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Medeiros de Souza PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS PROG… Illa Benício Download a PDF Pack of the best related papers https://www.academia.edu/40627789/Critica_%C3%A0_Politica_Bilateral_Brasil_e_Haiti_na_quest%C3%A3o_Imigrat%C3%B3ria?from=cover_page https://www.academia.edu/19246971/A_Responsabilidade_de_Proteger_e_a_Prote%C3%A7%C3%A3o_Internacional_dos_Direitos_Humanos?from=cover_page https://www.academia.edu/9337404/PONTIF%C3%8DCIA_UNIVERSIDADE_CAT%C3%93LICA_DO_PARAN%C3%81_CENTRO_DE_CI%C3%8ANCIAS_JUR%C3%8DDICAS_E_SOCIAIS_PROGRAMA_DE_P%C3%93S_GRADUA%C3%87%C3%83O_EM_DIREITO_CRISTIANE_MARIA_BERTOLIN_POLLI_O_DIREITO_INTERNACIONAL_HUMANIT%C3%81RIO_COMO_INSTRUMENTO_DE?from=cover_page https://www.academia.edu/25059915/Uso_da_For%C3%A7a_para_Prote%C3%A7%C3%A3o_de_Nacional_no_Estrangeiro?bulkDownload=thisPaper-topRelated-sameAuthor-citingThis-citedByThis-secondOrderCitations&from=cover_page 1 Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos José Pina Delgado 1. A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos é um tratado de âmbito territorial regional. Foi adotada no dia 28 de junho de 1981 em Nairobi, e entrou em vigor em 21 de outubro de 1986. Vincula todos os Estados africanos, com a exceção de Marrocos. 2. É composta por 68 artigos, agrupados em três partes, estando a última reservada a disposições diversas, sobretudo as habituais cláusulas finais convencionais. 3. O primeiro segmento, mais substantivo, contém a carta de direitos e deveres que recobre dois capítulos, e abarca, respetivamente, essas posições jurídicas e obrigações individuais, num total de 29 artigos, que as Partes têm o dever de reconhecer e criar todas as condições internas de aplicação (art. 1º). 3.1. Entre os artigos 2º e 17º encontra-se a previsão de direitos individuais. Os primeiros são direitos civis, nomeadamente o direito à igualdade no gozo dos direitos previstos pela própria Carta, e perante a Lei; os direitos à vida; à integridade pessoal (física e moral); à dignidade da pessoa humana (subjetivado); de acesso à justiça e garantias de processo (incluindo o direitos de acesso aos tribunais, a garantia de presunção da inocência, os direitos de defesa, de julgamento em prazo razoável e a ser julgado por tribunal imparcial, a garantia contra a aplicação retroativa da lei penal e à individualização da pena), o direito às liberdades de consciência, de profissão e de religião, de informação, de expressão e de opinião, de associação, de reunião, de circulação e de residência no interior do território do Estado, de saída e de regresso ao território do Estado; o direito ao asilo, e garantias contra a expulsão e proibição de expulsões coletivas. Admite-se a limitação desses direitos em circunstâncias em que estejam em causa a segurança nacional, saúde, moral e os direitos e liberdades de outrem (art. 11). 3.2. Em relação aos direitos políticos, regista-se o artigo 13, que reconhece o direito de participação política, o de sufrágio e a liberdade e a igualdade de acesso a cargos públicos. 3.3. Prevê-se o direito à propriedade privada e garantias associadas. 2 3.4. Em matéria de direitos económicos, sociais e culturais, destaca-se a referência aos direitos ao trabalho em condições equivalentes e satisfatórias e garantia de remuneração igual por trabalho igual, à saúde, à educação e à participação na vida cultural da comunidade. 3.5. Já se encontram referências protetivas adicionais - ainda que tímidas – destinadas a certos grupos vulneráveis: crianças, mulheres, idosos e pessoas com deficiência. 3.6. É na inserção de categorias não-individuais de proteção que o sistema africano é mais inovador. Motivado pela recuperação de algumas conceções mais comunitaristas africanas, o redator da Carta inseriu uma forte garantia institucional em favor da família, tida por base natural da sociedade. 3.7. Também reconheceu posições jurídicas aos povos, nomeadamente os direitos à igualdade, à autodeterminação, à liberdade política, económica e social, das quais decorre a possibilidade de usarem meios de autotutela para se libertarem dos grilhões da opressão e o direito de serem auxiliados pelos outros povos, a dispor livremente da sua riqueza e dos seus recursos naturais, à recuperação dos seus bens espoliados, ao desenvolvimento económico, social e cultural com consideração pela sua liberdade e identidade e ao igual usufruto da herança comum da humanidade, à paz e segurança nacionais e internacionais, a um ambiente satisfatório que favoreça o seu desenvolvimento. 3.8. Por fim, prevê deveres fundamentais dos indivíduos: os de preservar o desenvolvimento harmonioso da família e trabalhar para a sua coesão e respeito, servir a comunidade nacional, dispondo as suas competências físicas e intelectuais a seu serviço; não comprometer a segurança do Estado de onde é ou reside; preservar e reforçar a solidariedade nacional e a social, bem como a independência e integridade territorial nacional, contribuindo para a sua defesa; trabalhar nos limites das suas capacidades e pagar os seus impostos; preservar e reforçar os valores africanos positivos e contribuir para a promoção do bem-estar moral da sociedade e para a unidade africana. 4. A segunda parte, mais orgânica e processual, gravita em torno da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos. Composta por onze comissários, com atribuições em matéria de promoção dos direitos 3 humanos em África, monitorização de cumprimento, e, sobretudo, de proteção, com poderes de investigação, de receção de comunicações por parte dos Estados Parte e de outras entidades não estaduais, e de interpretação das disposições de direitos da Carta. 5. Em 1981, a Carta não era o primeiro instrumento regional de proteção de direitos, atendendo a que, em 1969, já havia sido aprovada uma convenção de proteção de refugiados. Atualmente, estas e outras convenções, que foram aprovadas e entraram em vigor mais recentemente formam, sob a Carta, o sistema africano de proteção de direitos, desdobrando-se em domínios diversos como os da reabilitação de pessoas com deficiência (1985), crianças (1990), mulheres (2000), juventude (2006), democracia, eleições e boa governação (2007), deslocados internos (2009), bem como, mais recentemente, proteção de dados pessoais (2014), idosos (2016), e pessoas com deficiência (2018) (os últimos ainda não entraram em vigor). 6. O sistema conheceu ao longo do tempo uma evolução institucional que tem contribuído para o seu aperfeiçoamento, sendo de se registar a criação do Comité de Especialistas para os Direitos e Bem- Estar das Crianças e do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos – que tem a sua sede na Tanzânia – os quais, neste momento, formam o núcleo da estrutura regional de proteção, garantindo, como é natural, a defesa e a tutela das posições jurídicas individuais e de coletividades previstas pela Carta. É completado por tribunais sub- regionais que receberam jurisdição em matéria de direitos humanos, como o da CEDEAO, o da África Oriental e antes pelo da SADEC – entretanto suspenso e reconfigurado – e também, numa lógica de complementaridade, pelas instituições internas de proteção, nomeadamente por tribunais superiores, constitucionais ou supremos, ombudsman, comissões nacionais de proteção de direitos humanos, comissões administrativas especiais, etc. Para facilitar o acesso a estas entidades foram aprovados recentemente os Estatutos sobre a Criação do Fundo de Patrocínio Judiciário dos Órgãos de Direitos Humanos da União Africana de 2016. 7.Pretende-se que o Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos (ou o seu possível sucessor, o Tribunal Africano de Justiça e de Direitos Humanos ou Tribunal Africano de Justiça, dos Direitos Humanos e dos Povos) se transforme de facto na instituição central do 4 sistema. Ainda está longe de o ser, dez anos após a sua instalação. Confronta-se com um problema jurisdicional porque o acesso de indivíduos e ONGs depende de uma declaração especial que, até à data, poucos Estados fizeram, notando-se inclusivamente algum recuo nos últimos anos (Ruanda e Tanzânia). Isto, em parte, explica o início lento das atividades da Corte, que ainda decidiu o mérito de poucos casos, notando-se, todavia, tendência para o crescimento nos últimos anos. Referências bibliográficas BALDÉ, Aua, O Sistema Africano de Direitos Humanos e a experiência dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, Lisboa, Universidade Católica Portuguesa, 2017. DELGADO, José Pina, “The African Court of Human and People’s Rights Position in the International and African Judicial Architecture” in: VICENTE, Dário Moura (ed.), Towards a Universal Justice? Putting International Courts and Jurisdictions into Perspective, The Hague, Brill, 2016, pp. 98-135. JERÓNIMO, Patrícia; GARRIDO, Rui & VALE PEREIRA, Maria do Assunção do (coord.), Comentário Lusófono à Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, Braga, Observatório Lusófono dos Direitos Humanos da Universidade do Minho (OLDHUM)/Direitos Humanos – Centro de Investigação Interdisciplinar (DH-CII), 2018. KAMTO, Maurice (dir.), La Charte Africaine des Droits de l’Homme et des Peuples et le Protocole y Relatif Portant Création de la Cour Africaine des Droits de l’Homme. Commentaire Article par Article, Bruxelles, Bruylant/Editions de l’Université de Bruxelles, 2011. MOCO, Marcolino, Direitos Humanos e seus Mecanismos de Protecção. As Particularidades do Sistema Africano, Coimbra, Almedina, 2010. MURRAY, Rachel, The African Charter on Human and Peoples’ Rights. A Commentary, Oxford, Oxford University Press, 2018. VILJOEN, Frans, International Human Rights Law in Africa, 2. ed., Oxford, Oxford University Press, 2012.
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