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Livro - Anatomia e Fisiologia_Parte1.pdf ANATOMIA E FISIOLOGIA Thamara Moterani Rabelo de Paula E d u ca çã o A N A T O M IA E F IS IO L O G IA Th am ar a M ot er an i R ab el o d e P au la Curitiba 2020 Anatomia e Fisiologia Thamara Moterani Rabelo de Paula Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. P324a Paula, Thamara Moterani Rabelo de Anatomia e fisiologia / Thamara Moterani Rabelo de Paula. – Curitiba: Fael, 2020. 274 p. il. ISBN 978-65-86557-01-5 1. Anatomia humana 2. Fisiologia humana I. Título CDD 611 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Fabio Heinzen Fonseca Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Shutterstock.com/adike Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Introdução ao estudo da anatomia | 7 2. Osteologia e sindesmologia | 29 3. Sistema nervoso e neuromotor | 65 4. Fisiologia da nocicepção (dor) e arco reflexo | 95 5. Sistema muscular | 115 6. Sistema cardiovascular | 139 7. Sistema respiratório | 163 8. Sistema digestório e metabólico | 187 9. Sistema renal e endócrino | 211 10. Sistema reprodutor | 233 Gabarito | 253 Referências | 271 Prezado(a) aluno(a), Nesse momento, sentimos uma imensa satisfação em divi- dir os conhecimentos sobre Anatomia e Fisiologia Humana com você. Durante nossos estudos, teremos a capacidade de compre- ender os conceitos, as estruturas e as funções do corpo humano. Nosso intuito é que você se sinta mais do que um aluno, e que aprenda sobre o corpo humano de forma fácil e didática. Para estimular seu raciocínio lógico, crítico e reflexivo, uti- lizamos uma linguagem clara, de fácil compreensão, porém não deixamos de lado as informações científicas pertinentes e compa- tíveis com o conteúdo e com a sua formação. Desejamos uma ótima leitura! Carta ao Aluno 1 Introdução ao estudo da anatomia Estudos de anatomia humana tratam das estruturas do corpo, objetivando a compreensão da formação do organismo vivo, bem como a base estrutural de funcionamento dos órgãos. De acordo com Dangelo e Fattini (2007), o estudo de anatomia é de extrema importância pedagógica, principalmente para aqueles que traba- lham com vidas. A disciplina faz parte da matriz curricular de vários cursos, para a compreensão das funções fisiológicas e dos processos pato- lógicos do corpo. A anatomia e a fisiologia estão estreitamente relacionadas (TORTORA; DERRICKSON, 2010), podendo ser estudadas de forma simultânea. Anatomia e Fisiologia – 8 – Anatomia vai muito além de decorar listas de nomes, pois sua vasta rede de informação é necessária para que se possa ser capaz de visuali- zar as estruturas e suas posições em um paciente, além de simplesmente memorizar. Saber o ramo de uma artéria, por exemplo, não é o mesmo que conseguir visualizar todo o seu trajeto no corpo (DRAKE; VOGL; MITCHEL, 2015). 1.1 Conceito e histórico da anatomia humana Anatomia é uma área da Biologia que estuda o corpo humano, visando ao conhecimento dos órgãos internos e externos e sua localização. Múscu- los, nervos, órgãos e ossos são diferentes partes do organismo que consti- tuem o corpo humano. Cada parte é formada por milhares de células que se apresentam em formatos e funções especificas e possibilitam o funcio- namento dos sistemas de forma integrada. Podemos comparar nosso corpo com uma grande máquina complexa que funciona em perfeita sincronia. O termo anatomia deriva do grego Ana (parte) e tomnei (corte). Foi inicialmente estudada por processo de dissecação, que quer dizer dis (separação) e secção (cortar). A tecnica possibilitava aos cientistas a melhor vizualização da estrutura a ser estudada. O fascínio pelo estudo do corpo humano vem de muito tempo. Por muitos anos curiosos, médicos, alquimistas, benzedores, curandeiros e outros apresentaram teorias sobre o corpo humano, as quais na época foram respeitadas (ABRAHAMS, 2009). Existe uma longa e interessante história que envolve os estudos de anatomia: os primeiros registros de avanços foram realizados por Herófilo e Erasístrato em Alexandria, Egito, no século III a.C. – Herófilo dissecou cadáveres humanos, concretizando o sonho e desejo de qualquer anatomista da época. Com seu estudo, ele descreveu o formato do fígado, do cérebro e fez até um esquema de distri- buição dos órgãos no corpo, apresentando o formato e o tamanho. Foi desses estudos pioneiros que nasceu a Medicina. Sua contribui- ção foi de fundamental importância, pois Herófilo reconheceu o cérebro como órgão do sistema nervoso central, considerando-o uma central de inteligência, e dividiu os nervos em sensitivos e motores. – 9 – Introdução ao estudo da anatomia Muitos autores consideram que os estudos anatômicos foram inicia- dos muito antes, no século V a.C., quando Alcméon de Crotona, no sul da Itália, realizava dissecações em animais com o intuito de comparar seus insumos com seres humanos. Os estudos em anatomia com seres humanos eram proibidos em 150 a.C. por questões éticas e religiosas. Naquele perí- odo, predominou a dissecção em animais. No século II, Claudio Galeno, influente médico nas arenas de gladiado- res em Roma, realizou inúmeras dissecações em animais, criando teorias e presumindo que a anatomia humana seguia o mesmo padrão. Na época, era considerado uma grande inovação, e suas dissecações em músculos e ossos estabeleceram um marco na história da anatomia. Sua ideia foi aceita por mais de 1,5 mil anos, mesmo ele nunca tendo dissecado um cadáver humano. No século XVI, o anatomista Andrea Vaslius provou que Galeno estava equivocado e mostrou figuras anatômicas, até então desconhecidas, no livro A estrutura do corpo humano (De Humani Corpori Fabrica), em 1543. Na época, a dissecação de cadáver humano era bastante complicada e desagradável, visto que a igreja a combatia, de modo que os profissio- nais eram obrigados a recorrer ao de roubo de cadáveres em túmulos e forcas para obter material para estudo. No século XVII, estudiosos produziram peças anatômicas para expo- sição em museus de anatomia, devido ao grande despertar por conheci- mento e estudos na área. Em 1628, William Harvey, em Frankfurt, surpre- endeu cientistas com Uma descrição anatômica do movimento do coração e sangue (An Anatomical Disquisition on the Movimento f the Heart and Blood). Ele demonstrou que o sangue circulava por todo o corpo e propôs que o coração o bombeava pelas artérias. Ao fim do século XVIII, os estudos de anatomia descritiva já tinham identificado grande parte das estruturas do corpo humano, o que cedeu lugar para a anatomia topográfica, que nada mais era que um mapeamento da região estudada. No mesmo período, surgiu a anatomia patológica, por Morgagni, que com muitas necropsias estabeleceu relação entre o órgão saudável e o órgão doente, e a anatomia comparativa. Hoje, devido a tantas tecnologias disponíveis, a anatomia se tornou submicroscópica. Em outros estudos, como fisiologia, microscopia ele- Anatomia e Fisiologia – 10 – trônica e bioquímica, imagens possibilitam observar as estruturas mais íntimas em nível molecular. Existe até a possibilidade de se estudar anato- mia em pessoas vivas, com exames de imagem, como radiografia (repre- sentação gráfica do que é observado pela passagem do raio x pelo corpo), ressonância magnética, endoscopia e tomografia computadorizada. 1.2 Princípios, nomenclatura e terminologias aplicados à anatomia Os estudos da anatomia estão divididos em anatomia macroscópica e anatomia microscópica. A macroscópica possibilita o estudo das partes do corpo a olho nu, ou seja, não necessita de recursos tecnológicos para observação das estruturas. Existem várias formas de ser estudada: 2 sistêmica – estudo do corpo por sistemas (tegumentar, esquelé- tico, muscular, linfático, respiratório, digestório, nervoso, endó- crino, circulatório, urinário, reprodutor feminino e feminino) (Figura 1.1); 2 palpatória – técnica que utiliza as mãos e os dedos (em forma de pinça), com movimentos de deslizamento sobre a pele, para sentir as estruturas anatômicas; 2 regional – estuda o corpo por partes, como tórax e abdômen; 2 clínica – estudo correlacionado da anatomia e da função do corpo com as práticas da medicina e de outras áreas da saúde. A anatomia microscópica está relacionada com as estruturas do corpo possíveis de serem observadas somente com a utilização de microscópios ópticos ou lupas. Está dividida em citologia (estudo das células) e histo- logia (estudo tecidos e como eles se organizam para formar um órgão). A anatomia utiliza uma linguagem própria, chamada terminologia ou nomenclatura, para descrever estruturas ou partes do corpo. Não se usam pônimos (nome de pessoas para designar coisas), e os termos indicam relação ou direção, comparação e movimento. Essa linguagem é utilizada no mundo científico, educacional e profissional, permitindo uma comuni- cação clara e sem equívoco quanto ao seu significado. – 11 – Introdução ao estudo da anatomia Figura 1.1 – Órgãos e sistemas do corpo humano Sistema digestivo Sistema muscular Sistema tegumentar Sistema linfático Sistema endócrino Sistema nervoso Sistema esquelético Sistema Reprodutivo Masculino Sistema Reprodutivo Feminino Sistema respiratório Sistema urinário Sistema circulatório Fonte: Shutterstock.com/Macrovector 1.2.1 Terminologia de relação ou direção A terminologia de relação é composta por termos utilizados para des- crever uma parte do corpo relacionada a outra (Figura 1.2): 2 anterior, ventral ou frontal – parte anterior do corpo, relacio- nada à parte da frente; 2 posterior ou dorsal – relacionada à parte posterior, de trás, do corpo; 2 superior ou cranial – tudo o que está acima da linha da cintura; 2 inferior ou caudal – tudo o que está abaixo da linha da cintura; 2 linha sagital mediana ou linha média – divide o corpo em direito e esquerdo; 2 medial – toda a estrutura que está próxima da linha mediana ou da linha média do corpo; 2 lateral – estrutura que se encontra distante da linha média. Anatomia e Fisiologia – 12 – Figura 1.2 – Terminologia de relação ou direção: a) vista anterior; b) vista posterior; c) vistas superior e inferior; d) vista lateral a) b) Posterior Anterior c) d) Inferior Superior Lateral LateralMedial Fonte: Shutterstock.com/Lole 1.2.2 Terminologia de comparação As terminologias de comparação são utilizadas para comparar as posi- ções das estruturas anatômicas entre si (Figura 1.3). Os termos também iden- tificam o trajeto de uma estrutura linear, como nervos, vasos, vias aéreas: – 13 – Introdução ao estudo da anatomia 2 proximal e distal – identificam as estruturas que estão próximas de sua origem (por exemplo, o pé é distal ao joelho); 2 superficial e profundo – termos utilizados para descrever a posição de estruturas relacionadas à superfície do corpo: 2 superficial – estrutura que está na superfície ou próxima dela; 2 profunda – estrutura que está mais distante da superfície. 2 homolateral ou ipsilateral – estrutura localizada do mesmo lado do corpo; 2 bilateral – dos dois lados; 2 unilateral – de um único lado; 2 contralateral – estrutura localizada no lado oposto do corpo. Figura 1.3 – Terminologias de Comparação. A. Proximal e Distal; B. Superficial e Profundo; C. 1. Homolateral, 2. Bilateral, 3. Unilateral e 4. Contralateral Proximal Distal Proximal Distal Profundo Profundo Super�cial Anatomia e Fisiologia – 14 – 1. Homolateral 2. Bilateral 3. Unilateral 4. Contralateral Fonte: Shutterstock.com/Emre Terim/Sebastian Kaulitzki 1.2.3 Terminologia de movimento São termos utilizados para descrever o movimento relacionado às articulações do corpo: 2 flexão – diminuição do ângulo entre partes do corpo; 2 extensão – contrário de flexão, com aumento do ângulo entre as partes do corpo; 2 adução – aproximação da estrutura à linha medial; 2 abdução – contrário de adução, com distanciamento da estru- tura da linha medial; 2 rotação externa/lateral – gira o membro, levando a face ante- rior para longe da linha mediana; 2 rotação interna/medial – gira o membro, trazendo a face ante- rior para mais perto do corpo; 2 protração – levar para frente; 2 retração – levar para trás; – 15 – Introdução ao estudo da anatomia 2 pronação – por exemplo, movimento do antebraço ao girar a palma da mão para baixo (Figura 1.5).; 2 supinação – por exemplo, movimento do antebraço ao girar a palma da mão para cima (Figura 1.5). Figura 1.4 – Terminologia de movimentos: a) flexão e extensão; b) adução e abdução; c) rotação interna e rotação externa; d) protração e retração a) Extensão Flexão Extensão Flexão b) Abdução Adução Abdução Adução Anatomia e Fisiologia – 16 – c) Rotação interna Rotação externa Rotação medial Rotação lateral d) Protração Retração Clavícula Ombro Úmero Escápula Fonte: Will Amaro. – 17 – Introdução ao estudo da anatomia Figura 1.5 – Terminologia de movimentos: a) pronação; b) supinação Úmero Ulna Rádio Palma Posterior a) PRONOTAÇÃO b) SUPINAÇÃO Palma Anterior Fonte: Shutterstock.com/VectorMine Há, também, movimentos relacionados à articulação do tornozelo (Figura 1.6): 2 eversão – sola do pé voltada para lado oposto à linha medial; 2 inversão – movimento relacionado ao tornozelo, com a sola do pé voltada para linha medial; 2 dorsiflexão – planta do pé para cima, com extensão dos dedos; 2 flexão plantar – planta do pé projetada para baixo. Anatomia e Fisiologia – 18 – Figura 1.6 – Terminologia de movimentos: a) eversão; b) inversão; c) dorsiflexão; d) flexão plantar Eversão Inversão b) a) Flexão plantar c) d) Dorsi�exão Fonte: Shutterstock.com/Alila Medical Media/Dn Br 1.2.4 Descrições, segmentos e divisão do corpo humano O corpo humano é formado por pele, músculos, ossos, nervos, entre outros. Cada uma dessas partes é formada por células que apresentam – 19 – Introdução ao estudo da anatomia formas e funções específicas, resultando no funcionamento do corpo de forma integrada. Para facilitar a localização das estruturas, o corpo humano é divido em regiões. As principais partes do corpo humano são (Figura 1.7): 2 cabeça – relacionada à extremidade superior, unida ao corpo por uma pequena conexão; nessa região estão o crânio, responsável por cobrir o cérebro; a face, que inclui olhos, nariz e boca; e o pescoço, que se refere à região cervical, sustenta a cabeça e permite movimentos; 2 tronco – formado por caixa torácica, cavidade abdominal e pelve; 2 membros – ligados ao tronco; os superiores consistem em ombro, braço, cotovelo, antebraço, punho e mão; os inferiores são constituídos por quadril, coxa, joelho, perna, tornozelo e pé. A descrição anatômica é feita quando o corpo está em posição ortos- tática, com o rosto voltado para frente, pés paralelos, membros superiores estendidos e palmas das mãos voltadas para frente (Figura 1.9). Essa posi- ção é padronizada por todos os anatomistas ou profissionais de saúde, pois permite localizar e descrever as estruturas. Figura 1.7 – Principais partes do corpo A. Corpo humano C. Tronco B. Cabeça e pescoço D . M em br os Fo nt e: S hu tte rs to ck .c om /e ve le en Anatomia e Fisiologia – 20 – Figura 1.8 – Posição anatômica Olhar na horizontal Face voltada para frente Braços estendidos ao longo do corpo, palmas as mãos voltadas para frente Posição Ortostática Corpo Ereto POSIÇÃO PADRÃO Pernas juntas Pés paralelos Fonte: Shutterstock.com/Emre Terim Como mencionado, a posição anatômica se refere ao corpo em pé, mas existem termos utilizados para identificar o corpo quando deitado, nos cha- mados decúbito (Figura 1.9). Existem três formas (TORTORA, 2013): 1. decúbito ventral – quando se está deitado com a parte ventral sobre uma superfície (com a barriga para baixo); 2. decúbito dorsal – quando se está deitado com a parte posterior sobre uma superfície (com a barriga para cima); 3. decúbito lateral direito ou esquerdo – quando se está deitado sobre o lado direito ou esquerdo, respectivamente. – 21 – Introdução ao estudo da anatomia Figura 1.9 – Decúbitos dorsal, ventral e lateral Decúbito Lateral Decúbito Dorsal Decúbito Ventral Fonte: Shutterstock.com/NotionPic 1.3 Posições, planos e eixos Universalmente, planos e eixos são nomenclaturas utilizadas para descrever os movimentos do corpo humano. Anatomicamente, o corpo está relacionado a três planos imaginários, posicionados em ângulos retos: sagital, frontal e transversal/horizontal. O movimento ocorre em deter- minado plano ou paralelo a ele e sempre sobre um eixo perpendicular ao plano (Figura 1.10). Se furarmos um papel com uma caneta, por exemplo, e fizermos o papel girar em volta da caneta, veremos que o movimento do papel ocorrerá em um plano, e a caneta irá representar o eixo de rotação: 2 plano sagital – corta o corpo verticalmente, passa pelo crânio paralelo à sutura sagital (orelhas) e divide o corpo em duas par- tes iguais: direito e esquerdo; Anatomia e Fisiologia – 22 – 2 plano frontal – corta o corpo verticalmente, passa paralelo à sutura coronal do crânio e divide o corpo em anterior e posterior; 2 plano transversal ou horizontal – corta o corpo horizontal- mente, dividindo-o em superior e inferior; 2 eixo laterolateral – eixo perpendicular ao plano sagital, que se estende de um lado para o outro e permite movimentos de flexão e extensão; 2 eixo anteroposterior – eixo perpendicular ao plano frontal, que se estende no sentido anterior para posterior e permite movi- mentos de adução e abdução; 2 eixo longitudinal – eixo relacionado perpendicularmente ao plano transversal (de cima para baixo ou de baixo para cima) e permite o movimento de rotação lateral e rotação medial. Figura 1.10 – Planos e eixos: a) plano sagital/eixo laterolateral; b) plano frontal/eixo anteroposterior; c) plano transversal/eixo longitudinal a) Plano Sagital/ Eixo Latero Lateral b) Plano Frontal/ Eixo Antero Posterior c) Plano Transversal/ Eixo Longitudinal Fo nt e: S hu tte rs to ck .c om /B la m b – 23 – Introdução ao estudo da anatomia 1.4 Fatores gerais de variação anatômica Existem algumas considerações relacionadas às evidentes diferenças morfológicas. Aleatoriamente, pessoas apresentam formas físicas diferen- tes, e essa diferença é denominada variação anatômica (Figura 1.11). Tais variações podem aparecer em qualquer parte do organismo, externo ou interno (DANGELO; FATTINI, 2007), a maioria sem prejuízo funcional (não patológico). Podemos afirmar, portanto, que a variação anatômica está dentro dos limites da normalidade. Figura 1.11 – Variação anatômica: a) variação externa; b) variação interna a) b) Fonte: Shutterstock.com/Lightspring/Olga Bolbot/Danai Deepeng As variações, quando ditas individuais, são decorrentes de: 2 idade – notáveis alterações anatômicas ocorrem desde a vida intrauterina e extrauterina. Na fase intrauterina, nos setes pri- meiros dias tem-se o ovo, depois o embrião, que dura até o fim do segundo mês, então se torna feto até o nono mês de gestação. No período extrauterino, existem oito fases: 1) recém-nascido: até o primeiro mês após o nascimento; 2) infante ou lactente: Anatomia e Fisiologia – 24 – até o segundo ano de vida; 3) criança: até o fim do décimo ano; 4) pré-puberdade: dos 10 anos até os 12 anos; 5) puberdade: entre 12 anos e 14 anos de idade; 6) jovem: até 21 anos para o gênero feminino e 25 anos para o gênero masculino; 7) adulto: nas mulheres, até os 50 anos (ou até a menopausa) e até os 60 anos para os homens; 8) velhice: acima dos 60 anos. 2 gênero – masculino e feminino, com estruturas anatômicas específicas notáveis mesmo fora da esfera genital; 2 etnia – o grupo de etnias apresenta diferenças morfológicas específicas e evidentes, como tom da pele e formato do rosto; 2 biotipo – um conjunto de características herdadas, com os mais conhecidos sendo longilíneos (indivíduos magros e altos, geralmente com membros e pescoço longos e tórax achatado), brevilíneos (indivíduos baixos, com tórax com o diâmetro mais arredondado, pescoço curto e membros curtos) e medilíneos (com características padronizadas). Sheldon, em 1954, criou um exemplo de variação anatômica com três tipos de estrutura física: ectomorfia, mesomorfia e endomor- fia (Figura 1.12). Figura 1.12 – Variação anatômica quanto ao biotipo, de acordo com Sheldon (1954): a) ectomorfo; b) mesomorfo; c) endomorfo a) Ectomorfo b) Mesomorfo c) Endomorfo Fonte: Shutterstock.com/SUPERGAL – 25 – Introdução ao estudo da anatomia 1.5 Conceitos de normalidade e desvio da normalidade Na anatomia humana, o que é mais frequente é considerado normal, porém quando as variações anatômicas causam problemas ou prejuízos funcionais, como ocorre geralmente nas malformações, são classificadas as anomalias, que podem ser congênitas ou adquiridas (DANGELO; FATTINI, 2007). As anomalias adquiridas podem ser decorrência de doenças ou lesões; já as congênitas acontecem durante o desenvolvimento do feto na vida intrauterina (antes do nascimento), que muitas vezes podem ser cau- sadas por agentes infecciosos como o vírus da rubéola, Zika vírus, cito- megalovírus, entre outros. O uso de drogas lícitas ou ilícitas também pode ser causa de anomalia congênita (MENDES et al., 2018), além de fatores genéticos de causas ambientais ou desconhecidas. Quando a anomalia causa deformidade no organismo humano, mui- tas vezes incompatível com a vida, denomina-se monstruosidade. A anen- cefalia é um exemplo de monstruosidade de caráter genético e incompatí- vel com a vida, que acontece devido a um mal fechamento do tubo neural e dos tecidos mesodérmicos que os circulam. Figura 1.13 – Normalidade, anomalia e monstruosidade Normal Anomalia Monstruosidade Fonte: Shutterstock.com/Natthawon Chaosakun/Chalie Chulapornsiri/Medical Art Inc Quando a anomalia é muito acentuada e deforma profundamente a construção e a função do corpo do indivíduo, na maioria das vezes e incompatível com a vida. A medicina vem progredindo cada vez mais, e processos cirúrgicos têm conseguido corrigir algumas ocorrências, de modo a permitir uma vida normal. Anatomia e Fisiologia – 26 – Atividades 1. O que são terminologias dentro dos estudos da anatomia e o que elas representam para a ciência? 2. Sabendo que na anatomia o corpo humano se delimita em planos de forma tangente à superfície e os movimentos são realizados em volta de um eixo imaginário, descreva os planos e os eixos realizados nos seguintes movimentos: a) flexão e extensão b) adução e abdução c) rotação 3. Correlacione coluna a com coluna b: Coluna A a) Decúbito dorsal b) Variação anatômica c) Anomalia d) Decúbito ventral e) Monstruosidade f) Brevelíneo g) Decúbito lateral h) Mediolíneo i) Longilíneo Coluna B ( ) Deitado com o lado direito ou esquerdo sobre uma superfície. ( ) Variações anatômicas causam problemas ou prejuízos funcionais. ( ) Apresentam características padronizadas. ( ) Deitado com a parte posterior sobre uma superfície. ( ) Variações anatômicas que não causam prejuízos funcionais. – 27 – Introdução ao estudo da anatomia ( ) Variação anatômica incompatível com a vida. ( ) Deitado com a parte anterior sobre uma superfície. ( ) Indivíduos baixos, com tórax com o diâmetro mais arredon- dado, pescoço curto e membros curtos. ( ) Indivíduos magros e altos, geralmente com membros e pes- coço longos e tórax achatado. 4. Assinale a alternativa que corresponde ao plano que secciona o corpo em duas partes, no sentido laterolateral, separando-o em anterior e posterior: a) Plano frontal b) Plano sagital c) Plano coronal d) Plano transversal 5. Utilize a imagem a seguir para descrever a posição anatômica da comunidade científica para localizar as estruturas: } } } Anatomia e Fisiologia – 28 – 6. Identifique os tipos de movimentos apresentados pelas figuras a seguir: A.______________________ B.______________________ C.______________________ D.______________________ E.______________________ F.______________________ 2 Osteologia e sindesmologia Osteologia e sindesmologia são ramos da anatomia que estudam os ossos e as articulações. Embriologicamente, os tecidos ósseo e cartilaginoso são originados do mesênquima1. As células do mesênquima sofrem o processo de condensação, dando origem ao tecido pobre em matriz extracelular2 conhecido como pré-cartilagem. Progressivamente, ocorre o acúmulo de substâncias extracelulares, afastando as células e retirando seus prolongamentos, assim elas adquirem uma forma mais esferoide e transformam-se em condrócitos3. Nesse sítio4 ocorre a calci- 1 Tecido conjuntivo, originado da mesoderme (folheto embrionário que se for- ma por volta da terceira semana de gestação). Esse tecido se desenvolve for- mando os tecidos conjuntivos como: adiposo, muscular, ósseo, cartilaginoso, conectivo e hematopoético. 2 Rede de estrutura complexa não celular de suporte que fornece auxílio estru- tural e bioquímico para células vizinhas. 3 Células presentes no tecido cartilaginoso. 4 Sítio: local, espaço. Anatomia e Fisiologia – 30 – ficação das cartilagens, formando os ossos, os quais vão desempenhar importantes funções em nosso corpo. A matriz cartilaginosa presente pro- porciona certa maleabilidade, fornecendo assim os movimentos. Os ossos possuem aspectos imóveis, porém, são estruturas altamente dinâmicas, com capacidade de remodelagem, de crescimento e mantêm-se vivos durante toda a vida. O sistema ósseo (osteologia) e o sistema articular (sindesmologia), juntos com o sistema muscular, constituem o sistema locomotor. As estru- turas de sua composição funcionam de forma integrada, precisam ser nutridas e receber ou transmitir estímulos para manter o corpo em equilí- brio ou em movimento (DANGELO; FATTINI, 2007). 2.1 Osteologia Osteologia é a área da anatomia que estuda os ossos, incluindo tam- bém os estudos das formações que são intimamente ligadas ao osso, for- mando o esqueleto (DANGELO; FATTINI, 2007). De 15% a 20% do peso corporal é constituído pelos ossos, seu mecanismo engenhoso suporta e proteje os órgãos e de forma passiva auxilia os movimentos. O amadurecimento ósseo é bastante demorado, o úmero, por exem- plo, inicia sua ossificação ainda no final do período embrionário, por volta da 8.ª semana de gestação, e sua ossificação se completa somente aos 20 anos de idade. Como já foi dito, os ossos derivam do tecido embrionário (mesênquima) por dois processos: 1. Ossificação intramembranosa – deriva diretamente do mesên- quima, começa no período fetal. 2. Ossificação endocondral – a partir da cartilagem derivada do mesênquima, inicia a formação de modelos cartilaginosos dos ossos. Os ossos são constituídos de um tecido duro, esbranquiçado, unido por articulações e formado por um tecido conjuntivo, que serve também para inserção de tendões musculares. Possuem alto teor de conteúdo extracelular de cálcio e fósforo e uma matriz óssea – fibras de colágeno e proteoglicanos – 31 – Osteologia e sindesmologia –, portanto, é um tecido vivo, rígido e altamente especializado, capaz de se remodelar. Quando sofremos uma fratura óssea, por exemplo, nossos ossos possuem a capacidade de se regenerar e reparar o dano causado. Além dos ossos, o esqueleto é formado por cartilagens. Elas, por sua vez, mudam à medida que o corpo cresce; quanto mais jovem o indivíduo, mais cartilagem o corpo possui. Os ossos de um recém-nascido são mais flexíveis por que são compostos em sua maior parte de cartilagem (MOORE, 2014). Assim como os dentes, os ossos possuem grande participação na meta- bolização geral do nosso organismo, em especial no metabolismo de cálcio (Ca), fósforo (P), água (H2O) e sódio (Na). Como são orgãos mesenquimá- ticos, fazem parte do cortejo plurifuncional do tecido ósseo (DOUGLAS, 2006) e desempenham várias funções básicas, tais como: sustentação, pro- teção, alavanca para os movimentos, função hematopoética e liberação e armazenamento de minerais, principalmente cálcio e fósforo (Figura 2.1). Figura 2.1 – Funções básicas do sistema ósseo: A. Sustentação; B. Proteção; C. Alavanca; D. Função hematopoética; E. Liberação e armazenamento de minerais a) Bases estruturais de sustentação do nosso corpo, sustenta o tecido mole e forma pontos para a �xação dos tendões dos músculos. b) Protege os órgãos internos como o coração, pulmão, cérebro e os rins. Anatomia e Fisiologia – 32 – Alavanca de 1ª Classe C C C C C C Fulcro Alavanca de 2ª Classe Alavanca de 3ª Classe c) Quando movimentado pelos músculos permite a locomoção do corpo - todo ou parte dele. Esforço Carga d) Produção de suprimento contínuo de células sanguíneas produzidas pela medula óssea. Medula óssea Células-tronco hematopoiéticas Eritrócitos Leucócitos Plaquetas P Ca Ca P e) Principalmente de Cálcio e Fósforo. Fonte: Shutterstock.com/first vector trend/Tridsanu Thopet/sciencepics/udaix/Alila Medical Media/Alexander_P A matriz óssea é formada por fibras de colágenos, proteoglicanos5 e glicoproteínas6, além de 50% de elementos inorgânicos (ións de fós- foro, cálcio, bicarbonato, magnésio, potássio, sódio e citrato). A resis- tência dos ossos é de responsabilidade das fibras de colágeno associadas 5 Grande molécula que se assemelha a uma bucha de lavar, responsável pela compressibi- lidade da cartilagem. 6 Proteínas que possuem um ou mais açúcares ligados à estrutura peptídica. – 33 – Osteologia e sindesmologia à hidroxiapatita7. Organicamente os ossos possuem células altamente especializadas, chamadas de células ósseas. Existem três tipos de célu- las, cada uma delas com características diferentes: os osteoblastos, os osteoclastos e os osteócitos. 2 Osteoblastos são células bastante volumosas, com núcleo de grande dimensão. As células produzem fibras colágenas e com- ponentes necessários que formam a matriz extracelular do tecido ósseo, iniciando a calcificação. À medida que vão sendo reco- bertos pela matriz extracelular, os osteoblastos ficam aprisiona- dos em sua secreção, transformando-se em osteócitos. 2 Os osteócitos, por sua vez, são células pequenas localizadas em cavidades ou lacunas da matriz óssea. Representam os osteo- blastos amadurecidos ou envelhecidos e têm papel fundamental na manutenção da integridade da matriz óssea. Em virtude de um mecanismo bioquímico, os osteócitos possuem a responsa- bilidade de regeneração dos ossos. 2 Os osteoclastos também são células volumosas. Diferen- temente dos osteoblastos, possuem vários núcleos e produ- zem enzimas e ácidos que decompõem a matriz extracelular do osso. São responsáveis pela absorção e remodelação do tecido ósseo. Os ossos recebem suprimento sanguíneo por meio de vasos, os mais visíveis são as artérias nutrícias, que penetram obliquamente no osso compacto pelos forâmes. A artéria nutrícia, quando atinge a cavidade medular, divide-se em ramos longitudinais e segue em direção às extremi- dades, irrigando assim a medula óssea, o osso esponjoso e as partes mais profundas dos ossos compactos (MOORE, 2014). Além da artéria nutrí- cia, os ossos são vascularizados pelas artérias e veias periosteais, artérias e veias metafisárias e epifisárias e nervos que acompanham os vasos san- guíneos (Figura 2.2). 7 Formada por cristais de fosfato de cálcio, representa 99% do depósito de cálcio corporal e 80% do fósforo total. Composta por 35% de parte orgânica – flexibilidade do osso –, 65% de parte inorgânica e responsável pela rigidez óssea. Anatomia e Fisiologia – 34 – Como vimos, os ossos são estruturas somáticas, constituídos de tecido conectivo cal- cificado, além de possuir substâncias inorgânicas e fibras de colágeno que formam uma matriz que contém osteócitos. Na matriz óssea, em seu interior, o cálcio e o fósforo são armazenados em grande quantidade, fortalecendo os ossos. Os ossos possuem: diá- fise, epífise e metáfise (Figura 2.3), áreas con- sideradas de cresci- mento e capacidade de remodelagem. Epí�se proximal Diá�se Cartilagem articular Cartilagem articular Linha e��sária Osso esponjoso Osso compactado Forame nutrício Endósteo Cavidade medular Periósteo Epí�se distal Figura 2.2 – Vascularização e inervação de um osso longo Fonte: Shutterstock.com/ramazangm Figura 2.3 – Divisão óssea e linhas de crescimento Epí�se Epí�se Diá�se Metá�se Lâmina epi�sial Lâmina epi�sial Le ge nd a: O o ss o cr es ce n os d oi s la do s da s lâ m in as e pi fis ia is . Q ua nd o o cr es ci - m en to é in te rr om pi do , a lâ m in a ep ifi si al é su bs tit uí da p or u m a si no st os e – fu sã o ós se a, o bs er va da e m ra di og ra fia s. Fo nt e: S hu tte rs to ck .c om /g rit sa la k ka ra la k – 35 – Osteologia e sindesmologia 2.1.1 Arquitetura óssea Os ossos possuem um revestimento de tecido conjuntivo fibroso chamado de periósteo. Esse tecido circunda cada elemento do esqueleto como uma bainha. Exceto nos locais de cartilagens, as quais são revesti- das pelo pericôndrio. Internamente, revestindo o canal da medula, temos células de tecido conjuntivo – o endósteo (Figura 2.4). O periósteo apresenta dois folhetos: um superficial e um profundo. A camada mais profunda é chamada de osteogênica, pois possui células que se transformam em células ósseas, as quais são incorporadas à superfície do osso promovendo o espessamento (DANGELO; FATTINI, 2007). Figura 2.4 – Apresentação da camada interna (endósteo) e camada externa (periósteo) Epí�se proximal Osso esponjoso Osso esponjoso Osso compactado Cartilagem articular Artérias nutricionais Endósteo Medula óssea amarela Osso compactado Periósteo Artérias nutricionais Linha epi�sária Periósteo Osso compactado Cavidade medular Diá�se Epí�se distal Fonte: Shutterstock.com/Alexander_P Tanto o periósteo quanto o pericôndrio são responsáveis por nutrir as faces externas do tecido esquelético, possuem capacidade de depósito de cartilagem nos ossos e formam uma interface para que ocorra a fixação dos tendões e ligamentos nos ossos. Arquitetonicamente, os ossos são formados por substância compacta, responsável pela resistência dos ossos, e substância esponjosa, responsá- vel pela mobilidade dos ossos (Figura 2.5). Anatomia e Fisiologia – 36 – Os ossos possuem, ainda, as seguintes camadas: 2 Fibrosa – tecido conjuntivo denso, mais externamente, que envolve o osso (exceto nas regiões de cartilagem), é vasculari- zado e resistente. 2 Osteogênica – camada mais interna, permite o crescimento do osso em espessura. Forma o “calo ósseo” na recomposição óssea (fraturas). 2 Medula óssea – tecido conjuntivo localizado no interior do osso, com aspecto gelatinoso, capaz de produzir células sanguíneas. Possuimos uma medula óssea vermelha, produtora de células sanguíneas e plaquetas, e uma medula óssea amarela, tecido gorduroso que substitui a medula vermelha (Figura 2.6). Figura 2.5 – Cortes transversais do úmero. Visão da substância compacta, sustância esponjosa e a cavidade medular osso esponjoso osso compacto osso esponjoso cavidade medular cavidade medular osso compacto Fonte: Shutterstock.com/ilusmedical – 37 – Osteologia e sindesmologia Figura 2.6 – Cortes transversais do úmero. Visão da medula óssea vermelha e amarela Cartilagem articular Epí�se proximal Zona de crescimento Diá�se Epí�se Distal Medula óssea vermelha Osso esponjoso (Medula) Cavidade medular (Medula) Endósteo Artéria Medula óssea amarela Diá�se (Osso Duro) Periósteo (Membrana) Fonte: Shutterstock.com/VectorMine Os ossos possuem características anatômicas em sua superfície, essa região é chamada de acidente ósseo. Os acidentes ósseos surgem onde existe inserção de tendões e fáscias ou onde existem artérias que Anatomia e Fisiologia – 38 – penetram neles ou são adjacentes a eles (MOORE, 2014). Outras for- mações ocorrem por causa da passagem de tendões ou para controlar o movimento articular. As eminências são elevações encontradas na superfície do osso, podem ser parte de uma articulação ou podem servir como inserção de tendões. Existem as eminências articulares e as não articulares. As eminências articulares são compostas das partes a seguir (Figura 2.7). 2 Côndilo: região articular arredondada, geralmente em pares (por exemplo, côndilo lateral e côndilo medial do fêmur). 2 Cabeça: proeminência grande e arredondada na extremidade óssea que forma junturas (por exemplo, cabeça do úmero, cabeça do rádio). 2 Tróclea: processo articular semelhante a uma roda ou processo que atua como roldana (por exemplo, tróclea do úmero). Figura 2.7 – Eminências articulares Cabeça do fêmur Cabeça do rádio Tróclea Côndilo medial Côndilo lateral Fonte: Shutterstock.com/Tefi/ Sebastian Kaulitzki/studiovin As eminências não articulares são compostas das partes a seguir (Figura 2.8). – 39 – Osteologia e sindesmologia 2 Processo espinhoso: saliência óssea que se projeta – seme- lhante a um espinho (por exemplo, processo espinhoso de uma vértebra). 2 Tubérculo: proeminência pequena e elevada (por exemplo, tubérculo maior do úmero). 2 Trocânter: elevação arredondada grande, maciça, encontrada apenas no fêmur. 2 Espinha: processo semelhante a um espinho (por exemplo, espinha isquiática, espinha da escápula). 2 Crista: crista do osso (por exemplo, crista ilíaca). 2 Tuberosidade: processo áspero de grande elevação arredondada (por exemplo, tuberosidade da tíbia, tuberosidade ilíaca). 2 Protuberância: projeção do osso (por exemplo, protuberância occipital externa). As depressões (Figura 2.9) são escavações que os ossos apresentam, podendo estar nas articulações ou servir para inserção de músculos e liga- mentos. As depressões permitem a passagem dos vasos sanguíneos e dos nervos. A depressão pode ser articular, com as partes a seguir. 2 Cavidade glenoide: por exemplo, cavidade glenoide do úmero. 2 Acetábulo: depressão articular que acomoda a cabeça do fêmur. A depressão também pode ser não articular, composta pelas partes a seguir (Figura 2.10). 2 Fossa: área oca, depressão rasa (por exemplo, fossa do olécrano). 2 Sulco: depressão ou escavação alongada que acomoda tendão ou nervo (por exemplo, sulco do nervo radial do úmero). Os forames (Figura 2.11) são passagens através de um osso conhe- cidas como furos ou buracos, passam por eles estruturas anatômicas (por exemplo, forame obturatório, forame nutrício – no rádio, forame magno – passagem da medula espinhal para se comunicar com o tronco encefálico). Anatomia e Fisiologia – 40 – Figura 2.8 – Eminência não articular Processo espinhoso Lâmina Arco vertebral Elemento (costela) costal fundido Corpo vertebral Processo transverso Pedículo Vista posterior de uma vértebral cervical Colo Trocanter maior Ponto de �xação para o glúteo médio Crista intertrocantérica Tuberosidade glútea Fóvea Tubérculo quadrado Trocanter menor Linha pectínea (linha em espiral) Margem medial da linha áspera Linha áspera Margem lateral da linha áspera Vista posterior do fêmur Crista ilíaca Espinha isquiática Borda medial Borda lateral Acrômio Espinha da escápula – 41 – Osteologia e sindesmologia Satura sagital Osso parietal Parte escamosa do osso occipital Sutura occipitomastoide Linha nucal superior Ínio Crista occipital externa Linha nucal inferior Processo mastoide Incisura mastoide Protuberância occipital externa Sutura lambdoide Osso parietal Osso sutural Fonte: Shutterstock.com/Designua/Alila Medical Media/stihii Figura 2.9 – Depressão articular – membro superior (cavidade glenoide) e membro inferior (acetábulo) Ângulo superior Ângulo inferior Borda Lateral Fossa infra-espinhal Ângulo lateral Acrômio Margem lateral Face costal Tubérculo infraglenoidal Cavidade Glenóide Proc. coracóide Acrômio Face posterior Tubérculo supraglenoidal Processo Coracóide Fosso Supra-espinhal Espinha da Escópula Borda Medial Anatomia e Fisiologia – 42 – Acetábulo Fonte: Shutterstock.com/studiovin/ilusmedical/Alila Medical Media Figura 2.10 – Depressão não articular: fossas e sulcos Cabeça do úmero Cabeça do úmeroColo antômico Tubérculo maior Tubérculo menor Tubérculo maior Sulco intertubebercular Crista do tubérculo menor Margem medial Face ântero-medial Fossa coranóidea Crista supra- epicondilar medial Crista supra-epicondilar medial Crista supra- epicondilar lateral Epicôndilo medial Epicôndilo medial Fossa do olécrano Epicôndilo lateral Tróclea do úmero Tróclea do úmeroCôndilo do úmero Capítulo do úmero Sulco do N. ulnar Epicôndilo lateral Fossa radial Crista supra- epicondilar lateral Face posterior Sulco do N. radial Corpó do úmero Face ântero-lateral Margem lateral Crista do tubérculo maior Colo cirúrgico Colo cirúrgico Colo anatômico Fonte: Shutterstock.com/Tefi – 43 – Osteologia e sindesmologia Figura 2.11 – Forames Cabeça do rádio Circunferência articular Colo do rádio Tuberosidade do rádio Forame nutrício Margem interôssea Margem anterior Face anterior Proc. estilóide do rádio Forame nutrício: canal por onde passam os vasos responsáveis pela nutrição óssea Forame Magno: maior forame do crânio, localizado no centro da fossa posterior do neucrânio. Serve de comunicação entre a cavidade craniana e a coluna vertebral. Forame Magno Fonte: Shutterstock.com/ Sebastian Kaulitzki/sciencepics 2.1.2 Conceito de esqueleto e função O sistema esquelético, nos vertebrados, é visto como uma estrutura para o corpo e, juntamente com as articulações e os músculos, que vere- mos mais à frente, permite a realização dos movimentos. Durante o dia realizamos vários movimentos, como escovar os dentes, pentear o cabelo, caminhar ou dançar. Essa rotina de movimentos só é possível em virtude do sistema esquelético. A junção dos sistemas ósseo, articular e muscular forma o aparelho locomotor ou sistema locomotor. As estruturas que compõem o sistema locomotor funcionam de forma integrada e precisam ser nutridas, recebem ou enviam estímulos, os quais mantêm o corpo em equilíbrio ou em movi- mento, portanto, é correto dizer que o sistema vascular e o sistema nervoso também fazem parte do sistema locomotor (DANGELO; FATTINI, 2007). Podemos estudar o esqueleto em sua forma inteira (esqueleto articu- lado) ou em peças isoladas (esqueleto desarticulado). Anatomia e Fisiologia – 44 – 2.1.3 Divisão do esqueleto O esqueleto é dividido em duas partes funcionais: axial e apendicular (Figura 2.12). No esqueleto axial encontramos em torno de 80 ossos presen- tes na região do crânio (cabeça), tórax e coluna vertebral; ele também é o responsável pela sus- tentação do nosso corpo, além da proteção do sis- tema nervoso. Enquanto que o esqueleo apendi- cularé formado pelos membros superiores – 64 ossos – e inferiores – 62 ossos. 2.1.4 Número de ossos e classificação Os ossos são classificados de acordo com sua forma e localização. São duradouros e não se deterioram após a morte, como ocorre com os tecidos moles, por isso pode-se dizer que são uma biblioteca de informações sobre o corpo humano. Os especialistas forenses conseguem identificar idade, sexo, raça e estatura quando examinam um esqueleto. Essas informações são úteis para identificação de pessoas mortas ou para os antropólogos que estudam esqueletos antigos. Pelo formato ósseo é possível identificar o papel funcional do corpo (TORTORA; NIELSEN, 2013). Um indivíduo adulto possui em torno de 2068 ossos, uma quanti- dade maior é encontrada em crianças, pois quando nascemos os ossos 8 A quantidade de ossos em nosso corpo pode variar em razão de fatores como a faixa etária, fatores individuais e fatores de contagem, pois algumas vezes anato- mistas adotam formas diferentes de contagem. Esqueleto Apendicular Esqueleto Axial Figura 2.12 – Representação da divisão do esqueleto – axial e apendicular Fonte: Shutterstock.com/Magic mine – 45 – Osteologia e sindesmologia são separados e vão se fundindo durante a fase de crescimento. Uma criança apresenta em média 70 ossos a mais que um adulto. No nosso corpo, os ossos individualmente se dispõem em formatos e tamanhos variados. Variam de pequenos, como os ossos da orelha e do crânio, a grandes, como o fêmur, com aproximadamente 61 cm de comprimento. Anatomicamente, esses ossos são divididos em cinco tipos: longos, cur- tos, planos ou laminar, sesamoides, irregulares e pneumáticos. Quadro 2.1 – Tipos de ossos Irregulares Planos ou laminares Sesamoides Caracterizam-se por possuir um formato complexo e irregular. Ex.: vértebras e osso temporal. Situa-se na região infolateral do crânio. Assemelham-se a uma lâmina. Caracterizam- -se pela equivalência do comprimento e da largura, predomi- nando sua espessura. Ex.: quadril e escápula. Acetábulo São desenvolvidos em determinados ten- dões, cruzam as extre- midades dos ossos longos nos membros. Eles protegem os ten- dões contra o desgaste excessivo, sua função principal é auxiliar no deslizamento dos ten- dões. Ex.: patela (maior osso sesamoide). Fêmur Patela Articulação do joelho Tíbia Fíbula Meléolo medial Articulação do tornozelo Meléolo lateral Anatomia e Fisiologia – 46 – Longos Curtos Pneumáticos Caracterizados por seu comprimento ser maior que sua lar- gura. Possuem uma diáfise e duas epí- fises, são extrema- mente fortes, rígi- dos e ligeiramente encurvados, o que permite maior resis- tência a impactos e ao estresse mecânico do corpo. Ex.: fêmur. Sua largura, compri- mento e espessura são equivalentes. Possuem camada de osso fina e compacta. Sua função é absorver choques. Ex.: ossos do carpo e tarso. Osso cuneiforme Osso navicular Osso do talo Osso cubóide Osso calcâneo Possuem cavidade revestida por mucosa, volume variável (con- tém ar). São conheci- dos como seios. Ex.: ossos da face. Seios frontais Seios etmoidais Etmóide Seios maxilares Bordas alveolares maxilar superior Seios frontais Fonte: Shutterstock.com/Aksanaku/stihii/Blamb – 47 – Osteologia e sindesmologia 2.1.5 Principais ossos do corpo humano Na região axial temos o crânio e a caixa torácia (Figura 2.13). 2 Ossos do crânio: 22 ossos formam a cabeça – oito ossos no crâ- nio, dois parietais, um osso frontal, dois ossos temporais, occipitais, esfenoides e o osso etmoide. A face é composta de 14 ossos – dois zigomáticos, dois maxilares, dois nasais, uma mandíbula, dois pala- tos, dois lacrimais, um vômer e duas conchas nasais. No pescoço temos o osso hioide. Na região do ouvido possuímos seis ossos – duas bigornas, dois martelos e dois estribos (considerado o menor osso do corpo humano, mede aproximadamente 0,25 cm). 2 Ossos do tronco: na região torácica encontramos duas clavículas, duas escápulas, um osso externo e 12 pares de costelas (sete pares de costelas verdadeiras, três pares de costelas falsas e dois pares de costelas flutuantes). A coluna é constituída por vértebras, sua principal função é garantir a proteção da medula espinhal. Exis- tem no total 33 vertebras – sete cervicais9 (compõem o pescoço, realizam os movimentos da cabeça), 12 torácicas, cinco lombares, cinco sacrais e quatro coccígeas (as vértebras sacrais e coccígeas são fundidas umas às outras). Figura 2.13 – Ossos que compõem o esqueleto axial: crânio, vértebras e costelas Ossos do ouvido. Posição natural. Articulação incudomalear Corpo da bigorna Ramo curto Ramo longo Articulação incudoestapedial Ramo posterior Base do estribo Ramo anterior Manúbrio do martelo Proc. anterior Proc. lateral Cabeça do martelo Primeira vértebra torácica Primeira costela Encaixe da jugular Entalhe clavicular Esterno Processo xifóide Cartilagem costal Décima segunda costela Décima segunda vértebra torácica Primeira vértebra lombar Costelas falsas (8-12) Costelas de carregamento (11 e 12) Costelas verdadeiras (1-7) 9 1.ª vertebra cervical, conhecida como C1 – atlas (corpo em forma de anel), que permite a articulação do pescoço com o crânio, flexão e extensão da cabeça, além de suportar seu peso. A 2.ª C2 – áxis, única vértebra que possui uma saliência – dente, o qual se articula com C1 e permite o movimento de rotação da cabeça. Anatomia e Fisiologia – 48 – Osso Esfenóide Asa Inferior Processo clinóide anterior Sella Turcica Dorsum Sellae Osso parietal Osso temporal Parte escamosa do osso temporal Parte petrosa do osso temporal Meatus acústico interno Sulco para seio petrosal superior Abertura externa do aqueduto vestibular Sulco para seio sigmóide Osso occipital Protuberância Occipital Interna Sulco para seio transverso Forame jugular Seio Esfenoidal Forame esfenopalatino Processo pterigóideo de osso esfenóide Hamulus pterigóideoOsso PalatinoLinha Milohioide Mandíbula Processo alveolar Processo Palatino Canal Incisivo Maxilla Concha inferior Middle Concha Concha Superior Osso lacrimal Placa cribriforme Crista Galli Osso Etmoidal Osso nasal Coluna Frontal Supraorbital Ridge Seio Frontal Ranhuras arteriais Osso frontal Placa Horizontal de Osso Palatino Canal hipoglosso Côndilo occipital Parte basilar do osso occipital Sinondondose esfenooccipital Crânio, vista medial 80% Sacro Cóccix Sacro Cóccix Vista anterior Vista lateralesquerda Vista posterior 7 vértebras cervicais Curvatura cervical Curvatura torácica Curvatura lombar Curva do sacro 12 vértebras torácicas Processo transverso Forame vertebral Processo transverso Processo transverso Processo articular Processo transverso Processo articular Processo transverso Forame vertebral Forame vertebral Processo espinhoso Processo espinhoso Processo espinhoso Corpo Corpo Corpo Lâmina Lâmina Ars Processo espinhoso Sacro Cervical Torácica Lombar Cóccix Disco vertebral Corpo 5 vértebras lombares Eixo (C2) Fonte: Shutterstock.com/stihii/Blamb/Olga Bolbot/ducu59us/sciencepics Na região apendicular temos os membros superiores (MMSS) e membros inferiores (MMII) (Figura 2.14). – 49 – Osteologia e sindesmologia 2 Membros superiores: 64 ossos compõem os membros superio- res – na região de cintura escapular possuímos quatro ossos (duas clavículas e duas escápulas), dois úmeros, duas ulnas, dois rádios e ossos que compõem as mãos (carpo – distribuído em fileiras. Fileira proximal: escafoide, semilunar, piramidal e pisiforme; fileira distal: trapézio, trapezoide, capitato e hamato. Metacarpo – constituído por ossos metacarpianos numerados no sentido latero-medial de 1 a 5. Falanges – 14 falanges. Do 2º ao 5º dedos: 1ª falange (proximal), 2ª falange (média) e 3ª falange (distal); e no polegar: 1ª falange (proximal) e 2ª falange (distal). 2 Membros inferiores: possui 62 ossos – duas cinturas pélvicas (formadas pelo osso ilíaco, ísquio e púbis), dois fêmures, duas patelas, duas tíbias, duas fíbulas e ossos que compõem o pé (tarso – dividido em fileira proximal – tálus (tróclea) e calcâneo (túber do calcâneo) – e fileira distal – navicular, cuboide, cunei- forme medial, cuneiforme intermédio (médio) e cuneiforme lateral. Metatarso – ossos numerados no sentido medial para lateral, de 1 a 5. Falanges – do 2º ao 5º dedos: 1ª falange (proxi- mal), 2ª falange (média) e 3ª falange (distal); e no hálux (“dedão do pé”): 1ª falange (proximal) e 2ª falange (distal). Figura 2.14 – Visão geral do esqueleto apendicular Úmero Rádio Ulna Metacarpais Ossos carpais Falanges Osso do quadril Cabeça Mudança Fêmur Condílo Fíbula Maléolo lateral Falanges Sacro Patela Articulação do joelho Tíbia Tarsal Metatarsos Fo nt e: S hu tte rs to ck .c om /d uc u5 9u s/ sc ie nc ep ic s Anatomia e Fisiologia – 50 – 2.2 Sindesmologia A sindesmologia é a area da anatomia que estuda as articulações. Graças a elas e aos sistemas ósseo e muscular somos capazes de realizar movimentos. Os ossos do nosso corpo se unem construindo o esqueleto, essa finalidade somente existe para que possamos nos movimentar. 2.2.1 Conceito e classificação das articulações Os ossos não estão diretamente em contato uns com os outros, existe entre eles uma superficie de tecido conjuntivo que entra em contato entre eles formando as articulações, como joelhos, cotovelos, quadril (TOR- TORA; NIELSEN, 2013). Articulação é a conexão existente em qualquer parte rígida do esqueleto, seja no osso, seja na cartilagem (DANGELO; FATTINI, 2007). As mais conhecidas são aquelas que estão entre os ossos e que permitem movimentos como chutar, levantar a mão, porém, existem muitas articula- ções que nos permitem poucos movimentos ou até mesmo nenhum. Atualmente, a classificação e a terminologia anatômica das articula- ções são baseadas na lógica da estrutura de cada uma delas. A classifica- ção funcional das articulações está relacionada ao seu grau de movimento (a sua amplitude): sinartrose – articulação móvel; anfiartrose – ligeira- mente móvel; diartrose – liberdade de movimento, esta possui uma varie- dade de formado e permite diversos tipos de movimentos. A união dos ossos se dá por uma massa sólida de tecido conjuntivo ou por uma cápsula de tecido conjuntivo, a qual envolve uma cavidade lubrificada. Essas articulações são classificadas em três grandes grupos, de variações entre elas, mas com aspectos estruturais e funcionais em comum. São elas: articulações fibrosas (sinartroses), cartilaginosas (anfiartroses) e as sinoviais (diartroses). As articulações fibrosas (sinartroses) possuem uma massa de tecido conjuntivo denso não modelado. A maioria encontra-se no crânio, exceto na ATM (articulação temporomandibular), pois o tecido fibroso se interpõe a peças articulares. Possui mobilidade reduzida, embora o tecido – 51 – Osteologia e sindesmologia conjuntivo interposto confira uma discreta flexibilidade ao crânio, algu- mas literaturas as consideram imóveis. Existem três tipos (Figura 2.15): 2 Sindesmose – possui grande quantidade de tecido conjuntivo formando ligamento interósseo ou membrana interóssea. Encon- trado no braço (radioulnar) e na perna (tibiofibular). 2 Gonfose (sindesmose dentoalveolar) – ocorre apenas entre os dentes e ossos adjacentes. Tem por função a fixação dos dentes nas cavidades alveolares da mandíbula e maxilar. As fibras cur- tas de tecido colágeno no ligamento periodontal surgem entre a raiz dos dentes e o alvéolo dental ósseo. Essas articulações também são chamadas articulações em cavilhas. 2 Suturas – encontradas somente no crânio, possuem menos tecido conjuntivo. Durante o crescimento as fibras da sutura são substi- tuídas, tornando-se mais unidas – sinostose. A forma pela qual as bordas dos ossos articulados entram em contato é variável, for- mando assim sutura plana, união em linha reta (linear), por exem- plo, articulação entre os ossos nasais; sutura escamosa, união em bisel, por exemplo, articulação parietal e temporal; sutura serrá- til, união da linha de forma denteada, por exemplo, a articulação entre os ossos parietais; e esquindilese, articulação em forma de crista, a qual se aloja em uma fenda de outro osso, também conhe- cida como sulco, por exemplo, osso esfenoide e vômer. No crânio de um feto e de um recém-nascido, a ossificação ainda está incompleta, pois existe grande quantidade de tecido conjuntivo fibroso, ponto fraco na estrutura do crânio conhecido como “moleira”, o que explica a sepa- ração entre os ossos e sua maior mobilidade. Essa situação permite o parto. As articulações cartilagionosas possuem um tecido de conexão entre os ossos. As articulações nesse grupo ocorrem pela interposição de uma camada de cartilagem e apresentam movimentos limitados. Existem dois tipos (Figura 2.16): 2 Sincondrose (são raras) – é uma articulação fixa, que possui cartilagem hialina fazendo a união das peças, por exemplo, arti- culação das costelas. Anatomia e Fisiologia – 52 – 2 Sínfise – quando a superficie óssea é revestida por uma camada fina de cartilagem hialina e se articula pela interposição de fibro- cartilagem espessa. Todas ocorrem na parte mediana do corpo, por exemplo, sífise púbica. As articulações sinoviais (Figura 2.17) apresentam grande capaci- dade de movimento, sua mobilidade necessita de livre deslizamento de uma superfície óssea contra outra. Possuem uma cápsula articular que liga a extremidade do osso, delimitando a cavidade articular. A cápsula arti- cular é composta de duas camadas de membrana fibrosa – uma interna (membrana sinovial10) e outra externa. A flexibilidade dessa membrana (literalmente é uma continuação mais espessa do periósteo) é o que per- mite os movimentos e sua grande resistência à tensão evita as chamadas luxações11. Os ligamentos e suas forças permitem que os ossos fiquem uni- dos em uma articulação sinovial. A membrana sinovial produz um líquido chamado sinovial. É um líquido amarelo claro e viscoso, possui ácido hialurônico em grande quantidade, que facilita a lubrificação da articula- ção. Esse líquido permite que ocorra um perfeito deslizamento durante o movimento, diminuindo atrito e absorvendo impacto, além disso, é res- ponsável pelo fornecimento de oxigênio e nutrientes para os condrócitos12 da cápsula articular, removendo o dióxido de carbono e resíduos metabóli- cos. A articulação sinovial é composta por uma cápsula articular, cavidade articular13 e líquido sinovial. Auxiliando ainda o perfeito movimento, a região conta com o auxílio dos ligamentos acessórios, discos e lábios articulares. 2 Ligamentos acessórios: existem dois tipos – ligamentos extra- capsulares, situados fora da cápsula articular, por exemplo, ligamento colateral fibular (Figura 2.18); e ligamentos intracap- 10 Formada de tecido conjuntivo areolar com fibras elásticas e acúmulo de tecido adiposo na maioria delas. 11 Quando ocorre o deslocamento de dois ossos em relação ao seu ponto articular, provo- cando dor intensa, edemas e diminuição dos movimentos. 12 Células do tecido articular. 13 A cavidade articular na verdade é um espaço virtual onde se encontra a sinóvia – lubri- ficante natural da articulação, que permite o deslizamento sem atrito. – 53 – Osteologia e sindesmologia sulares, situados no interior da cápsula articular, esses por sua vez são isolados da cápsula articular pelas pregas da membrana sinovial, por exemplo, ligamento cruzado anterior e posterior do joelho (Figura 2.18). 2 Discos articulares14: encontrados no corpo da articulação sino- vial, eles dividem a cápsula articular em duas partes – superior e inferior. São avasculares, ou seja, não possuem vasos sanguí- neos ou linfáticos. Existem discos que são incompletos, chama- dos de menisco articular, este por sua vez divide parcialmente a articulação (Figura 2.18). 2 Lábios articulares: são estruturas arredondadas em forma de anel, proeminentes nas articulações esferoides. É uma estrutura fibrocartilaginosa que se estende desde a margem até a cavidade da articulação (Figura 2.19). Figura 2.15 – Representação da articulação fibrosa: sindesmose, gonfose, suturas Tíbia Fíbula Ílio Fêmur Tíbia Fíbula Membrana Interóssea | Sindesmose 14 Estruturas formadas de fibrocartilagem que dividem a cavidade articular em duas ca- vidades menores. Anatomia e Fisiologia – 54 – Dente Gonfose Osso Ligamento periodontal Ligamento satural Sutura Fonte: Shutterstock.com/sciencepics/Tribalium Figura 2.16 – Articulações cartilaginosas: a) sincondrose e b) sínfise Epí�se Epí�se Fêmur Diá�se Sincrondrose Lâminas (de crescimento epi�siais) Sín�se Sí�se pública Ossos do quadril Fonte: Shutterstock.com/Sebastian Kaulitzki – 55 – Osteologia e sindesmologia Figura 2.17 Articulações sinoviais Medula óssea amarela Periósteo Osso esponjoso Osso compactado Ligamento Membrana sinovial Membrana �brosa Osso da articulação Cartilagem articular Cápsula articular (reforçada por ligamentos) Cavidade articular (contém líquido sinovial) Fonte: Shutterstock.com/Tefi Figura 2.18 – Vista anterior e superior do joelho: ligamento colateral fibular, ligamento cruzado anterior e discos articulares Fêmur Quadríceps Fêmur Cartilagem articular Posterior (parte de trás do joelho) Fíbula Anterior (frente do joelho) Ligamento colateral medial Menisco Ligamento cruzado posterior Patela Tíbia Tíbia Fíbula Menisco Menisco lateral Zona vermelha Zona branca Ligamento colateral lateral Ligamento colateral lateral Cruzado anterior Ligamento cruzado anterior Superfície articular da tíbia Ligamento colateral medial Menisco medial Ligamento cruzado posterior Cartilagem articular Anatomia e Fisiologia – 56 – Fêmur Quadríceps Fêmur Cartilagem articular Posterior (parte de trás do joelho) Fíbula Anterior (frente do joelho) Ligamento colateral medial Menisco Ligamento cruzado posterior Patela Tíbia Tíbia Fíbula Menisco Menisco lateral Zona vermelha Zona branca Ligamento colateral lateral Ligamento colateral lateral Cruzado anterior Ligamento cruzado anterior Superfície articular da tíbia Ligamento colateral medial Menisco medial Ligamento cruzado posterior Cartilagem articular Fonte: Shutterstock.com/Alila Medical Media/Viktoriia_P Figura 2.19 – Articulação do quadril – lábio articular (lábio do acetábulo). Fossa acetabular Cabeça femoral Acetábulo Colo do fêmur Cartilagem Lábio do acétabulo Cavidade sinovial Cápsula articular Ligamento acetabular transversal Ligamento da cabeça do fêmur Fonte: Anatomia Online (2020). – 57 – Osteologia e sindesmologia 2.2.2 Movimentos articulares O termo movimento quer dizer mover uma parte de um ponto a outro. Para que isso ocorra, as articulações dependem de um ou mais eixos e uma direção, como vimos no capítulo anterior, quando falamos de planos e eixos. Os movimentos do corpo recebem nomes específicos, entre os movimentos ativos, os mais importantes são: 2 Movimento de deslizamento – ocorrem nas articulações sino- viais, por exemplo, articulações cuneiformes do pé. 2 Movimentos angulares – ocorre a diminuição ou o aumento do ângulo entre o segmento, por exemplo, diminuição do ângulo – flexão – e aumento do ângulo – extensão. As articulações sinoviais possuem características semelhantes entre si, as formas das faces articulares diferem uma das outras, as quais permi- tem movimentos variados. As articulações são classificadas em monoaxial, biaxial e triaxial. As articulações sinoviais são divididas em seis tipos: plana, gínglimo, tro- coidea, elipsoidea, sela e esferoidea. Veremos então a classificação dos movimentos quanto a suas formas. A articulação monoaxial (Figura 2.20) é capaz de realizar dois movimentos em torno de um único eixo. Possibilita apenas o movi- mento de flexão e extensão. Existem duas formas articulares que reali- zam esse movimento: 2 articulação tipo gínglimo (ou em dobradiça) – a parte convexa do osso se encaixa na parte côncava de outro osso. Produz movi- mento tipo abrir e fechar – flexão e extensão, por exemplo, arti- culação do cotovelo, joelho; 2 articulação tipo trocoide (ou pivô) – a face arredondada de um osso se articula com um anel formado parcialmente por outro osso e ligamentos, permite apenas o movimento de rotação. Anatomia e Fisiologia – 58 – Figura 2.20 – Tipos de articulação Articulação gínglimo Articulação condilar Articulação esferoidea Articulação trocóide Articulação selar Articulação plana Fonte: Shutterstock.com/VectorMine É considerada articulação biaxial (Figura 2.20) quando o movi- mento é realizado em torno de dois eixos. É possível realizar flexão, extensão, adução e abdução. Esses movimentos acontencem em articu- lações do tipo condilar ou elipsoidea – uma parte convexa de um osso se articula na depressão do outro osso – e articulação tipo selar – em que a face articular de um osso assemelha-se a uma sela, e a outra possui o perfeito encaixe. A articulação triaxial (Figura 2.20) é capaz de realizar movimentos em três eixos. Além dos movimentos de flexão, extensão, adução e abdu- – 59 – Osteologia e sindesmologia ção, é capaz de realizar o movimento de rotação. Esses movimentos são realizados pelas articulações tipo esferoidea – uma face em forma de esfera – e a outra com uma depressão de perfeito encaixe. A articulação tipo plana (Figura 2.20) só permite o movimento de deslizamento, quando a articulação é composta por uma face articular de um osso plano, é achatada ou encurvada. Geralmente é observada no corpo da vértebra e em algumas articulações do carpo e do tarso. Nosso corpo é capaz de executar vários movimentos ao mesmo tempo, esses movimentos são divididos em grupos: deslizantes, angula- res, circundunção e rotação (Figura 2.21). O movimento deslizante é o mais simples realizado em nosso corpo, ele ocorre quando uma superfície da articulaçao desliza sobre a outra sem alterar angulação. Já os movi- mentos angulares são aqueles que visualmente apresentam alteração na angulação do movimento, como flexão, extensão, adução e abdução. A circundução é um movimento que ocorre em alguns segmentos do corpo, quando executado distalmente ao movimento, observa-se o desenho de um círculo. A rotação por sua vez ocorre quando o segmento gira em torno do seu próprio eixo – como um pivô. Figura 2.21 – A. Movimento angular; B. Rotação; C. Circundução a) Anatomia e Fisiologia – 60 – b) c) Fonte: Will Amaro. – 61 – Osteologia e sindesmologia Atividades 1. De acordo com as imagens a seguir, identifique os tipos de ossos. a) b) c) d) e) Osso cuneiforme Osso navicular Osso do talo Osso cubóide Osso calcâneo Anatomia e Fisiologia – 62 – 2. Relacione as colunas. Coluna A 1. Osteoblastos 2. Osteoclastos 3. Osteócitos 4. Periósteo Coluna B ( ) São células volumosas, possuem vários núcleos e produ- zem enzimas e ácidos que decompõem a matriz extracelu- lar do osso. São responsáveis pela absorção e remodelação do tecido ósseo. ( ) À medida que vão sendo recobertos pela matriz extracelu- lar, as células ficam aprisionadas em sua secreção transfor- mando-se em osteócitos. ( ) Revestimento de tecido conjuntivo fibroso, circunda cada ele- mento do esqueleto como uma bainha, exceto as cartilagens. ( ) São células pequenas localizadas em cavidades ou lacunas da matriz óssea. 3. Qual a diferença estrutural entre articulação sincondrose e arti- culação sínfise? 4. A terminologia anatômica das articulações baseia-se na lógica da estrutura de cada uma delas e sua classificação funcional está relacionada ao seu grau de movimento (sua amplitude). Quando entre os ossos existe tecido cartilaginoso do tipo hialino, essa articulação recebe o nome de: ( ) Sincondrose ( ) Sínfise ( ) Sinartrose ( ) Articulação sinovial – 63 – Osteologia e sindesmologia 5. Sabemos que nas articulações móveis é possível observar o movimento de deslizamento dos ossos – um sobre a superficie do outro. Esse deslizamento só é possível pois, na articulação, existe uma cápsula que possui um líquido. Qual é esse líquido e quais suas características? 6. Observe as figuras e dê o nome das articulações. a) Dente Osso Ligamento periodontal b) Tíbia Fíbula Ílio Fêmur Tíbia Fíbula c) Ligamento satural d) Ossos do quadril Livro - Anatomia e Fisiologia_Parte2.pdf 3 Sistema nervoso e neuromotor O sistema nervoso (SN) humano surge a partir de um pequeno grupo de células, através de um extraordinário processo que leva anos para atingir seu potencial pleno no que diz respeito a habilidades sensoriais, motoras e intelectuais. É originário do ectoderma embrionário1, localizado na região dorsal do embrião. É um sistema altamente complexo, responsável por toda a fun- cionalidade dos outros órgãos de nosso corpo. O encéfalo é composto por bilhões de neurônios, pesa em torno de 2 quilos (3% do peso corporal) de um indivíduo adulto, considerado o sistema mais complexo do ser humano. Graças ao SN e ao sistema neuromotor, somos capazes de armazenar, identificar e interpretar estímulos como cheiro, som, imagens, tato, fome, movimento, pensamento, emoções, comportamento e memória. Cada área do cérebro realiza uma função especializada. Neste capítulo, abordaremos as generalidades do SN para entender de forma básica e objetiva a anatomia e sua funcionalidade. 1 Folheto externo que reveste o embrião e cuja função é dar origem a diversas estruturas do corpo, como o SN. Anatomia e Fisiologia – 66 – 3.1 Anatomia do sistema nervoso O sistema nervoso possibilita as funções orgânicas do corpo humano e sua interação com o meio ambiente. Isso significa que ele é o responsável por controlar e coordenar as funções de todos os sistemas do organismo e ainda é capaz de receber estímulos externos, interpretá-los e desencadear respostas adequadas a cada um deles. Algumas funções são de ação voluntária, que realizamos de acordo com nossa vontade, como andar, falar, brincar; outras são involuntárias ou inconscientes, como salivação e batimentos cardíacos. O estudo do desenvolvimento embrionário é de extrema importân- cia, pois permite entender muitos dos aspectos anatômicos do SN. Por volta da terceira semana de gestação, observa-se a formação de três folhe- tos embrionários: ectoderma, mesoderma e endoderma (Figura 3.1). Do endoderma se origina o sistema visceral; o mesoderma é responsável pela formação de protuberâncias chamadas somitos, que originam as 33 vérte- bras da coluna e os músculos esqueléticos relacionados; o ectoderma é o responsável pelo desenvolvimento do cérebro e do SN. Figua 3.1 – Formação do folheto embrionário: endoderma, ectoderma e mesoderma Camadas de germes Ectoderme Ectoderme Tecido nervoso Células da epiderme Células pigmentadas Mesoderme Células musculares Esqueleto Coração, rim, sangue Endoderme Glândulas endócrinas Pulmões Trato gastrointestinal Endoderme Mesoderme Fonte: Shutterstock.com/ellepigrafica – 67 – Sistema nervoso e neuromotor Na terceira semana ocorre o espessamento do ectoderma, quando a medula da espinha primitiva, chamada de notocorda, envia um sinal para que o tecido que a recobre aumente, formando a placa neural. Esta cresce progressivamente, tornando-se mais espessa, invagina-se ao longo do seu eixo central para formar o sulco neural mediano longitu- dinal, com pregas neurais em ambos os lados. Essas pregas se tornam mais proeminentes na extremidade cranial do embrião no primeiro sinal de formação do encéfalo. As pregas neurais se aprofundam, formando uma goteira neural, e seus lábios se fundem, formando o tubo neural, no qual ocorre o início da vesícula encefálica e da medula espinhal (Figura 3.2). Nesse momento, o ectoderma se fecha em cima do tubo neural. As vesículas encefálicas primárias dão origem a prosencéfalo (encéfalo anterior), mesencéfalo (encéfalo médio) e rombencéfalo (encéfalo posterior). Figura 3.2 – Formação do sulco neural, das pregas neurais, do tubo neural e da crista Ectoderme Mesoderme Notocorda Tubo neural Endoderme Formação do sulco neural Fechamento do sulco neural Prosencéfalo Mesencéfalo Rombencéfalo Formação do tubo neural Fonte: Shutterstock.com/Systemoff Do mesencéfalo serão originados o arqueduto do mesencéfalo e a parte média. O prosencéfalo é dividido em vesículas encefálicas secundá- rias, formando o telencéfalo, que forma o cérebro e os ventrículos laterais; e o diencéfalo, formando tálamo, hipotálamo, subtálamo e terceiro ventrí- culo. O rombencéfalo se subdivide parcialmente e forma o metencéfalo, Anatomia e Fisiologia – 68 – que cria ponte, cerebelo e parte posterior do quarto ventrículo, e o mielen- céfalo, que deriva bulbo e parte inferior do quarto ventrículo (Figura 3.3). No ponto de fechamento do ectoderma é formada de cada lado uma lâmina longitudinal denominada crista neural, responsável pela formação do sistema nervoso periférico. Figura 3.3 – Desenvolvimento do encéfalo Três vesículas encefálicas primárias Cinco vesículas cranianas secundárias Estruturas adultas derivadas do(a)/das(os): Parede Cavidade PROSENCÉFALO TELENCÉFALO Cérebro Paredes Cavidades Ventrículos laterais Terceiro ventrículo Aquetudo do mesencéfalo Parte superior do quanto ventrículo Parte inferior do quarto ventrículo Mesencéfalo Ponte Cerebelo Bulbo Tálamo, hipotálamo e epitálamo DIENCÉFALO MESENCÉFALO METENCÉFALO MIELENCÉFALO MESENCÉFALO ROMBENCÉFALO Embrião de 3 a 4 semanas Embrião de 5 semanas Embrião de 5 semanas Fonte: Tortora; Nielsen (2013). A unidade funcional do SN são os neurônios. Diferentemente dos outros órgãos, o SN tem inúmeras células alongadas, altamente excitáveis e que se comunicam entre si e com outras células, como as musculares ou secretoras (DANGELO; FATTINI, 2007). Temos três tipos de neurônio: 1. aferente (sensitivo) – responsável por levar informações sobre as modificações dos meios interno e externo até o sistema ner- voso central (SNC); 2. eferente (motor) – responsável por levar impulso nervoso ao órgão efetuador, como músculos e vísceras; 3. associativo – faz conexão entre os neurônios. Literalmente, o SN recebe milhões de informações provenientes dos diferentes órgãos e nervos sensoriais, e faz o processo e integração das ações para determinar as respostas a serem executadas pelo corpo (GUYTON; HALL, 2016). – 69 – Sistema nervoso e neuromotor 3.1.1 Tecido nervoso e impulsos nervosos O tecido nervoso é composto por neurônios (células nervosas) e neu- roglias (células glias). As neuroglias ocupam o espaço entre os neurônios e suas principais funções são sustentação, proteção, revestimento e isola- mento, modulando as atividades do sistema e defesa (DANGELO; FAT- TINI, 2007). Diferentemente dos neurônios, as neuroglias conservam a capacidade de mitose após a diferenciação. O neurônio é a unidade fundamental do sistema nervoso e sua função básica está em receber, processar e enviar informações (MACHADO, 2003). 3.1.1.1 Neurônios Os neurônios são unidades funcionais do SN especializadas em trans- missão rápida em resposta a qualquer estímulo. Comunicam-se entre si ou com células efetuadoras (musculares ou secretoras), usando basicamente impulsos elétricos através do potencial da membrana, transformando-os em impulso nervoso. São formados por um corpo celular e seus prolongamen- tos, chamados dendritos e axônios (Figura 3.4), responsáveis pela condução dos impulsos elétricos que entram e saem do corpo celular, respectivamente (MOORE; PERSAUD; TORCHIA, 2016). Têm diversidades estruturais e funcionais que são utilizadas para classificar os neurônios (Figura 3.4). O corpo celular é o responsável pela síntese de proteínas neuronais (TORTORA; NIELSEN, 2013) e pela maioria dos processos de degradação e renovação dos constituintes celulares. Os dendritos são semelhantes a galhos de árvore, curtos, afilados e muito ramificados, responsáveis por receber estí- mulos, traduzindo-os em alterações do potencial de repouso da membrana (MACHADO, 2003). Os axônios, diferentemente dos dendritos, são prolon- gamentos longos e finos, originados do corpo ou de um dendrito principal em uma região chamada cone de implantação. Apresentam comprimento variá- vel, dependendo do tipo de neurônio. Em sua estrutura inicial, são capazes de gerar alterações no potencial de ação, ou seja, despolarização da membrana. Envolvendo o axônio existe uma capa de proteção chamada bainha de mielina – neurônios que não a possuem são conhecidos como amielínicos. A bainha de mielina é formada por membrana plasmática e células da glia. No encéfalo e na medula, as células formadoras de mielina são oligo- Anatomia e Fisiologia – 70 – dendrócitos, que formam mielina de até 40 axônios; no SNP, a formadora de mielina é a célula de Schwann, que cria mielina individual. Essas célu- las servem como um isolante e proporcionam o aumento da velocidade da condução dos impulsos elétricos. A bainha de mielina é encontrada ao longo do axônio, entre as secções adjacentes de mielina, onde a membrana plasmática fica exposta, no chamado nódulo de Ranvier (Figura 3.4). Os potenciais de ação ocorrem devido à despolarização da membrana e são conduzidos ao longo do axônio até o botão terminal. Nas fibras ner- vosas mielinizadas, os impulsos nervosos são caracterizados como salta- tórios, porque pulam de um nódulo de Ranvier para outro. Figura 3.4 – Estrutura geral de um neurônio: dendrito, corpo celular e axônio Corpo celular Núcleo Dendritos Axônio Neurônio pré-sináptico Mitocôndria Axônio terminal Espaço sináptico Membrana pós-sináptica Canal de íons bloqueados por ligantes Neurônio pós-sináptico Canal controlado por tensão Neurotransmissores são sintetizados e armazenados nas vesículas Neurotransmissores liberados no espaço sináptico por exocitose Neurotransmissor se liga às molé- culas receptoras e abre o canal iônico dependente do ligante Despolarização causa tensão bloqueada Abertura do canal e entra no terminal axonal Im pu ls o ne rv os o Bainha de mielina Dendritos Axônio Corpo celular Sinapse Terminal axonal Neurônio Unipolar Neurônio Bipolar Neurônio Multipolar Dendrito Corpo celular Axônio Terminal axonal Terminal axonal Bainha de mielina D ire çã o do im pu ls o ne rv os o Direção do impulso nervoso Sinapse Sinapse Axônio Dendritos Dendritos Núcleo Fonte: Shutterstock.com/Tefi – 71 – Sistema nervoso e neuromotor 3.1.1.2 Células glia As células glia (Figura 3.5) são conhecidas como neuroglia ou apenas glia e são participantes efetivas do tecido nervoso (TORTORA; NIELSEN, 2013). São menores que os neurônios, mas estão em maior número: os neurô- nios somam apenas 10% do total de células do SNC, e o restante são células glias (WIDMAIER; RAFF; STRANG, 2006), que circundam o corpo celular, os axônios e os dendritos, dando suporte físico e metabólico aos neurônios. Figura 3.5 – Células glias no SNC são diferenciadas por tamanho, prolongamentos citoplasmáticos e organização intercelular; células glias no SNP envolvem todo o axônio e corpo celular do neurônio Dendrito
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