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Obstetrícia forense ................................................................................................. Ciclo gravídico-puerperal - Envolve a gravidez e o puerpério - Gravidez – início na implantação e término marcado pelo parto → tempo médio de 40s - Puerpério – do parto até o retorno do organismo às condições pré-gravídicas → duração de 6-8 semanas, mas esse tempo pode sofrer influência de múltiplas variáveis ................................................................................................. Infanticídio - Um dos crimes contra a vida - Tipificado no artigo 123 do Código Penal como “matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filo, durante o parto ou logo após.” - Pena – detenção, de dois a seis anos - Morte infligida ao próprio filho - Influência do estado puerperal (diferente de puerpério e psicose puerperal) Estado puerperal – quadro reacional sui generis, de caráter agudo e transitório, não reconhecido como entidade psiquiátrica que, por influência de fatores fisiológicos, psicológicos e sociais, pode acometer a parturiente ou a puérpera, mentalmente sã, afetando seu comportamento - Condição temporal – tempo compreendido durante o parto em si, ou logo após o seu término - Dolo – vontade livre e consciente da agente para gerar o resultado criminoso Para perpetrar o crime, a agente se vale dos comuns meios disponíveis ao seu alcance no momento da parturição, não havendo, em regra, planejamento ou arrumação prévia → ação perfurocortante, estrangulamento, contundente ................................................................................................. Aborto - Conceito doutrinário: interrupção da gravidez com a morte do concepto - Não importa a idade gestacional e se ocorre ou não a expulsão do produto da concepção a) Espontâneo b) Provocado - Pode ocorrer de modo culposo ou doloso, mas apenas o doloso configura o crime de aborto a) Ação capaz de provocar - Com o emprego de meios considerados idôneos para o fim desejado, como a inserção de corpo estranho no útero grávido, curetagem uterina convencional, curetagem uterina a vácuo, administração de fármacos abortifacientes, micro cesarianas - A inserção de corpo estranho no útero grávido visa desencadear contrações uterinas capazes de proporcionar o deslocamento do ovo. Um dos objetos mais usados para esse fim é a sonda vesical (cateter de Foley) → Inserida no útero grávido e, então, mantida por algum tempo, a sonda atua como corpo estranho, desencadeando a ação abortiva desejada - Curetagem convencional – método abortivo cirúrgico mais empregado, até hoje, em algumas localidades. Necessita de suporte anestésico para a sua execução. No arsenal cirúrgico, incluem-se – cureta uterina (para raspar as paredes do órgão), que podem ser de vários tipos (Sims – extremidade distal é fenestrada e provida de borda cortante); velas de Hegar (para dilatação do colo uterino), tornando-o permeável às curetas; pinças para fixação cervical (pinça de Pozzi – extremidade perfurante nas duas hastes) Na foto ao lado, um colo uterino com orifício externo dilatado e lacerado, e com feridas puntiformes infiltradas com sangue, compatíveis com as produzidas por instrumento perfurante, como as pinças usadas para fixação da cérvice - A curetagem uterina à vácuo é, atualmente, o método abortivo de eleição nas localidades providas de maior recurso; mas não serve para abortos em gestações mais avançadas - Fármacos abortivos – podem ser usados isoladamente, ou associados a outros métodos → também considerado como ação idônea para interrupção da gravidez; o misoprostol (análogo sintético da PGE1) é bastante conhecido em nosso meio. - Microcesariana (ou histerectomia) é o método mais invasivo/ agressivo de aborto, indicado em casos de idade gestacional mais avançada, ou quando a via transvaginal não é possível, ou é desaconselhada b) Interrupção da gravidez - Sem ela não há aborto, ainda que patente uma ação idônea voltada para o objetivo do agente - Aborto sem interrupção da gravidez é crime impossível O aborto pode se dar em qualquer idade da gestação – desde seu início, até as proximidades do término; ao lado, a primeira foto apresenta ovo abortado com 6 semanas de idade gestacional; na segunda, abortamento de feto com 16s de idade gestacional, ainda unido à placenta (objeto de perícia médico legal em um caso de aborto); estimativa da idade gestacional feita com base na Regra de Haase c) Morte do concepto - Precisa ser demonstrada através de perícia médico-legal, porquanto componente material do crime No comum, a morte do produto da concepção dá-se no útero; mas, a depender do método abortivo usado, o concepto pode ser expulso ainda com vida, vindo a morrer em razão da absoluta imaturidade d) Dolo - Elemento subjetivo do crime, escapando aos propósitos da medicina legal - Não há crime de aborto culposo Aborto decorrente de erro profissional – foto ao lado representa histerossalpingografia em útero gravídico → as setas apontam a falha de enchimento correspondente ao ovo implantado no fundo do útero; a ação dos fatores que envolvem o meio propedêutico posto em prática (Rx e contraste) causou, como efeito iatrogênico, a interrupção da gestação. A falta de cuidados prévios para a necessária certificação de ausência de gravidez caracteriza o aborto culposo, por negligência, imprudência e imperícia - Dispostos no capítulo dos crimes contra a vida em 5 artigos – do art. 124 ao 128 do Código Penal - Art. 124 – pune o aborto provocado pela gestante ou seu consentimento para provocação → provocar aborto em si mesma (autoaborto) ou consentir que outrem lhe provoque. Pena – detenção de um a três anos. Aqui é a gestante quem responde. - Art. 125 – aborto provocado por terceiro, sem o consentimento da gestante. Pena – reclusão de três a dez anos - Art. 126 – Aborto provocado por terceiro, com o consentimento da gestante (aborto consensual). Pena – reclusão de 1 a 4 anos. Parágrafo único – Aplica-se a pena do artigo anterior (art. 125), se a gestante não é maior de 14 anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. Aqui é o terceiro (agente responsável pelo abortamento) quem responde. A ocorrência do crime descrito no art. 126 pressupõe a coexistência do crime descrito no art. 124 - Art. 127 – torna qualificado o crime → as penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. - Art. 128 – Aborto não punível → “Não se pune o aborto provocado por médico: - 1. Se aborto necessário - I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante (aborto terapêutico) → princípio do “minor mali” (mal menor – sacrificar uma vida para não perder duas); Para se cogitar em salvar a vida da gestante, é absolutamente necessário que a vida dela esteja em perigo concreto, presente ou pelo menos eminente, e em circunstâncias da gravidez; não basta, portanto, o mero risco (situação prognóstica, e não diagnóstica). Exemplo clássico de aborto necessário é aquele que acontece devido a gravidez tubária. A gravidez tubária é extremamente perigosa, uma vez que a tuba implantada pode facilmente se romper, cursando com hemorragia intraperitoneal grave e, consequentemente, choque hemorrágico. - 2. Aborto no caso de gravidez resultante de estupro - II – Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido do consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal → aborto sentimental/compassivo/piedoso/moral/ético/humanitário Representante legal– aquele a quem a lei confere poderes para agir juridicamente em nome de outrem. O pai ou a mãe, em relação ao filho absolutamente incapaz; o tutor, quanto ao pupilo (órfão menor que possui um tutor); o curador, no que concerne ao curatelado que, por causa transitória ou permanente, não puder exprimir a sua vontade. A representação legal presta-se para servir aos interesses do incapaz; mas, para que ela ocorra, é necessário, primeiramente, que o ordenamento jurídico à permita, e que estejam cumpridos os requisitos previstos no mesmo ordenamento. Representação legal não deve ser confundida com representação voluntária, que se baseia, em regra, no mandato, cujo instrumento é a procuração Essa modalidade de aborto não punível tem sido reclamada com certa frequência para vítimas de estupro de vulnerável, para cujo crime resulta gravidez. - Eugenésico/profilático/preventivo - Aquele que, fundado na Eugenia, visa prevenir o nascimento de indivíduos considerados anormais - Eugenia – boa geração: melhoramento genético de uma espécie através da seleção artificial Em alguns países é praticado livremente, mas entre nós não possui respaldo legal a) Feto anencéfalo - Na histórica apreciação da arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) 54, realizada em 2012, o supremo tribunal federal, por maioria, julgou inconstitucional o entendimento de que a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é conduta tipificada nos art. 124, 126 e 128, incisos I e II do Código Penal. - A resolução 1989/2012, do CFM, dispõe sobre o diagnóstico de anencefalia para antecipação terapêutica do parto e dá outas providências - De acordo com o art. 20 do Decreto-Lei 2.688/1941 (Lei das Contravenções Penais), constitui contravenção penal anunciar processo, substância ou objeto destinado a provocar aborto. - CEM, art.15: é vedado ao médico - Descumprir legislação específica nos casos de transplantes de órgãos ou de tecidos, esterilização, fecundação artificial, abortamento, manipulação ou terapia genética. - O profissional de medicina que infringir os dispositivos criminais referentes ao aborto estará, também, cometendo ilícito ético.
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