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Consultório de rua-seminário

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Flavia da Silva e Silva 
Luiz Carlos Martins Monte
Jeane Costa Martins Prof. Enf. Graziela da Silva Moura
Introdução
	Até a década de 80, no Brasil o estado não se responsabilizou em criar estratégias de acolhimento, cuidado e outras possibilidades de vida para as pessoas em situação de rua. Ficavam na dependência do trabalho realizado por instituições sociais e religiosas. As condições precárias de vida e os trágicos assassinatos de pessoas em situação de rua deram força aos movimentos sociais, dentre eles, o Movimento Nacional da População de Rua. Após muita luta, foi instituída em 2009 a Política Nacional para a População em Situação de Rua que, em linhas gerais, regulamenta a assistência na interface das políticas sociais e de saúde. Embora assegure uma série de direitos de acesso à assistência intersetorial, a Política Nacional ainda não tem fomentado estratégias robustas para saída das ruas. (BRASIL,2009). 
	Considerando que a População em Situação de Rua (PSR), de acordo com o conceito adotado no Decreto nº 7.053, de 23 de dezembro de 2009, é um grupo heterogêneo que se concentra nas grandes cidades brasileiras e em suas regiões metropolitanas, tem na rua sua principal fonte de sustento, possui em comum a pobreza, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular e que faz dos logradouros públicos e das áreas degradadas espaço de moradia e sustento, de forma temporária ou permanente, podendo utilizar-se, ainda, de unidades de acolhimento para pernoite, de forma temporária ou como moradia provisória;
	A pandemia da Covid-19 elevou ainda mais a vulnerabilidade das pessoas que vivem em situação de rua, ampliando o contingente populacional e mudando o perfil dessa parcela da população. Conforme dados de pesquisa realizada pela Prefeitura do Rio de Janeiro, 31% das pessoas estão na rua há menos de um ano. Dessas, 64% estão nessa condição por perda de trabalho, moradia ou renda. Entre os entrevistados, 42,8% afirmaram que sairiam das ruas se tivessem um emprego.  Os novos integrantes da população em situação de rua agora são também trabalhadores que perderam seus empregos e casas devido à atual conjuntura, conforme explica a coordenadora da Rede Rio Criança e integrante da Comissão Especial dos Direitos da População em Situação de Rua do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH)
Atuação do Enfermeiro no Consultório de Rua
Realizar atenção integral (ações de promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos, assistência, diagnóstico, tratamento) e reabilitação aos indivíduos, famílias e grupos comunitários assistidos pelo CnaR; 
Supervisionar e coordenar as ações dos técnicos de enfermagem e dos agentes Sociais; 
Realizar consulta de enfermagem, procedimentos, atividades em grupo e, conforme protocolos ou outras normativas técnicas estabelecidas em protocolos, observadas as disposições legais da profissão, solicitar exames complementares, prescrever medicações e encaminhar, quando necessário, usuários a outros serviços; 
Realizar atividades programadas de enfermagem tais como: coleta de citopatológico,
consulta de pré-natal, puericultura, Visita na Rua e acompanhamento dos programas
IST/HIV, Hipertensão, Diabetes, Tuberculose e Hanseníase, entre outros;
Realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea;
Contribuir e participar nas atividades de educação permanente da equipe;
Organizar os insumos necessários para o adequado funcionamento do Consultório na
Rua
Contribuir para a construção de um projeto terapêutico singular do usuário;
Realizar as demais atribuições específicas do enfermeiro,
	O enfermeiro desempenha um papel-chave no cenário do CR, assumindo atribuições assistenciais, educativas, administrativas e gerencias. O enfermeiro também é um dos profissionais responsáveis pelo estabelecimento de vínculo com os usuários, estimulando a redução de danos no que tange o uso de substâncias psicoativas e a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, promovendo a saúde a população em situação de rua. 
Consultório de Rua em Manaus
Busca ativa, estabelecimento de vínculos com o usuário e levantamento do perfil epidemiológico dos usuários;
Mapeamento dos locais com maior concentração de indivíduos e famílias, considerando não somente os agravos de saúde, mas também, os fatores sociais;
Atividades de atenção e cuidado em saúde in loco e de forma itinerante (Consultas de enfermagem;
Acompanhamento e avaliação sociais e psicológicos;
Referenciamento e acompanhamento dos casos que necessitam de continuidade do cuidado, em outros níveis de atenção em saúde (SPA e Hospitais);
Articulação com a Rede de Saúde: Unidades Básicas de Saúde (UBS), Policlínicas, hospitais, Estratégia Saúde da Família (ESF), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Serviços de Urgência e Emergência e de outros pontos de atenção, de acordo com a necessidade do usuário;
Atendimento e acompanhamento dos agravos prioritários, inclusive dos dependentes químicos e de álcool, além dos casos de tuberculose, hanseníase e IST’s/AIDS;
Ações interinstitucionais com a Rede Socioassistencial: SEMMASDH, SEJUSC, MPE, SEAS e sociedade civil organizada – OSCS.
	Uma enfermeira, um técnico em enfermagem, uma assistente social, uma psicóloga e um motorista – eis a equipe que, diariamente, vai até as áreas que concentram os grupos em situação de rua da capital. Uma equipe, aliás, que só atua unida: ou todos saem juntos para a missão ou ninguém sai. A base do consultório é a UBS Morro da Liberdade (Zona Sul).
Desafios encontrados na Assistência
	Dificuldades enfrentadas citadas, os profissionais afirmaram que apesar dos avanços alcançados no desenvolvimento do trabalho das equipes do CnaR, muitos entraves dificultam e fragilizam o cuidado de pessoas em situação de rua. Assim, para o Ministério da Saúde, adversidades como falta de documentação civil das pessoas atendidas, dificuldade de acesso e resolutividade aos serviços de saúde, rotatividade dos locais de permanência das pessoas em situação de rua, carência de serviços e equipamentos essenciais para atenção integral à saúde configura a incerteza de resolutividade efetiva para a saúde desta população (BRASIL, 2015). Apesar das dificuldades existentes, a equipe do CnaR procura melhorar as condições de vida da população em situação de rua, encaminhando para abrigos por determinados períodos, mas prevalecem ações profilaticas e curativas que não prima por um processo de reinserção dessa população no meio social (SERAFINO; LUZ, 2015).
Conclusão
	Conclui-se que as ações/intervenções nos atendimentos aos pacientes são pouco efetivas em virtude de características próprias dos indivíduos atendidos e problemas relacionados a insumos e demais necessidades que ainda não se encontram estruturados adequadamente para atender as demandas existentes dessas populações vulneráveis, a equipe ainda enfrenta obstáculo para que suas ações sejam de fato efetiva. Na realidade dos profissionais, detectou-se efetivação das ações, mesmo com recusa nos atendimentos e/ou continuidade no tratamento por parte dos usuários evidenciou-se o uso de diálogo/escuta qualificada como ferramenta para fortalecimento do vínculo entre 68 Revista Humanidades e Inovação v.8, n.45 equipe e paciente com propósito de tornar o paciente mais flexível na aderência dos serviços/ cuidados prestados que lhes são necessários, tais condutas é o que promove a efetividade dos serviços oferecidos ao usuário. Para os profissionais, o que dificulta o atendimento prestado, está ligado às problemáticas de financiamento material necessário aos atendimentos, entraves na articulação entre os locais de atendimento interligados a rede de saúde e falta de meios de transporte.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Decreto n0 7.053 de dezembro de 2009. Política Nacional para a População em Situação de Rua. Acesso em: 20 de Abril de 2022. Disponível em< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2007-2010/2009/decreto/d7053.htm>
BARBOSA, J. C.G. Implementação das políticas públicas voltadas para a população em situação de rua: desafios e aprendizados. Brasília – DF. 2018. 129f. Dissertação (Mestrado) Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Brasília – DF, 2018. Acesso em: 20 de Abril 2022.
Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual sobre o cuidado à saúde junto a população em situação de rua / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Brasília : Ministério da Saúde, 2012. Acesso em: 20 de Abril 2022. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/manual_cui- 69 Revista Humanidades e Inovação v.8, n.45 dado_populalcao_rua.pdf.
Concreto reduzindo o impacto no meio ambiente capítulo 1 saúde, meio ambiente e tecnologia no cuidado interdisciplinar – vol2 hallais; barros. Consultório na Rua: visibilidades, invisibilidades e hipervisibilidade. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, 31(7):1497-1504, jul, 2015. Acesso em: 20 de Abril de 2022 Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csp/v31n7/0102-311X-csp-31-7-1497.pdf

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