Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Práticas de Comércio Exterior Unidade II Prof. Edmir Kuazaqui 2 KUAZAQUI, Edmir Práticas de Comércio Exterior (livro-texto II) / Edmir Kuazaqui. São Paulo: Pós-Graduação Lato Sensu UNIP, 2019. 35 p. : il. 1. Comércio Exterior. 2. Comércio Internacional. 3. Exportação. Pós-Graduação Lato Sensu UNIP. III. Título. 3 SOBRE O AUTOR Doutor e mestre em Administração. Pós-graduado em Marketing e bacharel em Administração com habilitação em Comércio Exterior. Coordenador e professor de MBA em Administração Geral, Marketing Internacional e Formação de Traders, Pedagogia Empresarial, Compras, Marketing, Startups: Marketing e Negócios, Comunicação e Jornalismo Digital e Comércio Exterior. Consultor-Presidente da Academia de Talentos, empresa especializada em marketing, consultoria e treinamentos. Coordenador do Grupo de Excelência em Relações Internacionais e Comércio Exterior do Conselho Regional de Administração (CRA/SP). Autor de livros. 4 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 5 1. DEVEMOS REALMENTE INTERNACIONALIZAR NOSSO NEGÓCIO? ....... 6 1.1 Formalização da empresa ......................................................................................................... 6 1.2 Pesquisa de mercado .................................................................................................................. 7 2. ASPECTOS OPERACIONAIS INICIAIS ......................................................... 8 2.1. Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) ................................................................... 10 2.2. Incoterms ......................................................................................................................................... 12 3. TRANSPORTE E LOGÍSTICA INTERNACIONAL ........................................ 14 3.1 Conhecimento de embarque ........................................................................................................ 17 4. FORMAÇÃO DE PREÇOS ........................................................................... 19 5. ASPECTOS OPERACIONAIS DE FORMALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES ... 22 6. CARTA DE CRÉDITO ................................................................................... 28 7. IMPORTAÇÃO .............................................................................................. 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 32 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 33 5 INTRODUÇÃO Este livro-texto tratará de questões específicas – técnicas e operacionais –, de Comércio Exterior Brasileiro. Um ponto inicial e fundamental é que muitos entendem que o processo de exportação e importação está somente relacionado no momento da transferência física entre as fronteiras de países. O processo se inicia na própria empresa (fabricante), quando o pretenso exportador tem a certeza e a convicção de que tem condições reais de assumir os processos de comércio exterior e internacional. De forma em geral, as transações internacionais não são fenômenos recentes. As grandes descobertas, como das Américas e do Brasil evidenciam que sempre existiram trocas, sejam regionais ou mesmo entre continentes. Se antes eram baseadas nos recursos encontrados – como Pau Brasil – e, simplesmente retirados, embarcados e comercializados, com o passar dos tempos o volume e a frequência dessas movimentações resultaram em operações cada vez maiores, mais estruturadas, planejadas e, consequentemente mais complexas. Com esse cenário o comércio internacional começou a despontar não somente como uma forma dos países em obterem os recursos necessários para a manutenção, mas também como formas de obter recursos externos pela comercialização de bens e serviços. E o Brasil entrou com maior frequência no Comércio Exterior na década de 1990, conforme comentado na Unidade 1. Esta disciplina tem por objetivos apresentar e discutir as práticas de comércio exterior, contextualizadas com o ambiente globalizado e dentro de uma visão brasileira. Num primeiro momento, uma contextualização histórica e conceitual necessária para que o aluno entenda as razões dos fundamentos essenciais que regem tais práticas e, num segundo momento, aspectos operacionais e técnicos de comércio exterior brasileiro, evidenciando as exportações, onde as empresas tem maior dificuldades em entender os processos operacionais. 6 1. DEVEMOS REALMENTE INTERNACIONALIZAR NOSSO NEGÓCIO? A maioria das empresas tem grande interesse em tornar a sua empresa global, mas nem todas preenchem os requisitos para sustentar a ampliação de seu negócio. Existe a necessidade de ter uma empresa devidamente formalizada e preparada para atender as diferentes demandas e desafios do processo. 1.1 Formalização da empresa A empresa deve estar devidamente formalizada e regularizada junto à Receita Federal para poder realizar as operações de exportação, bem como a situação de seus sócios, atestada por certidão negativa. A formalização da empresa deve estar devidamente departamentalizada, ou seja, teruma estrutura dividida em processos e que atendam às necessidades de gestão da empresa, como, por exemplo, produção, contabilidade, financeiro, recursos humanos e marketing. Embora seja um objetivo estratégico para muitas empresas, nem todas atendem os critérios mínimos para a internacionalização com sucesso. De forma em geral: A empresa deve estar devidamente regularizada, quites com todas as suas obrigações como pessoa jurídica e também pessoa física, aqui representada pelos sócios, incluindo documentações e regularidade com o fisco. A capacidade de produção é recomendável para o atendimento da demanda doméstica com excedente de produção e, posteriormente, para suprir a demanda internacional. A empresa deve ter saúde financeira, podendo suportar os diferentes investimentos decorrentes dos processos de internacionalização e, se for o caso, ampliar a capacidade de produção e comercialização. É necessário ter capacidade de gestão e desenvolvimento de estratégias de marketing internacional e, principalmente, ter um produto de qualidade e com demanda externa, conforme afirma Kuazaqui (2007). A Apex-Brasil (2019) presta um relevante serviço no sentido de prestar assistência e acompanhamento para aquelas empresas que desejam ingressar com sucesso em mercados internacionais. O Projeto Extensão Industrial Exportadora (PEIEX) existe como um trabalho de diagnóstico interno, conforme atestado na Unidade I desta disciplina, que permite verificar como está estruturada a empresa, bem como as possíveis adequações e melhorias a serem realizadas. Posteriormente, os pontos serão complementados de forma com que a empresa possa, inclusive, ter indicadores de gestão interna. Estar preparada significa que a empresa, a partir de um sólido planejamento estratégico, tenha os recursos necessários – econômicos, financeiros e de produção, principalmente –, que permitam atender as demandas do mercado internacional. Ressaltamos que internacionalizar não é uma simples opção, derivando daí importantes decisões que podem comprometer o sucesso da empresa. 7 Finalmente, para completar e responder a questão, a empresa, bem como seus dirigentes, deve ter vocação para atuar em mercados internacionais. Conforme o módulo de Marketing Internacional, as empresas devem entender que a dinâmica é bem diferente, necessitando que seusdirigentes tenham habilidades e competências específicas para a perenidade de negócios internacionais. 1.2 Pesquisa de mercado Para iniciar o processo de exportação, é necessário analisar e avaliar a demanda externa, geralmente realizada nesta fase por dados secundários. Após análise do potencial de mercado e potencial de vendas da empresa, é primordial a participação de eventos, feiras e rodadas de negócios no país-destino de forma a entender melhor a dinâmica de mercado, bem como atrair possíveis compradores- importadores. As rodadas de negócios, conforme o Ministério das Relações Exteriores (MRE) (2011, p.24), podem ser classificadas de acordo com o ramo de atividades (multisetoriais) e quanto à origem dos participantes. Servem como importante meio de obtenção de informações e de contato com potenciais clientes e negócios. Nesta fase, é importante que a empresa também pesquise, além do mercado consumidor, características e particularidades de logística, meios de transporte, legislações e normas técnicas, por exemplo (KUAZAQUI, 2018). O assunto “pesquisa” foi discutido na disciplina sobre Marketing Internacional, inclusive as fontes de consulta. 8 2. ASPECTOS OPERACIONAIS INICIAIS A documentação exigida para a exportação é diferente da utilizada no mercado doméstico e varia de acordo, principalmente, com o mercado-alvo (país-destino) e o tipo de mercadoria. Como exemplo, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2019) apresenta informações relevantes sobre as necessidades dos agropecuários de acordo com nossos parceiros comerciais mais usuais, como os requisitos sanitários e fitossanitários (Certificado Fitossanitário Internacional), a proteção sanitária vegetal e a animal. Por outro lado, a Organização Mundial do Comércio (WTO) (2019) comenta que os critérios mais usuais na comercialização de agropecuários são: o controle de pragas, doenças, resíduos e atendimento às boas práticas de fabricação e higiene. Se a empresa não tiver experiência, as primeiras operações podem ser consideradas como difíceis e trabalhosas, porém, com o aumento da frequência, as empresas tendem a criar uma rotina que auxiliará na padronização e nos procedimentos a serem acompanhados. Com o ganho a partir da curva de experiência, a empresa poderá desenvolver uma gestão adequada, otimizada e particular, de forma a tornar mais ágeis os seus processos frente às necessidades de adequação técnica em comércio exterior. Existem duas formas de a empresa exportar: A exportação indireta ocorre quando um terceiro assume o processo de exportação de outra empresa. Algumas empresas têm a exportação como uma ação esporádica ou a frequência não justifica os investimentos para manter uma estrutura adequada de comércio exterior. Estrategicamente falando, a empresa pode testar o mercado internacional e não assumir de imediato a exportação direta. Daí a escolha de uma comercial importadora e exportadora para realizar todo o processo de exportação, ressaltando que a parte mercadológica e comercial é de restrita responsabilidade do fabricante. A trading company (Ministério das Relações Exteriores, 2011, p.16) é uma forma de realizar a exportação em que existe a venda do bem para a TC, que se encarrega de comercializá-lo no mercado internacional. A trading company geralmente se refere à comercialização de commodities em grande volume. Outra forma para a exportação indireta é a utilização dos consórcios de exportação, que, porém, exige uma série de requisitos básicos para a sua constituição e formalização. A exportação indireta trata da união de mais duas empresas, geralmente de pequeno e médio porte, do mesmo setor econômico, que identificam oportunidades no mercado internacional e que não possuem condições de atender de forma plena toda a operação. Com a constituição de nova empresa, as empresas obtêm benefícios e vantagens, bem como dificuldades, como apresentado no Quadro I. 9 Quadro I – Consórcios de exportação Consórcios de Exportação Vantagens Dificuldades Maior poder de barganha junto aos fornecedores de matéria-prima e serviços, distribuidores, transportadores e canal de distribuição internacional. Identificação de empresas devidamente formalizadas e estruturadas para atender as exigências legais internas ao país de origem. Economia e otimização de recursos econômicos e financeiros devido ao aumento de poder de barganha. Capacitação das empresas frente aos padrões de qualidade internacional, bem como aos procedimentos referentes à internacionalização. Escalabilidade, que nem sempre seria possível individualmente. Ou seja: crescimento de produção. Organização prévia do consórcio, que consistem em contatos, reuniões e entrevistas individuais e em grupo de quem identificou as oportunidades de negócios. Melhoria dos processos internos devido à necessidade de atender as diferentes demandas internacionais. Formalização do consórcio, indicando quem serão os responsáveis pela gestão da nova empresa. Desenvolvimento do potencial humano devido ao aumento de desafios e oportunidades, que conduzem a uma melhoria contínua do profissional. Acompanhamento e monitoramento das atividades do consórcio frente às oportunidades detectadas. A exportação direta, para a qual os conteúdos deste livro-texto estão mais direcionados, trata da situação em que a empresa é a que fabrica e assume todo o processo de exportação da mercadoria. Parte-se da premissa de que a empresa já conhece todo o processo de exportação em toda a sua extensão (desde a pesquisa de mercado, participação em feiras e eventos, contato com o importador, documentação de exportação, acordos e tratados internacionais, embalagem, transações bancárias específicas, logística, transporte, meios e formas de pagamento, entre outros aspectos). O Ministério das Relações Exteriores (MRE) (2011, p.11) indica outra categoria de exportador, que é o experimental, cujas operações se limitam aos países vizinhos, pois considera-se como sendo uma extensão natural de sua clientela doméstica. Em síntese, o que vai determinar se a empresa deverá optar pela exportação direta ou indireta é: 10 Frequência das operações: A manutenção de uma área de comércio exterior exige colaboradores internos gabaritados, com formação acadêmica e experiência de mercado. Volume e valores das oportunidades: As empresas devem contabilizar seus custos e despesas com a mão de obra e tecnologias específicas que conduzem à necessidade de receitas também proporcionais. Capacidade de recursos da empresa: A empresa deve ter recursos suficientes para os investimentos iniciais, bem como para a manutenção de seu capital de giro. Esses recursos podem ser financeiros, produtivos, tecnológicos e humanos, por exemplo. Disponibilidade de recursos da empresa: Nem sempre os recursos estão disponíveis para empresas quando necessário, como empréstimos e financiamentos a taxas competitivas, mão de obra qualificada, matéria-prima, entre outros. Relação custo-oportunidade da empresa: A empresa deve perceber a relação entre o custo-benefício das operações que estiver desenvolvendo, envolvendo, por exemplo, novos clientes com ótimo potencial futuro de negócios, parcerias estratégicas, aquisição estratégica de matéria-prima etc. A intermediação de um agente comercial pela empresa fabricante não deixa de caracterizar a operação como exportação direta. Neste caso, a mercadoria a ser exportada é isenta de IPI e ICMS (porém, neste último caso, recomenda-se a consulta à receita federal). O exportador deve conhecer a portaria Secex n.o 12 de 03/09/2013, publicada em 04/03/2013 no Diário Oficial da União (DOU) e suas demais alterações. Essa portaria é intitulada “Normas Administrativas de Exportação”, que contempla particularidades da exportação de produtos e contém anexos de “A” a “G”, cadaum deles tratando sobre determinada norma administrativa. 2.1. Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) Da mesma forma que as pessoas têm um documento de identidade que as identifique no país de origem e um passaporte para o trânsito internacional, as mercadorias também têm uma classificação as distingue, que facilita o seu cadastramento, identificação e tratamento fiscal. Conforme o Ministério da Economia, Indústria, Comércio e Exterior e Serviços (2019), o sistema harmonizado de designação e de codificação de mercadorias (Sistema Harmonizado – SH) envolve uma metodologia internacional de classificação de mercadorias, que é baseada em uma codificação que resulta em uma estrutura de número que representa a composição do produto. O SH foi criado para facilitar a gestão e movimentação de mercadorias internacionalmente, pois: Para o governo, permite identificar a composição e a intensidade tecnológica do que está sendo exportado, facilitando a coleta, a comparação e a análise das estatísticas da indústria e de comércio exterior brasileiro por meio do 11 consolidado na Balança Comercial, bem como para interessantes estudos que fazem parte da política brasileira de exportação. Parte da matéria-prima principal. Para as empresas, facilita as negociações comerciais entre as partes intervenientes e os meios de transporte, tendo uma ideia das tarifas de fretes, bem como das próprias estatísticas desses meios de transporte de mercadorias e sua relação e qualidade com o comércio internacional. A numeração é constituída por seis dígitos, que representam especificidades da composição dos produtos, como origem, matéria constitutiva e respectiva aplicação dentro de um ordenamento lógico numérico, crescente e de acordo com o nível de intensidade da complexidade das mercadorias. O SH abrange, ainda conforme o Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços (2019): Nomenclatura, constituída por 21 seções, com 96 capítulos e as notas de seção, do capítulo e da sua subposição. Cada capítulo é dividido em posições e subposições, com os códigos numéricos a cada um dos desdobramentos mencionados. Para contemplar operações específicas e/ou mesmo situacionais, o capítulo 77 foi desenvolvido para eventual uso futuro no SH; os capítulos 98 e 99 foram destinados para usos especiais pelas partes contratantes (o capítulo 99 serve para registrar operações especiais de exportação brasileira). Regras gerais para a interpretação do sistema harmonizado, em que são estabelecidas regras gerais de classificação das mercadorias dentro da referida nomenclatura; Notas Explicativas do Sistema Harmonizado (NESH), que esclarecem e servem para a interpretação do SH, detalhando o alcance e o conteúdo da nomenclatura. 12 Quadro II – Exemplo de Classificação NCM – Seção Fonte: Arquivos Atuais (2019). Exemplo de NCM, conforme Systax (2019): NCM 8703 – Automóveis de passageiros e outros veículos automóveis principalmente concebidos para transporte de pessoas (exceto os da posição 87.02), incluindo os veículos de uso misto (station wagons) e os automóveis de corrida. Consulte a tarifa externa comum em arquivos atuais (2019) disponível em:<http://www.mdic.gov.br/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior-9/arquivos- atuais-2> para exercitar seus conhecimentos e práticas. 2.2. Incoterms Conforme a International Chamber of Commerce – ICC (2019), os termos comerciais internacionais foram criados em 1936 pela câmara de comércio internacional e consistem na padronização das regras de exportação, estabelecendo os direitos, deveres, obrigações, transferência de responsabilidades, custos e riscos associados ao transporte de carga e entrega de bens em mercados internacionais. As regras desses termos são mundialmente aceitas, principalmente naqueles países pertencentes à Organização Mundial de Comércio (WTO), estando toda a estrutura de comércio exterior – incluindo empresas – exportadores e importadores, bancos e transportadoras –, adaptadas de acordo com as interpretações dos termos de compra e venda. As regras desses termos comerciais serão devidamente aprofundadas na unidade II de Transporte e Logística Internacional. É importante que o exportador tenha conhecimento dos termos, bem como qual utilizar e incorporar na proposta ao futuro importador. Segue resumo: SEÇÃO I ANIMAIS VIVOS E PRODUTOS DO REINO ANIMAL Notas de Seção 1 Animais vivos. 2 Carnes e miudezas, comestíveis. 3 Peixes e crustáceos, moluscos e outros invertebrados aquáticos. 4 Leite e laticínios; ovos de aves; mel natural; produtos comestíveis de origem animal, não especificados nem compreendidos noutros capítulos. 5 Outros produtos de origem animal, não especificados nem compreendidos noutros capítulos. 13 Figura 1 – Quadro-resumo dos Incoterms Fonte: INTRADEBOOK (2019). A importância dos incoterms reside no fato de que as partes intervenientes podem desconhecer as práticas comerciais entre os diferentes países que transaciona, com a necessidade de particularizar operação por operação, o que exige um grande esforço de pesquisa, negociação e formalização contratual. Com a utilização dos termos comerciais internacionais, é possível padronizar e delimitar direitos e responsabilidades de cada parte envolvida. 14 3. TRANSPORTE E LOGÍSTICA INTERNACIONAL Pela localização dos futuros importadores e pela análise da estrutura das operações, temos de selecionar os meios de transporte, além de toda a cadeia logística interna e externa, de forma a tornar a mercadoria disponível ao importador o mais rápido possível, atendendo a efetividade necessária a cada etapa do processo e, com o máximo de segurança e minimização de riscos. Dentre os meios de transporte disponíveis, temos o transporte marítimo, transporte aéreo, transporte rodoviário e transporte ferroviário, e/ou a conjugação de alguns meios de transporte, cada um deles recomendado para a categoria da mercadoria, seu local de origem e de destino, meios de transporte disponíveis, peso, urgência na entrega, respectivo poder de barganha quanto ao frete, valor do frete, entre outros itens importantes. A seleção do transporte para exportação é uma das decisões mais importantes do comércio exterior. Além dos critérios citados, deve-se entender que os meios de transporte selecionados estão diretamente relacionados a como o produto se desloca do ponto de fabricação até o importador. Quadro III – Meios de transporte Tipo de transporte Considerações Marítimo É o mais utilizado nas exportações em razão de seus custos baixos e meio de transporte adequado entre países. As despesas (frete e outros considerados custos como manuseio e estocagem) variam de acordo com as características da carga como a distância e a localização dos portos, peso, volume, nível de fragilidade e existência de câmara refrigerada. Exemplo: exportação de automóveis, grãos, petróleo, carne etc. Aéreo É indicado para cargas menores e aquelas com entrega urgente. Realizado por companhias aéreas associadas ou não à International Air Transport Association (IATA) e também por meio de serviços de frete. Exemplos: courier internacional (remessa de documentos), flores, órgãos para transplante etc. Ferroviário É a modalidade de transporte mais barata, comum nos Estados Unidos da América (EUA) e na Europa. Entretanto, não existiram investimentos significativos e de forma planejada no Brasil, sendo então a malha ferroviária incompleta e ineficiente. Exemplos: minérios de ferro e grãos, por exemplo, entre países-limítrofes. http://www.iata.org/Pages/default.aspx 15 Rodoviário É utilizado para cargas menores e com distâncias reduzidas. Em frequência, é o mais utilizado, sendo a negociação do frete livre de acordo com cada situação e tipo de mercadoria.Exemplo: cigarros, bebidas, alimentos, entre outros. Além da qualificação do tipo de transporte, existe a necessidade, caso seja possível (pois vai depender da existência de concorrentes no meio de transporte), da qualificação também da empresa que realizará o transporte físico. A qualificação de stakeholders envolve: Qualificação quanto aos serviços a serem prestados, que pode ser obtida por indicações, curva de experiência análise de Grupo Estratégico (GE), Associações de Classe ou mesmo da ficha cadastral que pode ser obtida pela rede bancária e institutos de pesquisa autorizados. Planejamento, gestão e roteiro melhor otimizados, com rotas definidas e bem traçadas. Existem trajetos e horários que oferecem melhor mobilidade entre os diferentes pontos geográficos. Estrutura adequada e serviços que visem salvaguardar a segurança da mercadoria. Mão de obra qualificada e adequada tanto na negociação com a empresa como com as empresas intervenientes no processo. Frete justo com as necessidades da empresa e do mercado, valendo, inclusive, o poder de barganha do fabricante-exportador. O frete justo está relacionado à capacidade de percepção de que a empresa está remunerando o transportador de acordo com a qualidade percebida e efetivamente recebida. Neste último aspecto, a negociação na contratação de fretes e seguros resulta em uma melhor margem financeira, bem como nas consequências dos serviços a serem prestados. Como todo intermediário, deve-se levar em consideração a remuneração de quem executa o serviço frente aos serviços e segurança oferecidos. A negociação com a transportadora por volume e frequência é primordial para melhorar a rentabilidade da empresa. Frete é definido como o valor pago pelos serviços de transporte e suporte de serviços. É a contrapartida (remuneração) pelos serviços de transporte de uma mercadoria. Os pagamentos dos principais transportes internacionais podem ser categorizados como: Figura 2 – Tipos de frete 16 Frete pré-pago (freight prepaid), que consiste em pagar o frete no local de embarque; e Frete a pagar (freight collect), que consiste em pagar o frete no local de desembarque. Na negociação, deve-se identificar principalmente os valores nos incoterms , realizar a cotação com o agente de carga e/ou armador e comparar os valores, nem sempre sob o critério do que for mais barato: Tempo de viagem (transit time); Disponibilidade de embarque; Disponibilidade de rotas; Taxas de liberação de mercadorias; Custo de armazenagem do porto de destino ou terminal alfandegário; Manuseio da mercadoria; Possibilidade de pacotes e descontos. Deve-se levar em consideração na composição dos custos de transporte: Categorias de cargas, volumes e pesos; Distância entre os pontos de embarque e desembarque; Características entre esses pontos; Localização desses pontos; Fragilidade das cargas; Tipos de embalagens; Disponibilidade de meios de transporte. O valor do frete também vai depender do tipo de transporte: Frete marítimo: É constituído basicamente pelo frete básico, peso e/ou cubagem, considerando sempre o que der maior receita ao armador. Frete aéreo: É constituído basicamente pelo volume e pesos, dependendo de cada aeronave, com relação à periculosidade do que está sendo transportado (class rates, specific commodity rates, unit load device) e os serviços que porventura serão agregados ao desembarque. Frete rodoviário: É calculado pela quilometragem, peso, volume e/ou acomodação no veículo, considerando: A tarifa pode ser calculada pelo peso da mercadoria ou, se for volumosa, pode-se considerar volume, o que for mais rentável ao transportador. Percentual (ad-valorem) possível a ser cobrado dependendo do valor da mercadoria. Essas informações referem-se à carga seca e geralmente existe um acréscimo de 30% a 50% em caso de carga líquida por não ser tão usual o transporte desta natureza, bem como pelo fato de necessitar de estruturas diferenciadas. 17 Frete ferroviário: é calculado levando-se em consideração dois fatores básicos: Quilometragem, levando em consideração a distância entre as estações de embarque e desembarque; Peso ou volume, aquele que proporcionar maior valor ao transportador; Possibilidade de taxas adicionais de estadia do vagão e transbordo; Frete hidroviário: conforme Mais (2001), é um tipo de transporte relativamente barato, porém pouco aproveitado no país, onde se dá preferência aos transportes rodoviário e ferroviário. De todos os fretes, é o que apresenta menor valor. Segundo o Siscoserv (2018), a contratação de seguro internacional garante certa segurança das partes envolvidas, desde o embarque no país-origem até o desembarque no país-destino, estando incluído também o traslado da mercadoria. A contratação de seguros vai depender do tipo de incoterm escolhido pelo exportador, bem como dos possíveis acordos que podem ser definidos na negociação. Em resumo, trata-se de segurança adicional para o exportador e o importador de que a operação será concretizada com o maior nível de sucesso possível. Essa segurança reside na garantia de que a mercadoria seja entregue com o que foi acordado entre as partes e na eliminação dos riscos de roubos, desvios e avarias, por exemplo. Exemplificando o que foi exposto até esta parte, Faria, Kuazaqui e Figueiredo (2014) analisaram, dentre muitos estudos, os congestionamentos urbanos e os custos na cadeia de suprimentos. Outros pontos a serem considerados é se o veículo irá trafegar de manhã, à tarde ou à noite, bem como a possibilidade de compartilhamento de cargas com outras empresas. Em síntese, é preciso tentar recomendar ações que visem facilitar os deslocamentos, adequar e racionalizar o tráfego de veículos, reduzindo os impactos dos congestionamentos, além das deseconomias urbanas e externalidades advindas desse sistema desestruturado e totalmente mal organizado. Isso comprova a importância da gestão da cadeia de suprimentos e transportes para o negócio de uma empresa. 3.1 Conhecimento de embarque É de responsabilidade dos meios de transporte ou de quem os representa a emissão do documento conhecido como “conhecimento de embarque”, que comprova a utilização do meio de transporte pela empresa, bem como a entrega da mercadoria a bordo do veículo transportador. 18 Em se tratando de modal aéreo, tem-se o AWB (Air Waybill); no marítimo, o BL (Bill of Lading); no rodoviário, o CRT (carta de porte internacional); e no ferroviário, o TIF-DTA (conhecimento de transporte de mercadorias por ferrovia). 19 4. FORMAÇÃO DE PREÇOS Este capítulo tratará da formação de preço, e não das outras ferramentas de marketing (produto, praça e promoção), por ter decisões distintas e diretamente relacionadas com o comércio exterior e internacional. Existe uma prática utilizada pelo mercado, mas não necessariamente recomendada, que é a retirada de todos os custos, despesas e impostos do preço praticado no mercado interno e a incorporação daqueles que se referem diretamente ao produto a ser exportado, como a embalagem internacional, acessórios etc. Pode ser um caminho inicial, em que a empresa ainda embrionariamente passa a ter uma ideia generalizada, porém deve materializar o preço final ao importador de forma a ter certeza dos resultados obtidos. Conforme o Ministério das Relações Exteriores (MRE) (2011, p. 33 a 35), a empresa deve levar em consideração na formação de preços: a) Mercado consumidor; b) Concorrentes diretos e indiretos, que podem servir como benchmarking competitivo; c) Custos de produção; d) Empréstimos, financiamentos e tributos à exportação; e) Despesas de exportação como as embalagens específicas para exportação, despesas portuárias com despachantes, gastos com pessoal especializado, fretee seguro interno, entre outros. Figura 3 – Forças que regulam/ajustam o preço final internacional Notar que o preço (valor monetário) vai estar entre aquele que está entre o break-even-point (ponto de equilíbrio, que é o valor a que a empresa equipara tudo o que gastou com o efetivamente recebido) até o que o mercado está disposto a pagar. A margem de lucro é modulável de acordo com a negociação entre as partes 20 intervenientes e situações em que a empresa se encontrar. No geral, existe um cálculo de preço para o mercado externo e outro para o internacional. Para o mercado internacional, conforme comentado, pode-se iniciar o cálculo a partir do preço praticado no mercado interno e: a) Excluir os componentes da formação de preço no mercado interno, mas que não fazem parte do preço de exportação, como o ICMS, IPI, PIS, COFINS, entre outros. Procura-se evitar a bitributação e/ou tornar o produto menos competitivo no mercado internacional; b) Incluir as despesas que fazem parte do preço FOB de exportação, como gastos com as embalagens de exportação, despesas com o transporte da empresa até o local de embarque, comissão de agente no exterior, entre outros. Exemplo conforme o Ministério das Relações Exteriores (MRE) (2011, p.33 a 35): Preço de mercado interno sem o IPI (para efeito de cálculo de deduções) ................................................................................................................... R$ 5.100,00 Preço de mercado interno (inclusive IPI de 15%) ...................................... R$ 5.865,00 Deduções IPI (15% sobre o preço de mercado sem IPI) ............................................... R$ 765,00 ICMS (12% sobre o preço de mercado sem IPI) .......................................... R$ 612,00 COFINS (7,6% sobre o preço de mercado sem IPI) ...................................... R$ 387,60 PIS (1,65% sobre o preço de mercado sem IPI) ............................................. R$ 84,15 Lucro no mercado interno (10% sobre o preço de mercado sem IPI) .......... R$ 510,00 Embalagem de mercado interno..................................................................... R$ 50,00 Total de deduções...................................................................................... R$ 2.408,75 Primeiro subtotal = diferença entre o preço com o IPI (R$ 5.865,00) e o total de deduções (R$ 2.408,75) ............................................................................ R$ 3.456,25 Inclusões Embalagem de exportação ............................................................................ R$ 65,00 Frete e seguro da fábrica ao local de embarque ......................................... R$ 100,00 Total de inclusões..........................................................................................R$ 165,00 Segundo subtotal = soma do primeiro subtotal (R$ 3.456,25) com o total de inclusões (R$ 165,00)................................................................................................ R$ 3.621,25 Margem de lucro pretendida –exportação (15% calculado sobre o preço FOB) ............................................................................................................. R$ 639,04 Preço FOB (R$ 3.621,25 mais R$ 639,03).................................................. R$ 4.260,29 21 Adotando-se a taxa de câmbio hipotética de US$ 1,00 = R$ 1,70, tem-se o preço FOB de US$ 2.506,05. Observações a) Para apuração do valor de R$ 4.260,29, leva-se em consideração o percentual estimado de 15% correspondente à margem de lucro pretendida pelo exportador; ela pode ser desenvolvida com o cálculo “por dentro”, utilizando-se regra de três simples. b) Assim, se o valor de R$ 3.621,25 corresponde a 85% do preço, R$ 4.260,29 será o preço final de exportação, incluídos os 15% estipulados, ou seja, R$ 639,04. Regra de três simples R$ 3.621,25 ----------- 85% Preço FOB ----------- 100% Desta forma, o preço FOB = 100% X R$ 3.621,25 = R$ 4. 260,29 / 85% No exemplo apresentado pelo Ministério das Relações Exteriores (2011, p.33 a 35), podem ser considerados como componentes para deduzir no preço interno: comissão de vendas não incidente na exportação, gastos de distribuição do produto no mercado interno, despesas financeiras específicas de mercado interno, entre outros. Podem ser acrescentados valores à comissão de agentes no exterior, despesas consulares e outros que a empresa tenha de realizar em operações de exportação. Pequenas despesas geralmente não são contabilizadas, como meios de transporte pessoal, correios, entre outros, que geralmente entram em despesas gerais e são absorvidos pela área administrativa. Entretanto, existem aqueles gastos, pequenos, mas diretamente relacionados que devem entrar de alguma forma como parte do preço final como, por exemplo, os de capatazia. Um fator não explorado é que geralmente existe aumento da produção em decorrência das vendas internacionais, resultando em aumento de produtividade, sinergia de processos e equipamentos, economia de escala, entre outros. A partir dos conhecimentos desenvolvidos até esta parte do livro-texto, a empresa poderá realizar o contato e as vendas internacionais evitando a situação desagradável, mas que era real no país de as empresas brasileiras fecharem as vendas com os clientes e depois verificarem como proceder, causando erros, atrasos e até prejuízos. 22 5. ASPECTOS OPERACIONAIS DE FORMALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES Neste capítulo, apresenta-se um checklist mais amplo, Contato do Exportador / Importador A partir de uma carta-oferta, que pode ser enviada do exportador ao importador ou vice-versa, é iniciado o processo de exportação, geralmente com a fatura proforma, estando clara a situação de que a empresa está apta a realizar uma operação de exportação direta, tem os recursos disponíveis e capacidade de atender o pedido. Em alguns casos, o recebimento de uma carta de crédito já se configura como o início do processo de exportação. Registro do Exportador Além das obrigações para a abertura de uma empresa no Brasil (contrato social, registro na junta comercial do estado, obtenção do CNPJ, registro junto à prefeitura no Cadastro de Contribuinte Mobiliário (CCM) e inscrição estadual), a empresa deve obter: Cadastro de exportadores e importadores da Secretária de Comércio Exterior (SECEX), conforme Portaria n.o 280 de 12/07/95. No caso de pessoa física, desde que representem práticas comerciais e nem habitualidade: Agricultor ou pecuarista com o imóvel registrado no Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Se for artesão ou similar, com registro de profissional autônomo. O Registro de Exportadores e Importadores (REI) é automaticamente feito a partir da primeira e poderá ser cancelado em caso de infrações de cunho fiscal, cambial e por abuso de poder econômico. Habilitação no Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) (2019) junto à Receita Federal para obter a senha para cadastro e autorização das operações de exportação. É um instrumento que integra todas as atividades de registro, acompanhamento e controle das operações de comércio exterior por meio de um fluxo único de informações, cujo processamento é efetuado exclusiva e obrigatoriamente pelo sistema. É administrado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), pela Secretaria da Receita Federal (SRF) e pelo Banco Central do Brasil (Bacen), órgãos gestores do comércio exterior. A informatização das operações de exportação e de importação, no sistema, foi implantada, respectivamente, em 1993 e em 1997. Desde então, para 23 todos os fins e efeitos legais, as guias de exportação e de importação e outros documentos pertinentes foram substituídos por registros eletrônicos. Figura 4 – Fluxo de exportação Fonte: Portal Siscomex (2019). A operacionalizaçãoa partir do Siscomex (2019) permite o desenvolvimento de uma agenda em que a empresa poderá ter os procedimentos necessários a partir da atualização do sistema. Os aspectos operacionais, considerando a negociação dos documentos, envolve a participação da rede bancária, que envolve os trâmites desde o financiamento para a produção, bem como a contratação de câmbio até a negociação de documentos. 24 Figura 5 – Aspectos operacionais contextualizados com o Siscomex Percebe-se a necessidade de um fluxo principal, de uma agenda disponível para todos os envolvidos, bem como de um cronograma de atividades com datas, responsabilidades, prazos e responsáveis na realização do monitoramento de tarefas. Anteriormente, a agenda era realizada de forma manual para atender os compromissos e, quando possível, agrupados de forma a otimizá-los. Principais registros a serem efetuados: RV (registro de venda), para operações negociadas em bolsa; RC (registro de operação de crédito), para pagamentos superiores a 180 dias a partir do embarque; RE (registro de exportação), para todas as operações com transferência física da mercadoria para o exterior. O romaneiro ou packing list é documento essencial para o registro no SISCOMEX (2019); RES (registro de exportação simplificado), para operações até 10 mil dólares. DDE (declaração de despacho de exportação), quando a mercadoria se encontra à disposição de fiscalização. DSE (declaração simplificada de exportação), para agilizar o desembaraço aduaneiro. Entende-se por desembaraço aduaneiro a comprovação da compra de mercadorias por parte do importador. Essa comprovação é realizada na entrega dos documentos originais de compra da mercadoria, enviados pelo exportador e conferidos e negociados por um banco. 25 Figura 6 – Aspectos operacionais considerando a negociação dos documentos Contratação de câmbio As operações de exportação são lastreadas por moedas estrangeiras a serem recebidas, necessitando de uma instituição financeira – banco credenciado e autorizado pelo Banco Central do Brasil – que possa realizar a conversão para a moeda nacional nas seguintes fases: Contratação Consiste na assinatura de contrato de câmbio, em que é firmado o compromisso da empresa em negociar a moeda estrangeira com o banco credenciado. Itens a serem considerados: A operação tem caráter financeiro e cabe à empresa decidir em que momento será realizado. A escolha do banco deve levar em consideração o tempo de relacionamento comercial e as taxas praticadas. A contratação pode ser realizada antes e depois do embarque da mercadoria nacional ou de 20 a 180 dias depois do embarque da mercadoria. Ao optar pela contratação antes do embarque, a empresa poderá se beneficiar do Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) no sentido de levantar recursos para financiar a sua operação. 26 Negociação ou entrega O contrato irá fixar os prazos de embarque da mercadoria e negociação para a entrega de documentos junto ao banco negociador, também à escolha do exportador. Como regra, são os seguintes documentos a serem anexados à um borderô ou carta de entrega: Fatura comercial (comercial invoice); Lista de mercadorias (romaneio ou packing list); Conhecimento de embarque (Bill of Lading – B/L ou Airwail Bill – AWB); Saque cambial, título de crédito ou draft à exportação; Em caso de operação CIF, apólice ou certificado de seguro; Fatura ou visto consular, quando exigido pelo país importador; Certificado de origem ALADI, Mercosul e o Formulário “A” do SGP; Original da carta de crédito (letter of credit), em caso de ter este tipo de garantia; Outros documentos solicitados pelo importador. O banco credenciado a negociar tem um prazo a partir do recebimento do exportador para a realização da conferência da carta de crédito e dos documentos por courier internacional. Alguns produtos necessitam estar descritos no packing list, como é o caso da exportação de automóveis em que consta, inclusive, o número do chassi de cada veículo. Nota fiscal (invoice), que é documento obrigatório que toda empresa deve emitir ao comercializar uma mercadoria, utilizável para o transporte interno ao país até o local de embarque ou desembaraço aduaneiro. 27 Figura 7 – Processo sistêmico da negociação . Liquidação Todas as fases são de responsabilidade do exportador, porém, nesta existe a influência direta do importador, que consiste na liquidação do contrato de câmbio mediante a confirmação de pagamento por intermédio do importador e o ingresso das divisas no país. Existem os seguintes tipos de cobrança: Remessa antecipada ou cheque, em que o importador envia as divisas previamente ao envio das mercadorias para o país. Deve-se refletir sobre essa modalidade de pagamento pois, ao mesmo tempo que diminui o risco para o exportador, aumenta os riscos para o importador e, por vezes, a possibilidade de marginalizá-lo. Cobrança à vista, em que o banco no exterior aciona o importador e retira os documentos mediante pagamento da operação. Cobrança a prazo, em que o importador aceitará o saque ou cambial na ocasião da retirada dos documentos e providenciará o seu resgate mediante pagamento. 28 6. CARTA DE CRÉDITO As empresas devem garantir que suas operações tenham o pagamento garantido, seja pela análise de crédito e riscos necessárias, seja das garantias a serem solicitadas em caso de inadimplência. Essas garantias são alicerçadas por legislação específica, sendo, no Brasil definidas dentro do código de direito comercial, bem como do Banco Central do Brasil e das próprias empresas. É proibido pelo Banco Central do Brasil que operações que envolvam riscos de inadimplência, como empréstimos e financiamentos, sejam fechadas sem as garantias devidas, bem como as operações de exportação sustentadas por critérios e garantias. Seguem as operações mais usuais: Garantias reais: são aquelas que podem ser transformadas em valores monetários com maior facilidade, como hipoteca, penhor mercantil, alienação fiduciária, pledge deposit, entre outros. Essas garantias traduzem-se em ativos que devem estar vinculados contratualmente, além de outros cuidados. Garantias fidejussórias: são aquelas que se constituem em promessas de pagamento, como assinaturas, aval, cartas de fiança e carta de crédito, por exemplo. São geralmente documentos oficiais que prometem pagamento ao comprador e são assinados por pessoas que possuem poderes junto à empresa, o que denota a necessita da análise da empresa, contrato social, entre outros aspectos. Em se tratando de escolha desta garantia na exportação, a original deverá ser entregue ao banco negociador junto com os documentos para negociação. Em síntese, essas operações têm por objetivos cobrir os riscos: 1. Comerciais (são relativos ao não pagamento pelo exportador, bem como possíveis falhas na entrega ou a não entrega da mercadoria). É o grande volume de sua escolha, pois se trata de documento de crédito amplamente aceito em operações internacionais. 2. Políticos (são representados pelos riscos políticos e econômicos de cada país). Embora sejam as empresas que realizam as operações de exportação e importação, o país importador deve ter divisas suficientes para arcar com seus compromissos internacionais. 3. Técnicos ou de qualificação profissional (representada pelo risco intangível ou escondido – falta de conhecimento do seu próprio negócio). Pode ser uma mercadoria que pode apresentar algum defeito e trazer prejuízos aos seus compradores, como, por exemplo, recall de algumas indústrias automobilísticas. 29 Figura 8 – Fluxo de carta de crédito Informações básicas dacarta de crédito Partes envolvidas no processo da carta de crédito Tomador (comprador) => é o importador que solicita a emissão da carta de crédito. Embora seja um documento de garantia lastreada em normas internacionais, o exportador deve providenciar, caso seja uma primeira operação ou quando julgar necessário, a ficha cadastral do futuro comprador. Beneficiário (vendedor) => é o exportador que recebe a carta de crédito como garantia. Banco emitente (issuing bank) => é o banco que emite a carta de crédito, onde geralmente o comprador é cliente. Banco avisador => é o banco que irá avisar que a carta de crédito chegou ao exportador. Banco negociador (negotiating bank) => é o banco que negocia os documentos do exportador ao importador. Banco confirmador (confirmating bank) => é o banco que vai confirmar se o banco emissor é confiável. É de responsabilidade do exportador a escolha da rede bancária e as responsabilidades – se estarão concentradas em um ou mais bancos. Depende vários fatores, como por exemplo: Applicant TOMADOR Comprador Beneficiary BENEFICIÁRIO Vendedor 1. Contrato de compra e venda Vendedor exige crédito Issuing Bank Issuing Bank BANCO EMITENTE Advising Bank BANCO AVISADOR 2. Solicita emissão do crédito 3. Emite o Crédito 4. Avisa o Crédito 30 A concentração em poucos bancos possibilita melhores condições nas taxas de juros de empréstimos e financiamentos. A concentração também facilita a gestão de todo o processo de exportação. A diversificação em muitos bancos pode ser em decorrência de não haver filiais nos lugares onde as operações são desenvolvidas. A credibilidade e segurança atribuídas pelo exportador em relações aos bancos selecionados. Em síntese, o processo de exportação envolve uma série de procedimentos que, se bem conduzidos, podem se constituir como uma forma estratégica da empresa de obter o desenvolvimento econômico e financeiro sustentado. 31 7. IMPORTAÇÃO A princípio, qualquer produto pode ser importado pelo Brasil, até em decorrência das premissas básicas estipuladas em Bretton Woods. Em geral, empresas podem optar pela importação quando não encontram similares nacionais junto aos seus fornecedores internos, nem tampouco com as melhores condições de aquisição – qualidade, preço e prazos de pagamento, por exemplo. O primeiro passo operacional recomendado é a pesquisa para encontrar a classificação fiscal do produto (o código da NCM – Nomenclatura Comum do Mercosul) e a alíquota de importação. Deve-se consultar a lista da Tarifa Externa Comum (TEC) na página do Ministério da Economia, Comércio Exterior e Serviços (www.mdic.gov.br » Comércio Exterior » Tarifa Externa Comum - TEC (NCM) » Arquivos Atuais) Em caso de dúvida ou divergência quanto a NCM e tributos federais, recomenda-se consulta à Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB). A partir da classificação, deve-se consultar o “Tratamento Administrativo” do SISCOMEX (2019) Importação ou pelo “Simulador de Tratamento Administrativo” => Importação => Serviços” => “Simuladores” do portal SISCOMEX. Para o registro da licença de importação e da declaração de importação, o importador deve estar previamente habilitado no SISCOMEX por meio da Receita Federal do Brasil. O futuro importador ou seu representante legal deverá verificar se a importação necessita de licenciamento e, em caso positivo, qual é o órgão responsável pela anuência da Licença de Importação (LI). Caso haja necessidade de anuência de algum órgão, o importador deverá registrar o documento no SISCOMEX. Cada órgão possui suas próprias deliberações, que devem ser identificadas caso a caso. Recomenda-se acessar a portaria SECEX n.º 23/2011 (www.mdic.gov.br => Comércio Exterior => Legislação => Portarias SECEX consolidada) da Secretaria de Comércio Exterior. Se houve dispensa de licenciamento, o futuro importador deve registrar a Declaração de Importação (DI), que é de responsabilidade exclusiva da Receita Federal do Brasil, quando da entrada da mercadoria no país. Daí derivam a necessidade de o importador estar de posse dos documentos recebidos do exportador para providenciar o desembaraço e nacionalização da mercadoria. A nacionalização está relacionada ao pagamento de impostos de importação a partir do desembaraço – apresentação dos documentos originais. Quanto aos consórcios de importação, estes devem seguir os mesmos passos operacionais. 32 CONSIDERAÇÕES FINAIS As práticas de comércio exterior envolvem aspectos burocráticos considerados trâmites operacionais a fim de manter as operações de forma estruturada e gerenciável, garantindo a segurança entre as partes, minimizando riscos e principalmente atendendo aos requisitos técnicos. Por um lado, esses aspectos burocráticos permitem ao governo monitorar as operações de comércio exterior do setor privado de forma a ter uma visão como um diagnóstico da atual situação do país frente ao mercado internacional; fiscalizar as partes intervenientes de forma a salvaguardar os interesses nacionais, bem como da iniciativa privada. Por outro lado, permitem à empresa realizar as operações de acordo com o seu planejamento estratégico. Desta forma, atuar em comércio exterior exige que os participantes tenham conhecimento amplo de como funcionam as operações e entendam as razões pelas quais as empresas devem seguir e, desta forma, entender o “como” fazer. 33 REFERÊNCIAS APEXBRASIL. Disponível em: <https://portal.apexbrasil.com.br/>. Acesso em: 01 mar. 2019. ARQUIVOS ATUAIS. Ministério da Economia, Desenvolvimento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/comercio- exterior/estatisticas-de-comercio-exterior-9/arquivos-atuais>. Acesso em: 30 mar. 2019. BRASIL. Aprendendo a exportar. Disponível em: <www.aprendendoaexportar.gov.br>. Acesso em: 01 mar. 2019. ______. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Requisitos SPS para países com Adidos Agrícolas. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/assuntos/relacoes-internacionais/adidos- agricolas/requisitos-sps>. Acesso em: 16 abr. 2019. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secretaria de Comércio Exterior. Portaria n.o 12, de 03 de setembro de 2003. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/arquivos/prtSECEX12_2003.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2019. ______. Ministério da Economia, Desenvolvimento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/>. Acesso em: 01 mar. 2019. ______. Ministério da Economia, Desenvolvimento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Informações Gerais de Importação. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/comercio-exterior/importacao/dicas-de- importacao/informacoes-gerais-de-importacao>. Acesso em: 01 mar. 2019. ______. Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Informações Gerais de Importação – 2017. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/comercio-exterior/importacao/dicas-de- importacao/informacoes-gerais-de-importacao>. Acesso em: 10 abr. 2019. ______. Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Nomenclatura Comum do Mercosul. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/comercio-exterior/negociacoes-internacionais/206- assuntos/categ-comercio-exterior/sgp-sistema-geral-de-preferencias/1799-sgp- nomenclatura-comum-do-mercosul-ncm>. Acesso em: 29 mar. 2019. ______. Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Tarifa Externa Comum (TEC). Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/comercio- exterior/estatisticas-de-comercio-exterior-9/arquivos-atuais-2>. Acesso em: 29 mar. 2019. ______. Ministério da Fazenda. Disponível em: <www.fazenda.gov.br>.Acesso em: 01 mar. 2019. ______. Ministério das Relações Exteriores. Departamento de promoção comercial e de investimentos. Exportação Passo a passo. Acesso em: < http://www.investexportbrasil.gov.br/sites/default/files/publicacoes/manuais/PUBExpo rtPassoPasso2012.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2019. ______. Ministério das Relações Exteriores. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/>. Acesso em: 01 mar. 2019. http://www.mdic.gov.br/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior-9/arquivos-atuais http://www.mdic.gov.br/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior-9/arquivos-atuais http://www.aprendendoaexportar.gov.br/ 34 ______. Secretaria da Receita Federal. Disponível em: <www.receita.fazenda.gov.br>. Acesso em: 01 mar. 2019. INTERNATIONAL CHAMBER OF COMMERCE (ICC). Icoterms Rules. Disponível em: <https://iccwbo.org/resources-for-business/incoterms-rules/>. Acesso em: 01 fev. 2019. INTRADEBOOK. Acesso em: <https://www.google.com.br/search?q=incoterms+2010+quadro+resumo&tbm=isch& source=hp&sa=X&ved=2ahUKEwia7MmB36jhAhVLGbkGHUtHDOEQsAR6BAgJEA E&cshid=1553910510112537&biw=1094&bih=506#imgrc=32Ar2RMppCxCvM:>. Acesso em: 29 mar. 2019. INTRADEBOOK. O que são incoterms, os termos comerciais internacionais. Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=incoterms+2010+quadro+resumo&tbm=isch& source=hp&sa=X&ved=2ahUKEwia7MmB36jhAhVLGbkGHUtHDOEQsAR6BAgJEA E&cshid=1553910510112537&biw=1094&bih=506#imgrc=32Ar2RMppCxCvM:>. Acesso em 29 mar. 2019. INVEST & EXPORT. Aprenda a exportar. Disponível em: <http://www.investexportbrasil.gov.br/aprenda-exportar>. Acesso em: 01 abr. 2019. INVEST & EXPORT. Guia de Comércio Exterior e Investimento. Disponível em: <http://www.investexportbrasil.gov.br/serie-como-exportar>. Acesso em: 01 mar. 2019. DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO. Disponível em: <https://www.inovarpublico.com.br/ferramentas/diariooficial/publicacoes/>. Acesso em: 10 abr. 2019. GLOBO, O. Entenda o que é e como funciona a APEX? Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/entenda-que-e-como-funciona-apex- 23362280>. Acesso em: 01 mar. 2019. KUAZAQUI, Edmir. Marketing internacional: desenvolvendo conhecimentos e competências em cenários globais. São Paulo: M. Books, 2007. KUAZAQUI, Edmir; LISBOA, Teresinha Covas et al.. Relações Internacionais: desafios e oportunidades de negócios do Brasil. São Paulo: Literare, 2018. PORTAL SISCOMEX. Disponível em: <https://www.google.com/search?rlz=1C1GGRV_enBR748BR748&biw=1094&bih=5 06&tbm=isch&sa=1&ei=mECxXP2uOe7B5OUPu4GasAg&q=fluxo+completo+de+exp orta%C3%A7%C3%A3o+figura+secex&oq=fluxo+completo+de+exporta%C3%A7%C 3%A3o+figura+secex&gs_l=img.3...12956.14572..15200...0.0..0.178.662.0j4......1....1 ..gws-wiz-img.ooysulQVTLE#imgrc=LkC_o1mkljBfdM:>. Acesso em: 12 abr. 2019. SISCOMEX (Portal Único). Exportação. Disponível em: < http://portal.siscomex.gov.br/perguntas_frequentes/exportacao>. Acesso em: 25 mar. 2019. SISCOSERV. Manual Informatizado. Módulo Aquisição. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/images/REPOSITORIO/scs/decin/Siscoserv/12aEdicaoMan ualModuloAquisi%C3%A7%C3%A3o_final.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2019. SYSTAX. Disponível em: <http://www.systax.com.br/classificacaofiscal/ncm/8703>. Acesso em: 30 mar. 2019. http://www.receita.fazenda.gov.br/ http://portal.siscomex.gov.br/perguntas_frequentes/exportacao 35 WORLD TRADE ORGANIZATIONAL (WTO). Disponível em: <https://www.wto.org/>. Acesso em: 01 mar. 2019.
Compartilhar