Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
202 Unidade III Unidade III 7 CUSTOS LOGÍSTICOS E INDICADORES 7.1 Tipos de custos Custos logísticos A exigência, por parte dos clientes, por preços cada vez mais baixos e de melhores níveis de serviço também ocorre na área de logística, tornando-se um dos maiores desafios da logística moderna no gerenciamento da relação custo e nível de serviço aos clientes. Existe uma situação de trade-off entre a qualidade dos serviços oferecidos e os preços praticados. Entenda-se por trade-off uma situação de conflito entre dois fatores, quando o aumento de um causa a diminuição do outro, gerando um antagonismo que só pode ser resolvido pela busca do equilíbrio entre os fatores. Essa situação nos remete a um cenário em que o nível de serviço passa a ser um diferencial e o preço um qualificador, promovendo, de certa forma, o aumento da responsabilidade em gerar valor agregado ao produto e ao serviço ofertados, destacando-se: • menor prazo de entrega; • aumento da disponibilidade de produtos; • marcação de hora para entrega; • maior exatidão da promessa do prazo de entrega; • cada vez mais facilidades na alocação do pedido. Como cada cliente possui necessidades diferentes e inerentes aos seus objetivos e às suas características de negócio, deve-se aumentar cada vez mais os níveis de serviços, ajustando-se às necessidades específicas de cada cliente. Os fornecedores de serviços logísticos estão buscando a segmentação de seus canais de distribuição e de atendimento ao cliente e às suas necessidades individuais. Essa diversificação de formas de atendimento, aliada a uma sofisticada variação de ofertas da estrutura logística, nos leva a indagar: quanto é o custo dessa variação e sofisticação de nível de serviço? Como aferir esse resultado? Como e quanto isso impacta a rentabilidade? O desconhecimento das causas e do tempo dispendido para o entendimento, a análise e a solução dos problemas interferem diretamente na estrutura de custos das operações, o que altera, significativamente, a sua rentabilidade. Nesse contexto, é preciso fazer o acompanhamento e a identificação precisa e rápida dos problemas de custos, a fim de saná-los e evitar complicações e agravamentos. Uma poderosa 203 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA ferramenta para auxílio, nessa busca constante, compreende os sistemas gerenciais de custos, que, devido à sua velocidade e precisão, tornaram-se indispensáveis para as organizações no seu dia a dia. Nesta unidade, será apresentada uma visão ampla e gerencial de custos logísticos, aliada ao estudo da evolução desses programas, e do seu real potencial, considerando-se a metodologia activity based costing (ABC – custeio baseado em atividades). Em geral, os custos logísticos podem ser apresentados em dez grandes categorias: • Transporte: envolve custos relativos ao deslocamento da carga de produtos, desde a planta fabril até o cliente final, que pode ser o grande distribuidor, o atacadista ou a loja de varejo. O transporte é um dos maiores absorvedores de custos na cadeia logística, desafiando os gestores a desenvolver estratégias para economizar combustível, fretes, bem como em avarias e atrasos causados pelas péssimas condições de nossas rodovias. • Custo de distribuição: traz a logística outbound, que compreende a movimentação externa dos produtos, na direção do cliente, envolvendo a separação da carga na expedição, seu carregamento no veículo transportador e a sua condução até o cliente. Os custos são elevados, e quanto mais tradicional e manual for a operação, maiores serão os riscos e os custos. • Custo de embalagens: as embalagens cumprem os papéis de proteção do produto, facilitação da movimentação no estoque e a unitização para agilização da movimentação externa da carga durante seu transporte, carregamento e descarregamento. Existe um planejamento estratégico de embalagens primárias e secundárias que estabelecerá o melhor custo-benefício, considerando esses riscos e procedimentos de movimentação dos produtos. Outra vertente, relativa aos custos de embalagens, relaciona-se com a logística reversa, compreendendo os gastos para o descarte ou retorno da embalagem, após o seu uso e cumprimento de seu papel logístico. • Custo de armazenagem: os custos de armazenagem em estoques iniciais, intermediários e finais, no ponto de venda do produto, são elevados. Exigem cuidados de gestão para que haja espaço suficiente, movimentação rápida e segura, além de rapidez e precisão no ressuprimento dos produtos ou mercadorias. • Custo de perdas e quebras no estoque: necessita-se de uma operação muito bem gerenciada e monitorada, em tempo real, para que sejam identificados os principais motivos de quebras de estoque, em grandes armazéns, lojas e hipermercados. As perdas podem ser causadas por furtos, danificações, avarias durante a movimentação, bem como por obsolescências de itens, principalmente, produtos alimentícios. Deve haver providências nas áreas de segurança, refrigeração, contaminação e ataques de agentes biológicos externos. • Tributação: no Brasil, um dos maiores transtornos financeiros. A complexidade do sistema tributário, aliada à alta carga tributária brasileira sobre os produtos e mercadorias produzidos e comercializados, faz com que os gastos com tributos sejam uma preocupação estratégica. 204 Unidade III • Custo do produto: na conta final existe o maior peso a ser considerado, que é o custo de aquisição ou produção do produto. Apesar da lógica de repasse dos custos, mais a margem de lucro no preço de comercialização do produto, deve-se reduzir ao máximo esse custo, mas sem prejudicar a qualidade, o tempo de ciclo de fabricação, a confiabilidade, entre outras particularidades. A competitividade pode ser comprometida caso esses custos influenciem o aumento dos preços praticados. • Custo da falta: um aspecto a considerar é a possibilidade de não se conseguir disponibilizar o produto no mercado com a regularidade e os volumes necessários. A ausência do produto na prateleira, com regularidade ou por períodos longos, pode acarretar a perda de interesse pelo consumidor, a queda de faturamento e perda de rentabilidade. • Custo de manutenção: a melhor manutenção é a preditiva, aquela que evita a primeira ocorrência de um dano. A manutenção preventiva e a corretiva são necessárias e comuns no contexto das operações. A manutenção de instalações, veículos e equipamentos logísticos gera um custo previsto e evita custos imprevistos e muito mais significativos. • Custo das pessoas: os colaboradores são os recursos cruciais para qualquer operação, são cada vez menos força de trabalho e cada vez mais capital intelectual, para mover e fazer funcionar a operação. A utilização e a transformação tecnológica da operação contribuem decisivamente para a redução da quantidade de mão de obra para os serviços manuais. Saiba mais Os custos logísticos devem ser administrados através de uma ótica gerencial. Leia mais a respeito no artigo indicado a seguir: SOUZA, M. A. Custos logísticos: mensuração e uso por redes supermercadistas localizadas no estado Rio Grande do Sul. In: ENCONTRO DA ANPAD, 34., Rio de Janeiro, 2010. Anais eletrônicos [...]. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: https://bit.ly/3pg8NPq. Acesso em: 8 jun. 2021. Informação sobre custos Como dito anteriormente, para melhorar o nível de serviços, as empresas estão cada vez mais segmentando o seu atendimento, especificamente, as necessidades de seus clientes, customizando ao máximo seus serviços logísticos a essa demanda, chegando ao desenvolvimento específico de sistemas ou módulo exclusivos para o atendimento desse determinado cliente. Nesse quesito, é necessário avaliar se esse cliente é suficientemente rentável para a operação, se traz resultados positivos para o negócio, sendo que os responsáveis para atender nesse nível muitas vezes contam somente com a informação sobre dados agregados de custo de transporte, armazenagem, estoque etc. Pela falta de dados,as empresas optam por trabalhar com médias, achando que seus clientes dão uma rentabilidade desejável. 205 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA Na verdade, o que pode ocorrer é que um cliente pague pelo outro, criando uma situação de subsídio no longo prazo, ou seja, afetará a rentabilidade. O processo de tomada de decisão pode estar contaminado pela má qualidade da informação de custos, trazendo distorções, pois geralmente o que está disponível são informações contábeis gerenciais que são construídas com foco fiscal, administrativo, produção, podendo prejudicar ou muitas vezes inviabilizar essas análises mais gerenciais e abrangentes. Observe a seguir algumas informações contábeis gerenciais: • como foram executados os rateios de custo e em quais critérios foram baseados; • o custo de oportunidade foi ou não observado; • se a depreciação atendeu aos critérios legais. A utilização de planos de conta é outra evidência dessa falta de cuidado mediante o uso de dados contábeis relativos aos custos logísticos, por exemplo, atribuir como custo de material do produto vendido os custos de transporte e suprimento; outro exemplo: os custos aparecerem como despesas administrativas e os custos de distribuição constarem como despesas de vendas. Tais situações farão com que a informação referente às atividades logísticas não seja apurada corretamente, distorcendo-a da realidade. Lembrete O custo de oportunidade corresponde a uma perda em potencial de rendimentos, em função de uma escolha de uma determinada alternativa. Aquela que não foi escolhida será apurada como uma perda potencial, podendo ser comparada com os resultados da decisão escolhida. O custo financeiro do estoque faz referência a um possível rendimento que o capital imobilizado teria caso fosse aplicado em algum outro projeto da empresa. Gestão dos custos logísticos Evidencia-se a necessidade de desenvolvimento de ferramentas gerenciais para o atendimento de objetivos específicos, direcionados e úteis ao controle do negócio e para a tomada de decisão. Existe a falta de disponibilidade dessas informações sobre custos. Para atingirmos esses objetivos, podem ser adotadas ações como: • escolher o tipo de análise necessária, de curto, médio ou de longo prazo; • escolher claramente o que vai custear: clientes; produtos; regiões de atendimento; canais de distribuição etc. 206 Unidade III A vantagem de se utilizar um sistema informatizado e desenvolvido para as suas necessidades está em atender aos mais diversos objetivos específicos do negócio, através da implementação de sofisticadas ferramentas de análise. As análises vão desde o uso de sistemas especialistas apropriados até algumas análises desenvolvidas em planilha eletrônicas (MS-Excel), em que o importante é o conhecimento de quem toma a decisão e a sua habilidade em usar os dados e informações disponíveis e as condições apresentadas no seu negócio. A aplicação de um sistema de gerenciamento de custos impacta a organização bem como as demais empresas parceiras que compõem a sua cadeia de suprimentos. São empresas que atuam em diversos e diferentes ramos de atividades, fornecendo matérias-primas, insumos em geral, componentes, partes, peças e prestação de serviços. A partir dos três macroprocessos logísticos – suprimento, apoio à manufatura e distribuição física –, pode-se identificar algumas vantagens potenciais do gerenciamento de custos. Na dimensão do suprimento, por meio de um critério de seleção de fornecedores, ocorre a definição de lotes de compra otimizados e dimensionados às reais necessidades produtivas JIT (tempo exato). Ao adotar uma política de estoques otimizada, é possível usar as ferramentas de custeio, que podem nos guiar na tomada de decisões, mas não como antigamente, quando se avaliava em função de preço de compras das matérias-primas e dos insumos, com o fito de obter menor preço, relegando a segundo plano o serviço prestado, entre eles os logísticos. Era comum a empresa se ver obrigada a trabalhar com grandes quantidades de estoques de materiais para garantir o fluxo contínuo de suprimento para a produção, a fim de evitar um possível risco de desabastecimento e interrupção da linha, evitar atrasos e até devoluções desses materiais. Essa estratégia de compra de grandes lotes ideais atrapalhava o processo produtivo em sua maximização de eficiência. A vantagem desse modelo é a seguinte: através de lotes entregues com maior frequência nas entregas, com volumes menores ajustados à produção, mediante a disponibilidade variável de produtos e redução significativa do número de devoluções, podemos encontrar um fornecedor menor, que não seja líder de mercado em preço, mas que consegue, em razão da estrutura oferecida, entregar um produto com custo mais baixo, advindo do uso dessas tecnologias. Com essa evolução conceitual em relação ao processo, o preço de compra passa a ser visto apenas como custo de aquisição, que considera os custos de colocação do pedido, transporte, recebimento e estoque de materiais. Na dimensão da produção, o programa ou sistema logístico de custos de produção deve estar desenvolvido para as necessidades de PCP (planejamento e controle da produção), apoiando as decisões quanto ao tamanho dos lotes, alocação de máquinas e tempo de produção nas plantas e linhas de produção mediante a estratégia de JIT, atendendo correta e exatamente aos planos mestres de produção, e não como era feito, somente considerando o custeio tradicional na produção e medindo o custo dos produtos. Antes, computavam-se os custos indiretos de forma distorcida, superestimando o custeio de produtos com elevada quantidade produzida e subfaturando o custeio dos produtos com baixa quantidade produzida. 207 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA Precisamos executar simulações de diferentes políticas de produção para podermos estudar e conhecer o comportamento dos custos mediante essas alterações, com sistemas (ferramentas) que aloquem corretamente os custos indiretos (sem distorções), possibilitando o correto custeio dos produtos e medindo a rentabilidade dos produtos e, também, dos clientes. Por sua vez, na distribuição física serão impactadas todas as atividades que ocorrerem a partir da saída dos produtos da linha de produção, envolvendo todos os procedimentos até a sua entrega aos consumidores finais. Os custos atribuídos à distribuição devem ser monitorados de forma detalhada, para que não haja um rateamento grosseiro, por todas as atividades existentes, comprometendo as decisões operacionais de racionalização dos custos. 7.2 Tipos de custos logísticos 7.2.1 Custos de armazenagem e movimentação A questão que permeia a logística atual está focada não somente nos aspectos relevantes e inseridos no dia a dia das empresas, como aumento da frequência de entregas, menor tempo para execução do atendimento, uma redução da tolerância a falhas, a exemplo de erros em separação de pedidos. Identificados como os aspectos da complexidade da atividade, que têm impacto direto no custo logístico, que outrora não eram computados como relevantes, agora assumem uma importância maior, como o custo de armazenagem. Essa situação acarreta uma atenção quanto ao desenvolvimento a passos largos nas organizações, devido ao processo de atualização nas dimensões tecnológicas e gerenciais, em que se deve indagar como e de que maneira esses custos são tratados, devido à assunção de alta relevância. A não observância quanto a essa questão afeta diretamente o nível de confiança dos dados contábeis e compromete a tomada de decisão, pois a análise equivocada pode distorcer a ação a ser definida numa situação em que a continuidade de um produto ou linha de produtos estiver focada na rentabilidade. Assim, pode-se calcular erroneamente a rentabilidade, comprometendo a decisão sobre essa linha de produtos, se será continuada ou não. Demonstram-se a complexidade e o nível de comprometimento dos dados e informações para que não se distorçaa realidade. Para evitar a obrigatoriedade de ter que elencar critérios e detalhamentos em níveis mais específicos, uma sofisticação do sistema de custeio se faz necessária de forma simples e eficiente dentro de orçamentos exequíveis, uma vez que esses padrões dispendem recursos e tempo, com especial atenção na escolha dos critérios de alocação. Assim, fazer revisões constantes é o caminho para reduzir os gastos desnecessários. É sobre essa demanda por informações confiáveis e a proposta de meios eficazes e efetivos na alocação de custos a produtos e clientes que se apresenta o atual estudo. Para reforçar, deve-se lembrar de que custos de armazenagem são aqueles sobre acondicionamento dos bens e sua movimentação, envolvendo o aluguel de armazém, a mão de obra e a depreciação dos equipamentos; já os custos dos bens produzidos ou comercializados abrangem o custo financeiro de 208 Unidade III estoque e o custo de perdas (roubos e quebras, prazos de validade), os quais são referentes ao estudo das questões classificadas como estoque. Tanto os sistemas gerenciais como os sistemas de custeio não vêm dando a atenção merecida à atividade de armazenagem, alocando esses custos em um único centro de custos e relacionados aos produtos, ou a clientes, pois se preocupam com o faturamento ou o volume de vendas. Mesmo considerando o custeio ABC, gerando distorções que antes até poderiam ser desprezadas pela baixa relevância, atualmente assumem papel importante, influenciando no resultado final das indústrias ou operações de varejo. O mercado industrial mudou com uma grande variedade de itens produzidos, o que gerou uma maior frequência de entregas com quantidades menores e mais variadas de itens no perfil dos pedidos. Para acompanhar essa mudança, são necessários investimentos em tecnologias de gerenciamento, movimentação e separação de materiais, sistemas WMS, transelevadores e sistemas semi ou automáticos de picking, separação dos itens e dos pedidos colocados. O varejo também é impactado nas questões de custos de armazenagem sobre a importância do custo de espaço de gôndola e o ressuprimento de produtos. Mesmo que as empresas não considerem tais aspectos como custos de armazenagem, essa mesma metodologia deve ser utilizada satisfatoriamente, uma vez que o assunto é igual, movimentação e acondicionamento de produtos. Outra tendência no varejo é o uso de centrais de distribuição (CD) de estoques, praticando o cross-docking. Como funciona? Por meio de um sistema de redistribuição, a entrega de um produto é feita direto do CD para o cliente, o que não impede a necessidade de atenção aos custos de armazenagem, sendo que os custos específicos de estoque podem até ser reduzidos com a prática. Na realidade, essas mudanças da indústria e do varejo requerem informações cada vez mais precisas, e esse nível de atualização faz com que os sistemas tradicionais deixem a desejar. Assim, essa busca pela exatidão, relevância e efetividade da informação acaba sendo o principal entrave para gerenciar a carteira de produtos, com pequena margem de contribuição e grande variedade de itens. É necessário ter o conhecimento da operação com uma sólida base conceitual sobre custos. As equipes de armazenagem e de controladoria devem alinhar sua metodologia de aferição e alocação de custos necessários para calcular os custos, visando o apoio às decisões de médio e longo prazos. Os custos de armazenagem são fixos e indiretos, o que dificulta a classificação e o gerenciamento da operação e a correta alocação de custos, como aluguel, mão de obra, depreciação (instalações e equipamentos). São proporcionais à capacidade instalada, independentemente da quantidade de itens armazenados ou menos movimentados que o planejado, porque os custos continuam ocorrendo por serem alocados com espaço físico, equipamentos e mão de obra operacionais, bem como os investimentos em tecnologia realizados. 209 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA Outro aspecto relevante é que a atividade de armazenagem não tem comportamento constante, ao longo dos dias ou meses, com períodos de maior ou menor frequência de atividade. Com essa variabilidade, pode ocorrer um superdimensionamento, visando o atendimento nos dias de pico, para evitar a falta de pessoal, falhas ou atrasos. Porém, o superdimensionamento acarreta um elevado custo, além da ociosidade de recursos nos dias de baixa utilização, em que a capacidade instalada não está sendo utilizada. A falta de equilíbrio no dimensionamento dos recursos pode prejudicar o nível de serviço ao cliente, se for subdimensionado, bem como gerar queda na rentabilidade da operação, quando superdimensionado. A técnica utilizada para os custos de armazenagem é o rateio, por envolver custos indiretos, dificultando sua apropriação aos produtos e aos clientes. Para minimizar essas distorções, é importante observar que sejam contabilizados por função (movimentação, acondicionamento, administração), e não por contas naturais (depreciação, mão de obra) e com alocação mediante o consumo real de recursos na operação. Existem diversos sistemas de custeio a serem utilizados. Contudo, independentemente de qual o sistema utilizado, são apresentadas quatro fases para realizar o custeio da armazenagem, como se pode ver na figura a seguir. Observação Docas correspondem aos espaços reservados para recolher embarcações no cais do porto, para carga e descarga. Representam os armazéns de mercadorias desembarcadas e para fins de embarques em um porto. Identificar os itens de custo ↓ Calcular os itens de custos ↓ Agrupar itens de custos relativos a cada função ou atividade ↓ Alocar os custos a cada produto ou cliente Figura 54 - Etapas do custeio da armazenagem Adaptada de: Fleury (2014). • Identificação dos itens de custo: escolha dos itens de custo, como funcionários, operadores de empilhadeira, supervisores de operação, depreciação e custo de oportunidade das máquinas, rack, paletes e o aluguel do armazém. É importante não agrupar somente quanto à natureza (depreciação, pessoal) em um único critério, ou seja, numa única conta de depreciação, deve-se alocar separadamente cada ativo. 210 Unidade III • Cálculo dos itens de custos: os salários, os benefícios, a manutenção e o aluguel estão facilmente disponibilizados na contabilidade, já a depreciação e o custo de oportunidade precisam ser efetivamente calculados. No caso de a depreciação utilizar o tempo de operação do ativo (tempo de uso até a substituição), é preciso dividir a diferença entre o valor de aquisição e o residual pelo tempo (n em meses) e não utilizar o tempo contábil. Por sua vez, o custo de oportunidade envolve algum ganho que se deixa de receber em detrimento do uso desse recurso; o problema é que não existe na visão contábil uma despesa associada a esse custo, e sim uma perda de receita ocasionada pela imobilização de um capital. Para fazer sua apuração, deve-se multiplicar o valor do ativo pela taxa de oportunidade da empresa (variando de 10% a 20% ao ano). Uma observação no caso de um ativo (uma empilhadeira), deve-se considerar ambos (tanto o custo de depreciação como o de oportunidade). • Agrupamento dos itens de custos relativos a cada função (ou atividade): itens que estão todos direcionados a uma mesma atividade podem ser considerados em conjunto por um único critério de rateio, como número de paletes expedidos no caso da função de movimentação, porque reúne itens de custos de contas naturais (pessoal, manutenção, depreciação, todos na mesma função de movimentação de materiais) em uma operação simples. No caso de uma movimentação mais complexa, com exigências diferenciadas e acondicionamentos diferentes, é necessário separar as funções em atividades: — Agrupar na mesma função as atividades de movimentação de materiais e dos custos referentes a empilhadeiras, transelevadores, operadores de empilhadeira e supervisores da movimentação. — Quando o produto estiver parado no estoque,consumindo espaço no armazém, como palete, contêineres, rack, produtos agrupados, os custos efetivos do espaço (custo de oportunidade do aluguel do armazém e os custos dos ativos utilizados no acondicionamento dos produtos). Não é a movimentação dos materiais. Exemplo: local com de produtos que necessitam de refrigeração, pois é preciso considerar os custos de consumo com energia elétrica desse espaço. — Na administração do fluxo de bens, deve-se computar os custos advindos de outros, como: gerente, secretaria, telefones, material de escritório; envolve todos que têm caráter administrativo que não são considerados nas funções anteriores. • Alocação de custos a cada produto ao cliente: depois de reunidos por função ou atividade, é necessário atribuir esses custos aos produtos advindos do mix de consumo de cada cliente (levar em conta as especificidades de cada qual), o que é feito mediante os critérios de alocação para cada uma das três funções de armazenagem. — Movimentar material. Para tal, são considerados o volume de carga entregue, mediante o recurso utilizado, o aluguel de contêineres e o número de paletes enviados de cada produto. São critérios elegíveis para fazer o rateio desses custos de movimentação, com base nos custos de movimentação das empilhadeiras pelo número de paletes, independentemente do conteúdo e do número de peças ou embalagens, o que é calculado pela divisão do custo total da movimentação pela soma dos paletes recebidos/expedidos (mesmo incompletos). Com esse 211 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA dado do custo de cada movimentação, conta-se quanto de cada produto foi movimentado e multiplica-se pelo custo unitário da movimentação de paletes. Se esse armazém também movimentasse caixas avulsas, seria interessante separar a função de movimentação em atividades (recepção, expedição de paletes e caixas avulsas). — Acondicionar produtos. Por não serem proporcionais à quantidade liberada, normalmente são distorcidos quanto à alocação, pois há unidades com alto volume de saída que ocupam pouco espaço, mas há outras que ficam paradas pela falta de vendas e ocupam mais espaço no armazém. Na figura a seguir, considerando o limite de armazenagem por m2 em função da dimensão e do empilhamento máximo, serão apresentadas as principais etapas para alocação de custos, sendo similar para os casos em que não são usados paletes ou racks. Veja na figura a seguir o processo de alocação de custos de ocupação de espaços aos produtos. Passo 1 Passo 2 Passo 3 Passo 4 Passo 1 Dividir o custo de ocupação do espaço pelo número médio de paletes no armazém ao longo do mês. Assim se chega ao custo de manter um palete em estoque durante todo o mês (R$/palete mês). Passo 2 Calcular o custo associado ao espaço de manter cada produto um mês em estoque, já que a quantidade por palete varia de acordo com o produto. Assim, deve-se dividir o custo de manter um palete em estoque (calculado no passo 1) pelo número de produtos por paletes de cada item, obtendo-se uma tabela com duas colunas, uma com o código do produto, e a outra com o resultado da divisão. Assim cada produto terá um custo unitário associado a sua ocupação do espaço (R$/unidade mês). Passo 3 Calcular o custo de cada linha de produto. Para isso basta multiplicar o custo unitário de cada produto (calculado no passo 2) pelo seu respectivo estoque médio. Assim obtém-se o custo de ocupação de espaço associado a cada linha de produto. Passo 4 Para calcular o custo associado ao espaço de cada unidade vendida basta dividir o custo de cada linha de produto (calculado no passo 3) pelo respectivo volume de vendas. Figura 55 Adaptada de: Fleury (2014). — A alocação de custos foi realizada em função de dois fatores: o giro e o espaço ocupado; quanto menor o espaço, menor será o custo unitário; quanto maior o giro, menor será seu custo de ocupação, todos com base em unidades. — Administrar o fluxo de bens. Os custos relativos à administração do armazém estão relacionados ao número de processamentos realizados, e não ao volume de carga ou à quantidade (já explicado anteriormente), sendo computado o número de notas ou ordens de recebimento ou expedição, variando bastante, dependendo do tipo de empresa. 212 Unidade III Notadamente, devido a fatores evolutivos como o e-commerce – comércio eletrônico –, realidade mundial que é responsável pelo crescimento das atividades de recebimento e expedição através de entregas, as organizações foram obrigadas a desenvolver competências cada vez mais elaboradas e eficientes para administrar esses fluxos com margens de contribuição pequenas. Hoje, exige-se uma exatidão da informação cada vez maior e diferenciadora nos negócios. Esse movimento eleva a importância da atividade de armazenagem a um patamar cada vez mais alto, com enfoque mais preciso em custos baseados em conceitos e em metodologias corretas. Observação O rateio de custos corresponde ao conjunto de práticas para a distribuição proporcional de custos. O cálculo deve considerar os custos diretos e os custos indiretos apurados na operação. Os tipos de rateios de custos básicos são: custeio variável, custeio padrão, absorção, atividade, faturamento ou custos indiretos. 7.2.2 Custo de movimentação Uma denominação comum para a atividade é transporte interno. A atividade de movimentação de materiais envolve tarefas e processos referentes aos deslocamentos e acomodações dos produtos e mercadorias pelos setores internos, bem como o remanejamento de estoques e fluxo de materiais no processo de abastecimento da produção ou destinação para a expedição. A movimentação não pode considerar apenas os espaços e o tempo de deslocamento dos materiais, deve ponderar o pessoal disponibilizado, os equipamentos necessários e os respectivos custos. Observação Os custos de movimentação registram e acumulam todos os dispêndios diários, mensais ou anuais de entradas de insumos e materiais, recebimentos e estocagem, bem como os de saídas, na separação e no carregamento de cargas, durante os processos de armazenagem e expedição. A automação da movimentação, que está cada vez mais acessível, garantirá maior velocidade, precisão, menores custos operacionais e menos riscos de avarias e quebras de estoques. A racionalização dos processos relativos à movimentação de materiais ocasiona benefícios operacionais evidentes, tais como: • redução de custos; • aumento da capacidade produtiva; • melhores condições de trabalho; 213 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA • melhor distribuição; quando da gestão da movimentação de materiais, os administradores devem considerar os seguintes princípios básicos da atividade: — Planejamento: todos os métodos adotados, bem como as atividades e recursos definidos devem constar em um plano estratégico da área, em consonância com o planejamento empresarial, promovendo as diretrizes e políticas da organização. Devem participar desse planejamento gestores de logística, executivos da empresa, fornecedores, usuários e até clientes. — Padronização de métodos e equipamentos: em função do planejamento, anteriormente citado, deve haver uma padronização de procedimentos, métodos e instalações necessárias para operação de movimentação. O padrão evita decisões isoladas e investimentos em equipamentos que destoem das necessidades coletivas da área. A flexibilidade pode ser diminuída, em função da padronização, porém haverá ganhos maiores por causa da racionalização dos processos. — Unitização da carga: o processo de unitização da carga compreende o acondicionamento da carga em recipientes maiores ou mais adequados à sua acomodação, empilhamento e movimentação. Existe um enorme ganho com a unitização adequada em caixas, fardos, contêineres e paletes, entre outros, facilitando a armazenagem, o içamento, a carga e a descarga dos itens. — Ociosidade: o estudo das movimentações deve ser criterioso, devido ao alto custo dos espaços, aluguel de equipamentos e alocaçãode pessoas. O tempo ocioso desses recursos deve ser reduzido ao máximo, sob pena de encarecimento operacional e o comprometimento da rentabilidade da operação. — Ergonomia e segurança: a maior preocupação no planejamento das movimentações deve ser com a saúde dos colaboradores. As atividades repetitivas ou que exijam grande esforço físico devem ser monitoradas e substituídas por atividades automatizadas. Os equipamentos e máquinas inteligentes devem auxiliar o homem na execução desse tipo de atividade. — Otimização de espaços: os estudos e o desenvolvimento de métodos avançados de movimentação interna de cargas e materiais são voltados para a otimização dos espaços destinados ao armazenamento, bem como à circulação dos equipamentos e materiais no interior do armazém. O alto custo dos aluguéis de espaços leva a uma intensificação da racionalização da estocagem, com aplicação de técnicas de empilhamento e armazenamento vertical, contando-se com a utilização de empilhadeiras, guindastes e gruas, quando for o caso. — Integração dos processos: torna-se imprescindível que os processos de recebimento, armazenagem, abastecimento, produção, inspeção, embalagem, expedição e transporte estejam integrados e padronizados. Para esses processos, deve-se nivelar o patamar de automação das atividades, no intuito de potencializar os efeitos e multiplicar os benefícios. 214 Unidade III — Automação de processos: como explicado anteriormente, a mecanização e a automação dos processos, em toda a operação, produzirão efeitos positivos nos resultados referentes a aumento de velocidade, redução de riscos, diminuição de custos e aumento da confiabilidade e qualidade dos serviços ao cliente. A identificação e eliminação de grandes gargalos no fluxo de materiais devem ser priorizadas no processo de automatização das atividades. A movimentação de materiais tem que contar com a utilização de equipamentos necessários para a mecanização de trabalhos repetitivos e que exijam grande aplicação de força, elevação e deslocamentos de cargas muitas vezes com grandes volumes e pesos. Para ilustrar e exemplificar, serão apresentados a seguir alguns equipamentos que normalmente constam no ambiente industrial e de armazenagem. Empilhadeira Equipamento dos mais comuns em atividades de movimentação de materiais, disponibilizada em infindáveis modelos e aplicabilidades. Trata-se de um veículo industrial capaz de movimentar cargas horizontais ou verticais, superando curvas, aclives, declives e longas distâncias internas, com velocidade excelente e configuração específica para elevação e descida de cargas em processos de verticalização de estocagem. Paleteira A paleteira, como o próprio nome evidencia, atende às necessidades para movimentar e arranjar itens em armazéns. Com capacidade de até 4.500 kg, há diversos modelos, os quais compreendem os mais variados graus de elevação. Pórticos São equipamentos de grande porte, apropriados para movimentação de cargas pesadas e grandes, aumentando o grau de segurança da movimentação. Atuam em ambientes abertos e por cima das áreas de armazenagem, elevando e deslocando a carga num corredor aéreo. Transelevadores Facilitam a elevação e movimentação de cargas e produtos em ambiente que contam com pequenos espaços para movimentação e circulação e/ou utilizam-se de verticalização de estocagem. Transportadora de roletes O equipamento conta com roletes que o transformam em uma esteira rolante que facilita a movimentação de cargas, contando com a rolagem dos produtos por efeito da gravidade ou por acionamento conduzido por energia elétrica. 215 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA 7.2.3 Custos de transportes Observando o bom relacionamento entre embarcadores e transportadores numa cadeia de suprimentos, percebe-se a necessidade de um modelo racional para custeio de transporte, aplicado a situações reais, com informações importantes e que não podem ser negligenciadas. Como exemplos, citam-se as distorções encontradas em empresas nacionais em termos de custos subavaliados nas rotas curtas ou superavaliados nas longas, decorrentes de ineficiência do transporte de mercadorias, como operações de carga e descarga, com tempos médios superiores a seis horas. Para resolver a questão, usa-se um programa com sistema de custeio de frete que garanta um ROI (retorno mínimo sobre o investimento), mostrando de forma transparente e fácil a mensuração e as oportunidades de parcerias empresariais, o que traz ganhos para todos. As três causas básicas dessa ineficiência das operações de carga e descarga são relacionadas às questões organizacionais, tecnológicas e de procedimentos. Segundo Ballou (1993), o frete absorve por volta de 60% do gasto logístico na maioria das empresas, entre 9% e 10% do produto nacional bruto para a economia de uma nação, relativamente desenvolvida, considerando-se a atividade de transporte como o elemento mais importante e destacado do custo logístico na maioria das organizações. De acordo com Gibson (1993), em busca de uma lógica que privilegie a eficiência e a qualidade, o comportamento para contratação desses serviços baseado em preços, que se verifica atualmente no Brasil, foi evoluído nos EUA, buscando parcerias e um comprometimento de longo prazo, com interdependência em operações, rentabilidade e contribuições efetivas para a sobrevivência dos negócios. Estudos no Brasil, desenvolvidos pelo centro de estudos em logística da Coppead/UFRJ, encontraram em diversas empresas índices elevados de ineficiência no transporte, destacando-se operações de carga e descarga com tempos superiores a seis horas de espera. Também foi observado que o cálculo de custos de fretes, baseado na alocação de custos fixos a cada rota, mediante proporcionalidade da distância – em km percorridos, criou grandes distorções nos resultados. As rotas longas se mostram com custos maiores do que deveriam absorver e rotas curtas com custo menor, provocando um subsídio cruzado (as longas pagam as curtas), o que ocorre por causa do tempo maior na atividade de carga e descarga em função de horas despendidas, e não no percurso percorrido (distância em km rodados). O resultado dessa distorção inviabiliza a negociação de preços mediante grau de eficiência do uso de recursos, a exemplo da redução de desperdícios, contribuindo para as negociações em quilometragem, suscetíveis a não manutenção de preços, devido a reajustes nos preços dos insumos. Esse método tradicional de elaboração de custos inverte a lógica, devido ao cômputo dos quilômetros, em que o normal é as rotas curtas custarem mais do que no sistema tradicional; sendo assim, tornam-se menos lucrativas. Já com rotas longas ocorre o inverso, elas passam a ser preferidas pelos gestores de transportadoras. Dessa forma, como muitas transportadoras não utilizam como ferramental de apoio a decisões o seu sistema de custeio, cria-se um círculo vicioso, o que gera desconfiança. 216 Unidade III Esse tópico aborda o conceito de parcerias entre organizações e propõe um sistema racional de custeio de fretes, revelando e medindo os prováveis ganhos por produtividade nos transportes e identificando valores baseados na eficiência do transporte, e não somente no que é cobrado pela atividade. A evolução da tecnologia da informação desde os anos 1980, com a busca por técnicas e modernização de processos numa cadeia de valor agregado, fez com que as organizações buscassem a reestruturação para obter maiores índices de qualidade e produtividade. Busca-se acompanhar o fenômeno da globalização dos mercados, advento da internet nos negócios, que desempenha um papel de destaque na mudança da maneira que fazemos negócios, o que gera a inserção mais rápida em novos mercados e o aumento de fatias de mercado mais rápido também. Essas mudanças resultam em novas estratégias, repercutidas, também, na nova gestão da distribuição na cadeia de suprimentos, com o surgimento de parcerias (alianças logísticas) entreos participantes dos processos: vendedores, transportadores e clientes. Segundo Bowersox (1990), esse relacionamento é antagônico, do tipo “perde-ganha”, em que todos procuram aumentar sua margem no negócio, com empresas contratantes negociando preços de fretes e prevalecendo em função de seu poderio econômico e deixando de lado aspectos importantes de planejamento, como tempo de carga e descarga nos clientes finais, bem como o acesso a informações importantes sobre roteiro de entregas e disponibilidades de agenda das transportadoras. Esses aspectos são imprescindíveis para o seu planejamento. Conforme Gardner e Cooper (1994), as parcerias dependem de uma boa relação e de um ambiente de confiança mútua entre as partes, empresa-cliente e empresas transportadoras, uma relação difícil, que possui diferenças culturais internas e externas a serem suplantadas. La Londe (1989) propõe a criação de uma relação coordenada, eficiente e previsível entre empresa e transportadoras. Relata que nessa alternativa vão proporcionar mais condições e facilidades para a previsão e o cálculo do dimensionamento de frota, buscando diferenciação e aumentando a chance de elaborar melhores práticas operacionais com os demais parceiros. Ainda segundo Gardner e Cooper (1994), a formação de parcerias baseadas em boas relações entre empresa e transportadoras é mais exequível quando o número de participantes é menor. Assim, há um estreitamento das relações e o aumento de conhecimento e confiança mútuos, aprimorando-se o controle sobre o serviço em troca de um volume maior e seguro de frete. A seguir, serão destacados os principais fatores organizacionais que promovem a parceria empresa – transportador de maneira independente. Ganhos mútuos entre os parceiros A relação se torna do tipo “ganha-ganha”, aproveitando-se as oportunidades, conjuntamente, com a distribuição de ganhos advindos da redução e maximização dos desperdícios nas atividades de transporte, mediante a participação de todos os envolvidos em cada etapa, como carregamentos e descarregamentos, e não de pressões externas, como as econômicas. 217 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA Estratégias e objetivos comuns Caracteristicamente, parceria é um relacionamento típico de longo prazo, em que é necessário o alinhamento de estratégias e padrões formadores da atividade de transporte como janelas de tempo, tempo médio e limites para carregamento, bem como a definição das viagens, entre outras atividades importantes. De acordo com Parasuraman e Berry (1988), a qualidade dos serviços prestados é definida pela diferença entre as expectativas ou os desejos do contratante em relação à percepção de como está sendo efetivamente realizado o serviço, ou seja, se baseia na comparação entre o esperado e o serviço efetivamente realizado. Numa outra abordagem, Hopkins e Strasser (1993) elencam diversos tópicos relevantes à qualidade no transporte, como: aparência de veículos; segurança no transporte de carga; programação de horas para entrega etc. Aproximação entre as operações É o quesito mais valoroso, obtido através de conhecimento do parceiro, que é feito por meio de visitas, para detalhar como deve ser o processo entre as operações. Segundo Kanter (1994), estabelece-se que não se pode viabilizar uma parceria somente com base no texto de um contrato ou acordos formais, mas sim mediante o fornecimento de uma infraestrutura adequada, que atenda com produtividade a atividade de transporte, buscando otimizar a eficiência com um canal informal e fora da estrutura da organização, que torna mais flexível e rápido o processo de tomada de decisão, que vai desde o dimensionamento de frotas (estratégico) até a programação de veículos (operacional). Compartilhamento de informações Nesse contexto, Landeros e Reck (1995) pressupõem um ambiente de confiança entre as partes, provocando um fluxo livre de informações operacionais que esclareçam como realmente são alocados e usados os recursos necessários entre os participantes dessa corrente na cadeia de suprimentos, estabelecendo-se o grau de eficiência e da produtividade de cada etapa na atividade de transporte. O acompanhamento dos tempos de carga e descarga e do percurso geram os indicadores necessários para monitorar o desempenho e o controle. Em um estudo feito em operações logísticas entre os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, observou-se que esse acompanhamento raramente é executado em ambos os lados, e ainda foram destacados os descarregamentos demorados, que são confusos, mal coordenados e pouco padronizados. O comportamento advém do desconhecimento, pelos responsáveis pelos serviços, de que esse processo envolve uma parcela importante na composição dos custos de frete, não sendo investidos recursos e esforços em busca da diminuição do tempo de carga e descarga. O consumo elevado de tempo em postos (nos clientes) ocorre, por exemplo, em razão da burocracia relativa a controles e processamento de informações, de tráfego ineficiente e por causa de um gerenciamento de tráfego improdutivo, entre outros motivos. O bom funcionamento seria alcançado com a existência de uma estrutura racional de apontamentos de custos, preços e lucros, que promovesse, para ambas as partes, o interesse de haver bons desempenhos 218 Unidade III dessas atividades. Em vez das suspeitas das partes, cada uma delas deveria direcionar seus objetivos para obter lucro. Isso resultaria em benefícios, tais como a redução dos tempos de carga e descarga promovida pelo novo projeto das atividades de recepção e expedição de produtos, incluindo maior coordenação do fluxo de informações entre todos envolvidos. Tornam-se importantes os estudos dos detalhamentos de um sistema de custeio com todos esses apontamentos e o seu uso numa ferramenta de auxílio ao planejamento, à execução e ao controle, gerando aumento de produtividade e qualidade no transporte. De acordo com Bowersox e Closs (1996), temos diversas perspectivas para o entendimento e análise da atividade de transporte que integra o sistema logístico, aproximando cliente e fornecedor, geograficamente distantes, funcionando como uma ferramenta eficaz na redução dos custos totais de um supply chain – cadeia de suprimentos. É importante entender da estrutura de custos do transporte para estabelecer estratégias de escolha de transportadoras que sejam focadas nessas melhorias de operações. Segundo Gibson (1993), cada vez mais empresas estão alertas e entendem que, ao trabalharem baseadas em preço de frete, provocam diversos problemas, como congestionamento de docas, problemas administrativos devidos à coordenação dos carregamentos etc. Apesar do sincronismo, essas etapas são muito complexas, por reunirem diversas ações. Na figura a seguir, podemos ver, de forma simplificada, uma análise através de quatro etapas principais: carregamento na empresa; percurso entre empresas; descarregamento no cliente; e retorno. Carregamento na empresa Descarregamento no cliente Transportadora Transporte Coordenação Transporte ida Transporte volta Figura 56 Adaptada de: Gibson (1993). Fleury (2014) propõe uma análise que se baseia em algumas premissas: • uso de um caminhão, com exclusividade, que após o descarregamento volta vazio a sua origem; • um único produto sem ponto intermediário de carga e descarga no percurso. Nessa análise, os custos são divididos em dois tipos, fixos e variáveis. Os custos fixos se referem aos custos que não variam em função do uso e do volume de viagens efetuadas pelos veículos, tais como: o salário mensal de motoristas e ajudantes, a depreciação dos veículos e equipamentos, o seguro 219 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA obrigatório e impostos e taxas referentes ao emplacamento e IPVA. Os custos variáveis se referem aos gastos que variam de acordo com o volume de viagens e de entregas realizadas, tais como: combustíveis, lubrificantes, pneus, troca de peças e demais custos com manutençãodos veículos. Entre os custos fixos, existem duas partes: os custos fixos de operação do caminhão (advindos de decisões quanto à capacidade instalada do transporte) e os custos fixos de administração por parte das decisões da coordenação da sede. Objetiva-se o estabelecimento do custo da rota, com o conjunto de etapas demonstradas, sendo necessário definir as bases de alocação para os custos fixos (operação e administração da sede). Nesse contexto, serão tratados os custos fixos de operação: quanto tempo de equipamento e pessoas para operação das diversas rotas. Cada parte remunera parte desses custos, em função de seu tempo de uso, determinando a quantidade de horas a ser dividida pelo total de custos fixos, obtendo-se o custo unitário de uso da capacidade. Para uma análise das diversas alternativas, conforme destacado em Cooper e Kaplan (1991), utilizou-se o total de horas de trabalho de um motorista por turno. Para os custos fixos de administração da sede, estabelecidos como um apoio da administração, o fator causal do total de trabalho de apoio escolhido foi o número de conhecimentos de fretes emitidos. Com os princípios do custeio baseado em atividades (ABC) ao transporte, o cálculo do custo do frete deve se pautar no tempo de ciclo, que compreende a duração da viagem, o tempo de carregamento e o tempo de descarga dos produtos transportados. Segundo Ellram (1994), há alguns benefícios ao adotar tal procedimento. A ideia central desse método é considerar que não são os produtos e serviços que consomem os recursos, mas sim que os recursos são consumidos pelas atividades, as quais resultam no produto final: • um claro entendimento dos recursos consumidos em cada rota, origem e volume desses recursos; • melhor entendimento e diferenciação dos graus de utilização da frota de veículos e sua falta de eficiência. Ao contrário do que se pratica no Brasil, onde o custo do frete é feito considerando-se a capacidade de transporte, que é apurada usando-se a quilometragem do percurso e o número esperado de viagens no mês para cada rota, o sistema ABC adota como relação a capacidade total, medida pelas horas totais que uma empresa de transportes disponibiliza aos parceiros em um determinado período de análise. Na análise proposta por Fleury (2014), reforça-se que as informações dos custos de cada etapa formam indicadores muito importantes para o monitoramento do desempenho, de forma clara e sem erros, para a apuração de ganhos entre os participantes da cadeia (embarcador-transportador-cliente final), devido à maximização de lucro e à minimização de gastos ou prejuízos entre os elos dessa cadeia. 220 Unidade III Lembrete O ABC está baseado na consideração de que os custos não são concentrados nos produtos e serviços, que consomem diversos recursos humanos, materiais e tecnológicos, mas sim que esses recursos são consumidos pelas atividades realizadas, as quais geram os produtos e os serviços. Aplicação da metodologia em caso específico Continuando a análise proposta por Fleury (2014), pode-se verificar a apuração do custo total de cada rota (CTR) como a somatória de três parcelas: A primeira é o produto do custo fixo unitário de operação CFUOp em hora (R$/hora) multiplicado pelo somatório dos tempos de carregamento (TC), viagem (D/Vm) e descarregamento (TD) em horas. Considera-se que o CFUOp é o custo fixo total dividido por uma medida de capacidade de operação do caminhão em horas. CFUOp * [D/Vm + TC + TD] Na equação, o tempo de viagem é entendido como razão entre distância de ida e volta (D) em quilômetros pela velocidade média da rota (Vm) em km/h. A segunda é a multiplicação do custo variável (CVU) em R$/km pela distância percorrida D em km. CVU * D A terceira parcela envolve a multiplicação do custo fixo unitário de administração (CFUAd) em R$/ número de conhecimento de frete pelo número de conhecimentos de frete para determinada rota (NCF): CFUAd*NCF Dessa forma, o CTR corresponde aos somatórios das três parcelas, ou seja: CTR = CFUOp * [D/Vm + TC + TD] + CVU * D + CFUAd * NCF Destaca-se que os custos fixos unitários de operação incluem itens de depreciação para cavalo e baú, salários e encargos sociais de motoristas e mecânico, seguros e demais taxas em geral e despesas gerais de viagem (refeições e lanches do motorista). Nessa análise apresentada por Fleury (2014), considerou-se um caminhão Mercedes Benz-65, com depreciação em 48 meses e percentual residual de metade do valor inicial do veículo, baú tipo Antonini, base de depreciação de 72 meses e o percentual residual também da metade do valor inicial; 221 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA os custos variáveis unitários como gastos com combustíveis, pneus, lavagens, peças de reposição e óleos lubrificantes foram calculados com base em valores padrão verificados na indústria. Observe a equação a seguir: CTR = 25,0 * [ D/Vm + TC + TD ] + 0,35 * D O coeficiente 0,35 está em R$/km e refere-se aos custos variáveis unitários. O coeficiente 25,00 está em R$/hora e refere-se aos custos fixos unitários de operação. Assim, o custo fixo de administração para apenas um conhecimento de carga é muito pequeno, isto é, pode ser excluído da última equação. Considerando simulações do tipo what-if, foram determinados: • a participação percentual do tempo de carga e descarga sobre o custo total; • o impacto da redução do tempo de carga e descarga sobre o custo do frete; • a sensibilidade do custo de frete a variações no tempo de carga e descarga. Quantificação dos ganhos Segundo estudos da Coppead/UFRJ (apud FLEURY, 2014), em seu centro de estudos de logística, foram consultadas e analisadas empresas brasileiras de diversos setores de carga, tais como transporte, alimentos, varejo e atacado e do setor de petróleo. Verificou-se que o tempo de carga e descarga é, em média, de seis horas, computados o tempo da operação e o tempo de espera por romaneios, filas, ordens de carregamento etc. No estudo, também foram identificadas distâncias médias das rotas em torno de 500 km e velocidades médias de 50 km/h, chegando a uma média de viagem em dez horas. Por conta dessas variáveis, há um acréscimo de 60% de tempo em decorrência de ineficiências das atividades de carga e descarga. Comparativamente, verifica-se que rotas mais curtas são severamente prejudicadas. Por exemplo, uma rota de 100 km, numa velocidade média de 50 km/h, mesmo realizada em duas horas, recebe um incremento de seis horas, em média, para carga e descarga, perfazendo um aumento de 300%. Já em rotas mais longas, as de 1.000 km, por exemplo, terão um tempo de viagem de vinte horas (incluídos períodos de descanso), sendo impactadas em 30%. Observe a figura a seguir: 222 Unidade III 10 0 0% 50% 100% 150% 200% 250% 300% Tempo de carga e descarga médio de 6 horas. Velocidade média de 50 km/hTempo de carga e descarga médio de 6 horas. Velocidade média de 50 km/h Distância da rota em km Au m en to p er ce nt ua l s ob re te m po d e vi ag em 30 0 50 0 70 0 90 0 11 00 13 0020 0 40 0 60 0 80 0 10 00 12 00 14 00 15 00 Figura 57 Adaptada de: Fleury (2014). Simulando uma rota de 500 km, com velocidade média de 50 km/h com os tempos de carga e descarga em seis horas, o custo do frete é R$ 575,00 somente em despesas administrativas. Fazendo outras simulações e comparações entre as rotas curtas (100 km), médias (500 km) e longas (1.000 km), apurou-se a participação do tempo de carga e descarga como percentual do custo de frete, o que comprova o prejuízo das rotas curtas em quase 64% do custo total. Esse valor se dissipa nas rotas longas (1.000 km), com baixo impacto por causa da diluição desse tempo em relação ao tempo maior da viagem, com percentual perto de 15% do custo total. Para a rota média (500 km), o custo de carga e descarga atinge 26,10% do custo total, ou seja, aproximadamente R$ 150,00 do total de R$ 575,00. 90% 70% 50% 30% 10% 80% 60% 40% 20% 0% 0 2 4 6 8 Tempode carga e descarga em horas Rota médiaRota média Rota curtaRota curta Rota longaRota longa Pe rc en tu al 101 3 5 7 9 11 1312 14 15 16 17 18 19 20 Figura 58 Adaptada de: Fleury (2014). 223 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA Estudando ganhos potenciais com uma melhor coordenação de carga e descarga, conforme a figura a seguir, identificam-se os seguintes aspectos: • rotas curtas, com variações de 50% no tempo total, causam variações de 32% no custo do frete; • nas rotas longas, essas variações representam 7,5% no custo do frete; • nas rotas médias, há redução de 50% nesse tempo, o que resulta na redução de R$ 75,00, isto é, 13,05% sobre o custo do frete. Resumidamente, em uma situação com 1.500 viagens por mês em rotas padrão (500 km) seriam economizados em um ano R$ 1.350.000,00 com a coordenação melhor de carga e descarga em suas operações. 0% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%15% 25% 35% 45% 55% 65% 75% 85% 95% Rota curtaRota curta Rota médiaRota média Rota longaRota longa Redução(%) - Tempo de carga e descarga Re du çã o( % ) - c us to d o fr et e Figura 59 Adaptada de: Fleury (2014). Participação dos tipos de custo Serão analisados os diversos custos, o que envolve sua proporcionalidade, seu percentual e a totalidade dos custos, considerando as rotas de todos os tamanhos: curtas, médias e longas. Entre os tipos de custos, serão considerados: • custos fixos; • custos variáveis; • despesas administrativas; • custos de carregamento; • custos de descarregamento. 224 Unidade III Analisando a figura a seguir, percebemos que o custo variável cresce, a uma taxa em declínio, ao passo que são criadas rotas cada vez maiores. Assim, os valores maiores impactam as rotas de menor percurso, porque quanto maior for a distância, maior será o impacto do custo variável sobre o custo total. Em contraponto, quanto maior for a proporção entre o tempo de carga e descarga e o tempo para executar o percurso, como ocorre em rotas curtas, o custo de carga e descarga ficará mais representativo. 100 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 300 500 Distância das rotas (km) Custos variáveis Custos diretos de carga e descarga Demais custos fixos diretos e indiretos Pe rc en tu al 700 900200 400 600 800 1000 Figura 60 Adaptada de: Fleury (2014). Para viabilizar essas oportunidades, é necessária uma nova rodada de negociação com todos os membros participantes da atividade. Gibson (1993) salienta que, ao mudar a negociação baseada no poder de barganha para esse modelo, cuja negociação foca na racionalidade e na análise compartilhada de custos, preços e lucros de cada uma das partes, diminuindo o antagonismo em prol da cooperação, todos serão beneficiados. Os benefícios do transportador, em especial, serão ainda discutidos neste livro-texto. Margem dos parceiros A busca de incremento de produtividade de seu capital fixo faz com que as empresas procurem parcerias a fim de aumentar o volume de fretes. A medida utilizada como indicador financeiro é o retorno sobre o investimento (RSI), que compreende a divisão do lucro líquido pelo valor do investimento. RSI = lucro líquido/investimento ou RSI = (lucro líquido/receita) x (receita/investimento) 225 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA A fórmula anterior é o produto de duas razões; a margem de lucro (mark-up) e o giro de capital (grau de utilização do investimento). Por isso, de acordo com Christopher (2010), a maioria prefere dar mais atenção no preço do frete do que ao nível de utilização da frota, que envolve as parcerias para a adoção de margens mais baixas com o ganho no maior volume de viagens. Observe a figura a seguir, com retorno sobre o investimento como função dos níveis de serviços ao cliente, eficiência do transporte e grau de utilização da frota. Lucro líquido RSI InvestimentoAtivos fixos Custo de frete Receita de fretes Serviço ao cliente Eficiência logística Grau de utilização da frota (/) (-) Figura 61 Adaptada de: Fleury (2014). Na figura a seguir, fica demonstrado o comportamento da margem em relação ao número anual de viagens em rota padrão, já analisada anteriormente neste texto, com retorno de 12% a.a. (ao ano) sobre investimento. Para simplificar o cálculo do RSI, esse retorno de 12% a.a. antes do custo de capital, de praxe na indústria brasileira, observe o mark-up como função do grau de utilização da frota (RSI – 12% a.a.). 0% 2% 100 300 500 800 900 1100 1300200 M ar k- up (% ) 400 600 700 1000 1200 1400 1500 4% 6% 8% 10% 12% 14% 16% 18% 20% Figura 62 Adaptada de: Fleury (2014). 226 Unidade III Saiba mais Para aprender um pouco mais sobre os custos de transportes na indústria alimentícia, leia: OLIVEIRA, E. C. Logística e gestão do transporte: a influência do transporte no custo logístico de uma indústria de rações. Núcleo do Conhecimento, nov. 2018. Disponível em: https://bit.ly/3gdJjhP. Acesso em: 8 jun. 2021. 7.3 Indicadores de desempenho – visão geral As melhorias de resultados são possíveis, o que é feito através de medições de desempenho dos processos, e elas devem ser apresentadas por meio de indicadores de desempenho. Estes, por sua vez, são indicadores numéricos que apontam tendências de comportamentos de resultados dos processos avaliados. Eles também são conhecidos por indicadores-chave de desempenho, em inglês, key performance indicator (KPI). Os indicadores de desempenho servem o propósito de explicar e esclarecer uma situação em relação aos resultados de processos, tais como tempo de entrega, nível de não conformidades, relação entre gastos e resultados decorrentes, entre outros. Na área de logística, são necessárias a composição e a geração de indicadores de desempenho logísticos visando à orientação das decisões dos gestores da área. Os indicadores logísticos abrangem uma centena de possibilidades de resultados operacionais e estratégicos, sendo voltados para as atividades de transportes, armazenagem e movimentação, administração de materiais e de estoques. Eles foram muito utilizados no Japão, a partir da década de 1950, quando Edward Deming e sua equipe de engenheiros japoneses participaram do projeto de implantação de programas de qualidade nos processos de fabricação japoneses, como parte do Plano Marshall, visando à reconstrução do Japão pós-guerra; o intuito era melhorar a qualidade dos processos e produtos japoneses. O movimento de equiparação dos excelentes resultados dos produtos japoneses, na década de 1970, pelos empresários ocidentais, resultou no surgimento da filosofia denominada qualidade total, a partir da década de 1980. Os indicadores de desempenho transformam os objetivos empresariais em resultados parametrizáveis e comparáveis com diversos padrões de desempenho desejados. Com esses parâmetros as pessoas, equipes, áreas e divisões podem tomar conhecimento, acompanhar os resultados e ajustá-los, visando ao alcance de metas, objetivos operacionais e objetivos estratégicos da empresa. Internacionalmente, os indicadores assumem a denominação de KPIs, apesar de os KPIs serem métricas especiais que refletem os resultados de processos-chave e estratégicos da empresa, representando as atividades essenciais do negócio. 227 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA Sobre os KPIs, diferentemente de outros indicadores de desempenho, pode-se afirmar que eles têm como características: • refletem os drivers ou direcionadores estratégicos dos processos-chave do negócio; • são elaborados mediante instruções e necessidades detectadas junto aos principais executivos de empresas; • devem ser desdobrados em indicadores, espalhados por toda a empresa, em todos os seus níveis hierárquicos; • seguem padrões corporativos e são unificáveis, nível a nível, seguindo um nível hierárquico; • as suas medições e posições geradas são baseadas em dados válidos, confiáveis e com a máxima acuracidade; • são fáceis de serem medidos e possuemsimples compreensão; • seus impactos e sua abrangência são sempre relevantes para o colaborador, para o processo, para a área e para a corporação; • atendem a um contexto estratégico crucial, que envolve metas, objetivos estratégicos, processos de benchmarking, entre outras especificações; • proporcionam informação e clareza, aumentando o poder de decisão de todos os colaboradores, em todos os níveis, gerando empowerment; • são elaborados e medidos num contexto de necessidades coletivas e organizacionais, nunca de forma isolada e individual. 7.3.1 Indicadores de desempenho logísticos Um sistema de indicadores de desempenho consiste em um conjunto organizado de indicadores de desempenho para atender às necessidades da organização nos níveis estratégicos, táticos e operacionais, considerando os aspectos dos processos no que tange a sua eficiência, eficácia e flexibilidade. Existem preocupações em estabelecer metas de desempenho, medir e acompanhar e gerar indicadores de desempenho referentes aos resultados básicos de quaisquer operações, como custo, qualidade, rapidez, flexibilidade e confiabilidade. Como se pode observar, as dimensões são inúmeras e o atendimento de algumas não elimina a busca pelo monitoramento de outras. O ideal seria considerar todas elas simultaneamente, o que aumenta a complexidade do planejamento e a elaboração de um sistema de indicadores de desempenho completo para a sua operação. 228 Unidade III Existem diversos estudos de como estabelecer as bases para a estruturação e elaboração do conjunto de indicadores para uma operação. Pode-se partir de uma estrutura muito básica, simples e bem equilibrada e, depois, acrescentar os detalhes e indicadores específicos e direcionados a aspectos específicos de sua operação. Pode-se partir de categorias básicas, como: • Indicadores de entrada (inputs): relativos aos recursos obtidos de fornecedores externos ou externos, para viabilizar o funcionamento do processo ou serem transformados em produtos ou serviços pelo processo. Numa aplicação logística, referem-se à contratação e utilização de espaço físico. Abrangem equipamentos, veículos, contratação de colaboradores, aquisição e recepção de materiais e serviços de terceiros. • Indicadores de processamento (processo): referem-se aos processos e às atividades que vão transformar os insumos em produtos, processos que realizarão os trabalhos necessários para o funcionamento da área. Na logística, seriam os indicadores de eficiência e eficácia, na condução dos processos logísticos relativos a roteirização, eficiência na separação e expedição de produtos e atividades de movimentação de materiais da melhor forma possível. • Indicadores de resultados (outputs): específicos da eficácia dos processos, ou seja, o grau de alcance dos objetivos e atingimento das metas estabelecidas como resultados esperados para determinado período. Compreendem o monitoramento de danos ou avarias dos produtos, durante a movimentação interna ou transporte externo, acuracidade na geração de faturas, documentações fiscais e de despacho de mercadorias. Existem, também, categorias gerais de indicadores, que podem ser aplicados em quaisquer áreas da empresa, inclusive na área de logística. • Indicadores de custos: gastos e despesas referentes ao funcionamento da operação, os quais abrangem os seguintes aspectos: — o custo de transporte; — movimentação e armazenagem de materiais; — estoques; — logística reversa; — obsolescência de estoques de insumos e produtos acabados etc. • Indicadores de qualidade: trata-se do monitoramento dos resultados dos processos e atividades, em comparação com o que foi planejado ou especificado, de acordo com as expectativas dos usuários internos e dos clientes externos. Observe alguns exemplos: 229 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA — o nível de acuracidade na conferência de materiais recebidos; — a produtividade na carga e na descarga; — o cumprimento dos prazos de entrega; — a otimização da capacidade dos caminhões, pela distribuição da carga, entre outros. • Indicadores de serviços: acompanhamento e monitoramento da performance dos processos, em termos de valores entregues aos usuários, diante dos resultados finais. Como exemplos logísticos, pode-se citar: — acuracidade do inventário; — percentual de pedidos completos. Observação As decisões têm de ser mais rápidas e com maior qualidade, tendo os seus efeitos avaliados com maior precisão. Os gestores precisam ser muito cautelosos quanto aos dados, informações e indicadores que os subsidiam, bem como na avaliação dos impactos sistêmicos causados no desempenho da organização e do negócio como um todo. Indicadores de compras e gestão de fornecedores Mais específicos para a área de logística, existem indicadores específicos para medir o desempenho das atividades e dos processos dessa importante área. Os indicadores de desempenho em compras são KPIs elaborados para monitorar o departamento de suprimentos. Observe alguns deles a seguir: • Custo dos suprimentos: na cadeia de suprimentos, o principal custo é o dos próprios materiais que circulam nesse processo. Vale acompanhar a proporção de valor que é aplicado na aquisição dos insumos em relação ao valor do seu preço de venda como produto final. É uma proporção importante que envolve o valor total de vendas e o valor total de compras. • Saving: compreende o ganho financeiro obtido na aquisição de insumos. É o quanto de economia que foi possível atingir em uma aquisição através da comparação com as demais cotações efetuadas. Assim, verifica-se a eficácia do processo de compras da empresa e as suas contribuições para seus resultados financeiros. 230 Unidade III • Prazo médio para pagamentos: trata-se da busca pelo equilíbrio e melhor gestão do fluxo de caixa e do capital de giro da empresa. Deve-se verificar a diferença entre os prazos de pagamentos em comparação com os prazos de recebimento das vendas. Quanto maior for a vantagem em prazo de pagamento, melhor será a folga de caixa na gestão financeira da empresa. Bom relacionamento e negociações assertivas com os fornecedores são imprescindíveis para a operação. • Tempo de ciclo (lead-time): deve ser considerado o prazo de tempo necessário para se efetivar uma compra, a partir da data de uma requisição de compra, enviada por um setor da empresa. Mede quanto tempo o processo de compra necessita para atender a uma requisição. • Evolução dos preços: traz uma análise histórica da variação de preços de determinado item, definindo os tipos de oscilações de preços, pelos mais diversos motivos, destacando-se a identificação de sazonalidade de demanda do produto. Esse acompanhamento é importante para direcionar e antecipar compras em períodos mais favoráveis e de menor procura. • Desempenho em entregas: esse KPI permite a avaliação do nível e consistência das entregas pelos fornecedores da empresa. Serve para medir a qualidade do processo de qualificação e relacionamento com os fornecedores contínuos da organização. São controlados os índices de atrasos, as avarias e os defeitos nos itens e as taxas de devolução de itens com inconformidades. Indicadores de serviços ao cliente Estes KPIs permitem o monitoramento e a avaliação dos resultados de desempenho dos processos logísticos do seu início até o seu final. Depois, os resultados são entregues aos clientes. Trata-se da performance dos serviços logísticos e resumem os acompanhamentos, atividade a atividade, processo a processo, que são realizados cotidianamente, entre eles: • Pedido perfeito: mede-se o volume de pedidos que lograram êxito, ou melhor, que foram cumpridos em prazo, qualidade e rapidez, sendo entregues aos clientes de forma completa, sem intercorrências ou quaisquer avarias. • Entregas realizadas no prazo: acompanhamento do percentual de entregas que foram realizadas no prazo, em comparação com o volume total de entregas em determinado período. • Nível de atendimento do pedido:verificação do percentual de atendimento de pedidos de forma completa na primeira oportunidade, levando-se em conta a quantidade, a qualidade e a diversidade de itens solicitados. • Tempo de ciclo do pedido (lead-time): medição do tempo transcorrido entre o recebimento do pedido do cliente e a data da efetiva entrega dos produtos ao cliente solicitante. • Disponibilidade de estoque: avaliação da capacidade dos estoques em atender às solicitações de abastecimento e às necessidades das demandas. 231 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA • Incidências de ocorrências: os eventos que identificam incidências de não conformidades nos processos logísticos devem ser quantificados, quaisquer que sejam: extravios, trocas, devoluções, inconformidades de qualidade, devoluções de clientes, entre outras. Este indicador apresentará as ocorrências, a periodicidade e os intervalos de tempo entre uma ocorrência e outra. • Índice de cargas rastreáveis: avaliação do grau de automação dos processos de distribuição, bem como da confiabilidade das atividades. Mede-se o volume de cargas transportadas, que contam com dispositivos de rastreabilidade em comparação ao total de cargas expedidas e transportadas. • Nível médio do estoque: num determinado período de tempo, mede-se o volume médio de itens armazenados no estoque, considerando-se uma categoria ou determinado item de estoque. • Precisão de inventário: avalia a eficácia na gestão dos estoques, mediante a realização do inventário físico, em comparação aos registros contábeis e aos dados constantes nos controles dos sistemas de informação. Quanto mais próximos estiverem os dados e posições, mais eficiente será o controle de estoque. Saiba mais Leia: TELES, C. D. et al. Avaliação dos custos logísticos em duas empresas do setor alimentício. In: SEMANA DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E TRANSPORTES, 5., Porto Alegre, 2005. Anais eletrônicos [...]. Porto Alegre: UFRGS, 2005. Disponível em: https://bit.ly/3prXKmC. Acesso em: 8 jun. 2021. 8 TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO APLICADA À LOGISTICA E NOVOS DESAFIOS 8.1 Sistemas de informações logísticas Nos últimos anos, o desenvolvimento e a evolução cada vez mais rápidos da informática e telecomunicações levaram as organizações a aprimorarem suas operações para patamares nunca antes pensados ou desejados devido à evolução dos dispositivos, programas e redes. Nos dias de hoje, a tecnologia da informação (TI) atende, além da informatização, a comunicação, contribuindo para redução de custos e despontando como uma importante ferramenta a fim de alcançar ou gerar a vantagem competitiva para as empresas. Encontram-se diversos exemplos de companhias na literatura de negócios. Segundo informações da revista Business Week, em 1998, apud Fleury, 2014, a empresa fabricante de microcomputadores norte-americana Dell Computer conseguiu em apenas um ano o incremento de faturamento de US$ 12,3 bilhões, representando um crescimento de 60% no período, sendo o lucro de quase 1 bilhão de dólares considerado o melhor desempenho no setor de tecnologia da informação. 232 Unidade III O Walmart administra suas atividades, todas fortemente baseadas em TI, em suas 3.000 lojas nos Estados Unidos, com 5.000 fornecedores em todo o planeta. No Brasil, com uma frota de 900 veículos, a Souza Cruz, com o objetivo de atender a 200 mil clientes para superar esse desafio logístico, conta com um roteirizador, que é um software, um sistema informatizado, que auxilia no cálculo da melhor rota a cada entrega, atingindo a eficiência de 99% com uma média diária de 43 entregas. Isso demonstra como a TI, formada por programas e pelo uso de equipamentos, tem seu destaque inegável para o desenvolvimento da logística. Neste texto, devido à abrangência referente ao uso de TI, serão evidenciados somente tópicos relativos ao uso de tecnologias da informação, softwares, isto é, sistemas de informação. Os ERP, do inglês Enterprise Resource Planning – Sistemas de Gestão Empresarial, são a bola da vez quando o assunto é a adoção de TI em organizações. Atualmente, a implantação deles está disponível para companhias de todos os tamanhos e disponibilidades financeiras para investimentos, tirando a exclusividade das grandes empresas, adquirentes prioritárias de tal tecnologia. São alinhados a um tratamento das informações com iguais língua e tipo de banco de dados, objetivando e possibilitando uma gestão integrada. O resultado prático é a obtenção de relatórios gerenciais padronizados e sem informações conflitantes. 8.1.1 O papel da informação na logística Como um elemento de destaque e importância no contexto, encontra-se um elenco quase infinito de aspectos a serem considerados, como passível de aplicação e racionalização, pela TI, com um fluxo de informação, representado, em sua forma mais comum, pelas informações logísticas, tais como: • pedidos de clientes; • solicitações de ressuprimento; • controles e necessidades de estoque; • movimentações nos armazéns; • documentações de transporte; • faturas; • emissões de documentos legais, entre outros. O fluxo de informações, antes feito principalmente de modo manual e em papel, planilhas, relatórios e anotações, resultando em transferência de informações demorada, não confiável e com grande probabilidade de erros, foi substituído por tecnologias informatizadas, de uso amigável 233 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA e a custos decrescentes, proporcionando o acesso eletrônico em qualquer local. A infraestrutura disponível tem meios para viabilizar as transações, ou seja, coletar, armazenar, transferir e processar dados com muita acuracidade. O processamento eletrônico de informações, através de sua melhor administração, demonstrou-se uma alternativa de redução de custos logísticos e possibilitou a disponibilização de maior quantidade de informações aos clientes, proporcionando grande aperfeiçoamento e elevação do nível de serviço. Como a logística normalmente é concentrada no caminho eficiente de materiais, bens e mercadorias, ao longo do canal de distribuição, não tratando devidamente o fluxo de informações, não se entendia a real importância deste, limitando a velocidade de troca e transferência de informações, que transitavam manualmente em papel. Hoje em dia, justifica-se a relevância de informações com acuracidade e em just in time, em tempo, em sistemas logísticos aceitáveis, para atender com a velocidade e precisão exigidas pelas operações. Os elementos necessários para o serviço total ao cliente e por ele percebidos configuram-se em: • informações sobre status do pedido; • disponibilidade de produtos; • programação de entregas e faturamento, entre outros. A redução das necessidades de armazenagem e de recursos humanos, com metas de redução do estoque total na cadeia de suprimentos, em grande proporção, levou os executivos a perceberem que a informação, eletronicamente tratada, torna-se uma ferramenta eficaz a ser aplicada, em especial, no planejamento de carências, que, baseadas em informações recentes e atualizadas, possibilitam, com a devida segurança e confiança, a redução de estoques, otimizando acertos e maximizando certezas quanto à demanda. A informação permite perceber: qual, quanto, como, quando e onde são necessários os recursos através da informação eletrônica, atualizada e confiável por meio de acesso praticamente instantâneo. Ela possui a capacidade de flexibilizar os recursos a serem aplicados para obtenção de vantagens estratégicas. Em Fleury (2014), existe um exemplo de posicionamento estratégico, baseado em TI. Trata-se por exemplo das empresas especializadas em entrega expressa. Em 1973, a Fedex, pioneira no oferecimento de serviço de entrega, com prazo de 24 horas, nos EUA, e com investimentos elevados em TI, ao final dos anos 1980, passa a ter controle de todo o ciclo do pedido do cliente, com total rastreabilidade. Atualmente, ela processa 63 milhões de transações por dia, equivalendo a 3 milhões de unidades entregues.
Compartilhar