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Grivot, AINDA É IMPORTANTE ROMANO-26-28 - Direito Romano

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Revista Atitude Edição Especial Direito · Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre · Ano X - No 21 - agosto a dezembro de 2016 5150 AINDA É IMPORTANTE ESTUDAR DIREITO ROMANO?
AINDA É IMPORTANTE ESTUDAR DIREITO 
ROMANO?
Débora Grivot1
RESUMO
Este trabalho tem o propósito de investigar a contínua oportunidade do 
estudo do Direito Romano na formação jurídica. A atualidade está marca-
da pela influência do utilitarismo proveniente de épocas anteriores, que 
mesmo superado, ainda redunda na validação dos argumentos somente 
se estes corresponderem satisfatoriamente ao ‘para que serve?’ que 
possam estar submetidos. Isso também vale para a formação do bacharel 
em Direito, máxime diante das recorrentes reformas curriculares dos 
cursos superiores em Direito, que alinham ‘formação e mercado’ numa 
conjugação particular e própria dos novos tempos. Não só isso, além das 
exigências mercadológicas na seara do ensino, há também a avalanche 
das novas tecnologias que trazem consigo uma pecha do descarte do que 
é antigo, como ultrapassado. Porém, com o fito de apontar por que ainda é 
importante estudar Direito Romano, este trabalho pretende elencar alguns 
fundamentos desta importância.
PALAVRAS-CHAVE: Direito Romano. Formação Jurídica. História do Direito
ABSTRACT
This paper has the purpose of investigating the continuous opportunity of 
the study of Roman Law in juridical formation. The actuality is marked by 
the influence of utilitarianism from previous times, which even surpasses, 
still results in the validation of the arguments only if they correspond sa-
tisfactorily to the ‘for what purpose?’ that they may be submitted. This also 
applies to the formation of a bachelor’s degree in law, especially in view of 
the recurrent curricular reforms of higher law courses, which align ‘forma-
tion and job market’ in a particular combination of the new times. Not only 
that, in addition to the marketing demands in the field of education, there 
is also the avalanche of new technologies that bring with them a chunk of 
discarding what is old, as outdated. However, in order to point out why it is 
still important to study Roman law, this paper goals to list some foundations 
of this importance.
KEYWORDS: Roman law. Legal Training. History of Law.
Seria estranho perguntar para um estudante de engenharia como conseguiu concluir o curso 
sem ter se dedicado à disciplina de cálculo. Seria mais estranho perguntar para um estudante de 
1 Professora de Direito Romano e História do Direito na Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre. Professora de Direito Romano e História 
do Direito nas Faculdades Integradas São Judas Tadeu de Porto Alegre. Doutora em Direito (UFRGS), mestre em Direito (UFRGS).
medicina como conseguiu concluir a sua formação sem ter tido no curso a disciplina de anatomia 
e morfologia. Paradoxalmente, não causa mais estranheza saber que muitos estudantes de Di-
reito concluem a formação sem conhecer as disciplinas de História do Direito e Direito Romano. 
Porém, estes breves apontamentos pretender incentivar a observação da historicidade do fe-
nômeno jurídico, e demonstrar que o estudo do Direito Romano ainda é oportuno. Assim, pode-se 
apontar quatro perspectivas da importância de estudar Direito Romano ainda hoje: 1) Alto valor 
formativo; 2) A perfeição técnico-jurídica; 3) Interesse prático e 4) Aspecto histórico2. Todas estas 
perspectivas se afirmam como instrumentos de educação jurídica, e por isso, imprescindível para 
a formação do estudante de Direito.
O referido ‘alto valor formativo’ pode imbuir o estudante de um espírito de justiça que tiveram 
os romanos, máxime quando propugnavam a ânsia de honeste vivere, alterum non laedere e suum 
cuique tribuere (viver honestamente, não lesar a outrem, dar a cada um o que é seu) expressões 
romanas apresentadas no Digesto de Justiniano3. Este alto valor formativo se espelha na liberdade 
e independência perante a lei, prestigiando o valor da iurisprudentia4 para a formação do direi-
to5. Além disso, serve também o Direito Romano como suporte para uma firmeza de princípios 
perante as transformações da vida jurídica atual que atravessa uma crise muito parecida aquela 
vivida no mundo romano. Foi na época clássica6 que as relações econômicas deflagram-se como 
manifestação preliminar daquilo que viria a ser a “globalização” da época. O comércio, até então 
quase inexistente numa sociedade agrícola, irrompe com a integração de outros povos que em 
Roma encontravam o seu pólo econômico, trazendo consigo os seus hábitos comerciais7. Por isso o 
2 CRUZ, Sebastião. Direito Romano. Coimbra: Livraria Almedina, 1969, p. 117. Sebastião Cruz apresenta razões da utilidade do estudo 
do Direito romano, elaboradas com base no documento decorrente de um inquérito realizado com mais de 400 juristas de todo o mundo, 
questionados sobre esta oportunidade de tal ensino, publicado na revista Labeo em 1956 em forma de separata.
3 D.1.1.10.1 (Ulpianus) Iuris praecepta sunt haec: honeste vivere, alterum non laedere, suum cuique tribuere. D.1.1.1.0.1 (Ulpiano) Os 
preceitos de direito são estes: viver honestamente, não lesar outrem, dar a cada um o que é seu. DIGESTO DE JUSTINIANO, Livro I, Tradução 
de Hélcio Maciel França Madeira, 2ª Ed., São Paulo: Editora revista dos Tribunais, 2000, p. 19.
4 D.1.1.10.2 (Ulpianus) Iuris prudentia est divinarum atque humanarum rerum notitia, iusti atque iniusti scientia. D.1.1.10.2 (Ulpiano) 
Jurisprudência é o conhecimento das coisas divinas e humanas, a ciência do justo e do injusto. DIGESTO DE JUSTINIANO, Livro I, Tradução 
de Hélcio Maciel França Madeira, 2ª Ed., São Paulo: Editora revista dos Tribunais, 2000, pg. 19. O importante é frisar que o sentido de ju-
risprudência aqui colocado não é necessariamente aquele entendido nos dias atuais como decisões reiteradas dos Tribunais. Conforme os 
ensinamentos de José Carlos Moreira Alves: “Iurispudentia (jurisprudência) significa ciência do direito (prudentia = ciência; iuris = direito).Os 
jurisconsultos, que em Roma desfrutaram de imenso prestigio, exerceram acentuada influencia sobre o desenvolvimento do direito romano, 
graças, principalmente, a três aspectos de sua atividade: agere, cavere, respondere. Cavere é a expressão técnica que indica a atuação do 
jurista no formular e redigir os negócios jurídicos, para evitar prejuízo á parte interessada, por inobservância de formalidades; agere é a 
atividade – no que concerne ao processo – semelhante á desenvolvida no cavere; e respondere diz respeito aos pareceres dos jurisconsul-
tos sobre questões de direito controvertidas. ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2007, pg. 41.
5 A palavra direito, segundo as lições de Sebastião Cruz, é composta da partícula “de” que exprime intensidade (muito) e “Rectum” que 
significa algo não oblíquo, não torto. Assim, derectum significa algo que está muito reto, que não se inclina nem para a direita nem para 
a esquerda. O fiel da balança precisamente no meio, e os pratos da balança “retamente” alinhados. Os gregos utilizavam como símbolo a 
“Dikè”, deusa grega da justiça. Já para os romanos cumpria esta função a “Iustitia”, a deusa romana da justiça. Falando sobre símbolos, 
observa-se que nas suas imagens que a Dikè tem os olhos abertos para ver bem, com uma espada na mão direita e na esquerda uma ba-
lança. A Iustitia não tem espada, segura a balança com as duas mãos e está de olhos vendados para ouvir bem, representando um direito 
oral como o direito romano. CRUZ, Sebastião, Direito Romano. Coimbra: Livraria Almedina, 1969, pg. 28.
6 A questão da divisão das fases históricas de Roma não é unânime, varia conforme o historiador e conforme o ponto de vista escolhido 
por ele. Silvio Meira expõe esta circunstância e aponta os mais diversos autores e suas classificações. A classificação mais abrangente 
apontada pelo romanista é entre Historia Externa e História Interna. É dentro da divisão da História Interna que está o período clássico do 
DireitoRomano, porque este se divide da seguinte forma: período pré-clássico, clássico e pós-clássico. Para uma noção do que se trata o 
período clássico, vejamos o que nos ensina o jurista: “O chamado período do direito antigo ou pré-clássico termina, segundo muitos autores, 
com a Lei Ebúcia (149 a 126 a.C.). Esta lei, que deu início à transformação do direito adjetivo, constituiu um marco importante entre duas 
épocas. Alguns querem que o direito pré-clássico vá até Cícero. Com este se iniciaria a idade clássica, que estenderia até Diocleciano (284 
da era Cristã). Diversos escritores preferem conceituar mais restritamente o período clássico, identificando-o com o Principado (de 27 
a.C. com Augusto até 284 d.C. com Diocleciano), pois nesses três primeiros séculos é que surgiram os maiores jurisconsultos romanos, 
cujos trabalhos, embora em grande parte desaparecidos, ainda subsistem em fragmentos no Digesto. São três séculos de ouro do Direito 
Romano, em que viveram Sabino (Masúrio), Gaio Cássio Longino, Nerva Pai, Gaio, Celso, Pompônio, Ulpiano, Paulo, Papiniano, Modestino.” 
MEIRA, Silvio. História e Fontes do Direito Romano. São Paulo: Saraiva, 1966, pg. 24.
7 IGLESIAS, Juan. Derecho Romano. 12ª ed. Barcelona: Ariel, 1999, pg. 231: “Ciertamente, la aplicación de los juristas al servicio del 
comercio logra para éste una reglamentación tan variada como sutil, en justa respuesta a demandas sociales sucesivamente acrecidas. 
La lógica, hermanada con la intuición, no menos que con las exigencias de la buena fe y de la justicia timbrada por la equidad, despliega 
Revista Atitude Edição Especial Direito · Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre · Ano X - No 21 - agosto a dezembro de 2016 5352 AINDA É IMPORTANTE ESTUDAR DIREITO ROMANO?
direito das gentes8, comum a todas as nações, tem o seu valor em Roma, e o Pretor contribui para 
avigorar a invenção do direito. O conhecimento deste caráter universal do Direito Romano pode 
ser muito útil para o jurista moderno vive na era da globalização e do direito de ‘todas as gentes’9.
Ainda em relação ao seu alto valor normativo, o Direito Romano também auxilia na percepção 
do casuísmo científico, no qual o jurista deve saber, não apenas interpretar e aplicar as normas aos 
casos concretos, mas deve sobretudo estar habilitado na sutileza de criar uma norma adequada 
para um caso especial e não previsto nas normas já existentes10.
Da mesma forma, também a perfeição técnico-jurídica faz a importância do estudo do Direito 
Romano, isso porque a ciência do direito nasceu com os romanos, porque estes criaram prin-
cípios que são perenemente válidos. Foram os romanos que fizeram do direito uma verdadeira 
‘ciência’, já que elaboraram certos princípios vigentes até a atualidade, e que resultaram de uma 
experiência de treze séculos, do trabalho de homens dotados de uma excepcional intuição para 
as coisas do direito, formulando conceitos que consagraram a terminologia jurídica e que nunca 
mais desapareceram. Por isso, no pensamento de Sebastião Cruz, ‘o Ius Romanum não é um 
direito morto, nem sequer um simples pressuposto das atuais instituições. É mais, muito mais. 
É um direito vivente. É um modelo para todo aquele que tem a missão de criar, de interpretar ou 
de aplicar o direito’11. Quando o autor refere à perfeição técnico-jurídica proveniente do estudo 
do Direito Romano, quer sem dúvida frisar a origem latina do direito atual, principalmente na 
sua perspectiva linguística, já que muitos institutos que sustentam o ordenamento jurídico são 
alicerçados na terminologia romana.12
los más finos y asegurados recursos en pro de un tráfico económico-jurídico en aumento constante”. 
8 Segundo o Digesto de Justiniano: D.1.1.1.4 Ius gentium est, quo gentes humanae utuntur. Quod a naturali recedere facile intellegere licet, 
quia illud omnibus animalibus, hpc solis hominibus inter se commune sit. D.1.1.1.4 O direito das gentes é aquel do qual os povos humanos 
se utilizam. O que permite facilmente entender que ele se distancia do natural, porque aquele é comum a todos os animais e este é comum 
somente aos homens entre si. DIGESTO DE JUSTINIANO, Livro I, Tradução de Hélcio Maciel França Madeira, 2ª Ed., São Paulo: Editora revista 
dos Tribunais, 2000, pg. 16. Já Gaio, nas suas Institutas, descreve: Gaio 1.1: Todos os povos que são regidos por leis e costumes usam um 
direito que, em parte, lhes é próprio e, em parte, é comum a todos os homens, pois o direito que cada povo promulga para si mesmo, esse lhe 
é próprio e se chama ius civile, direito inerente à própria cidade, mas o dirieto que a razão natural constituiu entre todos os homens e entre 
todos os povos que o observam, chama-se ius gentium, como se disséssemos o direito que os povos usam. Assim, também o povo romano 
usa um direito que , em parte, lhe é próprio e, em parte, comum a todos os homens. INSTITUTAS DO JURISCONSULTO GAIO, tradução de 
J.Cretella Jr e Agnes Cretella, São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2004, pg. 37. Além disso, vale a lição de Juan Iglesias: “El ius gentium 
es derecho positivo romano, pero no exclusivista o personalista, sino llamado a regir entre romanos y entre romanos y extranjeros. Fruto, de 
una parte, del remozamiento y vigorización del sistema tradicional, representa, de otra, la acogida de algunos principios jurídicos extraños, 
que son injertados en el viejo tronco con sutileza de visión romana. El ius Pentium es ius civile, un ius civile abierto y progresivo, despojado 
de su condicionalidad nacional, limado y atemperado a nuevos modos, en los que triunfa el principio de la libre forma contractual, frente a 
la angostura y rigidez de los viejos moldes. Su nervio está constituido por negocios que surgidos en la actuación del comercio internacional, 
dan lugar a bonae fidei iudicia.” IGLESIAS, Juan, . Derecho Romano, 12ª ed. Barcelona: Ariel, 1999, pg. 64.
9 Uma importante obra sobre o ius gentium é aquela de Max Kaser, na qual examina o seu significado histórico, suas classes, suas diversas 
interferências na vida privada e no direito privado, sendo inclusive apoio ou suporte para compreensão de um direito internacional atual. 
Veja KASER, Max. Ius Gentium. Traducción de Francisco Javier Andrés Santos, Granada, Editorial Comares, 2004.
10 CRUZ, Sebastião. Direito Romano. Coimbra: Livraria Almedina, 1969, pg. 118. Outra interessante posição sobre a sutileza de criar 
norma no caso concreto pose ser observada no texto de H.L.A. Hart: “A textura aberta do direito significa que existem, de fato, áreas do 
comportamento nas quais muita coisa deve ser decidida por autoridades administrativas ou judiciais que busquem obter, em função das 
circunstancias, um equilíbrio entre interesses conflitantes, cujo peso varia de caso para caso. (...) Nisso, à margem das normas e nos espaços 
deixados em aberto pela teoria dos precedentes, os tribunais desempenham uma função normativa que os órgãos administrativos também 
desempenham nuclearmente, ao elaborar padrões variáveis.Em um sistema no qual o princípio do stare decisis seja firmemente reconhe-
cido, essa função dos tribunais se assemelha muito ao exercício, por parte de um órgão administrativo, de poderes normativos delegados. 
Na Inglaterra esse fato é muitas vezes obscurecido pelo formalismo verbal, pois os tribunais freqüentemente desmentem essa função 
criadora e insistem em que a função adequada da interpretação jurídica e do uso do precedente são, respectivamente, buscar a ‘intenção 
do legislador’ e fazer referência ao direito já existente.” HART, H.L.A. O Conceito de Direito. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2009, pg. 176.
11 CRUZ, Sebastião. Direito Romano. Coimbra: Livraria Almedina, 1969, pg. 118.
12 DONATO, Hernani. A palavra escrita e a sua história. 2ª ed., São Paulo: Edições Melhoramentos, 1951, pg. 90. Segundo este autor, sob 
a perspectiva jurídica o latim pode se perpetuar. Assevera o autor: “Um caso miraculoso – Eis o caso único e milagroso de uma língua 
oficialmente dada por morta e que todavia vive prodigiosamenteimperante naquilo que os homens possuem de mais forte e de mais vivo: a 
Religião, a Lei, a Ciência. Sobre essa vida de uma língua oficialmente considerada porta, definiu-se muito bem o estudioso Paulo Savj-Lopez, 
pela forma seguinte: o latim vive ainda hoje uma vida férvida e fecunda nas línguas neolatinas. Aquele maravilhoso poder vital, em virtude 
do qual as leis do direito romano continuam ainda hoje em grande parte das legislações modernas, é o mesmo que faz a língua romana 
perpetuar-se com sempre renovada energia numa vasta superfície da Terra. Os idiomas neolatinos, na sua múltipla variedade, podem ser 
Além disso, também é muito oportuno o estudo do Direito Romano pelo seu interesse prático: 
as instituições de hoje são basicamente apoiadas nas instituições romanas, preâmbulo do direito 
civil. Sob este prisma é possível asseverar que algumas das normas atuais são meras transcrições 
ou adaptações de preceitos romanos13; outras chegam às raias de não se compreender bem sem 
a sua análise histórica. Portanto, forma-se melhor aquele que sabe, por exemplo, a origem da 
ob-ligatio, que é mais do que um simples saber histórico, mas prática cotidiana da lide jurídica. 
Ainda, outro exemplo de interesse prático proveniente do estudo romanístico pode ser percebido 
no campo da boa-fé. No Direito Romano, a referência à Fides é tão antiga quanto é a fundação da 
cidade. Tratava-se de uma divindade reconhecida por cives (cidadãos romanos) e por non-cives 
(peregrinos), era invocada na celebração dos negócios. Ela velava pelo cumprimento desses 
negócios, castigando os faltosos e protegendo os cumpridores. Tinha sua sede na palma da mão 
direita, por isso os contraentes davam um aperto das mãos direitas (dexterarum porrectio) para 
imprimir solenidade à promessa. Desaparecido o culto da deusa Fides, ficou o aperto de mãos 
direitas como sinal de confiança mútua. Hoje, para além da herança semântica, fides é também 
bona fides, um dever de conduta de probidade na vida de relação.14
Por fim, um último aspecto apontado como relevante para advogar pelo Direito Romano nos 
dias atuais é o seu aspecto histórico, isto é, um verdadeiro laboratório jurídico porque são treze 
séculos de variadas circunstâncias sociais que demandavam a regulação. Assim, o operador do 
direito pode perceber a historicidade intrínseca do fenômeno jurídico, analisando como as nor-
mas nascem, evoluem reagem às diversas circunstâncias e ao final fenecem no campo jurídico.15
Por tudo isso, já é consenso afirmar que o Direito Romano é o alfabeto e a gramática da lingua-
gem jurídica, e que o seu conhecimento não é apenas preliminar ou introdutório das disciplinas 
modernas, mas é sem dúvida a base sólida onde alicerçar conhecimentos que transformem o 
simples bacharel em ciências jurídica e sociais num jurista. Hoje o estudo dos institutos de Direito 
Romano tem sofrido acentuada indiferença. Isto porque parece muito mais proveitoso ao operador 
do direito moderno acompanhar as novas tecnologias do que dedicar-se a formação intelectual e 
perquirir soluções jurídicas apresentadas pelos antepassados. Quem assim procede, esquece que 
a noção e a consciência da técnica do direito dos antigos servem não apenas para construir uma 
considerados, ou como outras tantas fases atuais do latim, ou como línguas novas, derivadas do latim; o que é certo, entretanto, é que 
substancialmente, o latim continua neles.”
13 Alguns romanistas modernos utilizam esta ferramenta como base para a explicação do direito civil. Tal é a obra de Cretella Jr, Cur-
so de direito romano: o direito romano e o direito civil brasileiro, ou mesmo de Silvio de Salvio Venosa, Direito Civil – Parte Geral, como 
exemplos de muitos outros.
14 Um autor que com maestria se dedicou ao tema, Menezes Cordeiro, referiu “A fides romana constitui a base lingüística e conceitual 
da boa-fé no Direito civil português. O conhecimento profundo da sua natureza primitiva e das linhas subseqüentes de evolução tem um 
interesse insofismável.” CORDEIRO, Antonio Manuel Menezes. Da boa-fé no direito civil. 2 v., Coimbra: Almedina, 1984, p. 53.
15 Um historiador do direito argentino, já escreveu: “El jurista que no se satisface con el conocimiento superficial, descriptivo, de las 
normas, sino que intenta captar su espíritu, penetrar en su intimidad, no puede – por lo tanto – prescindir del estudio histórico, único 
capaz de responder a los interrogantes de esa índole que se nos plantean cada vez que reflexionamos sobre su significado. Cualquiera 
sea el siglo en que esas normas hayan nacido, antiguo o moderno, problemas de interpretación histórica, en mayor o menor número, se 
presentan siempre, y no deben ser evitados. (...) Como he dicho otras veces, ley hoy vigente es sólo un capitulo, un capítulo más, de la his-
toria o la novela de la institución respectiva. Mal podríamos entender ese capítulo si no hubiéramos leído los anteriores, si no supiéramos 
lo que sucedió antes. Mucho de lo que leyéramos ese capítulo carecería de sentido para nosotros, no tendría explicación, por faltamos 
los elementos de juicio, los datos o las claves para interpretarlo. La función de la disciplina historia del Derecho es, precisamente, ésa: 
revelarnos el pasado para permitirnos comprender el presente. Además de auxiliamos en la labor hermenéutica, la historia jurídica, bien 
entendida, es capaz de estimular nuestro espíritu crítico, de impedir que la dogmática degenere en nosotros en un rígido dogmatismo, con 
su pernicioso efecto paralizante de la inteligencia. Ella nos impulsa a relacionar las normas jurídicas, concebidas como enunciados lógicos 
y éticos, con los fenómenos sociales: los principios con los hechos. También, nos hace tomar conciencia de la necesidad de situar la ciencia 
jurídica en la intersección de las coordenadas tiempo y espacio, y de cultivarla en función de ellas. Al ser tan importantes los beneficios 
que brinda, su presencia en los planes de estudio universitarios ha de ser considerada indispensable. LEVAGGI, Abelardo, Historicidad Del 
Derecho, in: Revista IMES Direito, ano II, nº 4, janeiro-junho, 2002, pg. 51-54.
Revista Atitude Edição Especial Direito · Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre · Ano X - No 21 - agosto a dezembro de 2016 5554 AINDA É IMPORTANTE ESTUDAR DIREITO ROMANO?
indissolúvel cultura jurídica, mas também para compreender a prática atual. É no Direito Romano 
que se apoia a ideia de universalidade e principalmente, não é despiciendo frisar veementemente, 
a importância de Roma para a realização de uma história universal. Segundo Rudolf Von Jhering: 
“Tres veces Roma dictó leyes al mundo y sirvió de lazo de unión entre los pueblos: primero por 
la unidad del Estado romano en la plenitud de su poderío; luego por la unidad de la Iglesia a 
la caída del Imperio; finalmente, por la unidad del derecho al ser adoptado el de Roma en la 
Edad Medio. La importancia y misión de Roma en la historia se resume en que representa el 
triunfo de la idea de universalidad sobre el principio de las nacionalidades16.” 
Assim, atinge-se o intuito deste trabalho: a luta contra a aversão ao passado que se alastrada 
pela formação jurídica atual. O esforço em trazer o Direito Romano como modelo do conteúdo 
da norma não é em vão17. Não é uma simples demonstração de que não se trata se necrologia 
jurídica, mas é a defesa de que, sim, o Direito Romano pode ser modelo para o direito atual. 
Portanto, segundo as lições de Jhering, a importância do Direito Romano para o mundo atual 
não consiste só em ter sido por um momento, a fonte e a origem do Direito. Sua autoridade reside 
na profunda revolução interna, na transformação completa que causou em todo o nosso pensa-
mento jurídico, e em ter chegado a ser, assim como o Cristianismo, um elemento da civilização 
moderna.18 
Como o bacharel em Direito poderia prescindir de conhecer a origem do seu objeto de seu 
estudo? O estudante de engenharia não prescinde da disciplina de cálculo; o estudante de medi-
cina não se formasem saber anatomia. Não é possível ceder à terrível aversão à história dentro 
da academia de estudos jurídicos. Por quê? Responde esta indagação a primeira passagem do 
Digesto de Justiniano, na qual Ulpiano refere o jurista Celso para quem o Direito é ars boni et 
aequi19 e sem a qual não há que se compreender o ‘para que serve’ do Direito.
16 IHERING, Rudolf Von, El espíritu del derecho romano, trad. Fernando Vela, Madrid: Marcial Pons, 2005, pg. 29.
17 Muitos historiadores ainda se esforçam em demonstrar a importância da cultura histórica. Em especial citamos a perplexidade 
demonstrada por Ivar Lissner, na sua obra “Assim viviam nossos antepassados”, cuja referência é: “Mas que são uns poucos milênios 
quando computados pelo relógio da eternidade que mede o ritmo do desenvolvimento humano? Tudo quanto fizemos, pensamos e criamos 
baseia-se no vasto alicerce das antigas civilizações. As obras magnificentes da Grécia teriam sido inconcebíveis sem o antigo Oriente, sem 
a Suméria, Babilônia, Assíria e Egito. A vida dos gregos sua grandiosa imaginação e energia criadora irradiaram-se pelo Mediterrâneo 
oriental até a Itália. Somente porque Roma nos transmitiu a cultura grega é que o espírito da Grécia pode espalhar-se por todo o mundo 
ocidental. Nas artes plásticas, na literatura e na ciência, muitíssimos outros povos da antiguidade realizaram muito mais que os romanos. 
Mas os romanos ultrapassaram a todos na arte da política que fortaleceram por meio de uma cultura unificadora. Unir todos os países da 
área do Mediterrâneo numa paz oniabrangente, somente Roma pode fazê-lo. Os romanos praticaram a vida com tal imediatismo, eram tão 
praticamente orientados, e tão grandes estadistas e organizadores políticos que sua imaginação artística permaneceu necessariamente 
em segundo plano. No campo da arte, não foram tão bem dotados como os gregos ou os egípcios, mas politicamente pode-se considerá-
-los, de certo, como o povo mais capaz que já existiu sobre a Terra. As rodas da história continuam a rolar pelo globo, o cenário sempre 
muda, as civilizações vêm e vão. Gerações após gerações marcham ao longo da infinda estrada através dos milênios. Essa estrada passa 
pelas maravilhosas civilizações da mesopotâmia; pelas pirâmides da IV Dinastia do Egito e dos Reis que eram deuses; pelos aristocratas 
comerciais da Fenícia; pelos palácios de Persepolis e pelo haren de Xerxes; pela promessa de redenção que a palestina deu à Humanidade; 
pelas misteriosas cidades de Mohenjo-Daro; pelas 40.000 torres da grande muralha da China; pelo labirinto do Rei Minus; pelo apogeu 
da Grécia, o classicismo que não admite ulterior perfeição. O homem se esgota em grandes realizações; nações a que devemos fabulosa 
herança desaparecem; perdidos impérios ensinam-nos a inconstância do destino e o ciclo eterno de toda a vida sobre a Terra. Que imensa 
estrada de experiências humanas! Gostaríamos de parar por um momento; de voltar para trás e olhar, para aprender a lição de tudo isso. 
Mas a estrada é por demais vasta, por demais longa e o homem é fraco e impotente, simples mancha num cosmos que permanece para 
sempre fora de sua compreensão.” LISSNER, Ivar, Assim Viviam nossos antepassados, 1º volume, trad. Oscar Mendes, 5ª Edição, Belo 
Horizonte: Editora Itatiaia Limitada, 1968, pg. 463.
18 IHERING, Rudolf Von. El espíritu del derecho romano. trad. Fernando Vela, Madrid: Marcial Pons, 2005, pg. 30. 
19 Expressão romana que inaugura o Digesto de Justiniano e é muito famosa e difundida entre os romanistas: D.1.1.1.pr (Ulpianus) Iuri 
operarum prius oportet, unde nomen iuris descendat. est autem a iustitia appellatum: nam, ut eleganter Celsus definit, ius est art boni et 
aequi. D.1.1.1.pr (Ulpiano) É preciso que aquele que há se de dedicar ao direito primeiramente saiba de onde descende o nome ‘direito’ (ius). 
Vem, pois, de ‘justiça’ chamado. De fato, como Celso elegantemente define, o direito é a arte do bom e do justo. DIGESTO DE JUSTINIANO, 
Livro I, Tradução de Hélcio Maciel França Madeira, 2ª Ed., São Paulo: Editora revista dos Tribunais, 2000, pg. 15.
REFERÊNCIAS
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2007.
CORDEIRO, Antonio Manuel Menezes. Da boa-fé no direito civil. 2 v., Coimbra: Almedina, 1984.
CRUZ, Sebastião. Direito Romano. Coimbra: Livraria Almedina, 1969.
DIGESTO DE JUSTINIANO. Livro I. Tradução de Hélcio Maciel França Madeira, 2ª ed. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2000.
DONATO, Hernani. A palavra escrita e a sua história. 2ª ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1951.
HART, H.L.A. O Conceito de Direito. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2009.
IGLESIAS, Juan. Derecho Romano. 12ª ed. Barcelona: Ariel, 1999.
IHERING, Rudolf Von. El espíritu del derecho romano. trad. Fernando Vela, Madrid: Marcial Pons, 
2005.
INSTITUTAS DO JURISCONSULTO GAIO, tradução de Cretella Jr e Agnes Cretella, São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2004.
KASER, Max. Ius Gentium. Traducción de Francisco Javier Andrés Santos, Granada: Editorial 
Comares, 2004. 
LEVAGGI, Abelardo, Historicidad Del Derecho, in: Revista IMES Direito, ano II, nº 4, janeiro-junho, 
2002, pg. 51-54.
MEIRA, Silvio. História e Fontes do Direito Romano. São Paulo: Saraiva, 1966.

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