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DOCÊNCIA EM SAÚDE ENFERMAGEM EM HOME CARE 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842e Enfermagem em home care / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 160p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-268-8 1. Enfermagem domiciliar. I. Portal Educação. II. Título. CDD 610.736 2 SUMÁRIO 1 O TRABALHO, O HOMEM E A SAÚDE .................................................................................... 4 1.1 Cuidado domiciliar ................................................................................................................. 10 2 CONCEITO E HISTÓRICO DE HOME CARE ........................................................................... 14 2.1 Perspectivas em home care ................................................................................................... 18 2.2 Objetios do home care ............................................................................................................ 20 2.3 Benefícios do home care ........................................................................................................ 22 2.4 Regulamentação do home care .............................................................................................. 22 3 TRABALHO EM EQUIPE MULTIPROFISSIONAL ................................................................... 48 4 DIREITO DOS PACIENTES ...................................................................................................... 55 Anexo 1 – Projeto de lei nº 2880/08 ..................................................................................................... 59 Anexo 2 – Código de ética em home care .......................................................................................... 64 5 ENFERMAGEM NO HOME CARE ........................................................................................... 66 5.1 O enfermeiro no Home Care .................................................................................................. 70 6 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DOMICILIAR ............................................................ 71 6.1 Rotinas no Atendimento Domiciliar ....................................................................................... 76 6.2 Indicação do Paciente ao Atendimento Domiciliar .............................................................. 76 6.3 Exemplo de Protocolo para Indicação do paciente ao Serviço de Home Care ................. 80 7 AUTORIZAÇÃO DO PLANO DE SAÚDE ................................................................................. 83 7.1 Esclarecimentos a Pacientes e Familiares ........................................................................... 83 7.2 Seleção do Paciente e Visita Domiciliar ................................................................................ 84 7.3 Exemplo de roteiro para Visita Domiciliar do Enfermeiro ................................................... 86 3 7.4 Plano de Atendimento Domiciliar ........................................................................................... 92 7.5 Internação Domiciliar .............................................................................................................. 97 7.6 Exemplo de Formulário de Prescrição Médica ..................................................................... 99 7.7 Desmame do Serviço de Home Care .................................................................................... 100 7.8 Alta do Atendimento Domiciliar ........................................................................................... 100 7.9 Fases do Serviço de Home Care ........................................................................................... 101 Anexo 1 – Resolução 272/02 Sistematização da Assistência de Enfermagem ............................... 103 Anexo 2 – Resolução 293/04 Dimensionamento do Quadro de Enfermagem................................. 107 8 GERENCIAMENTO DO SERVIÇO DE HOME CARE .............................................................. 113 9 GERENCIAMENTO DO CUIDADO DE ENFERMAGEM EM HOME CARE ............................ 132 10 PRINCIPAIS TÉCNICAS DE ENFERMAGEM REALIZADAS EM HOME CARE ................... 135 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 152 4 1 O TRABALHO, O HOMEM E A SAÚDE O trabalho hoje em dia ocupa um espaço muito importante na vida de todos nós. Quase todo mundo trabalha, e uma grande parte de nossas vidas é passada dentro de organizações. Desta forma, qualquer tipo de atividade organizada está relacionada ao conceito histórico e à posição que o trabalho tem ocupado em nossas vidas com o passar do tempo. Para entendermos melhor as atividades específicas, no que diz respeito a Home Care, é importante que tenhamos conhecimento da evolução e da inserção do homem como integrante e criador do trabalho a partir das necessidades evolutivas, assim como com a preocupação referente à saúde do indivíduo, que constituem ações concomitantes. Marx (1980) afirma que o trabalho é um processo do qual participam o homem e a natureza, em que o ser humano impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Nesse processo os envolvidos compartilham alguns elementos essenciais: a atividade, a matéria, o objeto de trabalho e o instrumental. A trajetória de evolução do homem compreende o desenvolvimento do trabalho desde as comunidades pré-industriais até as sociedades pós-industriais. Por isso, é impossível falar do trabalho sem incluir a evolução do próprio ser humano que é responsável pelas modificações ocorridas no decorrer dos séculos ao se tratar do binômio homem – trabalho. Na primeira fase, nos milhões de anos que precederam a sociedade mesopotâmica, o homem dedicou suas energias a técnicas que pudessem garantir sua sobrevivência, na defesa e no ataque contra agruras da natureza e outros seres vivos hostis, sendo a caça e a pesca seus principais meios de alimentação. O homem de Neanderthal começa a elaborar sistemas culturais mais refinados, como o culto aos mortos e a magia, objetivando, principalmente, compensar as frustrações, dores e insegurança. Nesta época o erotismo também passou a ter maior evidência, assim como o acúmulo exibicionista de bens de produção. No final desta longa fase evolutiva, o homem aprendeu a caminhar em posição ereta, transformando os membros superiores em ágeis utensílios e produtores de utensílios; aprendeu a cultivar a terra, em vez de esperar a disponibilidade dos frutos; aprendeu a dominar o fogo; 5 facilitou os transportes, aprendendo a desfrutar do menor atrito dos corpos redondos quando giram em torno de um eixo. O desenvolvimento psíquico do ser humano teve, como conseqüência, o impulso gerador de invenções materiais, organizações de comunidades e avanços tecnológicos que surgiram basicamente para suprir anseios do homem de antigamente. Foram fundadas as primeiras cidadese as primeiras escolas e inventadas a escrita, a matemática e a astronomia, atingindo-se um nível de progresso científico que permaneceria praticamente imutável por dezenas de séculos. Com o desenvolvimento das cidades, houve uma modificação organizacional. Segundo Masi (2000), na base desta transformação surgem obras de irrigação, agricultura intensiva, artes especializadas como a cerâmica e a metalúrgica e o controle de uma burocracia, uma magistratura e um sacerdócio letrados. A civilização exigia uma hierarquia social e economia estratificada. Daí em diante, a supremacia da cidade sobre o campo afirma-se com preponderância. As atividades do homem neste período restringiam-se à política, ao estudo e à ginástica, enquanto o trabalho braçal era destinado às mulheres que viviam em casa e aos 300 mil escravos que compunham o cenário daquele tempo. As invenções tecnológicas como o relógio, a bússola, o moinho d’água, os modernos arreios de cavalo, a pólvora, a vela moderna e a imprensa substituíram a mão-de-obra ocasionando a libertação de boa parte dos escravos; aliados a esse progresso, o crescimento demográfico e o êxodo rural favoreceram o surgimento das indústrias. No final do século XVIII, surge a indústria e milhões de camponeses e artesãos transformam-se em trabalhadores ‘subordinados’. Os tempos e os locais de trabalho passam a não depender mais da natureza, mas das regras empresariais e dos ritmos da máquina. Durante este período a preocupação residia na racionalização do trabalho a partir de métodos científicos, no qual o objetivo maior era a elevação da produtividade e, consequentemente, maiores ganhos aos detentores do capital (RODRIGUES, 1999). Malthus (1946,) afirma que o trabalhador do século XVIII vivia em condições desumanas, as jornadas de trabalho chegavam a 18 horas diárias, fazendo com que o trabalhador possuísse aversão ao trabalho. Suas necessidades básicas no trabalho não eram consideradas como prioridade e sim a sua capacidade de produção, de resultados frente à 6 atividade desenvolvida. Após a guerra civil em 1968, o mercado e a expectativa para o consumo de produtos industrializados, interna ou externamente, já existiam. A mão-de-obra não especializada era abundante e barata. Mas havia um problema: os processos produtivos. Segundo Coriat (1980, ) a arte de fazer não era propriedade da indústria, e os artesãos, que também eram chamados de trabalhadores profissionais, tinham o conhecimento total do fazer e constituíam um grupo dominante da indústria. Foi durante este período de crise na produtividade mundial que Frederick Winslow Taylor encontra um cenário ideal para aplicar suas idéias sobre produtividade de produção. A filosofia proposta era a racionalização da produção, trazendo como produtos finais a produtividade e a motivação econômica do trabalhador. A respeito da prosperidade do trabalhador na administração científica, Taylor (1987) afirma que significa, além de salários mais altos do que os recebidos pelos obreiros de sua classe, o aproveitamento mais eficiente dos homens de moda, habituando-os a desempenhar os tipos de trabalhos mais elevados, para os quais tenham aptidões naturais e atribuindo-lhes, sempre que possível, esses gêneros de trabalhos. A partir destes conceitos o homem começa a ser visto não só como meio de produção, mas também como um ser integrado que possui uma vida fora do seu local de trabalho, cujas satisfação e motivação estão diretamente relacionadas com a sua produtividade. Em síntese, a industrialização interveio lentamente em toda a milenária ordem rural e artesanal da sociedade: do trabalho à família, da fábrica à cidade; o que permanece até os dias atuais e com mais veracidade, pois o atual cenário de industrialização e tecnologia avançadas ocasiona uma preocupação maior do ser humano em relação ao trabalho. Milhões de pessoas se desesperam por estarem excluídas do exercício de alguma atividade da qual, mesmo que não gostem ou, às vezes, até detestem, os insere no que as estatísticas oficiais consideram como trabalho. Essas pessoas têm bons motivos para se desesperar, porque a organização social da atualidade evoca dependência do exercício do trabalho, ou seja, o direito a viver de um modo decente e independente, ter casa e filhos, ser bem aceito no convívio social. Pode-se verificar que no conjunto das transformações que chamamos de progresso 7 permanecem, segundo Masi (2000), oito percursos a que o gênero humano se mantém fiel na busca de domesticar a natureza por meio da cultura: da operação manual ao uso na tecnologia; da simplicidade à complexidade; da causalidade à planificação intencional de curto e longo prazo; da aproximação à precisão profissional; da mera execução à criação. Com o rápido desenvolvimento tecnológico e a constante corrida pela subsistência vivenciada nos dias de hoje por trabalhadores e organizações cresce a necessidade de uma profunda reformulação na maneira de ver a pessoa, que constitui o principal agente na estratégia para garantir a sobrevivência das instituições em meio aos desafios encontrados. Weil (2000) caracteriza o fator humano nas organizações podendo ser entendido em três partes principais: adaptação do homem ao trabalho, adaptação do trabalho ao homem e adaptação do homem ao homem. Sendo que o ideal deve ser expresso quando o indivíduo aumenta a sua satisfação e motivação e, consequentemente, sua produtividade por meio de uma adequada adaptação ao trabalho e a si próprio. Conforme Masi (2000), o desafio do século XXI é inventar e difundir uma nova organização que tenha como objetivos principais o aumento da produtividade com elevação da qualidade de vida e do trabalho, e, por conseguinte, favorecendo a expressão de desejo e felicidade do ser humano. Graziano (2000) ressalta que nas duas últimas décadas tem aumentado o número de empresas que investem no bem-estar e na satisfação de seus funcionários, beneficiando amplamente o delicado campo dos relacionamentos e adaptação às funções e, por conseqüência, a produtividade. A preocupação com o fator humano nas empresas ocasiona uma seleção restrita por parte de administradores no momento das contratações. De acordo com Goleman (1999) já não importa somente o quanto somos inteligentes ou nosso grau de especialização, mas também a maneira como lidamos com nós mesmos e com os outros. Por meio desta descrição percebe-se que a inserção do trabalho na vida do homem foi entendida, primeiramente, como a capacidade de produção com esforço físico e cumprimento de horários, o que permanece até hoje. Porém tal visão aprimora-se a cada dia, e o trabalhador passa a ser visto com um ser pensante e passível de adaptação. Apesar de existir uma preocupação com o fator humano, nos países subdesenvolvidos é 8 difícil unir a teoria à prática, uma vez que a crise econômica restringe a escolha do homem pelo seu trabalho, transformando a adaptação em algo irreal, pois alguns indivíduos trabalham para sobreviver. As mudanças ocorridas, historicamente relacionadas ao homem e ao trabalho, contribuem e muito para o cuidado com a saúde dos indivíduos, já que estes começam a ser vistos como trabalhadores e produtores de um resultado. Assim, amplia-se a gama de ações voltadas à atenção dos trabalhadores e consequentemente de todos os indivíduos. Alguns trabalhos em saúde surgem quando o sistema industrial se instala e se desenvolve a ponto de exigir trabalhadores mais habilitados. Neste período, os sistemas de assistência à saúde ampliam seus objetivos de modo a dar conta de uma necessidade social que desponta: a de preservar a mão-de-obra treinada para os postos de trabalho então existentes. Segundo Vaz (1996) a saúde, enquanto produto das relações sociais do homem, é um universo concreto que se expressa nas formas biológicas do indivíduo e nasestruturas das ações coletivas. Essas ações, por se situarem essencialmente na exterioridade do mundo dado, são, ao mesmo tempo, expressão e condição de desenvolvimento das formas biológicas, postas na individualidade do sujeito estruturalmente social. Com isso, a prática em saúde tem suas origens nas necessidades determinadas socialmente e se volta para o atendimento delas. Como trabalho, por intermédio de seus agentes, transforma a natureza para satisfazer carências e constrói o mundo da saúde e suas teorias, nas suas infinitas particularidades. O conjunto de práticas que se institucionalizam para intervenção no processo saúde-doença são diversidades da unidade trabalho em saúde. Leopardi et al (1999) ressalta que o trabalho em saúde é um trabalho essencial para a vida humana e é parte do setor de serviços. É um trabalho da esfera da produção não-material que se completa no ato da sua realização. Não tem como resultado um produto material, independente do processo de produção e comercializável no mercado. O produto é indissociável do processo que o produz, é a própria realização da atividade. Formulando o processo de trabalho segundo as bases teóricas de Marx (1980), citadas anteriormente, pode-se considerar que o processo de trabalho dos profissionais da saúde tem como finalidade a ação terapêutica de saúde, como objetivo dos indivíduos ou grupos doentes, sadios ou expostos a risco, e como instrumental de trabalho as condutas que representam o nível técnico do conhecimento que é o saber de saúde. Nesse percurso, o produto final é a 9 própria prestação da assistência de saúde que é produzida no mesmo instante em que é consumida. Num primeiro momento, as estruturas hospitalares estavam voltadas ao abrigo de indigentes e pobres, locais onde alguns que estavam acometidos de “pragas” eram jogados a fim de não disseminar a doença para os demais indivíduos, e não tinha objetivo de cura. Conforme Foucault (1978) o hospital que funcionava na Idade Média não era, por nenhum conceito, um meio de cura, nem havia sido concebido para curar. Na história do cuidado do doente no Ocidente, o hospital era uma instituição de assistência aos pobres e ao mesmo tempo um local de separação e exclusão. A instalação do capitalismo necessitava do corpo como força do trabalho, e, assim, iniciou-se a reestruturação do conceito e dos objetivos dos hospitais. O objetivo começou a ser a cura, e o médico passa a dirigir todas as práticas advindas da divisão do trabalho no hospital, com o desenvolvimento concomitante da enfermagem no alcance das ações terapêuticas ao paciente. No Brasil, as primeiras políticas de saúde aparecem como preocupação do governo com a formação das cidades, a aglomeração das pessoas nas precárias condições de vida e a proliferação das doenças infectocontagiosas. Como proposta de saúde pública, o movimento sanitarista, vigente nas duas primeiras décadas deste século, apresentou para a sociedade um projeto de intervenção: o campanhista-policial (MEHRY apud RIZZOTTO, 1999). Embora as intervenções sociais tivessem alguma eficiência, foram contestadas pela população, devido ao autoritarismo empregado nas ações, como, por exemplo, na vacinação obrigatória e no confinamento dos doentes. Neste contexto, surgiu a enfermagem profissional na qual, segundo Germano (1985), o currículo adotado, na época, priorizava as disciplinas vinculadas à Saúde Pública, porém era exigido que as alunas trabalhassem em instituições hospitalares. O movimento da Reforma Sanitária e o processo de construção do Sistema Único de Saúde (SUS) marcam momentos significativos no processo de resgate da cidadania dos brasileiros no campo de saúde. Foi ao longo das últimas quatro décadas que se implantou a idéia da equidade, integralidade, universalidade e intersetoriedade como princípios orientadores de nossas práticas assistenciais em saúde. 10 Em termos jurídicos, as reorientações no setor de saúde tornam-se particularmente importantes após a promulgação da constituição de 1988 e da Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080), de 19 de setembro de 1990, complementada pela Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1999, a qual trata da participação e do controle social. Nesta evolução o direito à saúde dos cidadãos é sancionado, proporcionando uma demanda elevada na procura dos serviços de atendimento à saúde. As políticas públicas, entretanto, não são suficientes para contemplar todo esse aporte, e, com isso, ocorrem a organizações dos planos de saúde privados e empresas de prestação de serviços. Dentre estas opções surge o Home Care como uma linha de atendimento organizado à saúde em caráter domiciliar. Na maioria das vezes custeada de forma particular pelos seus usuários ou mesmo pelo convênio de saúde que o paciente faz parte, o cuidado domiciliar é vertente importante para compreendermos melhor a estruturação de um serviço de Home Care, bem como sua trajetória. O cuidado domiciliar também foi focalizado a partir da formulação e implantação do Programa de Saúde da Família – PSF, como política pública que culminou no atendimento domiciliar às famílias pelo Sistema Único de Saúde, incorporando-se parcialmente alguns objetivos comuns entre Home Care e o PSF, no que se refere a cuidados domiciliares. 1.1 Cuidado domiciliar Muitos registros na área da saúde demonstram, historicamente, a inserção do cuidado domiciliar como sendo uma prática antiga e acreditada por vários estudiosos que, com o passar dos anos, tornou-se uma modalidade de atendimento organizada implementada em vários países. No século XIII a.C no Egito Antigo, um médico chamado Imhotep atendia os pacientes no domicílio e em seu consultório e também era responsável pelo atendimento no palácio ao Faraó. Desde esta época, as primeiras referências da medicina apontam para um cuidado domiciliar. Na Grécia Antiga, o médico Asklépios atendia no domicílio dos pacientes e seus denominados seguidores atendiam os indivíduos nos templos. Nesses locais havia medicamentos e materiais para proporcionar o tratamento e a cura aos indivíduos enfermos – alguns registros apontam que estas estruturas são consideradas futuramente como hospitais. 11 Hipócrates, no século V a.C., descreveu a importância e a eficiência do cuidado no domicílio. Segundo ele essa forma de atendimento trazia êxito ao tratamento dos enfermos, como expõe no “Tratado sobre os ares, as águas e os lugares”. Samuel Hanneman, fundador da Homeopatia, no final do século XVII visitava os doentes no domicílio por acreditar que o médico era responsável pelo tratamento e cura das enfermidades, fazendo questão de permanecer junto ao leito dos doentes no domicílio a maior parte do tempo possível. Antes do surgimento dos grandes hospitais e da modalidade de assistência ambulatorial, no final do século XVIII, na Europa, os cuidados de enfermagem já eram largamente empregados. Especificamente no campo de enfermagem, Florence Nigthingale, ao se referir à saúde como estilo de vida, afirmou, em 1963, que os doentes se recuperariam melhor em suas casas do que nas instituições hospitalares. Independente do contexto vivenciado por Florence, do viés histórico – ideológico que permearam sua atuação, bem como as diferenças entre o ecossistema do século XIX e o do tempo atual, o que se advoga no campo da saúde domiciliar já era preconizado, quando esta enfermeira deu inicio à revolução científica na enfermagem mundial. Segundo Barreira (1992) a prestação de cuidados domiciliares no Brasil no início do século foi valorizada e tida como atividade prioritária no combate às grandes endemias que assolaram os grandes centros. Este cuidado era feito por intermédio de visitas domiciliares. A partir deste fato foi reconhecida a necessidade de formação de profissionais para este exercício. Conforme Oliveira (1996) esta formação estavadirecionada à prestação do cuidado para o doente ou para os fatores de risco de determinados agravos e não para a família como grupo social. Com a institucionalização do Sistema Único de Saúde – SUS, a partir da Lei Federal nº 8080/90 (BRASIL, 1990), algumas estratégias foram pensadas e implementadas para a consolidação do seu modelo. Uma delas foi a proposta do Ministério da Saúde, em 1994: O Programa de Saúde da Família – PSF (Fundação Nacional de Saúde, 1996). O PSF, na forma com que foi concebido, surge como resposta às propostas de atenção primária de saúde que ocorreram na década de setenta e ao movimento da Reforma Sanitária, que ocorreu na década de oitenta, culminando com a implantação do SUS. Neste cenário, a construção de um novo modelo assistencial embasado em estratégias do PSF propõe a organização das práticas de saúde voltadas para atenção a família. Um dos pressupostos das estratégias do PSF elege a família e seu espaço social como foco da atenção à saúde (Ministério da Saúde, 1996). 12 Segundo Elsen (1994) a família constitui uma unidade de saúde para seus componentes, apesar dos estudos que abordam as funções da família não incluírem de forma explícita o cuidado com a saúde de seus membros. Entretanto, a autora destaca que esta unidade nem sempre é eficiente no desempenho deste papel e apenas é considerada saudável quando cuida da saúde de seus componentes de forma adequada. Assim, o domicílio é considerado o cenário onde ocorrem as relações sociais geradoras de conflitos e de outros fatores de risco de adoecer, sendo também o local privilegiado para o desenvolvimento de ações e da atuação na busca pela promoção e manutenção da saúde. O cuidado dispensado à saúde no domicílio propicia a inserção dos profissionais no cotidiano do paciente; identificando demandas e potencialidades da família, em um clima de parceria terapêutica. Para isso concorrem fatores como a humanização do cuidado, a ausência de riscos iatrogênicos de origem hospitalar, o resgate das formas de cuidar calcadas nas práticas tradicionalmente usadas pela população, embasadas na bagagem cultural. O desenvolvimento das ações propostas pelo PSF está relacionado prioritariamente à prevenção primária, ou seja, aquela prevenção realizada antes mesmo que a doença ocorra no paciente, não excluindo também a atuação na prevenção secundaria e terciária, tratamento e reabilitação respectivamente. No caso do atendimento domiciliar realizado pelos serviços de Home Care, na maioria das vezes há mais ações voltadas para a atenção secundária e terciária, que consistem no tratamento do agravo, até mesmo internações domiciliares e acompanhamento na reabilitação do paciente. É importante também identificar que o PSF é um programa de política pública de atendimento à população pelo Sistema Único de Saúde, enquanto o Home Care é uma empresa constituída que obedece a normas regidas pelo sistema nacional, mas que atende na maioria das vezes pacientes particulares ou com planos de saúde, tendo também possibilidade de atender ao SUS, constituindo um serviço terceirizado. Atendimento domiciliar conceitua-se como o conjunto de procedimentos hospitalares passíveis de serem realizados no ambiente domiciliar do paciente, englobando ações de saúde de equipe multiprofissional, baseadas em diagnóstico da realidade que o paciente vive, buscando a promoção, manutenção e reabilitação da saúde (Fabrício et al, 2004). A atenção ao atendimento domiciliar, segundo Moura e Nakamura (2003), inclui procedimentos simples de enfermagem, internações domiciliares e até mesmo assistência no domicílio daqueles pacientes considerados pelos médicos como fora das possibilidades terapêuticas. Um paciente considerado fora das possibilidades terapêuticas, ou também denominado paciente terminal, é aquele 13 onde as possibilidades de cura não existem, o tratamento passa a ser paliativo e o prognóstico é o óbito. Este diagnóstico é feito pelo médico depois de esgotados os recursos de cura para determinada doença. Collopy et al, citado por Mendes (2001), descreve que na modalidade de assistência domiciliar estão envolvidos procedimentos como cuidados dos clientes em suas atividades cotidianas, administração de medicamentos, realização de curativos, cuidados com estomas e até mesmo o uso de alta tecnologia hospitalar com a presença de equipe multiprofissional de permanência 24 horas/dia. A equipe multiprofissional que compõe um cuidado domiciliar formal deve ser composta por médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, nutricionista e fisioterapeuta. Conforme a complexidade do atendimento ao paciente, sua patologia e prognóstico, os profissionais em conjunto devem estipular as condutas de tratamento a serem seguidas e a possível necessidade de outro profissional. O trabalho em equipe multiprofissional consiste numa modalidade de trabalho coletivo que se configura como uma relação recíproca entre as múltiplas intervenções técnicas e a interação dos agentes de diferentes áreas profissionais. Por meio da comunicação, ou seja, da mediação simbólica da linguagem, dá-se a articulação das ações multiprofissionais e a cooperação (PEDUZZI, 1998). O cuidador é o indivíduo que presta cuidados ao enfermo sendo que pode ou não ter vínculo familiar. Existem dois tipos de cuidadores: o formal e o informal (BRASIL, 1999b). O cuidador formal é um profissional preparado em uma instituição de ensino para prestar cuidados no domicílio, segundo as necessidades específicas do cliente (REJANE & CARLETTE, 1996); o cuidador informal, no entanto, é um membro da família ou da comunidade que presta cuidado de forma parcial ou integral. Este indivíduo deve ser alfabetizado e possuir noções básicas sobre o cuidado do cliente e terá a função de auxiliar e/ou realizar a atenção adequada às pessoas que apresentam limitações para as atividades básicas e instrumentais da vida diária, estimulando a independência e respeitando a autonomia destas (BRASIL, 1999b). Duarte (1997) afirma que o cuidador é a pessoa que realiza suas atividades aos indivíduos com necessidades de atenção no domicílio. Leitão e Almeida (2000, p. ) descrevem o cuidador como a pessoa que assume a responsabilidade em cuidar proporcionando suporte e visando a melhoria da qualidade de vida da pessoa a ser cuidada. Mendes (1998) expõe que o cuidador domiciliar se constitui no indivíduo que possui vínculos de parentesco com o doente, e classifica como cuidador principal aquele com maior responsabilidade sobre os cuidados do paciente e o cuidador secundário como aquele que realiza cuidados complementares. 14 2 CONCEITO E HISTÓRICO DE HOME CARE Home Care é uma expressão inglesa na qual Home significa “Lar” e Care “Cuidados”. Traduz-se, desta forma, como cuidados no lar. O Home Care surgiu primeiramente nos Estados Unidos (EUA) no período pós-guerra, mediante a necessidade dos familiares de cuidar de seus doentes em casa. Após essa fase inicial houve a inserção dos profissionais especializados para este cuidado. A procura excessiva por serviços de saúde e a intencionalidade para internações hospitalares em conjunto com a escassez destes serviços propiciou e colaborou para a transformação do cuidado domiciliar. Esta modalidade de atendimento tornou-se gradativamente organizada. Em 1796 o Home Care começou a ser arranjado, primeiramente prestando cuidados aos pobres e enfermos, nos Estados Unidos da América, objetivando o tratamento destes pacientes em casa, ao invés de hospitalizá-los. Nesta mesma época o hospital ainda era considerado um local insalubre, onde os acometidos por pestes e os pobres aguardavam a morte. A primeira referência da forma organizada da Assistência Domiciliar em Saúde (ADS) foi o Dispensário de Boston, em 1976, hoje denominado New England Medical Center. Liderado por Lílian Wald, foi criadoem 1850 o programa que mais tarde denominou-se Public Health Nurse, o seja, Enfermeira da Saúde Pública. No período de 1900 a 1905, nos EUA, havia uma preocupação com a imigração, a industrialização e o aumento de doenças infecto-contagiosas. Neste mesmo período algumas enfermeiras faziam visitas aos pobres em sua residência, informando- lhes sobre os cuidados básicos de saúde e prevenção do alastramento das enfermidades, sendo empregadas por associações. Esta função denominada como enfermeira visitante foi vista como uma saída para o controle das doenças que estavam tomando conta das cidades e as destruindo. Até o período de 1905, quatrocentos e cinqüenta e cinco enfermeiras estavam empregadas por associações e realizando as visitas à toda a população. Também existia o trabalho das enfermeiras de forma autônoma que realizavam acompanhamento contínuo dos enfermos nos domicílios, nas 24 horas do dia, prestando cuidados em sua convalescença. Recebiam de forma particular, geralmente nos casos de enfermos da classe média e pessoas influentes. Em 1909, com o investimento público nas ações de saúde e educação, o sistema de saúde domiciliar dos EUA passou por mudanças. A enfermeira começou a ensinar às pessoas nas escolas um 15 estilo de vida saudável, incluindo hábitos de higiene pessoal, métodos de tratamento e a responsabilidade do auto-cuidado dos indivíduos. Segundo Orem (1971, p.80) auto-cuidado é utilizado como sinônimo de cuidar de si próprio, ou seja, são todas as ações que o indivíduo executa em seu próprio benefício. É um comportamento que implica no papel ativo do cliente no desenvolvimento de atividades com o objetivo de manter a vida, a saúde e o bem estar. Esta função da enfermeira foi denominada de comunitária, pois ensinava também aos indivíduos os conceitos de doença; neste mesmo período o plano de saúde “Metropolian Life Insurance Company” contratou enfermeiras visitantes para tratar dos seus usuários em casa durante a fase da enfermidade. A Metropolian Life Insurance Company conhecida também com MetLife é uma das mais antigas companhias de seguros dos Estados Unidos, criada em 1863 por um grupo de empresários em Nova York. No início esta empresa oferecia somente seguros de assistência à vida, mais tarde incluiu serviços dentários. O Plano de Saúde Metropolian Life Insurance Company aceitou este desafio mediante a idéia de Lílian Wald, enfermeira que iniciou o serviço de enfermeiras visitadoras em Nova York e colaborou com a abertura da primeira escola de enfermagem em tempo integral, ela acreditava que as enfermeiras visitantes poderiam contribuir na redução dos gastos com usuários enfermos. A Cruz Vermelha ampliou o programa de enfermeiras visitantes para a área rural, em 1912. O final da I Guerra Mundial propiciou o aumento das enfermeiras visitantes em todos os países, e a Cruz Vermelha ampliou esta função para todas as suas filiais. O plano de saúde Metropolian Life Insurance Company contratou várias enfermeiras para o desempenho desta atividade. No primeiro momento de atuação da enfermagem no domicílio dava-se ênfase às doenças contagiosas. A partir de 1950 as doenças contagiosas, diante do trabalho realizado pelas enfermeiras visitantes e comunitárias, diminuíram expressivamente. O foco do trabalho então começou a ser os doentes crônicos. As doenças crônicas inviabilizavam a vida do indivíduo, que na maioria das vezes necessitava longa permanência no leito, acarretando uma total dependência no desenvolvimento de ações, surgindo com isso problemas sociais e econômicos, e principalmente de saúde. Em 1922 a enfermagem tornou-se profissão no Brasil por meio da fundação da Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública, que possuía o mesmo padrão da Escola Florence Nightingale na Inglaterra, em 1926 esta mesma escola passou a se chamar Ana Nery. 16 No período compreendido entre os anos de 1925 e 1929 a taxa de mortalidade urbana e as doenças infectocontagiosas começam a diminuir nos EUA, e a principal causa de mortalidade passa a ser as doenças crônicas degenerativas. Os hospitais começam a ficar lotados por estes pacientes que optam pela internação para tratamento de tais moléstias. O Home Care ainda é uma opção de tratamento, mas progressivamente neste período diminui e muito seus serviços, sendo substituído pela permanência dos pacientes em hospitais. Houve a centralização e o aumento de pacientes nos hospitais, principalmente no período entre 1930 a 1954 nos EUA, o que fez com que o trabalho das enfermeiras comunitárias e visitantes foi declinando. O Plano de Saúde Metropolian Life cancelou o programa de enfermeiras visitantes e a Cruz Vermelha também. A partir do ano de 1955 até 1964 houve um grande questionamento sobre os custos dos pacientes para os Planos de Saúde. Como as internações aumentaram, verificou-se que os custos para manter um paciente internado eram superiores àqueles para mantê-lo em tratamento domiciliar. Paralelamente ao aumento das internações, a taxa de doenças crônicas na população aumentava consideravelmente e o número de pacientes idosos também. Neste contexto, mais uma vez o Home Care aparece como uma modalidade de assistência à saúde da população, demonstrando qualidade nos serviços com um menor custo. Em 1965 o plano de saúde Medicare, nos EUA, por meio de sua legislação, começou a prever aos seus usuários os serviços de Home Care especializados e terapias de natureza curativa ou de reabilitação para os idosos. O serviço de Home Care oferecido pelo Medicare era contratado por uma empresa terceirizada. No ano de 1968 os serviços domiciliares no Brasil estavam em sua maioria restritos à vigilância epidemiológica materno-infantil. O Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo estruturou-se e iniciou suas atividades de visitação em domicílio. O Home Care, nos EUA, começou a ser visto pelos planos de saúde como uma forma de reduzir custos com seus usuários. Assim no período de 1970 a 1985 muitas outras empresas de Home Care foram abertas e em 1982 foi fundada a Associação Nacional para Home Care. Esta associação objetivava defender os interesses das empresas credenciadas. Promoveu esclarecimento à população na mídia frente ao tratamento do paciente em Home Care. Observou-se que quanto menos dias os pacientes permaneciam internados mais os serviços de Home Care eram utilizados pela população. O conhecimento frente ao Home Care também aumentou muito por parte da população. 17 Em 1986 é fundada no Brasil a primeira agência de Home Care, chamada “Geriátricas Home Care”. Localizada no Rio de Janeiro e dirigida pelo Dr. Ricardo Rodrigues, inicia seus atendimentos com exclusividade para o Plano de Saúde Amil. Quatro anos depois, em 1990, é aprovada a Lei 8.080, em 19 de setembro, que trata das condições para promoção, proteção e recuperação da saúde da população, como também a organização e o funcionamento de serviços correspondentes, dando outras providências e regulamentando a assistência domiciliar no Brasil. Em 1994 foi criada a Fundação de Home Care pela Volkswagen no Brasil e em 1995 foi fundada a Associação das empresas de Medicina Domiciliar – ABEMID. Um ano depois, em 1996, constituiu-se o NADI ( Núcleo de Assistência Domiciliar Interdisciplinar) do Hospital de Clínicas de São Paulo. A atenção em torno da assistência domiciliar foi aumentando gradativamente, e em 1998 ocorreu o I Simpósio Brasileiro de Assistência Domiciliar – SIBRAD. Neste encontro foram discutidos os aspectos mais importantes relacionados à assistência domiciliar e pela primeira vez houve um debate sobre os modelos de assistência domiciliar nos setores público e privado. Com a expansão dos serviços de atendimento domiciliar, passou a existir a necessidade de emissão de resoluções sobre a adequação dos profissionais para realizaçãoda função. Em 2002 o Conselho Federal de Enfermagem e o Conselho Federal de Farmácia e em 2003 o Conselho Federal de Medicina aprovam resoluções referentes à assistência domiciliar. Também em 2002 o Conselho Federal de Enfermagem aprovou a resolução número 270 que definiu a regulamentação para que as empresas prestassem serviços de enfermagem domiciliar Home Care. No mesmo ano, o Conselho Federal de Farmácia edita a resolução número 386, em 12 de novembro, na qual dispõe sobre as atribuições do farmacêutico no âmbito da assistência domiciliar. Posteriormente, em 2003 o Conselho Federal de Medicina aprovou a resolução número 1.668/2003 que dispôs sobre as técnicas necessárias à assistência domiciliar de paciente, definindo as responsabilidades e a interface multidisciplinar neste tipo de assistência. No mesmo ano de 2003, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publica a Consulta Pública número 81, de 10 de outubro de 2003, relacionada com a prática da assistência domiciliar no Brasil. E, em 2006, a ANVISA publica a resolução RDC nº 11, que estipula as regras para o funcionamento de serviços de saúde que prestam atendimento domiciliar. A partir da publicação da RDC nº 11 os serviços de saúde com atendimento domiciliar começaram a ser fiscalizados e conseqüentemente melhor estruturados, já que passaram a seguir normas de funcionamento. O estudo completo desta resolução consta no próximo módulo. 18 2.1 Perspectivas para o Home Care Frente ao atual quadro de políticas de saúde, questões demográficas e sociais encontradas no Brasil, pode-se dizer que alguns fatores contribuem para o crescimento da atenção à saúde prestada em domicílio, são eles: O aumento da população idosa Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS – a população idosa é definida como aquela possui no mínimo 60 anos de idade, limite de idade válido para os países em desenvolvimento, no caso dos países desenvolvidos admite-se o limite de idade de 65 anos. Carvalho e Andrade (2000) descrevem o envelhecimento como o aumento do número de anos vividos em conjunto com a evolução cronológica do indivíduo. Existem fenômenos de natureza biopsíquica e social, que proporcionam a percepção da idade e do envelhecimento. O envelhecimento é associado, algumas vezes, com a saída da vida produtiva pela vida de aposentadoria. Segundo estudos do IBGE (2002) as estimativas para os próximos 20 anos indicam que a população idosa poderá exceder 30 milhões de pessoas, chegando a representar quase 13% da população brasileira. Os estudos mostram que a população de idosos vem crescendo mais rapidamente que a população de crianças. Concomitante a isso, estudos apresentados pelo Ministério da Saúde apontam que em nosso país mais de 85 % dos idosos apresentam uma enfermidade crônica e cerca de 15% dos idosos apresentam pelo menos 5 enfermidades crônicas, resultando na procura constante ao atendimento à saúde (IBGE, 2002). Diante disso, a população idosa é considerada uma das maiores demandas em atendimento no Home Care, tanto quando se trata do tratamento da enfermidade como em sua reabilitação, devido à sua importância este assunto será discutido nos próximos módulos mais profundamente. O aumento da incidência de Doenças Crônicas O aumento das doenças crônicas na população acarreta uma demanda de pacientes 19 com necessidades de tratamento constante. O Home Care, neste sentido, evita a internação deste paciente, já que os cuidados a serem realizados na maioria das patologias consideradas como crônicas podem ser desenvolvidos no domicílio. O alto custo no uso de tecnologias diagnósticas e de tratamento Cada vez mais o investimento na área de saúde preventiva e curativa vem aumentando os custos das tecnologias diagnósticas, aumentando, consequentemente, os valores para manter o tratamento de pacientes no ambiente hospitalar, ou mesmo em forma ambulatorial de atendimento em hospitais ou centros diagnósticos. Quando um Home Care está ligado a um plano de saúde ocorre a redução dos custos pelos usuários do plano mantendo uma qualidade de vida adequada sem interferir no desenvolvimento de ações para diagnóstico e tratamento. O Home Care pode agir de forma preventiva, focalizando os riscos das doenças antes que a mesma se instale no paciente, diminuindo custos com tecnologia diagnóstica, já que estará envolvido na saúde preventiva. O aumento do interesse de cuidados próprios Mesmo não sendo tão conhecida pelos pacientes, por ainda haver o paradigma de que sempre a internação hospitalar é o melhor caminho, a modalidade de atendimento domiciliar Home Care vem mostrando, principalmente nos maiores centros do país, a facilidade e resolutividade no atendimento domiciliar. Com a conscientização, tanto familiares como os próprios pacientes compreendem esta forma de gerenciar o cuidado como uma maneira mais humanizada, já que, na maioria das situações os pacientes possuem um cuidador informal, alguém que está presente por todo o tempo no domicílio e que será responsável pela detectação de sinais e sintomas. Os recursos financeiros insuficientes destinados à saúde pelo governo Quanto menos recursos são destinados à saúde pelo governo menos necessidades da população são atendidas. Com isso, muitos indivíduos buscam apoio na saúde privada, inserido- se neste contexto as empresas de Home Care e os Planos de saúde. 20 Alguns hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde utilizam como estratégia de ação o atendimento domiciliar para diminuir seus custos com pacientes internados, sendo uma maneira de direcionar o cuidado qualificando sem, contudo, intervir na terapêutica. As dificuldades nas instituições hospitalares Atualmente, diante das dificuldades das instituições hospitalares, tem-se tentado focalizar o paciente que realmente possui a necessidade de permanecer dentro desta instituição para tratamento, enquanto os demais podem e devem ser encaminhados para um serviço de atendimento domiciliar, pois como veremos nos próximos módulos os custos com a internação domiciliar é inferior ao custo da internação hospitalar. A necessidade de gerenciamento de custo de riscos pelos planos de saúde. A atuação do Home Care nos Planos de Saúde está diretamente relacionada à qualidade de vida dos usuários e à diminuição dos custos relacionados às internações e/ou aos tratamentos empregados nas situações de diagnóstico e tratamento. Nesta visão utilizam-se ações preventivas de acompanhamento de usuários mediante os riscos no aparecimento de doenças. 2.2 Objetivos do Home Care Segundo Floriani e Schramm (2004) os principais objetivos de um serviço de Atendimento Domiciliar são: Contribuir para a otimização dos leitos hospitalares e do atendimento ambulatorial, visando a redução de custos; Reintegrar o paciente ao seu núcleo familiar e de apoio; 21 Proporcionar assistência integrada e humanizada por meio de uma maior aproximação da equipe de saúde com a família; Estimular uma maior participação do paciente e de sua família no tratamento proposto; Promover educação em saúde; Ser um campo de ensino e pesquisa. Economicamente está comprovado que o atendimento domiciliar reduz os custos com internação de pacientes nos hospitais, como também otimiza a utilização de leitos por aqueles que realmente necessitam estar em ambiente hospitalar, ou seja, não são pacientes potenciais para Home Care. A integração com a família é importante para restabelecer o paciente. Também nesse contexto pode-se citar a presença do cuidador como indispensável para melhor recuperação e acompanhamento do paciente em seu tratamento domiciliar. Mesmo com a atuação da equipe de atendimento domiciliar é importante sempre identificar um componente como sendo a referência em cuidador. OProjeto Lei do Congresso Nacional nº (descrito na íntegra no Anexo 1) cria a profissão do cuidador: de acordo com o proposto neste projeto, o profissional “cuidador” tem por finalidade o serviço domiciliar extra-institucional de saúde, prestado a pessoas cuja saúde debilitada, idade avançada ou limitação temporária ou crônica impeçam-nas de realizar tarefas básicas da vida, como locomoção, alimentação e higiene. O exercício desta profissão só poderá ser feito, segundo o projeto de lei, por meio da conclusão do Ensino Fundamental e de curso de qualificação básica para formação de cuidador, sendo que o conteúdo do curso será elaborado e estabelecido pelo Ministério da Saúde. As atividades dos cuidadores citados neste projeto não compreendem atividades privativas dos profissionais de saúde. O projeto está sendo analisado pela câmara de deputados. O atendimento domiciliar proporciona à equipe que presta este serviço, um conhecimento maior frente à realidade de vivências de seus pacientes, podendo propor ações dentro desta realidade, o que torna o cuidado mais eficiente, no sentido de evitar danos e futuras reiternações. 22 2.3 Benefícios do Home Care Os mesmos autores relacionam como benefícios de um atendimento domiciliar: Diminuição das reinternações e dos custos hospitalares; Redução dos riscos de infecção hospitalar; Manutenção do paciente no núcleo familiar; Aumento da qualidade de vida dele e de seus familiares. 2.4 Regulamentação em Home Care Para qualificar o entendimento sobre o Home Care é importante conhecer as principais resoluções vigentes sobre o assunto, dentre elas citam-se a RDC n° 11 e n° 07 que regulamentam tecnicamente os serviços que prestam atendimento domiciliar, bem como as resoluções de categorias profissionais que descrevem as funções no atendimento junto à equipe multiprofissional. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n°11 de 26 de janeiro de 2006. No dia 26 de janeiro de 2006 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou a RDC (Resolução da Diretoria Colegiada) nº 11 que regulamenta a atividade de Assistência Domiciliar no Brasil. Em seu Regulamento Técnico descreve os principais fundamentos para o funcionamento de tais empresas, como pode ser observado no anexo 1. RDC n° 11 – Anexo “Regulamento Técnico para o funcionamento de Serviços de Atenção Domiciliar” 23 1. Objetivo Estabelecer os requisitos de funcionamento para os Serviços de Atenção Domiciliar. 2. Abrangência do Regulamento Esta resolução é aplicável a todos os Serviços de Atenção Domiciliar, públicos ou privados, que oferecem assistência e ou internação domiciliar. 3. Definições 3.1 Admissões em Atenção domiciliar: processo que se caracteriza pelas seguintes etapas: indicação, elaboração do Plano de Atenção Domiciliar e início da prestação da assistência ou internação domiciliar. 3.2 Alta da Atenção domiciliar: ato que determina o encerramento da prestação de serviços de atenção domiciliar em função de: internação hospitalar, alcance da estabilidade clínica, cura, a pedido do paciente e/ou responsável, óbito. 3.3 Atenções domiciliar: termo genérico que envolve ações de promoção à saúde, prevenção, tratamento de doenças e reabilitação desenvolvidas em domicílio. 3.4 Assistências domiciliar: conjunto de atividades de caráter ambulatorial, programadas e continuadas desenvolvidas em domicílio. 3.5 Cuidador: pessoa com ou sem vínculo familiar capacitada para auxiliar o paciente em suas necessidades e atividades da vida cotidiana. 3.6 Equipes Multiprofissionais de Atenção Domiciliar – EMAD: profissionais que compõem a equipe técnica da atenção domiciliar, com a função de prestar assistência clínico-terapêutica e psicossocial ao paciente em seu domicílio. 3.7 Internação Domiciliar: conjunto de atividades prestadas no domicílio, caracterizadas pela atenção em tempo integral ao paciente com quadro clínico mais complexo e com necessidades de tecnologia especializada. 3.8 Plano de Atenção Domiciliar – PAD: documento que contempla um conjunto de medidas que orienta a atuação de todos os profissionais envolvidos de maneira direta e ou indireta na assistência a cada paciente em seu domicílio desde sua admissão até a alta. 24 3.9 Serviço de Atenção Domiciliar – SAD: instituição pública ou privada responsável pelo gerenciamento e operacionalização de assistência e/ou internação domiciliar. 3.10 Tempo de Permanência: período compreendido entre a data de admissão e a data de alta ou óbito do paciente. 4. Condições Gerais 4.1 O SAD deve possuir alvará expedido pelo órgão sanitário competente. 4.2 O SAD deve possuir como responsável técnico um profissional de nível superior da área da saúde, habilitado junto ao respectivo conselho profissional. 4.3 O SAD deve estar inscrito no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES. 4.4 O SAD deve possuir um regimento interno que defina o tipo de atenção domiciliar prestada e as diretrizes básicas que norteiam seu funcionamento. 4.5 O SAD deve elaborar manual e normas técnicas de procedimentos para a atenção domiciliar, de acordo com a especificidade da assistência a ser prestada. 4.6 A atenção domiciliar deve ser indicada pelo profissional de saúde que acompanha o paciente. 4.7 O profissional de saúde que acompanha o paciente deve encaminhar ao SAD relatório detalhado sobre as condições de saúde e doença do paciente contendo histórico, prescrições, exames e intercorrências. 4.8 A equipe do SAD deve elaborar um Plano de Atenção Domiciliar – PAD. 4.9 O PAD deve contemplar: 4.9.1. A prescrição da assistência clínico-terapêutica e psicossocial para o paciente; 4.9.2. Requisitos de infra-estrutura do domicílio do paciente, necessidade de recursos humanos, materiais, medicamentos, equipamentos, retaguarda de serviços de saúde, cronograma de atividades dos profissionais e logística de atendimento; 4.9.3. O tempo estimado de permanência do paciente no SAD considerando a evolução clínica, superação de déficits, independência de cuidados técnicos e de medicamentos, equipamentos e materiais que necessitem de manuseio de profissionais; 25 4.9.4. A periodicidade dos relatórios de evolução e acompanhamento. 4.10 O PAD deve ser revisado de acordo com a evolução e acompanhamento do paciente e a gravidade do caso. 4.10.1 A revisão do PAD deve conter data, assinatura do profissional de saúde que acompanha o paciente e do responsável técnico do SAD. 4.11 O registro dos pacientes em atenção domiciliar e o PAD devem ser mantidos pelo SAD. 4.12 O SAD deve manter um prontuário domiciliar com o registro de todas as atividades realizadas durante a atenção direta ao paciente, desde a indicação até a alta ou óbito do paciente. 4.12.1 O prontuário domiciliar deve conter identificação do paciente, prescrição e evolução multiprofissional, resultados de exames, descrição do fluxo de atendimento de Urgência e Emergência, telefones de contatos do SAD e orientações para chamados. 4.12.2 O prontuário deve ser preenchido com letra legível e assinado por todos os profissionais envolvidos diretamente na assistência ao paciente. 4.12.3 Após a alta ou óbito do paciente o prontuário deve ser arquivado na sede do SAD, conforme legislação vigente. 4.12.4 O SAD deve garantir o fornecimento de cópia integral do prontuário quando solicitado pelo paciente ou pelos responsáveis legais. 4.13 O SAD deve fornecer aos familiares dos pacientes e/ou cuidadores orientações verbais e escritas, em linguagem clara, sobre a assistência a ser prestada, desde a admissão até a alta. 4.14 O SAD deve prover por meio de recursos próprios ou terceirizados, profissionais, equipamentos, materiais e medicamentos de acordo com a modalidade de atenção prestada e o perfil clínico do paciente. 4.15 O SAD deve observar,como critério de inclusão para a internação domiciliar, se o domicílio dos pacientes consta com suprimento de água potável, fornecimento de energia elétrica, meio de comunicação de fácil acesso, facilidade de acesso para veículos e ambiente com janela, especifico para o paciente, com dimensões mínimas para um leito e equipamentos. 4.16 O SAD deve controlar o abastecimento domiciliar de equipamentos, materiais e medicamentos conforme prescrição e necessidade de cada paciente, assim como meios para atendimento a solicitações emergenciais. 26 4.17 O SAD deve assegurar o suporte técnico e a capacitação dos profissionais envolvidos na assistência ao paciente. 4.18 O SAD deve estabelecer contrato formal, quando utilizar serviços terceirizados, sendo que estes devem ter obrigatoriamente Alvará Sanitário atualizado. 4.19 O SAD deve elaborar e implementar um Programa de Prevenção e Controle de Infecções e Eventos Adversos (PCPIEA) visando a redução da incidência e da gravidade desses eventos. 4.20 O SAD deve possuir sistema de comunicação que garanta o acionamento da equipe, serviços de retaguarda, apoio ou suporte logístico em caso de urgência e emergência. 4.21 O SAD deve garantir aos pacientes que estão em regime de internação domiciliar, a remoção ou retorno à internação hospitalar nos casos de urgência e emergência. 5.5 Condições Específicas 5.1 O SAD deve assegurar os seguintes serviços básicos de retaguarda de acordo com a necessidade de cada paciente e conforme estabelecido no PAD: 5.1.1 referência para atendimento de urgência e emergência e internação hospitalar formalmente estabelecida; 5.1.2 referência ambulatorial para avaliações especializadas, realização de procedimentos específicos e acompanhamento pós alta. 5.2 O SAD deve assegurar os seguintes suportes diagnósticos e terapêuticos de acordo com o PAD: 5.2.1 exames laboratoriais, conforme RDC/ANVISA nº 302 de 2005; 5.2.2 exames radiológicos, conforme Portaria SVS/MS nº 453 de 1998; 5.2.3 exames por métodos gráficos; 5.2.4 hemoterapia, conforme RDC/ANVISA nº 153 de 2004; 5.2.5 quimioterapia, conforme RDC/ANVISA nº 220 de 2004; 5.2.6 diálise, conforme RDC/ANVISA nº 154, de 2004; 5.2.6.1 na realização de hemodiálise o dialisador deve ser de uso único. 27 5.2.7 assistência respiratória com oferta de equipamentos, materiais e gases medicinais compreendendo procedimentos de diferentes graus de complexidade; 5.2.7.1 a ventilação mecânica invasiva só é permitida na modalidade de internação domiciliar com acompanhamento do profissional da Equipe Multiprofissional de Atenção domiciliar – EMAD; 5.2.7.1.1 caso o equipamento seja acionado por energia elétrica o domicílio deve ser cadastrado na companhia de fornecimento de energia elétrica local; 5.2.7.1.2 deve haver sistema alternativo de energia elétrica ligado ao equipamento com acionamento automático em no mínimo 0,5 segundos; 5.2.7.2 quando houver instalação de sistemas de suprimento de gases medicinais canalizada, esta deve estar de acordo com a NBR 12.188; 5.2.7.3 O enchimento dos cilindros de gases medicinais não deve ser realizado no domicílio do paciente. 5.2.8 Nutrição Parenteral conforme Portaria SVS/MS nº 272 de 1998; 5.2.8.1 compete a EMAD verificar e orientar as condições de conservação da nutrição seguindo as exigências do regulamento do item 5.2.8. 6. Recursos humanos 6.1 O SAD deve possuir EMAD que atenda ao seu perfil de demanda e ser dimensionada para o atendimento de cada paciente conforme o PAD. 6.2 O SAD deve garantir educação permanente para a EMAD. 6.2.1 As capacitações devem ser registradas contendo nome do responsável, especificação de conteúdo, lista de participantes assinada, data e tempo de duração das atividades. 6.3 O SAD que mantiver em estoque medicamentos sujeitos ao controle especial deve contar com farmacêutico habilitado, conforme Portaria SVS/MS nº 344, de 1998. 6.3.1 caso o SAD esteja inserido em um serviço de saúde, pode contar com o apoio do profissional da farmácia do mesmo. 6.4 O SAD deve garantir o fornecimento e orientar o uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI), conforme as atividades desenvolvidas. 28 7. Infra-estrutura física 7.1 O domicílio do paciente deve possibilitar a realização dos procedimentos prescritos no PAD. 7.2 Infra-estruturas da Sede do SAD 7.2.1 O SAD deve possuir infra-estrutura física conforme a RDC/ANVISA nº 50 de 2002; com os seguintes ambientes: 7.2.1.1 recepção; 7.2.1.2 área de trabalho para a equipe administrativa com arquivo; 7.2.1.3 área de trabalho para a EMAD; 7.2.1.4 almoxarifado; 7.2.1.5 instalações de conforto e higiene; 7.2.2 O SAD que estiver inserido em um serviço de saúde pode compartilhar os ambientes descritos no item 7.3.1. 8. Equipamentos, medicamentos e materiais 8.1 O SAD deve prover equipamentos, medicamentos e materiais conforme definido no PAD. 8.2 Os equipamentos, medicamentos e materiais devem estar regularizados junto à ANVISA/MS, conforme legislação vigente. 8.3 O SAD deve possuir um sistema de controle que permita a rastreabilidade dos equipamentos, dos medicamentos e dos materiais. 8.4 O transporte de equipamentos, medicamentos e materiais deve ser efetuado conforme orientação do fabricante, de forma a garantir sua integridade. 8.5 Os equipamentos devem estar calibrados periodicamente, conforme instruções do fabricante. 8.6 O SAD deve garantir a manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos e manter registros das mesmas. 8.7 Para a instalação dos equipamentos no domicílio, o SAD deve: 8.7.1 Verificar as condições de instalação conforme manual de operação do fabricante; 29 8.7.2 Realizar os testes de funcionamento dos equipamentos; 8.7.3 Orientar o paciente, os familiares e cuidadores quanto ao manuseio dos equipamentos e os riscos a eles associados. 8.8 O SAD deve substituir prontamente os equipamentos com problemas de operação. 8.9 O SAD deve fornecer bateria dos equipamentos de suporte a via. 9. Procedimentos de suporte técnico e logístico 9.1 O SAD deve garantir a implantação das normas e rotinas de limpeza e desinfecção de artigos, superfícies e equipamentos utilizados diretamente na assistência ao paciente, sob supervisão do responsável pelo PCPIEA. 9.2 O responsável técnico do SAD deve elaborar e implantar o plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde – PGRSS, conforme RDC/ANVISA nº 306, de 2004. 10. Avaliação da assistência domiciliar 10.1 Compete ao SAD a realização continuada de avaliação do desempenho e padrão de funcionamento global. 10.2 A avaliação referida no item 10.1 deve ser realizada levando em conta os indicadores abaixo: Nº Indicador Fórmula e Unidade Freqüência de Produção 1 Taxa de mortalidade para a modalidade internação domiciliar (Número de óbitos de pacientes em internação domiciliar no mês / Todos os pacientes que receberam atenção na modalidade internação domiciliar no mês) * 100 (%) Mensal 2 Taxa de internação após atenção domiciliar (Número de pacientes em atenção domiciliar que necessitaram de internação hospitalar no mês / Todos os pacientes que receberam atenção domiciliar no mês) * 100(%) Mensal 30 3 Taxa de infecção para a modalidade internação domiciliar (Número de pacientes em internação domiciliar com episódios de infecção no mês / Todos os pacientes que receberam atenção na modalidade internação domiciliar no mês) * 100 (%) Mensal 4 Taxa de alta da modalidade assistência domiciliar (Número de pacientes em assistência domiciliar que receberam alta no mês / Todos os pacientes que receberam atenção na modalidade assistência domiciliar no mês) * 100 (%) Mensal 5 Taxa de alta da modalidade internação domiciliar (Número de pacientes em internação domiciliar que receberam alta no mês / Todos os pacientes que receberamatenção na modalidade internação domiciliar no mês) * 100 (%) Mensal 1 – Pacientes que receberam atenção domiciliar no mês: considerar o número de pacientes do dia 15 de cada mês. 10.3 O SAD deve encaminhar à Vigilância Sanitária local o consolidado dos indicadores do semestre anterior em todos os meses de janeiro e julho. 10.4 O consolidado do município deverá ser encaminhado à Secretaria Estadual de Saúde e o consolidado dos estados à ANVISA. 11. Disposições transitórias 11.1 O SAD já em funcionamento têm prazo máximo de 365 dias após a publicação, para se adequar às disposições deste regulamento. 11.2 Para o inicio ou reinicio das atividades os serviços devem atender na íntegra as disposições deste regulamento. O PAD – Plano de Atendimento Domiciliar que se refere a RDC nº 11 é um dos principais mecanismos de acompanhamento da assistência programada e realizada ao paciente enquanto este estiver sob atenção domiciliar. Tanto nos casos de assistência domiciliar como internação domiciliar. 31 A visita domiciliar realizada pela equipe multiprofissional de saúde é primordial e essencial, para que, observando a realidade do ambiente em que o paciente reside, possa concluir sobre a eficiência do atendimento domiciliar e a perspectiva que o paciente terá neste domicílio. O paciente na admissão do atendimento domiciliar recebe primeiramente, visita da equipe multiprofissional de atendimento domiciliar, e após conforme o preenchimento dos requisitos (de domicílio e complexidade), e conversa entre os membros da equipe é considerado paciente possível desta modalidade ou não. Nos casos de internação domiciliar, o paciente poderá estar em regime de internação hospitalar, a EMAD realiza a visitação ao paciente no hospital (em concordância com o médico assistente, se este não fizer parte da EMAD) e no domicílio para verificar as condições de infra-estrutura. A família deve sempre participar do processo de admissão do paciente ao atendimento domiciliar, já que neste momento de conversa e visitação ao domicílio, a EMAD também identificará um potencial cuidador, que será a pessoa responsável por passar informações a respeito do paciente (sinais, sintomas). Sobre o Plano de Atendimento Domiciliar e Rotinas na Admissão, Alta e/ou Óbito do Paciente, será tratado mais profundamente no módulo 3. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC Nº. 7, DE 2 de fevereiro de 2007 Prorroga prazo da Resolução RDC nº. 11, de 26 de janeiro de 2006, que dispõe sobre o Regulamento Técnico de Funcionamento de Serviços que prestam Atenção Domiciliar. A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, considerando a necessidade de adequação do sistema do Cadastro Nacional de estabelecimentos de saúde para o a inscrição dos serviços de atenção domiciliar, adota a seguinte Resolução: Art. 1º Prorrogar, até 31 de dezembro de 2007, o prazo previsto no item “11. Disposições Transitórias” da Resolução - RDC nº. 11, de 26 de janeiro de 2006, para que os Serviços que prestam Atenção Domiciliar - SAD atendam o disposto no item 4.3 do mesmo Regulamento Técnico, referente à inscrição no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde- CNES. Após a divulgação da RDC nº 11 de 2006 as empresas de Home Care foram obrigadas a realizar a inscrição no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES. Entretanto, o Ministério da Saúde e ANVISA não reconheciam as empresas como estabelecimentos de saúde, não sendo possível a realização da inscrição. 32 Neste sentido, a RDC nº 7 foi criada para prorrogar a inscrição no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES. Frente a este impasse, a ANVISA, Ministério da Saúde e ANS, formaram uma comissão para estudar o cadastramento e classificação destas empresas. Até julho de 2008 este estudo e classificação estavam em andamento, impossibilitando a inscrição do Home Care no CNES. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 A Lei nº 8.080 de 19 de setembro de 1990 dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde como também descreve a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Em seu capítulo VI descreve sobre o Subsistema de atendimento e internação domiciliar, conforme consta a seguir: Art. 19-I. São estabelecidos, no âmbito do Sistema Único de Saúde, o atendimento domiciliar e a internação domiciliar. (Artigo acrescentado pela Lei nº 10.424, de 15.4.2002) § 1o Na modalidade de assistência de atendimento e internação domiciliares incluem-se, principalmente, os procedimentos médicos, de enfermagem, fisioterapêuticos, psicológicos e de assistência social, entre outros necessários ao cuidado integral dos pacientes em seu domicílio. (Parágrafo acrescentado pela Lei nº 10.424, de 15.4.2002); § 2o O atendimento e a internação domiciliares serão realizados por equipes multidisciplinares que atuarão nos níveis da medicina preventiva, terapêutica e reabilitadora. (Parágrafo acrescentado pela Lei nº 10.424, de 15.4.2002) § 3o O atendimento e a internação domiciliares só poderão ser realizados por indicação médica, com expressa concordância do paciente e de sua família. (Parágrafo acrescentado pela Lei nº 10.424, de 15.4.2002). Portaria SUS Em outubro de 2006 o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº 2529, de 19 de outubro de 2006, que institui a Internação Domiciliar no Âmbito do Sistema Único de Saúde além de outras disposições, inclusive sobre o funcionamento das equipes multiprofissionais de atendimento domiciliar e seus recursos, conforme esta descrito no anexo x: http://www.ans.gov.br/portal/site/legislacao/2002/L10424.htm#1 http://www.ans.gov.br/portal/site/legislacao/2002/L10424.htm#1 http://www.ans.gov.br/portal/site/legislacao/2002/L10424.htm#1 http://www.ans.gov.br/portal/site/legislacao/2002/L10424.htm#1 http://www.ans.gov.br/portal/site/legislacao/2002/L10424.htm#1 33 Portaria nº 2529 de 19 de outubro de 2006 – Institui a Internação Domiciliar Hospitalar no âmbito do SUS. Art. 1º Instituir a Internação Domiciliar no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS. Art. 2º Definir como Internação Domiciliar, no âmbito do SUS, o conjunto de atividades prestadas no domicílio a pessoas clinicamente estáveis que exijam intensidade de cuidados acima das modalidades ambulatoriais, mas que possam ser mantidas em casa, por equipe exclusiva para este fim. Art. 3º Definir que os Serviços de Internação Domiciliar são compostos de: I - Equipes Multiprofissionais de Internação Domiciliar, compostas, no mínimo, por médico, enfermeiro e técnico ou auxiliar de enfermagem; e II - Equipes Matriciais de Apoio, podendo ser compartilhadas por várias equipes ou serviços de Internação Domiciliar, ou mesmo com a rede de serviços de saúde, composta por outros profissionais de nível superior, levando em consideração o perfil da atenção a ser prestada e os protocolos firmados. Art. 4º Definir que uma Equipe Multiprofissional de Internação Domiciliar esteja referida a uma população mínima de 100.000 (cem mil) habitantes. Parágrafo único. Os municípios poderão habilitar uma equipe por grupo populacional de referência de 100.000 (cem mil) habitantes. Art. 5º Definir como meta a média de 30 (trinta) internações/mês por equipe, com média de permanência de até 30 (trinta) dias. Art. 6º Definir que os Serviços de Internação Domiciliar garantam retaguarda no período da noite e finais de semana para as pessoas sob cuidado das equipes. Art. 7º Estabelecer, de acordo com os Anexos I e II a esta Portaria o roteiro e as condições mínimas para credenciamento dos Serviços de Internação Domiciliar que deverão ser explicitadas na elaboração dos programas locais de internação domiciliar. Art. 8º Estabelecer como prioridade de eleição os seguintes grupos populacionais:I - idoso; II - portadores de doenças crônico-degenerativas agudizadas; III - portadores de patologias que necessitem de cuidados paliativos; e 34 IV - portadores de incapacidade funcional, provisória ou permanente. Parágrafo único. Outras prioridades, além das definidas, poderão ser estabelecidas localmente. Art. 9º Definir a exclusão de usuários, dada a complexidade do modelo proposto: I - com necessidade de ventilação mecânica; II - com necessidade de monitorização contínua; III - com necessidade de enfermagem intensiva; IV - com necessidade de propedêutica complementar com demanda potencial de realização de vários procedimentos diagnósticos em seqüência com urgência: V - em uso de medicação complexa com efeitos colaterais potencialmente graves, ou de difícil administração; VI - com necessidade de tratamento cirúrgico em caráter de urgência; e VII - que não tenham cuidador contínuo identificado. Parágrafo único. Outros critérios de exclusão definidas pelos protocolos locais. Art. 10. Estabelecer que os serviços que preencherem os requisitos constantes nesta Portaria passem a dispor das condições necessárias para se integrarem ao Sistema Único de Saúde e receberem a remuneração por equipe em funcionamento, de acordo com os tetos financeiros previstos pelo Ministério da Saúde para os estados, o Distrito Federal e os municípios. Art. 11. Estabelecer recursos no montante de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) por equipe, por mês, a serem incorporados aos limites financeiros anuais dos estados, do Distrito Federal ou dos municípios. Parágrafo único. Não serão admitidas superposições de equipes em uma mesma base territorial ou populacional. Art. 12. Instituir incentivo financeiro para implementação e funcionamento das equipes de internação domiciliar em parcela única, no valor de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) por equipe. Art. 13. Estabelecer que os recursos orçamentários, objeto desta Portaria, corram por conta do orçamento do Ministério da Saúde, devendo onerar o Programa de Trabalho 10.302.1220.8585-0035 Atenção à Saúde da População nos Municípios Habilitados em Gestão Plena do Sistema e nos Estados Habilitados em Gestão Plena Avançada. 35 Art. 14. Caberá à Secretaria de Atenção à Saúde (SAS/MS) a regulamentação desta Portaria, bem como a adoção das medidas necessárias ao fiel cumprimento do que nela está disposto. Art. 15. Esta Portaria entra em vigor na data da sua publicação,. Ar. 16. Fica revogada a Portaria nº 2.416/GM, de 23 de março de 1998, publicada no Diário Oficial n° 58, de 26 de março de 1998, página 106, Seção 1. A internação domiciliar realizada pelo SUS poderá ser executada mediante o credenciamento da instituição de saúde e/ou empresa de atendimento domiciliar que esteja vinculada ao Sistema Único de Saúde e que atenda as exigências constantes na portaria. Recursos Humanos Tanto a RDC nº 11 como a Portaria nº 2529, caracterizam como indispensável a presença de Equipe Multiprofissional de Atendimento Domiciliar no desenvolvimento de ações em caráter de domicílio. Conforme estas regulamentações os profissionais exigidos são o médico, o enfermeiro e o técnico de enfermagem, sendo que a partir do diagnóstico e ações adotadas serão identificados os demais agentes que poderão intervir nesta atividade. Conselho Federal de Medicina A Resolução nº 1.668/2003 do Conselho Federal de Medicina Publicada no D.O.U em 03 de junho de 2003, Seção I, pg.84 dispõe sobre as normas técnicas necessárias à assistência domiciliar de paciente definindo as responsabilidades do médico, hospital, empresas públicas e privadas e a interface profissional neste tipo de assistência, conforme segue abaixo: Art. 1º - Todas as empresas públicas e privadas prestadoras de assistência à internação domiciliar deverão ser cadastradas/registradas no Conselho Regional do estado onde operam. Parágrafo 1º - Este cadastro/registro deve ser acompanhado da apresentação do Regimento Interno que estabeleça as normas de funcionamento da empresa, o qual deverá ser homologado pelo Conselho Regional. Parágrafo 2º - As empresas, hospitalares ou não, devem ter um diretor técnico, necessariamente médico, que assumirá, perante o Conselho, a responsabilidade ética de seu funcionamento. 36 Parágrafo 3º - As empresas, hospitalares ou não, responsáveis pela assistência a paciente internado em regime domiciliar devem ter, por força de convênio, contrato ou similar, hospital de retaguarda que garanta a reinternacão nos casos de agudização da enfermidade ou intercorrência de alguma condição que impeça a continuidade do tratamento domiciliar e exija a internação formal, que deve ser preferencialmente feita no hospital de origem do paciente. Art. 2º - As empresas ou hospitais que prestam assistência em regime de internação domiciliar devem manter um médico de plantão nas 24 horas, para atendimento às eventuais intercorrências clínicas. Art. 3º - As equipes multidisciplinares de assistência a pacientes internados em regime domiciliar devem dispor, sob a forma de contrato ou de terceirização, de profissionais de Medicina, Enfermagem, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Serviço Social, Nutrição e Psicologia. Parágrafo único - As equipes serão sempre coordenadas pelo médico, sendo o médico assistente o responsável maior pela eleição dos pacientes a serem contemplados por este regime de internação e pela manutenção da condição clínica dos mesmos. Art. 4º - A assistência domiciliar somente será realizada após avaliação médica, registrada em prontuário específico. Art. 5º- A atribuição dos demais membros da equipe multidisciplinar deverá ser estabelecida pelo conselho profissional de cada componente. Art. 6º- As normas de funcionamento às quais se refere o parágrafo primeiro do artigo primeiro devem contemplar os protocolos de visitas e o número de pacientes internados sob a responsabilidade de cada equipe. Parágrafo 1º - Os protocolos de visitas devem estabelecer o número mínimo de visitas de cada componente da equipe ao paciente internado no domicílio. Parágrafo 2º - O número máximo de pacientes internados no domicílio sob a responsabilidade de um médico, não poderá exceder a quinze. Art. 7º - O médico assistente de paciente internado em instituição hospitalar e que quer submeter-se à internação domiciliar tem a prerrogativa de decidir se deseja manter o acompanhamento no domicílio. 37 Parágrafo único - Em caso de recusa, o médico assistente deve fornecer ao novo médico que irá prestar assistência domiciliar todas as informações concernentes ao quadro clínico do paciente, sob a forma de laudo circunstanciado, nos termos do artigo 71 do Código de Ética Médica. Art. 8º - O hospital ou empresa responsável por pacientes internados em domicílio deve(m) dispor das condições mínimas que garantam uma boa assistência, caracterizadas por: I - Ambulância para remoção do paciente, equipada à sua condição clínica; II - Todos os recursos de diagnóstico, tratamento, cuidados especiais, matérias e medicamentos necessários; III - Cuidados especializados necessários ao paciente internado; IV - Serviço de urgência próprio ou contratado, plantão de 24 horas e garantia de retaguarda, nos termos do parágrafo 3º do artigo 1º e do artigo 2º desta resolução. Art. 9º - Em caso de óbito durante a assistência domiciliar, o médico assistente do paciente assumirá a responsabilidade pela emissão da competente declaração. Art.10 - A assistência domiciliar poderá ser viabilizada após anuência expressa do paciente ou de seu responsável legal, em documento padronizado que deverá ser apensado ao prontuário. Art.11 - O profissional médico, em conjunto com o diretor técnico da instituição prestadora da assistência, deverá tomar medidas referentes à preservação da ética médica, especialmente
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