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Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 1 Frase para reflexão: “O que dizer de uma sociedade que domestica „feras‟ e animaliza homens?”. (LYRA, Roberto). Aula introdutória: Ao iniciar os estudos nessa matéria, é preciso entender que, ao estudar o Processo Penal, se está estudando o direito à liberdade, reconhecendo as mazelas sociais, os conceitos, a realidade, a matéria/substância, que é o ser humano. Essa condição do Processo Penal de instrumento jurídico para assegurar a liberdade é derivada diretamente da realidade punitiva do Direito Penal, cabendo ao Processo Penal a função de contrabalancear essa força punitiva do Estado. Estudo epistemológico do fato e sua vinculação com as relações: A epistemologia é a ciência do conhecimento, a partir de bases, premissas, razões. Os precursores da aplicação jusfilosófica dessa teoria foram Francesco Carnelutti e Piero Calamandrei. São institutos constitutivos da epistemologia o ser, o não ser e o dever ser. Trazendo esses institutos para a realidade do ordenamento jurídico brasileiro, podemos a Constituição da República Federativa do Brasil como exemplo: ela é formalmente democrática, não é materialmente democrática e deve ser democrática. O objetivo dessa teoria do conhecimento é evitar que simplesmente neguemos o ser, afirmando que algo não é, sem explicar o que é, então. 1. Fato: Conforme bem elucida Pontes de Miranda, o fato não necessariamente está ligado ao mundo jurídico ou ao negócio jurídico, nem precisa ser analisado segundo uma premissa jurídica. O fato não precisa do Direito, ainda que o inverso seja verdadeiro e o Direito precise do fato. A relevância jurídica de um fato, por sua vez, é obtida da lei ou da hermenêutica/interpretação. É possível analisar o fato a partir de uma classificação estrutural: I. Fato concreto: Realidade material, não necessariamente relevante para o Direito, com uma característica ímpar, a intransportabilidade, já que não é possível levar um fato concreto a outro local, reproduzi-lo, apenas narrá-lo. II. Fato conceitual: Trata-se da normatização jurídica, uma hipótese incidência legal ou jurisprudencial, descrição de um fato concreto que se enquadraria como fato relevante ao mundo jurídico. Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 2 III. Fato afirmado: Trata-se da realidade jurídica que reconhece o fato concreto como enquadrado no fato conceitual. Ou seja, o fato material aconteceu e tem previsão no ordenamento jurídico, como hipótese de incidência. 2. Relação jurídica: Temos inicialmente a material, que é amparada pelo ordenamento jurídico, mas não necessariamente ensejará numa relação processual, já que essa deriva de um conflito que precisa ser dirimido e, para isso, existem outros meios, como veremos a seguir: I. Autotutela/autodefesa: Uma parte subjuga à outra a sua vontade, solucionando o conflito pela imposição/submissão de outrem. II. Composição: Solução de conflito caracterizada pela cessão mútua de direitos, dependente de diálogo entre as partes conflitantes. III. Processo: Intervenção estatal para dirimir litígios, direta ou indiretamente. 3. Trilogia processual: Ação e processo interdependentes (imaterial e material), embasados pela jurisdição estatal. I. Ação: Tem como conceito elementar, conforme Ada Pellegrini, “ação é o ato de deduzir pretensão em juízo”. Além desse conceito, a definição de Geraldo Prado também é muito sábia, pois estabelece que “ação é um ato que se coloca num locus ideal denominado processo”. Levando em consideração os dois conceitos, temos que a ação antecede o processo, mas também lhe é intermitente. Conceito filosófico: “a ação é alma (invisível, imaterial), o processo é corpo (visível, material)”. II. Processo: Conjunto de atos encadeados, cuja finalidade é a prestação da tutela jurisdicional. É preciso, ao estudar o conceito de processo, diferenciá-lo de procedimento, já que esse é o conjunto de atos encadeados com uma finalidade qualquer, enquanto o primeiro tem como finalidade a prestação de tutela jurisdicional, como dissemos acima. Portanto, um procedimento não necessariamente é um processo, haja vista o exemplo de inquérito policial (tipo de procedimento que não é processo). III. Jurisdição: Poder-dever de prestação da tutela jurisdicional. Sabendo da teoria constitucional de freios e contrapesos, ao Estado fica atribuído o poder, a outorga de exercer tutela jurisdicional, bem como o dever de, racionalmente democrático. Essa jurisdição, investidura jurisdicional, é orbital, correlacionada, estando presente desde antes da ação, até depois do fim do processo. Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 3 a) Obtenção da investidura jurisdicional: Concursal: Juiz togado, aprovado em concurso cabível. Eleição: Juiz também togado, mas eleito por outros desembargadores, por reputação ilibada e notório saber jurídico (quinto constitucional). Convocação/sorteio: Jurado leigo do Tribunal do Júri. Requisitos legais/concurso sem estabilidade: Juiz leigo, estudante da EMERJ, atuante nos Juizados Especiais. Nesse caso, a eficácia da sentença proferida depende de análise técnica do juiz togado (homologação). b) Competência: Criada judicialmente e exposta no art. 69, CPP, para limitar a jurisdição, tornando impossível que qualquer julgador exerça sua função jurisdicional sobre qualquer processo. Trata-se, portanto, de um critério objetivo estrito da função jurisdicional. Outros membros do Estado, como o Ministério Público, não possuem competência, mas sim atribuições. 4. Modelos administrativos de justiça penal: I. Punitivo-condenatório: Ordinário em nosso sistema penal, devendo estancar, em regra, numa resposta estatal. II. Consensual: Espécie que tem a Justiça Dialogal como corolária, conforme art. 98, I, CRFB/88. Trata-se de acordo entre acusado e acusador, principalmente representado pela transação penal. 5. Jus persequendi e jus puniendi: I. Direito de perseguir: Privativo do Estado, mas que, quando pautado na legalidade e na legitimidade, pode ser exercido pelo particular. a) Iter: Espaço de ocorrência, do início ao fim da persecução, que vai do primeiro ato do jus persequendi (do particular ou do Estado) até o último ato procedimental de produção de prova no processo. Ou seja, da pré-processualidade até a processualidade. b) Executores: Polícia “judiciária” investigativa: Em fase pré-processual, é diretamente responsável pela investigação, representada tipicamente pela Polícia Civil e Federal e, atipicamente, pela Militar, em crimes internos. Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 4 Ministério Público: Em fase pré-processual, é indiretamente responsável pela investigação, pois é destinatário direto da prova indiciária. Não deve, entretanto, produzi-la, já que é o responsável por dar o parecer processual sobre o delito (opinio delicti). Além de destinatário, o Ministério Público exerce sempre sua função de custos legis que, mais do que “fiscal da lei”, deve ser o guardião da legalidade democrática. II. Direito de punir: Exercício exclusivo do Estado-juiz, de forma a evitar a vingança privada, que sempre tende a ser desproporcional. 6. Ação Penal: O art. 100, CP, que tem natureza material e explicativa, traz que a ação penal, via de regra, é pública, salvo nos casos determinados em lei. Esse artigo identifica a natureza jurídica das ações penais correlatas aos crimes. Já a lei processual penal é encarregada de estabelecer, em seu art. 24, o Ministério Público como legitimado ordinário para promover a ação penal pública. I. Pública: a) Incondicionada: É a regra das ações penais, em que o M.P., sabendo do fato, não precisa de mais nada para ajuizar a ação. Obs.: Quando a lei processual não dispõe sobre o modo de procedência, proceder-se-áde forma incondicionada. II. Condicionada: Conforme art. 100, §1º, CP, há hipóteses em que só é possível exercer direito de ação, mesmo sendo de iniciativa penal pública, mediante requisição do Ministro da Justiça ou representação da vítima/daquele que tem legitimidade para representá-la. Obs.: Quando condicionada à representação ou à requisição, a lei trará expressa essa necessidade. Privada: Prevista no art. 100, §2º e 3º, CP, possui três tipos: a) Propriamente dita. b) Personalíssima. c) Subsidiária da pública. 7. Relato do crime: Ato do sujeito que se manifesta quanto ao crime do qual foi vítima ou tem vontade de ver o Estado exercer a persecutio criminis. Previsto no art. 5º, §3º, CPP, é preciso ler esse texto com algumas adequações: “Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da ocorrência de um fato delituoso, Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 5 seja de iniciativa pública ou privada, poderá verbalmente ou por escrito comunicá-la à autoridade persecutória (delegado de polícia ou promotor de justiça) e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar o procedimento investigativo”. A doutrina distingue dois tipos de relatos: I. 1ª concepção doutrinária: a) Notícia-crime (notitia criminis): Relato de terceiros à autoridade persecutória. b) Delação do crime (delatio criminis): Relato da vítima à autoridade persecutória. II. 2ª concepção doutrinária: a) Notícia-crime (notitia criminis): Relato da vítima à autoridade persecutória. b) Delação do crime (delatio criminis): Relato de terceiros à autoridade persecutória. III. Observações conceituais: Trabalharemos com os adotados pelo estado do Rio de Janeiro, já que essa nomenclatura é diferente em alguns estados do país. a) Registro de ocorrência: Relatos da notícia-crime ou da delação do crime orais lavrados a termo na delegacia de polícia/unidade de polícia “judiciária” (UPJ). b) Boletim de ocorrência: certificação do policial que atendeu uma ocorrência. Exemplo: ligação ao 190: saída do batalhão, chegada ao local, saída do local, tudo informado e certificado por escrito, registrando o que ocorreu. 8. Procedimentos investigativos: I. Termo circunstanciado: Procedimento investigativo, administrativo, policial das infrações de menor potencial ofensivo (leia-se: contravenções penais e crimes cuja pena máxima cominada em abstrato não é superior a dois anos, conforme art. 61, 9.099/95, com redação dada pela lei 11.313/06). II. Inquérito policial: Procedimento investigativo, administrativo, policial dos crimes de média e maior potencialidades ofensivas, conforme art. 394, §1º, I e II, CPP. III. Verificação de procedência da informação: Ato de verificação de procedência da informação, realizada anteriormente ao TCO ou IP. Obs.: Essa VPI, quando arbitrária e utilizada como procedimento, então passível de arquivamento pela autoridade delegado, é inconstitucional, já que acaba por tolher o acesso do Ministério Público a esse caso, impedindo-o de expressar sua opinio delicti. Sendo assim, a VPI só é admissível Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 6 quando realizada como ato da investigação, em que há relato do caso e esse é encaminhado ao Ministério Público. 9. Instrumento da iniciativa penal: Petição inicial. I. Denúncia: Da ação penal de iniciativa pública (via Ministério Público). II. Queixa-crime: Da ação penal de iniciativa privada propriamente dita e personalíssima (via parte/advogado). III. Queixa-crime subsidiária da denúncia: Da ação penal de iniciativa privada subsidiária da pública (via parte/advogado). 10. Princípios regentes das ações penais: De iniciativa pública: I. Obrigatoriedade: Rege a obrigatoriedade de o Ministério Público manifestar sua opinio delicti, já que esse não pode se quedar inerte. Essa manifestação pode ser positiva ou negativa, como veremos abaixo: a) Positiva: Existindo o mínimo exigido de lastro probatório, ou seja, indícios suficientes (prova robusta, pomposa) de autoria e ocorrência do fato delituoso (materialidade para os crimes que deixam vestígio), o Ministério Público realiza a denúncia (direito irrenunciável), petição inicial da ação penal de iniciativa pública. b) Negativa: Requisição: De novas diligências, em casos cujo indício existe, mas não é suficiente. Requerimento: Ao juiz de arquivamento das peças informativas, conforme o art. 28, CPP. O juiz poderá acatar o pedido ou discordar dele. Nesse segundo caso, o caso será remetido ao Procurador Geral de Justiça (PGJ), que manifestará sua opinião, ordenando, ou não, o arquivamento. II. Indisponibilidade: Previsto no art. 42, CPP (indicação doutrinária), trata-se do princípio que veda a possibilidade do Ministério Público de dispor da ação (e do processo). Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 7 III. (In)divisibilidade: a) Definição atual: Rege a obrigação do Ministério Público de exercer o direito de ação (na petição inicial e nas alegações finais) em face de todos aqueles para os quais houver indícios de autoria, na inicial, e prova de autoria, no curso do processo, do delito. b) Discussão no STF/STJ: Já se cogita que, na realidade, o princípio regente seria o da divisibilidade, já que o MP poderia, sim, deduzir pretensões distintas, conforme seu entendimento quanto à prova indiciária e à processual. IV. Intranscendência: Obriga o acusador (Ministério Público) a exercer direito de ação em face daqueles que praticaram o delito, vedando a possibilidade de transcendência da imputação, já que o direito processual penal brasileiro não se utiliza, via de regra, da responsabilidade objetiva (salvo o crime ambiental, que se pauta num vínculo indireto ao nexo causal), mas sim a subjetiva (teoria da personalidade). De iniciativa privada: I. Oportunidade e conveniência: Rege a possibilidade do particular, por critério discricionário, renunciar ao exercício de ação. II. Disponibilidade: Rege a possibilidade do querelante (particular) dispor (desistir, perdoar e perempção) da ação penal (e do processo). Obs.: Dispor é o ato de desistir, perdoar ou configurar a perempção, sendo cada um deles: a) Desistir (art. 520): Composição (acordo) entre as partes envolvidas na relação material. b) Perdoar (art. 51): Ato bilateral que consiste no perdão concedido pelo querelante e na respectiva aceitação desse perdão pelo querelado, extinguindo a punibilidade. Essa concessão de perdão pode ser expressa ou tácita e atinge todos os querelados envolvidos. c) Perempção (art. 60): “Morte da ação e do processo”. Querelante que não promove andamento processual em 30 dias. Morto, declarado ausente ou incapaz o querelante, sem que haja substituto em 60 dias. Faltando sem justificativa a ato processual ou não pedindo condenação nas alegações finais (deduzir/imputar pretensão condenatória). Querelante como pessoa jurídica extinta, sem sucessor. Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 8 III. Indivisibilidade/extensibilidade: O primeiro é o princípio que rege a obrigação do querelante de exercer o direito de ação em face de todos os autores do crime, seja na dedução de pretensão, seja no curso do processo. Para que esse princípio seja possível, é preciso ter o princípio da extensibilidade como correlato necessário, haja vista que o art. 49, CPP, prevê isso. Portanto, ou o querelante processa todo mundo, ou não processa ninguém (dedução de pretensão); ou desiste (compõe homogeneamente) com todos, ou com ninguém; ou perdoa todos, ou não perdoa ninguém; a perempção também é estendida para todos os querelados. IV. Intranscendência: Obriga o acusador (querelante) a exercer direito de ação em face daqueles que praticaram o delito (querelados), vedando a possibilidade de transcendência da imputação, já que o direito processual penal brasileira nãose utiliza, via de regra, da responsabilidade objetiva (salvo o crime ambiental, que se pauta num vínculo indireto ao nexo causal), mas sim a subjetiva (teoria da personalidade). 11. Condições para regular exercício do direito de ação penal: I. Legitimidade ad causam: É legitimado, ordinariamente, o Ministério Público (iniciativa pública) e, extraordinariamente, o particular, através de advogado (iniciativa privada). II. Interesse de agir: No processo penal, trata-se da necessidade e da utilidade em exercer o direito de ação, numa correlação entre o sujeito e o bem jurídico. III. Possibilidade do exercício do direito punitivo: Extraída do rol de elementos que caracterizam o interesse de agir (juntamente com a necessidade e a utilidade), Liebman a coloca como uma condição de ação autônoma, pois conforme o art. 397, III, CPP, não havendo possibilidade de exercer o jus puniendi, o juiz poderá absolver sumariamente o acusado impossível. IV. Justa causa: Criada por Afrânio Silva Jardim, essa é a condição que se perfaz pelo lastro probatório mínimo, os indícios suficientes de autoria e de existência de fato delituoso (“materialidade”, para os crimes que deixam vestígios). V. Originalidade: Também criada por Afrânio, essa é condição que impede o direito de ação penal quando verificada a existência de litispendência e coisa julgada. Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 9 12. Teoria Geral do Processo Penal I. Contexto histórico: Tendo como plano de fundo as Revoluções Francesa e Industrial, temos o chamado fenômeno da secularização, importantíssimo para o Direito Processual Penal, como veremos a seguir. Essa secularização nada mais é do que a ruptura política-jurídica com o eclesiasticismo, passando então a adotar a laicidade, que consiste em reconstruir a orientação política, econômica e jurídica dissociando-as dos dogmas eclesiásticos. Focando no aspecto jurídico, essa secularização importa profundamente, pois alterou o binômio jurídico, o paradigma julgador: quando eclesiástico, era pautado em suplício-redenção, mas com a laicização, passou a se pautar em racional-sistematização. Decorrentes desse novo paradigma, que é premissa da Teoria Geral do Direito, surgiram princípios, como o devido processo legal e a dignidade da pessoa humana, formada pelas máximas “liberdade, igualdade e fraternidade”. Essa última importa, especialmente, em âmbito penal, já que renovou as formas de punir e até o propósito da pena (ressocializar) pautado na condição do ser humano. II. CRFB/88, CPP e a Teoria do Garantismo Penal: É preciso, num primeiro momento, lembrar que a Constituição da República Federativa do Brasil possui o nome de Constituição Cidadã, já que, formalmente, é democrática. Entretanto, é preciso pensar também no plano material. A CRFB/88 é materialmente, efetivamente social e democrática? Sabendo que a lógica constitucional é geograficamente sistêmica qualitativa, podemos concluir que o artigo anterior é base para a leitura e compreensão daquele que o sucede. Portanto, sabemos que o art. 5º, representante primordial da previsão constitucional dos direitos fundamentais individuais, antecede propositalmente o art. 6º, primeiro daqueles que instituem os direitos sociais. Ou seja, é imprescindível que, para ser Cidadã, a Constituição precise garantir a tutela máxima de direitos individuais, garantia essa que é indispensável para a configuração efetiva do Estado Social Democrático de Direito. O art. 5º, portanto, traduz/expressa um feixe de garantias individuais que limita o poder estatal, ou seja, exprime o caráter social-democrático da CRFB/88. Entrando na esfera processual penal, de fato, podemos elencar seis direitos fundamentais individuais importantíssimos ao frear o braço punitivo arbitrário do Estado, presentes no referido artigo: direito à resistência, devido processo legal, contraditório, ampla defesa, vedação a provas obtidas por meio ilícito, vedação à prisão anterior à sentença condenatória transitada em julgado. O Garantismo Penal, conforme expõe Luigi Ferrajoli em sua obra Direito e razão (1995), tem base constitutiva neoliberal, mas não configurando uma teoria abolicionista do direito penal, já que para os garantistas as penas devem existir como resposta do crime. Entretanto, essa corrente penalista impõe ao julgador, do início ao final da análise do fato, que se baseie na democracia social que o Estado de Direito Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 10 brasileiro formalmente tem. Sendo assim, num Estado Social Democrático de Direito, os direitos e garantias fundamentais individuais devem ser assegurados, intervindo minimamente através do Direito Penal (último braço do Estado). De forma a garantir essa intervenção mínima do Estado, Afrânio Silva Jardim diz que o Direito Processual Penal deve ser freio e contrapeso do Direito Penal. É o ramo do Direito que tutela a liberdade, ou seja, o processo é o lugar, o locus do necessário asseguramento da ampla defesa, da consideração indiscutível da inocência e, portanto, instrumentalidade formal que deve assegurar direitos e garantias fundamentais individuais. O Processo Penal deve ser o direito de garantia, um instrumento que não pode ser coisificado, que deve garantir a ampla defesa e o contraditório, sempre pautados na presunção de inocência. Sendo assim, é preciso usar o Processo Penal como ferramenta que se contrapõe à visão utilitarista do Direito Penal, que prevê cada vez mais tipos criminais, como se essa fosse a solução. Afinal, é só lembrar que a paixão, força movente do ímpeto criminoso, se opõe diretamente à racionalização. Então, a previsão penal não diminui o índice de delito. Ainda quanto o Direito Processual visto sob o prisma da Carta Magna de 1988, chamada Constituição Cidadã, precisamos questionar quanto sua recepção: promulgado na década de 1940, com indicações de caráter fascista em sua exposição de motivos (subscrita por Francisco Campos), seria posição que a Constituição formalmente social e democrática tenha recepcionado um diploma processual penal com ideologia nazi- fascista, autoritária? III. Lei, regra, norma: What’s the difference? a) Lei: Segue o determinado processo legislativo, podendo ser ordinária ou complementar. b) Regra: Ato normativo/orientação de conduta. c) Norma: Resultado da interpretação/hermenêutica da lei ou da regra, extração do conteúdo normativo. IV. Teoria unitária x dualista do Direito Processual: A princípio, com a adoção da teoria unitária, o Processo Penal é tido como um fim em si mesmo, responsável pela aplicação da lei Penal nos casos em que há incidência. Entretanto, Rogério Lauria Tucci, precursor da teoria dualista, rompeu com essa visão, já que as formas processuais penais são completamente distintas das demais formas processuais existentes no Direito brasileiro, pois devem ser assecuratórias de direitos e garantias fundamentais e individuais, não apenas de lei penal. Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 11 13. Princípios processuais penais: I. Definição geral: Tomando pela conotação jurídica da palavra princípio, devemos entender que esses são produtos da interpretação de um conteúdo normativo, que recebem força mandamental, cogente, demonstrando-se sob a forma de norma de imposição jurídica acerca de regras e leis. Esses princípios podem também estar previstos no ordenamento jurídico dessa forma, por exemplo, “principais gerais civis”. Bem sabemos que todo princípio possui cogência, natureza mandamental, regência. Entretanto, precisamos diferenciar regência principiológica de ocorrência axiológica: Tomemos como exemplo o princípio da ampla defesa, assegurado constitucionalmente nos processos judiciais ou administrativos. Nesses dois tipos de processo, há regência principiológica, pois “assegurado” tem força de dever,não podendo ser inobservado. Já em tipos distintos de judicial ou administrativo, como num inquérito policial, por exemplo, a ampla defesa não é assegurada sob a forma de regência principiológica, mas como ocorrência axiológica, pois, ainda que não deva, a ampla defesa poderá ser observado em fase de inquérito policial. A violação de regência principiológica importa em nulidade do processo, enquanto não observar ocorrência axiológica não gera prejuízos ao processo, formalmente falando. Exemplo de inobservância de regência: prova mediante tortura ou propositura de queixa por fato atípico. Cabe ainda expor um elemento a mais na observância de princípios, já que temos um método denominada axiodeontologia, que além de definir o que é, explicar porque é, assegura ao princípio uma finalidade transcendental, um elemento ético. Exemplo: A razão deontológica da punição penal é a função (res)socializadora. II. Espécies: a) Democrático: Previsto no art. 1º, CAPUT, CRFB/88, esse deve ser o princípio norteador de todos os outros. Esse princípio, mais que meramente jurídico, deve ser encarado numa conotação híbrida trinomial, pois somado a esse âmbito do Direito, atinge também a esfera política e econômico-social. Quando pensamos nesse princípio, o primeiro sentimento que nos vem à mente é o de liberdade, seja ela em seu viés ambulatorial, na possibilidade de ir e vir, seja no de fruição de bens, direitos, valores e garantias. É esse princípio, portanto, que possibilidade ao indivíduo afirmar que uma atitude é ilegal, pois fere a regência principiológica em questão. b) Soberania: Previsto no art. 1º, I, CRFB/88, assegura ao Estado brasileira autonomia interna e externa de gestão jurídica, política e econômica. No que toca o âmbito interno, devemos pensar na gestão popular sobre os políticos e preceitos estatais, uma vez que, na democracia, a fonte da soberania é a vontade popular. Já em âmbito externo, temos que o Brasil não é obrigado a se submeter, a não ser por vontade própria, às políticas estatais, econômicas ou jurídicas internacionais. Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 12 c) Princípio da Cidadania: Previsto no art. 1º, II, CRFB/88, rege que haja sujeição e exercício estatal de direitos e deveres, jurídica, política e economicamente. (LER SOBRE!) d) Princípio da Dignidade da Pessoa Humana: Previsto no art. 1º, III, CRFB/88, assegura que, mais do que ser digno, seja garantida, pelo Estado, a incolumidade da dignidade individual e social, num cunho objetivo, além do subjetivo. (LER SOBRE!) Princípio da Equidade: Previsto no ordenamento jurídico (LINDB) como princípio geral do direito, impõe tratamento legal, nominal, subjetivo (tratamento equânime). É preciso entender que a equidade não está apenas ligada exclusivamente à previsão legislativa, mas é também um princípio relacional, ainda que não haja disposição legal. Exemplo: Cumprimentos em audiência. Derivados desse princípio de equidade surgiram dois princípios que o concretizam num Estado de Direito: Princípio da igualdade: Princípio aberto, ilimitado, irrestrito, que impõe tratamento igualitário entre as pessoas. Princípio da isonomia: Surge da limitação que a igualdade formal não supre, num país como o Brasil, as desigualdades, que são parte da realidade cotidiana e devem ser supridas para que haja igualdade material. A isonomia rege, portanto, a necessidade dos desiguais serem tratados nos limites de suas desigualdades, tendo então tratamento efetivamente equânime. e) Princípio da Justiça Democrática: Princípio que tem seu caráter objetivo delimitado pela expressão “democrática” acrescida à Justiça, pois sozinha esta se encontra em categoria apórica, sem solução jusfilosófica. Portanto, sob um viés democrático, basearemos o estudo de Justiça social e jurídica no que vimos anteriormente: dignidade da pessoa humana, liberdade, cidadania, igualdade, isonomia. Na orbita criminal é preciso adequar os conceitos: Justiça democrático-social: É preciso colocar em plano primário o indivíduo, juntamente com o social, pois sem proteger a unidade é impossível proteger o todo. Exemplo: Corpo humano como o todo (social) e a mão como a unidade (individual). Ao cortar a mão de uma pessoa, não é possível dizer que seu corpo está protegido. É preciso, portanto, realizar tutela máxima dos direitos e garantias fundamentais individuais, limitando assim os poderes persecutório e punitivo do Estado. Justiça democrático-jurídica: Está primeiramente associada à técnica do julgar. Todavia, não é apenas o julgamento tecnicamente perfeito o capaz de realizar justiça, haja vista que ao jurídico deve estar atrelado, necessariamente, o elemento individual-social. Exemplo: Velhinho de 82 anos que matou assediador de sua única neta. Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 13 f) Princípio da Certeza Jurídica: Não está expressamente previsto, mas rege que as decisões jurídicas realizem justiça democrática no menor tempo possível, salvaguardadas as perspectivas impugnatórias, ou seja, o direito de impugnação. Esse princípio é elucidado por dois outros: Princípio da Razoável Duração dos Processos (e dos Procedimentos): Previsto no art. 5º, LXXVIII, CRFB, artigo que foi inserido pela Emenda Constitucional 45/04, esse princípio está vinculado à racionalização jurídica, daquilo que pode ser considerado razoável. A previsão faz referência à duração razoável dos processos, por isso coube aos Tribunais Superiores estendê-lo aos procedimentos. Esse critério de duração razoável está inserido nos estudos jusfilosóficos da dromologia (estudo da velocidade, em grego) processual. Com o advento do princípio, há obrigação dos processos e procedimentos terem duração razoável sob dois vieses: Celeridade Processual: Que se perfaz num princípio autônomo. Obs.: Crítica do Rodrigo: Na esfera criminal não é admissível o modelo de rito sumaríssimo vigente, pois a celeridade exacerbada prejudica a ampla defesa, que fica defasada, não sendo compatível com a lógica democrática. Exemplo: Crime material, ainda que de menor potencial ofensivo, deixa vestígios. Nos Juizados Especiais Criminais não há possibilidade de produção de prova pericial com auxílio de assistente pericial. Essa prática impede que a fase probatória seja completa, prejudicando o acusado. Instrumentalidade das Formas: Que numa perspectiva penal, deve assegurar a ampla defesa e limitar os poderes persecutório e punitivo. Princípio do Duplo Grau de Jurisdição: Esse princípio não tem previsão expressa na CRFB/88 ou no Código de Processo Penal, mas está previsto no art. 8º, nº 2, “h”, do Decreto-lei 678/92, que ratificou o Pacto de São José da Costa Rica. Sua regência determina que toda decisão judicial seja passível de “revisão”. Ainda que não houvesse previsão no ordenamento jurídico, decorre logicamente do Estado Democrático de Direito, pois a instância revisional colegiado evita o arbítrio de único juízo monocrático. g) Princípio da proporcionalidade: Surgiu da necessidade de resolver conflitos entre princípios, concretizado pelos vieses da razoabilidade e da ponderação, pensados formal e materialmente, tutelando direitos e garantias fundamentais e individuais ao máximo, de maneira qualitativa, nunca quantitativa, dentro de uma racional-sistematização democrática. h) Princípio do devido processo legal: Previsto expressamente no art. 5º, LIV, CRFB/88, o referido princípio é uma das cláusulas mais importantes do texto constitucional. Sua história está vinculada à Carta Magna inglesa de 1.215, de John without land, que inseriu, pioneiramente, essa cláusula. Sua natureza jurídica é abstrata, um conceito aberto, indeterminado, irrestrito. A partir daí, temos que a cláusula, por si só, não é Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 14 assecuratória da liberdade como regra, mas queessa é deduzida da lógica democrática, com base no art. 1º, com a configuração do Estado Democrático de Direito, e no art. 5º com, primeiramente, a tutela máxima dos direitos e garantias fundamentais individuais. O princípio tem necessária relação de continente-conteúdo com o ordenamento jurídico como toda, extrínseca (relacionado diretamente com o Direito) e intrinsecamente (tudo aquilo que é usado como meio para o Direito). Portanto, tudo compõe o devido processo legal. Gilson Bonato confirma essa natureza abstrata e irrestrita do princípio, mas destaca uma organela que o compõe como conteúdo principal e mais importante, que é a ampla defesa assegurada, verdadeira tutelatória da liberdade como regra. Essa liberdade deve ser pensada tanto em seu viés de fruição de bens, valores, direitos e garantias (plano das coisas), quanto em seu viés ambulatorial, direito de ir e vir. Portanto, o devido processo legal deve observar o jus/status libertatis. Além disso, é preciso observar o status dignitatis, não violando a dignidade da pessoa humana no decorrer do processo. Observações: “O princípio do devido processo legal é aquele que rege a obrigação de que a liberdade e da dignidade dos indivíduos sejam regra, enquanto a sua privação seja exceção. Tal assertiva é resultado da observância do texto constitucional brasileiro”. É preciso lembrar que devido processo legislativo, administrativo, penal não são sinônimos de devido processo legal, mas sim organelas desse. i) Princípio do contraditório (art. 5º, LV, CRFB): Em lógica subsequente, demonstrando dogmatismo de tutela, temos como princípio esse que se estabelece com o asseguramento da ciência e da participação. Para enfatizar, a CRFB/88 prevê no inciso XXXIV do próprio art. 5º o direito à informação e a petição (ainda que o indivíduo não possua capacidade postulatória processual), maneiras de atingir a ciência e a participação, ou seja, a manifestação assegurada pelo contraditório. Obs.: É preciso ter claro que esse contraditório não é obtido apenas quando há antíteses. Exemplo: Em sala de aula, professor dá ciência sobre determinado fato, permite que os alunos se manifestem, contrários ou favoráveis, assegurando devidamente o contraditório. Observações: Conceito: “O princípio do contraditório é aquele que rege a obrigação do asseguramento dos direitos de ciência e participação, ou seja, de manifestação no processo judicial e administrativo. O texto constitucional sistematiza tais direitos, conforme leitura do inciso XXXIV, alíneas „a‟ e „b‟, do art. 5º”. Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 15 Em virtude do contraditório é necessário que as partes tenham possibilidade de defesa em fase processual, gerando dois subprincípios: Igualdade processual entre as partes: Tratamento dispensado a elas. Paridade de armas: As partes devem gozar dos mesmos meios/instrumentos. j) Princípio da ampla defesa: O princípio da ampla defesa é aquele que rege a obrigação de, no processo judicial ou administrativo, ser assegurado aos litigantes, sobretudo ao acusado (aquele que foi formalmente acusado pelo MP ou pelo querelante, mas que ainda não houve juízo de admissibilidade positivo e citação efetiva) ou ao réu (quando já houve, após acusação formal, estabilização do processo, com admissibilidade e efetivação da citação), o exercício da defesa técnica e da autodefesa. É preciso estudar essas duas organelas detalhadamente: Defesa técnica: Vinculação de profissional tecnicamente capaz para tanto, com capacidade postulatória processual (legitimatio ad processum), além de ser confiável, ético e exímio conhecedor do Direito. A escolha desse defensor, por força do art. 8º, nº2, “d”, Decreto 678/92, Pacto São José da Costa Rica, cabe ao acusado/réu. Além disso, quanto a essa defesa técnica, o STF reconhece dois pontos importantes: Ausência de defensor técnico: Conforme súmula 523, STF, essa ausência gerará nulidade absoluta nos processos penais, pois gera prejuízo intrínseco, não precisando ser provado. Deficiência de defesa técnica: Diferente da ausência, essa ineficiência do defensor gerará nulidade relativa, devendo o prejuízo processual ser comprovado. Esse entendimento deve ser criticado, pois é claro e evidente que a deficiência de defesa gera prejuízos imediatos que não deveriam carecer de reconhecimento judicial. Exemplo: Preclusão e perda de oportunidade. Observações: Prerrogativas derivadas dessa defesa técnica: Acesso aos atos já documentados dos procedimentos e dos processos, em andamento, contra o acusado/réu, vide súmula vinculante nº 14. Conforme interpretação da referida súmula, o acesso é garantido, mas não de maneira irrestrita, como deveria ser, já que restringe aos atos que já documentam o procedimento. Também na alínea “d”, do nº 2, do já citado art. 8º (Pacto SJ/CR), está garantido ao acusado/réu comunicação livre e particular com seu defensor, em qualquer repartição pública, pelo tempo necessário. O defensor tem direito de ser comunicado dos atos processuais, mediante intimação e notificação, salvo daqueles realizados por carta precatória, pois os Tribunais Superiores vêm entendendo que não há necessidade de comunicação nesse caso. Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 16 Autodefesa: Trata-se do direito perene (no decorrer de todo o processo) que o acusado/réu tem de produzir pessoalmente sua defesa. Como já dito, esse direito pode ser invocado a qualquer tempo do processo, ainda que seu momento processual específico seja durante o interrogatório, pois ali o acusado/réu será ouvido, falando diretamente com a autoridade que o julgará. Observações: Prerrogativas, caracterizadas pelo Direito de Resistência, que se perfaz a partir dos direitos abaixo: Direito de mentir: Não contar a verdade, omitindo ou mentindo sobre os fatos. Direito de dizer a verdade: Narrar sua versão/visão dos fatos. Direito de permanecer em silêncio: Regido pelo princípio da não obrigação de auto- incriminação, pois o indivíduo não será obrigado a produzir provas que o incriminarão (princípio do Nemo tenetur se detegere), nem a se declarar culpado (art. 8º, nº 2, “g”, Pacto SJ/CR). Além disso, esse silêncio pode ser ato de resistência contra ato arbitrário do próprio juiz. Exemplo: Quando o juiz negar acesso aos autos, há invocação do direito ao silêncio para resistir à violação do direito de acesso integral ao conteúdo pela defesa técnica, o que fere a ampla defesa. Direito de fuga: Importa na impossibilidade de punir aquele que fugiu, ainda que, ao ser pego, deva responder pelos seus delitos anteriores (nunca pela fuga, que é natural, haja vista o estado do Judiciário e do sistema carcerário). Direito à produção de provas: Direito regido pelo princípio da inadmissibilidade de provas produzidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI, CRFB), que será analisado abaixo: Provas ilegais: Podem ser ilegítimas ou ilícitas, mas por ora nos atentaremos à segunda: Ilícita de per si: A prova em si é ilícita, pois a ilicitude lhe é inerente, faz parte de sua essência. Ilícita por derivação do meio de obtenção: Entendida a partir da teoria fruits of the poisonous tree, pois sendo ilícito o meio (árvore) será ilícita a prova (fruto). O meio ilícito torna a prova imprestável, devendo essa ser desentranhada dos autos do processo. Num estado democrático de Direito, essa é a regra. Afrânio Silva Jardim prevê, entretanto, hipótese única de aceitação de provas obtidas por meio ilícito, baseando-se na teoria das excludentes de ilicitude, pois estando o produtor da prova em estado de necessidade, por exemplo, essa obtenção da prova não seria ilícita, não havendo contaminação da prova, por sua vez. Os Tribunais Superiores, até o ano de 2008, adotavam essa teoria de Afrânio pro reo, nunca pro societate. Entretanto, a partir desseano, com a redação atualizada do art. 157, CPP, foi adotada a teoria da Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 17 proporcionalidade para analisar provas obtidas por meios ilícitos, através da inserção de duas hipóteses abertas, irrestritas de exceção: prova inevitável e fonte independente de prova. Exemplo: A é torturado na frente de B para dizer onde fica o paiol de armas e o laboratório de drogas. A nada diz. B, ao ser questionado, diz tudo o que sabe, por medo de também ser torturado. ISSO NÃO É DEMOCRACIA! k) Princípio da inocência (nome que adotaremos): Também chamado de “Princípio da não culpabilidade”, da “Presunção de inocência” e da “Presunção de não culpabilidade”, está previsto no art. 5º, LVII, CRFB. Sua cogência é híbrida, devendo ter reflexos formal e material, vinculado ao próprio texto constitucional, pois não deverá ser atribuído o estigma da culpa antes do trânsito em julgado de sentença condenatória, bem como é vedada a inclusão do nome do acusado ao rol de culpados, respectivamente. Outro espectro de tutela desse princípio atinge a esfera do tratamento processual dispensado ao acusado/réu que, até o trânsito em julgado da sentença que o condena, deverá ser tratado como inocente, subjetiva (educação e respeito) e objetivamente (o uso de direitos e garantias individuais não poderá ser interpretado de forma prejudicial). Obs.: Entendimento atual do STF mitiga a cogência desse princípio (HC 126.292). Princípio do favor rei: Derivado diretamente do princípio da inocência, esse princípio deve ser o gestor do direito processual penal, já que todos os atos devem respeitar e tutelar maximamente os direitos e garantias fundamentais individuais do acusado/réu, objetivamente. Exemplo: A lei 10.792/03 precisou ser promulgada, 15 anos após a Constituição dita democrática, para que o direito ao silêncio não fosse interpretado como confissão do acusado. Princípio do in dubio pro reo: Tendo como corolário o favor rei esse princípio está previsto expressamente no art. 386, VII, CPP, que rege ao juiz que, havendo dúvida em seu veredicto, absolva o réu. Diferente dos demais princípios já estudados, o in dubio pro reo tem momento processual específico para sua aplicação, qual seja o proferimento da sentença. In dubio pro societate: Em contrapartida ao princípio anterior, existe uma concepção doutrinária que reconhece o princípio in dubio pro societate como o regente para o momento específico de estabilização processual. Ou seja, havendo dúvida quanto ao lastro probatório, pelo bem da sociedade, o juiz deverá estabilizar o processo, admitindo as iniciais processuais. Essa concepção é absurdamente anti-democrática, pois como sabemos os direitos individuais devem ser maximamente tutelados, antes dos sociais, dentro de uma lógica democrática. In dubio pro reo e pro societate: Numa concepção que mescla o in dubio pro reo e o in dubio pro societate, temos uma possibilidade de estabilização de processo com base em provas indiciárias: Como bem diz o nome, essas provas que formam o inquérito não passam de indícios quanto à autoria e ao delito. No momento de admissibilidade o juiz deverá observar os art. 395 Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 18 c/c 41, CPP para estabilizar o processo. Ou seja, apenas se houver lastro probatório MÍNIMO, com provas SUFICIENTES de autoria e ocorrência do delito, será legítima a investigação, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, em fase processual. l) Princípio da certeza possível (nome que adotaremos): Também chamado de “Verdade real dos fatos”, “Verdade processual dos fatos” e “certeza provável”, mas apresentado, cada um desses nomes, exceto certeza possível, problemas dentro da lógica democrática que estudamos. Verdade, seja ela real ou processual, não deve ser conhecida pelo juiz, pois se esse conhecer o fato concreto estará impossibilitado de julgar. Certeza provável impossibilitaria que restasse dúvida ao fim do processo, pois sendo a probabilidade uma ciência matemática, não haveria espaço para algo menor que 100% de certeza quando à inocência ou à culpa para absolver ou condenar. Adotamos, portanto, a certeza possível, que rege no Processo Penal a necessidade de considerar que a formação da certeza jurisdicional é mera possibilidade, consequentemente, impõe que a dúvida seja cognição possível, admissível, cujo resultado importará em absolvição, por consequência lógica do in dubio pro reo. Obs.: Ler Glosas ao Verdade, dúvida e certeza – de Carnelutti – por Jacinto Nelson de Miranda Coutinho. 14. Inovações legislativas e hermenêuticas: I. Estatuto da OAB: Lei 8.906/94, alterada pela lei 13.245/16: a) Art. 7º, XIV: Redação anterior à alteração: “Examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos”. Redação posterior à alteração: “Examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital”. b) Art. 7º, XXI: Inserido pela lei: “Assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 19 elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração”. c) Art. 7º, §10: Inserido pela lei: “Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para o exercício dos direitos de que trata o inciso XIV”. Obs.: Esse sigilo, num Estado Democrático, só pode ser o decreto por cautelaridade judicial, nunca por discricionariedade de autoridade policial. d) Art. 7º, §11: Inserido pela lei: “No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências”. Obs.: Num estado democrático, a única hipótese possível é que, numa busca por informações verdadeiras (não plantadas), o conteúdo seja mantido em sigilo, mas nunca a informação de que tal procedimento esteja sendo utilizado. Exemplo: Interceptação telefônica em curso, se questionada, será confirmada, ainda que seu conteúdo não possa ser acessado, por ora. Obs.: A investigação deve ser a busca pela verdade, não um mecanismo de viabilização da manifestação de opinio delicti. Ou seja, não se deve buscar lastro probatório mínimo, a qualquer custo, onde não há indício de autoria e ocorrência delitiva suficiente. e) Art. 7º, §12: Grande ganho. Inserido pela lei: “A inobservância aos direitos estabelecidos no inciso XIV, o fornecimento incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve a retirada de peças já incluídas no caderno investigativo implicará responsabilização criminal e funcional por abuso de autoridade do responsável que impedir o acesso do advogado com o intuito de prejudicar o exercício da defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de requerer acesso aos autos ao juiz competente”. II. Mitigação do princípio da inocência (art. 5º, XIV, CRFB/88): Possibilidade de execução de pena antes do trânsito em julgado, quando da confirmação pelo acórdão de segunda instância de decisão monocrática condenatória. Tal entendimento altera a jurisprudência do próprio STF que, desde 2009, interpretava o referido artigo em sua total literalidade. Violaçãoao princípio da homogeneidade de tratamento penal: A recente decisão abre precedente para que apenas as sentenças condenatórias confirmadas tenham execução de pena Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 20 iniciadas antecipadamente. Já aqueles absolvidos em primeira instância e condenados em segunda não terão a execução de sua pena iniciada. Efeito compromisso: Os Tribunais Superiores (STF e STJ) serão vinculados, ainda que não obrigatoriamente, às decisões proferidas em instâncias anteriores. Ou seja, aquele condenado em primeira e segunda instância, que já tiver o início da execução de pena, ainda poderá interpor Recurso Extraordinário ou Especial, mas muito provavelmente não terá provimento de tal recurso. Indenização por execução antecipada: Como dito acima, esse efeito compromisso acontecerá, mas não obrigatoriamente. Sendo assim, os Tribunais Superiores poderão prover os Recursos Extraordinários e Especiais, absolvendo condenados em primeira e segunda instância. Dessa absolvição, quando a execução da pena já tiver sido iniciada, resultará a responsabilidade de indenizar o executado indevidamente. 15. Sistemas Processuais Penais: I. Conceito elementar: Conjunto de elementos que existem e interagem em mesmo sentido, ainda que com ações diversas ou antagônicas, em prol de determinada finalidade comum. II. Epistemologicamente considerados: a) Inquisitório: Típico de Estados autocráticos. b) Acusatório: Típico de Estados democráticos, que pode ser classificado doutrinariamente em: Privado de Roma: Não é mais utilizado. Misto ou formal: Trata-se da sistemática processual penal acusatória que mistura as funções de acusar e julgar. Exemplo disso é a Europa Continental, principalmente, a França que, por exemplo, atribui aos juízes competência jurisdicional de julgar o processo, mas também atribui a presidência da investigação preliminar. A doutrina brasileira afirma, equivocadamente, que nosso modelo acusatório é misto/formal, já que reconhecem resquícios do sistema inquisitorial na legislação infraconstitucional. O entendimento é equivocado, pois para encontrar o tipo de sistema adotado é preciso olhar para a Carta Magna. Puro: Segundo o jurista Geraldo Prado, esse é o modelo adotado pelo Brasil, pois é nitidamente visível, ao analisar o texto constitucional, que as funções de perseguir, defender e julgar (actum trium personarum) são segregadas, dispostas em locus completamente distintos. Ou seja, o trio de atores processuais são exclusivos, com arquétipos definidos, não havendo interseção. Cabe ressaltar: dizer que o modelo adotado é o acusatório puro, não obsta a existência de resquícios inquisitoriais. Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 21 Não-puro: Modelo defendido pelo jurista Paulo Rangel, afirma que o sistema acusatório não é puro, pois apresenta resquícios inquisitoriais. Entretanto, esse entendimento é um erro epistemológico, pois nega o ser (a pureza) sem dizer o que é, sem solucionar a questão. III. Opção brasileira: Política, jurídica e economicamente, o constituinte de 1988 escolheu o sistema que tem (deve ter) por finalidade a democracia, o acusatório. Sendo assim, sua adequação jurídico-processual deve ser pautada no devido processo legal, extraindo da lógica democrática a tutela da liberdade como regra, a partir de elementos jurídicos e metajurídicos. Conforme entendimento da doutrina e da jurisprudência pátria, o locus que identifica a opção brasileira, primordialmente, é o art. 129, I, CRFB/88, ainda que outras características estejam previstas em diversos dispositivos do texto constitucional. No referido artigo, o Ministério Público fica incumbido de promover, privativamente, a ação penal. Ou seja, há segregação completa dos atores processuais e das funções de acusar, defender e julgar. Sendo assim, podemos afirmar que esse dispositivo é corolário (causa) dos demais (consequências). a) Características: Separação de funções: Acusatório: Nessa opção sistemática pura, disposta em texto constitucional, os órgãos e funções de julgar, acusar e defender são integralmente segregados (actum trium personarum). Cabe ressaltar que é preciso separar, para manter a pureza do sistema acusatório, tanto os órgãos, quanto as funções. Inquisitório: A priori, as funções de acusar e julgar não são distintas, ao contrário, são entregues ao mesmo ator processual ou, quando distintos, com funções que se misturam. Exemplo: juiz instrutor francês é o mesmo que preside fase pré-processual e julga fase processual. Relação jurídica processual: Partes. Acusatório: Com a adoção do sistema acusatório, as partes ficam dispostas em triângulo equilátero, com o Estado-juiz posicionado acima, como expectador, equidistante da acusação e da defesa e, essas, equidistantes entre si. Inquisitório: Já com a adoção do sistema inquisitório, as relações processuais apresentam uma estrutura linear, em que na base há o acusado, geralmente acompanhado de defesa, enquanto acima deste há a parte processual que acusa e julga, pois como já vimos costumam serem ambas as funções concentradas em apenas um órgão. Imparcialidade do julgador no processo: Acusatório: Caracteriza-se pelo posicionamento imparcial do julgador, de parte que não tem pretensão no processo e participa apenas da fase processual, ao julgar. Obs.: Essa é regra, pois a Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 22 lei 9.034/95, com alteração da lei 12.850/13, vincula o juiz que decretou prisão preventiva, colhe informações de delação premiada ou fica responsável por ação controlada (investigação) em fase pré-processual à causa (fase processual). Inquisitório: Caracteriza-se, em regra, pelo posicionamento parcial do julgador, pois como vimos, é também responsável pela investigação e acusação. Obs.: Essa é a regra, pois o parlamento francês impede o juiz instrutor de julgar o caso, para que não haja essa vinculação, ainda que a Constituição francesa preveja ambas as funções no mesmo ator. Participação do julgador: Acusatório: Caracteriza-se pela inércia do julgador, que somente exercerá sua função jurisdicional quando provocado. Inquisitório: Caracteriza-se pela atividade jurisdicional, pelo ativismo judicial, contaminando a neutralidade do julgador. Previsão dos tipos penais e suas sanções: Acusatório: Conforme brilhante teoria de Alexandre de Moraes da Rosa, o direito penal deve ser entendido como um jogo, cujas regras devem ser previamente conhecidas. Ou seja, deve haver anterioridade das condutas tipificadas e suas correlatas sanções (lei anterior que defina o crime e prévia cominação legal que defina a pena). Inquisitório: Não há necessidade de previsão anterior, pois a oportunidade e a conveniência regerão o arbítrio estatal. Responsabilidade penal: Acusatório: A imputação penal não deve ultrapassar a pessoa do sujeito que praticou a conduta delituosa, ou seja, é intranscendente. Inquisitório: A imputação penal transcende a pessoa do acusado, conforme ato discricionário do acusador. Ônus probatório: Constituição/Desconstituição: Acusatório: Conforme art. 156, CPP, o ônus probatório é constitutivo da acusação, que deve apresentar provas quanto à culpa do acusado. Diferente do processo civil, no processo penal, o acusado não tem incumbência de desconstituir prova da acusação. Tanto é assim que, quando não há prova da culpa, há absolvição, nem como quando resta dúvida, pois a prova é insuficiente, que há absolvição, pelo princípio do in dubio pro reo. Inquisitório: Há ônus constitutivo do acusador quanto à culpa do acusado, enquanto a defesa deve desconstituir essa prova da acusação e constituir outra que ateste sua inocência. Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 23 Produção: Acusatório: A produçãoprobatória deve ser realizada por gestão compartilhada, produzidas e com livre acesso das partes, conforme art. 212, CPP. Essa produção deve ter como a legalidade e a legalidade, bem como observância do contraditório e da ampla defesa. O papel do julgador não deve ser de ator processual (produtor de prova), mas de destinatário dela, além de regulador formal da legalidade, vide art. 251, CPP. Inquisitório: Tem como característica o que denominamos “ativismo judicial”, um método presidencialista, tendo o julgador como ator-produtor. O sistema processual penal brasileira adotava esse método até 2008. Obs.: ainda existem resquícios, como nos arts. 399, §2º e 431, CPP, ou na possibilidade de avocação do processo pelo juiz. Essa produção não tem a legitimidade como base, nem busca a reprodução histórica do fato, já que a prova pode ser obtida através de outros meios (tortura, ordálias, origem das olimpíadas). Há vinculação, pelo contrário, com a necessidade, oportunidade e conveniência, não sendo submetidas aos crivos do contraditório e da ampla defesa. Valoração: Acusatório: Atrelada ao cotejo informativo, construída a partir do conteúdo probatório como um todo, cujo peso valorativo está na informação fidedigna e não no tipo de prova. Essa igualdade em valor se aplica tanto à fase pré-processual, quanto à processual, bem como às técnicas e não técnicas. Inquisitório: Sistema de provas legais, tarifadas, com valor pré-constituído. Nesse método, a confissão apresenta valor absoluto, abreviando o processo à condenação, através da promulgação de decreto condenatório. Outra característica relacionada a esse método é a proporcionalidade probatória, como antigamente, em que o testemunha de um homem equivalia ao de quatro mulheres. Até 2008, antes da vigência da lei 11.719, o interrogatório era o primeiro ato processual, pois se houvesse confissão o processo poderia abreviado e o acusado, condenado. Avaliação: Acusatório: Perfaz-se pelo livre convencimento motivado, ou persuasão racional, do julgador, que terá a liberdade necessária para realizar o cotejo probatório, analisá-lo, decidir, motivá-lo e, então, apresentá-lo. Obs.: conforme art. 93, IX, CRFB/88, toda decisão judicial deve ser fundamentada e, essa fundamentação, deve corresponder aos fatos imputados, ou seja, deve haver correlação lógica entre a acusação, a defesa e a decisão, que não pode apresentar vício (extra, ultra ou citra petita). Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 24 Inquisitório: Perfaz-se pelo livre convencimento imotivado, ou julgamento por íntima convicção, já que a decisão proferida não carecerá de motivação ou fundamentação. Sendo assim, é possível que a decisão seja extra, ultra ou citra petita, pois não saberemos, haja vista a ausência de demonstração da correlação entre acusação, defesa e decisão. Obs.: O atual Tribunal do Júri é regido por esse método de avaliação, ainda que sem amparo constitucional, apenas infraconstitucional (CPP). Formas: Acusatório: Há anterioridade legal das regras que orientarão os procedimentos, sendo esse pré-conhecimento uma garantia às partes, pois já serão conhecidas e não estabelecidas conforme oportunidade e conveniência. Inquisitório: Como não há intuito de criar garantias às partes nesse sistema, o estabelecimento anterior de regras procedimentais é prescindível. Entretanto, caso haja, ainda que prevendo regras inquisitoriais, haverá garantia estabelecida, pois pelo menos as partes conhecerão as normas antes delas serem aplicadas. 16. Sistemas de investigação preliminar: I. Conceito e compreensão de sua aplicabilidade: Conjunto de institutos que existem e interagem com a finalidade comum de coletar informações. Quando não-policial, é voltado para qualquer informação, não necessariamente para indícios de delito. Já quando policial, é necessariamente voltado para esse fim, caso em que será realizado pelo Estado, em regra, mas como o jus persequendi não é exclusivamente público, a investigação também poderá ser realizada por particular. II. Dromologia processual, procedimental e nas investigações preliminares: Com a denominação vinda do grego, trata-se do estudo da velocidade nos procedimentos em sentido amplo. a) Antes da Emenda Constitucional 45 de 2004 (EC 45/04): Essa dromologia processual não passava de mero estudo teórico realizado a partir do cotejo de outros princípios processuais constitucionais e penais. b) Com o advento da EC 45/04: O inciso LXXVII foi acrescido ao art. 5º, CRFB/88, erigindo a razoável duração dos processos à categoria de princípio processual constitucional penal. c) Por sua vez, os Tribunais Superiores: Diferente do entendimento dispensado à incidência do contraditório e da ampla defesa em fase de procedimento investigativo preliminar, reconheceu que a expressão “processo” no referido inciso deve ser entendida como “procedimento”. Obs.: Cabe ressalvar a relação de continência e conteúdo entre procedimento e processo, já que ambos são “conjuntos de atos encadeados com Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 25 uma finalidade”, em que o primeiro tem uma finalidade qualquer, enquanto o segundo tem uma finalidade específica, que é prestar tutela jurisdicional. d) A partir dessas conquistas: O estudo voltou-se para o estabelecimento de parâmetros para que a razoabilidade seja alcançada e garanta a tutela máxima de direitos e garantias fundamentais individuais, nem pecando pela celeridade exacerbada, nem pela morosidade demasiada. III. Investigações preliminares policiais: a) Natureza jurídica: Procedimento investigativo de natureza administrativa, considerado como inquisitório, em face da interpretação dos Tribunais Superiores. b) Regência e incidência do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV, CRFB/88): Interpretação dos Tribunais Superiores: Não reconhece a regência (pode e deve) desses princípios em fase de procedimento, apenas de processo. Sendo assim, o procedimento investigativo preliminar tem natureza inquisitória. Cabe ressaltar que a ocorrência axiológica (pode, mas não deve) é possível. Consequência dogmática da natureza inquisitiva: As peças investigativas preliminares acabam por se tornar meras peças informativas, prescindíveis para o exercício de ação penal, já que a investigação não ocorre sob o manto do contraditório e da ampla defesa, o que permite a existência de alternativas à preliminar policial. Limitações à inquisitoriedade: Legalidade: Não podem, numa democracia, ser ilegais. Exemplo: por discricionariedade da autoridade pública, conforme sua oportunidade e conveniência. Para tanto, leis como a 13.245/16 são promulgadas, com a finalidade de limitar esse caráter inquisitório reconhecido pelos Tribunais Superiores. Vinculações sumulares: Verbete de súmula vinculante de nº 14, por exemplo, que visa ampliar o acesso do defensor técnico à investigação preliminar policial em curso. Dispensabilidade: Como já dito, meras peças informativas. IV. O sistema de investigação preliminar brasileiro: art. 129, I e art. 144, ambos da CRFB/88. a) Investigações preliminares não-penais: Coleta de informações não voltada à persecução criminal, sem a finalidade de provar a ocorrência de um delito penal, mas que acaba sendo fonte informativa para tanto. Exemplos: Procedimento cível, administrativo, disciplinar ou de impeachment, comissões parlamentares de inquérito (CPI), inquérito civil de improbidade administrativa, dossiê particular cuja finalidade era mera Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 26 auditoria fiscal. Obs.: Ainda que não possuam intuito persecutório e sejam realizados por particular, poderão ser fonte única para instauração de ação penal, através da denúncia ou da queixa-crime. b) Investigações preliminares penais: Voltadas à coleta de informaçõesprobatórias indiciárias de ocorrência de delito e autoria, podendo ou não (por falta de indícios suficientes acerca do suposto autor – amigo de Rodrigo no Barra Music – ou por falta de ocorrência do próprio delito – criança na casa do pai com alergia/machucado do cachorro –) configurar lastro probatório mínimo, que na teoria afraniana é o substrato da justa-causa, ou seja, uma das condições para o regular exercício do direito de ação penal. Obs.: a verossimilhança deve ser alcançada através da reconstrução dos fatos, mediante todas as provas periciais possíveis, bem como com os direitos e garantias fundamentais individuais titularizados pelo suspeito. Legitimidade: Para persecução penal. Ordinária: Regrativa, obrigatória dos órgãos públicos. Atipicamente: A polícia militar, quando do chamado inquérito militar (crimes internos). Tipicamente: Em sede pré-processual. Diretamente: Das polícias investigativas civil e federal, na forma do art. 144, CRFB/88. Indiretamente: Do Ministério Público, pois uma vez afastado do rol do art. 144, CRFB/88, não será persecutor direto, mas controlador externo da atividade policial, podendo determinar/requerer diligências investigativas, bem como destinatário direto da prova indiciária, pois como não as investigou/produziu, deverá recebê-las para então as conhecer, conforme art. 129, incisos I, VII e VIII, CRFB/88. Tipos: PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO CRIMINAL (PIC): Realizado por: Ministério Público: Previsão: Concebido através da resolução nº 1541/2009 do Ministério Público. Motivos: Há incidência do princípio de “quem pode o mais, pode o menos”, pois o MP tem papel típico de destinatário e controlador da coleta de provas indiciárias, o que permitiria a investigação pelo referido órgão. Esse argumento deve ser refutado pelo caráter democrático da Constituição da República Federativa do Brasil, que deve ser uma limitadora de poderes, principalmente, através da salvaguarda da legalidade estrita. Portanto, se o MP não figura o rol de persecutores diretos em sede de investigação preliminar, previsto no art. 144, da referida Carta Política, não deve alçar essa condição através de resoluções, já que o constituinte originário assim o fez propositadamente, como entrave, na lógica dos freios e contrapesos, para Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 27 que o MP, responsável pela acusação, não seja contaminado e fique afastado das tendências parciais colhidas nessa fase pré-processual. Outra justificativa dada é a de que a polícia investigativa “é” corrupta, portanto, faz-se necessária a possibilidade de investigação através do MP. Esse argumento também deve ser refutado, pois afirmar isso é o mesmo que dizer que a polícia viola os princípios da administração direta e indireta, previstos no art. 37, CRFB/88, principalmente, legalidade, moralidade e eficiência. Inconstitucionalidade: Formal: Pois, viola o art. 144, CRFB/88, que não elenca o Ministério Público como persecutor criminal direto em fase pré-processual, através de resolução do próprio MP. Material: Pois, viola todo o sistema acusatório e a democracia quando imiscui as funções do Ministério Público, que deve ser controlador externo e destinatário, não produtor das provas indiciárias, sob pena da contaminação de sua função de acusador. DOSSIÊ PARTICULAR COM FINALIDADE PENAL: VERIFICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA DA INFORMAÇÃO (VPI): Procedimento investigativo nefasto, pois viola material e formalmente o texto constitucional. Sua realização é tão prescindível quanto o TCO ou o IP, mas caso ocorra deve acontecer, obrigatoriamente, antes deles. Num Estado Democrático de Direito não seria realizada por discricionariedade da autoridade policial, mas em conjunto com o Ministério Público, respeitando o sistema processual penal acusatório. Previsão legal: Art. 5º, §3º, CPP: “qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito”, lembrando que ele deve lido com as seguintes alterações “qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública OU PRIVADA poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade PERSECUTÓRIA, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR”. Natureza jurídica originária e construída: A partir da leitura da previsão legal, é extraída da VPI a conotação de ato. Entretanto, mediante resolução do Executivo, a própria polícia a elevou de ato a procedimento. Inconstitucionalidade: A partir dessa construção, a VPI sendo realizada como procedimento, nos moldes da resolução, estando eivada de inconstitucionalidade. Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 28 Formal: Pois, viola o texto constitucional que veda ao Executivo a possibilidade de legislar acerca de matéria penal, pois dessa forma a VPI não foi submetida ao devido processo legislativo. Material: Pois, viola o substrato da democracia, o sistema acusatório, quando o delegado é autorizado a arquivar de ofício as VPIs “negativas”, uma vez que, se arquivada, essas informações não chegam às mãos do Ministério Público, destinatário das provas indiciárias, cerceando/impedindo sua manifestação de opinio delicti. Exemplo: cocada branca (cocaína) e preta (maconha). TERMO CIRCUNSTANCIADO (TCO): Contexto constitucional: sua necessidade e possibilidade surgiram com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, quando, em seu art. 98, I, a magna carta previu o Modelo Administrativo de Justiça Consensualístico (espécie). Entretanto, sem a devida regulamentação infraconstitucional, esse modelo ficou latente, até que os Juizados Especiais foram criados pela lei 9.099/95 (art. 69). Entretanto, a obrigatoriedade de um modelo administrativo de Justiça Dialogal (gênero) só passou a ser obrigatório com a vigência, em 2015, do Novo Código de Processo Civil, por força do seu art. 3, §2º. Finalidade: Coleta de provas indiciárias da prática e ocorrência de infrações penais de menor potencial ofensivo, ou seja, cuja pena máxima cominada em abstrato não é superior a dois anos. Duração: A redação do artigo prevê que, tendo conhecimento, a autoridade deva remeter imediatamente ao Juizado. Entretanto, com apoio da dromologia processual e da lógica democrática e acusatória, podemos extrair desse “imediatamente” que não há razoabilidade temporal, já que por ser exacerbadamente célere, impede o espaço e tempo necessários para possível conciliação, bem como impede o desfazimento de indícios pelo suposto delituoso. O atual entendimento, portanto, afasta essa imediatividade, mas como não há previsão legal distinta, coube aos Tribunais Superiores firmaram jurisprudência sobre a questão: prazo de 30 dias, prorrogáveis por prazo idêntico até duas vezes, ou seja, prazo máximo de 90 dias. Obs.: Quando a infração penal ocorrer no contexto de jogo de futebol e de grandes eventos, como o Rock in Rio, ainda vigora o “imediatamente” do art. 69, 9.099/95 (absurdo). (Im)possibilidade de prisão cautelar em sede de Juizado Especial Criminal: Análise do §único do art. 69, da lei 9.099/95: Motivos: antes de qualquer coisa, é preciso lembrar que o art. 62 da lei 9.099/95 dispõe que “o processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade, Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 29 informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade”, extraindo daí explícita e implicitamente os princípios em negrito, bem como o da consensualidade,haja vista a primazia pela reparação de danos e a impossibilidade de privar a liberdade do indivíduo como pena. Ampliando a expressão “processo” para “procedimento” temos que o termo circunstanciado, procedimento administrativo investigativo policial das infrações penais de menor potencial ofensivo, reger-se-á também por esses princípios. Sendo assim: A leitura do art. 69, §único (“ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima”), carece de um olhar interpretativo cuidadoso. Obs.: Termo de compromisso é um ato praticado no bojo do termo circunstanciado, que tem como finalidade vincular o suposto autor do fato delituoso à fase procedimental processual e judicial, o que quer dizer que, ao assiná-lo, o referido suposto autor se compromete a comparecer a todos os atos aos quais for convocado, seja em sede de procedimento, seja em sede de processo, bem como a não se ausentar da circunscrição judiciária sem comunicar ao juízo. Não assiná-lo, portanto, não faz com o suposto autor da infração penal incorra em qualquer das hipóteses de estado de flagrância elencadas no art. 302, CPP, o que já ensejaria na não aplicabilidade do art. 69, §único. Ainda que não fosse assim, que houvesse estado de flagrante delito, a cautelar sob a forma de privação de liberdade não deveria ser aplicada, pois violaria, além do princípio consensual dos Juizados Especiais Criminais, o princípio da proporcionalidade e da homogeneidade penal, haja vista que a pena em sede de cautelar (privativa de liberdade) seria mais grave do que poderia ser a sentença condenatória irrecorrível (não privativa de liberdade). Possibilidade probatório-indiciária: o iter procedimental judicial, nos Juizados Especiais Criminais, cujo marco principal é a audiência de conciliação (preliminar), não obsta o direito do suposto autor do delito de peticionar, ainda que a atividade persecutória já tenha cessado. Suspensão do efeito instaurativo do processo em nome do consenso: Ação penal de iniciativa privada: O exercício do direito de ação deve ser exercido dentro do prazo (decadencial) de seis meses, portanto, ainda que a preliminar não Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 30 tenha ocorrido, a suposta vítima deve protocolar a queixa-crime, que ficará suspensa até que a oportunidade de conciliação seja dada às partes. Ação penal de iniciativa pública condicionada: É possível que, recebendo a denúncia, antes de admiti-la, o juiz competente questione as partes numa tentativa de consenso. Ação penal de iniciativa pública incondicionada: Conforme enunciado nº 99, do FONAJE (Fórum Nacional dos Juizados Especiais), a conciliação será possível quando a vítima for determinada, como no crime de desacato (art. 331, CP), caso em que, havendo consenso, o procedimento (TCO) será arquivado por ausência de justa-causa (Grandinetti), já que falta interesse de agir, uma vez que o Direito Penal deve ser a ultima ratio e as partes não carecem de tutela jurisdicional do Estado, o que torna o processo desnecessário. INQUÉRITO POLICIAL (IP): Conceito e natureza jurídica: Procedimento administrativo investigativo criminal (policial) dos crimes de média e maior potencialidade ofensiva, ou seja, cuja maior pena cominada em abstrato é superior a dois anos. Responsável: Art. 4º: Será presidido pela autoridade da polícia investigativa, o delegado de polícia, cuja atribuição de persecutor preliminar direto é dada pelo art. 144, CRFB/88, a fim de apurar informações acerca da ocorrência de um crime e de sua suposta autoria. Formas de instauração legais: Art. 5º, CPP: De ofício (inciso I): Pelo próprio delegado, publicando a portaria. Mediante requisição (inciso II) da autoridade judiciária (inconstitucionalidade material, resquício da inquisitoriedade, uma vez que o juiz não deve exercer essa autoridade pública determinante, mandamental) ou do Ministério Público (plenamente possível, haja vista sua qualidade de dominus litis, controlador externo da investigação preliminar e legitimado ordinário para o exercício da ação penal), ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo (através da notícia-crime ou delação do crime perante autoridade investigativa). Qualquer pessoa do povo (§3º) que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública ou privada poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade investigativa, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito policial ou o termo circunstanciado. Obs.: o crime comunicado por Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 31 terceiro, para instauração do inquérito policial, que se procede por: ação penal pública incondicionada não carecerá de representação alguma e será obrigatoriamente investigado pela autoridade investigativa; ação penal pública condicionada carecerá de intimação da vítima ou de seu representante para que se manifeste acerca do interesse na persecução criminal; ação penal privada carecerá de requerimento por escrito da vítima (§5º). Forma de instauração doutrinária: Mediante auto de prisão em flagrante (APF), forma criada pela doutrina, mas criticada por Rodrigo, uma vez que essa hipótese deveria estar contida no inciso I do art. 5º, CPP, pois a autoridade não poderia deixar de instaurar inquérito, de ofício, quando houvesse a lavratura a termo das circunstâncias de um estado de flagrante delito, com pessoa capturada e conduzida à delegacia. Esse APF é procedimentalizado da seguinte forma: Coleta de depoimento do capturado e de seus condutores-testemunhas, que realizaram sua prisão-captura, ou seja, o capturaram e conduziram à delegacia (qualquer do povo, por faculdade, ou policial, por obrigação). Coleta de depoimento da suposta vítima. Busca e apreensão (cautelar) de todos os objetos do suposto crime. Determinação de todos os exames periciais compatíveis: Corpo de delito, cadavérico, balístico, de alcoolemia, toxicológico, entro outros. Obs.: O resultado deveria obrigatoriamente ser anexado ao procedimento pré-processual, antes de chegar à fase processual. Nota de culpa: Ato procedimental em que será dada ciência ao capturado em estado de flagrância de qual tipo penal sua conduta incide e de quem foram seus condutores. Indiciamento: Trata-se do ato formal pelo qual a autoridade policial atesta estar convencida de haver lastro probatório mínimo (ocorrência delituosa e autoria), que será automático quando o suposto autor do delito for capturado em flagrante, se não houver VPI. Obs.: É possível, quando houver contra-indícios supervenientes, desindiciar o indivíduo, afastando a suspeita da prática delituosa, por eliminação da possibilidade de autoria ou por descaracterização do fato como crime. Direito Processual Penal – Rodrigo Machado Gonçalves 32 Art. 394-A: Os processos (e procedimentos) que apurem a prática de crime hediondo terão prioridade de tramitação em todas as instâncias (incluído pela Lei nº 13.285, de 2016). Interrogatório: Lei 13.245/16: Acrescentou o inciso XXI ao art. 7º, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (EOAB, lei 8.906/94), cuja redação é a seguinte: “Assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração apresentar razões e quesitos”.
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