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Resumo: Uma ética do desejo - Sérgio Scotti O autor começa seu texto com a seguinte afirmação: a única coisa nem que seja apenas na perspectiva analítica de que alguém pode se declarar culpado é o de ter cedido aos seus desejos. Em outro parágrafo completa dizendo que a origem de todo o desejo advém de algo recusado pelo sujeito. Se o desejo ocorre porque nós o recusamos de certa forma, por que então somos culpados por ele? A verdade é que mesmo ele habitando em nosso inconsciente, somos responsáveis por ele, afinal o inconsciente faz parte do que somos e como Sérgio Scotti especula, talvez seja a nossa essência. Freud nos apresentou uma dimensão da mente humana que muda a realidade de como encaramos o ser e a ética. De fato, a maior parte de quem nós somos está submersa nas profundezas de nossa mente e se não levarmos em conta nossos desejos inconscientes, qualquer assunto se torna superficial, incompleto e falho, incluindo a ética. A partir de Freud, o homem encara o confronto de entender que não é soberano dentro de sua própria casa, que não é dono de seus motivos mais profundos e de que pode se enganar quanto ao sentido de suas ações. Diante dessa questão, Lacan questiona: “Agiste conforme o desejo que te habita?” A ética tradicional segundo Lacan é a ética do ter, ela é responsável por amenizar a nossa “falta-a-ser”, medimos a estatura moral das pessoas em nossa volta pelo que elas possuem, do status-quo, enquanto o desejo é deixado de lado. Porém ninguém consegue escapar da pergunta, a depressão é um caso exemplar de quando alguém fica diante desse questionamento. O sujeito desiste de uma resposta e conclui que a vida não faz sentido e de certa forma, segundo Sérgio Scott, ela realmente não tem a não ser que demos um a ela. A verdade é que existe um vazio que consiste em não reconhecer a si mesmo. Todo desejo humano é conflituoso, e está fadado e insatisfação, por isso, causa certa angústia quando nos deparamos com os questionamentos, o depressivo é culpado apenas por ceder a essa angústia e não pelo que acha que é culpado. O que devemos fazer segundo Freud é nos interrogarmos sobre o nosso desejo, esse é o remédio que a psicanálise propõe para o mal do século, que nos façamos responsáveis por nosso desejo e que possamos então responder a questão: “Agiste conforme o desejo que te habita?” ou então: “Queres agir conforme o teu desejo?”. Toda escolha implica em alguma perda e aí está uma angústia que enfrentamos, talvez a gente não saiba qual caminho e qual o real desejo em nosso coração e só depois de alguma decisão tomada que descobrimos o que realmente queremos. Podemos dizer que ato e escolha são indissociáveis, seja uma ato desenvolvido pelo seu desejo ou pela recusa do mesmo, o que só poderá ser decidido depois, pois o mesmo só se revela no presente, até mesmo o inconsciente. O inconsciente é outra cena, o desejo infantil, a psicanálise inaugurou uma ética que nos torna responsável pela criança que habita em nós que às vezes nos faz agir de forma irresponsável. Na atualidade se busca o ser pelo ter, na tentativa do ter de alguma maneira preencher o vazio de quem não somos, a conclusão que tiramos é que nada disso consegue de verdade dar sustentação a uma vida sóbria, e cair nessa loucura é um caminho direto a ruína pessoal. Só seremos capazes de compreender a plenitude se é que existe, entendo o que se passa no nosso interior de fato. O externo dá uma falsa sensação de realização que só pode ser desconstruída com desejo de fato revelado.
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