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SP4: “A pressão subiu...” 1. Conhecer as síndromes hipertensivas gestacionais: classificação, fatores de risco, fisiopatologia (eclampsia e pré-eclâmpsia), manifestações clínicas, diagnóstico, tratamento e complicações materno fetais; RELEVÂNCIA CLÍNICA: Os distúrbios hipertensivos apresentam elevada incidência na gestação e representam uma causa importante de morbimortalidade perinatal. Eles são a maior causa de morte materna no Brasil segundo dados do Ministério da Saúde, sendo responsáveis por cerca de 30% das mortes maternas diretas. Os distúrbios hipertensivos complicam cerca de 5 a 10% das gestações, enquanto a pré-eclâmpsia possui uma incidência em torno de 4 a 5%. As formas leves representam 75% dos casos e cerca de 10% ocorrem antes da 34ª semana de gestação. CLASSIFICAÇÃO: 1. Pré-eclâmpsia: É definida pelo aparecimento de hipertensão e proteinúria após 20 semanas de gestação em gestante previamente normotensa. Mais precisamente, trata-se de um distúrbio placentário, uma vez que já foi descrita em situações em que há apenas tecido trofoblástico como, por exemplo, na gravidez molar completa. O acometimento de diversos órgãos e sistemas pela pré- eclâmpsia fez com que diversos autores passassem a classificá-la como uma síndrome e não mais como uma Doença Hipertensiva Exclusiva da Gravidez (DHEG), conforme era chamada antigamente. O quadro clássico da pré-eclâmpsia é caracterizado por hipertensão e proteinúria. Estas manifestações aparecem na segunda metade da gestação (a partir de 20 semanas), sendo mais frequentes no terceiro trimestre. O edema atualmente não faz mais parte dos critérios diagnósticos da síndrome. 2. Eclâmpsia: É a ocorrência de crises convulsivas, seguidas ou não de coma, em uma paciente com pré- eclâmpsia, descartando-se outras causas. São geralmente do tipo tônico- clônicas generalizadas e podem aparecer antes, durante ou após o parto, sendo mais raras após 48h de puerpério, embora possam ocorrer até o 10º dia. Pode ter como causas o vasoespasmo cerebral com isquemia local, encefalopatia hipertensiva, edema vasogênico e dano endotelial. Geralmente, as convulsões são autolimitadas, durando de dois a três minutos. São precedidas de sinais como cefaleia, alterações visuais, epigastralgia e dor no quadrante superior direito do abdome. São indistinguíveis eletroencefalograficamente de outras convulsões tônico-clônicas. 3. Hipertensão crônica de qualquer etiologia: A hipertensão crônica na gravidez é definida como um estado hipertensivo (PA ≥ 140 × 90 mmHg) presente antes do início da gestação ou diagnosticado antes de 20 semanas. 4. Hipertensão crônica com pré-eclâmpsia sobreposta: A hipertensão essencial crônica preexistente se agrava em algumas gestantes, caracteristicamente após 24 semanas. Esta elevação dos níveis tensionais pode ser acompanhada de proteinúria, o que define a pré-eclâmpsia sobreposta e piora muito o prognóstico materno-fetal. Em comparação com a pré-eclâmpsia “simples”, a pré-eclâmpsia sobreposta normalmente se apresenta mais precocemente, tende a ser mais agressiva e é frequentemente acompanhada de crescimento intrauterino restrito. 5. Hipertensão gestacional ou Transitória: A hipertensão gestacional é definida pelo surgimento de nova hipertensão na segunda metade da gravidez, mas sem o desenvolvimento de proteinúria. É importante ressaltar que quase metade destas pacientes irá desenvolver pré-eclâmpsia posteriormente. A pressão retorna aos níveis normais dentro das primeiras 12 semanas de puerpério e recorre em 80% dos casos nas gestações subsequentes. FATORES DE RISCO: ETIOLOGIA: Atualmente, há quatro teorias mais aceitas na etiologia da pré-eclâmpsia, acreditando-se que devam atuar, provavelmente, de forma conjunta. Uma das mais aceitas tem como base a implantação anormal da placenta no leito uterino devido à ausência da segunda onda de invasão trofoblástica, que ocorre no segundo trimestre. As outras teorias incluem uma má adaptação imune, ativação endotelial e suscetibilidade genética. - Teoria da placentação anormal: A placenta desenvolve-se primariamente de células chamadas trofoblastos, que se diferenciam inicialmente em dois tipos: o sinciciotrofoblasto, que é responsável pelas trocas materno-fetais e produção hormonal, e o citotrofoblasto, que é o responsável pela invasão da decídua e das artérias espiraladas. A invasão destas artérias pelo citotrofoblasto extraviloso leva a um alargamento do diâmetro do vaso de quatro a seis vezes; o resultado é um aumento do fluxo sanguíneo, que desenvolverá o feto e a placenta. Na pré-eclâmpsia, a invasão trofoblástica e o remodelamento subsequente das artérias espiraladas é deficiente, resultando em diâmetros 50% menores que na gravidez normal. A consequência é uma isquemia placentária, alteração observada em mulheres que desenvolverão sinais de pré-eclâmpsia. Na gestação sem anormalidades, a migração trofoblástica acontece em duas ondas, no primeiro e no segundo trimestres. Na primeira onda ocorre a destruição da capa musculoelástica das artérias espiraladas no seu segmento decidual. O segmento miometrial é consumido na segunda onda, entre a 16ª e 20ª semanas. Essas ondas acabam convertendo as artérias em vasos de baixa resistência, uma característica fisiológica da circulação uteroplacentária. Acredita-se que em grávidas que desenvolverão pré-eclâmpsia, por mecanismos ainda não bem explicados, a segunda onda de migração trofoblástica ocorra de forma incompleta. Assim, a resistência arterial não cai adequadamente, os vasos permanecem estreitos e desenvolve-se isquemia placentária. - Teoria da má adaptação: Esta teoria é apoiada por uma diminuição na ocorrência de pré-eclâmpsia após a primeira gravidez normal com o mesmo parceiro, enquanto uma maior exposição aos antígenos paternos, como na mola e gestação gemelar, ou uma nova exposição, como na troca de parceiro, aumentam o risco. - Ativação endotelial: Acredita-se que as alterações inflamatórias que levam à ativação endotelial são consequências da isquemia discutida anteriormente. Isto levaria a uma cascata de eventos com liberação de fatores antiangiogênicos e metabólicos e mediadores inflamatórios leucocitários que provocariam lesão endotelial sistêmica. - Teoria da suscetibilidade genética: A pré- eclâmpsia é mais observada em mulheres com história familiar, em gêmeas e na raça negra, o que nos faz considerar um possível fator genético implicado. Ela é uma doença multifatorial poligênica, com centenas de genes implicados na associação com este distúrbio da gravidez. Não há, portanto, um gene específico que seja considerado responsável pelo desenvolvimento da doença. VASOESPASMO: A ativação endotelial sistêmica resulta em vasoespasmo, com consequente aumento da resistência vascular periférica e hipertensão arterial. Além disso, ocorre aumento da permeabilidade vascular, perda de volume plasmático para o terceiro espaço e depósito subendotelial de plaquetas e fibrinogênio. Isto justifica o menor volume intravascular em mulheres com pré-eclâmpsia. A redução do fluxo sanguíneo por essas alterações mencionadas resulta em isquemia dos tecidos adjacentes, podendo evoluir para necrose, hemorragia e outras alterações de órgão-alvo características da doença. DANO ENDOTELIAL: O endotélio lesado, em decorrência de isquemia, promove a coagulação e aumenta sua sensibilidade aos agentes vasopressores. Este dano é resultante de citocinas, provavelmente de origem placentária, que são secretadas na circulação materna e provocam ativação e disfunção endotelial. Diversos estudos mostram que, comparado com a gestação normal, a produção placentária de PGI2 (PROSTACICLINA) está significativamente reduzida e a de TXA2 (TROMBOXANE) significativamente aumentada no curso da pré-eclâmpsia. O distúrbio endotelial no controle do tônus vascular leva à hipertensão, a permeabilidade aumentada resulta em edema e proteinúria e a expressão endotelial anormal de pró- coagulantes pode levar à coagulopatia. As mesmas alterações causam isquemia em órgãos-alvo como cérebro, fígado, rins e placenta. DIAGNÓSTICO: O diagnóstico de pré-eclâmpsia tem como base o aparecimento de hipertensão e proteinúria. Como vimos anteriormente, o edema ou aumento súbito de peso não são mais considerados critérios diagnósticos. O registro de uma pressão arterial normal antes da gravidez, assim como exames laboratoriais alterados, fala muito a favor da existência desse distúrbio. Por definição, a pré-eclâmpsia surge após 20 semanas de gravidez. CLASSIFICAÇÃO DE PRÉ-ECLÂMPSIA: - Leve: A paciente com pré-eclâmpsia leve ou sem sinais de gravidade possui novo quadro de hipertensão e proteinúria, porém não há qualquer tipo de lesão de órgão-alvo conforme veremos a seguir. Muitas pacientes com diagnóstico inicial de pré-eclâmpsia leve progridem para forma grave da doença ao longo de dias ou semanas, o que justifica o acompanhamento minucioso destes casos - Grave: SEGUIMENTO E TRATAMENTO: Até o momento, o único tratamento possível para pré-eclâmpsia é a interrupção da gestação. Os objetivos básicos na conduta em uma paciente com pré-eclâmpsia devem ser a interrupção da gravidez com menor trauma para a gestante e para o feto; parto de um recém-nascido saudável com grandes chances de sobrevida; e restauração completa da saúde materna. Estes objetivos são facilmente alcançáveis em gestantes a termo, porém a prematuridade impõe dificuldades na conduta. - Pré-eclampsia leve e hipertensão gestacional: Nos casos leves, a conduta deve ser conservadora até que o feto atinja o termo (37 semanas). O acompanhamento materno-fetal deve ser rigoroso com avaliação periódica clinicolaboratorial da gestante e da vitalidade fetal. Atingido o termo, a recomendação é pela interrupção da gravidez. Mesmo com a pressão arterial controlada e com o edema e a proteinúria não significantes, o feto está em risco, pois o suprimento sanguíneo placentário está diminuído em cerca de 50%. A gestante que se apresenta na consulta pré-natal com uma hipertensão arterial em níveis menores que 160 × 110 mmHg e que não apresenta qualquer sinal de gravidade pode ser acompanhada ambulatorialmente, apesar de não haver um protocolo bem definido para este tipo de acompanhamento. - Pré-eclampsia grave/eclâmpsia: O surgimento de sinais que indiquem uma pré-eclâmpsia grave ou o aparecimento de convulsões justificam a internação imediata da paciente para a avaliação da gravidade do caso. O parto nestas situações será sempre benéfico para a gestante, considerando os riscos relacionados com a hipertensão. No entanto, a conduta conservadora poderá ser considerada nos casos de pré-eclâmpsia grave em que a gestante está estável e o feto é bastante prematuro. A conduta conservadora não é permitida na eclâmpsia. Antes de se interromper a gestação, algumas medidas devem ser tomadas por pelo menos quatro horas para estabilização do quadro clínico e prevenção e/ou tratamento das crises convulsivas. Na vigência de crises convulsivas, deve-se atentar para a manutenção das vias aéreas livres e prevenção da aspiração, adotar o decúbito lateral esquerdo e oxigenoterapia suplementar (8 a 10 L/min). SULFATO DE MAGNÉSIO: É a medicação de escolha para prevenir ou controlar as convulsões, mas não tem ação antihipertensiva. Em estudos comparativos, ele foi superior a fenitoína, diazepam e nimodipina. É importante ressaltar que a terapia anticonvulsivante não previne a progressão da doença. Parece agir através de uma vasodilatação seletiva da vascularização cerebral, protegendo células endoteliais de danos pelos radicais livres. Outros mecanismos propostos de ação incluem prevenção da entrada de cálcio (antagonista do cálcio) nas células isquêmicas, inibição da agregação plaquetária e antagonismo competitivo da glutamato-N-metil-D-aspartato, que é uma substância epileptogênica. HIPERTENSÃO AGUDA: Medicamentos anti-hipertensivos devem ser administrados na emergência hipertensiva sempre que a pressão arterial sistólica for ≥ 160 mmHg ou a pressão arterial diastólica apresentar valores ≥ 110 mmHg por um período > 15min, com objetivo de reduzir a incidência de insuficiência cardíaca, isquemia miocárdica, insuficiência renal e acidente vascular cerebral isquêmico ou hemorrágico. É importante ressaltar que o controle da pressão arterial não impede a convulsão, portanto, não justifica abrir mão do uso do sulfato de magnésio. O objetivo do tratamento medicamentoso é manter a pressão sistólica entre 140 a 155 mmHg e a diastólica entre 90 e 105 mmHg. O tratamento agudo para crise hipertensiva da pré-eclâmpsia pode ser feito com as seguintes medicações: - Hidralazina: é um vasodilatador arteriolar e o anti-hipertensivo de escolha em muitos centros. A dose é de 5 mg IV, repetida em 20 a 40 minutos até uma dose cumulativa máxima de 20 mg. Também é possível a infusão contínua venosa na dose de 0,5-10 mg/h. Leva à diminuição da pressão arterial após 10 a 20 minutos e sua duração é de cerca de duas a quatro horas. Seus efeitos colaterais incluem hipotensão materna, cefaleia e alterações no traçado da cardiotocografia; - Labetalol (bloqueador alfa e beta): medicação considerada de escolha pela literatura americana, deve ser utilizada na dose inicial de 10-20 mg IV seguida de 20-80 mg a cada 10-30 minutos, até a dose máxima cumulativa de 300 mg. Também pode ser utilizada em infusão contínua venosa na dose de 1-2 mg/min. Apresenta efeito após um a dois minutos da infusão e duração de três a seis horas. Possui menos efeitos adversos e a taquicardia é menos comum que nas outras medicações. Deve ser evitado em pacientes com asma, cardiopatia, bradicardia e bloqueio cardíaco; - Nifedipina (liberação imediata): este bloqueador de canal de cálcio é utilizado na dose de 10-20 mg oral a cada 20 minutos. Após, pode ser utilizado 10-20 mg a cada 2-6 horas em uma dose máxima de 180 mg. Seu início da ação ocorre após cinco a dez minutos e a duração é de quatro a cinco horas. O uso concomitante com sulfato de magnésio deve ser evitado; - Nitroprussiato de sódio (dilatador arterial e venoso): deve ser utilizado apenas em casos refratários a outras medidas anti-hipertensivas, pelo risco de intoxicação fetal por cianeto. Este risco pode ser diminuído não o usando por mais de 4h. A dose inicial deve ser de 2 a 10 mg/kg/min. O início de ação é imediato e a duração extremamente curta (minutos). Após a estabilização do quadro agudo, pode ser considerado o tratamento crônico da hipertensão nos casos em que se optou pela conduta conservadora. As medicações utilizadas são as mesmas da hipertensão arterial crônica, que serão discutidas mais à frente. 2. Explicar os mecanismos de ação dos fármacos utilizados no tratamento das síndromes hipertensivas na gestação; Metildopa: Seu efeito provavelmente se deve ao metabólito α-metilnorepinefrina, que atua como falso transmissor, estimulando os receptores α2-adrenérgicos centrais, resultando em diminuição do estímulo simpático do sistema nervoso central (SNC) para o coração, rins e vasos periféricos. Hidralazina: vasodilatador arteriolar; leva à diminuição da pressão arterial após 10 a 20 minutos e sua duração é de cerca de duas a quatro horas. Sulfato de Magnézio: convulsões; não tem ação anti-hipertensiva; vasodilatação seletiva da vascularização cerebral, protegendo células endoteliais de danos pelos radicais livres - NEUROPROTETOR; prevenção da entrada de cálcio (antagonista do cálcio) nas células isquêmicas, inibição da agregação plaquetária e antagonismocompetitivo da glutamato-N-metil-D-aspartato, que é uma substância epileptogênica. Nifedipina: eu início da ação ocorre após cinco a dez minutos e a duração é de quatro a cinco horas. O uso concomitante com sulfato de magnésio deve ser evitado. Labetalol: efeito após um a dois minutos da infusão e duração de três a seis horas. Possui menos efeitos adversos e a taquicardia é menos comum que nas outras medicações. Deve ser evitado em pacientes com asma, cardiopatia, bradicardia e bloqueio cardíaco. 3. Caracterizar as gestações de baixo e alto risco (causas); 4. Salientar as principais causas de morte materna na gestação; Hipertensão (pré-eclampsia e eclampsia); Hemorragias graves (principalmente após o parto); Infecções (normalmente depois do parto); Complicações do parto; Aborto inseguro;
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