Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Fatores de risco .......................................................... 4 3. Etiologia e fisiopatologia ......................................... 5 4. Formas clínicas .........................................................11 5. Diagnóstico clínico-laboratorial ..........................15 6. Diagnóstico específico ...........................................17 7. Síndrome hellp ..........................................................19 8. Manejo da dheg ........................................................19 Referências bibliográficas ........................................25 3DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO 1. INTRODUÇÃO A Doença hipertensiva específica da gestação (DHEG) é um termo gené- rico que diz respeito as doenças hi- pertensivas que ocorrem após a se- gunda metade da gestação oriunda de alterações decorrentes da invasão trofoblástica. Dessa forma, DHEG abarca condições distintas de hiper- tensão na gravidez e representa a principal complicação gestacional no Brasil. Estima-se que cerca de 5 a 10% de todas as gestantes apresen- tam um distúrbio hipertensivo, sendo que 70% são provenientes de pré-e- clâmpsia e 30% são decorrentes de hipertensão crônica. Essas doenças apresentam alta taxa de morbidade e mortalidade maternas, formando jun- to com a hemorragia e infecção ma- terna, a chamada “tríade mortal” da gestação. De acordo com a Organi- zação Mundial da Saúde (OMS), a hi- pertensão é responsável por 4%dos óbitos matemos no mundo, variando de 12,9% das mortes maternas nos países desenvolvidos a até 22,9% na América Latina. Além disso, a DHEG também eleva a morbimortalidade perinatal, visto que pode ser a gêne- se de diversas complicações como prematuridade, restrição do cresci- mento fetal, sofrimento fetal e morte perinatal. Sabendo isso, entende-se como hipertensão arterial quando a pressão arterial sistólica atinge valor ≥ 140 mmHg e/ou a pressão arterial diastólica atinge valor ≥ 90 mmHg, em duas medidas com intervalo de pelo menos quatro horas. Desse modo, a gestação pode agravar a hipertensão arterial crônica, ou seja, que já exis- tia antes da gravidez, bem como in- duzi-la em mulheres normotensas, gerando hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia. Existem várias formas de classificar a DHEG, no entanto, segundo Federação Brasileira de Gi- necologia e Obstetrícia (FEBRASGO), podemos dividir a DHEG em: • Hipertensão gestacional, • Pré-eclâmpsia, • Eclâmpsia, • Hipertensão crônica, • Hipertensão arterial crônica com pré-eclâmpsia superajuntada. Sabendo disso, a pré-eclâmpsia e eclâmpsia são potencialmente mais perigosas que as outras síndromes hipertensivas, sendo chamada anti- gamente de toxemia da gravidez. A pré-eclâmpsia isoladamente ocor- re em cerca de 3 a 14% de todas as gestações, sendo que as formas leves representam 75% dos casos e cerca de 10% ocorrem antes da 34a sema- na de gestação. 4DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO SAIBA MAIS! Lembre-se de que para proceder com a aferição correta da pressão arterial recomenda-se que a medida seja feita seja feita após algum tempo de repouso, com a paciente sentada, uti- lizando manguito de tamanho adequado ao braço e mantendo o braço na altura do coração. A pressão arterial sistólica deve ser determinada na fase I de Korotkoff e a diastólica, na fase V de Korotkoff (correspondente ao desaparecimento da bulha). menos favorecidas. Apesar de não ser consenso, formas mais avançadas da doença hipertensiva pode decorrer do fato de que há falta de assistência pré-natal ou assistência médica pre- cária nas classes menos favorecidas. Um fator bem estabelecido é a maior presença de DHEG em extremos de idade, ou seja, abaixo dos 18 e aci- ma dos 40 anos. Isso pode ser rela- cionado a nuliparidade em pacientes mais jovens e nas mulheres com ida- de avançada, a hipertensão arterial essencial, embora mais frequente, fa- vorece a instalação da DHEG. Alguns estudos evidenciaram a pre- disposição hereditária à DHEG, por meio da participação de polimorfis- mos de alguns genes. Ademais, a obesidade é um grande fator contri- buinte para as síndromes hipertensi- vas, sendo que quanto maior o índice de massa corporal (IMC), maior o ris- co de DHEG. Sabe-se que o meca- nismo fisiopatológico está relaciona- do à intolerância à glicose, o mesmo motivo que o risco de DHEG em pa- cientes com diabetes pré-gestacional 2. FATORES DE RISCO Diversos fatores estão associados ao maior risco de DHEG (Quadro 1). Acredita-se que fatores como idade materna avançada, história familiar de DHEG, obesidade, gestação múlti- pla, doença trofoblástica gestacional, DHEG em gestação pregressa, entre outros, podem ser apontados como fatores predisponentes. Além disso, a maioria dos casos dessa doença, cerca de 75%, ocorre em mulheres nulíparas. Nesses casos, a doença é mais observada em pacientes com hipertensão arterial pré-gravídica ou quando há troca de parceiro. No en- tanto, independente da paridade, na gestação múltipla a doença hiperten- siva tende a ocorrer em idades gesta- cionais mais precoces quando com- paradas a gestações únicas e são mais graves. Em relação ao nível socioeconômico, não há evidências conclusivas de que isso possa ter relação com a síndrome hipertensiva. Porém, a eclâmpsia e a síndrome HELLP são mais frequen- tes nas camadas socioeconômicas 5DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO é de cerca de 20%. Vale lembrar que a DHEG está presente com maior frequência nos casos de doença tro- foblástica gestacional e também nes- sa condição, surge em idades gesta- cionais mais precoces. SE LIGA! A doença trofoblástica é a única situação em que a DHEG pode se manifestar em idades gestacionais infe- riores a 20 semanas. Estudos recentes demonstram que a incidência total de DHEG, assim como a das formas gra- ves da doença, é maior nas mulheres que desenvolveram essa patologia em gestação anterior, quando comparadas a nulíparas. Por isso, gestantes com his- tória prévia de DHEG merecem atenção especial em nova gestação. Por fim, sa- be-se que gestantes com trombofilias, como a síndrome antifosfolípide e for- mas hereditárias (mutação do fator V de Leiden, mutação do gene da protrombi- na e deficiências de antitrombina) tem maior chances de ter doenças hiperten- sivas, pois estas são associadas a ma- nifestações tromboembólicas venosas, arteriais e da microcirculação que pode predispor a pré-eclâmpsia ou acelerar a sua evolução. FATORES DE RISCO PARA A DHEG Idade materna avançada Diabetes mellitus Obesidade Gestação múltipla Trombofilias História familiar de DHEG Doença trofoblástica gestacional DHEG em gestação pregressa Doença renal Colagenoses Tabela 1. Fatores de risco para a DHEG. Fonte: O autor, baseado em Zugaib obstetrícia, 3°ed, 2016. 3. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA Apesar da grande evolução da medi- cina, a etiologia da DHEG não é total- mente esclarecida. Muitas teorias são sugeridas e algumas abandonadas com o passar do tempo. Veja no qua- dro 2, as principais teorias fisiopato- lógicas da DHEG. O mais aceito é que essas teorias atuem em conjunto, e a DHEG seja resultado de uma invasão trofoblástica inadequada, mediada por fatores imunogenéticos. Como consequência disso, ocorre aumento da resistência vascular, da permeabi- lidade capilar e a ativação do sistema de coagulação, o que promoverá as alterações multissistêmicas, associa- das a menor perfusão generalizada que ocorre nos órgãos, que são fre- quentemente encontradas nessa pa- tologia. Destrincharemos essas e ou- tras teorias logo a seguir. TEORIAS RELACIONADAS À ETIOLOGIA DA DHEG Deficiência da invasão trofoblástica Disfunção endotelial e alterações inflamatórias Fatores imunológicos Fatores genéticos Tabela 2. Teorias relacionadas à etiologia da DHEG. Fonte: O autor, baseado em Zugaib obstetrícia, 3°ed, 2016. Invasão trofoblásticanormal Sabe-se que as artérias do endomé- trio e do terço superficial do miomé- trio, que formam o suprimento final 6DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO de sangue à placenta, são as artérias espiraladas. As paredes arteriais são compostas por tecido elástico e mus- cular. Entretanto, as espiraladas para conduzir o aumento do fluxo sanguí- neo uterino 10 vezes maior que o nor- mal na gravidez, são transformadas em vasos complacentes, de baixa re- sistência. Esse fenômeno é fisiológi- co e ocorre devido a interação entre o trofoblasto extravilositário e os vasos maternos. É função do trofoblasto fa- zer a destruição da musculatura vas- cular e membrana elástica do vaso, ou seja, estas células substituem os revestimentos muscular e endotelial vascular, aumentando o diâmetro do vaso. Isso ocorre inicialmente no pri- meiro trimestre, quando o trofoblasto intersticial promove a desorganização do músculo liso vascular. Depois dis- so, ocorre a chegada do trofoblasto endovascular, considerada a segunda onda de migração trofoblástica, onde ocorre a invasão da camada muscu- lar média das artérias espiraladas do endométrio pelo sinciciotrofoblasto, diminuindo a resistência vascular e aumentando o fluxo sanguíneo pla- centário. Esse processo ocorre 4 se- manas após a primeiro. Portanto, a primeira onda de migração trofoblás- tica, iniciada com 8 semanas, com- pleta-se por volta de 10 semanas da gravidez e a segunda onda ocorre a partir 14 semanas, de maneira que o trofoblasto endovascular ativo ainda é visto na vasculatura espiralada até 24 semanas. Após esses processos, a placenta torna-se órgão extrema- mente vascularizado que permite as trocas materno-fetais. Deficiência na invasão trofoblástica Como foi dito, na placentação normal, as artérias espiraladas sofrem inva- são de trofoblastos endovasculares e são remodeladas. Na DHEG, pou- quíssimas artérias espiraladas fazem a transformação completa no seu segmento miometrial, ou seja, a remo- delação das artérias espiraladas está ausente ou incompleta, na segunda onda de migração trofoblástica (Figu- ra 2). Sendo assim, as artérias espi- raladas não perdem o revestimento endotelial e muscular, mantendo o di- âmetro em metade do que os vasos nas placentas normais. Além disso, sabe-se que esse processo de remo- delamento arterial está associado a um balanço de fatores angiogênicos, antiangiogênicos, citocinas, metalo- proteinases, moléculas do proces- so principal de histocompatibilidade, antígenos leucocitários e fatores de crescimento. Sendo assim, acredi- ta-se que alterações nesses fatores estão relacionados a deficiência na invasão trofoblástica. Ademais, ape- sar de apontarem as alterações da segunda onde de invasão trofoblás- tica, é provável que na fisiopatologia da DHEG a primeira onda também 7DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO não seja normal. Por conseguinte, alguns estudos revelam que muitas artérias espiraladas miometriais não transformadas exibem lesões obstru- tivas de ateromatose aguda, levando a maior estreitamento do lúmen do vaso e a risco aumentado de trombo- se, com consequente infarto de áreas placentárias. Vale lembrar que todo esse processo de redução do supri- mento sanguíneo, diminui a oxigena- ção e nutrição fetal, podendo se rela- cionar com o surgimento da restrição do crescimento fetal intraútero (CIUR) e sofrimento fetal. Artérias espiraladas Normal Pré-eclâmpsia Sinciciotrofoblasto Citotroflobasto Vilosidade ancorante Trofoblastoextraviloso Trofoblastoextraviloso intersiticial Trofoblastoextraviloso endovascular Figura 1. Placentação normal e defeituosa. Fonte: Rezende obstetrícia 13. ed., 2017. Disfunção endotelial e alterações inflamatórias Devido as alterações de perfusão placentária, acredita-se que ocorra a ativação endotelial sistêmica seguida de vasoespasmo. Sabe-se que o va- sospasmo é responsável pela hiper- tensão e aumento da permeabilidade capilar que pode levar a proteinúria, edema, hemoconcentração e ativa- ção da coagulação, responsável pela plaquetopenia. As convulsões que ocorrem na Eclâmpsia são resulta- das de dois fatores. Primeiro, em res- posta à hipertensão grave, ocorreria vasoespasmo com redução do fluxo sanguíneo cerebral, resultando em 8DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO estar superexpressos na DHEG (Fi- gura 3). O sFlt-1 é uma variante do Flt-1, que é receptor do fator de cres- cimento do endotélio vascular (VEGF) e do fator de crescimento placentário (PlGF). O sFlt-1, interage com o VEGF e o PlGF na corrente sanguínea, im- pedindo a ligação desses fatores an- giogênicos com os seus receptores de membrana do endotélio. Assim, o sFlt-1 age como antagonista dos fatores do crescimento e sua con- centração encontra-se elevada na DHEG. Além disso, ocorre redução no nível de fatores pró-angiogênicos, como VEGF e PIGF. Sendo o VEGF, pró-angiogênico e vasodilatador, pelo aumento de óxido nítrico (NO) e de prostaciclina (PGI2). Na DHEG tam- bém pode ocorrer aumento da pro- dução de tromboxano A2 (TxA2), um vasoconstritor potente, que estimula a agregação plaquetária e a contra- ção uterina, reduzindo o fluxo sanguí- neo uteroplacentário. isquemia, edema citotóxico e eventu- al infarto tecidual. O segundo fator é a elevação brusca da pressão arterial que causaria perda da capacidade de autorregulação vascular cerebral. No capilar, ocorreria rotura da pressão distal causando aumento da pressão hidrostática, hiperperfusão e extra- vasamento de plasma e hemácias, determinando edema angiogênico. Ainda por conta do edema, sabe-se que ele pode acontecer na célula en- dotelial glomerular, levando a endote- liose capilar glomerular, considerada por muitos a lesão patognomônica da pré-eclâmpsia. Nessa mesma pers- pectiva, é devido a ativação endotelial que surge os distúrbios dos fatores da coagulação, resultando em coagu- lopatias. Enquanto isso, a vasocons- trição e a isquemia da lesão endotelial levam à disfunção hepática e oliguria. Além disso, estudos apontam que o ponto de convergência para diver- sos fatores potencialmente determi- nantes da disfunção endotelial, é o estresse oxidativo. Sendo que a pla- centa é a principal fonte das espé- cies reativas de oxigênio (ROS) que iniciam os eventos fisiopatológicos. É por conta disso, que após a retira- da da placenta inicia a resolução da doença, com melhora dos sintomas. Vale lembrar que perfil lipídico alte- rado, muito encontrado na obesidade e diabetes, também predispõe ao es- tresse oxidativo. Por fim, fatores an- tiangiogênicos placentários, podem 9DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO Figura 2. Fatores angiogênicos envolvidos na DHEG. Fonte: Rezende obstetrícia 13. ed., 2017. efeito contrário. Reforçando a hipóte- se de que a troca de parceiros pode ter relação com o surgimento da DHEG. Fatores genéticos Estudos apontam um envolvimento ge- nético na DHEG. Embora a maioria dos casos sejam esporádicos, é observado, aumento do risco de doenças hiperten- sivas em gestantes com histórico fami- liar e naquelas com parceiro cujas mães ou parceiras anteriores tiveram histó- rico doenças do espectro da DHEG. Entretanto, o mecanismo exato da he- rança ainda é desconhecido. Vários po- limorfismos gênicos, como do fator de necrose tumoral (TNF), linfotoxina-alfa, interleucina-1 beta, já foram associa- dos, assim como uma variante do gene do angiotensinogênio. Vaso sanguíneo Vaso sanguíneo VEGF PIGF Flt-1 sFlt-1 Fatores anticoagulantes e vasodilatadores Fatores pró-coagulantes e vasoconstritores Disfunção endotelial Endotélio saudável Fatores imunológicos Acredita-se que na DHEG ocorra uma resposta inflamatória exacerbada que impede a placentação adequada. Isso pode ser resultado do excesso de car- ga antigênica fetal, ausência de anti- corpos bloqueadores que teriam um efeito protetor contra a imunidade ce- lular materna, a ativação de polimor- fonudeares e do complemento, alémda liberação de citocinas citotóxicas e interleucinas. A produção exagerada de citocinas pode ser resultado do de- sequilíbrio entre a quantidade dos dois tipos de linfócitos T, com predomínio dos linfócitos T helper 2 (Th2) em re- lação aos linfócitos T helper 1 (Th 1). Desse mesmo modo, acredita-se que a exposição prévia a um mesmo an- tígeno paterno tenha efeito protetor e um antígeno diferente apresente 10DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO MAPA MENTAL. FISIOPATOLOGIA DA DHEG Placentação anormal Hipertensão Fatores genéticos ↑ Estresse oxidativo, ↑ Espécies reativas de oxigênio Fatores imunológicos e inflamatórios ↓ da perfusão placentária Estágio 1 (0-14 semanas) Recém nascidos com restrição do crescimento intrauterino Disfunção endotelialEstágio 2 (≥ 14 semanas) Ativação da coagulação ↑ permeabilidade vascularVasoespasmo Convulsão Oligúria DPP Isquemia hepática Trombocitopenia Proteinúria Edema Hemoconcentração 11DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO 4. FORMAS CLÍNICAS A Doença Hipertensiva Especifica da Gestação é um termo amplo que en- globa vários tipos de doenças hiper- tensivas. De acordo com a FEBRAS- GO, podemos classificar em as formas clínicas que compõe a DHEG em: • Hipertensão gestacional (HG): Essa patologia ocorre quando a mulher apresenta pela primeira vez na vida, níveis pressóricos al- terados após metade da gesta- ção, sem presença de proteinúria. Estudos apontam que cerca de metade das pacientes que foram diagnosticadas com hipertensão gestacional podem evoluir para pré-eclâmpsia até o final da ges- tação e tem maior risco de desen- volver hipertensão crônica futura- mente. A hipertensão gestacional é reclassificada como hipertensão transitória quando a evidência de pré-eclâmpsia não se desenvolve, voltando a pressão arterial ao nor- mal em torno de 12 semanas após o parto. • Pré-eclâmpsia: Essa patologia, também conhecida como síndro- me especifica da gestação, pode afetar a gestante em vários siste- mas. Existem vários fatores de ris- co específicos para pré-eclâmpsia, podendo ser divididos em fato- res de alto risco e moderado risco (Quadro 3). Essa doença, costu- ma ocorrer na segunda metade da gestação, sendo mais frequentes o terceiro trimestre. SE LIGA! Pacientes com doença tro- foblástica gestacional, pode apresentar pré-eclâmpsia antes de 20 semanas de gestação. Lembrem-se dessa exceção! Ela é caracterizada por hipertensão e proteinúria, mas também pode cursar com sinais como trombocitopenia, ou sintomas, como cefaleia ou dor epigás- trica. A proteinúria, é um marcador do extravasamento endotelial sistêmico, representando um maior risco materno- -fetal. Entretanto, alguns autores colo- cam que é possível ter uma pré-eclâmp- sia atípica na qual a paciente possui vários sintomas, no entanto, não apre- sentam hipertensão e/ou proteinúria. Nessa perspectiva, estudos relatam que quanto mais grave for a hipertensão ou proteinúria, mais acurado será o diag- nóstico de pré-eclâmpsia bem como as suas complicações. 12DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO Fatores de risco para pré-eclâmpsia ALTO RISCO MODERADO RISCO História de PE em gestações anteriores Nulíparas Gestação gemelar Obesidade HAS História familiar de PE Diabetes mellitus prévio Raça negra Doença renal crônica Idade > 35 anos CIUR em gestações prévias Tabela 3. Fatores de alto e moderado risco para pré-eclâmpsia. Fonte: O autor, baseado em Zugaib obstetrícia, 3°ed, 2016. A pré-eclâmpsia pode ser classifi- cada em leve ou grave (Quadro 4). A presença de fatores como cefaleia ou distúrbios visuais, como os esco- tomas, podem ser sintomas de imi- nência de eclâmpsia, classificando a pré-eclâmpsia como grave. Além dis- so, dor epigástrica ou no quadrante superior direito está associada a ne- crose hepatocelular, isquemia e ede- ma que estiram a cápsula de Glisson, sendo frequente o aumento nos níveis séricos de transaminases hepáticas. A trombocitopenia também é carac- terística da pré-eclâmpsia em agra- vamento, sendo provavelmente cau- sada pela ativação e agregação das plaquetas bem como por hemólise microangiopática induzida pelo in- tenso vasospasmo. Os outros fatores indicativos de pré-eclâmpsia grave são o envolvimento renal ou cardía- co, bem como a evidente restrição do crescimento fetal. A ausência dessas complicações que definem a pré-e- clâmpsia leve. 13DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO Diferença entre a pré-eclâmpsia leve e grave ANORMALIDADE LEVE GRAVE Pressão arterial Diastólica <110 mmHg ≥ 110 mmHg Pressão arterial Sistólica <160 mmHg ≥ 160 mmHg Proteinúria ≤2+ ≥ 3 + Cefaleia Ausente Presente Distúrbios Visuais Ausente Presente Dor abdominal Ausente Presente Oligúria Ausente Presente Creatinina sérica Normal Elevada Trombocitopenia Ausente Presente Edema agudo de pulmão Ausente Presente Elevação das transaminases Mínima Acentuada Restrição do crescimento fetal Ausente Evidente Tabela 4. Diferença entre a Pré-eclâmpsia leve e grave. Fonte: O autor, baseado em Obstetrícia de Williams, 24°ed, 2016. e até amaurose) e gástricos (náu- seas, vômitos e dor no hipocôn- drio direito ou no epigástrio). As convulsões podem aparecer antes durante o ou depois do trabalho de parto. • Hipertensão crônica (HC): De- fine-se como HC a hipertensão que está presente na mulher an- tes da gravidez ou é diagnosticada antes de 20 semanas de gesta- ção. O grande problema da HC é que nem sempre a mulher tem um diagnóstico prévio e a pressão ar- terial normalmente diminui durante o segundo e o início do terceiro tri- mestres nas mulheres normoten- sas e cronicamente hipertensas, • Eclâmpsia: Temos a eclâmpsia quando uma gestante com hi- pertensão gestacional ou pré-e- clâmpsia apresenta acometimento neurológico, como convulsões. No entanto, cabe lembrar que alguns autores colocam que 10% das convulsões eclâmpticas desenvol- vem-se antes que a proteinuria. Ou seja, nem sempre a eclâmpsia tem um diagnóstico anterior de pré-eclâmpsia. A eclâmpsia é co- mumente precedida pelos sinais e sintomas de eclâmpsia iminente, isto é, distúrbios do sistema nervo- so central (cefaleia frontal/occipital, torpor, obnubilação e alterações do comportamento), visuais (esco- tomas, fosfenas, visão embaçada 14DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO dificultando o diagnóstico no pe- ríodo gestacional. Outro ponto, é que durante o terceiro trimestre, quando a pressão arterial volta a seu nível originalmente hiper- tenso, pode ser difícil determinar se a hipertensão é crônica ou in- duzida pela gravidez. A HC ainda pode ser classificada em essencial ou primária, que corresponde a grande maioria dos casos, ou se- cundaria, responsável por apenas 10% do total. Isso é importante na medida em quê a presença de doenças que levam à hipertensão secundária, também aumentam o risco na gestação independente da hipertensão, como por exemplo a coarctação de aorta e doenças autoimunes, como o lúpus. • Hipertensão arterial crônica com pré-eclâmpsia superajun- tada: Pacientes com HC também podem evoluir durante a gestação para a pré-eclâmpsia sobreposta. Sabe-se que mulheres com HC há mais de 4 anos ou história de pré- -eclâmpsia em outras gestações, apresentam um risco maior de ter essa doença sobreposta. A doença superposta tende a ser mais grave e, com frequência, é acompanhada por restrição do crescimento fetal. MAPA MENTAL. FORMAS CLÍNICAS DHEG HEELP Pré-eclâmpsia Hipertensão Gestacional Hipertensão crônicaEclâmpsia Convulsões Leve/grave Hipertensão Proteinúria Após a 1° metade da gestação Antes de 20 semanas de IG + Proteinúria Com Pré-eclâmpsia superajuntada 15DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO 5. DIAGNÓSTICO CLÍNICO-LABORATORIAL O diagnóstico das patologias que compõe a DHEG é feito com base no quadro clínico, e conta com a ajuda complementar de exames laborato- riais. Veja no quadro 5, um resumo da propedêutica necessária parao diag- nóstico de DHEG. PROPEDÊUTICA NO DIAGNÓSTICO DA DHEG CLÍNICA Anamnese Exame físico EXAMES LABORATORIAIS Proteinúria Ácido úrico Ureia e creatinina Hemograma com contagem de plaquetas Pesquisa de alterações eritrocitárias (esquizócitos) Bilirrubinas Enzimas hepáticas Tabela 5. Propedêutica no diagnostico da DHEG. Fonte: O autor, baseado em Zugaib obstetrícia, 3°ed, 2016. • Quadro clínico: A maioria dos ca- sos de DHEG são assintomáticos ou apresenta sintomas geralmente no final da gestação. Por isso, de- vemos realizar uma propedêutica rigorosa durante todas as consul- tas de pré-natal, visando o diag- nóstico mais precoce possível para evitar a evolução para formas mais graves da doença. Por isso, deve- mos sempre questionar na anam- nese a presença de fatores de ris- co, como comorbidades previas a gestação e passado obstétrico. Sendo assim, em todas as consul- tas de pré-natal, durante o exame físico, as gestantes devem ser sub- metidas a monitorização do ganho de peso e pressão arterial. Lem- bre-se que o primeiro passo para o diagnóstico de qualquer espectro da DHEG é presença de hiperten- são. Ela é diagnosticada, quando aferida corretamente, na presença da medida maior ou igual a 140 mmHg de pressão sistólica ou 90 mmHg da diastólica. • Exames laboratoriais: Vários exames laboratoriais servem para fornecer o diagnóstico diferencial e acompanhamento de complica- ções das síndromes hipertensivas na gravidez. Veja abaixo os princi- pais exames: • Proteinúria: A presença de pro- teinúria sempre nos alerta para a possibilidade de DHEG, sendo considerada significativa nas se- guintes situações: ◊ Quando igual ou superior a 300 mg em urina coletada du- rante 24 horas; ◊ Na relação proteína/creatinina > 0,3 em amostra isolada de urina; ◊ Quando se observa a presen- ça de proteinuria em fita indi- cadora (> 1 + ). 16DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO A pesquisa de proteinúria por meio de fita indicadora em amostra de uri- na isolada durante a consulta de pré- -natal é um método útil e prático para a confirmação momentânea do diag- nóstico de DHEG, porém não afasta a necessidade de confirmação em exa- me de urina, que pode ser feita tan- to em amostra isolada (pela relação proteína/ creatinina) quanto em urina de 24 horas (preferível em casos mais graves, com a paciente internada). SE LIGA! A desidratação, hematúria e bacteriúria podem produzir resultados falso-positivos na proteinúria de fita. De- vemos solicitar Proteinúria de 24 horas quando estivermos diante de pacientes hipertensas crônicas ou diabéticas pré- vias para avaliação de lesão de órgão alvo, já que é um exame mais trabalhoso de ser realizado. • Ácido Úrico: A dosagem do ácido úrico sérico é importante, pois sua elevação ocorre precocemente na DHEG e pode estar relacionada à queda da fiItração glomerular ou a alterações de reabsorção e excre- ção tubular. Além disso, os níveis de hiperuricemia correlacionam- -se com o grau de hemoconcen- tração, gravidade da endoteliose glomerular e gravidade da doença hipertensiva. No entanto, a dosa- gem de ácido úrico não faz par- te dos critérios diagnósticos, mas serve para o acompanhamento, sendo o nível sérico superior a 6 mg/dL, em gestante com valores anteriormente normais e sem uso de diuréticos, altamente sugestiva da presença de DHEG. • Hemograma com contagem de plaquetas: A plaquetopenia é mais frequente em pacientes com qua- dro clínico mais grave de DHEG. Como descrito anteriormente, a presença de plaquetopenia inferior a 100.000, associada à elevação de enzimas hepáticas, desidrogenase láctica (DHL) e hemólise fecham o diagnóstico da Síndrome HELLP, que possui elevada mortalidade. SE LIGA! Vale salientar que a plaque- topenia isolada pode estar presente na gravidez normal, além de poder ser en- contrada em quadros de alterações imu- nológicas, medicamentosas e idiopática. • Pesquisa de esquizócitos: Em formas mais grave de DHEG pode ocorrer anemia microangiopática devido a alterações nos pequenos vasos sanguíneos, e consequen- temente, reticulocitose, hemoglo- binemia e hemoglobinúria. Nesses casos, além da queda do nível de hemoglobina, surgem alterações morfológicas das hemácias, cha- madas de esquizócitose. • Bilirrubinas e enzimas hepáti- cas: Devido a hemólise que pode ocorrer em na DHEG grave, pode ocorrer icterícia e/ou o aumento de 17DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO bilirrubinas associada ao aumento de DHL e das enzimas hepáticas. • Ureia e creatinina: Durante a ges- tação normal, em função do au- mento do ritmo de filtração glo- merular, ocorre queda dos níveis séricos de ureia e creatinina. No entanto, devido as alterações fisio- patológicas da DHEG grave, pode ocorrer diminuição da filtração glo- merular, levando a elevação da ureia e creatinina. Diante de sintomas específicos, como crises convulsivas reincidentes na eclampsia ou sinais focais, pode ser necessário a avaliação por meio de exames de imagem, como a tomo- grafia ou ressonância nuclear magné- tica cerebral. Esses exames buscam descartas lesões cerebrais, como a hemorragia intracraniana, que piora o prognóstico matemo. 6. DIAGNÓSTICO ESPECÍFICO Como dito acima, dentro do termo DHEG, existem várias doenças hiper- tensivas. Em relação ao diagnóstico dessas doenças, temos: • Hipertensão crônica: Teremos o diagnóstico de HC quando a mulher tiver hipertensão documentada an- tes da gravidez ou antes de 20 se- manas de gestação, não atribuível à doença trofoblástica gestacional. Além disso, esse diagnóstico tam- bém pode ser dado na presença de hipertensão diagnosticada pri- meiramente depois de 20 sema- nas de gestação e que persistente depois de 12 semanas pós-parto. Recomenda-se nas pacientes com HC, o rastreamento de lesões de orgão-alvo, logo na primeira con- sulta de pré-natal. Para isso, os exames a serem solicitados são: Eletrocardiograma, Ecocardiogra- ma, fundoscopia, USG renal e os exames laboratoriais (hemograma, função hepática, renal, bilirrubinas, proteinúria, DHL e Ácido úrico). Além disso, em próximas consul- tas devem ser feito a avaliação da vitalidade fetal com ultrassonogra- fia com dopplervelocimetria de ar- téria umbilical, Perfil biofísico fetal e Cardiotocografia a partir da 28º semana, por duas vezes no mês e a partir da 34º semana, deverá ser realizado semanalmente. • Hipertensão arterial crônica com pré-eclâmpsia superajun- tada: Daremos esse diagnóstico na presença de uma gestante com hipertensão crônica associado ao aparecimento de proteinúria antes ausente. Esse diagnóstico tam- bém pode ser dado quando ocorre aumento súbito na proteinúria ou pressão arterial ou contagem das plaquetas < 1 00.000 nas mulhe- res com hipertensão e proteinúria antes de 20 semanas de gestação. 18DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO • Hipertensão gestacional: O diag- nóstico de HG é feito quando sur- ge pela primeira vez a hipertensão durante a gravidez. Porém nesses casos, deve ter ausência de pro- teinúria. Além disso, o diagnóstico de certeza é dado somente após o parto, quando a pressão retorna ao normal antes de 12 semanas pós- -parto. Além disso, deve ser solici- tado a cada 15 dias exames labo- ratoriais como hemograma, função hepática, renal, bilirrubinas, pro- teinúria, DHL e Ácido úrico. A car- diotocografia deve ser feito uma vez por semana, a partir de 30 se- manas e a USG com Doppler de Artéria Umbilical, a cada 15 dias, a partir de 28 semanas. • Pré-eclâmpsia: O diagnóstico de pré-eclâmpsia é feito na presença de hipertensão arterial e proteinú- ria > 300 mg/24 h ou > 1 + em fita. SE LIGA! Antes o edema era utilizado como critério diagnóstico para pré-e- clâmpsia, entretanto, edema leve de mãos, face e membros inferiores é co- mum na gravidez normal, principalmen- te no final dela. Sendo por isso, o quadro edematoso muito subjetivo, e portanto, não serve mais para esse diagnóstico. Mas lembre-se,edema generalizado ou ganho exagerado de peso (> 1.000 g/ semana), mesmo que não faça parte dos critérios de diagnóstico, deve ser valori- zado e avaliado na gestante. Além disso, assim como na hipertensão gestacional deve ser solicitado a cada 15 dias exa- mes laboratoriais, cardiotocografia deve ser feito uma vez por semana, a partir de 30 semanas e a USG com Doppler de Artéria Umbilical, a cada 15 dias, a partir de 28 semanas. • Eclampsia: Faremos o diagnóstico de eclampsia na presença de uma ou mais crises convulsivas tônico- -clônicas generalizadas e/ou coma, na ausência de outras causas quer expliquem o quadro em mulher com pré-eclâmpsia ou hipertensão gestacional. As crises convulsivas podem ocorrer na gestação, parto ou puerpério (48 a 72h do pós- -parto). Sinais como cefaleia occi- pital ou frontal persistentes, visão borrada, fotofobia; dor abdominal em epigástrio ou quadrante supe- rior direito e estado mental altera- do, são considerados como de imi- nência de eclâmpsia. 19DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO 7. SÍNDROME HELLP Sabemos que devido a alterações vasculares, pode ocorrer a associação de hemólise, plaquetopenia e disfun- ção hepática. Sendo assim, em 1982 foi instituído o acrônimo “HELLP”, ca- racterizando uma síndrome multissis- têmica grave da DHEG. Esse acrômio, representa a presença de anemia he- molítica microangiopática, disfunção hepática e trombocitopenia (Hemoly- sis, Elevated Liver enzymes, Low Platelets). A Síndrome HELLP é uma complicação grave, ocorrendo em 10- 20% das pacientes com pré-eclâmp- sia/ hipertensão gestacional graves ou eclâmpsia, e entre 0,1 a 0,8% das gestações no geral. O diagnóstico se baseia em dados clínico-laboratóriais. Apesar disso, as manifestações clí- nicas encontradas são inespecíficas, como náuseas, vômitos, mal-estar, perda de apetite, cefaleia ou sintomas visuais e dor abdominal. Nos exames laboratoriais, encontra-se contagem de plaquetas < 100.000/mm³, altera- ções eritrocitárias (esquizócitos) com bilirrubina total sérica > 1,2mg% as- sociado a elevação de LDH (> 600UI) e elevação de transaminases hepáti- cas. A conduta imediata deve ser es- tabilização do quadro e transferência para unidade de tratamento intensi- vo. Além disso, é indicado avaliação materno-fetal, controle hipertensivo, profilaxia para convulsões e avaliação da necessidade de parto imediato. 8. MANEJO DA DHEG O manejo da DHEG visa inicialmente prevenir o surgimento de formas gra- ves da doença e tratar a elevação da pressão arterial. • PREVENÇÃO: Não sabemos ao certo qual o fator específico no surgimento da DHEG, por conta disso não é possível fazermos uma prevenção primária da doença. Entretanto, aconselha-se para as gestantes, a ingestão de alimen- tos com baixo teor de sódio. Pois sabe-se que a redução da oferta de sal, leva a queda nos níveis sé- ricos de sódio, com diminuição da reatividade vascular e queda da pressão arterial. Vale lembrar, que alimentos industrializados como conservas, embutidos e temperos prontos, possuem grande quan- tidade de sódio em sua compo- sição. Ademais, deve-se orientar quanto ao abandono do tabagis- mo e consumo de bebidas alco- ólicas, além de repouso físico em decúbito lateral esquerdo e pelo menos 8 horas de sono à noite. Além disso, ara gestantes de alto risco de desenvolver pré-eclâmp- sia, é recomendado o uso de an- tiplaquetários e cálcio (Quadro 3). Geralmente essa prescrição é fei- ta com ácido acetilsalicílico (AAS), 100 mg/dia, com tomada noturna. O início do uso deve ocorrer a par- tir de 12 semanas de gestação, 20DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO com suspensão após 36 semanas. Em relação ao carbonato de cálcio, recomenda-se o uso de 1,5 a 2 g/ dia, também a partir de 12 sema- nas, para pacientes com baixa in- gesta de cálcio. Antigas literaturas também recomendavam a ingesta de vitaminas C e E, porém, novos estudos não têm demonstrado be- nefícios entre os estudos. Por isso, não é recomendada. • TERAPIA ANTI-HIPERTENSIVA: Diante de pacientes gestantes que apresentam aumento nos níveis tencionais, seja ela classificada como hipertensa crônica, gestacio- nal ou pré-eclâmpsia, deve ser fei- to o uso de anti-hipertensivo para o controle da pressão arterial. O fár- maco deve ser introduzir caso PAS maior ou igual 150 ou PAD maior ou igual 100mg, em duas medidas ou quando não há melhora dos ní- veis tensionais à mudança de há- bitos de vida / ocupacional. A dro- ga mais utilizada é a metildopa na dose de 500 mg a 2g/ dia. Outros fármacos também podem ser utili- zados, como o pindolol e nifedipina. Mas vale lembrar que inibidores da enzima de conversão da angioten- sina e antagonistas da angiotensi- na II devem ser substituídos devi- do a seus efeitos danosos ao feto. Objetiva-se que as hipertensas sem lesão de órgão-alvo a pres- são arterial diastólica não deve ser mantida abaixo de 80 mmHg. Já naquelas com lesão de órgão-alvo secundária à hipertensão crônica a terapia anti-hipertensiva tem como meta níveis tensionais inferiores a 140 x 90 mmHg. • TERAPIA NA CRISE HIPERTEN- SIVA AGUDA: Pacientes com DHEG pode apresentar aumen- to dos níveis tensionais com PAS maior ou igual 160 mmHg ou PAD maior ou igual a 110mmHg, clas- sificando-a nesse momento como crise hipertensiva aguda. Diante de situações como essa, devido ao grande risco de desenvolvimento de complicações, a gestante deve ser internada, posicionada em de- cúbito lateral esquerdo, com a ad- ministração de terapia anti-hiper- tensiva. A droga de escolha para esses casos é a Nifedipina VO, 10mg, sendo que pode ser repe- tida 10 mg a casa 30 min, caso seja necessário. Diante da não resposta, pode ser administrado hidralazina 5 ml intravenoso. Ou- tras drogas como hidralazina e ve- rapamil também podem ser usa- das inicialmente. Outros cuidados necessários são a verificação da pressão arterial materna a cada 5 min por 20 min após a medicação e realização da avaliação fetal com cardiotocografia. • TERAPIA NA ECLÂMPSIA: Dian- te do diagnóstico de Eclâmpsia, devemos internar imediatamente a 21DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO gestante para vigilância materno- -fetal, terapia convulsiva e preven- ção de novas crises. Esse quadro é uma emergência obstétrica e por isso, necessita de atendimento es- pecializado imediato. O tratamen- to visa a manutenção da função cardiorrespiratória e da oxigena- ção materna, controle da pressão arterial e correção da hipoxemia e da acidose materna. Inicialmen- te, o mais importante é proteger a via aérea e oxigenação da pacien- te, podendo ser usada a cânula de Guedel e oxigenoterapia, ade- mais podemos colocar a gestante em decúbito lateral esquerdo. Vale lembrar que devemos ter cuidado com a broncoaspiração e quedas durante o quandro convulsivo. Ou- tro ponto essencial é a monitoriza- ção materna e fetal, acesso venoso seguro, magnesioterapia imediata para prevenção de novas crises e sondagem vesical de demora para monitorização de possíveis efeitos colaterais da infusão de magnésio. A princípio, o uso de benzodia- zepínicos é contraindicado, visto que as convulsões são autolimita- das e essa medicação favorece a depressão respiratória e neuroló- gica da gestante. Diante de níveis tensionais elevados (PAS maior ou igual 160 mmHg ou PAD maior ou igual a 110mmHg), também deve-se fazer a terapia anti-hi- pertensiva. Além disso, dentro do planejamento terapêutico, deve-se solicitar exames complementares para avaliação dos sistemas que podem ser acometidos por essa patologia, incluindo gasometria ar- terial, exame de fundo de olho, ele- trocardiograma e tomografia com- putadorizada de crânio (se houver persistência do quadro convulsivo). • PROFILAXIA NA PE GRAVE E ECLÂMPSIA: Na presença de eclâmpsia ou pré-eclâmpsia grave deve ser feito a profilaxia para ocor- rência de convulsões com a magne- sioterapia. Existem vários esquemas para administração do magnésioque se dividem em dose de ataque e dose de manutenção. Independente de qual esquema será utilizado, de- ve-se monitorar a paciente em uso de magnésio devido ao risco de in- toxicação. Para isso, é recomendado a verificação frequente dos dados vitais, reflexo tendinoso profundo e da diurese. Além disso, deve-se so- licitar exames de laboratório de con- trole a cada 12 horas. 1. Esquema de Zuspan (administrar em Bomba de Infusão): • ESQUEMA DE ATAQUE: 04 g de MgSO4, IV, em 20 minutos. Se re- correr convulsões, realizar mais 2 g IV. • ESQUEMA DE MANUTENÇÃO: 1-2 g/h de MgSO4 por 24 h, 22DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO manter por 24 horas após o parto ou após a última convulsão. 2. Esquema de Sibai (administrar em Bomba de Infusão): • ESQUEMA DE ATAQUE: 06 g de MgSO4, IV, em 20 minutos. • ESQUEMA DE MANUTENÇÃO: 2-3 g/h de MgSO4, por 24 h, man- ter por 24 horas após o parto ou após a última convulsão. 3. Esquema de Pritchard (casos especiais): • ESQUEMA DE ATAQUE: 04 g de MgSO4, IV, em 20 minutos + 10g IM (5g em cada nádega). • ESQUEMA DE MANUTENÇÃO: 5g de MgSO4 IM (alternar náde- gas para injeção) a cada 4 horas. Os sinais mais frequentes de intoxica- ção por magnésio por ordem de apa- recimento são: diminuição de reflexos mais profundos, abolição de reflexo, depressão respiratória, parada respi- ratória e parada cardíaca. Nesses ca- sos, deve-se realizar a administração de10ml de Gluconato de Ca a 10%, IV, lentamente em 2 minutos. • INTERRUPÇÃO DA GESTA- ÇÃO: Devemos ter em mente que o parto é o tratamento definitivo para pré-eclâmpsia e hiperten- são gestacional. No quadro abaixo (Quadro 6) está descrito o que é recomendado na maioria das lite- raturas para interrupção gestacio- nal na DHEG. Lembre-se para par- tos com idade gestacional inferior a 34 semanas deve ser feito o uso de corticoide para ajudar na matu- ração pulmonar do feto. Interrupção da gestação na DHEG Hipertensas crônicas com controle pressórico adequado. Até a 40ª semana. Hipertensas crônicas com Pré-eclâmpsia superajuntada sem sinais de gravidade Com 37 semanas. Hipertensas crônicas com Pré-eclâmpsia superajuntada com critérios de gravidade Com 34 semanas (se condições maternas e fetais estáveis). Pré-eclâmpsia sem sinais de gravidade Com 37 semanas Pré-eclâmpsia com sinais de gravidade Interrupção imediata após estabilização materna e fetal. Hipertensão gestacional sem sinais de gravidade Com 37 semanas Hipertensão gestacional com sinais de gravidade Interrupção imediata após estabilização materna e fetal. Síndrome HELLP Interrupção imediata Tabela 6. Interrupção gestacional na DHEG. Fonte: O autor, baseado em Zugaib obstetrícia, 3°ed, 2016. 23DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO MAPA MENTAL TRATAMENTO Se PAS ≥ 160 ou PAD ≥ 110mg AAS + Cálcio Terapia anti-hipertensiva Tratamento da DHEG Prevenção da pré-eclâmpsia Eclâmpsia Crise hipertensiva aguda Medidas geraisPré-eclâmpsia grave/ Eclâmpsia Antecipação do parto Sulfato de magnésio Anti-hipertensivo Esquema de Zuspan Esquema de Sibai Esquema de Pritchard • Hospitalização, • Garantia de via aérea, • Oxigenação, • Proteção de traumas • Monitoração materno/fetal, • Magnesioterapia Redução da ingesta de sódio Se PAS ≥ 150 ou PAD ≥ 100mg Terapia anti-hipertensiva 24DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO MAPA MENTAL GERAL Grupo de doenças hipertensivas que ocorrem devido a alterações na invasão trofoblástica. DHEG Definição Diagnóstico Classificação Fatores de riscoConduta Sulfato de magnésio Hipertensão gestacional, crônica sem sinais de gravidade, pré-eclâmpsia leve Prevenção da pré-eclâmpsia Anti-hipertensivo Manejo ambulatórial AAS + Cálcio Idade materna avançada Diabetes mellitus Obesidade DHEG em gestação pregressa História familiar de DHEG Pré-eclâmpsia superajuntada Hipertensão gestacional Hipertensão crônica Pré-eclâmpsia Eclâmpsia Quadro clínico Exames laboratoriais Medidas geraisRedução da ingesta de sódio 25DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Montenegro, CAB, et al. Rezende obstetrícia / Carlos Antonio Barbosa Montenegro, Jorge de Rezende Filho. - 13. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. CUNNINGHAM, F. Gary et al. Obstetrícia de Williams. 24. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. Cap. 42. p. 847-849. Zugaib, Marcelo; Francisco, Rossana Pulcineli Vieira (eds). Zugaib obstetrícia [3ed.]. BARUE- RI: Manole, 2016. 1329p. Sá, Renato Augusto Moreira de Hermógenes -- Obstetrícia básica / Renato Augusto Moreira de Sá, Cristiane Alves de Oliveira. -- 3. ed. -- São Paulo : Editora Atheneu, 2015. KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. Febrasgo. Manual de orientações a gestação de alto risco, 2011 26DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO
Compartilhar