 8 Transmissão intencional de mensagens entre um emissor e um receptor. 9 Nesse contexto, Brandão (2012) dispõe sobre as raízes do conceito de CP e ressalta o resgate idea- lístico da comunicação bem como a renovação deste ideal por meio da comunicação pública. Vale a leitura completa do capítulo intitulado Conceito de comunicação pública, assim como a obra comple- ta no qual o texto se insere (DUARTE, 2012). UNICESUMAR 37 Influências internacionais no conceito de comunicação pública no contexto brasileiro No desenvolvimento dos estudos sobre comunicação pública no Brasil, é consensual a relevância do legado de intelectuais franceses, sobretudo no que se refere ao papel desempenhado por Pierre Zémor, que se tornou a principal referência dos estudos sobre o tema, no Brasil, nos últimos anos (BARROS; BERNARDES, 2009). Zémor foi o primeiro autor introduzido no campo acadêmico brasileiro sobre o tema. Suas obras foram, amplamente, divulgadas nos cursos de pós-graduação da área de comu- nicação, no Brasil. A presença dele, em eventos brasileiros, reforçou essa influência. Pierre Zémor foi presidente da Federação Europeia de Associações de Co- municaçãoPública (FEACP) e, também, da Associação Francesa de Comuni- cação Pública, da qual foi fundador. Um dos seus livros mais conhecidos, La Communication Publique10, contou com tradução, no Brasil, da professora Eliza- beth Brandão, em meados da década de 90, que ajudou a difundir o conceito e o pensamento de Zémor, por meio de cursos ministrados por ela, palestras, textos apresentados em congressos e publicações em revistas especializadas. No dia 24 de abril de 2009, Zémor proferiu palestra em Brasília, a convite da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e da Secretaria de Comunica- ção Social da Presidência da República, com apoio da Embaixada da França, para falar no seminário Comunicação Pública: A Experiência Francesa. O evento fez parte das comemorações do Ano da França no Brasil. Na ocasião, a professora He- loiza Matos, uma das pioneiras nos estudos sobre comunicação pública no Brasil, relatou como iniciou seu interesse acadêmico pela obra do estudioso francês. Ela explicou que se deparou com os livros de Pierre Zémor sobre comunicação pública, quando esteve na Europa, pesquisando sobre comunicação política no início da década de 80 (MATOS, 2009). Na mesma ocasião, Elizabeth Brandão testemunhou que seu primeiro con- tato com o pensamento de Zémor se deu por meio de textos trazidos da França, por Heloiza Matos. Em sua avaliação, as primeiras discussões sobre a comuni- cação pública, no final dos anos 90, coincidiram com o novo momento político do Brasil e a busca por uma nova cidadania. “Eram jovens profissionais da co- 10 Zémor, também, é autor de vários outros livros sobre comunicação pública: Le sens de larelation: organisation de la communication duservicepublic; Pourunmeilleurdébatpublic; Le défi de gouverner, communication comprise: Mieuxassocierlescitoyens? e La communication publique en pratique. 38 municação que tinham profundo idealismo e acreditavam que a comunicação pública pudesse ir além da mídia”, disse Brandão durante sua conferência ao lado de Pierre Zémor e de Heloiza Matos. Ao iniciar a palestra, Zémor (2009) lembrou que a comunicação pública co- meçou a ser conceituada, há cerca de 25 ou 30 anos. Para ele, a democracia não pode se contentar em simplesmente transpor técnicas do marketing ao serviço público. Para a representação dos poderes públicos, explicou, a comunicação deve se afastar das características concorrenciais de mercado. A transparência e a participação democrática, na gestão dos sistemas públicos de informação, são apontadas, por Pierre Zémor (1995), como pilares da comuni- cação pública. São, portanto, os dois pré-requisitos para o pleno funcionamento desses sistemas, pois, segundo o autor, trata-se das colunas necessárias para garan- tir o interesse geral. Sem a legitimidade do interesse geral, conforme Zémor, não é possível falar em comunicação pública. Essa ênfase no interesse geral é justificada, pelo autor, devido à natureza dos serviços públicos de informação cujo domí- nio público deve ultrapassar a esfera do Estado ou da instituição que produz os conteúdos. Como se trata de uma comunicação que se situa necessariamente no espaço público, o olhar do cidadão é mais relevante do que o controle do Estado. É neste pressuposto que se sustenta o argumento de Pierre Zémor: assegurar o interesse geral implica, necessariamente, transparência. Nessa ordem de ideias, ouvir as demandas, as expectativas e as interrogações do público, segundo Zémor, deve ser a função primordial da comunicação pú- blica, além de estimular e fortalecer o debate público, que ele considera requisito para fomentar a participação política. Entre outras funções da comunicação pú- blica, o autor destaca: “ a) informar adequadamente o público, o que implica levar ao co- nhecimento da população noticiário abrangente e contextualizado, além de prestar contas sobre os serviços prestados pela instituição e valorizar a cultura dos receptores; b) contribuir para assegurar e fortalecer as relações sociais (sentimento de pertencer ao coletivo, tomada de consciência do cidadão enquanto ator social e político); c) acompanhar as mudanças, tanto as comportamentais quanto as da organização social; d) alimentar o conhecimento cívico (BAR- ROS; BERNARDES, 2009, p. 5). UNICESUMAR 39 Outro tópico destacado por Zémor é a complexidade da relação com o cidadão receptor. Segundo sua análise, na comunicação pública, o cidadão é um interlocu- tor ambivalente. Ao mesmo tempo em que ele respeita e se submete à autoridade das instituições públicas, ele protesta sobre a falta de informação, ou sobre suas mensagens mal construídas, incompletas ou mal divulgadas. Na visão de Pierre Zémor, portanto, a missão da comunicação pública não se resume a informar o público, mas também a aproximar as instituições públicas da sociedade e do cidadão. Para isso, as organizações devem, em sua avaliação, desenvolver campanhas de informação e ações de comunicação de interesse geral a fim de tornar conhecidas as instituições. Portanto, a comunicação pública com- preende um conjunto de atividades de comunicação externa que reúne jornalis- mo público, divulgação institucional, publicidade institucional e accountability. O autor ressalta, entretanto, que a comunicação interna deve seguir os mesmos princípios, caso contrário, não haverá sintonia entre a opinião dos servidores e profissionais da instituição e a opinião pública. Outra contribuição internacional importante, que exerce influência na co- municação pública brasileira, ainda, hoje, diz respeito aos princípios que a comu- nicação pública deve seguir, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 2001). São os seguintes: • Universalidade: os conteúdos devem ser acessíveis a todos os cidadãos interessados, independentemente de sua posição so- cial, nível de instrução ou poder econômico. • Diversidade: os conteúdos devem contemplar interesses públi- cos diversificados e visões plurais. • Independência: a atuação dos veículos de comunicação pública deve se pautar pela independência editorial, sem alinhamento a quaisquer visões partidárias, governamentais ou comerciais. • Diferenciação: os conteúdos oferecidos devem primar pela diferenciação em relação aos padrões das mídias comerciais, demarcando, assim, sua identidade pública, livre dos ditames da busca de audiência. Além das heranças francesas, a história do conceito de comunicação pública, no Brasil, é tributária da comunicação educativa, sistema estratégico de difusão in- 40 formacional e cultural utilizado pelo Estado brasileiro para transmitir e difundir conteúdos instrucionais à população, a partir da década de 30 (BARROS; BER- NARDES; MACEDO, 2015). Tal sistema fazia parte do conjunto de medidas governamentais para institucionalizar as políticas culturais e a Educação a Dis- tância. No caso do governo Vargas, conforme analisam McCann (2004), Ortiz (1994) e Williams (2001), o projeto de comunicação radiofônica se insere no contexto de formação de uma indústria cultural brasileira, fruto das influências culturais dos empreendimentos decorrentes da “cultura de guerra” que influen- ciou o cenário nacional e a América Latina, em seu contexto mais abrangente. Um desdobramento específico dessa “cultura de guerra” foram os sistemas educativos de rádio, conforme os estudos de Pimentel (2004), Fontecilla (1983), além de Targino e Barros (1992). No âmbito das instituições públicas, em sua fase inicial de desenvolvimento, as atividades de comunicação estavam integradas, basicamente, à concepção de coletar e divulgar informações pertinentes ao setor assistido. Como identifica Andrade (1993), o primeiro emprego sistemático de um serviço informativo oficial no âmbito governamental surgiu do Departamento de Agricultura, nos Estados Unidos, em 186211. No Brasil, a criação de um setor especializado de serviço informativo se deu primeiro no setor públicoe foi identificado, historicamente, em 1911, por meio do Decreto nº 9.195 de 9 de dezembro, instituindo o Serviço de Informações e Divulgação do Ministério da Agricultura, sendo considerado o primeiro infor- mativo oficial brasileiro. Ainda, em relação ao contexto histórico, considerando os paralelos com a origem das assessorias de comunicação social e da atividade de relações públicas (WELS, 2008), na sua obra Cronologia da Evolução Histórica das Relações Públi- cas, Gurgel (1985) relata o início do funcionamento do primeiro serviço regular de Relações Públicas no país, em 1914, denominado Departamento de Relações Públicas da The São Paulo Tramway Light and Power Co. Limited. O modelo adotado intermediava a interlocução entre governo, mídia e socie- dade, mantendo um canal de comunicação permanente, mas, prioritariamente, 11 Wels (2008), no capítulo Aspectos históricos da atividade de Relações Públicas: paralelos com a origem das assessorias de comunicação social, para uma melhor compreensão e desenvolvimento do tema referente aos possíveis paralelos entre a história das Relações Públicas e as Assessorias de Comunicação Social, a autora faz uma breve discussão sobre assessorias nas organizações. UNICESUMAR 41 para divulgar ações governamentais e, por consequência, a propagação da ima- gem pública. Como observou Wels (2006), mesmo com fronteiras pouco nítidas quanto às práticas desenvolvidas pelos profissionais habilitados em Comunicação Social, entre os quais os de relações públicas, jornalistas e publicitários, as asses- sorias de comunicação consolidaram suas funções, legitimando-se como área estratégica nas instituições públicas. Assim como no Poder Executivo, o Poder Legislativo iniciou seu projeto de comunicação por meio da rádio. Em 1952, as câmaras municipais das cidades mais desenvolvidas, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belho Horizonte, contrata- vam rádios locais para transmissão das sessões legislativas. O Legislativo Federal, porém, só chegou às rádios dez anos mais tarde, em 1962, após a transferência da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília. Naquela época, o programa “A Hora do Brasil” passou a chamar-se “A Voz do Brasil”12 e a dividir o tempo de transmissão diária com os poderes Legislativo e Judiciário (ADGHIRNI, 2006). Os núcleos de rádio do Senado e da Câmara dos Deputados surgem com as equipes responsáveis pela produção de “A Voz do Brasil” e que alimentava 400 emissoras em todo o país. O projeto de comunicação pública nos três poderes se consolidou com a criação das emissoras de televisão na década de 90, pelo Congresso Nacional (TV Senado e TV Câmara) e pelo Poder Judiciário (TV Justiça). Esse projeto foi denominado de mídias das fontes13, o que resultou na diversificação dos veículos, incluindo os sites noticiosos e as novas mídias. Ao mesmo tempo em que essas mídias são consideradas importantes serviços de transparência e de prestação de contas à sociedade, a literatura registra críticas ao modo como elas são gerenciadas e administradas (BUCCI, 2015). Para o autor, as insti- tuições de comunicação do setor público, no Brasil, constituem uma forma de narcisocracia, pois são conduzidas ao sabor dos interesses e vaidades dos seus dirigentes, que ocupam cargos comissionados. Isso leva esses veículos a 12 Trata-se do primeiro e mais importante programa de rádio com o formato de divulgação oficial das atividades do Poder Executivo, com o objetivo de conquistar a simpatia da população para o governo Vargas. Todas as emissoras de rádio do País, inclusive as privadas, eram obrigadas a transmitir o noticiário oficial, das 19h às 20h. Em 1962, o Poder Legislativo passou ocupar a segunda meia hora do noticiário. Em 1971 o nome foi alterado para Voz do Brasil. Atualmente, a transmissão continua sendo obrigatória, mas o tempo foi redistribuído, de modo que o Poder Executivo ocupa 30 minutos, o Legislativo 20 e o Judiciário 10 minutos. 13 Trata-se de conceito formulado por Francisco Sant’Anna (2008), segundo o qual, as mídias das fontes consistem na iniciativa de instituições públicas difundirem informações por veículos pró- prios, sem a intermediação da mídia privada. 42 se preocuparem mais com a imagem e a reputação de seus dirigentes, em vez de priorizar o interesse público efetivamente. Essa crítica aponta para as distinções entre comunicação pública e comuni- cação estatal, que são caracterizadas de forma distinta pela Constituição Federal de 1988. A primeira é definida de forma mais abrangente, voltada para o interesse público e a promoção da cidadania, enquanto a segunda é centrada na figura do Estado, que constitui o emissor das mensagens divulgadas para informar o cidadão. Maria Helena Weber (2010) entende que, no Brasil, existe uma vertente intermediária, a comunicação pública de estado, além da comunicação governa- mental. A primeira é entendida como um sistema a serviço do Estado cujas fun- ções e atribuições são definidas por políticas públicas duradouras, ao contrário da segunda, que muda conforme o perfil do governo em exercício. Miola e Marques (2017) ressaltam que a comunicação pública de estado tem como objetivos principais promover transparência, accountability (no sentido de prestação de contas à sociedade) e motivar o cidadão para a participação democrática. Em linhas gerais, os autores afirmam que a comunicação pública de estado constitui uma prestação de serviços ao público: “ a prestação de serviços diz respeito, primeiramente, ao entendi- mento do Estado enquanto provedor de certas atividades, bens e direitos que são de domínio público. Em segundo lugar, a ideia de racionalização da administração da res publica também suscita a preocupação com o aprimoramento, a partir da comunicação, dos processos geridos no âmbito estatal. Trata-se, de um lado, de utilizar a comunicação para aumentar ou melhorar o acesso àqueles serviços que são de responsabilidade do Estado (ligados a saúde e educação, por exemplo) e, de outro, contribuir para a melhoria dos processos administrativos internos (MIOLA; MARQUES, 2017, p. 5). Com foco no direito do cidadão à informação, à participação e no dever do Es- tado de prestar contas de suas ações, foi criada em 2016 a Associação Brasileira de Comunicação Pública – ABCPública (https://abcpublica.org.br). A referida associação defende a democratização da comunicação, a participação da socie- dade civil nas políticas públicas de comunicação e o alinhamento das instituições públicas aos princípios definidos pela Unesco, pela Constituição de 1988 e pelas demais normas legais em vigor. UNICESUMAR 43 Modalidades de comunicação pública Com base nos referenciais acima mencionados, Brandão (2012, p. 9) define a comunicação pública como “é um processo comunicativo que se instaura entre Estado, governo e sociedade com o objetivo de informar e construir cidadania”. Duarte (2012) enfatiza que a atuação em comunicação pública demanda uma série de compromissos, entre os quais o de privilegiar, efetivamente, o interesse público sobre o interesse individual ou mesmo o corporativo. Também deve co- locar o cidadão no centro do processo, “[...] (c) tratar a comunicação como um processo mais amplo do que informação; (d) adaptação dos instrumentos às necessidades, possibilidades e interesses dos públicos; (e) assumir a complexidade da comunicação, tratando-a como um todo uno” (DUARTE, 2012, p. 59). Como demonstrou Lucatelli e Andrade (2011), as expressões utilizadas para designar a comunicação desempenhada no serviço público são: comunicação governamental, comunicação pública, propaganda política, marketing político e comunicação política14. De acordo com os autores, fazendo referência a Dor- nelles (2002), a comunicação política ocorre nos momentos de gestão pública e, também, durante os períodos eleitorais. Lucatelli e Andrade (2011) acrescentam a esse raciocínio o destaque de Maicas (1992, p. 277) quanto à comunicação polí- ticaque “deve desenvolver, em toda sua profundidade, a relação entre o processo político, com suas distintas fases, ou seja, época de gestão e de período eleitoral”, para trabalhar favoravelmente a opinião pública e, dessa forma, justificar sua legitimidade e obter êxito no sufrágio almejado. O marketing político, por sua vez, é utilizado de maneira permanente e siste- mática, tem a finalidade de aproximar o cidadão comum dos partidos ou políticos. Nesse sentido, segundo Gomes (2004, p. 27), a estratégia é de desempenhar o papel de formação de futuros eleitores, criar um vínculo que deve perdurar durante toda a vida, “uma estratégia que vai abranger diferentes tipos de públicos, em vários segmentos socioculturais e faixa etária”. E, na perspectiva de Pinho (2001, p. 142), a propaganda política é uma propaganda de cunho ideológico, “de caráter perma- nente e visa difundir ideologias políticas, programas e filosofias partidárias”. 14 Outros autores têm compreensões variadas e até não consensuais em relação às expressões uti- lizadas para designar a comunicação desempenhada na esfera pública. Alguns, inclusive, inserem interfaces entre a comunicação pública e as demais expressões (comunicação governamental, comunicação pública, propaganda política, marketing político e comunicação política). 44 O conceito de comunicação governamental é mais abrangente e estabelece a atuação de uma rede formal e estruturada de comunicação, geralmente, em funcionamento, dentro das organizações governamentais, com o objetivo de repassar informações à opinião pública cuja premissa é de prestação de contas e manutenção de linhas de comunicação com a sociedade. “A comunicação governamental, em sistemas democráticos, abriga todas as possibilidades de intercâmbio entre o Governo e os governados, num fluxo constante de ideias, bilateral, aberto, livre” (REGO, 1985, p. 44). Entretanto, em razão da relação prática da comunicação feita no âmbito do serviço público – ocupada por três principais áreas, publicidade, relações públicas e jornalismo – demonstrar o atendimento dos interesses somente da organização, ou melhor, os interesses dos dirigentes que ocupam, durante determinado perío- do, cargos de chefia (nos três Poderes), direcionando a atuação dos profissionais de comunicação para a relação da persuasão e convencimento sobre os feitos específicos dos mesmos e dos seus correlatos indicados, na maioria das vezes, apropriando-se das assessorias de comunicação como se estivessem a cargo da manipulação das massas e não a serviço do interesse dos cidadãos, esse modelo comunicacional implantado passou a ser questionado. Debates incitaram a possibilidade da criação de uma nova diretriz de in- teração cujo vínculo primordial seja o compromisso em privilegiar o interesse público. A esse processo foi associado a expressão comunicação pública. Apesar da expressão ter sido consagrada, no Brasil, por conta da implantação da radiodi- fusão pública na década de 20, o termo era apenas um referencial de contraponto com a comunicação desempenhada no setor privado (MATOS, 2012). Em todas as modalidades de comunicação no setor público, as assessorias de comunicação exercem papel estratégico (DUARTE et al., 2018). Com as trans- formações decorrentes dos avanços tecnológicos, essas assessorias passaram a atuar de forma mais dinâmica na mediação entre as instituições e as mídias ex- ternas. Entre essas transformações, destaca-se a atuação dos profissionais dessas assessorias nas variadas plataformas digitais, que se tornaram um novo campo de atuação para a comunicação pública. UNICESUMAR 45 Comunicação pública e a formação de um novo espaço público Em diversos países, autores, pesquisadores, professores, profissionais do setor pú- blico e entidades que atuam em defesa da comunicação pública têm produzido análises da definição conceitual de CP, com os mais diversos vieses, incluindo nes- sas interpretações os desdobramentos afins, como as relações com os princípios de instituição do direito à liberdade de expressão, à comunicação e à informação bem como suas intersecções nos contextos históricos, políticos e sociais, entre outros. Cabe apontar, ainda, como outra linha de revisão da trajetória da comuni- cação pública, o caminho da interdisciplinaridade, característico dos estudos comunicacionais (BRANDÃO, 2006). Sem dúvida, a compreensão e análise dos processos de comunicação pública podem e são enriquecidos com o cruzamen- to de campos do conhecimento que permite compreender melhor a realidade. Economia, Política, Psicologia Antropologia, Direito, Medicina – e tantas outras disciplinas – tais interfaces iluminam a dinâmica dos atos comunicativos dentro do recorte que envolve Estado e Sociedade, a partir de apropriações e ampliações do tripé clássico “emissor, mensagem, receptor”. Da mesma forma, as políticas públicas prescindem da comunicação. Estudá- -las sob a ótica da comunicação pública possibilita, do ponto de vista empírico, questionar e repensar novos instrumentos e formatos de diálogo com os cida- dãos (ARAÚJO, 2004; PENTEADO; FORTUNATO, 2015). Projetos de transfe- rência de renda, moradia, educação, saúde, mobilidade, sustentabilidade, defesa, segurança, proteção de dados, integridade e compliance – o rol é interminável – precisam ser conduzidos em todas as etapas sob os axiomas da administração pública que preconizam valorização da cidadania, direito social à informação e dever republicano de prestar contas de forma transparente. Este capítulo apresenta apenas alguns desses referenciais conceituais. Mas é importante enfatizar, seja qual for a abordagem, independentemente dos sig- nificados atribuídos e suas distinções de definição ou as suas também variadas associações15, a definição do conceito de comunicação pública pode ser consi- 15 Brandão em seu trabalho apresentado em 2006 no Núcleo de Pesquisa Relações Públicas e Comunica- ção Organizacional, do VI Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom, com o título Uso e Significados do Conceito Comunicação Pública, destaca que a expressão comunicação pública leva à identificação de pelo menos cinco áreas diferentes de conhecimento e atividade profissional, sendo identificada como Comunicação Organizacional, Comunicação Científica, Comunicação do Estado e/ou Governamental, Comunicação Política e como estratégias de comunicação da sociedade civil organizada. 46 derada em processo de construção, justamente pela “complexidade do assunto e sua juventude” (HASWANI, 2013, p. 9). Durante essa fase de constituição do termo, constata-se uma convergência para um aspecto de compreensão em específico entre os especialistas, a comu- nicação pública está relacionada à cidadania, também de primar pelo interesse público, de instituir o cidadão como foco do Estado, constituindo dessa forma um novo espaço público para estabelecer interações e relações políticas. Nesse sentido, Brandão (2006, p. 10) afirma que a comunicação pública “diz respeito a um processo comunicativo que se instaura entre o Estado, o governo e a sociedade com o objetivo de informar para construir a cidadania”. Kunsch (2013), ao descrever os conceitos e abrangência da CP, apresenta algumas refe- rências, entre as quais a citação de Matos (2011, p. 45) que afirma “a comunica- ção pública deve ser pensada como um processo político de interação no qual prevalecem a expressão, a interpretação e o diálogo”, e também de López (2011) que esclarece que a comunicação pública tem “como pilares essenciais caracte- rísticos de seu espectro a causa pública, os princípios democráticos e o interesse público” (KUNSCH, 2013, p. 6). Nesse aspecto, Duarte (2012) evidencia que a comunicação pública: “ coloca a centralidade do processo de comunicação no cidadão, não apenas por meio da garantia do direito à informação e à expressão, mas também do diálogo, do respeito a suas características e neces- sidades, do estímulo à participação ativa, racional ecorresponsável (DUARTE, 2012, p. 61). Como observou Brandão (2012), mesmo com a nova proposta, ainda existe uma tendência em identificar a comunicação pública, como sendo somente a comu- nicação elaborada pelos órgãos governamentais. Para ela, “ A substituição dessas terminologias por comunicação pública é resultado da necessidade de legitimação de um processo comu- nicativo de responsabilidade do Estado e/ou Governo que não quer ser confundido com a comunicação que se fez em outros momentos da história política do país. Expressões como marke- ting político, propaganda política, ou publicidade governamental UNICESUMAR 47 tem conotação de persuasão, convencimento e venda de imagem, em suma do que ficou conhecido como “manipulação das mas- sas”. O uso histórico dessas expressões obrigou à busca e à adoção de uma terminologia que fosse compatível com a nova realidade política do país, identificando a comunicação como uma práti- ca mais democrática. [...] A comunicação é hoje um ator político proeminente e é parte constituinte da formação do novo espaço público (BRANDÃO, 2012, p. 9-10). Nesse sentido, a comunicação pública também representa quase uma similarida- de com a definição sociológica de Comunicação apresentada por Melo (1977), entendido como elemento desencadeador e delimitador da interação social, um instrumento das relações sociais, sendo o processo pelo qual o indivíduo é in- tegrado na sociedade, um marco por meio do qual os seres vivos se encontram em união com o mundo. Diante das questões acima delineadas, evidenciamos que a Comunicação Pública está atrelada ao direito à informação e a superação da exclusão digital denota um viés de democratização da comunicação, imbuída de diálogo e parti- cipação. É “o compromisso com a accountability, que demonstra transparência e confiabilidade na administração dos negócios públicos” (BRANDÃO, 1998, p. 14). Ainda, para Brandão: “ [...] é preciso incutir o entendimento de que todos têm o dever de prestar contas a seus públicos específicos, de acordo com as necessi- dades de cada grupo e escolhendo os meios apropriados. Para isso, é indispensável que a COMUNICAÇÃO PÚBLICA seja realizada por todos que integram a área pública, de maneira autônoma e descen- tralizada de acordo com suas características, buscando encontrar a melhor forma de expressão da comunicação em cada setor das políticas públicas adotadas pelo Estado (BRANDÃO, 1998, p.15). No âmbito dos três Poderes, esse vínculo do Estado com a população deveria ser gerido pelos setores e órgãos públicos representativos de comunicação. No entan- to a prática no setor foi naturalizada – até pelo próprio cidadão – como sendo de oferecer um serviço unilateral de informações, vinculado a propagandear as ações do Executivo, Legislativo e Judiciário, com foco nos feitos dos seus gestores, como 48 se trata de mera benevolência e não de ações de planejamento, gestão e execução que cumprem deveres e garantia de direitos dos cidadãos. O direito à informação e a comunicação pública O propósito da CP é a utilização da comunicação como instrumento de interesse coletivo para fortalecimento da cidadania. O conceito de cidadania está ligado ao estabelecimento e exercício de direitos e deveres, no caso do Brasil, com base na Constituição Federal (1988). Barbosa (2011, p. 163) evidencia que a definição de comunicação pública está diretamente relacionada com o direito à informação. Para a autora, um projeto de comunicação pública passa por três requisitos base: “prestação de informações (subprincípio da informação), informação significativa (subprincípio da motiva- ção) e participação (subprincípio da participação)”. Os três pontos apresentados pela autora também constituem princípios da transparência da administração pública, consagrada na Constituição Federal de 1988 e, em regulamentação, foi editada a Lei de Acesso à Informação (LAI) - Lei nº 12.527/201116. A teoria geral do direito à informação17 na Administração Pública, que rege o acesso aos documentos administrativos, existe desde a Constituição Federal de 1988, disposto no artigo 5º, inciso XXXIV, alínea b, item 12 da CR/88, no sentido de que o direito à informação diz respeito somente às situações de interesse coleti- vo ou difuso e, quando se tratar de direito individual, ter-se-á o direito à certidão. A LAI regulamenta o direito constitucional de acesso às informações públi- cas. Essa norma entrou em vigor em 16 de maio de 2012 e criou mecanismos que 16 Há um conjunto normativo que instrumentaliza a transparência na administração pública, que apesar de ter escasso ao uso da expressão transparência, compõem o vasto conjunto de regras do direito administrativo brasileiro que não estarão presentes no nosso capítulo. Indico um artigo que trata sobre essa questão e apresenta uma reflexão crítica em relação à concretização da LAI, sendo: MOURA, E. F. C. da. Transparência Administrativa, Lei Federal nº 12.527/2011 e sigilo dos documentos públicos: a inconstitucionalidade das restrições ao acesso à informação. Revista do Direito Público, Londrina, v. 11, n. 2, p. 289-324, ago. 2016. 17 Viegas (2003; 2004, p. 672) distingue o direito de informação do direito à informação. Para o au- tor, “o direito de informação caracteriza-se por ser um direito individual por excelência. É o direito de poder se expressar, de manifestar opiniões, enfim é o direito de quem fornece a informação. A Constituição, quando fala da comunicação social, garante a liberdade de informar, de manifestar pensamento, que deve ser visto juntamente com o artigo 5º, IV, que garante a liberdade de ma- nifestação de pensamento”. UNICESUMAR 49 possibilitam, a qualquer pessoa, física ou jurídica, sem necessidade de apresentar motivo, o recebimento de informações públicas dos órgãos e entidades. Entre os principais aspectos da Lei nº 12.527/2011 estão: “ • A Lei vale para os três Poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, inclusive aos Tribunais de Conta e Ministério Público. Entidades privadas sem fins lucrativos também são obrigadas a dar publicidade a informações referentes ao recebimento e à destinação dos recursos públicos por elas recebidos; • Acesso é a regra, o sigilo, a exceção (divulgação máxima). O re- querente não precisa dizer por que e para que deseja a informação (não exigência de motivação); • Hipóteses de sigilo são limitadas e legalmente estabelecidas (limi- tação de exceções). • Fornecimento gratuito de informação, salvo custo de reprodução (gratuidade da informação); • Divulgação proativa de informações de interesse coletivo e geral (transparência ativa); • Criação de procedimentos e prazos que facilitam o acesso à infor- mação (transparência passiva); • Todas as informações produzidas ou sob guarda do poder público são públicas e, portanto, acessíveis a todos os cidadãos, ressalvadas as informações pessoais e as hipóteses de sigilo legalmente estabe- lecidas. A LAI deve ser cumprida por todos os órgãos e entidades da administração direta (órgãos públicos) e indireta (autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mistas). O direito à informação é preceito constitucional e deve ser exercido em todos os níveis de governo, pois “[...] não há como se falar em de- mocracia participativa se aqueles que devem participar não têm as informações necessárias para fazê-la” (VIEGAS, 2003; 2004, p. 671). E, ainda: “ [...] em regra o que está em jogo é o interesse geral sobre o indi- vidual. É o interesse da coletividade em detrimento do segredo da administração, que é pública. Este direito situa-se no plano 50 dos novos direitos do cidadão. Podemos inseri-lo, inclusive, en- tre os direitos de quarta geração como quer Bonavides, vez que é um pressuposto da democracia que os cidadãos tenham conheci- mento dos atos, das atividades da administração para que possam atuar fiscalizando, controlando e participando
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