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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Ciências Sociais Faculdade de Direito Victor Luis Barroso Nascimento Direito e comportamento: uma revisão da literatura juŕıdica sob o prisma do Behaviorismo Radical Rio de Janeiro 2016 Victor Luis Barroso Nascimento Direito e comportamento: uma revisão da literatura juŕıdica sob o prisma do Behaviorismo Radical Monografia apresentada, como requisito par- cial para obtenção do t́ıtulo de Bacharel, à Faculdade de Direito, da Universidade do Es- tado do Rio de Janeiro. Orientador: Prof. Ms. Antônio Augusto Madureira de Pinho Rio de Janeiro 2016 CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/REDE SIRIUS/BIBLIOTECA CCS/C Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta monografia, desde que citada a fonte. _______________________________________ _____________________ Assinatura Data N244d Nascimento, Victor Luis Barroso. Direito e comportamento: uma revisão da literatura jurídica sob o prisma do Behaviorismo Radical / Victor Luis Barroso Nascimento. - 2016. 134 f. Orientador: Profº. Antônio Augusto Madureira de Pinho. “Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.” 1. Direito - Filosofia. 2. Behaviorismo (Psicologia). 3. Comportamento Humano. I. Pinho, Antônio Augusto Madureira de. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Direito. III. Título. CDU 340 Victor Luis Barroso Nascimento Direito e comportamento: uma revisão da literatura juŕıdica sob o prisma do Behaviorismo Radical Monografia apresentada, como requisito par- cial para obtenção do t́ıtulo de Bacharel, à Faculdade de Direito, da Universidade do Es- tado do Rio de Janeiro. Aprovada em 21 de 03 de 2016. Banca Examinadora: Prof. Ms. Antônio Augusto Madureira de Pinho (Orientador) Universidade do Estado do Rio de Janeiro Prof. Dr. Alexandre Fabiano Mendes Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2016 AGRADECIMENTOS A meus pais e irmãos, que sempre me apoiaram e nunca deixaram de acreditar no meu potencial profissional e acadêmico. A Patricia, minha eterna fonte de inspiração, sem a qual este trabalho dificilmente seria escrito com tanta leveza e esmero. A Tiago Gurgel e Ana Bernardo, os companheiros mais leais. A Guilherme Passos, amigo digno de admiração e revisor acadêmico. Ao meu orientador e mentor, Prof. Ms. Antônio Augusto Madureira de Pinho, por permitir que eu desfrutasse de seus amplos conhecimentos filosóficos e sempre me orientar da forma mais atenciosa, prudente e sábia posśıvel. “As variáveis externas, das quais o comportamento é função, dão margem ao que se pode ser chamado de análise causal ou funcional. Tentamos prever e controlar o comportamento de um organismo individual. Esta é a nossa “variável dependente” - o efeito para o qual procuramos a causa. Nossas “variáveis independentes” - as causas do comportamento – são as condições externas das quais o comportamento é função. Relações entre as duas – as “relações de causa e efeito” no comportamento – são as leis de uma ciência. Uma śıntese dessas leis expressa em termos quantitativos um esboço inteligente do organismo como um sistema que se comporta.” Burrhus Frederic Skinner, Ciência e Comportamento Humano RESUMO NASCIMENTO, V. L. B. Direito e comportamento: uma revisão da literatura juŕıdica sob o prisma do Behaviorismo Radical. 2016. 132 f. Monografia (Bacharelado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016. Este trabalho pretende definir e analisar o processo de tomada de decisões (espe- cialmente as juŕıdicas) através de um prisma simultaneamente filosófico, cient́ıfico e psi- cológico, sendo utilizadas como base juŕıdica as considerações feitas por Frederick Schauer acerca da estrutura lógica dos processos decisionais no livro “Playing by the Rules” e acerca da importância das sanções para uma descrição emṕırica do direito no livro ”The Force of Law”, bem como aquelas feitas por Noel Struchiner acerca das relações existentes entre o direito e a linguagem, expostas no livro ”Direito e Linguagem”, e os fenômenos da punição e da intuição moral, que são abordadas em dois artigos do livro ”Novas Fron- teiras do Direito”. No que diz respeito à esfera psicológica, o comportamento humano será descrito por meio de sua propriedades anaĺıtico-funcionais, sendo utilizada para isto a vertente da filosofia psicológica denominada Behaviorismo Radical, elencada pelo seu principal autor, B.F. Skinner, em cinco de suas principais obras: “The Behavior of Orga- nisms”,”O Comportamento Verbal”,”Ciência e Comportamento Humano”, “O Mito da Liberdade” e ”Sobre o Behaviorismo”. Por fim, os elementos filosóficos serão retirados de fontes extremamente diversificadas, incluindo autores como, por exemplo, Karl Popper, H. L. A. Hart, Ludwig Wittgenstein e Hans Kelsen. Palavras-chave: Direito - Filosofia. Behaviorismo (Psicologia). Comportamento humano. ABSTRACT NASCIMENTO, V. L. B. . 2016. 132 f. Monografia (Bacharelado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016. This work tries to define and analyze the process of decision making (especially in its juridical forms) from a perspective that is simultaneously philosophical, scientific and psychological, in which we utilize as a juridical base the considerations made by Frederick Schauer about the logical struture of decision making processes in the book ”Playing by the Rules”and about the importance of sanctions for a empirical description of law in his book ”The Force of Law”, as well as those made by Noel Struchiner about the existing relations between law and language, exposed in the book ”Direito e Linguagem”, and the phenomenons of punishment an moral intuition, studied in two articles on the book ”Novas Fronteiras do Direito”. On the psychological side, human behavior will be described in respect to its analytic-functional properties, which will be done with the use of the psychological theory known as Radical Behaviorism, described by B.F. Skinner in four of his main works: ”The Behavior of Organisms”, ”Verbal Behavior”, ”Science and Human Behavior”, ”Beyond Dignity and Freedom”and ”About Behaviorism”. At last, the philosophical elements will be taken from extremely diversified sources, including authors such as, for example, Karl Popper, H.L.A. Hart, Ludwig Wittgenstein and Hans Kelsen. Keywords: Law - Philosophy. Behaviorism (Psychology). Human Behavior. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 1.1 A escolha do paradigma e suas justificações . . . . . . . . . . . . . . 9 1.1.1 Razões para uma abordagem cient́ıfica da psicologia . . . . . . . . . . . . 11 1.1.2 Fenômenos fisiológicos e análise comportamental . . . . . . . . . . . . . . 14 1.1.3 Cognitivismo e Behaviorismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 2 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DAS CIÊNCIAS COMPOR- TAMENTAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 2.1 Categorias descritivas essenciais para uma análise do comporta- mento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 2.1.1 Comportamentos respondentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 2.1.2 Comportamentos operantes . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 2.1.3 Est́ımulos e suas propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.1.3.1 Est́ımulos aversivos e reforçadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.1.3.2 Est́ımulos incondicionados e condicionados . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 2.1.3.3 Est́ımulo discriminativo, est́ımulo delta e est́ımulo discriminativo punitivo 31 2.1.4 Formas de condicionamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 2.1.4.1 Condicionamento clássico, respondente ou Pavloviano . . . . . . . . . . . . 34 2.1.4.2 Condicionamento operante, extinção e contingências punitivas . . . . . . . 36 2.1.5 Outras variáveis importantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 2.1.5.1 Generalização e reforço diferencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 2.1.5.2 Prepotência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 2.1.5.3 Privação e saciação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 2.1.5.4 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 2.1.5.5 Emoção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 2.2 Śıntese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 3 COMPORTAMENTOS VERBAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 3.1 Definição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 3.2 Mandos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 3.3 Tatos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 3.4 Intraverbais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 3.5 Autocĺıticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 4 DIREITO COMO COMPORTAMENTO . . . . . . . . . . . . . . . 69 4.1 As vantagens de uma análise comportamental do direito . . . . . 69 4.2 O homúnculo juŕıdico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 4.3 Comportamentos verbais juŕıdicos e legislativos . . . . . . . . . . . 74 4.3.1 Mandos juŕıdicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 4.3.1.1 Normas, precedentes normativos e decisões judiciais . . . . . . . . . . . . . 77 4.3.2 Tatos juŕıdicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 4.3.2.1 Predicados fáticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 4.3.2.2 Categorias e definições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 4.3.3 Autocĺıticos juŕıdicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 4.3.3.1 Critérios de interpretação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 4.3.3.2 Prinćıpios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 4.3.3.3 Revisão por órgãos superiores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 4.3.4 Intraverbais juŕıdicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 4.3.4.1 Jurisprudência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 4.3.4.2 Doutrina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 5 UMA ANÁLISE DA LITERATURA ESPECÍFICA . . . . . . . . 91 5.1 Noel Struchiner . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 5.1.1 Direito e Linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 5.1.1.1 Uma definição comportamental dos conceitos de textura aberta, seme- lhança de famı́lia e jogo de linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92 5.1.1.2 Casos fáceis e dif́ıceis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 5.1.2 Novas fronteiras do Direito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 5.1.2.1 Diferentes caracteŕısticas das contingências punitivas . . . . . . . . . . . . 99 5.1.2.2 O modelo sócio-intuicionista de Haidt . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 5.2 Frederick Schauer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 5.2.1 The Force of Law . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 5.2.1.1 Punições e recompensas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 5.2.1.2 O homem intrigado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116 5.2.1.3 Relações causais entre leis e comportamentos . . . . . . . . . . . . . . . . 117 5.2.2 Playing by the Rules . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 5.2.2.1 Suprainclusão, infrainclusão e justificações . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 5.2.2.2 Tipos de sistemas decisionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123 6 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 9 1 INTRODUÇÃO 1.1 A escolha do paradigma e suas justificações Antes de adentrar propriamente no tema deste trabalho, tendo em vista a vasta gama de teorias que atualmente coexistem no interior dos meios acadêmicos que estudam fenômenos comportamentais, faz-se necessária uma breve digressão sobre o paradigma teórico aqui adotado, bem como uma subsequente justificação dos critérios de seleção que foram utilizados durante a inevitável escolha de certos sistemas explicativos em detrimento de outros. Inicialmente, será oferecida uma descrição sucinta destes critérios, sendo todos melhor elaborados em tópicos espećıficos dedicados ao seu detalhamento. Em um primeiro momento, realizamos uma seleção referente ao tipo de análise teórica almejada, sendo adotado critério de discriminação relativo à cientificidade das teorias existentes. Desta forma, descartam-se todas aquelas que se pautam exclusivamente pelo viés do pensamento teórico-filosófico, que não estendem (ou não podem estender) seus métodos de pesquisa à prática emṕırica dos laboratórios ou que não sobrevivem ao crivo do critério Popperiano de falseabilidade1. A justificativa para este critério é, em śıntese, uma justificativa para a própria existência do método cient́ıfico. O progresso da ciência está intimamente ligado tanto ao quanto compreendemos o nosso mundo quanto ao grau de controle que temos sobre ele. Descobertas e avanços cient́ıficos frequentemente são acompanhados por evoluções técnicas nos campos que lhes correspondem e, tendo em vista o caráter cumulativo de seu saber, a ciência cada vez mais vem fornecendo à humanidade os subśıdios necessários para o conhecimento, compreensão e conquista de todas as forças presentes na natureza. Por- tanto, a seleção de um método com base no critério da cientificidade se pauta não apenas na chance presumivelmente maior de correspondência à realidade que a ciência carrega, mas também nos notáveis avanços práticos que a incorporação do método cient́ıfico traz a todos os campos do saber onde sua sedimentação é posśıvel, eis que os conhecimentos através dele produzidos são constantemente postos à prova e empregados em técnicas que permitem um maior grau de controle humano sobre os fenômenos analisados. Em um segundo momento, a seleção busca filtrar as teorias e campos psicológicos atualmente tidos como cient́ıficos de acordo com sua pertinência ao objeto que será ana- lisado – a saber, a interação entre fenômenos normativos e psicológicos na produção de 1 Uma aplicação espećıfica deste critério à psicanálise freudiana e à psicologia individual de Alfred Adler pode ser vista no artigo “Science as falsification” de Karl R. Popper, originalmente publicado no livro “Conjectures and Refutations: The Growth of Scientific Knowledge” (POPPER, 1962). 10 decisões (sejam juŕıdicas ou não). A temática do presente trabalho, como será exposto em maior detalhe no momento oportuno, mantém seu foco sobre as relações decausalidade2 e determinação presentes entre indiv́ıduos e est́ımulos externos que agem sobre os mesmos durante a ocorrência do fenômeno decisional, o que torna necessário o emprego de uma teoria que trate especificamente das relações existentes entre o indiv́ıduo e o meio em que ele habita. Desta forma, são afastados, por ora, todos os campos de estudo que se ocupam exclusivamente das relações de economia interna presentes no interior dos orga- nismos humanos, o que exclui da presente análise tanto o campo da fisiologia quanto o da neurociência. A justificativa deste critério é de origem puramente prática: muito embora estas sejam duas práticas cient́ıficas que sem dúvida alguma possam trazer contribuições rele- vantes para o presente estudo, os fenômenos que tais ciências analisam encontram-se em campos de estudo diversos daquele onde são observados aqueles que o presente trabalho pretende analisar. A esfera do comportamento, muito embora possua inegável v́ınculo com a esfera da fisiologia, constitui campo distinto e possui sua própria linguagem des- critiva. Portanto, da mesma forma que fenômenos biológicos e qúımicos são descritos por uma linguagem própria que se diferencia daquela empregada na f́ısica (não obstante o fato de todos os fenômenos biológicos e qúımicos serem redut́ıveis a fenômenos f́ısicos), uma redução dos fenômenos comportamentais a fenômenos neurológicos e f́ısicos, muito embora não se mostre imposśıvel, seria tarefa extremamente árdua e contraproducente (conforme será indicado em mais detalhes no ponto 1.1.2). Em um terceiro momento, a seleção busca quantificar o potencial anaĺıtico de cada uma das teorias ainda aplicáveis, preferindo aquelas com maior precisão, clareza e economia de termos em detrimento daquelas que se utilizam de ficções explanatórias ou esquemas desnecessariamente complexos que sejam redut́ıveis a partes mais simples. Após a aplicação dos dois filtros anteriormente expostos, os paradigmas mais notáveis dentre os quais ainda se pode escolher são aqueles denominados cognitivismo e behavio- rismo radical. É importante notar que ambos mantêm práticas cient́ıficas sólidas e ainda possuem um corpo dedicado de cientistas e estudiosos na atualidade, o que faz com que qualquer opção traga todos os benef́ıcios teóricos enumerados durante a justificação dos 2 Em seus livros e escritos sobre o behaviorismo, Skinner, para evitar posśıveis ambiguidades e confusões com as acepções que tais conceitos adotaram em outras teorias, substitui os termos “causa” e “efeito” pelos termos “variável independente”e “variável dependente”, que são utilizados com mais frequência no meio cient́ıfico. No entanto, o próprio autor ressalta que trata-se de vocabulário próprio do meio cient́ıfico e, contanto que as formulações “causais” sejam utilizadas dentro de suas conceptualizações mais tradicionais (como “eventos antecedentes” e “eventos posteriores”, sendo ambos ligados por um nexo de influência denominado “causal” sempre que se verifica que uma modificação dos eventos ante- cedente necessariamente acarreta uma alterações dos eventos posteriores), tais termos não apresentam nenhum óbice à análise funcional, razão pela qual receberão preferência no presente estudo. 11 dois primeiros critérios de seleção. No entanto, existe uma certa fricção entre ambos e, com isto, torna-se imperativa a intervenção do terceiro critério para a adoção de apenas um destes paradigmas. Por razões que serão melhor expostas no tópico 1.1.3, a teoria que melhor atende ao critério de analiticidade e economia descritiva é a behaviorista3, razão pela qual a mesma será adotada em todas as análises aqui realizadas. A justificação deste último critério encontra suas ráızes na filosofia anaĺıtica e se assenta na necessidade de uma maior clareza e funcionalidade em proposições descritivas referentes ao universo natural. A eficiência da técnica empregada nas descrições cient́ıficas está diretamente ligada à eficiência da ciência como um todo, do que se depreende que, para a manutenção da validade e utilidade de suas conjecturas, os teóricos devem adotar uma postura revisionista e buscar sempre atualizar a linguagem (e, por consequência, o paradigma) utilizada na formulação das proposições de cada ciência. Ademais, tal postura determina que os cientistas identifiquem com a maior precisão posśıvel não só seus objetos de estudo, mas também, na medida do posśıvel, as unidades atômicas do fenômeno a ser analisado4, o que sugere a necessidade de uma atualização paradigmática sempre que unidades antes tidas como fundamentais forem desmembradas e explicadas em funções de outras unidades, que as substituem como as novas unidades atômicas da teoria. 1.1.1 Razões para uma abordagem cient́ıfica da psicologia Historicamente, a psicologia sempre foi um campo de estudo ligado de forma ı́ntima à filosofia, sendo que apenas no século XIX seus teóricos começaram a empregar esforços significativos no sentido de criar um corpo cient́ıfico autônomo sobre a matéria. A despeito do amplo reconhecimento da psicologia como campo cient́ıfico na atu- alidade, ainda existem, no meio acadêmico, diversas teorias explicativas referentes a 3 Usualmente, é feita uma distinção entre os conceitos de “ciências comportamentais” e “behaviorismo”, sendo este o último considerado a base teórica e filosófica do primeira. No entanto, eles serão utilizados aqui como sinônimos, devendo ser interpretados como termos mais amplos, que se referem ao modelo explicativo comportamentalista como um todo. 4 A relação existente entre unidades fundamentais e precisão epistemológica é expressa de forma magistral pelo artigo existente na Stanford Encyclopedia of Philosophy sobre a filosofia anaĺıtica de acordo com Bertrand Russel, tendo especial destaque a seguinte transcrição: “No lado epistemológico, Russl argumenta que também é importante mostrar como cada entidade questionável pode ser reduzida a, ou definida em termos de, outra entidade (ou entidades) cuja existência é mais certa. Por exemplo, nesta visão, um objeto f́ısico ordinário que normalmente pudesse ser imaginado como cognosćıvel apenas por meio da inferência pode, ao revés, ser definido como “uma certa série de aparições, conectadas umas às outras pela continuidade e por certas leis causais. ... De forma mais geral, uma “coisa” será definida como uma certa série de aspectos, qual seja, aqueles que comumente seriam ditos ser da coisa. Dizer que certo aspecto é um aspecto de certa coisa significará meramente que ele é um dos que, tomados de forma serial, são a coisa. (1914a, 106–107)” (IRVINE, 2015)(tradução nossa) 12 fenômenos do comportamento e do cérebro humano que possuem caráter notoriamente filosófico e especulativo. Como exemplo, podemos citar as teorias Fenomenológica, Ges- taltista e Psicanaĺıtica, todas amplamente debatidas por estudiosos e aplicadas terapeu- ticamente por psicólogos ainda nos dias de hoje. Desta forma, antes de afirmar justificadamente que, no presente caso, as teorias cient́ıficas devem prevalecer sobre as teorias filosóficas, mostra-se necessária uma defesa tanto das vantagens espećıficas que uma ciência do comportamento proporciona aos seus teóricos quanto das vantagens gerais que a cientifização dos campos de estudo e a aplicação do método cient́ıfico em si proporcionam. De fato, este é um tema de suma importância para os cientistas comportamentais, tendo sido extensivamente discutido por praticamente todos os teóricos notáveis da psi- cologia cient́ıfica. O próprio Skinner devota um caṕıtulo inteiro de sua obra “Ciência e Comportamento Humano” à defesa da utilidade que o método cient́ıfico pode propiciar ao estudo do comportamento humano. Como se não bastasse, ele ainda dedica um li- vrointeiro - “O Mito da Liberdade” (SKINNER, 1973) - a desmistificar algumas noções bastante recorrentes na literatura, presentes nos mais variados campos do saber, que buscam caracterizar relações entre os homens e suas condutas, redefinindo tais conceitos em termos comportamentais e indicando de forma clara como, surpreendentemente, até mesmo as noções mais elementares e corriqueiras podem encontrar-se em conflito direto com as evidências emṕıricas atualmente existentes. Isto se dá principalmente devido à ausência de conhecimento e esclarecimento acerca destas últimas quando tais conceitos foram criados, sendo muitos deles empregados há séculos pelos mais diversos pensadores e podendo suas criações serem remontadas a épocas muito anteriores ao surgimento da própria ciência. Citemos, como exemplo deste último fenômeno, alguns casos examinados por Skin- ner no livro retromencionado. Nesta obra, o autor dedica especial atenção a dois conceitos bastante tradicionais: “liberdade” e “dignidade”. Em suas concepções mais difundidas, a “liberdade” de um homem está associada à sua capacidade de auto-determinação e a indeterminação externa de sua vontade, enquanto sua “dignidade” está relacionada à possibilidade e necessidade social de que o mesmo venha a ser responsabilizado por seus atos, devendo receber crédito ou punições de acordo com o teor destes. No entanto, a noção cient́ıfica de que o comportamento é em larga medida determinado pelo meio e que encontra-se em uma cadeia causal natural (sendo, com isso, causado por diversos fatores extrâneos ao organismo) de certa forma agride estes conceitos, uma vez que a determinação do ato de um sujeito pelos est́ımulos a que ele se sujeita esvazia totalmente o poder causal da “autonomia do agente” e torna sua “vontade livre” plenamente deter- minada, não obstante enfraquecer a possibilidade de culpabilização e concessão de mérito ao declarar que, em razão da influência ambiental, as condições externas a que o indiv́ıduo se sujeita são tão importantes para a emissão de comportamentos culpáveis ou creditáveis 13 quanto o próprio indiv́ıduo. Observe-se, no entanto, que estas definições não são as únicas posśıveis; ao definir- mos “liberdade” como ausência de determinação do comportamento por est́ımulos aver- sivos (como dor, sofrimento ou necessidade) e determinarmos que punições e acreditações não são aplicadas porque os sujeitos “as merecem”, mas sim porque sua aplicação visa a modificar suas tendências comportamentais, por exemplo, parece que satisfazemos todas as ânsias da filosofia tradicional sem nos desvencilhar da linha traçada pela ciência, eis que, desta forma, o caráter determinado das condutas não constitui óbice à existência destes conceitos ou à persecução do que eles simbolizam na vida real pelos seres humanos. Retornando ao ponto principal, podemos dizer que, em geral, os argumentos prin- cipais a favor da ciência costumam mencionar tanto a importância prática que existe no avanço de seus objetivos de previsão e controle dos fenômenos naturais mediante des- crições concretas precisas5 quanto o notável sucesso que ela têm obtido na persecução destes mesmos fins. Como é sabido, a ciência provê subśıdios diretos para a previsão acertada de eventos futuros e para a criação de tecnologias que manipulam os eventos es- tudados – disponibilizando, desta forma, um extensivo rol de ferramentas aptas a permitir que sejam controlados os mais diversos fenômenos da natureza. Avançar as propostas do método cient́ıfico no campo da psicologia é avançar, simultaneamente, todas as tentativas de manipulação de comportamentos realizadas pelo homem, principalmente aquelas que versam sobre os comportamentos dos próprios homens. Desta forma, todos os campos que lidam com fenômenos que estão em alguma medida relacionados com comportamentos e técnicas para sua modulação – como, por exemplo, a economia, o direito e a sociologia – seriam de alguma forma beneficiados por esta agenda. Portanto, temos que a importância da ciência reside na inegável utilidade que a mesma oferece para a humanidade frente à existência de um meio natural em que ela inevitavelmente se insere e que nem sempre lhe é favorável, servindo de instrumento para a manipulação de fenômenos de modo a lhe criar as mais diversas vantagens e para possibilitar o efetivo incremento dos conhecimentos que se possui sobre o mundo e seu 5 “A ciência é mais que a mera descrição dos acontecimentos à medida que ocorrem. É uma tentativa de descobrir ordem, de mostrar que certos acontecimentos estão ordenadamente relacionados com outros. Nenhuma tecnologia prática pode basear-se na ciência até que estas relações tenham sido descobertas. Mas a ordem não é somente um produto final posśıvel; é uma concepção de trabalho que deve ser adotada desde o prinćıpio. Não se podem aplicar os métodos da ciência em assunto que se presume ditado pelo capricho. A ciência não só descreve, ela prevê. Trata não só do passado, mas também do futuro. Nem é previsão sua última palavra: desde que as condições relevantes possam ser alteradas, ou de algum modo controladas, o futuro pode ser manipulado. Se vamos usar os métodos da ciência no campo dos assuntos humanos, devemos pressupor que o comportamento é ordenado e determinado. Devemos esperar descobrir que o que o homem faz é o resultado de condições que podem ser especificadas e que, uma vez determinadas, poderemos antecipar e até certo ponto determinar as ações.” (SKINNER, 2003, pg. 7) 14 funcionamento. Em que pesem as muitas utilidades da filosofia, nem mesmo os seus ramos mais pragmáticos costumam oferecer tantas vantagens técnicas a seus membros quanto as práticas cient́ıficas, devendo ser conferida precedência a estas sempre que o que está sendo buscado é, em última instância, a ampliação dos conhecimentos emṕıricos do homem e do efetivo domı́nio que o mesmo tem sobre os fenômenos da natureza. 1.1.2 Fenômenos fisiológicos e análise comportamental Como mencionado anteriormente, afastar a aplicação da fisiologia e da neurociência ao presente trabalho não implica em um questionamento da validade ou utilidade des- tes campos. Muito pelo contrário: a ciência do comportamento precisa necessariamente pressupor que existem fenômenos fisiológicos subjacentes a todos os fenômenos compor- tamentais, sob pena de, conceitualmente, tornar o organismo uma caixa-preta67. No entanto, tem-se que a explicação comportamental e a explicação fisiológica, apesar de complementares, possuem objetos claramente distintos e, não obstante, são plenamente independentes uma da outra, não sendo de forma alguma necessário que ambas sejam operadas simultaneamente. De fato, temos que a fisiologia, quando aplicada ao comportamento humano, nos descreve apenas as relações de economia interna existentes no organismo (ou, especifica- mente, os eventos fisológicos referentes à atividade cerebral, no caso da neurociência), en- quanto as ciências comportamentais, ao revés, mantêm o seu foco na descrição das relações de troca existentes entre o indiv́ıduo e seu meio. Em outras palavras: enquanto a fisiologia e a neurociência indicam as relações existentes entre determinadas modificações qúımicas ou f́ısicas que ocorrem no interior do organismo (podendo ou não indicar relações exis- tentes entre estas e a observação de certos comportamentos), o behaviorismo se preocupa com a indicação dos est́ımulos externos ao organismo que ocasionaram essas mudanças fisiológicas, dois quais o comportamento em análise é uma função. Portanto, enquanto os 6 Outra alternativa seria renegar o nexo causal existente entre est́ımulo e comportamento em prol de uma causalidade direta entre substâncias metaf́ısicas pressupostas no interior ou exteriordo indiv́ıduo e o comportamento analisado, expediente utilizado em diversas teorias que visam a explicar o com- portamento humano através do dualismo mente/corpo, onde uma força que não é causalmente de- terminada e não se pode observar na natureza (como a “liberdade” no libertarianismo metaf́ısico, o ”livre-arb́ıtrio”determinado pela razão pura e pelo arb́ıtrio animal no kantismo, a “vontade de Deus” na doutrina ocasionalista de Malebranche e, ainda, o conceito geral de “vontade” exposto em doutrinas como a de Husserl e Schopenhauer) é tida como causa e origem última de todos os comportamentos humanos. 7 Para uma análise da relação existente entre behaviorismo, cognitivismo e fisiologia, com especial foco em eventos neurológicos, ver o artigo ”Sobre as cŕıticas de Skinner à fisiologia: Indicadoras de orientação antifisiológica ou contribuições relevantes? (ZILIO, 2015) 15 primeiros campos têm por objeto a variação nos fatores orgânicos de um ser quando veri- ficada a ocorrência de determinado comportamento, o último se ocupa com a variação no ambiente externo deste mesmo ser quando este comportamento é verificado, sendo estabe- lecida, então, a relação de causalidade existente entre esta mudança e o comportamento, o que explicita as relações de controle existentes entre o meio e o indiv́ıduo. Em um exemplo ilustrativo, imagine-se uma situação onde um homem X é ofendido por outro homem Y e, em resposta, o agride. Neste caso, uma análise do fenômeno pela ótica da fisiologia nos revelaria algo como “a agressão foi causada pelo aumento na concentração de adrenalina (ou outras substâncias) no organismo de X e pela ativação de determinadas áreas de seu cérebro”, enquanto uma análise do fenômeno pela ótica comportamental determinaria, em linhas gerais, algo como “há uma correlação entre a agressão e a ofensa”. Não se pode negar que explicações integradas (do tipo “a correlação entre um evento X e um comportamento Y está correlacionada a um estado/evento fisiológico Z”) seriam ainda mais elucidativas durante a análise do comportamento humano do que as pu- ramente comportamentais. No entanto, vale ressaltar que este modelo de análise integrada muitas vezes é contraproducente, justamente por ser significantemente mais complexo do que aquele estritamente necessário para o alcance dos fins pretendidos por estudos com- portamentais. Inclusive, este modelo pode vir a se tornar um empecilho para o desen- volvimento regular de análises explicativas em função desta mesma complexidade, sendo importante que os estudiosos do comportamento procedam a uma separação de entre o campo comportamental e o fisiológico sempre que sua junção fornecer algum obstáculo para o desenvolvimento dos estudos cient́ıficos que visam a elucidar de forma espećıfica os fenômenos de caráter comportamental8. 8 Uma defesa realizada por Skinner da necessidade de diferenciação entre as ciências comportamentais e fisiológicas para que análises mais complexas sejam posśıveis em ambos os campos pode ser encontrado no seguinte trecho, retirado do livro The Behavior of Organisms: “A prática atual de proceder de um fato comportamental para seu correlato neural ao invés de validar o fato como tal e então seguir para outros problemas comportamentais prejudica seriamente o desen- volvimento de uma ciência do comportamento. O primeiro dos experimentos descritos neste livro foi sobre a mudança no ritmo de ingestão de comida. O curso “natural” teria sido volver à identificação do processo fisiológico com o qual a mudança estava correlacionada. Várias hipóteses se sugeriram: a curva refletiu uma mudança na condição do estômago, ou na concentração de açúcar no sangue, ou na oxidação do “hormônio da fome”, dentre outros. Sem dúvida, esta seria uma linha de pesquisa produtiva, mas isto significaria renunciar a um interesse no comportamento em si. Para o propósito de uma descrição causal do comportamento a mudança quantitativa na força dos reflexos ingetivos era suficiente. Nenhuma detecção de correlatos fisiológicos teria aumentado a validez da lei, e ao nos virar- mos para as outras leis ao ńıvel do comportamento poderemos aprender mais sobre comportamentos. Enquanto isto o fisiologista recebeu um método de investigação, para quando ele vier a desejar avançar o seu lado da correlação.” (SKINNER, 1938, pg. 428)(tradução nossa). 16 1.1.3 Cognitivismo e Behaviorismo A escolha do paradigma behaviorista em detrimento do cognitivista provavelmente é um dos procedimentos mais questionáveis e controversos adotados por este trabalho e, portanto, a ele merecem ser dedicados atenção especial e um esclarecimento mais complexo e aprofundado. Primeiramente, é importante ressaltar que ambas são práticas tidas como cient́ıficas e que ainda hoje são desenvolvidas por comunidades dedicadas, não havendo que se falar, como pretendem alguns autores cognitivistas, em uma condenação contemporânea dos ci- entistas behavioristas ao ostracismo. Isto se mostra evidente principalmente na psicologia cĺınica atual, onde a TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental), que mescla abordagens cognitivistas com behavioristas, ganha cada vez mais relevância prática e acadêmica. Ade- mais, inúmeros estudos ainda são conduzidos com base nos dois paradigmas 9, existindo uma verdadeira coexistência global entre os dois modelos. Como o paradigma adotado por este trabalho é o behaviorista, citemos, a t́ıtulo exemplificativo, a existência con- temporânea, a ńıvel internacional, de entidades como o ABAI (“Association for Behavior Analysis International”)10 e o “Cambridge Center for Behavioral Studies”11, que, além de possúırem foco espećıfico em análise behavioristas, mantêm periódicos cient́ıficos des- tinados exclusivamente a tratar de temas relacionados a esta matéria. Não obstante, no âmbito espećıfico da pesquisa cient́ıfica brasileira, podemos indicar que estudos baseados no paradigma behaviorista são conduzidos em universidades com histórico de excelência educacional, como é o caso da Pontif́ıcia Universidade Católica de São Paulo12 (que ofe- rece cursos de pós-graduação em Análise do Comportamento) e da Universidade de São Paulo (que oferece cursos de especialização em Terapia Comportamental)13. Ademais, é importante indicar que, infelizmente, grande parte das cŕıticas atual- mente feitas ao modelo Skinneriano por autores cognitivistas baseiam-se em claras im- putações do framework teórico utilizada por John B. Watson em seu Behaviorismo Me- 9 Um exemplo notável da utilização do behaviorismo por pesquisadores nos dias de hoje é a adoção do método de aprendizado por reforço (reinforcement learning) dentro de algoritmos de aprendizado profundo (deep learning) para a modelagem de abstrações de alto ńıvel no campo da Inteligência Artificial, com especial destaque para os sistemas recentemente criados pelo Google em parceria com a Deepmind. A forma como o método é introduzido na modelagem é exposta no artigo ”Human-level control through deep reinforcement learning”(MNIH et al., 2015), inicialmente publicado na revista Nature e atualmente disponibilizado ao publico no seguinte link: 〈https://storage.googleapis.com/ deepmind-data/assets/papers/DeepMindNature14236Paper.pdf〉 10 Site da instituição: 〈https://www.abainternational.org/welcome.aspx〉 11 Site do grupo de pesquisas: 〈http://www.behavior.org/〉 12 Detalhes sobre o programa: 〈http://www.pucsp.br/pos-graduacao/mestrado-e-doutorado/ psicologia-experimental-analise-do-comportamento〉 13 Detalhes sobre o programa: 〈http://www.ip.usp.br/terapiacomportamental/index.php/historico〉 https://storage.googleapis.com/deepmind-data/assets/papers/DeepMindNature14236Paper.pdf https://storage.googleapis.com/deepmind-data/assets/papers/DeepMindNature14236Paper.pdf https://www.abainternational.org/welcome.aspx http://www.behavior.org/http://www.pucsp.br/pos-graduacao/mestrado-e-doutorado/psicologia-experimental-analise-do-comportamento http://www.pucsp.br/pos-graduacao/mestrado-e-doutorado/psicologia-experimental-analise-do-comportamento http://www.ip.usp.br/terapiacomportamental/index.php/historico 17 todológico a B. F. Skinner e seu Behaviorism Radical ou, simplesmente, em atribuição ao autor de ideias que o mesmo refutava expressamente. Estes expedientes são utilizados por autores tão renomados quanto Steven Pinker14e Noam Chomsky15, e, muito embora tenham sido devidamente rebatidas por autores como Kenneth MacCorquodale e Henry D. Schlinger16, continuam sendo propagadas (até mais do que as ideias que realmente pertencem ao behaviorismo radical) ainda hoje. Para ilustrar as diferenças efetivamente existentes entre as duas abordagens, pode- mos esboçar um exemplo que utiliza a distinção entre ”mente”e cérebro”, utilizada pelos próprios cognitivistas: 14 Isto fica claro quando comparamos os seguintes trechos, extráıdos de livros escritos por Skinner e Pinker: “Skinner e outros behavioristas asseveraram que toda conversa sobre eventos mentais era especulação estéril; somente as conexões est́ımulo-resposta poderiam ser estudadas no laboratório e em campo.” (PINKER, 1998, pg. 95) “Uma explicação da inteligência em termos de crenças e desejos não é absolutamente uma conclusão inevitável. A velha teoria do est́ımulo e resposta da escola behaviorista afirmava que crenças e desejos não tinham relação alguma com comportamento — de fato, que eram tão não cient́ıficos quanto uma lenda folclórica ou a magia negra.” (PINKER, 1998, pg. 73) “Eis, como exemplo, algumas das coisas comumente ditas sobre o Behaviorismo ou a ciência do com- portamento. Creio que são todas falsas. 1 – O Behaviorismo ignora a consciência, os sentimentos e os estados mentais. 2 – Negligencia os dons inatos e argumenta que todo comportamento é adquirido durante a vida do indiv́ıduo. 3 – Apresenta o comportamento simplesmente como um con- junto de resposta e est́ımulos, descrevendo a pessoa como um autômato, um robô, um fantoche ou uma máquina. 4 – Não tenta explicar os processos cognitivos. 5 – Não considera as intenções ou propósitos. 6 – Não consegue explicar as realizações criativas – na Arte, por exemplo, ou na Música, na Literatura, na Ciência ou na Matemática. 7 – Não atribui qualquer papel ao eu ou à consciência do eu.” (SKINNER, 1995, pgs. 7-8)(grifos nossos) 15 Todos os pontos da principal cŕıtica de Chomsky a Skinner, estabelecidos no artigo “A Review of B. F. Skinner’s Verbal Behavior” (CHOMSKY, 1959) e considerados até hoje por muitos como um dos maiores motivadores da “Revolução Cognitiva”, foram rebatidos por Kenneth MacCorquodale em seu artigo “On Chomsky’s review of Skinner’s Verbal Behavior” (MACCORQUODALE, 1970), que, ao final de sua análise, chegou à seguinte conclusão: “Eu concluo que a avaliação de Chomsky não constituiu uma análise cŕıtica do livro “O Comporta- mento Verbal de Skinner. A teoria criticada na avaliação era uma amálgama de alguns conhecimentos behavioristas um tanto quanto antiquados que inclúıa reforçamento por redução de impulso, o critério de extinção para medir força de respostas, uma pseudo-incompatibilidade da genética com processos de reforço, e outras noções que não tem nenhuma relação com a teoria de Skinner.” (MACCORQUO- DALE, 1970, pg. 98)(tradução nossa). 16 “E o pior de tudo, Pinker está simplesmente errado sobre a posição de muitos daqueles que acusa de serem defensores da teoria da “lousa em branco”[tabula rasa , “blank slate”], especialmente John B. Watson e B. F. Skinner. Se Pinker se referisse a seus trabalhos de forma acertada, ele certamente encontraria posições que reconheciam tendências inatas e atributos ou, em suas palavras, “natureza humana”. (. . . ) Em relação a Skinner, Pinker é especialmente áspero. Além de chamá-lo de Maoista, Pinker representa erroneamente a posição de Skinner sobre diversos assuntos e erra ao expor seus fatos. Devido ao status de Pinker, um observador não conseguiria evitar concluir que ele deve entender a teoria de Skinner, mas intencionalmente a distorce para beneficiar sua própria posição”. (SCHLINGER, 2002, pgs.76-77) (tradução nossa) 18 Imaginemos, por exemplo, dois computadores que foram criados para responder a inputs de maneiras diferentes: o primeiro utiliza um software intermediador para criar diferentes respostas a diferentes inputs, e o segundo oferece apenas uma resposta para cada input, mas tem o seu hardware modificado cada vez que um novo input é realizado. Ou seja, o primeiro computador usa um programa (o software) para processar os dados e enviar uma resposta, enquanto o segundo emite respostas automáticas por meio de seu próprio hardware. No caso do primeiro computador, caso verifiquemos uma mudança nos outputs, precisaremos checar se esta ocorreu em função de uma mudança no hardware ou no software; no segundo, como não existe nenhum software, toda modificação em outputs necessariamente será atribúıvel a alguma modificação no hardware17. Segundo as teorias cognitivistas, o cérebro funcionaria como o primeiro computa- dor, sendo a mente identificada com o “software” que processa os dados, o cérebro com o “hardware” que roda este software, os est́ımulos externos com os “inputs” do compor- tamento e os comportamentos externamente observáveis com os “outputs” de cada input espećıfico. A distinção entre “mente” e “cérebro”, portanto, seria similar à distinção entre “software” e “hardware”. Adicionalmente, enquanto as teorias cognitivistas dualistas - que são as que estamos criticando - entendem que software e hardware são totalmente independentes, as teorias monistas indicam que o primeiro sempre precisa possuir alguma espécie de base no segundo. Por sua vez, a proposta behaviorista seria similar ao segundo computador, onde a função de “software” é exercida pelo próprio “hardware”18. Segundo esta visão, não é preciso que o cérebro rode um programa para que observemos variações em seus outputs ; o próprio hardware cerebral se modifica com cada input (até mesmo aqueles fornecidos por ele mesmo), o que altera automaticamente os futuros outputs do mesmo sistema19 e, adi- cionalmente, permite que expliquemos estes em função do input espećıfico (contingências ambientais), do “hardware” inicial (filogenética e variações individuais) e de todos os “in- puts” realizados no mesmo “hardware” em momentos anteriores (ontogenética). Com isto, o “software” mental do cognitivismo (inobservável por natureza20) dá lugar ao “hardware” 17 Com algumas modificações, caso tranpusessemos este racioćınio para o campo da inteligência artificial, seria posśıvel traçar, grosso modo, tanto um paralelo tanto entre modelos computacionalistas e o primeiro computador quanto entre modelos conexionistas e o segundo computador. 18 O que justificaria a alegação de que “a mente é uma ficção explanatória”. 19 Este argumento de “mudanças cerebrais” deve ser tomado apenas metaforicamente, já que os corpos dos organismos costumam ser conjuntos integrados e, por esta razão, seria mais correto falar em “mudanças no organismo”, com um sentido mais amplo. 20 A menos que igualemos “mente” a “cérebro”, ocasião na qual o “estudo da mente” será sinônimo de neurofisiologia. Não obstante, o estudo dos comportamentos através do “estudo da mente” seria incompleto, já que, assim como não podemos observar uma moeda e inferir a partir de suas propriedades f́ısicas de quem nós a recebemos, não é posśıvel inferir qual est́ımulo ambiental foi responsável por uma mudança neurofisiológica a partir da mudança neurofisiológica em si. 19 do organismo, no qual qualquer mudança pode ser verificada empiricamente por alguém que possua os instrumentos adequados. De um ponto de vista cient́ıfico,esta distinção é absolutamente fundamental. Se observarmos uma pessoa se comportando de maneira X no momento T1 e de maneira Y no momento T2, segundo o modelo behaviorista, isto é um indicativo de que o “hard- ware” orgânico deste indiv́ıduo foi modificado, o que nos permitirá decidir se preferimos investigar quais componentes foram modificados, em que estado eles se encontram agora, como esta modificação ocorreu ou quais futuros efeitos poderemos esperar desta modi- ficação – sendo que os dois primeiros questionamentos possuem teor fisiológico, e os dois últimos são eminentemente comportamentais. No entanto, segundo o modelo cognitivista dualista, esta mesma mudança pode se dar em razão de modificações no software ou no hardware, e, a menos que identifiquemos o software com algo observável (como o próprio hardware21, o que, apesar de ser feito por alguns cognitivistas, faz com que a diferença conceitual entre cognitivismo e behaviorismo radical, neste aspecto, se torne apenas uma questão de semântica), toda mudança comportamental atribúıda ao software seria, por definição, causada por algo metaf́ısico e inobservável. Caso analisemos um modelo cognitivista monista que de fato identifique a mente como o cérebro (ou alguma atividade deste), a grande diferença entre as duas abordagens deixará de ser a estrutura causal do comportamento e se tornará o ponto onde ambas interrompem o ciclo causal de eventos e consideram as informações obtidas como sufi- cientes para uma explicação dos eventos observados. Enquanto os cognitivistas creem que os estados de coisas presentes no interior de um organismo deve, em regra, ser o ponto final de regressão causal em análises e explicações referentes às causas de um com- portamento, os behavioristas creem que a análise precisa regredir ainda mais, devendo alcançar os fatores externos atuantes sobre o organismo no momento imediatamente an- terior ao comportamento. Ademais, enquanto os cognitivistas acreditam que tais estados são entidades psicológicas com caracteŕısticas próprias (os chamados “estados mentais”), os behavioristas afirmam estes ou são ficções explicativas (ou seja, estados meramente putativos) ou são metáforas correspondentes a mudanças fisiológicas22. Disto decorre o 21 O que acontece com os próprios computadores que usamos em nosso dia-a-dia, já que, a despeito do desvirtuamento dos termos software e hardware pelos teóricos que usam a metáfora para defender posições dualistas, todo software realiza alguma modificação f́ısica no hardware onde é instalado. 22 ”Apresentamos anteriormente alguns problemas inerentes aos construtos hipotéticos. Por ser formado por construtos hipotéticos, é de se esperar que o sistema nervoso conceitual seja suscet́ıvel a todas essas cŕıticas. De fato, podemos encontrar na obra de Skinner passagens cŕıticas aos construtos hi- potéticos exemplificados pelo sistema nervoso conceitual. Para Skinner (1974), os modelos hipotéticos das teorias são meramente “metáforas questionáveis” (p. 218). E mais: a ausência de compromisso com o funcionamento do sistema nervoso real torna as teorias “termodinâmicas” do sistema nervoso insenśıveis ao teste experimental.”(ZILIO, 2015, pg. 471) 20 famoso dito behaviorista de que “a mente é uma ficção explanatória”; explicações men- talistas nem sempre têm correspondentes neurológicos e, mesmo quando o possuem, uma vez que todas as funções realizadas por órgãos ou outros componentes do corpo humano são comportamentos deste próprio organismo 23, utilizá-los para explicar outros comporta- mentos é explicar comportamentos em termos de comportamentos e, não obstante, deixar estes últimos sem explicação nenhuma, tornando a análise incompleta devido à ausência de referência a fatores que não sejam puramente comportamentais (e que, com isto, não carecem de mais explicações). Portanto, enquanto os cognitivistas atribuem a estados internos do organismo pa- pel causal em relação ao comportamento e uma relação de protagonismo na explicação dos comportamentos, os behavioristas consideram eventuais atividades internas relevan- tes para a explicação do fenômeno comportamental como comportamentos propriamente ditos e, não obstante, postulam a necessidade de explicar relações funcionais eventual- mente existentes entre comportamentos e est́ımulos ambientais. Isto porque na concepção do behaviorismo radical, comportamento é, por definição, “tudo aquilo que os organis- mos fazem” 24, abarcando, por exemplo, todos os atos “intencionais” de um organismo, comportamentos como “pensar” ou “se recordar de algo” e até mesmo comportamentos involuntários, como os movimentos digestórios e respiratórios realizados pelo organismo. É importante indicar também que, muito embora os sistemas explicativos cogni- tivista e behaviorista normalmente sejam apresentados como distintos e autônomos, em função das similitudes tanto de objeto quando de método que são ı́nsitas aos mesmos, te- mos que toda explicação behaviorista pode ser convertida em uma explicação cognitivista mediante supressão de elementos funcionais e, ao revés, muitas explicações cognitivistas - mas não todas - podem ser convertidas em explicações behavioristas mediante a adição do est́ımulo externo responsável pela causa do “estado mental” utilizado para explicar os comportamentos analisados. Portanto, todas as afirmações realizadas neste trabalho 23 Os comportamentos realizados pelos órgãos do corpo humano são classificados por behavioristas como comportamentos “respondentes”, que serão melhor explicados em caṕıtulo posterior. Na literatura não-cient́ıfica, estes comportamentos são usualmente chamados de comportamentos “involuntários” do organismo, distinguindo-se de todos os comportamentos “voluntários” ou “intencionais” (que, em uma análise funcional, são denominados “comportamentos operantes”). 24 Uma cŕıtica frequente feita pelo cognitivismo ao behaviorismo radical é a de que o mesmo ignora completamente os eventos internos do organismo durante a explicação do comportamento. No entanto, tais cŕıticas são eficazes apenas contra o behaviorismo metodológico de Watson, uma vez que Skinner jamais negou a existência de tais eventos e, inclusive, busca explicá-los no bojo de sua análise. A análise de eventos particulares Skinneriana se diferencia da análise cognitivista na medida em que, enquanto na última estes são considerados estados ou processos mentais, na primeira são considerados comportamentos privados do indiv́ıduo, do que decorre que são regidos plenamente pela estrutura que determina os comportamentos em geral. Com isto, temos que a definição de comportamento adotada pelo behaviorismo radical é mais branda do que a definição leiga, onde apenas os comportamentos viśıveis e “voluntários” são considerados comportamentos propriamente ditos. 21 podem ser aproveitadas tanto por cognitivistas quanto por behavioristas, minorando em larga medida os prejúızos eventualmente decorrentes da exclusão metódica do modelo cognitivista. Para tal, basta que se expliquem funcionalmente os comportamentos a que os cognitivistas atribuem eventos mentais, desta forma efetivamente eliminando entida- des puramente conceituais, “desmentalizando” as causas que possuam correspondente emṕırico e, por fim, posicionando-as corretamente em uma cadeia causal25. Por fim, ainda em relação aos ditos “eventos mentais”, é importante ressaltar mais uma vez que, de acordo com o que já foi exposto, o último elemento da cadeia causal dos comportamentos humanos, a despeito do que pretende o cognitivismo, jamais pode ser um estado de coisas ou substância no interior do mesmo, eis que estes estados de coisas, quando efetivamente existentes no mundo f́ısico (ou seja, caso sejam estados putativos mentais que, de fato, possuem correspondentes biológicos),por serem comportamentos do próprio organismo, também devem ser explicados a partir de outros elementos para que a explicação do fenômeno comportamental seja satisfatória. As causas de um com- portamento devem sempre ser identificadas no meio em que o organismo que os emite se insere e nas forças que atuam sobre ele, eis que, como já visto, uma completa disjunção entre indiv́ıduo e meio é imposśıvel e, ainda, que as cadeias causais nunca podem ser completamente isoladas, do que decorre que todo “estado mental” em que o indiv́ıduo supostamente se encontre possui como causa um evento f́ısico cronologicamente anterior, cuja consideração é imprescind́ıvel para uma análise funcional eficiente. Portanto, toda fixação de causas últimas no interior do individuo acaba por deixar parte de seu com- portamento sem explicação alguma e, com isso, frustra o objetivo principal de qualquer ciência que se preste a fornecer explicações apuradas. Outro grande problema da análise cognitivista é o fato de que, muitas vezes, os “estados mentais” são derivados não de análises das condições fisiológicas existentes no interior dos organismos, mas sim dos próprios comportamentos analisados, o que gera uma inevitável circularidade explicativa. Como exemplo disto, imaginemos, retornando ao caso de agressão entre o homem X e o homem Y, que, tempos após a agressão, o homem X avista o homem Y novamente e, logo após, agride-o mais uma vez. Neste caso, uma explicação cognitivista aceitável para o fenômeno seria “X agrediu Y porque X estava com raiva de Y”. No entanto, tal explicação é tida como desprovida de caráter explicativo e totalmente 25 “Nosso conhecimento cada vez maior do controle exercido pelo meio ambiente torna posśıvel examinar o efeito do mundo dentro da pele e a natureza do autoconhecimento. Possibilita também interpretar uma ampla gama de expressões mentalistas. Por exemplo, podemos considerar aqueles traços de com- portamento que levaram as pessoas a falar de um ato de vontade, um senso de propósito, da experiência como algo distinto da realidade, de ideias inatas ou adquiridas, de lembranças, de significados, do co- nhecimento pessoal do cientista, e de centenas de outras coisas e acontecimentos mentalistas. Alguns podem ser “traduzidos em comportamento”; outros, descartados como desnecessários ou sem sentido” (SKINNER, 1995, pgs.19-20) 22 circular na ótica behaviorista, uma vez que, neste caso, o comportamento agressivo é a única prova oferecida como indicativo de que X está no estado emocional “raiva” e, por sua vez, raiva é oferecida como explicação direta do comportamento agressivo. Em outras palavras, a afirmação “X agrediu Y porque X estava com raiva de Y” é circular porque “X está com raiva de Y” é extráıdo do fato de que houve um ato de agressão e, por sua vez, “X agrediu Y” é explicado através da existência do estado emocional de raiva. As explicações cognitivistas deste tipo, portanto, extraem estados mentais fict́ıcios de comportamentos e, logo após, utilizam estes mesmos estados para explicar o comportamento analisado. Tais entidades putativas, conforme já foi afirmado, não necessariamente correspondem a algum estado fisiológico; no entanto, ante a necessária presença de uma alteração fisiológica no organismo antes da prática de qualquer comportamento, não há nenhum óbice à sua substituição pelos “estados mentais” com correspondentes f́ısicos analisados anteriormente ou, ainda, por simples comportamentos do organismo. Uma análise behaviorista deste mesmo caso, por sua vez, seria obrigada a reconhe- cer que o estado emocional “raiva” é causado por fatores externos ao homem X e que, com isso, não pode ser utilizado por si só como explicação do comportamento de agressão. Se X agrediu Y, algum est́ımulo ou evento anterior atuante sobre X determinou o comporta- mento agressivo e a predisposição caracterizada pela emoção, sendo necessário, para que a ocorrência do comportamento seja plenamente explicada, que todos os fatores externos relevantes sejam descritos e analisados26. Neste caso, temos que a relação funcional é estabelecida, em última instância, entre a agressão de X (comportamento) e a ofensa de Y (est́ımulo externo), sendo que a explicação mais completa para o comportamento está exposta em proposições similares a “X agrediu Y em função do comportamento verbal de Y a que se chama de ofensa ”27 Neste caso o estado fisiológico que corresponde ao com- portamento, muito embora possa ser representado na proposição explicativa, é de pouca valia para a análise e pode, inclusive, ser suprimido na explicação final, uma vez que se mostra, na esfera comportamental, como um simples mediador entre o comportamento que se deseja analisar (agressão) e o est́ımulo que, em última instância, lhe deu causa 26 “Se o problema da emoção for concebido apenas como questão de estados interiores, não é provável que se consiga progressos em tecnologia prática. Não é de qualquer aux́ılio, na solução de um problema prático, dizer-se que algum aspecto do comportamento do homem se deve à frustração ou à ansiedade: precisamos também saber como a frustração ou a ansiedade foi induzida e como pode ser alterada. No final, encontramo-nos lidando com dois eventos – o comportamento emocional e as condições ma- nipuláveis das quais esse comportamento é função – que constituem o objeto próprio do estudo da emoção.” (SKINNER, 2003, pg. 184) 27 “X agrediu Y em função do comportamento verbal emitido por Y, que é um est́ımulo discriminativo verbal” seria uma descrição mais apurada do comportamento em comento, mas, por encontrar-se ainda na introdução deste trabalho, o exemplo foi simplificado, permitindo assim uma melhor compreensão por parte do leitor. 23 (ofensa)28, devendo análises mais aprofundadas a seu respeito serem feitas no campo da fisiologia. Não obstante, caso desejássemos analisar o comportamento de Y ao ofender X, também seria necessária uma análise independente dos est́ımulos sobre ele atuantes; todos os comportamentos humanos são realizados em uma cadeia causal que se protrai no passado, sendo imperativo o reconhecimento de que quaisquer isolações de est́ımulos e in- terrupções dos nexos causais são realizadas apenas pela conveniência que tais expedientes proporcionam aos estudos realizados. As cŕıticas do behaviorismo ao cognitivismo, em suma, costumam revolver em torno da incompletude das análises que identificam estados fisiológicos com “estados mentais” (devido à necessidade de explicar o que desencadeou o comportamento que lhe corresponde recorrendo a est́ımulos exteriores), da circularidade e da posśıvel não correspondência a eventos comportamentais internos ou fisiológicos de análises que derivam “estados men- tais” diretamente de comportamentos observáveis (eis que o estado é criado a partir do comportamento e, logo após, utilizado para explicar o mesmo). Com isto, temos que a utilização do paradigma behaviorista no presente traba- lho visa unicamente a otimizar os resultados produzidos e descrevê-los da forma mais clara e completa posśıvel; todas as suas conclusões poderiam ser apresentadas em termos cognitivistas, muito embora creia-se que isto não seria nem conveniente nem produtivo. Talvez ainda possam existir objeções a esta escolha e talvez, ainda, elas não seja de todo injustificadas – no entanto, este trabalho não será escrito de forma a excluir cabalmente a abordagem cognitivista, o que permitirá, sem dúvidas, que uma gama ainda maior de pesquisadores possa utilizar seus resultados e se beneficiar da análise aqui realizada. 28 Isto é feito unicamente em nome da economia explicativa. O estado emocional “sentir raiva” caracteriza-se por ser uma predisposição do organismo a determinados comportamentos e, com isso, normalmente apresenta-seem conjunto com inúmeros outros comportamentos que seriam, em tese, pasśıveis de descrição na análise do caso (como alteração no funcionamento de glândulas, aumento da sudorese, aceleração do pulso, posśıvel enrijecimento muscular, etc), mas nenhuma delas é realmente importante para o fornecimento de uma explicação simples do comportamento de agressão neste caso, o que efetivamente nos autoriza a suprimir todos estes comportamentos na explicação final e, por con- veniência, estabelecer um nexo direto entre o est́ımulo ”ofensa”e o comportamento final ”agressão”. 24 2 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DAS CIÊNCIAS COMPORTAMENTAIS 2.1 Categorias descritivas essenciais para uma análise do comportamento Para que possamos realizar uma análise funcional dos fenômenos comportamentais, é necessário que procedamos a uma decomposição do evento comportamental total para, subsequentemente, realizarmos uma classificação dos elementos em que tais fenômenos se subdividem, de acordo com as propriedades que os definem. Desta forma, estabeleceremos uma série de conceitos fundamentais nos termos dos quais os comportamentos poderão vir a ser descritos e analisados. Não obstante, as diferentes formas de comportamento precisam ser explicadas de acordo com suas especificidades, o que torna importante a realização de uma caracterização diferenciada para cada espécie comportamental. 2.1.1 Comportamentos respondentes De menor importância para este trabalho (mas, ainda assim, extremamente impor- tante para a ciência comportamental como um todo), os comportamentos respondentes são aqueles nos quais um organismo pronta e involuntariamente reage a um est́ımulo externo espećıfico, devendo tal reação necessariamente acontecer sempre que o est́ımulo é apre- sentado a este mesmo organismo nas mesmas condições (ou seja: dadas certas condições prévias, não é posśıvel que o est́ımulo seja apresentado e a resposta não ocorra)29. Tais comportamentos são considerados involuntários devido ao próprio mecanismo biológico empregado pelos organismos na mediação entre est́ımulo e resposta (denominado arco re- flexo), no qual os est́ımulos, após entrarem em contato com o organismo, são transmitidos 29 Outras regras comportamentais restringem e determinam ainda mais o funcionamento dos responden- tes - como a Lei do Limiar, que indica a existência de um ńıvel de estimulação mı́nimo para que um comportamento seja elicitado por um est́ımulo. Skinner faz uma descrição precisa de boa parte delas (separando-as em leis dinâmicas e estáticas do comportamento) em seu livro “The Behavior of Orga- nisms (SKINNER, 1938)”. Estas regras não serão expostas em maiores detalhes aqui, tendo em vista a menor importância dos respondentes para a presente análise, mas estão transcritas no rodapé no 31. 25 diretamente para um centro reflexo, não sofrendo nenhuma mediação cerebral30. Podemos citar, como exemplos de respondentes comuns em diversos organismos, a contração das pupilas elicitada por contatos diretos dos olhos com a luz, bem como a salivação, comu- mente elicitada pela apresentação de comida a organismos com algum grau de privação de alimentos. As principais e mais importantes categorias de análise dos comportamentos res- pondentes, desde os tempos de Ivan Pavlov, são as de est́ımulo elicitante (S) e resposta (R), sendo o episódio comportamental total composto pelos dois denominado reflexo. O esquema explicativo baseado nestes dois elementos usualmente é classificado pelos teóricos do comportamento como S-R (est́ımulo-resposta) ou S-O-R (est́ımulo-organismo- resposta). Define-se como est́ımulo elicitante todo evento ambiental que elicita (causa) uma resposta (comportamento) em determinado organismo imediatamente após a sua atuação sobre o mesmo. Para que a relação est́ımulo-resposta seja verificada, é necessário que se observe tanto a antecedência do fenômeno (ou fenômenos) classificado como est́ımulo quanto a necessária ocorrência posterior do fenômeno classificado como resposta. Devido a esta relação de correspondência, diz-se que o comportamento operante está sob o controle da variável correspondente ao est́ımulo elicitante. São explicados pelo esquema S-R, além dos atos involuntários externos em geral, todos os comportamentos atinentes ao funcionamento interno dos organismos, como, por exemplo, os movimentos digestórios e card́ıacos dos seres humanos. A única diferença significativa existente entre ambos os tipos de respondente é a estrutura dos arcos reflexos que exercem a relação de controle; quando a estimulação está relacionada ao funciona- mento de um órgão interno, trata-se de um arco reflexo denominado autonômico. Quando, ao revés, trata-se de estimulação relacionada a movimentos musculares do organismo, o arco reflexo é denominado somático. Claramente, muito embora sua base teórica de sua explicação sirva como ponto de partida para a compreensão do funcionamento de outros tipos de comportamento, o comportamento respondente normalmente interessa mais a médicos e fisiologistas do que a psicólogos e juristas, razão pela qual será estudado neste trabalho apenas de forma superficial. 30 Neste ponto, é de extrema valia a definição concisa de “arco reflexo” realizada pela página em inglês da Wikipédia, que a seguir transcrevo: “Um arco reflexo é um percurso neural que controla um reflexo de ação. Em animais superiores, a maioria dos neurons sensoriais não passa diretamente pelo cérebro, mas fazem sinapse na medula espinhal. Esta caracteŕıstica permite que ações reflexas ocorram de forma relativamente rápida ao ativar neuros espinhais motores sem a demora do roteamento de sinais pelo cérebro, muito embora o cérebrová receber inputs sensoriais enquanto o reflexo ocorre. A análise do sinal acontece após a tomada da ação.” (WIKIPEDIA, 2016b)(tradução nossa 26 2.1.2 Comportamentos operantes Enquanto os comportamentos respondentes são caracterizados como verdadeiros “reflexos” dos est́ımulos elicitantes que atuam sobre o organismo, os comportamentos ditos operantes, muito embora também sejam controlados por fatores externos, não possuem esta relação de estrita simetria com os est́ımulos que o determinam, sendo, ao revés, emitidos de forma aparentemente espontânea pelo organismo. Com isto, temos que a resposta operante não é elicitada diretamente pelos est́ımulos atuantes sobre o organismo, mas sim emitida pelo organismo enquanto este encontra-se sob a influência destes. O estudo dos comportamentos operantes, apesar de constituir a parte mais impor- tante das ciências comportamentais na atualidade, afigura-se como uma conceito relativa- mente recente nas teorias behavioristas, uma vez que a existência de comportamentos que fugiriam ao escopo do esquema S-R foi historicamente negada por behavioristas clássicos devido às implicações que tal conjectura possivelmente traria para o polêmico debate filosófico acerca da existência ou não do livre-arb́ıtrio. Em geral, esta negativa era jus- tificada com base em paradigmas e perspectivas para os quais o determinismo era de fundamental importância, tendo a própria possibilidade de existência de comportamen- tos não determinados por est́ımulos diretamente atuantes sobre o organismo no momento de sua prática historicamente relacionada à existência de algum grau de indeterminação comportamental (o que, no caso humano, presumivelmente implicaria no entendimento de que os indiv́ıduos seriam dotados de alguma medida de liberdade, seja qual for a ori- gem desta). Por óbvio, a indeterminação intŕınseca do fenômeno analisado, ainda que parcial, imporia importantes óbices à possibilidade de organização dos seus estudos em uma disciplina cient́ıfica31. A solução dada por Skinner ao impasse dos cientistas comportamentais adeptos do behaviorismo frente acomportamentos que não pareciam se enquadrar no esquema S-R (ou seja, comportamentos emitidos por um organismo sem a presença de um est́ımulo elici- tante claramente identificável) consistiu na elaboração um modelo teórico que compatibi- lizava plenamente a existência de comportamentos não respondentes com os pressupostos do determinismo cient́ıfico. Segundo este novo modelo, o comportamento operante seria emitido por um or- ganismo em determinado ambiente e, após produzir efeitos sobre este, modificaria de- terminadas propriedades em comportamentos futuros daquele mesmo tipo, sendo estas 31 Prova maior disso é a problemática atualmente existente na mecânica quântica, onde interpretações indetermińısticas (como a de Copenhague e a de Von Neumann) e determińısticas (como a De Broglie- Bohm e a IMM) coexistem, não havendo consenso cient́ıfico (muito embora a teoria de Copenhague possua alguma predominância) sobre a determinação ou indeterminação dos eventos f́ısicos, principal- mente devido à ausência de evidências emṕıricas que pesem em favor de uma ou outra teoria. 27 observáveis quando (ou se) estes vierem a ser emitidos por aquele mesmo organismo no- vamente em um momento posterior. Em outras palavras: após “operar” sobre o ambiente, o organismo em si é modificado pelas consequências de seu comportamento, sendo tais mu- danças prospectivamente mensuráveis em termos de modificações nos aspectos relevantes de comportamentos similares que vierem a ser observados no mesmo organismo. A este processo de modificação prospectiva dos comportamentos operantes se dá o nome de condicionamento operante. As diferentes formas de condicionamento serão melhor analisadas por nós no tópico 2.1.4. Como afirmado anteriormente, a abdicação da pretensão de explicar o comporta- mento dos organismos em função exclusivamente dos est́ımulos sobre ele atuantes levanta alguns questionamentos teóricos, aos quais devemos dedicar alguma atenção. Em primeiro lugar, é importante ressaltar que o caráter “espontâneo” do com- portamento operante se dá não em razão de indeterminações intŕınsecas do fenômeno comportamental, mas sim em função dos elementos filogenéticos (história evolutiva da espécie a qual o organismo pertence, bem como padrões comportamentais estabelecidos nesta via seleção natural), ontogenéticos (histórico de condicionamentos realizados no organismo no passado ou, em termos leigos, a “experiência de vida” do organismo) e culturais (contexto social no qual o organismo está inserido, bem como os est́ımulos aos quais o organismo está exposto neste) que concorrem para a determinação dos comporta- mentos emitidos. Portanto, para que determinada explicação comportamental se repute completa, é necessária a realização concomitante de uma análise biológica (filogênica), psicológica (ontogênica) e antropológica (cultural) do organismo em análise. Análises filogênicas e culturais obviamente demandam uma integração entre cam- pos cient́ıficos, mas o behaviorismo é capaz de explicar por si só os aspectos ontogênicos do comportamento. E é precisamente neste ponto em que são inseridos os aspectos operantes do comportamento, uma vez que os efeitos prospectivos do processo de condicionamento decorrem diretamente da influência que comportamentos observados em determinado mo- mento sofrem de eventos que ocorreram após a sua emissão e de est́ımulos presentes no momento em que esta ocorreu. Tendo como objeto de análise um comportamento espećıfico (C) emitido em de- terminado ambiente ou na presença de determinado elemento/est́ımulo ambiental (A) e com efeitos próprios (E), o esquema operante indica que a interação entre os três termos ocorre da seguinte forma: 1 – (C) é emitido na presença de (A) 2 – (E) ocorre em virtude de (C) 3 – (E) modificará prospectivamente as propriedades de (C) quando o organismo se encontrar novamente sob a influência de (A) Este é o modelo explicativo denominado contingência de três termos ou con- 28 tingência tŕıplice32, e seus termos são usualmente representados pelas categorias est́ımulo discriminativo(correspondente ao termo “A” no exemplo, sendo denotado por “Sd” na literatura própria), resposta operante (“C” no exemplo, “R” na literatura) e est́ımulo re- forçador, que pode ser positivo ou negativo (“E” no exemplo, “Sr” para reforço em geral, “Sr +” para reforço positivo e “Sr −“ para reforço negativo na literatura). Com isto, temos que a fórmula respondente (S-R) é suplantada pela fórmula ope- rante (Sd-R-Sr) no contexto de respostas operantes. Já analisamos o termo “R” quando conceituamos “comportamento” na teoria behaviorista, mas ainda precisamos definir com maior precisão quais são as diferentes categorias de est́ımulos atuantes sobre as respostas operantes. 2.1.3 Est́ımulos e suas propriedades Tanto em relação a operantes quanto a respondentes, os est́ımulos ambientais pos- suem propriedades empiricamente verificáveis que afetam diretamente os comportamentos que elicitam ou condicionam, exercendo influência, ainda, sobre outras variáveis diversas. 2.1.3.1 Est́ımulos aversivos e reforçadores Diz-se que um est́ımulo é reforçador para um organismo quando ele tende a ge- rar (ou aumentar a probabilidade de) comportamentos que buscam ativamente a sua implementação ou o aumento da sua incidência. Em geral, estão relacionados a compor- tamentos do organismo que visam à obtenção de algum bem material ou efeito positivo, sendo normalmente33 percebidos como “bons” ou “positivos” pelos organismos que a ele são submetidos. Como exemplo de interação entre est́ımulo reforçador e comportamento, podemos citar a relação existente entre o bom atendimento recebido pelo cliente de um restaurante e o subsequente aumento na quantidade de visitas que este faz ao mesmo estabelecimento. 32 Atualmente, alguns teóricos ampliaram este esquema e criaram o esquema de contingência de quatro termos, onde um fator adicional (est́ımulo condicional) é levado em conta no momento representado pelo ponto “1” do exemplo dado. Este quarto termo seria utilizado para denotar explicitamente a utilização de fatores que já eram considerados pela prática behaviorista tradicional, como, por exemplo, condições de privação e saciação do organismo, fatores emocionais e fatores “motivacionais”. 33 Dizemos “normalmente” porque este elemento não está incluso na definição de “reforçador”, sendo ape- nas um elemento acidental comumente observado. Para que um est́ımulo seja considerado reforçador, basta que se observe um aumento na frequência do comportamento após a contingenciação do est́ımulo à resposta. 29 Diz-se que um est́ımulo é aversivo para um organismo quando ele tende a gerar (ou aumentar a probabilidade de) comportamentos que façam cessar ou diminuir os efeitos do próprio est́ımulo. Em geral, estão relacionados a comportamentos de escapatória, sendo normalmente34 percebidos como “ruins” ou “negativos” pelos organismos que sofrem seus efeitos. Como exemplo de relação entre est́ımulo aversivo e comportamento, podemos citar a relação existente entre a sáıda de um homem de uma biblioteca e rúıdos que estavam sendo emitidos por outras pessoas naquele ambiente e o incomodavam. É importante ressaltar que o caráter aversivo ou reforçador de um est́ımulo deve sempre ser aferido em concreto, uma vez que o que é aversivo ou reforçado para um organismo não necessariamente o é para outro. A classificação, em regra35, deve ser feita de acordo com os efeitos observados em relação a determinado organismo. O terceiro termo do esquema Sd-R-Sr é composto, como já vimos, por uma con- sequência que reforça a resposta R. No entanto, este efeito não necessariamente é um est́ımulo reforçador positivo (Sr +), consistente na apresentação de um est́ımulo re- forçador, também
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