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TUTORIA 3 ABORTO ➢ Fisiopatologia ➢ Causas ➢ Complicações ➢ Desenvolvimento embrionário ➢ Conduta/Ética médica ➢ Leis 1. DEFINIÇÃO Segundo a Organização Mundial da Saúde, aborto, do Latim ‘ab-ortus’ (privação do nascimento), refere-se à interrupção da gestação com a extração ou expulsão do embrião, ou do feto de até 500 gramas antes do período perinatal (que data entre 22.ª semana completa e os 7 dias completos após o nascimento). ➔ CLASSIFICAÇÃO: ★ Partindo de uma classificação médica, o aborto pode ser precoce, quando ocorre antes da 13.ª semana de gravidez, ou tardio, entre a 13.ª e a 22.ª semana. ★ A interrupção da gravidez pode acontecer de modo voluntário, ou seja, pela vontade da gestante ou involuntário, natural ou acidentalmente. 2. CAUSAS DO ABORTO: Entre os fatores que causam aborto, têm-se principalmente as anomalias cromossômicas decorrentes de problemas nos gametas, na fertilização ou no processo de divisão celular embrionária. Esses problemas podem estar relacionados a fatores hereditários, mas na maioria dos casos, ocorre ao acaso. Outros fatores importantes também causadores de aborto são infecções, como toxoplasmose e sífilis; alterações uterinas, como o útero septado (malformação onde ocorre a presença de um septo que pode dividir toda a cavidade uterina e até mesmo o canal cervical); fatores imunológicos, como a síndrome do anticorpo antifosfolipídico (caracterizada por trombose arterial e venosa, além de complicações e morte fetal); e endócrinos, como alterações na produção de hormônios da tireoide. ➔ TIPOS DE ABORTO https://mundoeducacao.uol.com.br/sexualidade/aborto.htm https://www.biologianet.com/doencas/toxoplasmose.htm https://www.biologianet.com/doencas/sifilis.htm ★ Aborto induzido que é quando se realiza um procedimento para interromper a gravidez. Desse modo, ele pode decorrer da própria escolha da grávida, de abusos contra a autodeterminação dos seus direitos sexuais (abortos forçados ou decorrentes de estupro), quando a gestação represente riscos à sua saúde ou quando o feto não tem chances de sobreviver fora do útero, por presença de má formação congênita. ★ Aborto acidental também acontece de forma involuntária e resulta de uma experiência traumática vivenciada pela gestante, exigindo assim a presença de um fator externo. ★ Aborto espontâneo ocorre quando há a interrupção natural da gravidez pelo próprio organismo da gestante. 3. FATORES DE RISCO ★ Idade avançada da mãe ★ Consumo de drogas lícitas e ilícitas ★ Excesso ou baixo peso ★ Histórico de abortos expontâneos ★ Uso de determinados medicamentos, como antibióticos. 4. COMPLICAÇÕES O aborto provocado expõe a mulher a riscos e complicações severas. Tais riscos variam consideravelmente, de acordo com as circunstâncias nas quais é feito o aborto. Ao mesmo tempo, as pesquisas médicas mostram que, quando realizado em boas condições, o risco de complicações do aborto torna-se muito pequeno (Tietze & Henshaw, 1986). Do contrário, se realizado na clandestinidade, chega a representar um grande perigo (Barroso & Cunha, 1980). As complicações do aborto clandestino incluem perfuração do útero, retenção de restos de placenta, seguida de infecção, peritonite, tétano, e septicemia. As seqüelas ginecológicas incluem a esterilidade e também inflamação das trompas e sinéquias uterinas. O risco e a gravidade das complicações crescem com o avanço da gestação (Barroso & Cunha, 1980; Tietze & Henshaw, 1986). O aborto inseguro é uma das cinco principais causas de mortalidade materna no mundo, junto à hemorragia, eclâmpsia, sépsia e parto obstruído. O aborto inseguro representa chocantes 13% de mortes maternas pelo mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). 5. DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO Na oitava semana características gerais: ● Os dedos das mãos estão separados, mas unidos por membranas. São vistas depressões entre os raios digitais dos pés. ● Ocorrem os primeiros movimentos propositais dos membros. ● Ossificação começa nos membros inferiores. ● Todos os sinais da cauda desapareceram. Ao final da oitava semana o embrião tem feições nitidamente humanas; entretanto a cabeça é proporcionalmente grande (metade do corpo do embrião). ● O que está acontecendo com o bebê Seu tamanho é de apenas 20 milímetros. Apesar de ainda ser minúsculo, já apresenta transformações e já pode ser chamado de feto agora. É um importante estágio, pois agora os órgãos estão se formando. ● Os órgãos Órgãos como traquéia, laringe, brônquios e baço já estão tomando forma. O seu coração já está separado em 4 secções e bate a uma velocidade média de 150 batidas por minuto. O bebê recebe nutrientes dos alimentos que a mãe ingere. Seu intestino já se forma e ele transporta resíduos para fora do corpo. ● Os membros O nariz e as pálpebras também já são percebidos. Os olhos, porém, ainda estão bastante separados, e as pálpebras os protegem e impedem que sejam abertos. Braços e ombros já estão mais crescidos. Os cotovelos são aparentes. Os pés perdem as membranas que uniam os dedos. Sua pele é bem fina e as veias são visíveis. 6. LEIS O Ministério da Saúde atualizou os procedimentos de justificação e autorização da interrupção da gravidez, nos casos previstos em lei, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). A Portaria nº 2.282/2020 foi publicada hoje (28) no Diário Oficial da União e substitui a norma anterior (Portaria nº 1.508/2005). De acordo com o documento, os procedimentos devem ser seguidos para garantir a licitude do aborto e a segurança jurídica aos profissionais de saúde envolvidos. No Brasil, o aborto é permitido por lei nos casos em que a gestação implica risco de vida para a mulher, quando a gestação é decorrente de estupro e no caso de anencefalia. PORTARIA Nº 2.282, DE 27 DE AGOSTO DE 2020 Dispõe sobre o Procedimento de Justificação e Autorização da Interrupção da Gravidez nos casos previstos em lei, no âmbito do Sistema Único de Saúde-SUS. O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE INTERINO, no uso das atribuições que lhe confere o inciso II do parágrafo único do art. 87 da Constituição Federal, e Considerando que o Ministério da Saúde deve disciplinar as medidas assecuratórias da licitude do procedimento de interrupção da gravidez nos casos previstos em lei quando realizados no âmbito do SUS; Considerando que o Código Penal Brasileiro estabelece como requisitos para o aborto humanitário ou https://www.cordvida.com.br/blog/conheca-as-particularidades-de-cada-fase-da-gestacao/ https://www.cordvida.com.br/blog/os-bebes-sonham-na-barriga-da-mae/ https://www.cordvida.com.br/blog/7-alimentos-que-podem-prejudicar-a-gestante/ https://www.cordvida.com.br/blog/7-alimentos-que-podem-prejudicar-a-gestante/ https://www.cordvida.com.br/blog/como-limpar-os-ouvidos-nariz-coto-umbilical-e-olhos-do-bebe/ https://www.cordvida.com.br/blog/dicas-preciosas-para-tratar-manchas-na-pele-na-gravidez/ http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=28/08/2020&jornal=515&pagina=359 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2005/prt1508_01_09_2005.html sentimental, previsto no inciso II do art. 128, que ele seja praticado por médico e com o consentimento da mulher; Considerando as alterações promovidas pela Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, no art. 213 e a inclusão do art. 217-A no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), que tipificam, respectivamente, os crimes de estupro e estupro de vulnerável; Considerando a Lei nº 13.718, de 24 de setembro de 2018, que altera o artigo 225 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para tornar pública incondicionada a natureza da ação penal dos crimes contra a liberdade sexual e dos crimes sexuais contra vulnerável; Considerando a necessidade de se garantir aos profissionais de saúde envolvidos no procedimento de interrupção da gravidez segurança jurídica efetiva para a realização do aludido procedimento nos casos previstos em lei; e Considerando o Ofício nº 3475125/2020-DPU MG/05OFR MG, que solicita revogação da NormaTécnica "Prevenção e tratamento de agravos resultantes da violência sexual contra mulher e adolescentes" e da Portaria nº 1.508 GM/MS, de 1º de Setembro de 2005, resolve: Art. 1º É obrigatória a notificação à autoridade policial pelo médico, demais profissionais de saúde ou responsáveis pelo estabelecimento de saúde que acolheram a paciente dos casos em que houver indícios ou confirmação do crime de estupro. ● Parágrafo único. Os profissionais mencionados no caput deverão preservar possíveis evidências materiais do crime de estupro a serem entregues imediatamente à autoridade policial, tais como fragmentos de embrião ou feto com vistas à realização de confrontos genéticos que poderão levar à identificação do respectivo autor do crime, nos termos da Lei Federal nº 12.654, de 2012. 7. ÉTICA E CONDUTA MÉDICA O Código de Ética Médica veda ao médico "acumplicitar-se com os que exercem ilegalmente a medicina, ou com profissionais ou instituições médicas que pratiquem atos ilícitos" (artigo 38), portanto o médico não pode fornecer endereço de clínica de aborto ou orientar a compra de medicamentos abortivos, mesmo sem prescrevê-los. Se o médico tiver conhecimento de clínica de aborto ou de colegas que fornecem endereços ou que orientam suas clientes para práticas abortivas e não os denunciar, estará violando o artigo 19 do Código de Ética Médica. Sabe-se por notícias da mídia que alguns hospitais universitários interromperam gestações, à revelia da lei, em casos de graves malformações fetais, alegando razões humanitárias. Ao mesmo tempo, diversos juízes em vários estados do Brasil têm autorizado judicialmente o aborto em caso de malformação incompatível com a vida. Sobre o sigilo da paciente que recorre ao hospital por complicação do aborto provocado, o capítulo IX do Código de Ética Médica referente ao segredo médico veda ao médico "revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, salvo por justa causa, dever legal ou autorização expressa do paciente" (artigo 102). A violação do segredo profissional, segundo a seção IV do Código Penal 14 (artigo 154), prevê detenção de três meses a um ano, ou multa, para a revelação do segredo sem justa causa. Não cabe, portanto, ao médico denunciar o "crime" cometido pela mulher, como crêem alguns, mas assisti-la e orientá-la convenientemente para que se previna a repetição do fato. ➔ QUANTO À MENOR DE IDADE Código de Ética Médica: “é vedado ao médico revelar segredo profissional referente a paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou responsáveis legais, desde que o adolescente tenha capacidade de avaliar seu problema e de conduzir-se por seus próprios meios para solucioná-los, salvo quando a não revelação possa acarretar danos ao paciente” (art. 103). A assistência à saúde da menor de 18 anos em abortamento deve, pois, submeter-se ao princípio da proteção integral. Se a revelação foi feita para preservá-la de danos, estaria afastado o crime de revelação de segredo profissional. Entretanto, a revelação do fato também pode acarretar prejuízos ainda mais graves, como o seu afastamento do serviço de saúde e perda da confiança nos profissionais que a assistem. A decisão, qualquer que seja, deve estar justificada no prontuário da adolescente. ❖ Código Penal, DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA NÃO É CRIME E NÃO SE PUNE: o abortamento praticado por médico a) Se não há outro meio de salvar a vida da mulher (art. 128, I); b) A gravidez é resultante de estupro (ou outra forma de violência sexual), com o consentimento da mulher ou, se incapaz, de seu representante legal (art. 128, II). A jurisprudência brasileira tem autorizado a interrupção de gravidez nos casos de malformação fetal com inviabilidade de vida extra-uterina, com o consentimento da mulher. Em todos esses casos, o abortamento é um direito da mulher ❖ CÓDIGO CIVIL DO CONSENTIMENTO: O consentimento da mulher é necessário para o abortamento em quaisquer circunstâncias, salvo em caso de iminente risco de vida, estando a mulher impossibilitada para expressar seu consentimento. De acordo com os arts. 3º, 4º, 5º, 1631, 1690, 1728 e 1767 do Código Civil: a) A partir dos 18 anos: a mulher é capaz de consentir sozinha; b) A partir dos 16 e antes dos 18 anos: a adolescente deve ser assistida pelos pais ou por seu representante legal, que se manifestam com ela; c) Antes de completar 16 anos: a adolescente ou criança deve ser representada pelos pais ou por seu representante legal, que se manifestam por ela. A outra circunstância em que é necessário o consentimento de representante legal (curador/a ou tutor/a) refere-se à mulher que, por qualquer razão, não tenha condições de discernimento e de expressão de sua vontade. ❖ REFERENCIAIS DA BIOÉTICA NO ABORTAMENTO A atenção humanizada às mulheres em abortamento pressupõe o respeito aos princípios fundamentais da bioética (ética aplicada à vida): a) Autonomia: direito da mulher de decidir sobre as questões relacionadas ao seu corpo e à sua vida; b) Beneficência: obrigação ética de se maximizar o benefício e minimizar o dano (fazer o bem); c) Não-maleficência: a ação deve sempre causar o menor prejuízo à paciente, reduzindo os efeitos adversos ou indesejáveis de suas ações (não prejudicar); d) Justiça: o(a) profissional de saúde deve atuar com imparcialidade, evitando que aspectos sociais, culturais, religiosos, morais ou outros interfiram na relação com a mulher. Em todo caso de abortamento, a atenção à saúde da mulher deve ser garantida prioritariamente, provendo-se a atuação multiprofissional e, acima de tudo, respeitando a mulher na sua liberdade, dignidade, autonomia e autoridade moral e ética para decidir, afastando-se preconceitos, estereótipos e discriminações de quaisquer natureza, que possam negar e desumanizar esse atendimento. Diante de um caso de abortamento inseguro, adota, do ponto de vista ético, a conduta necessária: “Não fazer juízo de valor e não julgar”, pois o dever de todos os profissionais de saúde é acolher condignamente e envidar esforços para garantir a sobrevivência da mulher e não causar quaisquer transtornos e constrangimentos.
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