Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ecologia Evolutiva, cap.2 Towsend Todas as espécies são tão especializadas que não ocorrem em quase todos os lugares A ecologia tenta explicar porque existem tantos organismos e porque suas distribuições são tão restritas. É necessário compreender os processos evolutivos que levaram a diversidade e distribuição atuais. A evolução se dá através do processo de seleção natural (SN) Princípios da teoria da evolução por SN 1. Os indivíduos que compõem uma população não são idênticos 2. Parte da variação entre indivíduos é herdável (tem base genética e pode ser transmitida aos descendentes) 3. Todas as populações poderiam crescer a uma taxa que saturaria o ambiente, mas muitos indivíduos morrem antes da reprodução e usualmente todos se reproduzem aquém da sua taxa máxima. Por isso, em cada geração, os indivíduos de uma população representam somente uma parte daqueles que “poderiam” ter “chegado lá”, provenientes da geração anterior. 4. Nem todos contribuem igualmente para as gerações seguintes. Assim, aqueles que contribuem em maior número tem mais influência sobre as características hereditárias das gerações subsequentes Evolução significa mudança no tempo das características herdáveis de uma população ou espécie. As características hereditárias que definem uma população inevitavelmente irão mudar (considerando os 4 princípos). A evolução é inevitável Fig. 16.1. Os tentilhões de Darwin mostram respostas evolutivas para mudanças climáticas. Declínio na abundância de sementes e tamanho populacional do tentilhão-do-solo-médio (Geospiza fortis) na Ilha Daphne Major no arquipélago de Galápagos durante o período de seca de 1975-1978 (El Nino). Aumento na dureza relativa das sementes e o tamanho médio do bico na populaçao do tentillhão durante o mesmo período. As populações tem a capacidade de responder às mudanças ambientais em razão da variação genética entre os indivíduos, ou seja, respondem a pressões seletivas com variações nas freqüências de alelos Quais indivíduos contribuirão mais para as gerações seguintes e, em consequência, determinam a direção que a evolução toma? Aqueles que forem mais capazes de sobreviver aos riscos e as catástrofes do ambiente em que nasceram e cresceram, bem como aqueles que, tendo sobrevivido, foram favorecidos reprodutivamente pelos ambientes onde viviam: As interações entre organismos e seus ambientes - a essência da ecologia – apóia-se no âmago do processo de evolução por seleção natural Valor adaptativo (“fitness”): descreve o sucesso de indivíduos no processo de seleção natural. Em determinado ambiente, alguns indivíduos sobreviverão melhor, reproduzirão mais e irão deixar mais descendentes – eles terão maior valor adaptativo do que outros O homem pode selecionar um cereal mais produtivo, um cão mais atrativo ou uma vaca que produza mais leite pela seleção de pais com caracteres melhorados. Essa é a seleção artificial. Mas a natureza não tem objetivos. A evolução acontece porque alguns indivíduos sobreviveram e se reproduziram com mais sucesso, não porque foram escolhidos Pode-se dizer que os ambientes existentes no passado selecionaram características particulares dos indivíduos que vemos nas populações atuais. Tais características são “apropriadas” aos ambientes dos dias de hoje porque estes tendem a permanecer inalterados, ou a mudar muito vagarosamente. Quando plantas de Arabis fecunda provenientes de locais de baixa (propensos à seca) e de elevadas altitudes foram cultivadas juntas no mesmo jardim ficou evidente a adaptação local. Aquelas oriundas de baixa altitude tiveram significativamente maior eficiência no uso da água, além de formarem rosetas mais altas e mais largas (de McKay et al., 2001) Variação geográfica intraespecífica Exemplo no qual as forças de seleção parecem Sobrepujar as forças de hibridização. Não é sempre assim! a) Mapa de Abraham´s Bosom; local escolhido para estudo sobre ocorrência de evolução ao longo de distâncias pequenas. A área verde corresponde à pastagem manejada; área marrom claro aos costões rochosos direcionados para o mar. Os números indicam os locais onde a gramínea Agrostis stolonifera foi amostrada. Área total: 200 m. (b) Uma transecção perpendicular à área de estudo, Mostrando mudança gradual da altitude (c) EXPERIMENTO: comprimento médio dos estolões produzidos no jardim experimental pelas plantas coletadas de transecção (de Aston e Bradshaw, 1966). Há diferença significativa! Variação geográfica intraespecífica Medida da germinação, sobrevivência, biomassa e produção de frutos Estudo com a leguminosa Chamaecrista fasciculata no leste da América do Norte: Plantas coletadas no local “original” e ou transplantadas de diversas distâncias e cultivadas em um mesmo jardim. Neste caso, a adaptação local ocorreu somente na escala espacial maior Nos exemplos anteriores as variantes geográficas das espécies foram identificadas, mas as forças seletivas que as favorecem não. Peixe gupi (Poecilia reticulata) em Trinidad FATOS Muitos rios fluem nas encostas e são subdivididos por cachoeiras que isolam as populações de peixes presentes acima e abaixo das quedas d´água. Nas partes mais baixas há mais predadores, que inexistem nas partes mais altas, próximas as nascentes. Vários atributos dos peixes co-variam de acordo com a intensidade do risco aos predadores Esta correlação sugere que as populações de gupis tem sido sujeitas à seleção natural pelos predadores Só experimentos controlados podem estabelecer causa e efeito Os predadores podem reverter o rumo da seleção Na presença do predador voraz o número de manchas caiu R: Predador pouco eficaz C: Predador voraz K: sem predador Resultados: Onde os peixes foram excluídos dos predadores, os machos apresentaram coloração brilhante com variação no número e tamanho de manchas coloridas (K e R) As fêmeas de gupis preferem machos mais vistosos, mas estes são mais prontamente capturados por predadores porque são mais facilmente vistos. A Seleção Natural envolve concessões! Experimento: Populações de gupis estabelecidas em tanques e expostos a diferentes intensidades de predação Seleção natural por predação – experimento de campo controlado sobre evolução em peixes Experimento de Campo: C: local com presença do predador voraz (foz do rio) X: 200 gupis transferidos de C para o convívio com predadores pouco eficazes (nascente do rio) R: controle com predadores pouco eficazes Resultados analisados 23 meses depois ou cerca de 14 gerações de gupis X e R estão pouco sujeitos a predação C: predador voraz Cor da mancha Variação intra-específica com pressões de seleção provocadas pelo homem Locais no Reino Unido onde as frequências das formas pálidas (típica) e melânica de Biston betularia foram registradas (20 mil espécimens examinados). Forma melânica principal (carbonaria) era abundante próxima às áreas industriais e onde os ventos carregam poluentes atmosféricos para a direção leste. Uma forma melânica adicional (insularia), que se parece com uma forma intermediária também esteve presente, mas permaneceu oculta onde os genes para a forma carbonaria estavam presentes (Ford, 1975). Seleção natural desencadeada pelas forças ecológicas da poluição ambiental: coloração das mariposas – melanismo industrial Biston betularia carbonaria Biston betularia típica Biston betularia insularia Picos adaptativos e abismos especializados A seleção natural muda o caráter de uma população, eliminando grande parte de sua variação e deixando para futuras gerações um resíduo de amplitude mais estreito e potencial mais restrito. Ela é comumente descrita como a força que conduz as populações em direção ao pico de adaptação – uma correspondênciaperfeita entre o organismo e o ambiente. Um cenário alternativo de seleção natural é que ela força as populações para uma rota mais estreita de especialização – que pode ser uma armadilha – com efeitos limitantes e restritivos. A especialização das espécies significa que elas estão sob risco de extinção quando o ambiente é alterado. A ecologia da especiação O conceito de espécie biológica (Mayr, 1930): organismos que podem, pelos menos potencialmente, se acasalar e produzir prole fértil 1. Seria errado imaginar que todos os exemplos de especiação se ajustam a esse cenário ortodoxo 2. Esta seria uma especiação alopátrica pura, (com toda divergência ocorrendo em subpopulações em locais diferentes, ex. ilhas) 3. Ideia mais atual: Não é necessária uma fase de isolamento, especiação simpátrica pode ocorrer. Ex: subpopulações coexistentes de insetos que se especializam em diferentes plantas hospedeiras, mas trocam genes a uma taxa de ~ 1% por geração (raças de hospedeiros) até espécies distintas que se especializam em seus hospedeiros específicos. Este continuum nos lembra que a origem de uma espécie, seja simpátrica ou alopátrica, é um processo e não um evento. Para formação de uma nova espécie há algum grau de liberdade a respeito de quando está completo Gaivota Larus fuscus originou-se na Sibéria e colonizou progressivamente na direção oeste e leste formando uma cadeia ou cline de formas diferentes, circundando o hemisfério norte As formas vizinhas ao longo do contínuo são distintas, mas cruzam rapidamente na natureza e são consideradas subespécies Se encontram e sobrepõem no norte da Europa, onde os contínuos provenientes de leste e oeste divergiram tanto que é fácil identificá-los, e são considerados 2 espécies distintas:L. fuscus e L. argentatus, que não cruzam, sendo 2 espécies biológicas verdadeiras Tentilhões de Darwin: Exemplo de especiação em ilhas 14 espécies de tentilhões são encontradas nas ilhas e divergiram de um ancestral comum. Reconstrução da história evolutiva dos tentilhões baseada na variação dos comprimento dos Microsatélites de DNA. Hábitos alimentares das várias espécies tb são mostrados. Os desenhos das aves são proporcionais ao tamanho corporal real. A distância genética entre as espécies está representada pelo comprimento das linhas horizontais. Observe a separação grande e precoce de C. olivaceae das demais espécies, sugerindo que ela pode ser bastante semelhante aos fundadores que colonizaram as ilhas Os bicos dos tentilhões de Galápagos ilustram deslocamento de caracter. A extensão do tamanho do bico de cada tentilhão-do-solo (Geospiza) varia com a quantidade de outras espécies com as quais coexistem numa ilha. Efeitos das mudanças climáticas sobre a evolução e a distribuição das espécies a) Variações da temperatura no tempo, durante os períodos glaciais nos últimos 400 mil anos. A linha tracejada corresponde a taxa de 10 mil anos atrás, no início do período de aquecimento atual. Períodos tão quentes quanto os atuais tem sido eventos raros e o clima durante a maior parte dos últimos 400 mil anos tem sido do tipo glacial. b) Distribuições no leste da América do Norte, com base na % de pólen no sedimento, de espécies do espruce (acima) e carvalho (abaixo) de 21.500 anos atrás até o presente (Davis e Shaw, 2001) espruce carvalho Efeitos da deriva continental sobre a ecologia evolutiva A) Mudanças na temperatura do Mar do Norte nos últimos 65 milhões de anos. Durante esse período houve grandes alterações do nível do mar que permitiram a dispersão de plantas e animais entre as massas de terra. B-E) Deriva continental B) O antigo supercontinente de Gonduana começou a se dividir a ~ 150 milhões de anos. C) Há ~ 50 milhões de anos (Eoc. Médio) se desenvolveram faixas de vegetação distinta D) ~ 32 milhões de anos (Oligoc) estas tornaram-se mais claramente definidas. E) Há ~10 milhões de anos (Mioc) grande parte da geografia atual dos continentes tornou-se estabelecida, porém com diferenças drásticas com relação ao clima e a vegetação atuais. Os padrões de formação de espécies que ocorrem nas ilhas tornam- se visíveis em escala ainda maior na evolução dos gêneros e famílias através dos continentes. A deriva dos continentes responde a muitas questões em ecologia evolutiva , como: a) Distribuição mundial de aves sem vôo potente. B) Árvore filogenética das aves ápteras e o tempo estimado de suas divergências C) avestruz é africana, D) ema é encontrada na América do Sul E) Emu, Austrália. Muitas outras espécies dessas aves acabaram sendo extintas pelo homem. O inhambu parece ter sido o primeiro a divergir e a se tornar evolutivamente separado. A seguir, a Australásia se separou dos demais continentes sulinos, e destes últimos, os estoques ancestrais das avestruzes e emas foram subsequentemente separados após o surgimento da falha do Atlântico entre África e América do Sul. Na Austrálasia, o mar da Tasmânia se fendeu há cerca de 80 milhões de anos. Os ancestrais dos kiwis abriram seu caminho, há 40 milhões de anos supostamente saltando entre as ilhas, em direção a Nova Zelândia, onde a divergência das espécies atuais aconteceu recentemente. Avestruz, Africa Ema, América do Sul Emu, Australia Os resultados da evolução: Evolução convergente organismos não relacionados que evoluíram isolados uns dos outros, convergindo com extraordinária similaridade de forma e comportamento. Assim papéis similares são desempenhados por estruturas que possuem origens evolutivas completamente diferentes (organismos não relacionados) – estruturas análogas (similares na forma superficial ou função). Ex: Asas de aves e morcegos são análogas, elas são estruturas diferentes. OBS: estruturas são similares, não iguais!! As asas das aves são suportadas pelo digital número 2 e são cobertas por penas, enquanto as asas dos morcegos são suportadas pelos digitais 2-5 e são cobertas por pele. Evolução paralela quando existem paralelismos nas rotas evolutivas de grupos aparentados (e não uma espécie!!) após estes serem isolados uns dos outros. Ex: mamíferos placentários e marsupiais. Os pares de espécies são similares tanto em aparência quanto em hábitos, e geralmente, em estilo de vida. Estruturas são homólogas (derivadas de uma estrutura equivalente, a partir de um ancestral comum). Os marsupiais chegaram no continente australiano durante o Cretáceo (há 90 milhões de anos), quando os únicos mamíferos presentes eram os monotremados ovíparos (atuais equidna e ornitorrinco). Então um processo evolutivo de radiação ocorreu entre os marsupiais australianos, que em diversos aspectos assemelha-se ao que ocorreu entre os mamíferos placentários de outros continentes. Os ambientes dos placentários e marsupiais apresentavam nichos nos quais os processos evolutivos claramente “ajustaram” equivalentes ecológicos. Ao contrário da evolução convergente, entretanto, os mamíferos marsupiais e placentários iniciaram a diversificação a partir de uma mesma linhagem ancestral e assim, herdaram um conjunto comum de potenciais e restrições. População original Passo inicial da especiação Alopátrica Parapátrica Simpátrica Formação de barreira Ocupação de novo nicho Polimorfismo genético Evolução de isolamento reprodutivo Em isolamento Em nicho adjacente Dentro da população Formação de 2 espécies distintas O que vai diferenciar as novas populações • Mutações serão diferentes • Deriva atuará diferenciando as populações separadas • Particularidades das populações (bottleneck) • Populações podem estar sujeitas a pressões seletivas diferentes • Efeito fundador (diferença na constituição do pool gênico pelo acaso)Efeito Fundador Ex: Doença porfíria tem maior taxa de ocorrência na população da África do Sul devido a sua presença em um dos colonizadores holandeses que ali se estabeleceram Interações entre espécies e Coevolução Exemplos: predadores e presas, herbívoros e plantas, parasitos e hospedeiros, competidores, interações mutualísticas • “Corrida armamentista” coevolutiva: interação química entre consumidor e sua presa • ex 1. plantas que produzem toxinas e herbívoros que desenvolvem estratégias de resistência a esses compostos e assim fazem uso desses recursos, indisponíveis para outros. • Ex 2. parasitos selecionando a evolução de hospedeiros mais resistentes, que por sua vez, selecionam parasitos mais infecciosos • Mutualismo: organismos de espécies diferentes interagem para seu benefício mútuo. Exs: plantas e seus dispersores de sementes (aves, mamíferos) e plantas e insetos polinizadores. • Mutualismos são casos de exploração recíproca onde cada parceiro é um beneficiário líquido. Mutualistas compõem a maior parte da biomassa mundial: - Plantas com micorrizas (fungos associados as raízes) - Corais & algas unicelulares - Plantas com flor & insetos polinizadores -Animais & microorganismos do trato digestivo que auxiliam na digestão ex. bactérias que digerem celulose em vertebrados As defesas das plantas podem ser induzidas por herbivoria. A indução de defesas químicas pelos algodoeiros após a exposição de uma espécie de ácaro resultou na redução de populações de ácaros adultos de outra espécie e de seus ovos
Compartilhar