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Colonização de Rondônia - excertos

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Cercados pela mata selvagem, colonos do Sul insistem do sonho irrealizável: o da riqueza em Rondônia
E A TERRA ERA UM SONHO
 
A promessa da terra fértil e a casa própria atraiu para Rondônia colonos de todo país. Hoje estão lá 16000 famílias desabrigadas.
 	Na primeira vez que o território de Rondônia despertou a cobiça de Aventureiros do Sul, ele ainda se chamava - Guaporé - e o interesse era voltado principalmente para exploração de borracha e, em menor escala, pela Castanha- do-Pará. Depois veio a chamada "corrida da Cassiterita", minério que atraiu milhares e milhares de garimpeiros de todo país. Quando o garimpo manual foi proibido pelo governo em 1971, havia pelo menos quatro mil homens espalhados pelo território de 243044 km quadrados dedicados àquela atividade. 
A terceira fase, de conquista e exploração da terra, começou no governo Kubitschek, com a abertura da BR 29, ligando Cuiabá a Porto Velho.  Mas a aceleração desse processo só viria a ocorrer no início desta década, quando o governo federal instituiu o Plano de Integração   Nacional, dedicado à conquista da Amazônia. A oferta de terra fértil a preços irrisórios -  e às vezes de graça - levou a região uma verdadeira romaria de colonos de outros estados.  
A incapacidade do INCRA de absorver as famílias que, nesse período, duplicaram a população do território fez com que o governo iniciasse um processo inverso, para desestimular a migração. O repórter Oswaldo Amorim, da sucursal da Veja em Brasília voltou a Rondônia no começo deste mês -  foi sua terceira viagem ao território em 16 anos -  em companhia do Fotógrafo Marcos Santilli,  para avaliar os resultados da política de colonização oficial do território. E a região que conheceria antes como um dos maiores vazios demográficos do país, ele a encontraria tomada por milhares de colonos frustrados -  e por problemas de abastecimento, de saúde, educação, de segurança, transporte, em todo caso sobrepujados pela maior deles, o da fome da terra. A seguir, o seu relato.  
Pela estrada barrenta que corta a mata cerrada surge o caminhão boiadeiro, vindo do Pantanal mato-grossense, a Colorado, um dos novos projetos de colonização do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária entre parênteses Incra, 100 Km a oeste de Vilhena, a bonita e aprazível porta de entrada do território de Rondônia. é um caminhão boiadeiro, mais não leva bois. Trepadas na carroceria estão seis famílias, mirradas entre os velhos trastes de madeira que são suas mudanças e os animais de sua criação -  ao todo 24 crianças, uma égua, duas cabritas, 40 porcos 40 galinhas, dez cachorros, e quatro gatos.  Nos trechos mais perigosos e enlameados da estrada, o caminhão pára e os humanos descem para caminhar largos pedaços  a pé, sempre unidos pelo mesmo objetivo:   conseguir uma gleba para morar e cultivar - o sonhar dos lotes do INCRA. 
 Duas horas depois passa pela mesma estrada outro caminhão boiadeiro, também saindo do Pantanal, de Lucialva, no interior do Mato Grosso, igualmente levando famílias de colonos para Colorado.  Às vezes a cena se repete com personagens que vem de muito mais longe.  Na véspera havia passado pelo posto fiscal de Vilhena um caminhão que viajava de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, com destino a Cacoal, Ouro Preto e Vila de Rondônia.  Até o posto de Vilhena a viagem durara seis dias, e ainda havia pelo menos mais um dia de lama e selva pela frente.  
Viajando em idênticas condições, dezenas de pessoas chegam diariamente ao território de Rondônia vindas principalmente do Paraná, Mato Grosso, Espírito Santo e Minas Gerais. No ano passado, na época de maior movimento, entraram cerca de 900 famílias por mês no território, invariavelmente atraídas pelos projetos de colonização do INCRA - Isto é, animados Pela Esperança de receber em terra boa de graça ou quase. 
 Desde 1970 quando se iniciou o primeiro projeto de colonização do INCRA, o território recebeu cerca de 29000 famílias - segundo dados do próprio organismo. Se isso transformou a vida de Rondônia, antes dominada pelos imensos latifúndios de rico seringalistas, nove dessas posses somavam três milhões de hectares, provocando violenta explosão de velhos números núcleos urbanos e o surgimento de muitos outros, criou também em um instante descompasso entre a capacidade de atendimento do INCRA e a crescente demanda de novos colonos. 
Segundo informações oficiais, 13000 das 29 mil famílias do Sul que partiram para Rondônia foram assentadas pelo INCRA até agora isso significa que existem hoje no território mais de 16 mil famílias de imigrantes sem nenhuma assistência médica, subalimentados e morando em condições precárias em vilas que surgem a esmo pelo território, desprovidos dos mais elementares confortos da civilização urbana.
 
Ao longo das estradas, o cenário é composto por centenas e centenas de toscos barracos de pau-a-pique cobertos de plástico. Seus moradores outrora lavradores em Mato Grosso, Minas Gerais e Paraná, foram transformados em pedreiros, cavadores e cisternas, enfim trabalhadores de qualquer atividade que lhes renda alguns níqueis para o sustento da família. 
O tempo que seria reservado ao descanso é gasto em intermináveis ondas ao escritório mais próximo do INCRA, para a quase sempre inútil cobrança do motivo da aventura rondoniense: o lote. A espera costuma durar, para os felizardos que terminam contemplados, cerca de 2 anos. 
Em Colorado, onde o Incra desenvolve o projeto “Paulo de Assis Ribeiro”, para distribuição de lotes de mil hectares para quatro mil colonos, o clima de desesperança reinante entre os migrantes reflete a situação da região. Ao anotar o relato das agruras de um colono à porta do escritório do INCRA o repórter de Veja foi cercado por dezenas de outros que também queriam com visível ansiedade, contar suas histórias. A denúncia, supunham todos, poderia ajudá-los a receber o prometido lote.
 Assim é que o Onercílio Gomes de Aguiar, de 49 anos, pai de oito filhos, mineiro de Mantena, está aguardando sua Gleba há 2 anos. Depois de viajar quatro vezes a Colorado para tentar solucionar o problema, Aguiar decidiu mudar-se para lá com toda a família. Em situação ainda mais difícil encontra-se José Melo da Silva, de 29 anos, selecionado pelo INCRA há quatro anos, e desde então à espera de que seu lote lhe seja entregue. Como Aguiar, ele resolveu viver na região Onde ficaria o terreno que foram que ele foi prometido em Colorado, junto com a mulher e os dois filhos. 
É muito comum encontrar entre os camponeses da imensa fila de espera aqueles que chegaram com algum dinheiro e ingenuamente, comprar “o direito” sobre glebas, para depois descobrirem que perante o Incra, não são donos de nada. 
Foi o que aconteceu com Milton Pacheco dos Santos, um mato-grossense de Dom Aquino, pai de um garoto que chegou à Rondônia em 1975. "Comprei o direito de um lote por 15.000 cruzeiros e construir um rancho para a família, a 34 km de Colorado", lamentou a VEJA. "Em março deste ano o Incra entregou o lote para outro, logo quando eu já tinha café plantado, cem galinhas e oito cabeças de porcos". 
Apressar a entrega dos lotes, através da eliminação da burocracia oficial, poderia ser a solução dos problemas mais graves? O agrônomo Victor Hugo Melo, executor de projetos para o Incra, acredita que a questão não se resolveria tão simplesmente. "É muito difícil contentar o pessoal, simplesmente entregando lotes aos colonos selecionados", explicou. “Mas como é que poderemos entregar lotes de 100 hectares, sem definição e sem demarcação”? 
 Ao Rosário de queixas dos camponeses contra o Incra soma-se mais uma, a de que funcionários do Instituto aceitariam suborno para entregar os lotes. O baiano Salvador Ferreira dos Santos, com experiência nas férteis terras roxas do Paraná, assegura que, enquanto muita gente foi preterida, "quem tinha 10.000, cruzeiros, na mão, se arranjava".  
A denúncia é repetida por José Gobbi, 35 anos, gaúcho de Carazinho, operador de motosserras e carpinteiro. "Eu conheço gente que deu dinheiro e recebeuo lote. Teve um aqui que deu 3000 e um outro em Vilhena que conseguiu a terra em troca de 10.000 em dinheiro.".  As acusações são endossadas pelo advogado Agenor Martins de Carvalho, defensor de posseiros no Fórum de Porto Velho numa petição a justiça local, representando Salvador Ferreira dos Santos e outros, ele escreveu: "colonos endinheirados pagam gratificações de 10.000 a 20 mil cruzeiros a funcionários do INCRA e recebem seus respectivos lotes, no inexplicável desvio de função social da terra". Hugo Melo repete as acusações com desmentido seco: "não há nenhum caso comprovado, nenhum inquérito foi aberto para apurar denúncia de suborno".